SEMATOLOGIA E TIPTOLOGIA
Primitivamente foi usada a mesa como meio de correspondência, unicamente por ser um objeto cômodo, pela facilidade, que se tem de sentar-se em sua volta e por ser o primeiro sobre o qual se produziram os movimentos que deram lugar à expressão burlesca de dança das mesas. Importa, porém, saber que uma mesa não tem maior influência no caso do que qualquer outro objeto ou móvel. Tomaremos o fenômeno em seu aspecto mais simples.
Se uma pessoa colocar as pontas dos dedos sobre a borda de um objeto circular, móvel, como, por exemplo, uma taça, um prato, um chapéu, um copo, etc.; e se, nessa situação, concentrar a vontade sobre o objeto a fim de fazê-lo mover-se, poderá acontecer que o mesmo objeto se agite num movimento de rotação, lento a princípio, depois cada vez mais rápido, a ponto de ser difícil acompanhá-lo. O objeto girará para a direita, ou para a esquerda, conforme a direção indicada pela pessoa, verbal ou mentalmente. Desde que se estabeleça a comunicação fluídica entre a pessoa e o objeto, pode este produzir o movimento sem contacto, por simples ação mental. Dissemos que isto pode acontecer, porque realmente não há certeza absoluta de sucesso. Certas pessoas são dotadas, a esse respeito, de uma força tal que o movimento se produz ao cabo de alguns segundos. Outras só o conseguem depois de cinco ou dez minutos. Enfim, outras absolutamente não o conseguem. Sem a experimentação não há diagnóstico possível para reconhecer a aptidão para produzir tal fenômeno. Nisso não entra a força física: pessoas frágeis e delicadas muitas vezes conseguem mais que homens vigorosos. É um ensaio que cada um pode fazer sem o menor perigo, posto que, às vezes; produza uma grande fadiga muscular e uma espécie de agitação febril.
Se a pessoa for dotada de uma força suficiente, ela só poderá fazer mover-se uma mesinha; às vezes, até, atuar sobre uma mesa pesada e maciça. Para isto, porém, é necessária uma força excepcional.
Para operar com mais segurança sobre uma mesa de certo peso, sentam-se diversas pessoas em seu redor; o número é indiferente; também não há necessidade de alternar os sexos, nem de estabelecer contado entre os dedos dos assistentes: basta pôr as pontas dos dedos estirados sobre a borda da mesa, como sobre o teclado do piano. Tudo isto é indiferente. Por outro lado, há condições essenciais mais difíceis de preencher: a concentração do pensamento de todos, visando obter um movimento num sentido ou em outro; um recolhimento e um silêncio absolutos e, sobretudo, uma grande paciência. O movimento Se opera por vezes em cinco ou dez minutos; mas por vezes é preciso resignar-se a uma espera de meia hora e até mais. Se depois de uma hora nada foi obtido, é inútil continuar.
Devemos acrescentar que certas pessoas são antipáticas18 a esse fenômeno e sua influência negativa pode exercer-se pelo fato de sua simples presença; outras são completamente neutras. Em geral quanto menos espectadores melhor, seja porque haverá menos chance de entre eles haver antipáticos, seja porque o silêncio e o recolhimento se tornam mais fáceis.
O fenômeno é sempre provocado por efeito da aptidão especial de algumas pessoas cuja força se acha multiplicada pelo número. Quando a força é bastante grande, a mesa não se limita a girar: agita-se, levanta-se, ergue-se num pé, balança-se como um navio e acaba erguendo-se do solo sem qualquer ponto de apoio.
Uma coisa admirável é que, seja qual for a inclinação da mesa, os objetos que se acham sobre ela se mantêm e nem mesmo a lâmpada sofre qualquer risco. Fato não menos singular é que, estando inclinada se apoiando sobre um pé só, pode oferecer uma resistência tal que o peso de uma pessoa não consiga baixá-la.
Quando se chega a produzir um movimento enérgico, o contado das mãos se torna desnecessário: as pessoas podem então afastar-se da mesa e ela se dirige para a direita, para a esquerda, para a frente, para trás, para esta ou aquela pessoa designada, eleva-se sobre um pé ou sobre outro, conforme a ordem que lhe é dada.
Até aqui esses fenômenos não denotam nenhum caráter essencialmente inteligente: nem por isso são menos dignos de observação, como produto de uma força desconhecida. Aliás são de natureza a convencer certas pessoas que não o seriam por meio de provas filosóficas. É o primeiro passo na ciência espírita, que conduz muito naturalmente aos meios de comunicação.
O mais simples de todos os meios é, como no homem privado da palavra ou da escrita, a linguagem dos sinais. Um Espírito pode comunicar seu pensamento pelo movimento de um objeto qualquer. Conhecemos alguém que se entretinha com seu Espírito familiar, aliás uma criatura a quem muito estimava, por meio do primeiro objeto que aparecesse: uma régua, uma faca para papel, encontrados à mesa de trabalho. Ele punha os dedos sobre o objeto e, depois de ter evocado esse Espírito, a régua se movia para a direita e para a esquerda, para dizer sim ou não, conforme convencionado, indicava números, etc. O mesmo resultado é obtido com uma mesa ou uma tripeça. Colocados os dedos em seu bordo, quer só, quer acompanhado, chamando-se um Espírito, se ele se apresentar e julgar conveniente revelar-se, a mesa se ergue, se abaixa, se agita, e por movimentos para a direita e para a esquerda, ou movimentos basculantes, responde afirmativa ou negativamente. Pela trepidação exprime alegria, impaciência e até cólera; por vezes cai violentamente ou se precipita sobre um dos assistentes, como se tivesse sido empurrada por mãos invisíveis; e nesse movimento pode reconhecer-se a expressão de um sentimento de afeição ou de antipatia. Um dos nossos amigos estava uma noite em seu salão, ocupado com manifestações desse gênero; recebeu uma carta; enquanto a lia, a tripeça avançou para ele, aproximando-se da carta, espontaneamente, sem que ninguém a influenciasse. Terminada a leitura ele foi colocar a carta sobre uma mesa do outro lado do salão; a tripeça o seguiu e foi precipitar-se sobre a carta. Concluiu ele, daí, que se achava presente um Espírito recém-chegado, simpático ao autor da carta e que queria comunicarse com ele. Tendo-o interrogado por meio da tripeça, as previsões se confirmaram. Eis o que chamamos sematologia, ou linguagem dos sinais.
A tiplologia, ou linguagem dos golpes vibrados oferece mais precisão. É obtida por dois modos diversos.
O primeiro, que chamamos tiptologia pelo movimento, consiste nos golpes dados pela própria mesa, com um de seus pés. Tais golpes podem responder sim ou não, conforme o seu número convencionado para exprimir uma ou outra resposta. Estas são, como bem se compreende, muito incompletas, sujeitas a enganos e pouco convincentes para os novatos, porque sempre podem ser atribuídas ao acaso.
A tiptologia íntima é produzida de modo inteiramente diverso. Já não é a mesa que bate: ela fica imóvel, mas os golpes ressoam na própria substância da madeira, da pedra ou de qualquer outro corpo e por vezes com bastante força para serem ouvidos na sala vizinha. Se se aplicar o ouvido ou a mão sobre uma parte qualquer da mesa, percebe-se a sua vibração dos pés ao tampo. Esse fenômeno é obtido tornando-se a mesma atitude, com a diferença que o movimento puro e simples pode ocorrer sem evocação, ao passo que, quanto a estes golpes, quase sempre é preciso apelar a um Espírito.
Nesses golpes se reconhece a intervenção de uma inteligência, por isso que eles obedecem ao pensamento. Assim, conforme o desejo expresso verbalmente ou mesmo mentalmente, eles mudam de lugar, fazem-se ouvir junto a uma determinada pessoa, fazem a volta da mesa, soam mais forte ou mais fracamente, imitam o eco, o ruído da serra, do martelo, do tambor, a descarga de fuzilaria, marcam o compasso de uma determinada música, indicam a hora, o número das pessoas presentes, etc., ou, ainda, deixam a mesa e vão-se fazer ouvir na parede, na porta, num ponto convencionado; enfim, respondem sim ou não às perguntas que lhes são dirigidas. Tais experiências são antes um objeto de curiosidade, pois não comportam comunicações sérias. Os Espíritos que se manifestam assim, em geral pertencem a uma ordem inferior. Os Espíritos sérios não se prestam a essa exibição de força como, entre nós, os homens respeitáveis não se prestam às palhaçadas dos saltimbancos. Quando interrogados a respeito, assim respondem: “Porventura entre vós são os homens superiores que fazem os ursos dançar?”
Oferece-nos a tiptologia alfabética um meio de correspondência mais fácil e mais completo. Consiste na designação das letras do alfabeto por um número de golpes correspondente à ordem numérica de cada letra, e desta maneira, formam-se palavras e frases. Contudo o processo, por sua lentidão, tem o grande inconveniente de não se prestar a desenvolvimentos de certa extensão. Assim, é ele abreviado numa porção de casos. Muitas vezes basta conhecer as primeiras letras de uma palavra para adivinhá-la e, então, não se deixa acabá-la. Na dúvida, pergunta-se se é a palavra que se supõe e o Espírito responderá sim ou não, pelos sinais convencionais.
A tiptologia alfabética pode obter-se pelos dois modos que acabamos de indicar: os golpes vibrados pela mesa e os que se fazem ouvir na substância de um corpo sólido. Para as comunicações um pouco sérias preferimos o primeiro processo por duas razões: uma é que, de certo modo, ele é mais manejável e há um maior número de pessoas com essa aptidão; o outro diz com a natureza dos Espíritos. Na tiptologia íntima os Espíritos que se manifestam são, em geral, os chamados Espíritos batedores: levianos, por vezes muito divertidos, mas sempre ignorantes. Podem ser agentes de Espíritos sérios, conforme as circunstâncias, mas em geral agem espontaneamente e por conta própria. Ao passo que a experiência prova que Os Espíritos das outras ordens se comunicam melhor pelo movimento.
Em todo caso, a tiptologia alfabética é um modo de comunicação de que os Espíritos superiores se servem a contra-gosto e apenas em falta de um melhor. Eles preferem os que se prestam à rapidez do pensamento, e devido a essa lentidão, que os impacienta, abreviam suas respostas. Eles já acham a nossa linguagem muito lenta e, com mais forte razão, quando o processo lhe agrava a lentidão.