DAS REUNIÕES
É óbvio que supomos as reuniões feitas com um fim sério. Quanto àquelas realizadas com o fito de divertimento e de curiosidade, nós as deixamos a si mesmas: os assistentes têm a liberdade de tirar a sorte e falar de seus pequenos segredos, se estiverem previamente convencidos de que vale a pena. Contudo, faremos notar que tais reuniões frívolas têm um grave inconveniente: certas pessoas podem levar a sério aquilo que quase sempre não passa de brincadeira dos Espíritos levianos, que se divertem à custa dos que os escutam. Quanto aos que jamais viram algo, não é lá que devem ir tomar as primeiras lições, nem buscar convicção: poderão equivocar-se singularmente quanto à natureza dos seres que constituem o mundo espírita, mais ou menos como aquele que julgasse toda a população de uma cidade pelos moradores de um de seus bairros.
De acordo com tudo quanto temos dito, compreende-se que o silêncio e o recolhimento sejam condições de primeira ordem; mas o que não é menos necessário é a regularidade das reuniões. Em todas há sempre Espíritos que poderíamos chamar de freqüentadores - e por isso não entendemos esses Espíritos que se acham por toda parte e em tudo se metem - tanto são Espíritos familiares, quanto aqueles que interrogamos mais freqüentemente. Não se deve supor que esses Espíritos não tenham outra coisa a fazer senão nos escutar: eles têm as suas ocupações e, aliás, podem encontrar-se em condições desfavoráveis para ser evocados.
Quando as reuniões são feitas em dias e horas prefixadas, eles por isso mesmo se dispõem e é raro que faltem. Alguns até levam a pontualidade ao extremo: formalizam-se por quinze minutos de atraso e se, eles próprios, marcam a hora de um apontamento, em vão os chamaríamos alguns minutos mais cedo. Fora das horas consagradas certamente podem vir e vêm até de boa vontade, desde que para um fim útil. Nada, porém, é mais prejudicial às boas comunicações do que os chamar a torto e a direito, quando nos dá na telha e, principalmente, sem um motivo sério. Como não são obrigados a submeter-se aos nossos caprichos, bem poderiam não se incomodar; e é sobretudo nessas ocasiões que outros lhes tomam o lugar e o nome.
Não há hora cabalística para evocações: a escolha é, pois, completamente indiferente; as melhores são aquelas em que as ocupações temporárias deixam mais calma e lazer. Os Espíritos que prescrevessem para qualquer coisa as horas de predileção consagradas aos seres infernais pelos contos fantásticos seriam, sem a menor dúvida, Espíritos mistificadores. Dá-se o mesmo em relação aos dias aos quais a superstição liga uma influência imaginária.
Também nada obsta que as reuniões sejam diárias: seu único inconveniente seria a sua grande freqüência. Se os Espíritos censuram o exagerado apego às coisas deste mundo, também recomendam não descuremos os deveres impostos por nossa posição social. Isto faz parte das provas. Aliás o nosso próprio Espírito, para a saúde do corpo, necessita não estar continuamente voltado para o mesmo objeto e, sobretudo, para as coisas abstratas. Ele lhes presta mais atenção quando não se acha fatigado. As reuniões semanais ou bihebdomadárias são suficientes; são feitas com mais solenidade e recolhimento do que quando mais amiúde. Falamos das sessões onde nos ocupamos de um trabalho regular e não daquelas que um médium incipiente consagra aos necessários exercícios de desenvolvimento. A bem dizer estas não são sessões, mas antes lições que darão resultados tanto mais rápidos quanto mais freqüentes. Uma vez, porém, desenvolvida a faculdade, é essencial não cometer abusos, pelos motivos já expostos. A satisfação causada pela posse dessa faculdade em certos principiantes excita nalguns um entusiasmo cuja moderação é muito importante. Devem eles pensar que ela lhes é dada para o bem e não para satisfazer uma vã curiosidade. Quando dizemos o bem, entendemos o de seus semelhantes e não somente o seu próprio. O médium que deseja entreter com os Espíritos relações sérias tanto deve evitar prestar-se à curiosidade dos amigos e conhecidos que quisessem assaltá-la com suas perguntas ociosas, quanto deve prestar um concurso decidido e desinteressado quando se tratar de coisas úteis. Do contrário seria egoísmo e o egoísmo é uma tara.