PERGUNTAS QUE PODEM SER DIRIGIDAS AOS ESPÍRITOS
Se estivermos bem compenetrados dos princípios desenvolvidos até aqui, compreenderemos sem dificuldade a importância, do ponto de vista prático, do assunto de que vamos tratar: é a consequência e a aplicação e, até certo ponto, poderíamos prever-lhe a conclusão pelo conhecimento que nos dá a escala espírita do caráter dos Espíritos conforme a posição que ocupam. Essa escala nos oferece a medida do que lhes podemos perguntar e do que devemos esperar. Um estrangeiro que viesse ao nosso país na crença de que todos os homens aqui são iguais em conhecimento e em moral idade aqui encontraria muitas anomalias. Tudo, porém, lhe estaria explicado do momento em que tivesse compreendido que cada um fala e escreve conforme as suas aptidões. Dá-se o mesmo no mundo espírita. Desde que vejamos os Espíritos tão distanciados entre si sob todos os pontos de vista, compreenderemos facilmente que nem todos estão aptos a resolver todas as dificuldades e que uma pergunta mal dirigida pode expor-nos a um engano.
Posto isto, convém dirigir perguntas aos Espíritos? Algumas pessoas acham que nos devemos abster e que lhes devemos deixar a iniciativa do que querem dizer. Baseiam-se em que, falando espontaneamente, o Espírito falará mais livremente, dirá apenas o que quer e, assim, teremos mais segurança de receber a expressão de seu próprio pensamento. Pensam elas até que é mais respeitoso esperar o ensinamento que ele julga conveniente nos dar. A experiência contradita esta teoria, como tantas outras nascidas no início das manifestações. O conhecimento das diversas categorias de Espíritos traça o limite do respeito que lhes é devido e prova que, a menos que tenhamos a certeza de tratar com Espíritos superiores, seu ensino espontâneo nem sempre seria muito edificante. De lado esta consideração e supondo o Espírito suficientemente elevado para não dizer senão coisas boas, seu ensino muitas vezes seria limitado, caso não fosse alimentado por perguntas. Vimos inúmeras vezes sessões fracas ou nulas, por falta de um determinado assunto preponderante. Ora, como em definitiva os Espíritos não respondem senão aquilo que lhes convém, tomando uma atitude conveniente nós não faremos nenhuma violência ao seu livre-arbítrio. Por vezes eles mesmos provocam as perguntas, indagando: "Que queres? Pergunta e eu responderei”. Outras vezes eles nos interrogam não para instruir-se, mas para nos porem à prova ou nos levar a tomar mais claro o nosso pensamento. Reduzir-nos em sua presença a um papel meramente passivo seria um excesso de submissão que eles não exigem: o que querem é a atenção e o recolhimento. Quando espontaneamente tomam a palavra sem esperar as perguntas, como dissemos acima, ao falar das evocações, então é o caso de não os interromper e seguir a linha que eles traçam. Como, porém, nem sempre assim acontece, é bom estar de posse de um tema previamente escolhido, em falta de iniciativa dos Espíritos.
Regra geral: quando um Espírito fala não devemos interrompê-lo; quando ele manifesta por um sinal qualquer a intenção de falar, devemos esperar e não falar senão quando temos a certeza de que ele nada mais tem a dizer.
Se, em princípio, as perguntas não desagradam aos Espíritos, algumas há que lhes são soberanamente antipáticas e das quais nos devemos abster completamente, sob pena de não obtermos resposta ou termos respostas más. Quando dizemos que algumas perguntas são antipáticas, referimos aos Espíritos elevados: os inferiores não são tão escrupulosos; podemos perguntar-lhes tudo quanto quisermos sem os chocar, mesmo as coisas mais escabrosas e eles a tudo responderão como eles próprios dizem: "A uma pergunta boba, uma resposta boba”. Louco seria quem os levasse a sério.
Podem os Espíritos abster-se de responder por vários motivos: 1º - a questão lhes pode ser desagradável; 2º - nem sempre têm os conhecimentos necessários; 3º - há coisas que lhes é proibido revelar. Se, pois, não satisfazem a um pedido, e porque não querem, não podem ou não devem. Seja qual for o motivo, uma regra invariável é que toda vez que um Espírito recusa categoricamente responder, não devemos insistir. Do contrário a resposta será dada por um desses Espíritos levianos sempre prontos a se meterem em tudo e que muito pouco se inquietam com a verdade. Se a recusa não for absoluta, pode pedir-se ao Espírito que condescenda ao nosso desejo. Por vezes ele o faz, mas nunca cede à exigência. Esta regra não se aplica aos desenvolvimentos que devemos até pedir sobre um ponto que não estivesse suficientemente esclarecido. Quando um Espírito quer encerrar uma conversa, geralmente o indica por uma expressão tal como: adeus; chega por hoje - é tarde - até outro dia, etc. Quase sempre isto é sem apelo. A imobilidade do lápis é uma prova de que o Espírito já partiu e, então, é desnecessário insistir.
Dois pontos essenciais devem ser considerados nas perguntas: o fundo e a forma. Pela forma, posto que sem fraseologia ridícula, devem testemunhar atenções e condescendências devidas ao Espírito que se comunica, se for superior, e nossa benevolência se for nosso igual ou nosso inferior. Sob outro ponto de vista, devem ser claras, precisas, sem ambiguidade; devemos evitar as que tenham um sentido complexo. Melhor será fazer duas perguntas, caso necessário. Quando um assunto requer uma série de perguntas, importa que estas sejam postas em ordem, que se encadeiem e se sucedam metodicamente. Por isso é sempre útil prepará-las previamente, o que, aliás, como já dissemos, é uma espécie de evocação prévia, que prepara os caminhos; meditando sobre elas com a cabeça fresca, formulamo-las e as classificamos melhor, assim obtendo respostas mais satisfatórias. Isto não impede que, no curso da palestra, ajuntemos perguntas complementares, nas quais nem havíamos pensado, ou que podem ser sugeridas pelas respostas; mas o quadro está sempre traçado e é o essencial. O que devemos evitar é passar bruscamente de um a outro objetivo, por meio de perguntas que se não encadeiam, lançadas de permeio ao assunto principal. Por vezes acontece também que algumas perguntas preparadas antecipadamente, na previsão de certas respostas, se tornam inúteis e, neste caso, devemos passar adiante. Um fato que se verifica muito frequentemente é que por vezes a resposta se adianta à pergunta e que, apenas pronunciadas as primeiras palavras, o Espírito responde sem deixar que terminemos. Por vezes mesmo ele responde a um pensamento expresso em voz baixa por algum dos assistentes, sem que tenha sido feita uma pergunta e à revelia do médium. Se não tivéssemos a cada instante a prova manifesta da absoluta neutralidade deste último, fatos desse gênero não poderiam deixar a mais leve sombra de dúvida a tal respeito.
Em relação ao fundo, as perguntas merecem uma atenção especial, conforme o objetivo. As perguntas frívolas, de pura curiosidade ou de provas, são as que desagradam aos Espíritos sérios: elas os afastam ou eles não as respondem. Os Espíritos levianos se divertem com elas.
As perguntas de provas ordinariamente são feitas por aqueles que ainda não têm uma convicção adquirida e que procuram assim assegurar-se da existência dos Espíritos, de sua perspicácia e de sua identidade. Sem dúvida isto é natural de sua parte, mas foge completamente ao seu objetivo e a insistência sobre tal ponto é devida à sua ignorância mesma das bases sopre que repousa a ciência espírita, base completamente diferente daquelas das ciências experimentais. Aqueles, pois, que desejam instruir-se devem resignar-se a seguir uma via completamente diversa e a por de lado os nossos processos clássicos. Se acreditam não poder fazê-lo senão os experimentando a seu modo, melhor seria que se abstivessem. Que diria um professor ao qual pretendesse um aluno impor o seu método, que quisesse ensiná-la a agir desta ou daquela maneira e fazer as experiências à sua vontade? Ainda uma vez a ciência espírita tem seus princípios. Os que querem conhecê-la devem a eles se conformar. Do contrário não se poderão dizer aptos a julgá-los. Tais princípios os seguintes, no que concerne à questão das provas:
1º - Os Espíritos não são máquinas que movemos à nossa vontade: são seres inteligentes que não fazem nem dizem senão o que querem e que não podemos sujeitar aos nossos caprichos;
2º - As provas que desejamos ter de sua existência, de sua perspicácia e de sua identidade eles mesmos as dão espontaneamente e de bom grado em muitas ocasiões; mas as dão quando o querem e de maneira por que o querem; a nós cabe esperar, ver, observar e tais provas não nos faltarão: é necessário colhe-las de passagem; se quisermos provocá-las e então que nos escapam e nisto os Espíritos nos provam sua independência e seu livre-arbítrio.
Aliás, este princípio é que rege todas as ciências de observação. Que faz o naturalista que estuda os costumes de um inseto, por exemplo? Acompanha-o em todas as manifestações de sua inteligência ou de seu instinto; observa o que se passa, mas espera que os fenômenos se apresentem; não pensa em os provocar nem em lhes desviar o curso; aliás sabe que se fizesse não os teria mais na sua simplicidade natural. Dá-se mesmo em relação às observações espíritas.
De acordo com o que agora sabemos, compreende-se que não basta que um Espírito seja sério para resolver exprofesso toda questão séria; também não basta, como já dissemos, que tenha sido um cientista na Terra para resolver todas as questões de ciência, pois que pode estar ainda imbuído de preconceitos terrenos; é preciso que seja suficientemente elevado ou que o seu desenvolvimento como Espírito se tenha realizado no âmbito das ideias que lhe queremos submeter e esse desenvolvimento por vezes é bem diverso daquele que lhe pudemos observar em vida; mas também muitas vezes acontece que outros Espíritos mais elevados venham em auxílio daquele que interrogamos e supram a sua deficiência. Isto acontece sobretudo quando a intenção do interpelante é boa, pura e sem segunda intenção. Em suma, a primeira coisa a fazer, quando nos dirigimos pela primeira vez a um Espírito é aprender a conhecê-lo, a fim de julgar da natureza das perguntas que lhe podemos dirigir com mais segurança.
Em geral os Espíritos ligam pouca importância às questões puramente de interesse material e às que concernem às coisas da vida particular. Seria, pois, engano pensar que neles temos guias infalíveis aos quais podemos consultar a cada momento sobre a marcha e o resultado dos nossos negócios. Repetimo-lo mais uma vez: os Espíritos levianos respondem a tudo; até predizem, se o quisermos, a alta e a baixa na Bolsa, dirão se o marido esperado será louro ou moreno, etc. Tanto melhor se o acaso os faz acertar.
No número das questões frívolas não incluímos todas as que têm cunho pessoal. O bom-senso nos levará a uma apreciação. Mas os Espíritos que melhor nos podem guiar nesse terreno são os familiares, os encarregados de velar por nós e que, pelo hábito de nos acompanhar, estão identificados com as nossas necessidades. Estes, incontestavelmente, conhecem os nossos negócios melhor que nós. É, pois, a eles que devemos perguntar essas coisas e ainda devemos fazê-lo com calma, recolhimento e por um apelo sério à sua benevolência e não levianamente. Pedi-lo, porém, à queima-roupa e ao primeiro Espírito que se apresenta seria o mesmo que nos dirigirmos ao primeiro indivíduo que encontrássemos em nosso caminho.
Nossos Espíritos familiares podem, pois, esclarecer-nos, e em muitas circunstâncias o fazem de maneira eficaz; mas sua assistência nem sempre é patente e material; na maioria dos casos é oculta; ajudam-nos por uma porção de avisos indiretos que provocam e dos quais infelizmente nem sempre nos damos conta, do que resulta que muitas vezes só de nós mesmos nos devemos queixar por nossas tribulações. Quando os interrogamos em certos casos, eles podem dar-nos conselhos positivos; mas em geral se limitam a mostrar-nos o caminho e recomendar que não nos choquemos, para o que têm um duplo motivo. Primeiro, porque as tribulações da vida, quando não resultam de faltas propriamente nossas, fazem parte das provas que devemos suportar; podem eles ajudar-nos a sofrê-las com coragem e resignação, mas não lhes cabe desviá-las. Em segundo lugar se nos guiarem pela mão a fim de evitarem todos os escolhos, que faríamos do nosso livre arbítrio? Seríamos como crianças mantidas nas andadeiras até a idade adulta. Eles nos dizem: “Eis o caminho; siga a boa trilha: eu lhe inspirarei o que deve preferir, mas sirva-se de seu raciocínio como a criança se serve das pernas para andar”.
Podem os Espíritos predizer o futuro? Tal é a pergunta que não escapa a todo novato. Diremos apenas uma palavra. A Providência foi sábia ao ocultar o futuro. Que tormentos nos são poupados por sua ignorância! sem contar que se o conhecêssemos, nos abandonaríamos cegamente ao nosso destino, abdicando de qualquer iniciativa. Os próprios Espíritos não o conhecem senão em proporção de sua elevação e por isso os Espíritos inferiores que sofrem julgam sofrer sempre. Quando o sabem, não o devem revelar. Entretanto por vezes podem levantar a ponta do véu que o cobre; mas então o fazem espontaneamente, por considerá-la útil; nunca ao nosso pedido. Dá-se o mesmo como nosso passado. Insistir nesse ponto, como sobre outros, quando eles se recusam a responder, é tornar-se joguete dos mistificadores.
Não poderíamos passar em revista toda a variedade de perguntas que é possível fazer sem reproduzir aqui o que está contido em O LIVRO DOS ESPÍRITOS. A ele remetemos o leitor, para o desenvolvimento de tudo quanto concerne o futuro, as existências anteriores, as descobertas, os tesouros ocultos, as ciências, a medicina, etc.