MÉDIUNS REMUNERADOS
Ainda não conhecemos médiuns escreventes dando consultas a tanto por sessão. Talvez isto aconteça e, por isso, algumas palavras nos parecem úteis. Para começar diremos que nada se prestaria mais à charlatanice e às peloticas do que semelhante oficio. Se vimos os falsos sonâmbulos, veremos em maior número os falsos médiuns. Só isto basta como motivo para desconfiança. O desinteresse, ao contrário, é a resposta mais categórica que se possa opor aos que nos fatos apenas veem uma manobra hábil. Não há charlatanismo desinteressado. Qual seria o objetivo das pessoas que usassem a intrujice sem proveito? com mais forte razão quando a sua reconhecida honorabilidade as coloca acima da suspeição. Se o ganho que um médium consegue de sua faculdade pode ser um motivo de suspeição, não seria prova de que a suspeita tivesse fundamento. Poderia, pois, ter uma aptidão real e agir de muito boa fé, posto que se fazendo pagar. Vejamos se, neste caso, é possível esperar razoavelmente um resultado satisfatório.
Se foi bem compreendido o que dissemos das condições necessárias para servir de intérprete aos bons Espíritos, das numerosas causas que os podem afastar, das circunstâncias independentes de sua vontade que, por vezes constituem um obstáculo à sua vinda; enfim de todas as condições morais que podem exercer influência sobre a natureza das comunicações, como poderíamos supor que um Espírito, por menos elevado que fosse, estivesse continuamente às ordens de um vendedor de consultas e submetido às suas exigências para satisfazer a curiosidade do primeiro que chegasse? Sabemos da aversão dos Espíritos por tudo quanto cheira a cupidez e a egoísmo, o pouco caso que ligam às coisas materiais e queríamos que eles ajudassem a traficar com a sua presença?! Isto repugna pensar e seria preciso conhecer muito pouco a natureza do mundo espírita para pensar que assim pudesse ser. Como, porém, os Espíritos levianos são menos escrupulosos e apenas procuram ocasião para divertir-se à nossa custa, o resultado é que se pão formos mistificados por um falso médium, teremos toda chance de o ser por alguns entre os médiuns. Só estas reflexões nos dão a medida do grau de confiança que deveríamos depositar em comunicações desse gênero. Aliás, para que serviriam hoje os médiuns remunerados, se, em falta de nossa própria faculdade, poderemos descobri-la na família ou entre os amigos e conhecidos?
O inconveniente que acabamos de assinalar não é o mesmo quando se trata de manifestações puramente físicas. A natureza dos Espíritos que se comunicam nessas circunstâncias o toma facilmente compreensível. Contudo, como a faculdade dos médiuns de influência física nem sempre está à sua disposição, por vezes poderia faltar àquele que a deveria exibir em hora certa, para satisfazer ao público. A faculdade mediúnica, mesmo nesse limite, não nos foi dada para exibição e quem quer que pretenda ter os Espíritos às suas ordens, ainda que os das mais baixas camadas, para os obrigar a agir a todo instante, pode razoavelmente ser suspeito de charlatanismo e de prestidigitação mais ou menos hábil. Tomemos como tal sempre que virmos anúncios de pretensas sessões de espiritismo ou espiritualismo a tanto a cadeira.