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Instruções práticas sobre as manifestações espíritas
Instruções práticas sobre as manifestações espíritas
Contendo
A exposição completa das condições necessárias para se comunicar com os Espíritos e os meios de desenvolver nos médiuns a faculdade mediatriz.
Por
Allan Kardec
INTRODUÇÃO
Muitas pessoas nos pediram lhes indicássemos as condições que devem ser preenchidas, bem como a maneira de se conduzirem a fim de ser médium. A solução deste problema é mais complexa do que parece à primeira vista, por isso que repousa sobre conhecimentos preliminares de certa extensão. Para fazer experiências de Física ou de Química é preciso, de saída, conhecer Física e Química.
As respostas que demos àquelas pessoas não podiam abarcar um desenvolvimento incompatível com os limites de uma correspondência epistolar. Por outro lado não havia tempo material para responder a todos os pedidos. Assim, determinamo-nos a publicar estas instruções, necessariamente mais completas do que tudo quanto pudéssemos escrever diretamente.
Entretanto equivocar-se-ia quem pretendesse encontrar nesta obra uma receita universal e infalível para a formação de médiuns. Posto cada um encerre em si o germe das qualidades necessárias para o ser, essas mesmas qualidades existem em graus muito diversos e seu desenvolvimento é função de causas cujo nascimento independe da pessoa. As regras da poesia, da pintura e da música não transformam em poetas, pintores ou músicos aqueles que não tenham o gênio. Elas apenas orientam no emprego das faculdades naturais.
Dá-se o mesmo no nosso trabalho.
Seu objetivo é indicar os meios de desenvolver a faculdade mediatriz, tanto quanto o permitam as disposições de cada um e, sobretudo, dirigir o seu emprego de maneira útil,
desde que exista a faculdade.
Mas não é este o objetivo único a que nos propomos. Ao lado dos médiuns, propriamente ditos, há uma multidão, aumentada diariamente, de pessoas que se ocupam de manifestações espíritas. Guiá-las em suas observações; assinalar os escolhos que, necessariamente, podem e devem encontrar em assunto tão novo; iniciá-las na maneira de tratar com os Espíritos; indicar-lhes os meios para obter boas comunicações - tal é o círculo que devemos abarcar, sob pena de fazermos obra incompleta. Assim, não será para surpreender o encontro, em nosso trabalho, de ensinamentos que, à primeira vista, poderiam parecer estranhos. A experiência mostrará a sua utilidade. Depois de o haver estudado cuidadosamente, compreender-se-ão melhor os fatos que se houverem testemunhado; a linguagem de certos Espíritos parecerá menos estranha.
Como instrução prática, este trabalho não se dirige exclusivamente aos médiuns, mas a todos quantos pretendam ver e observar os fenômenos espíritas.
A ciência espírita repousa, necessariamente, sobre a existência dos Espíritos e sua intervenção no mundo corpóreo. É hoje um fato consumado para tanta gente que a sua demonstração se torna supérflua. Como o nosso objetivo é orientar as pessoas desejosas de ocupar-se com as manifestações, imaginamo-las suficientemente edificadas sobre esse ponto, bem como sobre as verdades fundamentais dele decorrentes. Inútil, pois, entrar em explicações a seu respeito. Por isso não os discutiremos nem procuraremos estabelecer controvérsias ou refutar objeções. Dirigimo-nos apenas às pessoas convictas ou predispostas, de boa fé ou que tal pretendem. Aqueles que tudo devem ainda aprender aqui não encontrarão certas demonstrações que desejariam encontrar, de vez que consideramos o ponto de partida incontrovertido. Aos que contestam este ponto, diremos: Vejam e observem, quando se apresentarem as oportunidades. Se, a despeito dos fatos e dos raciocínios, vocês ainda persistirem na incredulidade, consideraríamos perdido o tempo que aplicássemos em tirar vocês de um erro no qual vocês s comprazem certamente. Respeitamos a opinião de vocês. Então respeitem a nossa. É tudo quanto pedimos.
Iniciaremos estas instruções expondo os princípios gerais da doutrina. Conquanto possa parecer mais racional começar pela prática, parece-nos que aqui não é o caso: há uma convicção moral que só o raciocínio poderá dar. Aqueles, pois, que tiverem adquirido as primeiras noções pelo estudo da teoria compreenderão melhor a necessidade de certos preceitos recomendados na prática e assumirão disposições mais favoráveis. Trazendo os indecisos ao terreno da realidade, esperamos destruir os preconceitos que possam prejudicar o resultado que se tem em mira, poupar ensaios inúteis, porque mal dirigidos ou dirigidos para o impossível enfim, combater as ideias supersticiosas que sempre
se originam nas noções falsas, ou incompletas, das coisas.
As manifestações espíritas são a fonte de uma porção de ideias novas, que não encontram representação na linguagem comum: foram expressas por analogia, como acontece na infância de todas as ciências. Daí a ambiguidade de vocábulos, inesgotável fonte de discussões. Com vocábulos claramente definidos e um nome para cada coisa, compreendemo-nos mais facilmente. Então a discussão versará sobre o fundo e não sobre a forma. Visando alcançar tal objetivo e fazer ordem nas ideias novas e ainda confusas, damos inicialmente uma lista dos nomes que, direta ou indiretamente, se ligam à doutrina, com explicações completas, mas sucintas, para fixar as idéias.
Como todas as ciências, deve o Espiritismo ter o seu vocabulário. Para se compreender uma ciência é preciso, de saída, compreender a língua: eis a primeira coisa que recomendamos aos que querem fazer do Espiritismo um estudo sério. Seja qual for a sua ulterior opinião pessoal sobre os vários pontos da doutrina, poderão discuti-los com conhecimento de causa. A forma alfabética permitirá, além disso, recorrer mais facilmente às definições e aos ensinamentos que são como que chaves da abóbada do edifício e que servirão para refutar, em poucas palavras, certas críticas e evitar uma porção de
questões.
A especialidade do objetivo que nos propomos indica naturais limites a esta obra. Tocando em todos os pontos da metafísica, da moral e, até, pode dizer-se, na maioria dos conhecimentos humanos, a ciência espírita não se acha num quadro tão limitado que nos permitisse abordar todas as questões e discutir todas as objeções. Para desenvolvimentos complementares, pois, remetemos o leitor a O LIVRO DOS ESPÍRITOS e à REVISTA ESPÍRITA. No primeiro encontra-se uma exposição completa e metódica da doutrina, tal qual foi ditada pelos próprios Espíritos; na segunda, além do relato e da apresentação dos fatos, uma variedade de assuntos que só uma publicação periódica pode comportar. A coleção dessa revista formará um repertório completíssimo sobre a matéria, do tríplice ponto de vista histórico, dogmático e critico.
As respostas que demos àquelas pessoas não podiam abarcar um desenvolvimento incompatível com os limites de uma correspondência epistolar. Por outro lado não havia tempo material para responder a todos os pedidos. Assim, determinamo-nos a publicar estas instruções, necessariamente mais completas do que tudo quanto pudéssemos escrever diretamente.
Entretanto equivocar-se-ia quem pretendesse encontrar nesta obra uma receita universal e infalível para a formação de médiuns. Posto cada um encerre em si o germe das qualidades necessárias para o ser, essas mesmas qualidades existem em graus muito diversos e seu desenvolvimento é função de causas cujo nascimento independe da pessoa. As regras da poesia, da pintura e da música não transformam em poetas, pintores ou músicos aqueles que não tenham o gênio. Elas apenas orientam no emprego das faculdades naturais.
Dá-se o mesmo no nosso trabalho.
Seu objetivo é indicar os meios de desenvolver a faculdade mediatriz, tanto quanto o permitam as disposições de cada um e, sobretudo, dirigir o seu emprego de maneira útil,
desde que exista a faculdade.
Mas não é este o objetivo único a que nos propomos. Ao lado dos médiuns, propriamente ditos, há uma multidão, aumentada diariamente, de pessoas que se ocupam de manifestações espíritas. Guiá-las em suas observações; assinalar os escolhos que, necessariamente, podem e devem encontrar em assunto tão novo; iniciá-las na maneira de tratar com os Espíritos; indicar-lhes os meios para obter boas comunicações - tal é o círculo que devemos abarcar, sob pena de fazermos obra incompleta. Assim, não será para surpreender o encontro, em nosso trabalho, de ensinamentos que, à primeira vista, poderiam parecer estranhos. A experiência mostrará a sua utilidade. Depois de o haver estudado cuidadosamente, compreender-se-ão melhor os fatos que se houverem testemunhado; a linguagem de certos Espíritos parecerá menos estranha.
Como instrução prática, este trabalho não se dirige exclusivamente aos médiuns, mas a todos quantos pretendam ver e observar os fenômenos espíritas.
A ciência espírita repousa, necessariamente, sobre a existência dos Espíritos e sua intervenção no mundo corpóreo. É hoje um fato consumado para tanta gente que a sua demonstração se torna supérflua. Como o nosso objetivo é orientar as pessoas desejosas de ocupar-se com as manifestações, imaginamo-las suficientemente edificadas sobre esse ponto, bem como sobre as verdades fundamentais dele decorrentes. Inútil, pois, entrar em explicações a seu respeito. Por isso não os discutiremos nem procuraremos estabelecer controvérsias ou refutar objeções. Dirigimo-nos apenas às pessoas convictas ou predispostas, de boa fé ou que tal pretendem. Aqueles que tudo devem ainda aprender aqui não encontrarão certas demonstrações que desejariam encontrar, de vez que consideramos o ponto de partida incontrovertido. Aos que contestam este ponto, diremos: Vejam e observem, quando se apresentarem as oportunidades. Se, a despeito dos fatos e dos raciocínios, vocês ainda persistirem na incredulidade, consideraríamos perdido o tempo que aplicássemos em tirar vocês de um erro no qual vocês s comprazem certamente. Respeitamos a opinião de vocês. Então respeitem a nossa. É tudo quanto pedimos.
Iniciaremos estas instruções expondo os princípios gerais da doutrina. Conquanto possa parecer mais racional começar pela prática, parece-nos que aqui não é o caso: há uma convicção moral que só o raciocínio poderá dar. Aqueles, pois, que tiverem adquirido as primeiras noções pelo estudo da teoria compreenderão melhor a necessidade de certos preceitos recomendados na prática e assumirão disposições mais favoráveis. Trazendo os indecisos ao terreno da realidade, esperamos destruir os preconceitos que possam prejudicar o resultado que se tem em mira, poupar ensaios inúteis, porque mal dirigidos ou dirigidos para o impossível enfim, combater as ideias supersticiosas que sempre
se originam nas noções falsas, ou incompletas, das coisas.
As manifestações espíritas são a fonte de uma porção de ideias novas, que não encontram representação na linguagem comum: foram expressas por analogia, como acontece na infância de todas as ciências. Daí a ambiguidade de vocábulos, inesgotável fonte de discussões. Com vocábulos claramente definidos e um nome para cada coisa, compreendemo-nos mais facilmente. Então a discussão versará sobre o fundo e não sobre a forma. Visando alcançar tal objetivo e fazer ordem nas ideias novas e ainda confusas, damos inicialmente uma lista dos nomes que, direta ou indiretamente, se ligam à doutrina, com explicações completas, mas sucintas, para fixar as idéias.
Como todas as ciências, deve o Espiritismo ter o seu vocabulário. Para se compreender uma ciência é preciso, de saída, compreender a língua: eis a primeira coisa que recomendamos aos que querem fazer do Espiritismo um estudo sério. Seja qual for a sua ulterior opinião pessoal sobre os vários pontos da doutrina, poderão discuti-los com conhecimento de causa. A forma alfabética permitirá, além disso, recorrer mais facilmente às definições e aos ensinamentos que são como que chaves da abóbada do edifício e que servirão para refutar, em poucas palavras, certas críticas e evitar uma porção de
questões.
A especialidade do objetivo que nos propomos indica naturais limites a esta obra. Tocando em todos os pontos da metafísica, da moral e, até, pode dizer-se, na maioria dos conhecimentos humanos, a ciência espírita não se acha num quadro tão limitado que nos permitisse abordar todas as questões e discutir todas as objeções. Para desenvolvimentos complementares, pois, remetemos o leitor a O LIVRO DOS ESPÍRITOS e à REVISTA ESPÍRITA. No primeiro encontra-se uma exposição completa e metódica da doutrina, tal qual foi ditada pelos próprios Espíritos; na segunda, além do relato e da apresentação dos fatos, uma variedade de assuntos que só uma publicação periódica pode comportar. A coleção dessa revista formará um repertório completíssimo sobre a matéria, do tríplice ponto de vista histórico, dogmático e critico.
Vocabulário espírita
ALMA – do lat. anima; do gr. anemos; sopro, respiração. Conforme uns, é o princípio da vida material; conforme outros, o princípio da inteligência sem individualidade após a morte. Segundo várias doutrinas religiosas é um ser imaterial, distinto, cujo corpo é apenas um envoltório que sobrevive ao corpo material e conserva sua individualidade após a morte.
Esta diversidade de acepções dadas a um mesmo vocábulo é uma perpétua fonte de controvérsias, que não teria lugar se cada idéia tivesse sua representação bem definida. Para evitar qualquer engano quanto ao sentido que emprestamos a êsse vocábulo, chamaremos:
alma espírita ou, simplesmente, alma, o ser imaterial, distinto e individual, unido ao corpo, que lhe serve de envoltório temporário; isto é, o Espírito, no estado de encarnação, e que pertence apenas à espécie humana;
principio vital, o princípio geral da vida material, comum a todos os seres orgânicos - homens, animais e plantas; e alma vital, o princípio vital individualizado num ser qualquer;
principio intelectual, o princípio geral da inteligência comum aos homens e aos animais; e alma intelectual este mesmo princípio individualizado.
Esta diversidade de acepções dadas a um mesmo vocábulo é uma perpétua fonte de controvérsias, que não teria lugar se cada idéia tivesse sua representação bem definida. Para evitar qualquer engano quanto ao sentido que emprestamos a êsse vocábulo, chamaremos:
alma espírita ou, simplesmente, alma, o ser imaterial, distinto e individual, unido ao corpo, que lhe serve de envoltório temporário; isto é, o Espírito, no estado de encarnação, e que pertence apenas à espécie humana;
principio vital, o princípio geral da vida material, comum a todos os seres orgânicos - homens, animais e plantas; e alma vital, o princípio vital individualizado num ser qualquer;
principio intelectual, o princípio geral da inteligência comum aos homens e aos animais; e alma intelectual este mesmo princípio individualizado.
ALMA UNIVERSAL – nome dado por certos filósofos ao princípio geral da vida e da inteligência (Vide Todo universal).
ALUCINAÇÃO – do lat. allucinare, errar. “Erro, ilusão da pessoa que julga ter percepções que realmente não tem". (Academia Francesa). – Os fenômenos espíritas provenientes da emancipação da alma provam que aquilo que é qualificado como alucinação frequentemente é uma percepção real, análoga a da dor vista do sonambulismo ou do êxtase, e provocada por um estado anormal, um efeito das faculdades da alma desprendida de seus laços corpóreos. Sem dúvida por vezes há uma verdadeira alucinação, conforme o sentido ligado ao vocábulo; mas a ignorância e a pouca atenção que, até agora, tem sido prestada a tais fenômenos fizeram que considerassem como ilusório aquilo que, muitas e muitas vezes, é uma visão real. Quando não se sabe como explicar um fato psicológico, acha-se mais simples qualificá-la de alucinação.
ANJO – do lat. angelus; do gr. aggelos[1], mensageiro. Segundo a idéia vulgar, os anjos são seres intermediários entre o homem e a divindade, por sua natureza e por seu poder; podem manifestar-se, quer por meio de avisos ocultos, quer de maneira visível. Não foram criados perfeitos, pois a perfeição pressupõe a infalibilidade - e alguns dentre eles ter-se-iam revoltado contra Deus. Diz-se: bons anjos, anjos maus, o anjo das trevas. Entretanto a idéia mais geral ligada a este vocábulo é a da bondade e da suprema virtude.
Segundo a doutrina espírita, os anjos não são seres à parte, de uma natureza especial: são Espíritos de primeira ordem, isto é, aqueles que chegaram ao estado de puros Espíritos, depois de terem passado por todas as provas.
Nosso mundo não existe de toda a eternidade, e muito antes que fosse formado, alguns Espíritos haviam atingido aquele grau supremo. Então, os homens pensaram que aqueles sempre tinham sido assim.
[1] Em grego o g tem som duro; pronuncia-se como o grupo italiano gh ou como em português quando seguido de a o ou u. No grupo gg, o primeiro nasala a vogal precedente. No exemplo acima pronuncia-se angelos (com o g duro). N. do T.
Segundo a doutrina espírita, os anjos não são seres à parte, de uma natureza especial: são Espíritos de primeira ordem, isto é, aqueles que chegaram ao estado de puros Espíritos, depois de terem passado por todas as provas.
Nosso mundo não existe de toda a eternidade, e muito antes que fosse formado, alguns Espíritos haviam atingido aquele grau supremo. Então, os homens pensaram que aqueles sempre tinham sido assim.
[1] Em grego o g tem som duro; pronuncia-se como o grupo italiano gh ou como em português quando seguido de a o ou u. No grupo gg, o primeiro nasala a vogal precedente. No exemplo acima pronuncia-se angelos (com o g duro). N. do T.
APARIÇÃO – fenômeno pelo qual os seres do mundo incorpóreo se tornam visíveis.
aparição etérea ou vaporosa – a que é impalpável e insustentável, pois não oferece resistência ao tato;
aparição tangível ou estereolítica – a que é palpável e apresenta a consistência dos corpos sólidos.
A aparição difere da visão pelo fato de ocorrer em estado de vigília, afetando os órgãos visuais, quando o homem tem plena consciência de suas relações com o mundo exterior. A visão se dá no estado de sono ou de êxtase; também ocorre em vigília, por efeito da segunda vista. A aparição nos chega pelos olhos do corpo; produz-se no próprio lugar onde nos encontramos. A visão tem por objeto coisas ausentes ou afastadas, percebidas pela alma no estado de emancipação e quando as faculdades sensitivas se acham mais ou menos suspensas. (Vide Lucidez e Clarividência).
aparição etérea ou vaporosa – a que é impalpável e insustentável, pois não oferece resistência ao tato;
aparição tangível ou estereolítica – a que é palpável e apresenta a consistência dos corpos sólidos.
A aparição difere da visão pelo fato de ocorrer em estado de vigília, afetando os órgãos visuais, quando o homem tem plena consciência de suas relações com o mundo exterior. A visão se dá no estado de sono ou de êxtase; também ocorre em vigília, por efeito da segunda vista. A aparição nos chega pelos olhos do corpo; produz-se no próprio lugar onde nos encontramos. A visão tem por objeto coisas ausentes ou afastadas, percebidas pela alma no estado de emancipação e quando as faculdades sensitivas se acham mais ou menos suspensas. (Vide Lucidez e Clarividência).
ARCANJO – anjo de ordem superior. (Vide Anjo). O vocábulo anjo tem sentido genérico, aplicado a todos os puros Espíritos. Se se admitirem para eles diversos graus de elevação, podem ser designados pelos nomes de arcanjos e serafins, para se utilizarem termos conhecidos.
ATEÍSMO, ATEU - do gr. atheos, composto de a, privativo e theos, Deus, isto é, sem Deus; que não crê em Deus. O ateísmo é a negação absoluta da divindade. Quem quer que creia na existência de um ser supremo, sejam quais forem os atributos que se lhe emprestem e o culto que se lhe renda, não é ateu. Toda religião repousa necessariamente sobre a crença numa divindade. Essa crença pode ser mais ou menos esclarecida, mais ou menos conforme à verdade. Mas não teria senso uma religião ateísta.
O ateísmo absoluto tem poucos prosélitos, porque o sentimento da divindade existe no coração do homem, mesmo na ausência de qualquer ensinamento. O ateísmo e o espiritismo são incompatíveis.
O ateísmo absoluto tem poucos prosélitos, porque o sentimento da divindade existe no coração do homem, mesmo na ausência de qualquer ensinamento. O ateísmo e o espiritismo são incompatíveis.
BATEDOR – (Vide Espírito).
CÉU – no sentido de morada dos bem-aventurados. (Vide Paraíso).
CLARIVIDÊNCIA – propriedade inerente à alma e que dá a certas pessoas a faculdade de ver sem o concurso dos órgãos da visão. (Vicie Lucidez).
CLASSIFICAÇÃO DOS ESPÍRITOS – (Vide Escala espírita).
COMUNICAÇÃO ESPÍRITA – manifestação inteligente dos Espíritos, tendo por objetivo uma continuada troca de idéias entre eles e os homens. Dividem-se em:
Comunicações frívolas, as que se relacionam com assuntos fúteis e sem importância;
Comunicações grosseiras, as que se traduzem por expressões que ferem o decoro;
Comunicações instrutivas, as que têm por objetivo principal um ensinamento dado pelos Espíritos sobre as ciências, a moral, a filosofia, etc.;
Comunicações sérias, as que excluem a frivolidade, seja qual for o objetivo.
(Vide para os modos de comunicações, Sematologia, Tiptologia, Psicografia, Pneumatografia, Psicofonia, Pneumatofonia, Telegrafia humana).
Comunicações frívolas, as que se relacionam com assuntos fúteis e sem importância;
Comunicações grosseiras, as que se traduzem por expressões que ferem o decoro;
Comunicações instrutivas, as que têm por objetivo principal um ensinamento dado pelos Espíritos sobre as ciências, a moral, a filosofia, etc.;
Comunicações sérias, as que excluem a frivolidade, seja qual for o objetivo.
(Vide para os modos de comunicações, Sematologia, Tiptologia, Psicografia, Pneumatografia, Psicofonia, Pneumatofonia, Telegrafia humana).
CRISIACO – aquele que se acha momentaneamente num estado de crise produzida pela ação magnética. Esta qualificação se dá mais particularmente àqueles nos quais tal estado é espontâneo e acompanhado de uma certa superexcitação nervosa. Em geral os crisíacos gozam de lucidez sonambúlica ou da segunda vista.
DEÍSTA – aquele que crê em Deus sem admitir culto externo. Erroneamente por vezes confundem deísmo com ateísmo. (Vide Ateu).
DEMÔNIO – do lat. daemo; do gr. daimon, gênio, sorte, destino, manes. Daemones, tanto em latim quanto em grego, se diz de todos os seres incorpóreos, bons ou maus e supostamente com conhecimentos e Poderes superiores aos do homem. Nas línguas modernas o vocábulo é geralmente tomado em sentido pejorativo e sua acepção se restringe aos gênios do mal. Conforme a crença vulgar, os demônios são seres essencialmente maus por natureza. Ensinam-nos os Espíritos que Deus, sendo soberanamente bom e justo, não poderia ter criado seres votados ao mal e infelizes por toda a eternidade. Conforme eles, não há demônios, no sentido absoluto e restrito do vocábulo: existem apenas Espíritos imperfeitos, podendo todos melhorar-se pelos próprios esforços e por sua própria vontade. Os Espíritos da nona classe seriam os verdadeiros demônios, se este vocábulo não implicasse a idéia de uma natureza perpetuamente má.
DEMÔNIO FAMILIAR[1] – (Vide Espírito familiar).
[1] Na linguagem popular do Brasil é freqüente ouvir-se a voz famalial, com o significado acima. N. do T.
Tratado sobre a natureza e a influência dos demônios.
DEMONOMANCIA – (do gr. daimon e maneia, adivinhação). Suposto conhecimento do futuro pela inspiração dos demônios.
DEMONOMANIA – variedade de alienação mental que consiste em supor-se possuído do demônio.
DEUS – inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. Eterno, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom e infinito em todas as suas perfeições.
DIABO – do gr. diabolos, delator, acusador, maldizente, caluniador. Segundo a crença vulgar, é um ser real, um anjo rebelde. Chefe de todos os demônios e que tem um poder bastante grande para lutar até contra o próprio Deus. Conhece os nossos mais secretos pensamentos, insufla todas as paixões más e toma todas as formas para nos induzir ao mal. Conforme a doutrina espírita sobre os demônios, o diabo é a personificação do mal; é um ser alegórico, que resume em si todas as paixões más dos Espíritos imperfeitos. Assim como os Antigos davam às suas divindades alegóricas atributos especiais, como ao Tempo uma foice, uma ampulheta, asas e a figura de um velho; à Fortuna uma venda sobre os olhos e uma roda sob um dos pés, etc., o diabo teve que ser representado sob os traços característicos da baixeza das inclinações. Os cornos e a cauda são emblemas da bestialidade, isto é, da brutalidade das paixões animais.
DRÍADA – (Vide Hamadríada).
DUENDE – (Vide Trasgo).
ESCALA ESPÍRITA – quadro das várias ordens de Espíritos, indicando os degraus que devem percorrer a fim de chegarem à perfeição. Compreende três ordens principais: os Espíritos imperfeitos, os bons Espíritos e os puros Espíritos, subdivididos em nove classes caracterizadas pela progressão dos sentimentos morais e das ideias intelectuais.
Os próprios Espíritos nos ensinam que pertencem a diferentes categorias, conforme seu grau de depuração, mas também nos dizem que essas categorias não constituem espécies distintas e que os Espíritos são chamados a percorrê-las sucessivamente. (Vide os desenvolvimentos relativos ao caráter de cada classe de Espíritos no capítulo especial).
Os próprios Espíritos nos ensinam que pertencem a diferentes categorias, conforme seu grau de depuração, mas também nos dizem que essas categorias não constituem espécies distintas e que os Espíritos são chamados a percorrê-las sucessivamente. (Vide os desenvolvimentos relativos ao caráter de cada classe de Espíritos no capítulo especial).
EMANCIPAÇÃO DA ALMA – estado particular da vida humana, durante o qual, desprendendo-se dos laços materiais, a alma recobra algumas de suas faculdades de Espírito, e entra mais facilmente em comunicação com os seres incorpóreos. Tal estado se manifesta principalmente pelo fenômeno dos sonhos, da sonolência, da dupla vista, do sonambulismo natural ou magnético e do êxtase. (Vide estes vocábulos).
ENCARNAÇÃO – estado dos Espíritos que revestem um envoltório corporal. Diz-se: Espírito encarnado, por oposição a Espírito errante. Os Espíritos são errantes nos intervalos de suas diversas encarnações. A encarnação pode dar-se na Terra ou em outro mundo.
ERRATICIDADE – estado dos Espíritos errantes, isto é, não encarnados, durante os intervalos de suas diversas existências corpóreas. A erraticidade absolutamente não é símbolo de inferioridade para os Espíritos. Há Espíritos errantes de todas as classes, salvo os da primeira ordem, ou puros Espíritos, que, não tendo mais que passar pela reencarnação, não podem ser considerados errantes. Os Espíritos errantes são felizes ou infelizes, conforme seu grau de depuração. É nesse estado que o Espírito, então despojado do véu material do corpo, reconhece suas existências anteriores e as faltas que o distanciam da perfeição e da felicidade infinita. É ainda nessa condição que ele escolhe novas provas, a fim de progredir mais rapidamente.
ESFERA – Vocábulo pelo qual alguns Espíritos designam os diferentes graus da escala espírita. Dizem eles que foi alcançada a quinta ou a sexta esfera, como outros diriam o quinto ou sexto céu. Pela maneira por que se exprimem, poder-se-ia supor que a Terra fosse um ponto central, cercado de esferas concêntricas, nas quais se realizariam sucessivamente os vários graus de perfeição. Alguns, até, falam da esfera de fogo, da esfera das estrelas, etc. Como as mais elementares noções de Astronomia bastam para mostrar o absurdo de semelhante teoria, esta não poderia provir senão de uma falsa interpretação dos vocábulos, ou de Espíritos muito atrasados e ainda imbuídos dos sistemas de Ptolomeu e de Tycho-Brahe[1]. Se um homem que supondes sábio sustenta uma coisa evidentemente absurda, duvidais de seu saber. Deve dar-se o mesmo com os Espíritos: é pela experiência que aprendemos a conhecê-los. Essas expressões são, pois, viciosas, mesmo quando tomadas em sentido figurado, porque podem induzir em erro sobre o verdadeiro sentido no qual deve entender-se a progressão dos Espíritos. (Vide Reencarnação).
[1] Trata-se de Cláudio Ptolomeu, astrônomo e geógrafo grego do segundo século de nossa era, provavelmente nascido no Alto Egito e morto em Canopus, perto de Alexandria. Suas principais obras são a Composição Matemática, ou Almagesto, tratado de trigonometria retilínea e esférica com o cálculo dos movimentos planetários. Contém ainda a exposição do sistema do mundo; a célebre Geografia, onde se encontram muitos mapas que orientaram as grandes descobertas; um tratado de Astrologia, chamado Tetrabiblion e as Harmônicas, onde se acha a teoria matemática dos sons empregados na música grega. Inventou vários instrumentos de astronomia.
O outro, Tycho-Brahe, foi o célebre astrônomo dinamarquês (1546-1601), protegido pelo rei Frederico II, que lhe deu uma ilha, na qual ele construiu um observatório, um feudo na Noruega e uma pensão. Por sua independência religiosa Rodolfo II, sucessor daquele rei, cortou-lhe a pensão. Foi mestre de Képler, deixou um catálogo de cerca de 800 estrelas e outros trabalhos importantes. Graças a tudo isto Képler pôde anunciar as célebres leis sobre o movimento dos planetas. N. do T.
[1] Trata-se de Cláudio Ptolomeu, astrônomo e geógrafo grego do segundo século de nossa era, provavelmente nascido no Alto Egito e morto em Canopus, perto de Alexandria. Suas principais obras são a Composição Matemática, ou Almagesto, tratado de trigonometria retilínea e esférica com o cálculo dos movimentos planetários. Contém ainda a exposição do sistema do mundo; a célebre Geografia, onde se encontram muitos mapas que orientaram as grandes descobertas; um tratado de Astrologia, chamado Tetrabiblion e as Harmônicas, onde se acha a teoria matemática dos sons empregados na música grega. Inventou vários instrumentos de astronomia.
O outro, Tycho-Brahe, foi o célebre astrônomo dinamarquês (1546-1601), protegido pelo rei Frederico II, que lhe deu uma ilha, na qual ele construiu um observatório, um feudo na Noruega e uma pensão. Por sua independência religiosa Rodolfo II, sucessor daquele rei, cortou-lhe a pensão. Foi mestre de Képler, deixou um catálogo de cerca de 800 estrelas e outros trabalhos importantes. Graças a tudo isto Képler pôde anunciar as célebres leis sobre o movimento dos planetas. N. do T.
Relativo ao Espiritismo.
ESPIRITISMO – doutrina fundada sobre a crença na existência dos Espíritos e em sua comunicação com os homens.
ESPIRITISTA – aquele que adota a doutrina espírita.
ESPÍRITO – do lat. spiritus, de spirare, soprar. No sentido especial da doutrina espírita, os Espíritos são os seres inteligentes da criação e povoam o universo, fora do mundo corpóreo.
A natureza íntima dos Espíritos nos é desconhecida; eles próprios não a podem definir, por ignorância ou por deficiência de nossa linguagem. A esse respeito estamos como os cegos de nascença em relação à luz. Conforme ao que nos dizem, o Espírito não é material, no sentido vulgar do vocábulo; também não é imaterial, no sentido absoluto, pois que é alguma coisa e a imaterialidade absoluta seria o nada. O Espírito é, pois, formado de uma substância, da qual não nos pode dar uma idéia a matéria grosseira que afeta os nossos sentidos. Pode ser comparado a uma chama ou centelha, cujo brilho varia conforme seu grau de depuração. Pode afetar todas as formas, por meio do perispírito que o envolve. (Vide Perispírito).
A natureza íntima dos Espíritos nos é desconhecida; eles próprios não a podem definir, por ignorância ou por deficiência de nossa linguagem. A esse respeito estamos como os cegos de nascença em relação à luz. Conforme ao que nos dizem, o Espírito não é material, no sentido vulgar do vocábulo; também não é imaterial, no sentido absoluto, pois que é alguma coisa e a imaterialidade absoluta seria o nada. O Espírito é, pois, formado de uma substância, da qual não nos pode dar uma idéia a matéria grosseira que afeta os nossos sentidos. Pode ser comparado a uma chama ou centelha, cujo brilho varia conforme seu grau de depuração. Pode afetar todas as formas, por meio do perispírito que o envolve. (Vide Perispírito).
ESPÍRITO BATEDOR – aquele que manifesta sua presença por meio de batidas. Pertencem eles às classes inferiores.
ESPÍRITO ELEMENTAR – Espírito considerado em si mesmo, abstração feita de seu perispírito ou envoltório semimaterial.
ESPÍRITO FAMILIAR – Espírito que se liga a uma pessoa ou uma família, para a proteger, se for bom, para a perseguir, se for mau. O Espírito familiar não necessita ser evocado: acha-se sempre presente e responde instantaneamente ao apelo que se lhe faça. Muitas vezes manifesta sua presença por sinais sensíveis.
ESPIRITUALISMO – crença na existência de uma alma espiritual, imaterial, que conserva sua individualidade após a morte, abstração feita da crença nos Espíritos. É o oposto ao materialismo. Quem quer que acredite que em nós nem tudo é matéria é espiritualista; mas não se segue por isso que admita a doutrina dos Espíritos. Todo espiritista é
necessariamente espiritualista; mas é possível ser-se espiritualista sem ser espírita. O
materialista não é uma coisa nem outra. Como são duas idéias essencialmente distintas,
tornava-se necessário as distinguir por palavras diferentes, a fim de evitar qualquer equívoco. Mesmo para aqueles que consideram o Espiritismo como uma coisa quimérica, ainda é necessário designá-lo por um nome especial: isto tanto se faz preciso para as idéias
falsas quanto para as verdadeiras, a fim de que nos possamos entender. (Vide Materialismo e Espiritismo).
ESTEREOTITA[1] – do gr. steros. sólido. Qualidade das aparições que adquirem as propriedades da matéria resistente e tangível; diz-se por oposição às aparições vaporosas ou etéreas, que são impalpáveis. A aparição esterotita apresenta, temporariamente, à vista e ao toque, as propriedades de um corpo vivo.
[1] Não encontro o registro dessa voz nos léxicos portugueses bem como no grande Larousse. Penso tratar-se de um neologismo necessário, criado por Allan Kardec, para preencher uma falta - a de dar um nome a um fato ainda não batizado. A expressão aparição esterotita, entretanto, não é, a nosso ver, perfeito sinônimo de agênere (outro neologismo criado por Allan Kardec), porque, posto ambas sejam temporárias, aquela tem curtíssima duração, quase instantaneidade, enquanto o agênere é de duração menos efêmera. N. do T.
[1] Não encontro o registro dessa voz nos léxicos portugueses bem como no grande Larousse. Penso tratar-se de um neologismo necessário, criado por Allan Kardec, para preencher uma falta - a de dar um nome a um fato ainda não batizado. A expressão aparição esterotita, entretanto, não é, a nosso ver, perfeito sinônimo de agênere (outro neologismo criado por Allan Kardec), porque, posto ambas sejam temporárias, aquela tem curtíssima duração, quase instantaneidade, enquanto o agênere é de duração menos efêmera. N. do T.
EVOCAÇÃO – (Vide Invocação).
EXPIAÇÃO – pena que sofrem os Espíritos em punição de faltas cometidas durante a vida corpórea. Como sofrimento moral, a expiação se verifica no estado errante; como sofrimento físico, no estado de encarnado. As vicissitudes e os tormentos da vida corpórea são, ao mesmo tempo, provas para o futuro e expiação para o passado.
ÊXTASE – do. gr. ekstasis, transbordamento do Espírito, do verbo existemi, ferir a admiração. Paroxismo da emancipação da alma durante a vida corpórea, de onde resulta a suspensão momentânea das faculdades perceptivas e sensitivas dos órgãos. Em tal estado a alma não se prende mais ao corpo senão por frágeis laços, que procura romper; pertence mais ao mundo dos Espíritos, que entrevê, do que ao mundo material.
Por vezes o êxtase é natural e espontâneo. Também pode ser provocado pela ação magnética e, neste caso, é um grau superior do sonambulismo.
Por vezes o êxtase é natural e espontâneo. Também pode ser provocado pela ação magnética e, neste caso, é um grau superior do sonambulismo.
FADA – do lat. fata. De acordo com a crença vulgar, as fadas são seres semimateriais, dotados de um sobre-humano poder; são boas ou más, protetoras ou malfeitoras; podem, à vontade, tornar-se visíveis ou invisíveis e tomar todas as formas. Na Idade Média e nos tempos modernos as fadas sucederam as divindades subalternas dos Antigos. Se separarmos sua história do maravilhoso que lhes é emprestado pela imaginação dos poetas e pela credulidade popular, nelas encontraremos todas as manifestações espíritas de que somos testemunhas, e que se produziram em todas as épocas. É incontestavelmente a fatos desse gênero que se deve a origem da crença nelas. Nas fadas que, supostamente, presidem ao nascimento de uma criança e a acompanham no curso da vida reconhecemos sem dificuldade, os Espíritos ou gênios familiares. Suas melhores ou piores inclinações, que não passam de reflexos das paixões humanas, as colocam, naturalmente, na categoria de Espíritos inferiores ou pouco adiantados. (Vide Politeísmo).
FATALIDADE – do lat. fatalitas, de fatum, destino. Destino inevitável. Doutrina que supõe sejam todos os acontecimentos da vida e, por extensão, todos os nossos atos, predestinados e submetidos a uma lei à qual não nos podemos subtrair. Há duas espécies de fatalidade: uma proveniente de causas exteriores, que nos podem atingir e reagem sobre nós; poderíamos chamá-la reativa, exterior, fatalidade eventual; a outra, que se origina em nós mesmos, determina todas as nossas ações; é a fatalidade pessoal. No sentido absoluto do vocábulo, a fatalidade transforma o homem numa máquina, sem iniciativa nem livre-arbítrio e, consequentemente, sem responsabilidade. É a negação de toda moral.
Segundo a doutrina espírita, escolhendo sua nova existência, pratica o Espírito um ato de liberdade. Os acontecimentos da vida são a consequência da escolha e estão em relação com a posição social da existência. Se o Espírito deve renascer em condição servil, o meio no qual se achar criará os acontecimentos muito diversos dos que se lhe apresentariam se tivesse de ser rico e poderoso. Mas, seja qual for essa condição, conserva ele o livre-arbítrio em todos os atos de sua vontade, e não será fatalmente arrastado a fazer isto ou aquilo, nem a sofrer este ou aquele acidente. Pelo gênero de luta escolhido, tem ele possibilidade de ser levado a certos atos ou encontrar certos obstáculos, mas não está dito que isto devesse acontecer infalivelmente, ou que não o possa evitar por sua prudência e por sua vontade. É para isso que Deus lhe dá a capacidade de raciocínio. Dáse o mesmo que se fosse um homem que, para chegar a um objetivo, tivesse três caminhos à escolha: pela montanha, pela planície ou pelo mar. No primeiro, a possibilidade de encontrar pedras e precipícios; na segunda pântanos; na terceira, tempestades. Mas não está dito que será esmagado por uma pedra, que se atolará no brejo ou que naufragará aqui e não ali. A própria escolha do caminho não é fatal, no sentido absoluto do vocábulo: por instinto o homem tomará aquele no qual deverá encontrar a prova escolhida. Se tiver que lutar contra as ondas, seu instinto não o levará a tomar o caminho das montanhas.
Conforme o gênero de provas escolhido pelo Espírito, acha-se o homem exposto a certas vicissitudes. Em consequência dessas mesmas vicissitudes, é ele submetido a arrastamentos aos quais deve subtrair-se. Aquele que comete um crime não é fatalmente levado a cometê-lo: escolheu um caminho de luta que a isso pode excitá-lo; se ceder à tentação, é pela fraqueza de sua vontade. Assim, o livre-arbítrio existe para o Espírito no estado errante, na escolha que faz das provas a que deve submeter-se, e existe na condição de encarnado nos atos da vida corpórea. Só o instante da morte é fatal: porque o gênero de morte é ainda uma consequência da natureza das provas escolhidas.
Segundo a doutrina espírita, escolhendo sua nova existência, pratica o Espírito um ato de liberdade. Os acontecimentos da vida são a consequência da escolha e estão em relação com a posição social da existência. Se o Espírito deve renascer em condição servil, o meio no qual se achar criará os acontecimentos muito diversos dos que se lhe apresentariam se tivesse de ser rico e poderoso. Mas, seja qual for essa condição, conserva ele o livre-arbítrio em todos os atos de sua vontade, e não será fatalmente arrastado a fazer isto ou aquilo, nem a sofrer este ou aquele acidente. Pelo gênero de luta escolhido, tem ele possibilidade de ser levado a certos atos ou encontrar certos obstáculos, mas não está dito que isto devesse acontecer infalivelmente, ou que não o possa evitar por sua prudência e por sua vontade. É para isso que Deus lhe dá a capacidade de raciocínio. Dáse o mesmo que se fosse um homem que, para chegar a um objetivo, tivesse três caminhos à escolha: pela montanha, pela planície ou pelo mar. No primeiro, a possibilidade de encontrar pedras e precipícios; na segunda pântanos; na terceira, tempestades. Mas não está dito que será esmagado por uma pedra, que se atolará no brejo ou que naufragará aqui e não ali. A própria escolha do caminho não é fatal, no sentido absoluto do vocábulo: por instinto o homem tomará aquele no qual deverá encontrar a prova escolhida. Se tiver que lutar contra as ondas, seu instinto não o levará a tomar o caminho das montanhas.
Conforme o gênero de provas escolhido pelo Espírito, acha-se o homem exposto a certas vicissitudes. Em consequência dessas mesmas vicissitudes, é ele submetido a arrastamentos aos quais deve subtrair-se. Aquele que comete um crime não é fatalmente levado a cometê-lo: escolheu um caminho de luta que a isso pode excitá-lo; se ceder à tentação, é pela fraqueza de sua vontade. Assim, o livre-arbítrio existe para o Espírito no estado errante, na escolha que faz das provas a que deve submeter-se, e existe na condição de encarnado nos atos da vida corpórea. Só o instante da morte é fatal: porque o gênero de morte é ainda uma consequência da natureza das provas escolhidas.
FEITICEIRO[1] – Primitivamente o nome era aplicado aos indivíduos que supostamente lançavam a sorte e, por extensão, a todos aqueles aos quais eram atribuídos poderes sobrenaturais. Os fenômenos estranhos que se produzem sob a influência de certos médiuns provam que o poder atribuído aos feiticeiros repousa sobre uma realidade, da qual, entretanto, o charlatanismo abusou, como abusa de tudo. Se no nosso século esclarecido ainda há pessoas que atribuem tais fenômenos ao demônio com mais forte razão deveriam supô-lo ao tempo do obscurantismo. Disso resultou que os indivíduos que possuíam, mau grado seu, algumas das faculdades dos nossos médiuns, foram condenados à fogueira.
[1] A voz em francês é sorcier. Em português feiticeiro vem de feitiço (de fétiche). De notar-se, porém, que o Larousse, registrando a forma fétiche, diz, conforme nossa tradução literal: "do português feitiço, objeto fadado, malefício; do latim factitius, proveniente de uma fabricação, não natural". E mais adiante: "Na África, cerimônia religiosa para tornar favorável um empreendimento ou uma viagem: Fazer um grande FEITIÇO". - "Objeto ao qual as pessoas supersticiosas e, principalmente os jogadores, atribuem influência feliz". Estamos com o Larousse. N. do T.
[1] A voz em francês é sorcier. Em português feiticeiro vem de feitiço (de fétiche). De notar-se, porém, que o Larousse, registrando a forma fétiche, diz, conforme nossa tradução literal: "do português feitiço, objeto fadado, malefício; do latim factitius, proveniente de uma fabricação, não natural". E mais adiante: "Na África, cerimônia religiosa para tornar favorável um empreendimento ou uma viagem: Fazer um grande FEITIÇO". - "Objeto ao qual as pessoas supersticiosas e, principalmente os jogadores, atribuem influência feliz". Estamos com o Larousse. N. do T.
FLUÍDICO – Oposto a sólido. Qualificação dada aos Espíritos por alguns escritores, a fim de caracterizar a sua natureza etérea. Diz-se: os espíritos fluídicos. Julgamos imprópria a expressão; aliás ela representa uma espécie de pleonasmo, mais ou menos como se disséssemos um ar gasoso. O vocábulo espírito diz tudo; em si mesmo encerra a sua definição; necessariamente desperta a ideia de uma coisa incorpórea; um Espírito que não fosse fluídico não seria um Espírito. O vocábulo tem um outro inconveniente, qual o de assimilar a natureza dos Espíritos aos nossos fluidos materiais: lembra muito a ideia de laboratório.
FOGO ETERNO – A ideia do fogo eterno como castigo remonta à mais alta antiguidade e vem da crença dos Antigos que colocavam os Infernos nas entranhas da Terra, cujo logo central lhes era revelado pelos fenômenos geológicos. Quando o homem adquiriu noções elevadas sobre a natureza da alma, compreendeu que um ser imaterial não podia ser atingido pelo fogo material; nem por isso deixa o fogo de ficar como emblema do mais cruel suplício e não foi encontrada figura mais enérgica para pintar os sofrimentos morais da alma; é neste sentido que se diz: queimar-se de amor, ser consumido pelo ciúme, pela ambição, etc.
GÊNIO – do lat. genius, do grego geino, gerar, produzir. É neste sentido que se diz de um homem capaz de criar ou inventar coisas extraordinárias que é um homem de gênio. Na linguagem espírita gênio é sinônimo de Espírito. Diz-se indiferentemente: Espírito familiar ou gênio familiar; bom e mau Espírito ou bom e mau gênio. O vocábulo Espírito encerra um sentido mais vago e menos circunscrito; o gênio é uma espécie de personificação do Espírito; figurasse-o sob uma forma determinada, mais ou menos semelhante à forma humana, mas vaporosa e impalpável, ora visível, ora invisível. Os gênios são os Espíritos em suas relações com os homens, agindo sobre eles por um poder oculto superior.
GÊNIO FAMILIAR – (Vide Espírito familiar).
GNOMO – do gr. gnomon, conhecedor, hábil, de gnoskein, conhecer. Gênios inteligentes que se supunha habitassem o interior da Terra. Pelas qualidades que se lhes atribuem, pertencem à ordem dos Espíritos imperfeitos e à classe dos Espíritos levianos.
HAMADRÍADA – do gr. hama, conjunto e drus, carvalho. DRÍADA, de drus, o carvalho. Ninfa dos bosques, segundo a mitologia pagã. As dríadas eram ninfas imortais que presidiam as árvores em geral e que podiam vagar livremente em torno das que particularmente lhe eram consagradas. A hamadríada não era imortal: nascia e morria com a árvore cuja guarda lhe era confiada e que jamais podia deixar. Não é hoje duvidoso que a idéia das dríadas tirasse sua origem nas manifestações análogas àquelas que hoje testemunhamos. Os Antigos, que tudo poetizavam, divinizaram as inteligências ocultas que se manifestavam na substância mesma dos corpos. Para nós não passam de Espíritos batedores.
IDEIAS INATAS – Ideias ou conhecimentos não adquiridos e que parecem trazidas ao nascer. Durante muito tempo discutiu-se sobre as ideias inatas, cuja existência certos filósofos combateram, pretendendo que todas são adquiridas. Se assim fosse, como explicar certas predisposições naturais que frequentemente se revelam desde a mais tenra idade e fora de qualquer ensino? Os fenômenos espíritas lançam uma grande luz sobre essa questão. Hoje nenhuma dúvida deixa a experiência sobre esta espécie de ideias, que acham a sua explicação na sucessão das existências. Os conhecimentos adquiridos pelo Espírito em existências anteriores se refletem nas existências posteriores: por isso são chamadas ideias inatas.
ILUMINADO – Qualidade dada a certos indivíduos que se supõem esclarecidos por Deus de um modo particular e que em geral são considerados como visionários ou desequilibrados. Diz-se: a seita dos iluminados. Sob essa denominação foram confundidos todos quantos recebem comunicações inteligentes e espontâneas da parte dos Espíritos. Se em seu número se encontraram homens superexcitados por uma imaginação exaltada, sabe-se hoje a parte reservada à realidade.
INFERNO – do lat. inferna, de infernus, inferior, que está em baixo; subentendido locus, lugar; lugar inferior. Assim chamado porque os Antigos o acreditavam colocado nas entranhas da Terra. No plural só é empregado na linguagem poética ou falada de lugares subterrâneos para onde, segundo os Pagãos, iam as almas após a morte. Os Infernos compreendiam duas partes: os Campos Elísios, morada encantada dos homens de bem e o Tártaro, lugar onde os maus sofriam o castigo de seus crimes pelo fogo e pelas torturas eternas.
A crença relativa à posição subterrânea dos Espíritos sobreviveu ao paganismo. Segundo a Igreja Católica, Jesus desceu aos Infernos onde as almas dos justos esperavam a sua vinda nos Limbos. As almas dos maus serão precipitadas nos Infernos. A significação deste vocábulo está hoje restrita à morada dos condenados; mas o progresso das ciências geológicas e astronômicas tendo esclarecido sobre a estrutura do globo terrestre e sua verdadeira posição no espaço, o Inferno foi exilado de seu seio e hoje nenhum lugar determinado lhe é assinado.
No estado de ignorância, o homem é incapaz de captar as abstrações e abarcar as generalidades; nada concebe que não seja localizado e circunscrito; materializa as coisas imateriais; rebaixa até a majestade divina. Mas, à medida que o progresso da ciência positiva vem esclarecê-lo, reconheceu seu próprio erro: suas ideias, de mesquinhas e acanhadas que eram, crescem e o horizonte do infinito se desenrola aos seus olhos. É assim que, segundo a doutrina espírita, as penas de além-túmulo não podem ser senão morais e são inerentes à natureza impura e imperfeita dos Espíritos inferiores; não há inferno localizado no sentido vulgar ligado ao termo: cada um o tem em si, pelos sofrimentos que suporta e que não são menos cruciantes pelo fato de não serem físicos. O Inferno está em toda parte onde há Espíritos imperfeitos. (Vide Paraíso, Fogo Eterno, Penas Eternas).
A crença relativa à posição subterrânea dos Espíritos sobreviveu ao paganismo. Segundo a Igreja Católica, Jesus desceu aos Infernos onde as almas dos justos esperavam a sua vinda nos Limbos. As almas dos maus serão precipitadas nos Infernos. A significação deste vocábulo está hoje restrita à morada dos condenados; mas o progresso das ciências geológicas e astronômicas tendo esclarecido sobre a estrutura do globo terrestre e sua verdadeira posição no espaço, o Inferno foi exilado de seu seio e hoje nenhum lugar determinado lhe é assinado.
No estado de ignorância, o homem é incapaz de captar as abstrações e abarcar as generalidades; nada concebe que não seja localizado e circunscrito; materializa as coisas imateriais; rebaixa até a majestade divina. Mas, à medida que o progresso da ciência positiva vem esclarecê-lo, reconheceu seu próprio erro: suas ideias, de mesquinhas e acanhadas que eram, crescem e o horizonte do infinito se desenrola aos seus olhos. É assim que, segundo a doutrina espírita, as penas de além-túmulo não podem ser senão morais e são inerentes à natureza impura e imperfeita dos Espíritos inferiores; não há inferno localizado no sentido vulgar ligado ao termo: cada um o tem em si, pelos sofrimentos que suporta e que não são menos cruciantes pelo fato de não serem físicos. O Inferno está em toda parte onde há Espíritos imperfeitos. (Vide Paraíso, Fogo Eterno, Penas Eternas).
INSTINTO – Espécie de inteligência rudimentar que dirige os seres vivos em suas ações, mau grado sua vontade e no interesse de sua conservação. O instinto toma-se inteligência quando há deliberação. Pelo instinto age-se sem raciocinar pela inteligência raciocina-se antes de agir. No homem muito frequentemente as ideias instintivas são confundidas com as ideias intuitivas. Estas últimas são as que ele bebeu quer no estado de Espírito, quer nas existências anteriores e das quais conserva uma vaga lembrança.
INTELIGÊNCIA – Faculdade de conceber, de compreender e de raciocinar. Seria injusto recusar aos animais uma espécie de inteligência e crer que eles apenas sigam maquinalmente o cego impulso do instinto. Demonstra a observação que em muitos casos agem eles com propósito deliberado e conforme as circunstâncias; mas essa inteligência, por mais admirável que seja, é sempre limitada à satisfação de suas necessidades materiais, ao passo que a do homem lhe permite elevar-se acima da condição humana. A linha de demarcação entre os animais e o homem é traçada pelo conhecimento que a este último é dado do Ser Supremo. (Vide Instinto).
INTUIÇÃO – (Vide Instinto, Idéias inatas).
INVISÍVEL – nome sob o qual algumas vezes são designados os Espíritos nas suas manifestações. A denominação não nos parece feliz, primeiro porque se para nós a invisibilidade é o estado normal dos Espíritos, sabe-se que ela não é absoluta, desde que eles nos podem aparecer; em segundo lugar a denominação nada tem que caracterize essencialmente os Espíritos: ela se aplica igualmente a todos os corpos inertes que não afetam o sentido da visão. A voz Espírito tem por si mesma uma significação que desperta a ideia de um ser inteligente e incorpóreo. Notemos, ainda, que, falando de um determinado Espírito, como, por exemplo, o de Fénelon, dir-se-á: “É o Espírito de Fénelon quem diz isto ou aquilo” e nunca “é o invisível de Fénelon”. É sempre prejudicial à clareza e à pureza da língua desviar os vocábulos de sua acepção própria.
INVOCAÇÃO – do Iat. In, em e vocare, chamar. Evocação, do lat. ex. de, de fora e vocare. Os dois vocábulos não são sinônimos perfeitos, posto lenham a mesma raiz vocare. terra empregá-las indistintamente. “Evocar é chamar, fazer vir a si, fazer aparecer nas cerimônias mágicas, nos encantamentos. Evocar almas, Espíritos, sombras. As necromantes pretendiam evocar as almas dos mortos”. (Academia). Entre os Antigos, evocar era fazer sair as almas dos Infernos para que viessem ao chamado. Invocar é chamar em si, ou em seu socorro, um poder superior ou sobrenatural. Invoca-se a Deus pela prece. Na religião católica invocam-se os Santos. Toda prece é uma invocação. A invocação está no pensamento; a evocação está no ato. Na invocação o ser a quem nos dirigimos nos ouve; na evocação ele sai de onde se achava e vem manifestar-nos a sua presença. A invocação só é dirigida aos seres que supomos bastante elevados para nos assistir; evocam-se os Espíritos inferiores, do mesmo modo que os superiores. “Moisés proibiu, sob pena de morte, a evocação das almas dos mortos”, que era uma prática sacrílega entre os Cananeus. O Capítulo XXII do Segundo Livro dos Reis fala da “evocação da sombra de Samuel pela pitoniza”.
Como se vê, a arte das evocações remonta à mais alta antiguidade. Encontramo-la em todas as épocas e em todos os povos. Outrora a evocação era acompanhada de práticas místicas, seja porque as considerassem necessárias, seja porque visassem exibir o prestígio de um poder superior. Sabe-se hoje que o poder de evocar não é um privilégio: pertence a todos; e todas as cerimônias mágicas e cabalísticas não passam de vão aparato.
Segundo os Antigos, todas as almas evocadas eram errantes ou vinham dos Infernos, que compreendiam, como se sabe, os Campos Elísios e o Tártaro. À expressão não se ligava nenhum sentido pejorativo. Na linguagem moderna o significado de inferno tornouse restrito, como morada dos condenados. Daí se seguiu a idéia que fazem certas pessoas, de que a evocação esteja ligada aos maus Espíritos ou demônios. Esta crença, porém, cai, à medida que adquirimos um conhecimento mais aprofundado dos fatos. Assim, é menos espalhada entre os que acreditam na realidade das manifestações espíritas: não poderia, realmente, prevalecer ante a experiência e um raciocínio isento de preconceitos.
Como se vê, a arte das evocações remonta à mais alta antiguidade. Encontramo-la em todas as épocas e em todos os povos. Outrora a evocação era acompanhada de práticas místicas, seja porque as considerassem necessárias, seja porque visassem exibir o prestígio de um poder superior. Sabe-se hoje que o poder de evocar não é um privilégio: pertence a todos; e todas as cerimônias mágicas e cabalísticas não passam de vão aparato.
Segundo os Antigos, todas as almas evocadas eram errantes ou vinham dos Infernos, que compreendiam, como se sabe, os Campos Elísios e o Tártaro. À expressão não se ligava nenhum sentido pejorativo. Na linguagem moderna o significado de inferno tornouse restrito, como morada dos condenados. Daí se seguiu a idéia que fazem certas pessoas, de que a evocação esteja ligada aos maus Espíritos ou demônios. Esta crença, porém, cai, à medida que adquirimos um conhecimento mais aprofundado dos fatos. Assim, é menos espalhada entre os que acreditam na realidade das manifestações espíritas: não poderia, realmente, prevalecer ante a experiência e um raciocínio isento de preconceitos.
LARES – (Vide Manes, Penates).
LIVRE-ARBÍTRIO – Liberdade moral do homem; faculdade de guiar-se conforme a sua vontade, na realização de seus atos. Ensinam os Espíritos que a alteração das faculdades mentais, por uma causa acidental ou natural constitui o único caso em que o homem se vê privado do livre-arbítrio. Fora disto é sempre senhor de fazer ou não fazer uma coisa. Ele goza dessa liberdade no estado de Espírito e é em virtude dessa faculdade que livremente escolhe a existência e as provas que julga adequadas ao seu adiantamento. Conserva-a no estado corpóreo, a fim de poder lutar contra as mesmas provas. Os Espíritos que ensinam esta doutrina não podem ser maus. (Vide Fatalidade).
LUCIDEZ – Clarividência, faculdade de ver sem auxílio dos órgãos da visão. É uma faculdade inerente à natureza mesma da alma ou do Espírito, e que reside em todo o seu ser. Por isso, em todos os casos em que há emancipação da alma, o homem tem percepções independentes dos sentidos. No estado corpóreo normal a faculdade de ver é limitada pelos órgãos materiais; desprendida desse obstáculo, ela não mais se acha circunscrita; estende-se por toda a parte onde a alma exerce a sua ação. Tal é a causa da visão à distância, de que desfrutam certos sonâmbulos. Veem-se no próprio local que observam, ainda que a milhares de quilômetros, porque, se ali não se acha o corpo, a alma realmente está. Pode, pois, dizer-se que o sonâmbulo vê pela luz da alma.
O vocábulo clarividência é mais geral. Lucidez se diz mais particularmente da clarividência sonambúlica. Um sonâmbulo é mais ou menos lúcido, conforme seja mais ou menos completa a emancipação da alma.
O vocábulo clarividência é mais geral. Lucidez se diz mais particularmente da clarividência sonambúlica. Um sonâmbulo é mais ou menos lúcido, conforme seja mais ou menos completa a emancipação da alma.
MAGIA, MAGO – do gr. mageia, conhecimento profundo da natureza; de onde magos, sábio, cientista formado em magia; sacerdote, sábio e filósofo entre os antigos Persas. Originalmente a magia era a ciência dos sábios; todos os que conheciam a astrologia, que se gabavam de predizer o futuro, que faziam coisas extraordinárias e incompreensíveis para o vulgo eram magos ou sábios que, mais tarde, foram chamados magos. O abuso e o charlatanismo desacreditaram a magia; mas todos os fenômenos que hoje reproduzimos pelo magnetismo, pelo sonambulismo e pelo espiritismo provam que a magia não era uma arte puramente quimérica e que, entre muitos absurdos, havia certamente muita coisa verdadeira. A vulgarização desses fenômenos tem por efeito destruir o prestígio dos que outrora operavam sob o manto do segredo e abusavam da credulidade, atribuindo-se um pretenso poder sobrenatural. Graças a essa vulgarização hoje sabemos que nada existe de sobrenatural e que certas coisas só parecem derrogar as leis da natureza porque não lhes conhecemos as causas.
MAGNETISMO ANIMAL – do gr. magnes, ímã. Assim chamado por analogia como o magnetismo mineral. Demonstrou a experiência que não existe tal analogia ou que é apenas aparente. Assim, a denominação não é exata. Como, porém, foi consagrada pelo emprego universal, e como, por outro lado, o epíteto que é adicionado não permite equívocos, haveria mais inconveniente do que utilidade em substituir a expressão. Algumas pessoas a substituem por mesmerismo. Mas até agora a tentativa não prevaleceu.
O magnetismo animal pode assim ser definido: ação recíproca de dois seres vivos por meio de um agente especial chamado fluído magnético.
O magnetismo animal pode assim ser definido: ação recíproca de dois seres vivos por meio de um agente especial chamado fluído magnético.
MAGNETISTA, MAGNETIZADOR – A primeira palavra é empregada por algumas pessoas para significar os adeptos do magnetismo, os que acreditam nos seus efeitos. O magnetizador é o praticante, aquele que o exercita; o magnetista é o teórico. Pode ser-se magnetista sem ser magnetizador, mas não se pode ser magnetizador sem ser magnetista. Tal distinção nos parece útil e lógica.
MANES – do lat. manere, ficar, segundo uns; segundo outros, de manes, manium, de manus, bom. Na mitologia romana e etrusca os manes eram as almas ou sombras dos mortos. Os Antigos tinham um grande respeito pelos manes de seus antepassados, que julgavam agradar pelos sacrifícios. Eram representados sob a forma humana, mas vaporosa e invisível, errantes em volta dos túmulos ou de suas habitações e visitando as suas famílias. Quem não reconheceria nesses manes os Espíritos sob o envoltório semimaterial do perispírito e que nos dizem, eles próprios, que se acham entre nós sob a forma que tinham quando vivos? (Vide Penates).
MANIFESTAÇÃO – ato pelo qual um Espírito revela a sua presença. As manifestações são:
Aparentes, quando o Espírito é visto. (Vide Aparições).
Espontâneas, quando são independentes da vontade e se dão sem que nenhum Espírito tenha sido chamado.
Físicas, quando se traduzem por fenômenos materiais, tais corno ruídos, movimentos, deslocamento de objetos.
Inteligentes, quando revelam um pensamento. (Vide Comunicação).
Ocultas, quando nada têm de ostensivo e quanto o Espírito se limita a agir sobre a mente.
Patentes, quando se tornam apreciáveis pelos sentidos.
Provocadas, quando são efeito da vontade, do desejo ou de uma evocação determinada.
Aparentes, quando o Espírito é visto. (Vide Aparições).
Espontâneas, quando são independentes da vontade e se dão sem que nenhum Espírito tenha sido chamado.
Físicas, quando se traduzem por fenômenos materiais, tais corno ruídos, movimentos, deslocamento de objetos.
Inteligentes, quando revelam um pensamento. (Vide Comunicação).
Ocultas, quando nada têm de ostensivo e quanto o Espírito se limita a agir sobre a mente.
Patentes, quando se tornam apreciáveis pelos sentidos.
Provocadas, quando são efeito da vontade, do desejo ou de uma evocação determinada.
MATERIALISMO – Sistema dos que pensam que no homem tudo é matéria e que, assim, nele nada sobrevive à destruição do corpo. Parece inútil refutar esta opinião, que, aliás, é pessoal a certos indivíduos e em parte alguma se erige em doutrina. Se se pode demonstrar a existência da alma pelo raciocínio, as manifestações espíritas constituem a sua prova patente. Por elas nós assistimos, de certo modo, a todas as peripécias da vida de além-túmulo. O materialismo, que apenas se funda na negação, não resiste à evidência dos fatos. Por isso frequentemente a doutrina espírita triunfa sobre aqueles que haviam resistido a todos os argumentos. Sua vulgarização é o mais poderoso meio de extirpar essa chaga das sociedades civilizadas.
MÉDIUM – do lat. medium, meio, intermediário. Pessoa acessível à influência dos Espíritos e mais ou menos dotada da faculdade de receber e transmitir suas comunicações. Para os Espíritos o médium é um intermediário; é um agente ou instrumento mais ou menos cômodo, conforme a natureza ou o grau da faculdade mediatriz. Essa faculdade é devida a uma disposição orgânica especial, susceptível de desenvolvimento. Distinguem-se diversas variedades de médiuns, conforme sua aptidão particular para este ou aquele modo de transmissão, ou tal ou qual gênero de comunicação.
Médiuns de influência física, os que têm o poder de provocar manifestações ostensivas. Compreendem as seguintes variedades:
médiuns motores, que provocam movimento e deslocamento de objetos;médiuns tiptólogos, os que provocam ruídos e golpes vibrados;médiuns de aparição, os que provocam aparições. (Vide Aparição).
Entre os médiuns de influência física distinguem-se: os médiuns facultativos, isto é, que têm o poder de provocar os fenômenos por um ato da vontade, e os médiuns naturais, os que produzem espontaneamente e sem qualquer participação da vontade.
Médiuns de influência moral, os que são mais especialmente aptos a receber e transmitir as comunicações inteligentes. Conforme sua aptidão especial, distinguem-se em:
médiuns de pressentimentos, pessoas que, em certas circunstâncias, têm uma vaga intuição das coisas futuras;
médiuns desenhistas, os que desenham sob a influência dos Espíritos;
médiuns escreventes ou psicógrafos, os que têm a faculdade de escrever sob a influência dos Espíritos. (Vide Psicografia);
médiuns excitadores, os que têm o poder de desenvolver nos outros, pela sua vontade, a faculdade de escrever, sejam ou não médiuns escreventes[1];
médiuns falantes ou parlantes, os que transmitem pela palavra falada o que os psi-cógrafos transmitem pela escrita;
médiuns inspirados, as pessoas que, em estado normal ou em êxtase, recebem pelo pensamento comunicações ocultas, estranhas às suas ideias;
médiuns musicistas, os que escrevem música ou a executam sob a influência dos Espíritos;
médiuns pneumatógrafos, os que têm a faculdade de obter a escrita direta dos Espíritos. (Vide Pneumatografia);
médiuns sensitivos ou impressíveis, são as pessoas suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma vaga impressão de que não se podem dar conta. Essa variedade não tem um caráter bem definido. Todos os médiuns são necessariamente impressíveis. A impressionabilidade é, assim, antes uma qualidade geral que especial. É: a faculdade rudimentar indispensável ao desenvolvimento de todas as outras. Difere da impressionabilidade puramente física e nervosa, com a qual não deve ser confundida;
médiuns videntes, são as pessoas que têm a faculdade da segunda vista, ou de veros Espíritos.(Vide Vista).
Observação – Algumas pessoas dizem no plural, os media, como se diz errata. Não vemos vantagem em multiplicar desnecessariamente as exceções, já tão numerosas, de nossa língua. Todos os gramáticos estão hoje de acordo em dar à maioria dos nomes estrangeiros passados para o uso da língua o sinal francês do plural. Várias palavras de terminação latina aliás estão neste caso: diz-se os "museums, factums, pensums, mémorandums", etc. Por que não dizer "médiuns"? Dizer os "media" seria uma afetação pedante7.
[1] A expressão em francês é médiums communicateurs, cuja tradução exata seria médiuns comunicantes. Preferimos chamá-los médiuns excitadores, porque a sua função é a de um motor de partida, que faz desabrochar o poder mediúnico latente no outro médium e, muitas vezes, excitar a capacidade vibratória do médium, do Espírito que deseja comunicar-se, ou de ambos, produzindo a manifestação que, diga-se de passagem, não é somente o de escrever, mas a de incorporação. N. do T. 7
Seguindo o mesmo critério em português, escreve-se o médium (homem ou mulher), porque o vocábulo é epiceno, como a cobra, a onça, o tigre (macho ou fêmea); e, no plural os médiuns– e não médiums, que é a forma francesa. É erro dizer a médium e erro maior a média, ou d. Fulana é boa média. N. do T.
Médiuns de influência física, os que têm o poder de provocar manifestações ostensivas. Compreendem as seguintes variedades:
médiuns motores, que provocam movimento e deslocamento de objetos;médiuns tiptólogos, os que provocam ruídos e golpes vibrados;médiuns de aparição, os que provocam aparições. (Vide Aparição).
Entre os médiuns de influência física distinguem-se: os médiuns facultativos, isto é, que têm o poder de provocar os fenômenos por um ato da vontade, e os médiuns naturais, os que produzem espontaneamente e sem qualquer participação da vontade.
Médiuns de influência moral, os que são mais especialmente aptos a receber e transmitir as comunicações inteligentes. Conforme sua aptidão especial, distinguem-se em:
médiuns de pressentimentos, pessoas que, em certas circunstâncias, têm uma vaga intuição das coisas futuras;
médiuns desenhistas, os que desenham sob a influência dos Espíritos;
médiuns escreventes ou psicógrafos, os que têm a faculdade de escrever sob a influência dos Espíritos. (Vide Psicografia);
médiuns excitadores, os que têm o poder de desenvolver nos outros, pela sua vontade, a faculdade de escrever, sejam ou não médiuns escreventes[1];
médiuns falantes ou parlantes, os que transmitem pela palavra falada o que os psi-cógrafos transmitem pela escrita;
médiuns inspirados, as pessoas que, em estado normal ou em êxtase, recebem pelo pensamento comunicações ocultas, estranhas às suas ideias;
médiuns musicistas, os que escrevem música ou a executam sob a influência dos Espíritos;
médiuns pneumatógrafos, os que têm a faculdade de obter a escrita direta dos Espíritos. (Vide Pneumatografia);
médiuns sensitivos ou impressíveis, são as pessoas suscetíveis de sentir a presença dos Espíritos por uma vaga impressão de que não se podem dar conta. Essa variedade não tem um caráter bem definido. Todos os médiuns são necessariamente impressíveis. A impressionabilidade é, assim, antes uma qualidade geral que especial. É: a faculdade rudimentar indispensável ao desenvolvimento de todas as outras. Difere da impressionabilidade puramente física e nervosa, com a qual não deve ser confundida;
médiuns videntes, são as pessoas que têm a faculdade da segunda vista, ou de veros Espíritos.(Vide Vista).
Observação – Algumas pessoas dizem no plural, os media, como se diz errata. Não vemos vantagem em multiplicar desnecessariamente as exceções, já tão numerosas, de nossa língua. Todos os gramáticos estão hoje de acordo em dar à maioria dos nomes estrangeiros passados para o uso da língua o sinal francês do plural. Várias palavras de terminação latina aliás estão neste caso: diz-se os "museums, factums, pensums, mémorandums", etc. Por que não dizer "médiuns"? Dizer os "media" seria uma afetação pedante7.
[1] A expressão em francês é médiums communicateurs, cuja tradução exata seria médiuns comunicantes. Preferimos chamá-los médiuns excitadores, porque a sua função é a de um motor de partida, que faz desabrochar o poder mediúnico latente no outro médium e, muitas vezes, excitar a capacidade vibratória do médium, do Espírito que deseja comunicar-se, ou de ambos, produzindo a manifestação que, diga-se de passagem, não é somente o de escrever, mas a de incorporação. N. do T. 7
Seguindo o mesmo critério em português, escreve-se o médium (homem ou mulher), porque o vocábulo é epiceno, como a cobra, a onça, o tigre (macho ou fêmea); e, no plural os médiuns– e não médiums, que é a forma francesa. É erro dizer a médium e erro maior a média, ou d. Fulana é boa média. N. do T.
METEMPSICOSE – do gr. meta, mudança em, na e psuke, alma. Transmigração da alma de um corpo a outro. “O dogma da metempsicose é de origem indiana. Da Índia a crença passou ao Egito, de onde mais tarde Pitágoras o trouxe para a Grécia. Os discípulos desse filósofo ensinavam que o Espírito, quando livre dos laços do corpo, vai ao império dos mortos esperar, num estado intermediário, de duração mais ou menos longa, o momento de animar outro corpo de homem ou de animal até que se realize o tempo de sua purificação e de sua volta à fonte da vida”. Como se vê, o dogma da metempsicose está baseado na individualidade e na imortalidade da alma. Nele se encontra a doutrina dos Espíritos sobre a reencarnação. Esse estado intermediário, de duração mais ou menos longa entre as diversas existências não é mais que o estado de erraticidade no qual se acham os Espíritos entre duas encarnações. Há, porém, entre a metempsicose indiana e a doutrina da reencarnação, tal qual nos é ensinada hoje, uma diferença capital: para começar aquela admite a transfiguração da alma no corpo dos animais, o que seria uma degradação; em segundo lugar, essa transmigração não se opera senão na Terra. Ao contrário, dizem-nos os Espíritos que a reencarnação é um progresso incessante, que o homem é uma criação à parte, cuja alma nada tem de comum com o princípio vital dos animais; que as diversas existências podem realizar-se tanto na Terra quanto, por uma lei de progresso, num mundo de ordem superior. E isto, como diz Pitágoras, "até que se realize o tempo de sua purificação”.
MITOLOGIA – do gr. muthos, fábula e logos, descrição. História fabulosa das divindades pagãs. Compreende-se igualmente sob este nome a história de todos os seres extra-humanos que, sob diversas denominações, sucederam aos deuses pagãos na Idade Média. Assim, temos a mitologia escandinava, a teutônica, a céltica, a escocesa, a irlandesa, etc.
MORTE – Aniquilamento das forças vitais do corpo pelo esgotamento dos órgãos. Privado o corpo do princípio da vida orgânica, a alma se desprende e entra no mundo dos Espíritos.
MUNDO CORPÓREO – Conjunto dos seres inteligentes que têm um corpo material.
MUNDO ESPÍRITA ou MUNDO DOS ESPÍRITOS – Conjunto dos seres inteligentes despojados de seu envoltório corporal. O mundo espírita é sobreviente a tudo. O estado corpóreo é para os Espíritos apenas transitório, passageiro. Eles mudam de envoltório como nós mudamos de roupa: deixam o corpo usado como deixamos uma roupa velha.
NECROMANCIA – do gr. nekros, morto e manteia, adivinhação. Arte de evocar as almas dos mortos para obter revelações. Por extensão, o vocábulo foi aplicado a todos os meios de adivinhação e, assim, é qualificado de necromante quem quer que faça profissão de dizer o futuro. Isto provavelmente se deve ao fato de, na verdadeira acepção do vocábulo, a necromancia ter sido um dos primeiros meios empregados para aquele fim. Em segundo lugar porque, segundo as crenças vulgares, as almas dos mortos deveriam ser os principais agentes nos outros meios de adivinhação, tais como a quiromancia ou adivinhação pelo exame da mão, a cartomancia, etc. O abuso e o charlatanismo desacreditaram a necromancia, como desacreditaram a magia[1].
[1] Todos os vocábulos compostos com a raiz grega manteia como segundo elemento são paroxítonos e não proparoxítonos. Assim, deve pronunciar-se necromancia, quiromancia, cartomancia, com a tônica cí e não necromância, quiromancia e cartomancia, com a tônica mân. N do T.
[1] Todos os vocábulos compostos com a raiz grega manteia como segundo elemento são paroxítonos e não proparoxítonos. Assim, deve pronunciar-se necromancia, quiromancia, cartomancia, com a tônica cí e não necromância, quiromancia e cartomancia, com a tônica mân. N do T.
NOCTÂMBULO, NOCTAMBULISMO – do lat. nox, noctis, a noite e ambulare, andar, passear. Aquele que marcha ou passeia durante a noite, dormindo. Sinônimo de sonâmbulo. Este último vocábulo é preferível, visto como noctâmbulo e noctambulismo de modo algum implicam a idéia de sono.
ORÁCULO – do lat. os, oris, a boca. Resposta dos deuses, conforme as crenças pagãs, dadas às perguntas que lhes eram dirigidas. Assim se chamava porque as respostas eram dadas pela boca das Pitonisas. (Vide este vocábulo). Por extensão, oráculo se dizia, ao mesmo tempo, da resposta, da pessoa que a pronunciava, bem como dos vários meios empregados para conhecer o futuro. Todo fenômeno extraordinário, capaz de ferir a imaginação, era considerado expressão da vontade dos deuses e se tornava um oráculo. Os sacerdotes pagãos, que não perdiam nenhuma ocasião para explorar a credulidade, se constituíam seus intérpretes e, para tanto, consagravam solenemente os templos, nos quais os fiéis vinham deixar suas oferendas, na quimérica ilusão de conhecer o futuro. A crença nos oráculos evidentemente tem sua fonte nas comunicações espíritas que o charlatanismo, a cupidez e a ânsia de dominação tinham cercado de prestígio e que hoje vemos em toda sua simplicidade.
PARAÍSO – do gr. paradeisos, jardim, vergel. Os Antigos o colocavam numa parte dos Infernos, chamada Campos Elísios. (Vide Inferno); os povos modernos, nas elevadas regiões do espaço. Este vocábulo é sinônimo de céu, tomado na mesma acepção, com a diferença que céu se liga a uma ideia de beatitude infinita, ao passo que paraíso é mais circunscrito e lembra prazeres um pouco materiais. Diz-se ainda: subir ao céu, descer ao inferno. Tais opiniões baseiam-se na crença primitiva, fruto da ignorância, de que o universo era formado de esferas concêntricas, cujo centro era ocupado pela Terra. É nessas esferas, chamadas céus, que foram colocadas as moradas dos justos. Daí a expressão de quinto ou sexto céu, para designar os diversos graus de beatitude. Desde, porém, que a ciência lançou o seu olhar investigador sobre as profundezas etéreas, mostra-nos o espaço universal sem limites, semeado por um número infinito de globos, entre os quais circula o nosso, ao qual nenhum lugar distinto é assinado. E aí não existem altos nem baixos. Não vendo o sábio em parte alguma senão o espaço infinito e mundos inumeráveis onde lhe haviam indicado o céu; não encontrando nas entranhas da Terra, em lugar do Inferno, senão as camadas geológicas sobre as quais sua formação se acha escrita em caracteres irrefragáveis, começou a duvidar do Céu e do Inferno. Daí à dúvida absoluta vai apenas um passo.
A doutrina ensinada pelos Espíritos superiores está de acordo com a ciência. Nada contém que fira a razão e esteja em contradição com os conhecimentos exatos. Mostranos a morada dos Bons, não num lugar fechado, ou numa dessas hipotéticas esferas com que a ignorância havia cercado o nosso globo, mas por toda parte onde haja bons Espíritos, no espaço para os que se acham errantes, nos mundos mais perfeitos para os que estão encarnados. Aí é, o Paraíso Terrestre, aí estão os Campos Elísios, cuja ideia primeira vem do conhecimento intuitivo que tinha sido dado ao homem desse estado de coisas, e que a ignorância e os preconceitos reduziram a proporções mesquinhas. Ela nos mostra os maus recebendo o castigo de suas faltas em sua própria imperfeição, nos seus sofrimentos morais, na presença inevitável de suas vítimas, castigos mais terríveis que as torturas físicas incompatíveis com a doutrina da imortalidade da alma. Ela no-los mostra expiando os seus erros pelas tribulações de novas existências corpóreas, realizadas em mundos imperfeitos e não num lugar de eternos suplícios, de onde para sempre foi banida a esperança. Aí é o Inferno. Quantos homens nos disseram: "Se nos tivessem ensinado isto desde a infância, jamais teríamos duvidado!”
Ensina-nos a experiência que os Espíritos não suficientemente desmaterializados ainda se acham sob o império das ideias e preconceitos da existência corpórea. Aqueles que, em suas comunicações, empregam uma linguagem conforme às ideias cujo erro material está demonstrado, provam por isso mesmo sua ignorância e sua inferioridade.
A doutrina ensinada pelos Espíritos superiores está de acordo com a ciência. Nada contém que fira a razão e esteja em contradição com os conhecimentos exatos. Mostranos a morada dos Bons, não num lugar fechado, ou numa dessas hipotéticas esferas com que a ignorância havia cercado o nosso globo, mas por toda parte onde haja bons Espíritos, no espaço para os que se acham errantes, nos mundos mais perfeitos para os que estão encarnados. Aí é, o Paraíso Terrestre, aí estão os Campos Elísios, cuja ideia primeira vem do conhecimento intuitivo que tinha sido dado ao homem desse estado de coisas, e que a ignorância e os preconceitos reduziram a proporções mesquinhas. Ela nos mostra os maus recebendo o castigo de suas faltas em sua própria imperfeição, nos seus sofrimentos morais, na presença inevitável de suas vítimas, castigos mais terríveis que as torturas físicas incompatíveis com a doutrina da imortalidade da alma. Ela no-los mostra expiando os seus erros pelas tribulações de novas existências corpóreas, realizadas em mundos imperfeitos e não num lugar de eternos suplícios, de onde para sempre foi banida a esperança. Aí é o Inferno. Quantos homens nos disseram: "Se nos tivessem ensinado isto desde a infância, jamais teríamos duvidado!”
Ensina-nos a experiência que os Espíritos não suficientemente desmaterializados ainda se acham sob o império das ideias e preconceitos da existência corpórea. Aqueles que, em suas comunicações, empregam uma linguagem conforme às ideias cujo erro material está demonstrado, provam por isso mesmo sua ignorância e sua inferioridade.
PENAS ETERNAS – Ensinam os Espíritos superiores que só o bem é eterno, porque é a essência de Deus; o mal terá um fim. Consequentemente, combatem a doutrina da eternidade das penas como contrária à ideia que Deus nos dá de sua justiça e de sua bondade. Mas a luz só se faz para os Espíritos à medida de sua elevação. Nas camadas inferiores suas ideias ainda são obscurecidas pela matéria. Para eles o futuro está coberto por um véu: só enxergam o presente. Encontram-se na posição de um homem que sobe uma montanha: no fundo do vale a bruma e as curvas da estrada limitam-lhe a visão; precisa chegar ao topo a fim de descobrir todo o horizonte, julgar o caminho feito e o que falta percorrer. Os Espíritos imperfeitos não percebem o termo de seus sofrimentos, julgam sofrer para sempre e este pensamento lhes é um castigo. Se, pois, certos Espíritos nos falam das penas eternas é porque, em consequência de sua mesma inferioridade, nelas acreditam.
PENATES – do lat. penitus, interior, que está dentro, formado de penus, lugar retirado, oculto. Deuses domésticos dos Antigos, assim chamados porque eram colocados num lugar retirado da casa. – LARES – do nome da ninfa Lara, porque os supunham filhos dessa ninfa, e de Mercúrio. Como os Penates, eram deuses ou gênios domésticos, com a diferença que os Penates eram, originariamente os manes dos antepassados, cujas imagens eram guardadas em lugar secreto e ao abrigo da profanação. Os Lares, gênios benfazejos, protetores das famílias e das casas, eram considerados hereditários, porque, uma vez unidos a uma família, continuavam a proteger os seus descendentes. Não só cada indivíduo, como família e cada casa tinha os seus lares particulares, mas os havia, também, para as cidades, as aldeias, as ruas, os edifícios públicos, etc., os quais eram colocados sob a invocação de tais ou quais lares, como, entre os cristãos, o são sob este ou aquele patrono.
Os lares e os penates, cujo culto pode dizer-se que era universal, posto que sob nomes diferentes, não eram senão os Espíritos familiares cuja existência hoje nos é revelada. Mas os Antigos os transformavam em deuses, aos quais a superstição elevava altares, ao passo que nós os consideramos apenas como Espíritos que animaram corpos de homens como nós, por vezes nossos parentes e amigos e que se ligam a nós por simpatia. (Vide Politeísmo).
Os lares e os penates, cujo culto pode dizer-se que era universal, posto que sob nomes diferentes, não eram senão os Espíritos familiares cuja existência hoje nos é revelada. Mas os Antigos os transformavam em deuses, aos quais a superstição elevava altares, ao passo que nós os consideramos apenas como Espíritos que animaram corpos de homens como nós, por vezes nossos parentes e amigos e que se ligam a nós por simpatia. (Vide Politeísmo).
PERISPÍRITO – de peri, em redor e spiritus, espírito. Envoltório semi material do Espírito, depois de sua separação do corpo. O Espírito o adquire no mundo em que se acha e muda-o ao passar a um outro mundo. É mais ou menos sutil ou grosseiro, conforme a natureza de cada globo. O perispírito pode tomar todas as formas, à vontade do Espírito. De ordinário afeta a imagem que tinha em sua última existência corpórea.
Posto que de natureza etérea, a substância do perispírito é susceptível de certas modificações que a tornam perceptível aos nossos olhos. É o que se dá nas aparições. Pode até, por sua união com o fluido de certas pessoas, tornar-se temporariamente tangível, isto é, oferecer ao tato a resistência de um corpo sólido, como se tem visto nas aparições estereotitas ou palpáveis.
A natureza íntima do perispírito é ainda desconhecida. Poderia, porém, supor-se que a matéria dos corpos é composta de uma parte sólida e grosseira e de uma parte sutil etérea; que somente a primeira sofra a decomposição produzida pela morte, ao passo que a segunda persista e acompanhe o Espírito. Assim, o Espírito teria um duplo envoltório; a morte apenas o despojaria do mais grosseiro; o segundo, que constitui o perispírito, conservaria a marca e a forma do primeiro, do qual é uma espécie de sombra. Mas sua natureza essencialmente vaporosa permitiria que o Espírito lhe modificasse a forma à vontade, e a tornasse visível ou invisível, palpável ou impalpável.
O perispírito é para o Espírito aquilo que o perisperma é para o germe do fruto. Despojada de seu invólucro lenhoso, a amêndoa encerra o germe no envoltório delicado do perisperma.
Posto que de natureza etérea, a substância do perispírito é susceptível de certas modificações que a tornam perceptível aos nossos olhos. É o que se dá nas aparições. Pode até, por sua união com o fluido de certas pessoas, tornar-se temporariamente tangível, isto é, oferecer ao tato a resistência de um corpo sólido, como se tem visto nas aparições estereotitas ou palpáveis.
A natureza íntima do perispírito é ainda desconhecida. Poderia, porém, supor-se que a matéria dos corpos é composta de uma parte sólida e grosseira e de uma parte sutil etérea; que somente a primeira sofra a decomposição produzida pela morte, ao passo que a segunda persista e acompanhe o Espírito. Assim, o Espírito teria um duplo envoltório; a morte apenas o despojaria do mais grosseiro; o segundo, que constitui o perispírito, conservaria a marca e a forma do primeiro, do qual é uma espécie de sombra. Mas sua natureza essencialmente vaporosa permitiria que o Espírito lhe modificasse a forma à vontade, e a tornasse visível ou invisível, palpável ou impalpável.
O perispírito é para o Espírito aquilo que o perisperma é para o germe do fruto. Despojada de seu invólucro lenhoso, a amêndoa encerra o germe no envoltório delicado do perisperma.
PÍTIA ou PITONISA – Sacerdotisa de ApoIo Pítio, em Delfos, assim chamado por causa da serpente Piton, que ApoIo matara. A Pitia dava o oráculo; como, porém, nem sempre eram inteligíveis, os sacerdotes se encarregavam de os interpretar, conforme as circunstâncias. (Vide Sibila).
PNEUMATOFONIA – do gr. pneuma, ar, sopro, vento, espírito e phoné, som ou voz. Comunicação verbal e direta dos Espíritos, sem o concurso dos órgãos da voz. Som ou voz que fazem ouvir no vago do ar e que parece soar aos nossos ouvidos. (Vide Psicofonia).
Observação – Não empregamos pneumatologia porque este vocábulo já possui uma acepção científica determinada e, em segundo lugar, porque a voz seria imprópria quando não se trata senão de sons vagos e inarticulados.
PNEUMATOGRAFIA – do gr. pneuma e grapho, eu escrevo. Escrita direta dos Espíritos, sem o concurso da mão do médium. (Vide Psicografia).
POLITEÍSMO – do gr. polus, vários e theos, Deus. Religião que admite vários deuses. Entre os povos antigos o vocábulo deus encerrava a idéia de poder. Para eles todo poder superior ou vulgar era um deus; os próprios homens que tinham feito grandes coisas para eles se tornavam deuses. Manifestando-se por efeitos que aos seus olhos pareciam sobrenaturais, os Espíritos eram tantas divindades, que impossível é não reconhecer nossos Espíritos de todos os graus, desde os batedores até os Espíritos superiores. Nos deuses de forma humana, que se transportam no espaço, mudam de forma e se tornam visíveis ou invisíveis à vontade, reconhecemos todas as propriedades do perispírito. Pelas paixões que lhes eram atribuídas reconhecemos os Espíritos ainda não desmaterializados. Nos manes, lares e penates reconhecemos os Espíritos familiares, os nossos gênios tutelares. O conhecimento das manifestações espíritas é, pois, a fonte do politeísmo. Mas, desde a mais alta antiguidade os homens esclarecidos tinham julgado seus pretensos deuses por seu justo valor e neles reconhecido criaturas de um Deus Supremo, soberano senhor do mundo. Confirmando a doutrina da unidade de Deus e esclarecendo os homens pela sublime moral evangélica, o Cristianismo marcou uma era nova na marcha progressiva da humanidade. Entretanto, como os Espíritos não têm cessado de manifestar-se, em lugar de deuses, os homens os têm chamado gênios e fadas.
POSSESSO – Conforme à ideia ligada a este vocábulo, possesso é aquele em quem se alojou o demônio. O demônio o possui, isto é, apoderou-se de seu corpo. (Vide Demônio). Tomando demônio não na sua acepção vulgar, mas no sentido de mau Espírito, Espírito impuro, Espírito malfeitor, Espírito imperfeito, tratar-se-ia de saber se um Espírito dessa natureza ou de qualquer outra pode estabelecer domicílio no corpo de um homem, conjuntamente com o que nele está encarnado, ou a este se substituindo. Poderse-ia perguntar em que se toma, neste último caso, a alma assim expulsa. A doutrina espírita diz que o Espírito unido ao corpo não pode ser separado definitivamente senão pela morte; que um outro Espírito não pode meter-se em seu lugar nem se unir ao corpo, simultaneamente com aquele. Mas, também, diz que um Espírito imperfeito pode ligar-se a um Espírito encarnado, dominá-la, dominar o seu pensamento e, caso ele não tenha força para lhe resistir, constrangê-la a fazer isto ou aquilo, a agir deste ou daquele modo; submetendo-o, por assim dizer, à sua influência. Assim, não há possessão, no sentido absoluto do vocábulo: há subjugação; não se trata de desalojar um mau Espírito, mas - para nos servirmos de uma comparação material - de o fazer largar a presa, o que sempre é possível quando se o quer seriamente. Mas há pessoas que se comprazem numa dependência que lisonjeia seus gostos e seus desejos.
A superstição vulgar atribui à possessão do demônio certas doenças que não têm outra causa senão uma alteração dos órgãos. Tal crença era muito espalhada entre os judeus. Para eles curar essas doenças era expulsar os demônios. Seja qual for a causa da doença, desde que se dê a cura isto nada tira do poder daquele que a opera. Jesus e seus discípulos podiam, pois, expulsar os demônios, para se servirem da linguagem comum. Se tivessem falado de outro modo não teriam sido compreendidos e talvez nem mesmo acreditados. Uma coisa pode ser verdadeira ou falsa, conforme o sentido ligado às palavras. As maiores verdades podem parecer absurdas quando não se considera senão a forma.
A superstição vulgar atribui à possessão do demônio certas doenças que não têm outra causa senão uma alteração dos órgãos. Tal crença era muito espalhada entre os judeus. Para eles curar essas doenças era expulsar os demônios. Seja qual for a causa da doença, desde que se dê a cura isto nada tira do poder daquele que a opera. Jesus e seus discípulos podiam, pois, expulsar os demônios, para se servirem da linguagem comum. Se tivessem falado de outro modo não teriam sido compreendidos e talvez nem mesmo acreditados. Uma coisa pode ser verdadeira ou falsa, conforme o sentido ligado às palavras. As maiores verdades podem parecer absurdas quando não se considera senão a forma.
PRECE – A prece é uma invocação e, em certos casos uma evocação, pela qual chamamos este ou aquele Espírito. Quando dirigida a Deus, ele nos envia seus mensageiros, os Bons Espíritos. A prece não pode alterar os desígnios da Providência; mas por ela os Bons Espíritos podem vir em nosso auxílio, seja para nos dar a força moral que nos falta, seja para nos sugerir os pensamentos necessários. Daí vem o alívio que se experimenta quando se ora com fervor. Daí vem, também, o alívio que experimentam os Espíritos sofredores, quando se ora por eles. Eles mesmos pedem essas preces sob a forma que lhes é mais familiar e que está mais em relação com as idéias que conservaram de sua existência corpórea. Diz-nos, porém, a razão, aliás de acordo com os Espíritos, que a prece dos lábios é uma fórmula vã, quando nela não participa o coração.
PROVAS – Vicissitudes da vida corporal, pelas quais os Espíritos se depuram, conforme a maneira por que as suportam. De acordo com a doutrina espírita, desprendendose do corpo e reconhecendo sua imperfeição, o Espírito escolhe por si mesmo, num ato de seu livre-arbítrio, o gênero de provas que julga mais apropriadas ao seu adiantamento, e que sofrerá em nova existência. Se escolher uma prova acima de suas forças, sucumbirá e seu progresso será retardado.
PSlCOFONIA – do gr. psuké, alma e phone, som ou voz. Transmissão do pensamento dos Espíritos pela voz do médium falante.
PSICOGRAFIA – do gr. psuké, borboleta, alma e grapho, eu escrevo. Transmissão do pensamento dos Espíritos por meio da escrita pela mão de um médium. No médium escrevente a mão é o instrumento, mas a sua alma ou Espírito nele encarnado é o intermediário ou intérprete do Espírito estranho que se comunica. Na pneumatografia é o próprio Espírito estranho quem escreve sem intermediário. (Vide Pneumatografia).
Psicografia imediata ou direta, é quando o próprio médium escreve, tomando do lápis como para escrever normalmente.
Psicografia mediata ou indireta, é quando o lápis é adaptado a um objeto qualquer, que serve, de certo modo, como um apêndice da mão, tal como uma cesta, uma prancheta, etc.
Psicografia imediata ou direta, é quando o próprio médium escreve, tomando do lápis como para escrever normalmente.
Psicografia mediata ou indireta, é quando o lápis é adaptado a um objeto qualquer, que serve, de certo modo, como um apêndice da mão, tal como uma cesta, uma prancheta, etc.
PSICOLOGIA – Dissertação sobre a alma. Ciência que trata da natureza da alma. Este vocábulo seria para o médium falante aquilo que a psicografia é para o médium escrevente, isto é, a transmissão do pensamento dos Espíritos pela voz de um médium. Como, porém, já possui uma acepção consagrada e bem definida, convém não lhe dar outra. (Vide Psicofonia).
PUREZA ABSOLUTA – Estado dos Espíritos da primeira ordem, ou puros Espíritos. Os que percorreram todos os graus da escala e que não devem mais passar pela reencarnação.
PURGATÓRIO – do lat. purgatorium, o fato de purgar, de purus, puro, derivado do grego pyr, pyros, fogo, antigo emblema da purificação. Segundo a Igreja Católica, lugar de expiação temporária para as almas que ainda têm que purificar-se de quaisquer manchas. A Igreja não define de modo preciso onde se acha o Purgatório; coloca-o em toda parte no espaço, talvez ao nosso lado. Também não explora claramente a natureza das penas que aí sofrem; são sofrimentos mais morais que físicos; contudo há fogo, posto a alta teologia reconheça que esse vocábulo deva ser tomado em sentido figurado e como emblema da purificação. O ensino dos Espíritos é muito mais explícito a respeito. É certo que eles repelem o dogma da eternidade das penas. (Vide Inferno, Penas Eternas), mas admitem uma expiação temporária, mais ou menos longa, que, salvo o nome, não é outra coisa senão o Purgatório. Essa expiação se dá por meio de sofrimentos morais da alma no estado errante; os Espíritos errantes se acham por toda parte: no espaço, ao nosso lado, como diz a Igreja. Esta admite que no Purgatório haja certas penas físicas. A doutrina espírita diz que o Espírito se depura, se purga de suas impurezas nas existências corpóreas; os sofrimentos e as tribulações da vida são expiações e provas pelas quais se eleva. Disso resulta que aqui na Terra estamos em pleno Purgatório. Aquilo que a doutrina católica deixa no vago, os Espíritos precisam fazer ver e, por assim dizer, tocar com o dedo. Podem, pois, os Espíritos sofredores dizer que se acham no Purgatório, servindo-se de nossa linguagem. Se, em razão de sua inferioridade moral, não lhes é dado ver o termo de seus sofrimentos, dirão que se acham no Inferno. (Vide Inferno).
Admite a Igreja a eficácia das preces pelas almas do purgatório; dizem-nos os Espíritos que pela prece chamamos os bons Espíritos e que então dão aos fracos a força moral que lhes falta para suportar as provas. Os Espíritos sofredores podem, pois, pedir preces, sem que haja nisto, contradição com a doutrina espírita. Ora, de acordo com o que sabemos dos vários graus dos Espíritos, compreendemos que eles possam pedi-las segundo a forma que lhes era familiar quando em vida. (Vide Prece).
A Igreja admite apenas uma existência corpórea, depois da qual a sorte do homem estará irrevogavelmente selada para a eternidade. Dizem-nos os Espíritos que uma única existência, por vezes abreviada pelos acidentes, não passa de um ponto na eternidade, não basta à alma para se purificar e que, em sua justiça, Deus não condena sem remissão aquele de quem não dependeu ser suficientemente esclarecido sobre o bem a fim de o praticar. Sua doutrina deixa à alma a faculdade de realizar numa série de existências aquilo que não pode fazer numa única. Nisto se acha a principal diferença. Mas se prescrutássemos cuidadosamente todos os princípios dogmáticos e se puséssemos de lado aquilo que deve ser tomado em sentido figurado, sem dúvida desapareceriam muitas das contradições aparentes.
Admite a Igreja a eficácia das preces pelas almas do purgatório; dizem-nos os Espíritos que pela prece chamamos os bons Espíritos e que então dão aos fracos a força moral que lhes falta para suportar as provas. Os Espíritos sofredores podem, pois, pedir preces, sem que haja nisto, contradição com a doutrina espírita. Ora, de acordo com o que sabemos dos vários graus dos Espíritos, compreendemos que eles possam pedi-las segundo a forma que lhes era familiar quando em vida. (Vide Prece).
A Igreja admite apenas uma existência corpórea, depois da qual a sorte do homem estará irrevogavelmente selada para a eternidade. Dizem-nos os Espíritos que uma única existência, por vezes abreviada pelos acidentes, não passa de um ponto na eternidade, não basta à alma para se purificar e que, em sua justiça, Deus não condena sem remissão aquele de quem não dependeu ser suficientemente esclarecido sobre o bem a fim de o praticar. Sua doutrina deixa à alma a faculdade de realizar numa série de existências aquilo que não pode fazer numa única. Nisto se acha a principal diferença. Mas se prescrutássemos cuidadosamente todos os princípios dogmáticos e se puséssemos de lado aquilo que deve ser tomado em sentido figurado, sem dúvida desapareceriam muitas das contradições aparentes.
REENCARNAÇÃO – Volta do Espírito à vida corporal.
A reencarnação pode dar-se imediatamente após a morte ou depois de um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual o Espírito fica errante. Pode dar-se na Terra ou em outras esferas, mas sempre num corpo humano e jamais no de um animal. A reencarnação é progressiva ou estacionária: jamais é retrógrada. Nas novas existências corporais pode o Espírito decair como posição social, mas não como Espírito; por outras palavras, de senhor pode tornar-se servo, de príncipe, artesão, de rico, miserável, contudo progredindo em sabedoria e moralidade. Assim, o celerado pode tornar-se homem de bem, mas o homem de bem não se tornará um celerado.
Os Espíritos imperfeitos, que ainda se acham sob a influência da matéria, nem sempre têm sobre a reencarnação ideias completas: a maneira por que a explicam se ressente de sua ignorância e dos preconceitos terrenos, mais ou menos como seria o caso de um camponês a quem se perguntasse se é a Terra ou o Sol que gira. Têm de suas existências anteriores apenas uma lembrança confusa e o futuro lhes é uma coisa vaga. (Sabe-se que a lembrança do passado se elucida à medida que o Espírito se depura). Alguns falam ainda das esferas concêntricas que envolvem a Terra e nas quais o Espírito se eleva gradualmente até atingir o sétimo céu, que é para eles o apogeu da perfeição. Entretanto mesmo em meio a essa diversidade de expressões e da bizarria das imagens, uma observação atenta facilmente permite se reconheça um pensamento dominante: o das provas sucessivas que o Espírito deve sofrer, e os diversos degraus que deve percorrer a fim de chegar à perfeição e à suprema felicidade. Muitas vezes as coisas só nos parecem contraditórias porque lhes não examinamos o sentido íntimo.
SATÃ – do hebreu chaitan, adversário, inimigo de Deus. O chefe dos demônios. O vocábulo é sinônimo de diabo, com a diferença que este último, mais que o primeiro, é usado na linguagem familiar. Em segundo lugar, conforme a ideia a ele ligada, Satã é um ser único: o gênio do mal, o rival de Deus. Diabo é um termo mais genérico, aplicado a todos os demônios. Existe apenas um Satã, mas vários diabos. Conforme a doutrina espírita, Satã não é um ser distinto, porque Deus não tem rival que possa lutar com ele de poder para poder: é a personificação do mal e de todos os maus Espíritos. (Vide Diabo, Demônio).
SEMATOLOGIA – do gr. sema, senmalo, sinal e de logos, discurso. Transmissão do pensamento dos Espíritos por meio de sinais, tais como os golpes vibrados, o movimento dos objetos, etc. (Vide Tiptologia).
SERAFIM – (Vide Anjos).
SIBILAS – do gr. eólio sios usado em vez de theos, Deus e leouli, conselho; conselho divino. Profetizas que davam o oráculo e que os Antigos acreditavam inspiradas pela divindade. Pondo de lado o charlatanismo e o prestígio de que as cercavam aqueles que as exploravam, reconhece-se nas sibilas e nas pitonisas todas as faculdades dos sonâmbulos, dos extáticos e de certos médiuns.
SlLFIDES, SILFOS – Segundo a mitologia da Idade Média; os silfos eram gênios do ar, como os gnomos o eram da terra e as ondinas das águas. Eram representados sob a forma humana semivaporosa, com traços graciosos: as asas transparentes eram o emblema da rapidez com que percorriam os espaços; era-lhes atribuído o poder de se tornarem visíveis ou invisíveis, à sua vontade; seu caráter era brando e benevolente. "Nem fazeis uma idéia da multidão de silfos leves que tendes as vossas ordens. Continuamente ocupados em captar os vossos pensamentos, apenas pronunciais uma palavra eles a apanham e vão repeti-Ia em vosso redor. Sua leveza é tão grande que percorrem mil passos por segundo. São os silfos de Paracelso e de Gabalis”. (A. Martin)9.
A crença nos silfos evidentemente se originou nas manifestações espíritas. São Espíritos de ordem inferior, levianos mas benévolos.
9Paracelso. Trata-se de Philippus-Aureolus-Theofrastus Bombast von Hohenheim, cognominado Paracelso, criador da medicina hermética, nascido perto de Zurich, em 1493 e morto em Salzburg em 1541. Foi professor na Universidade de Bâle, de cuja cátedra atacou as idéias de Galiano, de Avicena e de Rhazes. Foi alquimista, criou a doutrina dos específicos e da terapêutica química.
Deixou a cátedra para correr o mundo, pregando suas teorias.
Não encontro referências o Gabalis que me parece ter sido um alquimista.
Também não encontro nenhuma referência que me leve o identificar esse escritor A. Martin, quer pela direção dos escritos dos vários Martin, cujo prenome tem a inicial A, quer pela época em que viveram. N. do T.
A crença nos silfos evidentemente se originou nas manifestações espíritas. São Espíritos de ordem inferior, levianos mas benévolos.
9Paracelso. Trata-se de Philippus-Aureolus-Theofrastus Bombast von Hohenheim, cognominado Paracelso, criador da medicina hermética, nascido perto de Zurich, em 1493 e morto em Salzburg em 1541. Foi professor na Universidade de Bâle, de cuja cátedra atacou as idéias de Galiano, de Avicena e de Rhazes. Foi alquimista, criou a doutrina dos específicos e da terapêutica química.
Deixou a cátedra para correr o mundo, pregando suas teorias.
Não encontro referências o Gabalis que me parece ter sido um alquimista.
Também não encontro nenhuma referência que me leve o identificar esse escritor A. Martin, quer pela direção dos escritos dos vários Martin, cujo prenome tem a inicial A, quer pela época em que viveram. N. do T.
SONAMBULISMO – do lat. somnus, o sono e ambulare, andar, passear. Estado de emancipação da alma mais completo do que no sonho. (Vide Sonho). O sonho é um sonambulismo imperfeito. No sonambulismo a lucidez da alma, isto é, a sua faculdade de ver, que é um dos atributos de sua natureza, é mais desenvolvida: ela vê as coisas com mais precisão e clareza; o corpo pode agir sob o impulso da vontade da alma.
O esquecimento absoluto no momento de despertar é um dos sinais característicos do verdadeiro sonambulismo, porque a independência da alma e do corpo é mais completa do que no sonho.
Sonambulismo magnético ou artificial é aquele que é provocado pela ação que uma pessoa exerce sobre outra, por meio do fluido magnético que derrama sobre esta.
Sonambulismo natural, o que é espontâneo e se produz sem provocação e sem a influência de um agente exterior.
O esquecimento absoluto no momento de despertar é um dos sinais característicos do verdadeiro sonambulismo, porque a independência da alma e do corpo é mais completa do que no sonho.
Sonambulismo magnético ou artificial é aquele que é provocado pela ação que uma pessoa exerce sobre outra, por meio do fluido magnético que derrama sobre esta.
Sonambulismo natural, o que é espontâneo e se produz sem provocação e sem a influência de um agente exterior.
SONHO – Efeito da emancipação da alma durante o sono. Quando os sentidos estão entorpecidos, os laços que unem alma e corpo se afrouxam; tornando-se mais livre, a alma recobra parcialmente as suas faculdades de Espírito e entra mais facilmente em comunicação com os seres do mundo incorpóreo. A lembrança que conserva, ao despertar, daquilo que viu em outros lugares e em outros mundos ou em existências passadas constitui o sonho propriamente dito. Sendo apenas parcial, quase sempre incompleta e misturada às lembranças da véspera, a consequência é que, no encadeamento dos fatos há soluções de continuidade que rompem a ligação e produzem esses conjuntos bizarros, que parecem sem sentido, mais ou menos como uma história na qual, aqui e ali truncassem linhas e frases.
SONILOQUIA – do lat. somnus, o sono e loqui, falar. Estado de emancipação da alma, intermediário entre o sonho e o sonambulismo natural. Os que falam dormindo são soníloquos.
SONO MAGNÉTICO – O fluido magnético age sobre o sistema nervoso e produz em certas pessoas um efeito comparável ao sono natural, mas do qual difere essencialmente sob vários aspectos. A principal diferença está em que, nesse estado, o pensamento fica inteiramente livre, o indivíduo tem uma perfeita consciência de si mesmo e o corpo pode agir como no estado normal, de vez que a causa fisiológica do sono magnético não é a mesma do sono natural. Mas o sono natural é um estado transitório que precede sempre o sono magnético: a passagem de um a outro é um verdadeiro despertar da alma. Eis por que aqueles que pela primeira vez são levados ao sonambulismo magnético, quando se lhes pergunta se dormem respondem negativamente. E, com efeito, desde que vêem e pensam livremente, para eles isto não é dormir, no sentido comum do vocábulo.
SONO NATURAL – Suspensão momentânea da vida de relação. Entorpecimento dos sentidos durante o qual se interrompem as relações da alma com o mundo exterior por meio dos órgãos.
SUPERSTIÇÃO – Por mais absurda que seja uma idéia supersticiosa, quase sempre repousa sobre um fato real, mas desnaturado pela ignorância, exagerada ou falsamente interpretada. Seria erro supor que vulgarizar o conhecimento das manifestações espíritas seria propagar superstições. De duas uma: ou os fenômenos são uma quimera, ou são reais. No primeiro caso haveria razão para as combater; mas se eles existem, como o demonstra a experiência, nada os impede de se repetirem. Como seria pueril atacar fatos positivos, o que deve ser combatido não são os fatos, mas a falsa interpretação que lhes pode dar a ignorância. Sem dúvida nos séculos passados foram eles a fonte de uma porção de superstições, como todos os fenômenos naturais cuja causa era desconhecida. Pouco a pouco o progresso das ciências positivas faz que umas desapareçam, enquanto que, melhor conhecida, a ciência espírita fará desaparecer as outras.
Apoiam-se os adversários do espiritismo no perigo que tais fenômenos apresentam para a razão. Todas as causas que podem excitar as imaginações fracas podem produzir a loucura. O que, antes de mais nada, é preciso é curar o mal do medo. Ora, o meio de o conseguir não é exagerar o perigo, fazendo crer que todas as manifestações sejam obra do diabo. Os que propagam essa crença visando desacreditar a doutrina, fogem completamente ao seu objetivo, primeiro porque assinar uma causa qualquer aos fenômenos espíritas é reconhecer a sua existência; em segundo lugar porque, querendo persuadir que o diabo seja o seu único agente, afetam perigosamente a moral de certos indivíduos. Como não podem impedir que se produzam manifestações mesmo entre aqueles que as não desejam, eles não verão em seu redor e por toda parte senão diabos e demônios, até nos mais simples efeitos, que tomam por manifestações. Nisto há muito coisa para perturbar o cérebro. Dar prestígio a esse medo é propagar o mal do medo, em vez de o curar. Nisto está o verdadeiro perigo; pois aí está a superstição.
Apoiam-se os adversários do espiritismo no perigo que tais fenômenos apresentam para a razão. Todas as causas que podem excitar as imaginações fracas podem produzir a loucura. O que, antes de mais nada, é preciso é curar o mal do medo. Ora, o meio de o conseguir não é exagerar o perigo, fazendo crer que todas as manifestações sejam obra do diabo. Os que propagam essa crença visando desacreditar a doutrina, fogem completamente ao seu objetivo, primeiro porque assinar uma causa qualquer aos fenômenos espíritas é reconhecer a sua existência; em segundo lugar porque, querendo persuadir que o diabo seja o seu único agente, afetam perigosamente a moral de certos indivíduos. Como não podem impedir que se produzam manifestações mesmo entre aqueles que as não desejam, eles não verão em seu redor e por toda parte senão diabos e demônios, até nos mais simples efeitos, que tomam por manifestações. Nisto há muito coisa para perturbar o cérebro. Dar prestígio a esse medo é propagar o mal do medo, em vez de o curar. Nisto está o verdadeiro perigo; pois aí está a superstição.
TAUMATURGO – do gr. thauma, thaumatos, maravilha e ergon, obra. Fazedor de milagres: são George Taumaturgo. Por vezes se diz por ironia, com ou sem razão, daqueles que se gabam do poder de produzir fenômenos fora das leis da natureza. É nesse sentido que certas pessoas qualificam Swedenborg de taumaturgo.
TELEGRAFIA HUMANA – Comunicação à distância entre duas pessoas vivas, que se evocam reciprocamente. Essa evocação provoca a emancipação da alma ou Espírito encamado, que vem manifestar-se e pode comunicar o seu pensamento pela escrita ou por qualquer outro meio. Dizem-nos os Espíritos que a telegrafia humana será um dia um meio usual de comunicação, quando os homens forem mais moralizados, menos egoístas e menos ligados às coisas materiais. Enquanto esperam, ela será apenas um privilégio das almas de escol.
TIPTOLOGIA – do gr. typto, golpe e logos, discurso. Comunicação inteligente dos Espíritos por meio de golpes vibrados.
Tiptologia alfabética, quando os golpes designam as letras do alfabeto, cuja reunião forma palavras e frases. Pode ser produzida pelos dois meios adiante citados.
A tiptologia é um meio de comunicação muito imperfeito, à vista da lentidão que não permite desenvolvimentos tão extensos quanto os obtidos pela psicografia ou pela psicofonia. (Vide estes vocábulos).
Tiptologia íntima ou passiva, quando os golpes são ouvidos na substância própria de um objeto imóvel.
Tiplologia pelo movimento, quando os golpes são vibrados por um objeto qualquer que se move, como, por exemplo, uma mesa que bate com o pé, por um movimento de básculo.
Tiptologia alfabética, quando os golpes designam as letras do alfabeto, cuja reunião forma palavras e frases. Pode ser produzida pelos dois meios adiante citados.
A tiptologia é um meio de comunicação muito imperfeito, à vista da lentidão que não permite desenvolvimentos tão extensos quanto os obtidos pela psicografia ou pela psicofonia. (Vide estes vocábulos).
Tiptologia íntima ou passiva, quando os golpes são ouvidos na substância própria de um objeto imóvel.
Tiplologia pelo movimento, quando os golpes são vibrados por um objeto qualquer que se move, como, por exemplo, uma mesa que bate com o pé, por um movimento de básculo.
TODO (O) universal, o grande lodo. Conforme a opinião de certos filósofos, há uma alma universal, da qual cada um possui uma parcela; pela morte, todas as almas particulares voltam à fonte geral, sem conservar sua individualidade, como as gotas de chuva se fundem nas águas do Oceano. Essa fonte comum é para eles o grande todo, o todo universal. Tal doutrina, sem a individualidade após a morte, seria tão desanimadora quanto o materialismo, porque seria absolutamente como se se não existisse. O Espiritismo é a prova patente do contrário. Mas a idéia do grande todo não implica necessariamente a da fusão dos seres num só. Um soldado que volta ao seu regimento entra num todo coletivo e nem por isso perde a sua individualidade. Dá-se o mesmo com as almas que entram no mundo dos Espíritos, que para elas é também um todo coletivo: o todo universal. É nesse sentido que deve ser entendida a expressão na linguagem de certos Espíritos.
TRANSMIGRAÇÃO – (Vide Reencarnação, Metempsicose).
TRASGOS – Espíritos brincalhões, mais traquinas que maus, pertencem à classe dos Espíritos levianos. Podem compreender-se sob essa denominação certos Espíritos levianos, antes levados e traquinas do que maus; gostam de causar pequenos vexames e contrariedades. São ignorantes, mentirosos e zombeteiros; são os meninos terríveis do mundo espírita. Sua linguagem é por vezes espirituosa, mordente e satírica, raramente grosseira. Gostam de facécias e simpatizam com as pessoas de caráter leviano. Seria uma perda de tempo e expor-se aos ridículos equívocos dirigir-lhes perguntas sérias10.
10Sob o verbete TRASGO reunimos dois verbetes do original: farfadet e lutin.
Do primeiro, diz o original: "do lat. fadus, fada, fada". Dá a primeira definição que aparece no texto e acrescenta: "Vide Lutin".
De lutin diz: "do velho vocábulo luicter, lutar, conforme uns, de onde foram feitos, sucessivamente, luicton, luiton, luits e, finalmente, lutin. Segundo outros luicton teria sido usado em vez de nuicton, derivado de nuict, a noite, porque os lutins, segundo o crença vulgar, aparecem principalmente à noite, para atormentar os vivos.
Está certo Allan Kardec. Os melhores dicionários antigos do língua francesa são concordes com a sua explicação da etimologia dos dois vocábulos. Apenas ele foi pouco explícito quanto à do primeiro (farfadet), que é derivado do provençal moderno farfadet, alteração de fadet, este derivado de fata, fada.
Em português não se tem uma diferenciação no emprego dos vocábulos duende, trasgo, espectro, etc. Os escritores os empregam indistintamente. Em Alexandre Herculano lê-se: "As histórias de duendes, espectros e almas penadas, e possessos, e diabretes constituíam na Idade Média um sistema de doutrinas, cuja solidez se estribava em fatos repetidos". (Dicionário de Laudelino Freire). A Federação Espírita Brasileira preferiu, no caso dos lutins e dos farfadets a tradução por nós acima adotada, por ser específica. Vê-se em Kardec que as duas vozes são sinônimos quase perfeitos. N. do T.
10Sob o verbete TRASGO reunimos dois verbetes do original: farfadet e lutin.
Do primeiro, diz o original: "do lat. fadus, fada, fada". Dá a primeira definição que aparece no texto e acrescenta: "Vide Lutin".
De lutin diz: "do velho vocábulo luicter, lutar, conforme uns, de onde foram feitos, sucessivamente, luicton, luiton, luits e, finalmente, lutin. Segundo outros luicton teria sido usado em vez de nuicton, derivado de nuict, a noite, porque os lutins, segundo o crença vulgar, aparecem principalmente à noite, para atormentar os vivos.
Está certo Allan Kardec. Os melhores dicionários antigos do língua francesa são concordes com a sua explicação da etimologia dos dois vocábulos. Apenas ele foi pouco explícito quanto à do primeiro (farfadet), que é derivado do provençal moderno farfadet, alteração de fadet, este derivado de fata, fada.
Em português não se tem uma diferenciação no emprego dos vocábulos duende, trasgo, espectro, etc. Os escritores os empregam indistintamente. Em Alexandre Herculano lê-se: "As histórias de duendes, espectros e almas penadas, e possessos, e diabretes constituíam na Idade Média um sistema de doutrinas, cuja solidez se estribava em fatos repetidos". (Dicionário de Laudelino Freire). A Federação Espírita Brasileira preferiu, no caso dos lutins e dos farfadets a tradução por nós acima adotada, por ser específica. Vê-se em Kardec que as duas vozes são sinônimos quase perfeitos. N. do T.
VIDENTE – Pessoa dotada da segunda vista. Alguns designam por esse nome os sonâmbulos magnéticos, para melhor caracterizar a sua lucidez. Nesta última acepção o vocábulo não exprimem mais do que invisível, aplicado aos Espíritos: tem o inconveniente de não ser especial para o estado sonambúlico. Quando se tem um termo para exprimir uma idéia é supérfluo criar outro. É necessário sobretudo evitar desviar os vocábulos da acepção consagrada.
VISÃO – (Vide Aparição).
VISIONÁRIO – Aquele que erradamente crê ter visões ou revelações. Em sentido figurado aquele que tem ideias malucas ou quiméricas (Academia). O vocábulo conviria perfeitamente para designar as pessoas dotadas de segunda vista e que têm visões reais, se não fosse consagrado em sentido pejorativo. Entretanto a necessidade de um nome especial para designar tais criaturas é evidente. (Vide Vidente).
VISTA (SEGUNDA) – Efeito da emancipação da alma, que se manifesta em estado de vigília. Faculdade de ver as coisas ausentes como se estivessem presentes. Os que são dotados dessa faculdade não vêem pelos olhos, mas pela alma, que parece a imagem dos objetos em qualquer parte para onde se transporte e como que por uma espécie de miragem. Essa faculdade não é permanente: certas pessoas a possuem, mau grado seu; ela lhes parece um efeito natural e produz aquilo a que se chama visões.

Capítulo I - Escala espírita
Terceira ordem - Espíritos imperfeitos
Caracteres gerais – Predominância da matéria sobre o Espírito. Propensão para o mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as más paixões que lhes são consequentes.
Têm a intuição de Deus, mas não o compreendem.
Nem todos são essencialmente maus. Nalguns há mais leviandade, inconsequência e malícia do que verdadeira maldade. Uns nem fazem o bem nem o mal; mas denotam inferioridade pelo simples fato de não fazerem o bem. Outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando se lhes apresenta ocasião de o praticar.
A inteligência pode aliar-se à maldade ou à malícia. Todavia, seja qual for o seu desenvolvimento intelectual, suas ideias são pouco elevadas e seus sentimentos mais ou menos abjetos.
Seus conhecimentos sobre as coisas do mundo espírita são limitados e o pouco que sabem se confunde com as ideias e os preconceitos da vida corpórea. Não nos podem dar senão noções falsas e incompletas. Mas o observador atento sempre descobre em suas comunicações, mesmo imperfeitas, a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos superiores.
Seu caráter se revela pela linguagem. Todo Espírito que, em suas comunicações, trai um mau pensamento, pode ser catalogado na terceira ordem. Conseguintemente, todo mau pensamento que nos é sugerido vem de um Espírito desta ordem.
Eles veem a felicidade dos bons, o que lhes é um tormento incessante, pois experimentam todas as angústias produzidas pela inveja e pelo ciúme.
Conservam a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea e essa impressão é por vezes mais penosa que a realidade. Sofrem, pois, realmente os males que suportaram e os que causaram aos outros; e como sofrem muito tempo, creem sofrer sempre. Para os punir, quer Deus que pensem que é assim.
Podem ser divididos em quatro grupos principais[1].
[1] Esta escala é a mesma dada em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Ed. de "O Pensamento", por nós traduzida da 22ª edição. O leitor notará, entretanto, que entre as nove classes do presente volume e as dez classes do volume citado a única diferença é o aparecimento da classe dos ESPÍRITOS BATEDORES E PERTURBADORES, que ocupou o 6º lugar. Assim, houve uma alteração na numeração das classes, 9ª, 8ª, 7ª e 6ª, desta obra, que passaram, em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, para 10ª, 9ª, 8ª e 7ª classes; introduziu-se a 6ª classe e as restantes classes mais elevadas ficaram inalteradas.
O fato se explica: Allan Kardec fez sucessivas ampliações em O LIVRO DOS ESÍRITOS e só lhe deu caráter definitivo, que não mais se alterou, na 13ª edição. Foi antes disso que lançou a presente obra. Mas depois da edição de O LIVRO DOS ESPÍRITOS não mais reeditou As instruções. N. do T.
Têm a intuição de Deus, mas não o compreendem.
Nem todos são essencialmente maus. Nalguns há mais leviandade, inconsequência e malícia do que verdadeira maldade. Uns nem fazem o bem nem o mal; mas denotam inferioridade pelo simples fato de não fazerem o bem. Outros, ao contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos quando se lhes apresenta ocasião de o praticar.
A inteligência pode aliar-se à maldade ou à malícia. Todavia, seja qual for o seu desenvolvimento intelectual, suas ideias são pouco elevadas e seus sentimentos mais ou menos abjetos.
Seus conhecimentos sobre as coisas do mundo espírita são limitados e o pouco que sabem se confunde com as ideias e os preconceitos da vida corpórea. Não nos podem dar senão noções falsas e incompletas. Mas o observador atento sempre descobre em suas comunicações, mesmo imperfeitas, a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos superiores.
Seu caráter se revela pela linguagem. Todo Espírito que, em suas comunicações, trai um mau pensamento, pode ser catalogado na terceira ordem. Conseguintemente, todo mau pensamento que nos é sugerido vem de um Espírito desta ordem.
Eles veem a felicidade dos bons, o que lhes é um tormento incessante, pois experimentam todas as angústias produzidas pela inveja e pelo ciúme.
Conservam a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea e essa impressão é por vezes mais penosa que a realidade. Sofrem, pois, realmente os males que suportaram e os que causaram aos outros; e como sofrem muito tempo, creem sofrer sempre. Para os punir, quer Deus que pensem que é assim.
Podem ser divididos em quatro grupos principais[1].
[1] Esta escala é a mesma dada em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Ed. de "O Pensamento", por nós traduzida da 22ª edição. O leitor notará, entretanto, que entre as nove classes do presente volume e as dez classes do volume citado a única diferença é o aparecimento da classe dos ESPÍRITOS BATEDORES E PERTURBADORES, que ocupou o 6º lugar. Assim, houve uma alteração na numeração das classes, 9ª, 8ª, 7ª e 6ª, desta obra, que passaram, em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, para 10ª, 9ª, 8ª e 7ª classes; introduziu-se a 6ª classe e as restantes classes mais elevadas ficaram inalteradas.
O fato se explica: Allan Kardec fez sucessivas ampliações em O LIVRO DOS ESÍRITOS e só lhe deu caráter definitivo, que não mais se alterou, na 13ª edição. Foi antes disso que lançou a presente obra. Mas depois da edição de O LIVRO DOS ESPÍRITOS não mais reeditou As instruções. N. do T.
Nona classe. ESPÍRITOS IMPUROS. São inclinados ao mal, que convertem em objeto de suas preocupações. Como Espíritos, dão pérfidos conselhos, insuflam a discórdia e a desconfiança e tomam todas as máscaras a fim de enganar melhor. Aferram-se às pessoas de caráter fraco, que cedem às suas sugestões, a fim de as arrastar à perdição, contentes de poderem retardar o seu progresso e de as fazer sucumbir nas provas por que passam.
Nas suas manifestações, reconhecemo-los pela linguagem; a trivialidade e a grosseria das expressões, entre os Espíritos como entre os homens, são sempre um índice de inferioridade moral, se não intelectual. Suas comunicações denotam a baixeza de suas inclinações; e se tentam enganar, falando de um modo sensato, não podem representar o papel por muito tempo: acabam sempre traindo a sua origem.
Certos povos fizeram deles divindades malfazejas; outros os designaram pelos nomes de demônios, gênios maus, Espíritos do mal.
Quando encarnados, animam criaturas inclinadas a todos os vícios gerados pelas paixões vis e degradantes: a sensualidade, a crueldade, a felonia, a hipocrisia, a cupidez e a avareza sórdida. Fazem o mal por prazer e o mais das vezes sem motivo, e por ódio ao bem; quase sempre escolhem suas vitimas entre as pessoas honestas. São flagelos para a humanidade, seja qual for sua posição social: o verniz da civilização não os isenta do opróbrio e da ignomínia.
Nas suas manifestações, reconhecemo-los pela linguagem; a trivialidade e a grosseria das expressões, entre os Espíritos como entre os homens, são sempre um índice de inferioridade moral, se não intelectual. Suas comunicações denotam a baixeza de suas inclinações; e se tentam enganar, falando de um modo sensato, não podem representar o papel por muito tempo: acabam sempre traindo a sua origem.
Certos povos fizeram deles divindades malfazejas; outros os designaram pelos nomes de demônios, gênios maus, Espíritos do mal.
Quando encarnados, animam criaturas inclinadas a todos os vícios gerados pelas paixões vis e degradantes: a sensualidade, a crueldade, a felonia, a hipocrisia, a cupidez e a avareza sórdida. Fazem o mal por prazer e o mais das vezes sem motivo, e por ódio ao bem; quase sempre escolhem suas vitimas entre as pessoas honestas. São flagelos para a humanidade, seja qual for sua posição social: o verniz da civilização não os isenta do opróbrio e da ignomínia.
Oitava classe. ESPÍRITOS LEVIANOS. São ignorantes, malévolos, inconsequentes e zombeteiros. Metem-se em tudo; a tudo respondem sem se preocuparem com a verdade. Comprazem-se em causar pequenas contrariedades e pequenos prazeres, em fazer intrigas e maliciosamente induzir em erro, por mistificações e por espertezas. A esta classe pertencem os Espíritos vulgarmente designados pelos nomes de duendes, diabretes, gnomos e trasgos. Estão sob a dependência de Espíritos superiores, que os empregam muitas vezes, como nós fazemos com os criados.
Em suas comunicações com os homens sua linguagem é, por vezes, espirituosa e faceta, mas quase sempre sem profundeza; apreendem as singularidades e os ridículos, que exprimem em traços mordazes e satíricos. Se tomam nomes supostos, fazem-no mais por malícia que por maldade.
Em suas comunicações com os homens sua linguagem é, por vezes, espirituosa e faceta, mas quase sempre sem profundeza; apreendem as singularidades e os ridículos, que exprimem em traços mordazes e satíricos. Se tomam nomes supostos, fazem-no mais por malícia que por maldade.
Sétima classe. ESPÍRITOS PSEUDO-SÁBIOS. Seus conhecimentos são muito extensos, mas julgam saber mais do que realmente sabem. Tendo realizado algum progresso sob vários pontos de vista, sua linguagem tem um caráter sério, que pode enganar quanto à sua capacidade e às suas luzes; o mais das vezes, entretanto, não passa de um reflexo dos preconceitos e das ideias sistemáticas da vida terrena; é uma mistura de verdades e de erros mais absurdos, em meio dos quais brotam a presunção, o orgulho, a inveja e a teimosia, de que se não puderam despojar.
Sexta classe. ESPÍRITOS NEUTROS. Nem são suficientemente bons para fazerem o bem, nem suficientemente maus para fazerem o mal; inclinam-se para um e para outro, não se elevam acima da vulgaridade humana, quer quanto ao moral, quer quanto à inteligência. Apegam-se às coisas deste mundo, de cujos prazeres grosseiros sentem saudades.
Segunda ordem - Bons Espíritos
Caracteres gerais. Predominância do Espírito sobre a matéria; desejo do bem. Suas qualidades e seu poder de fazer o bem são proporcionais ao grau já atingido: uns tem ciência, outros sabedoria e bondade; os mais adiantados reúnem o saber às qualidades morais. Como se não acham ainda completamente desmaterializados, conservam mais ou menos os traços de sua existência corpórea, conforme a sua classe, quer na forma de linguagem, quer nos hábitos, onde se registram até, alguns de seus cacoetes. Se não fora isto seriam Espíritos perfeitos.
Compreendem Deus e o infinito e já desfrutam da felicidade dos bons. Sentem-se felizes pelo bem que fazem e pelo mal que impedem. O amor que os une é-lhes uma fonte inefável de felicidade, que não alteram nem a inveja, nem os remorsos, nem qualquer das paixões inferiores que atormentam os Espíritos imperfeitos. Mas todos têm ainda que passar por provas até atingirem a perfeição absoluta.
Como Espíritos sugerem bons pensamentos, desviam os homens do caminho do mal, protegem na vida àqueles que se tornam dignos e neutralizam a influência dos Espíritos imperfeitos sobre aqueles que se não comprazem em tais influências.
Quando encarnados são bons e benevolentes para com os seus semelhantes; não são movidos pelo orgulho, nem pelo egoísmo ou pela ambição; não experimentam nem ódio, nem rancor, nem inveja ou ciúme e fazem o bem pelo bem.
A esta ordem pertencem os Espíritos designados nas crenças vulgares como bons gênios, gênios protetores, Espírito do bem. Nos tempos de superstição e de ignorância foram transformados em divindades benfazejas.
Podem ser divididos em quatro grupos principais:
Compreendem Deus e o infinito e já desfrutam da felicidade dos bons. Sentem-se felizes pelo bem que fazem e pelo mal que impedem. O amor que os une é-lhes uma fonte inefável de felicidade, que não alteram nem a inveja, nem os remorsos, nem qualquer das paixões inferiores que atormentam os Espíritos imperfeitos. Mas todos têm ainda que passar por provas até atingirem a perfeição absoluta.
Como Espíritos sugerem bons pensamentos, desviam os homens do caminho do mal, protegem na vida àqueles que se tornam dignos e neutralizam a influência dos Espíritos imperfeitos sobre aqueles que se não comprazem em tais influências.
Quando encarnados são bons e benevolentes para com os seus semelhantes; não são movidos pelo orgulho, nem pelo egoísmo ou pela ambição; não experimentam nem ódio, nem rancor, nem inveja ou ciúme e fazem o bem pelo bem.
A esta ordem pertencem os Espíritos designados nas crenças vulgares como bons gênios, gênios protetores, Espírito do bem. Nos tempos de superstição e de ignorância foram transformados em divindades benfazejas.
Podem ser divididos em quatro grupos principais:
Quinta classe. ESPÍRITOS BENÉVOLOS. A bondade é-lhes a qualidade predominante; comprazem-se em prestar serviços aos homens e em os proteger; mas seu saber é limitado, e o progresso que realizam é mais no sentido moral que no intelectual.
Quarta classe. ESPÍRITOS SABIOS. O que os distingue é, especialmente, a extensão dos conhecimentos. Preocupam-se menos com as questões morais do que com as científicas, para as quais têm mais aptidão; mas só encaram a ciência do ponto de vista de sua utilidade e não a misturam com qualquer das paixões características dos Espíritos imperfeitos.
Terceira classe. ESPÍRITOS DE SABEDORIA. As qualidades morais de ordem mais elevada constituem seu caráter distintivo. Posto não tenham conhecimentos ilimitados, são dotados de uma capacidade intelectual que lhes permite um julgamento reto sobre os homens e as coisas.
Segunda classe. ESPÍRITOS SUPERIORES. Reúnem ciência, sabedoria e bondade. Sua linguagem só transpira benevolência: é sempre digna, elevada, por vezes sublime. Sua superioridade os torna, mais que os outros, aptos a nos darem as mais justas noções sobre as coisas do mundo incorpóreo, dentro dos limites de conhecimento permissíveis ao homem. Comunicam-se de boa vontade com os que de boa fé buscam a verdade e cuja alma seja bastante desprendida dos laços terrenos para a compreender; mas afastam-se dos que, são movidos pela curiosidade ou que, por influência da matéria, se desviam da prática do bem.
Quando, excepcionalmente, encarnam na Terra, vêm cumprir missão de progresso e, então, oferecem-nos o tipo da perfeição a que pode aqui aspirar a humanidade.
Quando, excepcionalmente, encarnam na Terra, vêm cumprir missão de progresso e, então, oferecem-nos o tipo da perfeição a que pode aqui aspirar a humanidade.
Primeira ordem - Puros Espíritos
Caracteres gerais. Nula a influência da matéria. Superioridade intelectual e moral, em relação às outras ordens de Espíritos.
Primeira classe, classe única. Percorreram todos os degraus da escala e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Tendo atingido a soma de perfeições de que é susceptível a criatura, não têm mais que passar por provas ou expiações. Não mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, vivem a vida eterna, que realizam no seio de Deus.
Gozam de uma felicidade inalterável, porque nem estão sujeitos às necessidades, nem às vicissitudes da vida material; mas essa felicidade não é absolutamente uma ociosidade monótona, passada em perpétua contemplação. São os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção do equilíbrio universal. Comandam a todos os Espíritos que lhes são inferiores, ajudam-nos a se aperfeiçoarem e lhes confiam missões. Para eles é suave ocupação ajudar e assistir aos homens em suas aflições, excitá-los ao bem e à expiação de sues faltas que os afastam da felicidade suprema. São, por vezes, designados como anjos, arcanjos ou serafins.
Os homens podem entrar com eles em comunicação; presunçoso, entretanto, seria aquele que pensasse em os ter constantemente às suas ordens.
Certas pessoas erroneamente os designam pelo nome de Espíritos incriados. Os Espíritos incriados existiriam, como Deus, de toda a eternidade. Ora, se no universo pudessem existir seres sem a vontade de Deus, Deus não seria todo-poderoso. Alguns Espíritos se serviram dessa expressão, mas não nesse sentido. Por ela entendiam os Espíritos que não mais se encamavam e que, sob esse ponto de vista, não mais serão criados como os homens. O termo é impróprio, porque dá lugar a uma falsa interpretação. Aí está o inconveniente de nos atermos à letra, sem perscrutar a idéia[1].
[1] Vide no vocabulário o verbete Anjo.
Gozam de uma felicidade inalterável, porque nem estão sujeitos às necessidades, nem às vicissitudes da vida material; mas essa felicidade não é absolutamente uma ociosidade monótona, passada em perpétua contemplação. São os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para a manutenção do equilíbrio universal. Comandam a todos os Espíritos que lhes são inferiores, ajudam-nos a se aperfeiçoarem e lhes confiam missões. Para eles é suave ocupação ajudar e assistir aos homens em suas aflições, excitá-los ao bem e à expiação de sues faltas que os afastam da felicidade suprema. São, por vezes, designados como anjos, arcanjos ou serafins.
Os homens podem entrar com eles em comunicação; presunçoso, entretanto, seria aquele que pensasse em os ter constantemente às suas ordens.
Certas pessoas erroneamente os designam pelo nome de Espíritos incriados. Os Espíritos incriados existiriam, como Deus, de toda a eternidade. Ora, se no universo pudessem existir seres sem a vontade de Deus, Deus não seria todo-poderoso. Alguns Espíritos se serviram dessa expressão, mas não nesse sentido. Por ela entendiam os Espíritos que não mais se encamavam e que, sob esse ponto de vista, não mais serão criados como os homens. O termo é impróprio, porque dá lugar a uma falsa interpretação. Aí está o inconveniente de nos atermos à letra, sem perscrutar a idéia[1].
[1] Vide no vocabulário o verbete Anjo.
Capítulo II - Das manifestações espíritas
AÇÃO OCULTA
Muitas vezes os Espíritos agem sobre a nossa mente, mau grado nosso: solicitam-nos a fazer isto ou aquilo; julgamos agir por impulso próprio quando apenas obedecemos a uma sugestão estranha.
Não devemos daí inferir que não tenhamos iniciativa; longe disso: o Espírito encarnado tem sempre o livre-arbítrio; em definitivo, não faz senão aquilo que quer e, muitas vezes, segue seus próprios impulsos. Para se dar conta da maneira por que as coisas se passam, necessitamos figurar a nossa alma desprendida dos laços, pela emancipação, o que sempre ocorre durante o sono, haja ou não sonho; toda vez que há entorpecimento dos sentidos e, até, em estado de vigília. Então ela entra em comunicação com os outros Espíritos, como alguém que saísse de casa para ir aos vizinhos - se se admite essa comparação familiar. Assim se estabelece entre eles uma espécie de conversação ou, mais exatamente, uma troca de idéias. A influência do Espírito estranho não é um domínio, mas uma espécie de conselho dado à nossa alma, o qual pode ser mais ou menos prudente, conforme a natureza do Espírito, sendo a alma livre de aceitá-lo ou não, mas que pode melhor apreciar quando não mais se acha sob o império das idéias suscitadas pela vida de relação. Por isso diz-se que a noite traz o seu conselho.
Nem sempre é fácil distinguir a idéia sugerida da idéia própria, porque muitas vezes elas se confundem. Entretanto há presunção de que venha de uma fonte estranha quando é espontânea e surge em nós como uma inspiração e quando se opõe à nossa própria maneira de ver. Nosso julgamento e nossa consciência nos dão a conhecer se ela é boa ou má.
Não devemos daí inferir que não tenhamos iniciativa; longe disso: o Espírito encarnado tem sempre o livre-arbítrio; em definitivo, não faz senão aquilo que quer e, muitas vezes, segue seus próprios impulsos. Para se dar conta da maneira por que as coisas se passam, necessitamos figurar a nossa alma desprendida dos laços, pela emancipação, o que sempre ocorre durante o sono, haja ou não sonho; toda vez que há entorpecimento dos sentidos e, até, em estado de vigília. Então ela entra em comunicação com os outros Espíritos, como alguém que saísse de casa para ir aos vizinhos - se se admite essa comparação familiar. Assim se estabelece entre eles uma espécie de conversação ou, mais exatamente, uma troca de idéias. A influência do Espírito estranho não é um domínio, mas uma espécie de conselho dado à nossa alma, o qual pode ser mais ou menos prudente, conforme a natureza do Espírito, sendo a alma livre de aceitá-lo ou não, mas que pode melhor apreciar quando não mais se acha sob o império das idéias suscitadas pela vida de relação. Por isso diz-se que a noite traz o seu conselho.
Nem sempre é fácil distinguir a idéia sugerida da idéia própria, porque muitas vezes elas se confundem. Entretanto há presunção de que venha de uma fonte estranha quando é espontânea e surge em nós como uma inspiração e quando se opõe à nossa própria maneira de ver. Nosso julgamento e nossa consciência nos dão a conhecer se ela é boa ou má.
MANIFESTAÇÕES PATENTES
As manifestações patentes diferem das manifestações ocultas por isso que são apreciáveis pelos nossos sentidos. Constituem, a bem dizer, todos os fenômenos espíritas que se nos apresentam sob formas variadas.
MANIFESTAÇÕES FÍSICAS
Assim são chamadas as manifestações que se limitam a fenômenos materiais, tais como os ruídos, o movimento e o deslocamento de objetos. Geralmente não comportam nenhum sentido direto: seu objetivo é chamar nossa atenção para alguma coisa e convencer-nos da presença de uma força superior ao homem. Para muita gente tais manifestações são mero objeto de curiosidade; Para o observador é, pelo menos, a revelação de uma força desconhecida, digna, em todo caso, de estudo sério.
Os mais simples efeitos desse gênero são os golpes vibrados sem causa ostensiva conhecida e o movimento circular de uma mesa ou de um objeto qualquer, com ou sem imposição de mãos. Mas podem assumir proporções muito estranhas: os golpes por vezes são ouvidos de todos os lados e com uma intensidade que degenera em verdadeiro barulho; os móveis são deslocados, derrubados, levantados do chão; os objetos transportados de um lugar para outro, à vista de todos, as cortinas puxadas, arrancadas as cobertas das camas, tocadas as campainhas. Compreende-se que quando tais fenômenos se produzem certas pessoas os tenham atribuído a uma origem diabólica. Um estudo atento explicou essa crença supersticiosa. Voltaremos ao assunto.
Os mais simples efeitos desse gênero são os golpes vibrados sem causa ostensiva conhecida e o movimento circular de uma mesa ou de um objeto qualquer, com ou sem imposição de mãos. Mas podem assumir proporções muito estranhas: os golpes por vezes são ouvidos de todos os lados e com uma intensidade que degenera em verdadeiro barulho; os móveis são deslocados, derrubados, levantados do chão; os objetos transportados de um lugar para outro, à vista de todos, as cortinas puxadas, arrancadas as cobertas das camas, tocadas as campainhas. Compreende-se que quando tais fenômenos se produzem certas pessoas os tenham atribuído a uma origem diabólica. Um estudo atento explicou essa crença supersticiosa. Voltaremos ao assunto.
MANIFESTAÇÕES INTELIGENTES
Se os fenômenos de que acabamos de falar se limitassem a efeitos materiais, não haveria a menor dúvida que poderiam ser atribuídos a uma causa puramente física, à ação de algum fluido cujas propriedades fossem ainda desconhecidas. Já o mesmo não aconteceu quando deram incontestáveis sinais de inteligência. Ora, se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente. Fácil é reconhecer num objeto que se agita um simples movimento mecânico e um movimento intencional. Se, pelo ruído ou pelo movimento, esse objeto dá um sinal, é evidente que há a intervenção de uma inteligência. Diz-nos a razão que não é o objeto material que é inteligente, de onde concluímos que ele é movido por uma causa inteligente estranha. Tal é o caso dos fenômenos de que nos ocupamos.
Se as manifestações puramente físicas, de que acabamos de falar, são de natureza a cativar nosso interesse, com mais forte razão quando nos revelam a presença de uma inteligência oculta, porque então não é mais um simples corpo inerte que defrontamos, mas um ser capaz de nos compreender, e com o qual podemos trocar idéias. Compreende-se, desde logo, que o modo de experimentação deve ser absolutamente outro do que seria se se tratasse de um fenômeno essencialmente material e que os nossos processos de laboratório são insuficientes para nos dar conta dos fatos pertinentes à ordem intelectual. Já não se pode mais aqui fazer questão de análises ou de cálculos matemáticos das forças. Ora, é precisamente este o erro em que caíram a maioria dos cientistas: julgaramse em presença de um desses fenômenos que a ciência reproduz à vontade, e sobre o qual é possível operar como sobre um sal ou um gás. Isto nada lhes tira de seu saber. Apenas dizemos que eles se enganaram julgando que poderiam meter os Espíritos numa retorta, como o espírito de vinho, e que os fenômenos espíritas não pertençam mais ao domínio das ciências exatas do que às questões de teologia ou de metafísica.
Se as manifestações puramente físicas, de que acabamos de falar, são de natureza a cativar nosso interesse, com mais forte razão quando nos revelam a presença de uma inteligência oculta, porque então não é mais um simples corpo inerte que defrontamos, mas um ser capaz de nos compreender, e com o qual podemos trocar idéias. Compreende-se, desde logo, que o modo de experimentação deve ser absolutamente outro do que seria se se tratasse de um fenômeno essencialmente material e que os nossos processos de laboratório são insuficientes para nos dar conta dos fatos pertinentes à ordem intelectual. Já não se pode mais aqui fazer questão de análises ou de cálculos matemáticos das forças. Ora, é precisamente este o erro em que caíram a maioria dos cientistas: julgaramse em presença de um desses fenômenos que a ciência reproduz à vontade, e sobre o qual é possível operar como sobre um sal ou um gás. Isto nada lhes tira de seu saber. Apenas dizemos que eles se enganaram julgando que poderiam meter os Espíritos numa retorta, como o espírito de vinho, e que os fenômenos espíritas não pertençam mais ao domínio das ciências exatas do que às questões de teologia ou de metafísica.
MANIFESTAÇÕES APARENTES
As manifestações aparentes mais ordinárias dão-se no sono, pelos sonhos: são as visões. Jamais foram os sonhos explicados pela ciência. Julga ela tudo haver dito, atribuindo-os a um efeito da imaginação. Mas não diz o que é a imaginação, nem como produz ela essas imagens tão claras e tão límpidas que, por vezes, nos aparecem. É explicar uma causa desconhecida por outra que não o é menos. A questão permanece, assim, por inteiro. Dizem que é uma lembrança das preocupações da vigília, mas, mesmo admitindo tal solução, que não é única, restaria saber qual é esse espelho mágico que assim conserva a impressão das coisas; como explicar sobretudo essas visões de coisas reais, que jamais foram vistas no estado de vigília e nas quais jamais se pensou? Só o Espiritismo nos poderia dar a chave desse fenômeno bizarro, que passa inapercebido por força de sua mesma vulgaridade, como todas as maravilhas da natureza que calcamos aos nossos pés[1]. Não cabe no nosso plano examinar todas as particularidades que podem os sonhos apresentar; cingimo-nos a dizer o que podem eles ser; uma visão atual das coisas presentes ou ausentes; uma visão retrospectiva do passado e, nalguns casos excepcionais, um pressentimento do futuro. Por vezes são quadros alegóricos, que os Espíritos fazem passar aos nossos olhos, a fim de nos darem avisos úteis e conselhos salutares, quando se trata de bons Espíritos, ou para induzir-nos em erro e lisonjear as nossas paixões se, se trata de Espíritos imperfeitos.
As pessoas que vemos em sonho são verdadeiras visões. Se sonhamos mais frequentemente com as que preocupam a nossa mente, é que o pensamento é um modo de evocação e por ele nós chamamos a nós o Espírito dessas pessoas, sejam elas vivas ou mortas.
Seria uma injúria ao bom senso de nossos leitores refutar tudo quanto existe de absurdo e de ridículo naquilo que vulgarmente é apresentado como interpretação dos sonhos.
As aparições propriamente ditas dão-se em estado de vigília, quando gozamos da plenitude e da inteira liberdade de nossas faculdades. É incontestavelmente o gênero de manifestações mais adequado a excitar a curiosidade, mas é, também, o menos fácil de obter-se. Podem os Espíritos manifestar-se ostensivamente de vários modos: por vezes é sob forma de flamas ligeiras e de luares mais ou menos brilhantes, sem qualquer analogia, tanto pelo aspecto quanto pelas circunstâncias nas quais se produzem, com os fogos fátuo e outros fenômenos físicos cuja causa está perfeitamente demonstrada. Outras vezes tomam os traços de uma pessoa conhecida ou desconhecida, sobre cuja individualidade podemos iludir-nos, conforme as ideias de que estejamos imbuídos. É então uma imagem vaporosa, etérea, que não encontra qualquer obstáculo nos corpos sólidos. Os fatos desse gênero são numerosos. Mas antes de os atribuir à imaginação ou à charlatanice, devem levar-se em conta as circunstâncias em que os mesmos se produzem, a posição e, principalmente, o caráter do narrador.
Em certos casos a aparição se torna tangível, isto é, adquire momentaneamente e sob o império de certas circunstâncias, as propriedades da matéria sólida. Então não é mais pelos olhos que constatamos a realidade, mas pelo tato. Se se pudesse atribuir à ilusão ou a uma espécie de fascinação a aparição apenas visual, a dúvida já não seria permissível quando se pode tocar, pegar e apalpar, quando ela mesma nos agarra e nos abraça[2].
As pessoas que vemos em sonho são verdadeiras visões. Se sonhamos mais frequentemente com as que preocupam a nossa mente, é que o pensamento é um modo de evocação e por ele nós chamamos a nós o Espírito dessas pessoas, sejam elas vivas ou mortas.
Seria uma injúria ao bom senso de nossos leitores refutar tudo quanto existe de absurdo e de ridículo naquilo que vulgarmente é apresentado como interpretação dos sonhos.
As aparições propriamente ditas dão-se em estado de vigília, quando gozamos da plenitude e da inteira liberdade de nossas faculdades. É incontestavelmente o gênero de manifestações mais adequado a excitar a curiosidade, mas é, também, o menos fácil de obter-se. Podem os Espíritos manifestar-se ostensivamente de vários modos: por vezes é sob forma de flamas ligeiras e de luares mais ou menos brilhantes, sem qualquer analogia, tanto pelo aspecto quanto pelas circunstâncias nas quais se produzem, com os fogos fátuo e outros fenômenos físicos cuja causa está perfeitamente demonstrada. Outras vezes tomam os traços de uma pessoa conhecida ou desconhecida, sobre cuja individualidade podemos iludir-nos, conforme as ideias de que estejamos imbuídos. É então uma imagem vaporosa, etérea, que não encontra qualquer obstáculo nos corpos sólidos. Os fatos desse gênero são numerosos. Mas antes de os atribuir à imaginação ou à charlatanice, devem levar-se em conta as circunstâncias em que os mesmos se produzem, a posição e, principalmente, o caráter do narrador.
Em certos casos a aparição se torna tangível, isto é, adquire momentaneamente e sob o império de certas circunstâncias, as propriedades da matéria sólida. Então não é mais pelos olhos que constatamos a realidade, mas pelo tato. Se se pudesse atribuir à ilusão ou a uma espécie de fascinação a aparição apenas visual, a dúvida já não seria permissível quando se pode tocar, pegar e apalpar, quando ela mesma nos agarra e nos abraça[2].
[1] Vide o verbete Sonho no vocabulário.
[2] Vide na REVISTA ESPÍRITA, meses de março, abril e maio de 1858, a descrição e a explicação das manifestações desse gênero. Vide, também, trabalhos mais recentes de escritores espíritas e sua abundante documentação. N. do editor francês.
MANIFESTAÇÕES ESPONTÂNEAS
A maior parte dos fenômenos de que acabamos de falar, principalmente dos pertinentes ao gênero das manifestações físicas e aparentes, podem produzir-se espontaneamente, isto é, sem que a vontade neles tenha qualquer participação. Nas outras circunstâncias podem ser provocados pela vontade de pessoas ditas médiuns, para isso dotadas de um poder especial.
As manifestações espontâneas nem são raras nem novas. Rara é a crônica local que não encerre algum relato desse gênero. Sem dúvida o medo exagerou os fatos, que tomaram, assim, proporções gigantescamente ridículas, ao passar de boca em boca. Devido ao trabalho da superstição, as casas onde eles se passaram foram consideradas assombradas pelo diabo. Daí todos os contos maravilhosos ou terríveis dos fantasmas. Por outro lado o embuste não perdeu tão bela ocasião para explorar a credulidade, muitas vezes em proveito pessoal. Aliás, é compreensível, mesmo quando reduzido à realidade, a impressão causada por fatos desse gênero sobre os caracteres fracos e predispostos pela educação a idéias supersticiosas. O mais seguro meio de prevenir os inconvenientes que poderiam ter os mesmos - já que se não poderia impedi-los - é dar a conhecer a verdade. As mais simples coisas tornam-se apavorantes quando se lhes desconhecem as causas. Uma vez familiarizados com os Espíritos e desde que aqueles a quem eles se manifestam não creiam ter às costas uma legião de demônios, aqueles não mais os temerão.
As manifestações espontâneas se produzem muito raramente em lugares isolados. É quase sempre em casas habitadas que elas ocorrem, isto pelo fato da presença de certas pessoas que, mau grado seu, exercem uma certa influência. Tais pessoas são verdadeiros médiuns que ignoram suas próprias faculdades e que, por isso, os chamamos médiuns naturais. Eles são para os outros médiuns aquilo que os sonâmbulos naturais são para os sonâmbulos magnéticos e igualmente dignos de serem observados. É por isso que aconselhamos àqueles que se ocupam com os fenômenos espíritas a colher todos os fatos desse gênero que chegarem ao seu conhecimento, mas sobretudo a constatar a sua realidade cuidadosamente, a fim de evitar se-jam vítimas de ilusões e de fraudes, o que conseguirão por meio de uma observação atenta.
Devemos manter-nos em guarda não só contra as histórias que podem ser marcadas de exageros, mas contra as nossas próprias impressões e não atribuir uma origem oculta a tudo quanto não se compreenda. Uma infinidade de causas muito simples e muito naturais podem produzir efeitos estranhos à primeira vista; e seria verdadeira superstição ver em toda parte Espíritos ocupados em derrubar móveis, quebrar louça e, enfim, suscitar mil e uma complicações domésticas que seria mais racional levar à conta de descuidos.
O que é preciso fazer em casos semelhantes é procurar a causa; e há cem probabilidades contra uma de encontrarmos uma explicação muito simples onde parecia tratar-se de um Espírito perturbador. Quando ocorre um fenômeno inexplicável, o primeiro pensamento que se deve ter é que o mesmo seja devido a uma causa material, por ser a mais provável, e não admitir a intervenção dos Espíritos senão com conhecimento de causa. Por exemplo, aquele que, sem se aproximar de ninguém, recebesse um sopro ou uma bengalada nas costas, como tem acontecido, não poderia duvidar da presença de um ser invisível.
De todas as manifestações espíritas as mais simples e as mais freqüentes são os ruídos e os golpes vibrados. Aqui, sobretudo, é que se deve temer a ilusão, pois uma porção de causas naturais os podem produzir: o vento que sopra, ou agita um objeto, um objeto que movemos sem nos apercebermos, um efeito acústico, um animal escondido, um inseto, etc., por vezes, mesmo, uma traquinada de mau gosto. Aliás os ruídos espíritas têm um caráter particular, e afetam um timbre e uma intensidade muito variados, que os tornam facilmente reconhecíveis e não permitem sejam confundidos com o estalo da madeira que se dilata, o crepitar do fogo ou o tic-tac monótono de um relógio. São golpes ora surdos, distintos, por vezes barulhentos, que mudam de lugar e se repetem sem aquela regularidade mecânica. De todos os meios de controle o mais eficaz, o que não deixa dúvidas quanto à sua origem, é a obediência à vontade. Se os golpes se fazem ouvir num lugar determinado, se respondem ao pensamento pelo número e pela intensidade, não é possível negar a existência de uma causa inteligente; mas a falta de obediência nem sempre é prova em contrário.
Admitamos agora que, por uma constatação minuciosa, se adquira a certeza de que os ruídos ou quaisquer outros efeitos sejam manifestações reais. Será razoável ficar apavorado? Certo que não. Porque, em qualquer caso, não poderia haver o menor perigo. Só as pessoas persuadidas de que é o diabo e que podem ser afetadas prejudicialmente, como as crianças a quem metem medo com o Lobo-mau ou com o Tutu-marambá. Em certas circunstâncias essas manifestações adquirem proporções e uma persistência desagradáveis - é bom reconhecer e despertam o natural desejo de nos desembaraçarmos delas. Torna-se necessária uma explicação a respeito.
Temos dito que as manifestações físicas têm por fim chamar a nossa atenção para alguma coisa e convencer-nos da presença de uma força superior ao homem. Temos dito também, que os Espíritos elevados não se ocupam dessas espécies de manifestações: eles se servem dos Espíritos inferiores para as produzir, assim como nós nos servimos dos criados para as tarefas grosseiras, e com o objetivo que acabamos de indicar. Atingido o objetivo, cessa a manifestação material, por não mais ser necessária. Um dos dois exemplos darão bem a compreender. No começo de meus estudos sobre o Espiritismo, estando uma noite ocupado com um trabalho do gênero, golpes foram ouvidos em torno de mim, durante quatro horas consecutivas. Era a primeira vez que tal me acontecia. Constatei que eles não eram devidos a nenhuma causa acidental, mas no momento não foi possível saber mais do que isto. Nessa época eu tinha oportunidade de ver com freqüência um excelente médium psicógrafo. No dia seguinte interroguei o Espírito que se comunicava por seu intermédio sobre a causa daqueles golpes.
As manifestações espontâneas nem são raras nem novas. Rara é a crônica local que não encerre algum relato desse gênero. Sem dúvida o medo exagerou os fatos, que tomaram, assim, proporções gigantescamente ridículas, ao passar de boca em boca. Devido ao trabalho da superstição, as casas onde eles se passaram foram consideradas assombradas pelo diabo. Daí todos os contos maravilhosos ou terríveis dos fantasmas. Por outro lado o embuste não perdeu tão bela ocasião para explorar a credulidade, muitas vezes em proveito pessoal. Aliás, é compreensível, mesmo quando reduzido à realidade, a impressão causada por fatos desse gênero sobre os caracteres fracos e predispostos pela educação a idéias supersticiosas. O mais seguro meio de prevenir os inconvenientes que poderiam ter os mesmos - já que se não poderia impedi-los - é dar a conhecer a verdade. As mais simples coisas tornam-se apavorantes quando se lhes desconhecem as causas. Uma vez familiarizados com os Espíritos e desde que aqueles a quem eles se manifestam não creiam ter às costas uma legião de demônios, aqueles não mais os temerão.
As manifestações espontâneas se produzem muito raramente em lugares isolados. É quase sempre em casas habitadas que elas ocorrem, isto pelo fato da presença de certas pessoas que, mau grado seu, exercem uma certa influência. Tais pessoas são verdadeiros médiuns que ignoram suas próprias faculdades e que, por isso, os chamamos médiuns naturais. Eles são para os outros médiuns aquilo que os sonâmbulos naturais são para os sonâmbulos magnéticos e igualmente dignos de serem observados. É por isso que aconselhamos àqueles que se ocupam com os fenômenos espíritas a colher todos os fatos desse gênero que chegarem ao seu conhecimento, mas sobretudo a constatar a sua realidade cuidadosamente, a fim de evitar se-jam vítimas de ilusões e de fraudes, o que conseguirão por meio de uma observação atenta.
Devemos manter-nos em guarda não só contra as histórias que podem ser marcadas de exageros, mas contra as nossas próprias impressões e não atribuir uma origem oculta a tudo quanto não se compreenda. Uma infinidade de causas muito simples e muito naturais podem produzir efeitos estranhos à primeira vista; e seria verdadeira superstição ver em toda parte Espíritos ocupados em derrubar móveis, quebrar louça e, enfim, suscitar mil e uma complicações domésticas que seria mais racional levar à conta de descuidos.
O que é preciso fazer em casos semelhantes é procurar a causa; e há cem probabilidades contra uma de encontrarmos uma explicação muito simples onde parecia tratar-se de um Espírito perturbador. Quando ocorre um fenômeno inexplicável, o primeiro pensamento que se deve ter é que o mesmo seja devido a uma causa material, por ser a mais provável, e não admitir a intervenção dos Espíritos senão com conhecimento de causa. Por exemplo, aquele que, sem se aproximar de ninguém, recebesse um sopro ou uma bengalada nas costas, como tem acontecido, não poderia duvidar da presença de um ser invisível.
De todas as manifestações espíritas as mais simples e as mais freqüentes são os ruídos e os golpes vibrados. Aqui, sobretudo, é que se deve temer a ilusão, pois uma porção de causas naturais os podem produzir: o vento que sopra, ou agita um objeto, um objeto que movemos sem nos apercebermos, um efeito acústico, um animal escondido, um inseto, etc., por vezes, mesmo, uma traquinada de mau gosto. Aliás os ruídos espíritas têm um caráter particular, e afetam um timbre e uma intensidade muito variados, que os tornam facilmente reconhecíveis e não permitem sejam confundidos com o estalo da madeira que se dilata, o crepitar do fogo ou o tic-tac monótono de um relógio. São golpes ora surdos, distintos, por vezes barulhentos, que mudam de lugar e se repetem sem aquela regularidade mecânica. De todos os meios de controle o mais eficaz, o que não deixa dúvidas quanto à sua origem, é a obediência à vontade. Se os golpes se fazem ouvir num lugar determinado, se respondem ao pensamento pelo número e pela intensidade, não é possível negar a existência de uma causa inteligente; mas a falta de obediência nem sempre é prova em contrário.
Admitamos agora que, por uma constatação minuciosa, se adquira a certeza de que os ruídos ou quaisquer outros efeitos sejam manifestações reais. Será razoável ficar apavorado? Certo que não. Porque, em qualquer caso, não poderia haver o menor perigo. Só as pessoas persuadidas de que é o diabo e que podem ser afetadas prejudicialmente, como as crianças a quem metem medo com o Lobo-mau ou com o Tutu-marambá. Em certas circunstâncias essas manifestações adquirem proporções e uma persistência desagradáveis - é bom reconhecer e despertam o natural desejo de nos desembaraçarmos delas. Torna-se necessária uma explicação a respeito.
Temos dito que as manifestações físicas têm por fim chamar a nossa atenção para alguma coisa e convencer-nos da presença de uma força superior ao homem. Temos dito também, que os Espíritos elevados não se ocupam dessas espécies de manifestações: eles se servem dos Espíritos inferiores para as produzir, assim como nós nos servimos dos criados para as tarefas grosseiras, e com o objetivo que acabamos de indicar. Atingido o objetivo, cessa a manifestação material, por não mais ser necessária. Um dos dois exemplos darão bem a compreender. No começo de meus estudos sobre o Espiritismo, estando uma noite ocupado com um trabalho do gênero, golpes foram ouvidos em torno de mim, durante quatro horas consecutivas. Era a primeira vez que tal me acontecia. Constatei que eles não eram devidos a nenhuma causa acidental, mas no momento não foi possível saber mais do que isto. Nessa época eu tinha oportunidade de ver com freqüência um excelente médium psicógrafo. No dia seguinte interroguei o Espírito que se comunicava por seu intermédio sobre a causa daqueles golpes.
- “Foi teu Espírito familiar”, respondeu-me ele, "que deseja falar-te”.
- E o que desejava dizer-me?
- "Podes perguntar tu mesmo, pois que aqui se acha”.
Tendo interrogado esse Espírito, ele se deu a conhecer sob um nome alegórico. (Vim a saber posteriormente, através de outros Espíritos, que é o de um ilustre filósofo antigo). Assinalou erros em meu trabalho, indicando-me as linhas onde os mesmos se acharam; deu-me úteis e sábios conselhos e acrescentou que estaria sempre comigo e viria ao meu apelo sempre que eu quisesse interrogá-lo. Com efeito, desde então esse Espírito jamais me deixou. Deu-me inúmeras provas de grande superioridade e sua intervenção benévola e eficaz me foi manifesta tanto nos negócios da vida material quanto no que se refere às coisas metafísicas. Mas desde a nossa primeira conversa cessaram os golpes. Que queria ele realmente? Entrar em comunicação regular comigo. Para tanto era preciso advertir-me. Sem dúvida não foi ele em pessoa quem veio bater em minha casa; possivelmente mandou um emissário às suas ordens. Dada a advertência, depois explicada, estabeleceram-se relações regulares, os golpes tornaram-se inúteis e, por isso, cessaram.
Não se rufam os tambores para acordar os soldados, desde que eles já estejam de pé.
Um fato mais ou menos semelhante aconteceu a um de nossos amigos. Desde algum tempo em seu quarto soavam ruídos diversos, que se tornaram incômodos. Apresentando-se uma oportunidade de interrogar o Espírito de seu pai por um médium psicógrafo, ficou sabendo o que queriam, fez o que lhe era recomendado e desde então nada mais foi ouvido. É de notar-se que as pessoas que têm um meio regular de fácil comunicação com os Espíritos têm muito mais raramente manifestações desse gênero, o que é fácil de compreender-se.
Os Espíritos que se manifestam assim podem igualmente agir por conta própria. Por vezes são Espíritos sofredores que pedem assistência moral[1]. Quando podem traduzir seu pensamento de maneira mais inteligível, pedem essa assistência segundo a forma que lhes era familiar em vida; ou que está nas idéias e nos hábitos daqueles a quem se dirigem, pois pouco importa essa forma, de vez que a intenção vem do coração.
Em resumo, o meio de fazer cessar essas manifestações importunas é procurar entrar em comunicação inteligente com o Espírito que vem perturbar-nos, a fim de saber quem seja ele e o que quer de nós. Satisfeito o seu desejo, ele rios deixa em paz. É como alguém que bate a uma porta até que lha abram.
Não se rufam os tambores para acordar os soldados, desde que eles já estejam de pé.
Um fato mais ou menos semelhante aconteceu a um de nossos amigos. Desde algum tempo em seu quarto soavam ruídos diversos, que se tornaram incômodos. Apresentando-se uma oportunidade de interrogar o Espírito de seu pai por um médium psicógrafo, ficou sabendo o que queriam, fez o que lhe era recomendado e desde então nada mais foi ouvido. É de notar-se que as pessoas que têm um meio regular de fácil comunicação com os Espíritos têm muito mais raramente manifestações desse gênero, o que é fácil de compreender-se.
Os Espíritos que se manifestam assim podem igualmente agir por conta própria. Por vezes são Espíritos sofredores que pedem assistência moral[1]. Quando podem traduzir seu pensamento de maneira mais inteligível, pedem essa assistência segundo a forma que lhes era familiar em vida; ou que está nas idéias e nos hábitos daqueles a quem se dirigem, pois pouco importa essa forma, de vez que a intenção vem do coração.
Em resumo, o meio de fazer cessar essas manifestações importunas é procurar entrar em comunicação inteligente com o Espírito que vem perturbar-nos, a fim de saber quem seja ele e o que quer de nós. Satisfeito o seu desejo, ele rios deixa em paz. É como alguém que bate a uma porta até que lha abram.
- Que faz o doente que não tem médico? Passa sem ele.
Aqui temos um outro recurso. O doente não pode fazer-se médico, mas em dez pessoas nove podem ser médiuns psicógrafos. Então é procurar tornar-se médium, desde que não encontre um na família. Em falta de um médium escrevente, pode interrogar-se o Espírito diretamente e ele responderá ainda por pancadas, isto é, pelo número de golpes convencionados. Voltaremos ao assunto nos capítulos seguintes.
[1] Vide no vocabulário o verbete Prece.
[1] Vide no vocabulário o verbete Prece.
CAPÍTULO III
COMUNICAÇÕES ESPÍRITAS
Toda manifestação que revela uma intenção ou uma vontade é, por isso mesmo, conforme dissemos, inteligente num grau qualquer. É, pois, uma qualificação genérica, que distingue essas espécies de manifestações daquelas puramente materiais. Quando o desenvolvimento dessa inteligência permite uma troca continuada de ideias, obtêm-se comunicações regulares, cujo caráter permite julgar o Espírito que se manifesta. Segundo sua natureza e seu objetivo, serão elas frívolas, grosseiras, ou instrutivas[1]. Esta distinção é de grande importância, porque é por ela que os Espíritos nos revelam a sua superioridade ou a sua inferioridade. Conhecem-se os homens por sua linguagem: dá-se o mesmo com os Espíritos. Ora, quem quer que esteja bem compenetrado das qualidades distintivas de cada uma das classes da escala espírita, poderá sem dificuldade assinar a cada Espírito que se apresenta a classe que lhe convém, bem como o grau de estima e de confiança que merece. Se a experiência não viesse em apoio a esse principio, bastaria o simples bom senso para o demonstrar. Assim, estabelecemos como regra invariável e sem exceção que a linguagem dos Espíritos sempre está na razão de seu grau de elevação. O Espírito realmente superior é sempre grave, digno e nobre; sublime, quando o assunto o exige; não só dizem apenas coisas boas - dizem-no em termos que excluem de modo absoluto toda trivialidade. Por melhores que sejam as coisas, se elas forem manchadas por uma única expressão que denote baixeza, temos um sinal inconteste de inferioridade, com mais forte razão, se o conjunto da comunicação fere as conveniências por sua grosseria. A linguagem revela sempre a sua origem, quer pelo pensamento que traduz, quer pela forma que o reveste; assim, mesmo que um Espírito nos quisesse iludir quanto à sua pretensa superioridade, basta conversar um pouco com ele para lhe conhecer o estofo. O fato que se segue repetiu-se muitas vezes no curso de nossos longos e numerosos estudos. Entretínhamo-nos com um Espírito cujo caráter e linguagem nos eram conhecidos; um outro Espírito, mais ou menos elevado, achava-se presente; sem que ninguém o chamasse, meteu-se na conversa. Ora, antes que tivesse declinado o seu nome, a diferença de estilo tornou-se tão patente que cada um disse imediatamente: “Não é mais Fulano quem está falando”. Não é outro o modo de julgar entre os homens. Basta ouvi-las; não é necessário os ver. Suponhamos que na sala vizinha àquela em que estamos se encontrem várias pessoas que não conhecemos e não podemos ver; pela sua conversa poderemos julgar a todos e dizer se são gente rústica ou fina, ignorantes ou sábios, malfeitores ou gente honesta.
A bondade e a benevolência ainda são atributos essenciais dos Espíritos depurados: não têm ódio aos homens, nem aos outros Espíritos; lamentam as fraquezas, criticam os erros, mas sempre com moderação, sem azedume nem animosidade. Isto quanto à moral. Podemos igualmente julgá-las pela natureza de sua inteligência. Um Espírito pode ser bom, benevolente só ensinar o bem e ter conhecimentos limitados, porque nele o desenvolvimento ainda é incompleto. Não falamos dos Espíritos notoriamente inferiores: com estes seria uma perda de tempo pedir explicações sobre certas coisas; seria o mesmo que perguntar a um colegial o que pensa de Aristóteles ou do sistema do universo. Mas alguns há que, sob certos pontos de vista, parecem esclarecidos, ao passo que sobre outras questões acusam uma ignorância absoluta pelas mais absurdas heresias científicas. Este raciocinará muito sensatamente sobre um ponto, mas será desarrazoado sobre outro. É ainda como entre nós: um astrônomo é sábio no que concerne aos astros e pode ser muito ignorante em arquitetura, em música, em pintura, em agricultura, etc. Evidentemente tudo isto denota um desenvolvimento imperfeito, o que não quer dizer que se trate de um Espírito mau.
Para julgar os Espíritos, como para julgar os homens, é necessário, de saída, saber julgar-se a si próprio. Infelizmente há muita gente que toma a sua opinião pessoal como medida exclusiva do bom e do mau, do verdadeiro e do falso: tudo quanto contradiga a sua maneira de ver, as suas ideias, o sistema que conceberam ou adotaram, aos seus olhos é mau. Evidentemente a tais criaturas falta a primeira qualidade para uma sã apreciação - o reto julgamento. Mas elas nem o suspeitam. E isto é uma falta sobre a qual mais se iludem.
Geralmente se pensa que, interrogando o Espírito de um homem que na Terra foi cientista em certa especialidade, obter-se-á a verdade com mais segurança. Isto é lógico, mas nem sempre é verdadeiro. Demonstra a experiência que os cientistas, bem como os outros homens, sobretudo aqueles que recentemente deixaram a Terra, ainda se acham sob o império dos preconceitos da vida corpórea; não se desfazem imediatamente do espírito de sistema. Pode, pois, acontecer que, sob a influência das idéias que acariciaram em vida, e das quais fizeram um título de glória, vejam menos claro do que supomos. Não damos este princípio como regra absoluta; apenas dizemos que isto se vê e que, consequentemente, nem sempre sua ciência humana é urna prova da infalibilidade como Espírito. Aqueles que, como por vezes acontece, condenam, como Espíritos, as doutrinas que haviam sustentado como homens, dão assim uma prova de elevação. Regra geral: O Espírito é tanto menos perfeito quanto menos desprendido da matéria. Toda vez, pois, que se reconhece nele a persistência das ideias falsas que o preocupavam em vida, sejam elas de ordem física ou de ordem moral, temos um sinal infalível de que ele não está completamente desmaterializado.
A tenacidade das ideias terrenas é tanto maior quanto mais recente a morte. No momento da morte a alma se acha sempre num estado de perturbação, durante o qual apenas se reconhece; é um despertar incompleto. Suas constantes respostas são: Não sei onde estou; tudo é confuso para mim. Por vezes se lastimam por terem sido desorganizadas tão cedo; outras dizem cruamente que as deixem tranquilas e, conforme o caráter, exprimem esse pensamento em termos mais ou menos corteses. Muitos não creem que estejam mortos - principalmente os suplicados, os suicidas e, em geral, os que sofrem morte violenta: veem seu corpo; sabem que este lhes pertence e não compreendem que do mesmo se achem separados. Isto lhes causa espanto, é-lhes necessário algum tempo para se darem conta de sua nova situação. Assim, a evocação não pode ser feita nesse momento senão com o objetivo de estudo psicológico. Mas não é o caso de se lhes pedirem informações.
Este estado de confusão que pode ser comparado ao estado transitório do sono à vigília, persiste mais ou menos tempo. Temos visto alguns que se acham completamente desprendidos ao cabo de três ou quatro dias e outros que ainda não estavam depois de vários meses. Acompanha-se com interesse sua marcha progressiva; assiste-se, de certo modo, o despertar da alma; as perguntas que lhes são dirigidas, desde que feitas com certa medida, prudência, circunspecção e benevolência, os ajudam até a se desvencilharem. Se sofrem e nos apiedamos de sua dor, sentem-se aliviados. Quando a morte é natural, isto é, quando se dá pela extinção gradual das forças vitais, a alma já se acha em parte desligada antes da cessação completa da vida orgânica e se reconhece mais prontamente. Dá-se o mesmo com os homens que, em vida, se elevaram pelo pensamento acima das coisas materiais. Desde este mundo eles pertencem, de certo modo, ao mundo dos Espíritos; a passagem de um a outro se dá rapidamente e a perturbação é de curta duração.
Uma vez desprendida dos restos de sua roupagem corpórea, encontra-se a alma em seu estado normal de Espírito: só então é que pode ser julgada, por isso que se mostra verdadeiramente como é; suas qualidades e defeitos, suas imperfeições e preconceitos, suas prevenções e ideias falsas, mesquinhas ou ridículas, persistem sem modificação durante todo o período de sua vida errante, ainda que seja de mil anos; é-lhe necessário atravessar um novo crivo da vida corpórea a fim de aí deixar algumas de suas impurezas e elevar-se mais uns degraus. Vimos alguns que, depois de duzentos anos de vida errante, ainda tinham as manias e as pequenezas que se lhes conheciam em vida, ao passo que outros quase que imediatamente demonstram uma grande superioridade.
A propósito do estado de transição que acabamos de descrever, temos falado de Espíritos sofredores. Naturalmente perguntarão se esse momento é doloroso. Não entra no nosso plano abordar a questão do sofrimento dos Espíritos, nem, sobretudo, examinar a natureza desse sofrimento. Esta questão terá seu lugar na Revista[2]. Limitar-nos-emos, pois, a dizer que para o homem de bem, para aquele que dorme na paz de uma consciência pura e não teme nenhum olhar perscrutador, o despertar é sempre calmo, suave e pacífico; para aquele cuja consciência se acha carregada de erros, para o homem material que pôs todas as suas alegrias na satisfação de seu corpo, para aquele que mal aplicou os favores concedidos pela Providência, é terrível. Sim, esses Espíritos sofrem assim que deixam a vida; sofrem muito e esse sofrimento pode durar tanto quanto a sua vida errante. Tal sofrimento poderá ser apenas moral, mas nem por isso será menos pungente, porque nem sempre lhes é dado ver o seu termo. Sofrem até que um raio de esperança venha brilhar aos seus olhos, e essa esperança podemos fazê-la nascer em conversa com eles. Boas palavras, testemunhos de simpatia são para eles um alívio, para o que podem concorrer os bons Espíritos que chamamos em nosso auxílio, a fim de ajudar as nossas intenções.
Um suicida evocado pouco depois de sua morte nos descrevia as suas torturas.
A bondade e a benevolência ainda são atributos essenciais dos Espíritos depurados: não têm ódio aos homens, nem aos outros Espíritos; lamentam as fraquezas, criticam os erros, mas sempre com moderação, sem azedume nem animosidade. Isto quanto à moral. Podemos igualmente julgá-las pela natureza de sua inteligência. Um Espírito pode ser bom, benevolente só ensinar o bem e ter conhecimentos limitados, porque nele o desenvolvimento ainda é incompleto. Não falamos dos Espíritos notoriamente inferiores: com estes seria uma perda de tempo pedir explicações sobre certas coisas; seria o mesmo que perguntar a um colegial o que pensa de Aristóteles ou do sistema do universo. Mas alguns há que, sob certos pontos de vista, parecem esclarecidos, ao passo que sobre outras questões acusam uma ignorância absoluta pelas mais absurdas heresias científicas. Este raciocinará muito sensatamente sobre um ponto, mas será desarrazoado sobre outro. É ainda como entre nós: um astrônomo é sábio no que concerne aos astros e pode ser muito ignorante em arquitetura, em música, em pintura, em agricultura, etc. Evidentemente tudo isto denota um desenvolvimento imperfeito, o que não quer dizer que se trate de um Espírito mau.
Para julgar os Espíritos, como para julgar os homens, é necessário, de saída, saber julgar-se a si próprio. Infelizmente há muita gente que toma a sua opinião pessoal como medida exclusiva do bom e do mau, do verdadeiro e do falso: tudo quanto contradiga a sua maneira de ver, as suas ideias, o sistema que conceberam ou adotaram, aos seus olhos é mau. Evidentemente a tais criaturas falta a primeira qualidade para uma sã apreciação - o reto julgamento. Mas elas nem o suspeitam. E isto é uma falta sobre a qual mais se iludem.
Geralmente se pensa que, interrogando o Espírito de um homem que na Terra foi cientista em certa especialidade, obter-se-á a verdade com mais segurança. Isto é lógico, mas nem sempre é verdadeiro. Demonstra a experiência que os cientistas, bem como os outros homens, sobretudo aqueles que recentemente deixaram a Terra, ainda se acham sob o império dos preconceitos da vida corpórea; não se desfazem imediatamente do espírito de sistema. Pode, pois, acontecer que, sob a influência das idéias que acariciaram em vida, e das quais fizeram um título de glória, vejam menos claro do que supomos. Não damos este princípio como regra absoluta; apenas dizemos que isto se vê e que, consequentemente, nem sempre sua ciência humana é urna prova da infalibilidade como Espírito. Aqueles que, como por vezes acontece, condenam, como Espíritos, as doutrinas que haviam sustentado como homens, dão assim uma prova de elevação. Regra geral: O Espírito é tanto menos perfeito quanto menos desprendido da matéria. Toda vez, pois, que se reconhece nele a persistência das ideias falsas que o preocupavam em vida, sejam elas de ordem física ou de ordem moral, temos um sinal infalível de que ele não está completamente desmaterializado.
A tenacidade das ideias terrenas é tanto maior quanto mais recente a morte. No momento da morte a alma se acha sempre num estado de perturbação, durante o qual apenas se reconhece; é um despertar incompleto. Suas constantes respostas são: Não sei onde estou; tudo é confuso para mim. Por vezes se lastimam por terem sido desorganizadas tão cedo; outras dizem cruamente que as deixem tranquilas e, conforme o caráter, exprimem esse pensamento em termos mais ou menos corteses. Muitos não creem que estejam mortos - principalmente os suplicados, os suicidas e, em geral, os que sofrem morte violenta: veem seu corpo; sabem que este lhes pertence e não compreendem que do mesmo se achem separados. Isto lhes causa espanto, é-lhes necessário algum tempo para se darem conta de sua nova situação. Assim, a evocação não pode ser feita nesse momento senão com o objetivo de estudo psicológico. Mas não é o caso de se lhes pedirem informações.
Este estado de confusão que pode ser comparado ao estado transitório do sono à vigília, persiste mais ou menos tempo. Temos visto alguns que se acham completamente desprendidos ao cabo de três ou quatro dias e outros que ainda não estavam depois de vários meses. Acompanha-se com interesse sua marcha progressiva; assiste-se, de certo modo, o despertar da alma; as perguntas que lhes são dirigidas, desde que feitas com certa medida, prudência, circunspecção e benevolência, os ajudam até a se desvencilharem. Se sofrem e nos apiedamos de sua dor, sentem-se aliviados. Quando a morte é natural, isto é, quando se dá pela extinção gradual das forças vitais, a alma já se acha em parte desligada antes da cessação completa da vida orgânica e se reconhece mais prontamente. Dá-se o mesmo com os homens que, em vida, se elevaram pelo pensamento acima das coisas materiais. Desde este mundo eles pertencem, de certo modo, ao mundo dos Espíritos; a passagem de um a outro se dá rapidamente e a perturbação é de curta duração.
Uma vez desprendida dos restos de sua roupagem corpórea, encontra-se a alma em seu estado normal de Espírito: só então é que pode ser julgada, por isso que se mostra verdadeiramente como é; suas qualidades e defeitos, suas imperfeições e preconceitos, suas prevenções e ideias falsas, mesquinhas ou ridículas, persistem sem modificação durante todo o período de sua vida errante, ainda que seja de mil anos; é-lhe necessário atravessar um novo crivo da vida corpórea a fim de aí deixar algumas de suas impurezas e elevar-se mais uns degraus. Vimos alguns que, depois de duzentos anos de vida errante, ainda tinham as manias e as pequenezas que se lhes conheciam em vida, ao passo que outros quase que imediatamente demonstram uma grande superioridade.
A propósito do estado de transição que acabamos de descrever, temos falado de Espíritos sofredores. Naturalmente perguntarão se esse momento é doloroso. Não entra no nosso plano abordar a questão do sofrimento dos Espíritos, nem, sobretudo, examinar a natureza desse sofrimento. Esta questão terá seu lugar na Revista[2]. Limitar-nos-emos, pois, a dizer que para o homem de bem, para aquele que dorme na paz de uma consciência pura e não teme nenhum olhar perscrutador, o despertar é sempre calmo, suave e pacífico; para aquele cuja consciência se acha carregada de erros, para o homem material que pôs todas as suas alegrias na satisfação de seu corpo, para aquele que mal aplicou os favores concedidos pela Providência, é terrível. Sim, esses Espíritos sofrem assim que deixam a vida; sofrem muito e esse sofrimento pode durar tanto quanto a sua vida errante. Tal sofrimento poderá ser apenas moral, mas nem por isso será menos pungente, porque nem sempre lhes é dado ver o seu termo. Sofrem até que um raio de esperança venha brilhar aos seus olhos, e essa esperança podemos fazê-la nascer em conversa com eles. Boas palavras, testemunhos de simpatia são para eles um alívio, para o que podem concorrer os bons Espíritos que chamamos em nosso auxílio, a fim de ajudar as nossas intenções.
Um suicida evocado pouco depois de sua morte nos descrevia as suas torturas.
- Quanto tempo durará isto? perguntamos.
- “Nada sei; e é isto que me desespera”.
- “Isto durará até o termo natural de sua vida, voluntariamente interrompida”.
- “Obrigado”, disse o outro, “por isto que este que ai está me acaba de informar”.
Terminaremos este capítulo por uma observação essencial. O quadro que acabamos de traçar não resulta de uma teoria, ou de um sistema filosófico mais ou menos engenhoso. Tudo quanto dissemos foi recebido dos próprios Espíritos; eles é que foram interrogados e muitas vezes nos responderam de modo contrário às nossas anteriores convicções. Fizemos com os Espíritos o que um anatomista faria para investigar o corpo humano: levamos o escalpelo da investigação a inúmeros seres; não nos contentamos de fazê-los falar - sondamos todos os refolho de sua existência, tanto quanto nos era dado fazê-lo; seguimo-los desde o instante em que exalavam o último suspiro na vida corpórea até o momento em que a ela voltavam; estudamos a sua linguagem, seus costumes, seus hábitos, suas ideias e seus sentimentos, como o médico que escuta as pulsações do doente e nesta clínica moral onde todas as fases da vida espiritual passaram sob os nossos olhos, observamos e comparamos. Vimos de um lado, as chagas horríveis, mas do outro; também, grandes motivos de consolação. Ainda uma vez não fomos nós que imaginamos todas essas coisas: foram os Espíritos que a si mesmo se pintaram.
Ora, para quem quer que deseje entrar em contato com eles, importa bem conhecê-las, a fim de estar em condições de lhes apreciar a situação e de melhor compreender sua linguagem que, sem isto, poderia, às vezes, parecer contraditória. Por isso nos alongamos um tanto neste capítulo.
Ora, para quem quer que deseje entrar em contato com eles, importa bem conhecê-las, a fim de estar em condições de lhes apreciar a situação e de melhor compreender sua linguagem que, sem isto, poderia, às vezes, parecer contraditória. Por isso nos alongamos um tanto neste capítulo.
[1] Vide no vocabulário o verbete Comunicações.
[2] O autor refere-se à REVUE SPIRITE, de sua autoria, isto é, à Revista Espírita, que estamos traduzindo fielmente. N. do T.
Capítulo IV - Diferentes modos de comunicação
SEMATOLOGIA E TIPTOLOGIA
Primitivamente foi usada a mesa como meio de correspondência, unicamente por ser um objeto cômodo, pela facilidade, que se tem de sentar-se em sua volta e por ser o primeiro sobre o qual se produziram os movimentos que deram lugar à expressão burlesca de dança das mesas. Importa, porém, saber que uma mesa não tem maior influência no caso do que qualquer outro objeto ou móvel. Tomaremos o fenômeno em seu aspecto mais simples.
Se uma pessoa colocar as pontas dos dedos sobre a borda de um objeto circular, móvel, como, por exemplo, uma taça, um prato, um chapéu, um copo, etc.; e se, nessa situação, concentrar a vontade sobre o objeto a fim de fazê-lo mover-se, poderá acontecer que o mesmo objeto se agite num movimento de rotação, lento a princípio, depois cada vez mais rápido, a ponto de ser difícil acompanhá-lo. O objeto girará para a direita, ou para a esquerda, conforme a direção indicada pela pessoa, verbal ou mentalmente. Desde que se estabeleça a comunicação fluídica entre a pessoa e o objeto, pode este produzir o movimento sem contacto, por simples ação mental. Dissemos que isto pode acontecer, porque realmente não há certeza absoluta de sucesso. Certas pessoas são dotadas, a esse respeito, de uma força tal que o movimento se produz ao cabo de alguns segundos. Outras só o conseguem depois de cinco ou dez minutos. Enfim, outras absolutamente não o conseguem. Sem a experimentação não há diagnóstico possível para reconhecer a aptidão para produzir tal fenômeno. Nisso não entra a força física: pessoas frágeis e delicadas muitas vezes conseguem mais que homens vigorosos. É um ensaio que cada um pode fazer sem o menor perigo, posto que, às vezes; produza uma grande fadiga muscular e uma espécie de agitação febril.
Se a pessoa for dotada de uma força suficiente, ela só poderá fazer mover-se uma mesinha; às vezes, até, atuar sobre uma mesa pesada e maciça. Para isto, porém, é necessária uma força excepcional.
Para operar com mais segurança sobre uma mesa de certo peso, sentam-se diversas pessoas em seu redor; o número é indiferente; também não há necessidade de alternar os sexos, nem de estabelecer contado entre os dedos dos assistentes: basta pôr as pontas dos dedos estirados sobre a borda da mesa, como sobre o teclado do piano. Tudo isto é indiferente. Por outro lado, há condições essenciais mais difíceis de preencher: a concentração do pensamento de todos, visando obter um movimento num sentido ou em outro; um recolhimento e um silêncio absolutos e, sobretudo, uma grande paciência. O movimento Se opera por vezes em cinco ou dez minutos; mas por vezes é preciso resignar-se a uma espera de meia hora e até mais. Se depois de uma hora nada foi obtido, é inútil continuar.
Devemos acrescentar que certas pessoas são antipáticas18 a esse fenômeno e sua influência negativa pode exercer-se pelo fato de sua simples presença; outras são completamente neutras. Em geral quanto menos espectadores melhor, seja porque haverá menos chance de entre eles haver antipáticos, seja porque o silêncio e o recolhimento se tornam mais fáceis.
O fenômeno é sempre provocado por efeito da aptidão especial de algumas pessoas cuja força se acha multiplicada pelo número. Quando a força é bastante grande, a mesa não se limita a girar: agita-se, levanta-se, ergue-se num pé, balança-se como um navio e acaba erguendo-se do solo sem qualquer ponto de apoio.
Uma coisa admirável é que, seja qual for a inclinação da mesa, os objetos que se acham sobre ela se mantêm e nem mesmo a lâmpada sofre qualquer risco. Fato não menos singular é que, estando inclinada se apoiando sobre um pé só, pode oferecer uma resistência tal que o peso de uma pessoa não consiga baixá-la.
Quando se chega a produzir um movimento enérgico, o contado das mãos se torna desnecessário: as pessoas podem então afastar-se da mesa e ela se dirige para a direita, para a esquerda, para a frente, para trás, para esta ou aquela pessoa designada, eleva-se sobre um pé ou sobre outro, conforme a ordem que lhe é dada.
Até aqui esses fenômenos não denotam nenhum caráter essencialmente inteligente: nem por isso são menos dignos de observação, como produto de uma força desconhecida. Aliás são de natureza a convencer certas pessoas que não o seriam por meio de provas filosóficas. É o primeiro passo na ciência espírita, que conduz muito naturalmente aos meios de comunicação.
O mais simples de todos os meios é, como no homem privado da palavra ou da escrita, a linguagem dos sinais. Um Espírito pode comunicar seu pensamento pelo movimento de um objeto qualquer. Conhecemos alguém que se entretinha com seu Espírito familiar, aliás uma criatura a quem muito estimava, por meio do primeiro objeto que aparecesse: uma régua, uma faca para papel, encontrados à mesa de trabalho. Ele punha os dedos sobre o objeto e, depois de ter evocado esse Espírito, a régua se movia para a direita e para a esquerda, para dizer sim ou não, conforme convencionado, indicava números, etc. O mesmo resultado é obtido com uma mesa ou uma tripeça. Colocados os dedos em seu bordo, quer só, quer acompanhado, chamando-se um Espírito, se ele se apresentar e julgar conveniente revelar-se, a mesa se ergue, se abaixa, se agita, e por movimentos para a direita e para a esquerda, ou movimentos basculantes, responde afirmativa ou negativamente. Pela trepidação exprime alegria, impaciência e até cólera; por vezes cai violentamente ou se precipita sobre um dos assistentes, como se tivesse sido empurrada por mãos invisíveis; e nesse movimento pode reconhecer-se a expressão de um sentimento de afeição ou de antipatia. Um dos nossos amigos estava uma noite em seu salão, ocupado com manifestações desse gênero; recebeu uma carta; enquanto a lia, a tripeça avançou para ele, aproximando-se da carta, espontaneamente, sem que ninguém a influenciasse. Terminada a leitura ele foi colocar a carta sobre uma mesa do outro lado do salão; a tripeça o seguiu e foi precipitar-se sobre a carta. Concluiu ele, daí, que se achava presente um Espírito recém-chegado, simpático ao autor da carta e que queria comunicarse com ele. Tendo-o interrogado por meio da tripeça, as previsões se confirmaram. Eis o que chamamos sematologia, ou linguagem dos sinais.
A tiplologia, ou linguagem dos golpes vibrados oferece mais precisão. É obtida por dois modos diversos.
O primeiro, que chamamos tiptologia pelo movimento, consiste nos golpes dados pela própria mesa, com um de seus pés. Tais golpes podem responder sim ou não, conforme o seu número convencionado para exprimir uma ou outra resposta. Estas são, como bem se compreende, muito incompletas, sujeitas a enganos e pouco convincentes para os novatos, porque sempre podem ser atribuídas ao acaso.
A tiptologia íntima é produzida de modo inteiramente diverso. Já não é a mesa que bate: ela fica imóvel, mas os golpes ressoam na própria substância da madeira, da pedra ou de qualquer outro corpo e por vezes com bastante força para serem ouvidos na sala vizinha. Se se aplicar o ouvido ou a mão sobre uma parte qualquer da mesa, percebe-se a sua vibração dos pés ao tampo. Esse fenômeno é obtido tornando-se a mesma atitude, com a diferença que o movimento puro e simples pode ocorrer sem evocação, ao passo que, quanto a estes golpes, quase sempre é preciso apelar a um Espírito.
Nesses golpes se reconhece a intervenção de uma inteligência, por isso que eles obedecem ao pensamento. Assim, conforme o desejo expresso verbalmente ou mesmo mentalmente, eles mudam de lugar, fazem-se ouvir junto a uma determinada pessoa, fazem a volta da mesa, soam mais forte ou mais fracamente, imitam o eco, o ruído da serra, do martelo, do tambor, a descarga de fuzilaria, marcam o compasso de uma determinada música, indicam a hora, o número das pessoas presentes, etc., ou, ainda, deixam a mesa e vão-se fazer ouvir na parede, na porta, num ponto convencionado; enfim, respondem sim ou não às perguntas que lhes são dirigidas. Tais experiências são antes um objeto de curiosidade, pois não comportam comunicações sérias. Os Espíritos que se manifestam assim, em geral pertencem a uma ordem inferior. Os Espíritos sérios não se prestam a essa exibição de força como, entre nós, os homens respeitáveis não se prestam às palhaçadas dos saltimbancos. Quando interrogados a respeito, assim respondem: “Porventura entre vós são os homens superiores que fazem os ursos dançar?”
Oferece-nos a tiptologia alfabética um meio de correspondência mais fácil e mais completo. Consiste na designação das letras do alfabeto por um número de golpes correspondente à ordem numérica de cada letra, e desta maneira, formam-se palavras e frases. Contudo o processo, por sua lentidão, tem o grande inconveniente de não se prestar a desenvolvimentos de certa extensão. Assim, é ele abreviado numa porção de casos. Muitas vezes basta conhecer as primeiras letras de uma palavra para adivinhá-la e, então, não se deixa acabá-la. Na dúvida, pergunta-se se é a palavra que se supõe e o Espírito responderá sim ou não, pelos sinais convencionais.
A tiptologia alfabética pode obter-se pelos dois modos que acabamos de indicar: os golpes vibrados pela mesa e os que se fazem ouvir na substância de um corpo sólido. Para as comunicações um pouco sérias preferimos o primeiro processo por duas razões: uma é que, de certo modo, ele é mais manejável e há um maior número de pessoas com essa aptidão; o outro diz com a natureza dos Espíritos. Na tiptologia íntima os Espíritos que se manifestam são, em geral, os chamados Espíritos batedores: levianos, por vezes muito divertidos, mas sempre ignorantes. Podem ser agentes de Espíritos sérios, conforme as circunstâncias, mas em geral agem espontaneamente e por conta própria. Ao passo que a experiência prova que Os Espíritos das outras ordens se comunicam melhor pelo movimento.
Em todo caso, a tiptologia alfabética é um modo de comunicação de que os Espíritos superiores se servem a contra-gosto e apenas em falta de um melhor. Eles preferem os que se prestam à rapidez do pensamento, e devido a essa lentidão, que os impacienta, abreviam suas respostas. Eles já acham a nossa linguagem muito lenta e, com mais forte razão, quando o processo lhe agrava a lentidão.
Se uma pessoa colocar as pontas dos dedos sobre a borda de um objeto circular, móvel, como, por exemplo, uma taça, um prato, um chapéu, um copo, etc.; e se, nessa situação, concentrar a vontade sobre o objeto a fim de fazê-lo mover-se, poderá acontecer que o mesmo objeto se agite num movimento de rotação, lento a princípio, depois cada vez mais rápido, a ponto de ser difícil acompanhá-lo. O objeto girará para a direita, ou para a esquerda, conforme a direção indicada pela pessoa, verbal ou mentalmente. Desde que se estabeleça a comunicação fluídica entre a pessoa e o objeto, pode este produzir o movimento sem contacto, por simples ação mental. Dissemos que isto pode acontecer, porque realmente não há certeza absoluta de sucesso. Certas pessoas são dotadas, a esse respeito, de uma força tal que o movimento se produz ao cabo de alguns segundos. Outras só o conseguem depois de cinco ou dez minutos. Enfim, outras absolutamente não o conseguem. Sem a experimentação não há diagnóstico possível para reconhecer a aptidão para produzir tal fenômeno. Nisso não entra a força física: pessoas frágeis e delicadas muitas vezes conseguem mais que homens vigorosos. É um ensaio que cada um pode fazer sem o menor perigo, posto que, às vezes; produza uma grande fadiga muscular e uma espécie de agitação febril.
Se a pessoa for dotada de uma força suficiente, ela só poderá fazer mover-se uma mesinha; às vezes, até, atuar sobre uma mesa pesada e maciça. Para isto, porém, é necessária uma força excepcional.
Para operar com mais segurança sobre uma mesa de certo peso, sentam-se diversas pessoas em seu redor; o número é indiferente; também não há necessidade de alternar os sexos, nem de estabelecer contado entre os dedos dos assistentes: basta pôr as pontas dos dedos estirados sobre a borda da mesa, como sobre o teclado do piano. Tudo isto é indiferente. Por outro lado, há condições essenciais mais difíceis de preencher: a concentração do pensamento de todos, visando obter um movimento num sentido ou em outro; um recolhimento e um silêncio absolutos e, sobretudo, uma grande paciência. O movimento Se opera por vezes em cinco ou dez minutos; mas por vezes é preciso resignar-se a uma espera de meia hora e até mais. Se depois de uma hora nada foi obtido, é inútil continuar.
Devemos acrescentar que certas pessoas são antipáticas18 a esse fenômeno e sua influência negativa pode exercer-se pelo fato de sua simples presença; outras são completamente neutras. Em geral quanto menos espectadores melhor, seja porque haverá menos chance de entre eles haver antipáticos, seja porque o silêncio e o recolhimento se tornam mais fáceis.
O fenômeno é sempre provocado por efeito da aptidão especial de algumas pessoas cuja força se acha multiplicada pelo número. Quando a força é bastante grande, a mesa não se limita a girar: agita-se, levanta-se, ergue-se num pé, balança-se como um navio e acaba erguendo-se do solo sem qualquer ponto de apoio.
Uma coisa admirável é que, seja qual for a inclinação da mesa, os objetos que se acham sobre ela se mantêm e nem mesmo a lâmpada sofre qualquer risco. Fato não menos singular é que, estando inclinada se apoiando sobre um pé só, pode oferecer uma resistência tal que o peso de uma pessoa não consiga baixá-la.
Quando se chega a produzir um movimento enérgico, o contado das mãos se torna desnecessário: as pessoas podem então afastar-se da mesa e ela se dirige para a direita, para a esquerda, para a frente, para trás, para esta ou aquela pessoa designada, eleva-se sobre um pé ou sobre outro, conforme a ordem que lhe é dada.
Até aqui esses fenômenos não denotam nenhum caráter essencialmente inteligente: nem por isso são menos dignos de observação, como produto de uma força desconhecida. Aliás são de natureza a convencer certas pessoas que não o seriam por meio de provas filosóficas. É o primeiro passo na ciência espírita, que conduz muito naturalmente aos meios de comunicação.
O mais simples de todos os meios é, como no homem privado da palavra ou da escrita, a linguagem dos sinais. Um Espírito pode comunicar seu pensamento pelo movimento de um objeto qualquer. Conhecemos alguém que se entretinha com seu Espírito familiar, aliás uma criatura a quem muito estimava, por meio do primeiro objeto que aparecesse: uma régua, uma faca para papel, encontrados à mesa de trabalho. Ele punha os dedos sobre o objeto e, depois de ter evocado esse Espírito, a régua se movia para a direita e para a esquerda, para dizer sim ou não, conforme convencionado, indicava números, etc. O mesmo resultado é obtido com uma mesa ou uma tripeça. Colocados os dedos em seu bordo, quer só, quer acompanhado, chamando-se um Espírito, se ele se apresentar e julgar conveniente revelar-se, a mesa se ergue, se abaixa, se agita, e por movimentos para a direita e para a esquerda, ou movimentos basculantes, responde afirmativa ou negativamente. Pela trepidação exprime alegria, impaciência e até cólera; por vezes cai violentamente ou se precipita sobre um dos assistentes, como se tivesse sido empurrada por mãos invisíveis; e nesse movimento pode reconhecer-se a expressão de um sentimento de afeição ou de antipatia. Um dos nossos amigos estava uma noite em seu salão, ocupado com manifestações desse gênero; recebeu uma carta; enquanto a lia, a tripeça avançou para ele, aproximando-se da carta, espontaneamente, sem que ninguém a influenciasse. Terminada a leitura ele foi colocar a carta sobre uma mesa do outro lado do salão; a tripeça o seguiu e foi precipitar-se sobre a carta. Concluiu ele, daí, que se achava presente um Espírito recém-chegado, simpático ao autor da carta e que queria comunicarse com ele. Tendo-o interrogado por meio da tripeça, as previsões se confirmaram. Eis o que chamamos sematologia, ou linguagem dos sinais.
A tiplologia, ou linguagem dos golpes vibrados oferece mais precisão. É obtida por dois modos diversos.
O primeiro, que chamamos tiptologia pelo movimento, consiste nos golpes dados pela própria mesa, com um de seus pés. Tais golpes podem responder sim ou não, conforme o seu número convencionado para exprimir uma ou outra resposta. Estas são, como bem se compreende, muito incompletas, sujeitas a enganos e pouco convincentes para os novatos, porque sempre podem ser atribuídas ao acaso.
A tiptologia íntima é produzida de modo inteiramente diverso. Já não é a mesa que bate: ela fica imóvel, mas os golpes ressoam na própria substância da madeira, da pedra ou de qualquer outro corpo e por vezes com bastante força para serem ouvidos na sala vizinha. Se se aplicar o ouvido ou a mão sobre uma parte qualquer da mesa, percebe-se a sua vibração dos pés ao tampo. Esse fenômeno é obtido tornando-se a mesma atitude, com a diferença que o movimento puro e simples pode ocorrer sem evocação, ao passo que, quanto a estes golpes, quase sempre é preciso apelar a um Espírito.
Nesses golpes se reconhece a intervenção de uma inteligência, por isso que eles obedecem ao pensamento. Assim, conforme o desejo expresso verbalmente ou mesmo mentalmente, eles mudam de lugar, fazem-se ouvir junto a uma determinada pessoa, fazem a volta da mesa, soam mais forte ou mais fracamente, imitam o eco, o ruído da serra, do martelo, do tambor, a descarga de fuzilaria, marcam o compasso de uma determinada música, indicam a hora, o número das pessoas presentes, etc., ou, ainda, deixam a mesa e vão-se fazer ouvir na parede, na porta, num ponto convencionado; enfim, respondem sim ou não às perguntas que lhes são dirigidas. Tais experiências são antes um objeto de curiosidade, pois não comportam comunicações sérias. Os Espíritos que se manifestam assim, em geral pertencem a uma ordem inferior. Os Espíritos sérios não se prestam a essa exibição de força como, entre nós, os homens respeitáveis não se prestam às palhaçadas dos saltimbancos. Quando interrogados a respeito, assim respondem: “Porventura entre vós são os homens superiores que fazem os ursos dançar?”
Oferece-nos a tiptologia alfabética um meio de correspondência mais fácil e mais completo. Consiste na designação das letras do alfabeto por um número de golpes correspondente à ordem numérica de cada letra, e desta maneira, formam-se palavras e frases. Contudo o processo, por sua lentidão, tem o grande inconveniente de não se prestar a desenvolvimentos de certa extensão. Assim, é ele abreviado numa porção de casos. Muitas vezes basta conhecer as primeiras letras de uma palavra para adivinhá-la e, então, não se deixa acabá-la. Na dúvida, pergunta-se se é a palavra que se supõe e o Espírito responderá sim ou não, pelos sinais convencionais.
A tiptologia alfabética pode obter-se pelos dois modos que acabamos de indicar: os golpes vibrados pela mesa e os que se fazem ouvir na substância de um corpo sólido. Para as comunicações um pouco sérias preferimos o primeiro processo por duas razões: uma é que, de certo modo, ele é mais manejável e há um maior número de pessoas com essa aptidão; o outro diz com a natureza dos Espíritos. Na tiptologia íntima os Espíritos que se manifestam são, em geral, os chamados Espíritos batedores: levianos, por vezes muito divertidos, mas sempre ignorantes. Podem ser agentes de Espíritos sérios, conforme as circunstâncias, mas em geral agem espontaneamente e por conta própria. Ao passo que a experiência prova que Os Espíritos das outras ordens se comunicam melhor pelo movimento.
Em todo caso, a tiptologia alfabética é um modo de comunicação de que os Espíritos superiores se servem a contra-gosto e apenas em falta de um melhor. Eles preferem os que se prestam à rapidez do pensamento, e devido a essa lentidão, que os impacienta, abreviam suas respostas. Eles já acham a nossa linguagem muito lenta e, com mais forte razão, quando o processo lhe agrava a lentidão.
PSICOGRAFIA
Como todas as outras ciências, a ciência espírita progrediu e mais rapidamente que aquelas: apenas alguns anos nos separam desses meios primitivos e incompletos que eram trivialmente chamados as mesas falantes; já hoje é possível comunicarmo-nos com os Espíritos tão facilmente e tão rapidamente quanto entre os homens, e pelos mesmos meios: a escrita e a palavra. Sobretudo a escrita tem a vantagem de acusar mais materialmente a intervenção de uma força oculta e de deixar traços que podemos conservar, como fazemos com a nossa própria correspondência. O primeiro meio empregado foi o das pranchetas e das cestas, munidas de um lápis, meios indicados pelos próprios Espíritos.
Eis a Sua disposição.
No começo deste capítulo dissemos que uma pessoa dotada de uma aptidão especial pode imprimir um movimento de rotação a um objeto qualquer. Tomemos, por exemplo, uma pequena cesta de quinze a vinte centímetros de diâmetro (não importando que seja de madeira ou de vime, pois a substância é indiferente). Se então fizermos passar um lápis pelo seu fundo, fixando-o bem, com a ponta para fora e para baixo, e se mantivermos o conjunto equilibrado sobre a ponta do lápis, colocada sobre uma folha de papel, pondo os dedos sobre a cesta, esta tomará movimento. Mas, em vez de girar como um pião, passeará o lápis em vários sentidos sobre o papel, de maneira a formar traços sem significação ou letras. Se um Espírito for evocado e quiser comunicar-se, responderá, já não pelo sim ou pelo não, mas por palavras e frases completas.
Em tal dispositivo, ao chegar ao fim da linha, o lápis não voltará sobre si mesmo para escrever nova linha: continuará circularmente, de modo que a linha escrita formará uma espiral, o que exige que se faça girar a folha de papel, a fim de ler o que está escrito.
Nem sempre é legível a escrita assim obtida, pois as palavras não ficam separadas; mas o médium, por uma espécie de intuição, as decifra facilmente. Por uma questão de economia, pode substituir-se o papel e o lápis pela ardósia e lápis adequado. Designaremos esta cesta pelo nome de cesta-pitorra.
Vários outros dispositivos foram imaginados, visando atingir o mesmo objetivo. A mais cômoda é a que chamaremos cesta de bico e que consiste em adaptar a uma cesta uma haste de madeira inclinada, com uma saliência de dez a quinze centímetros de um lado, na posição do mastro de proa (gurupé). Por um furo feito na ponta da haste ou bico faz-se passar um lápis suficientemente grande para que a sua ponta repouse sobre o papel. Pondo o médium os dedos sobre a cesta, todo o aparelho se agita e o lápis escreve como no caso anterior, com a diferença que a escrita é em geral mais legível, as palavras separadas e as linhas não são mais em espiral - seguem como na escrita comum e o lápis passa por si mesmo de uma a outra linha. Assim se obtêm dissertações de várias páginas, tão rapidamente quanto se fossem escritas à mão.
A inteligência que age muitas vezes se manifesta por outros sinais inequívocos. Chegando ao fim da página espontaneamente o lápis faz um movimento para voltá-la; se quer referir-se a uma passagem anterior, na mesma página ou em precedente, ela a procura com a ponta do lápis, como faríamos com os olhos, depois a sublinha. Se o Espírito quer dirigir-se a um dos presentes, para ele se volta a ponta da haste. Em resumo, ele exprime muitas vezes o sim e o não por sinais de afirmação ou de negação que fazemos com a cabeça. De todos os processos empregados este é o que dá a mais variada escrita, conforme ao Espírito que se manifesta e, muitas vezes, uma escrita semelhante à que tinha em vida, caso tenha deixado a Terra há pouco tempo.
Em vez da cesta algumas pessoas se servem de uma espécie de pequena mesa feita especialmente, de doze a quinze centímetros de comprimento por cinco a seis de altura, com três pés, dos quais um munido de lápis. Outras se servem apenas de uma prancheta sem pés. Num de seus bordos há um furo para colocar o lápis. Posta para escrever, ela se acha inclinada e se apoia sobre o papel por um de seus lados. Aliás compreende-se que todas as disposições nada têm de absoluto: a mais cômoda é a melhor.
Com todos esses aparelhos quase sempre são necessárias duas pessoas. Mas não é preciso que a segunda seja dotada de mediunidade, pois que seu papel apenas é o de manter o equilíbrio e diminuir a fadiga do médium.
Chamamos psicografia indireta a escrita assim obtida, em oposição à psicografia direta ou escrita obtida pela própria mão do médium. Para compreender esse último processo é necessário dar-se conta do que se passa nessa operação. O Espírito estranho que se manifesta age sobre o médium; este, sob a sua influência, dirige maquinalmente o braço e a mão para escrever, sem que, pelo menos no caso mais comum, tenha a menor consciência do que escreve. A mão age sobre a cesta e esta sobre o lápis. Assim, não é a cesta que se torna inteligente: é um instrumento dirigido por uma inteligência; na realidade, não passa de um porta-lápis, de um apêndice da mão, um intermediário inerte entre a mão e o lápis. Suprima-se esse intermediário e coloque-se o lápis na mão e ter-se-á o mesmo resultado, com um mecanismo muito mais simples, pois que o médium escreve como o faria em condições normais. Assim, toda pessoa que escreve por meio da cesta, da prancheta ou de outro objeto, pode escrever diretamente. De todos os meios de comunicação é indubitavelmente o mais simples, o mais fácil e o mais cômodo, porque não exige qualquer preparação e, como a escrita comum, se presta aos mais extensos desenvolvimentos. Voltaremos ao assunto quando falarmos dos médiuns.
A pneumatografia é a escrita direta dos Espíritos. Quando esse fenômeno apareceu pela primeira vez - ao menos em nosso tempo, pois nada prova que não tenha sido conhecido na Idade Média, bem como todos os outros gêneros de manifestações - levantou dúvidas muito naturais. Hoje, porém, é um fato inconteste. Alguém muito digno de fé afirmou-nos que um cônego amigo de seus pais, de parceria com o Abade Faria, obtinha esse gênero de escrita em Paris, desde o ano de 1804. O Barão de Guldenstubbe acaba de publicar a respeito uma obra muito interessante, acompanhada de numerosos autógrafos dessa escrita. De certo modo foi ele quem a pôs em evidência e muitas outras pessoas, depois dele, têm obtido os mesmos resultados. A princípio foi colocada uma folha de papel e um lápis sobre um túmulo, sob a estátua ou o retrato de uma pessoa qualquer; no dia seguinte, por vezes apenas algumas horas depois, sobre o papel aparecia um nome, uma sentença, quando não alguns sinais ininteligíveis.. É evidente que nem o túmulo, nem a estátua ou o retrato tinham diretamente qualquer influência por si mesmos: era simplesmente um meio de evocação pelo pensamento. Agora contentamo-nos com deixar o papel, com ou sem lápis, numa gaveta ou numa caixa, que podem ser fechadas a chave, tomando todas as precauções necessárias a fim de evitar toda fraude e obteremos o mesmo resultado evocando o Espírito.
Inquestionavelmente este fenômeno é um dos mais extraordinários que apresentam as manifestações espíritas e um dos que atestam de maneira peremptória a intervenção de uma inteligência oculta; mas não poderia substituir a psicografia, pelo menos até agora, para os desenvolvimentos que certos assuntos comportam. Assim também se obtém a expressão de um pensamento espontâneo, mas parece que se presta mais dificilmente a entretenimento e a uma rápida troca de ideias que comporta outro meio. Aliás este modo é de obtenção mais rara, ao passo que os médiuns escreventes são muito numerosos.
A princípio parece difícil darmos conta de um fato tão anormal. Não cabe no nosso plano desenvolvê-lo aqui, porque seria preciso remontar às fontes de outros fenômenos dos quais é consequência. A explicação completa será encontrada na REVISTA ESPÍRITA e ver-se-á que, por uma dedução lógica, a ele se chega como a um resultado muito natural.
Enfim os Espíritos nos transmitem seu pensamento pela voz de certos médiuns dotados para tanto de uma faculdade especial, que denominamos psicofonia. Esse meio tem todas as vantagens de psicografia pela rapidez e extensão dos desenvolvimentos. Ele agrada muito aos Espíritos superiores, mas talvez tenha, para as pessoas que duvidam, o inconveniente de não acusar de modo muito evidente a intervenção de uma inteligência estranha. Convém, sobretudo, aos que, já suficientemente edificados sobre a realidade dos fatos, dele se servem para a complementação de seus estudos e não necessitam aumentar a sua convicção.
Acabamos de esboçar os diversos meios de comunicação direta com os espíritos. Designamo-los por nomes característicos, que lhes abarcam todas as variedades e, até, todas as nuanças, assim permitindo que melhor se os entendam do que por perífrases, que nada têm de fixo nem de metódico. No princípio das manifestações, quando a respeito as idéias eram menos precisas, foram publicados vários escritos com estas denominações: Comunicações de uma cesta, por uma prancheta, pelas mesas falantes, etc. Hoje compreende-se tudo quanto essas expressões encerram de insuficiente e de errôneo, abstração feita de seu caráter pouco sério. Com efeito, como acabamos de ver, as mesas, pranchetas e cestas não passam de instrumentos inertes, que nada podem comunicar por si mesmos. Nisso tomam o efeito pela causa, o instrumento pelo principio. Seria o mesmo para um autor declarar no titulo de uma obra que a tinha escrito com uma pena metálica ou com uma pena de pato. Esses instrumentos aliás não são absolutos: conhecemos alguém que, em vez da cesta-pitorra, já descrita, servia-se de um funil, por cujo bico passava um lápis. Assim, poder-se-iam ter tido comunicações de um funil, tanto quanto de uma caçarola ou uma saladeira. Se elas se dão por meio de golpes, e se estes são dados por uma cadeira ou por uma bengala, já não é mais uma mesa falante, mas uma cadeira ou uma bengala falante. O que importa conhecer não é a natureza do instrumento, mas o modo de obtenção. Se a comunicação se dá pela escrita, seja qual for o porta-lápis, é para nós psicografia. Se por batidas, é tiptologia. Tomando as proporções de uma ciência, o Espiritismo necessita de uma linguagem científica.
Eis a Sua disposição.
No começo deste capítulo dissemos que uma pessoa dotada de uma aptidão especial pode imprimir um movimento de rotação a um objeto qualquer. Tomemos, por exemplo, uma pequena cesta de quinze a vinte centímetros de diâmetro (não importando que seja de madeira ou de vime, pois a substância é indiferente). Se então fizermos passar um lápis pelo seu fundo, fixando-o bem, com a ponta para fora e para baixo, e se mantivermos o conjunto equilibrado sobre a ponta do lápis, colocada sobre uma folha de papel, pondo os dedos sobre a cesta, esta tomará movimento. Mas, em vez de girar como um pião, passeará o lápis em vários sentidos sobre o papel, de maneira a formar traços sem significação ou letras. Se um Espírito for evocado e quiser comunicar-se, responderá, já não pelo sim ou pelo não, mas por palavras e frases completas.
Em tal dispositivo, ao chegar ao fim da linha, o lápis não voltará sobre si mesmo para escrever nova linha: continuará circularmente, de modo que a linha escrita formará uma espiral, o que exige que se faça girar a folha de papel, a fim de ler o que está escrito.
Nem sempre é legível a escrita assim obtida, pois as palavras não ficam separadas; mas o médium, por uma espécie de intuição, as decifra facilmente. Por uma questão de economia, pode substituir-se o papel e o lápis pela ardósia e lápis adequado. Designaremos esta cesta pelo nome de cesta-pitorra.
Vários outros dispositivos foram imaginados, visando atingir o mesmo objetivo. A mais cômoda é a que chamaremos cesta de bico e que consiste em adaptar a uma cesta uma haste de madeira inclinada, com uma saliência de dez a quinze centímetros de um lado, na posição do mastro de proa (gurupé). Por um furo feito na ponta da haste ou bico faz-se passar um lápis suficientemente grande para que a sua ponta repouse sobre o papel. Pondo o médium os dedos sobre a cesta, todo o aparelho se agita e o lápis escreve como no caso anterior, com a diferença que a escrita é em geral mais legível, as palavras separadas e as linhas não são mais em espiral - seguem como na escrita comum e o lápis passa por si mesmo de uma a outra linha. Assim se obtêm dissertações de várias páginas, tão rapidamente quanto se fossem escritas à mão.
A inteligência que age muitas vezes se manifesta por outros sinais inequívocos. Chegando ao fim da página espontaneamente o lápis faz um movimento para voltá-la; se quer referir-se a uma passagem anterior, na mesma página ou em precedente, ela a procura com a ponta do lápis, como faríamos com os olhos, depois a sublinha. Se o Espírito quer dirigir-se a um dos presentes, para ele se volta a ponta da haste. Em resumo, ele exprime muitas vezes o sim e o não por sinais de afirmação ou de negação que fazemos com a cabeça. De todos os processos empregados este é o que dá a mais variada escrita, conforme ao Espírito que se manifesta e, muitas vezes, uma escrita semelhante à que tinha em vida, caso tenha deixado a Terra há pouco tempo.
Em vez da cesta algumas pessoas se servem de uma espécie de pequena mesa feita especialmente, de doze a quinze centímetros de comprimento por cinco a seis de altura, com três pés, dos quais um munido de lápis. Outras se servem apenas de uma prancheta sem pés. Num de seus bordos há um furo para colocar o lápis. Posta para escrever, ela se acha inclinada e se apoia sobre o papel por um de seus lados. Aliás compreende-se que todas as disposições nada têm de absoluto: a mais cômoda é a melhor.
Com todos esses aparelhos quase sempre são necessárias duas pessoas. Mas não é preciso que a segunda seja dotada de mediunidade, pois que seu papel apenas é o de manter o equilíbrio e diminuir a fadiga do médium.
Chamamos psicografia indireta a escrita assim obtida, em oposição à psicografia direta ou escrita obtida pela própria mão do médium. Para compreender esse último processo é necessário dar-se conta do que se passa nessa operação. O Espírito estranho que se manifesta age sobre o médium; este, sob a sua influência, dirige maquinalmente o braço e a mão para escrever, sem que, pelo menos no caso mais comum, tenha a menor consciência do que escreve. A mão age sobre a cesta e esta sobre o lápis. Assim, não é a cesta que se torna inteligente: é um instrumento dirigido por uma inteligência; na realidade, não passa de um porta-lápis, de um apêndice da mão, um intermediário inerte entre a mão e o lápis. Suprima-se esse intermediário e coloque-se o lápis na mão e ter-se-á o mesmo resultado, com um mecanismo muito mais simples, pois que o médium escreve como o faria em condições normais. Assim, toda pessoa que escreve por meio da cesta, da prancheta ou de outro objeto, pode escrever diretamente. De todos os meios de comunicação é indubitavelmente o mais simples, o mais fácil e o mais cômodo, porque não exige qualquer preparação e, como a escrita comum, se presta aos mais extensos desenvolvimentos. Voltaremos ao assunto quando falarmos dos médiuns.
A pneumatografia é a escrita direta dos Espíritos. Quando esse fenômeno apareceu pela primeira vez - ao menos em nosso tempo, pois nada prova que não tenha sido conhecido na Idade Média, bem como todos os outros gêneros de manifestações - levantou dúvidas muito naturais. Hoje, porém, é um fato inconteste. Alguém muito digno de fé afirmou-nos que um cônego amigo de seus pais, de parceria com o Abade Faria, obtinha esse gênero de escrita em Paris, desde o ano de 1804. O Barão de Guldenstubbe acaba de publicar a respeito uma obra muito interessante, acompanhada de numerosos autógrafos dessa escrita. De certo modo foi ele quem a pôs em evidência e muitas outras pessoas, depois dele, têm obtido os mesmos resultados. A princípio foi colocada uma folha de papel e um lápis sobre um túmulo, sob a estátua ou o retrato de uma pessoa qualquer; no dia seguinte, por vezes apenas algumas horas depois, sobre o papel aparecia um nome, uma sentença, quando não alguns sinais ininteligíveis.. É evidente que nem o túmulo, nem a estátua ou o retrato tinham diretamente qualquer influência por si mesmos: era simplesmente um meio de evocação pelo pensamento. Agora contentamo-nos com deixar o papel, com ou sem lápis, numa gaveta ou numa caixa, que podem ser fechadas a chave, tomando todas as precauções necessárias a fim de evitar toda fraude e obteremos o mesmo resultado evocando o Espírito.
Inquestionavelmente este fenômeno é um dos mais extraordinários que apresentam as manifestações espíritas e um dos que atestam de maneira peremptória a intervenção de uma inteligência oculta; mas não poderia substituir a psicografia, pelo menos até agora, para os desenvolvimentos que certos assuntos comportam. Assim também se obtém a expressão de um pensamento espontâneo, mas parece que se presta mais dificilmente a entretenimento e a uma rápida troca de ideias que comporta outro meio. Aliás este modo é de obtenção mais rara, ao passo que os médiuns escreventes são muito numerosos.
A princípio parece difícil darmos conta de um fato tão anormal. Não cabe no nosso plano desenvolvê-lo aqui, porque seria preciso remontar às fontes de outros fenômenos dos quais é consequência. A explicação completa será encontrada na REVISTA ESPÍRITA e ver-se-á que, por uma dedução lógica, a ele se chega como a um resultado muito natural.
Enfim os Espíritos nos transmitem seu pensamento pela voz de certos médiuns dotados para tanto de uma faculdade especial, que denominamos psicofonia. Esse meio tem todas as vantagens de psicografia pela rapidez e extensão dos desenvolvimentos. Ele agrada muito aos Espíritos superiores, mas talvez tenha, para as pessoas que duvidam, o inconveniente de não acusar de modo muito evidente a intervenção de uma inteligência estranha. Convém, sobretudo, aos que, já suficientemente edificados sobre a realidade dos fatos, dele se servem para a complementação de seus estudos e não necessitam aumentar a sua convicção.
Acabamos de esboçar os diversos meios de comunicação direta com os espíritos. Designamo-los por nomes característicos, que lhes abarcam todas as variedades e, até, todas as nuanças, assim permitindo que melhor se os entendam do que por perífrases, que nada têm de fixo nem de metódico. No princípio das manifestações, quando a respeito as idéias eram menos precisas, foram publicados vários escritos com estas denominações: Comunicações de uma cesta, por uma prancheta, pelas mesas falantes, etc. Hoje compreende-se tudo quanto essas expressões encerram de insuficiente e de errôneo, abstração feita de seu caráter pouco sério. Com efeito, como acabamos de ver, as mesas, pranchetas e cestas não passam de instrumentos inertes, que nada podem comunicar por si mesmos. Nisso tomam o efeito pela causa, o instrumento pelo principio. Seria o mesmo para um autor declarar no titulo de uma obra que a tinha escrito com uma pena metálica ou com uma pena de pato. Esses instrumentos aliás não são absolutos: conhecemos alguém que, em vez da cesta-pitorra, já descrita, servia-se de um funil, por cujo bico passava um lápis. Assim, poder-se-iam ter tido comunicações de um funil, tanto quanto de uma caçarola ou uma saladeira. Se elas se dão por meio de golpes, e se estes são dados por uma cadeira ou por uma bengala, já não é mais uma mesa falante, mas uma cadeira ou uma bengala falante. O que importa conhecer não é a natureza do instrumento, mas o modo de obtenção. Se a comunicação se dá pela escrita, seja qual for o porta-lápis, é para nós psicografia. Se por batidas, é tiptologia. Tomando as proporções de uma ciência, o Espiritismo necessita de uma linguagem científica.
Capítulo V - Dos médiuns
MÉDIUNS DE INFLUÊNCIA FÍSICA - MÉDIUNS NATURAIS
Os médiuns de influência física são os que têm uma aptidão mais especial para a produção dos fenômenos materiais. É nessa classe que se encontram principalmente os médiuns naturais, isto é, os médiuns cuja influência se exerce mau grado seu. Não têm nenhuma consciência de seu poder e freqüentemente aquilo que se passa de anormal em seu redor de modo algum lhes parece extraordinário. Isto faz parte deles mesmos, absolutamente como as pessoas dotadas de segunda vista e que não o suspeitam. Estas criaturas são muito dignas de observação e não se deve negligenciar a colheita e o estudo dos fatos desse gênero, que podem vir ao nosso conhecimento. Eles se manifestam em todas as idades, muitas vezes, até, em crianças de muito tenra idade.
Por si mesma essa faculdade não indica um estado patológico, pois não é incompatível com a saúde perfeita. Se aquele que a possui é doente, o é por uma causa outra. Assim, os meios terapêuticos são impotentes para fazer cessar a mediunidade. Em certos casos ela pode ser consecutiva de uma certa fraqueza orgânica, mas nunca é a sua causa eficiente. Assim, não se poderia razoavelmente conceber qualquer inquietação do ponto de vista higiênico: ela não poderia ter inconvenientes senão quando o sensitivo, transformado em médium facultativo, dela fizesse um emprego abusivo, porque então teria uma emissão demasiado abundante de fluido vital e, consequentemente, um enfraquecimento orgânico.
Sobretudo deve ser evitada qualquer experimentação física, sempre prejudicial às organizações sensitivas, pois aí é que está o perigo: dela poderão resultar graves desordens na economia orgânica. A razão se revolta contra a ideia de torturas morais e corpóreas, a que, por vezes, são submetidos seres fracos e delicados, visando constatar que não há qualquer charlatanice de sua parte. Fazer tais provas é jogar com a vida. O observador de boa fé não precisa empregar tais meios. Aquele que está familiarizado com esses fenômenos sabe, aliás, que os mesmos pertencem mais à ordem moral que à ordem física, e que em vão a solução seria procurada em nossas ciências exatas.
Por isso mesmo que tais fenômenos estão ligados à ordem moral, deve evitar-se escrupulosamente tudo quanto possa excitar a imaginação. Conhecem-se os acidentes que podem ser ocasionados pelo medo e seríamos menos imprudentes se conhecêssemos todos os casos de loucura e de epilepsia que se originam nos contos do Lobo-mau e do Tutu-marambá. Que dizer, então, se nos persuadirmos de que é o diabo! Os que acreditam nessas coisas não sabem a responsabilidade que assumem: podem matar! Ora, o perigo não é apenas para o sensitivo, mas também para os que o cercam e que podem ficar apavorados com a ideia de que sua casa é um antro de demônios. Foi essa crença funesta que causou tantos atos de atrocidades nos tempos da ignorância. Com um pouco mais de discernimento poder-se-ia ter pensado que ao queimar um corpo supostamente possuído pelo diabo não se queimava o próprio diabo. Desde que queriam livrar-se do diabo, este é que devia morrer. Esclarecendo-nos sobre a verdadeira causa de todos esses fenômenos, a doutrina espírita dá-lhe o golpe de misericórdia. Longe, pois, de fazer nascer tal ideia, deve-se combatê-la, caso exista, o que constitui um dever de moralidade e de humanidade.
Quando uma tal faculdade se desenvolve espontaneamente numa pessoa, deve deixar-se que o fenômeno siga o seu curso natural: a natureza é mais sábia que os homens; aliás a Providência tem seus pontos de vista e o mais humilde pode ser instrumento de grandes desígnios. Deve-se, porém, convir que o fenômeno por vezes adquire proporções fatigantes e importunas para todos. Ora, eis aqui, em todo caso, o que se deve fazer[1].
Partindo do princípio que as manifestações físicas espontâneas têm o objetivo de chamar a nossa atenção para qualquer coisa, é preciso procurar conhecer tal objetivo, para o que se deve interrogar o Ser invisível que deseja comunicar-se. A respeito demos uma explicação no capítulo das manifestações. Pode ele querer algo para si mesmo ou para a pessoa a quem se manifesta. Num caso, como no outro, é provável, conforme já dissemos, que se for atendido cessem as visitas. Aliás, eis um outro meio, como o precedente, baseado na observação dos fatos.
Os seres invisíveis, que revelam sua presença por efeitos sensíveis, geralmente são Espíritos de ordem inferior e que podem ser dominados pelo ascendente moral. É esse ascendente que devemos adquirir. Longe, pois, de nos mostrarmos submissos aos seus caprichos, devemos opor-lhes a vontade e obrigá-los a obedecer, o que não impede que condescendamos com todos os pedidos justos e legítimos que nos pudessem fazer. Aliás, tudo depende da natureza do Espírito que se comunica: pode ele ser inferior, mas benevolente, e vir com boas intenções. É disso que nos devemos assegurar e que facilmente reconheceremos pela natureza das comunicações. Mas não lhe perguntemos se é um bom Espírito, pois responderá afirmativamente quem quer que ele seja. Seria o mesmo que perguntar a um ladrão se é um homem de bem.
Para obter esse ascendente é necessário fazer o sensitivo passar do estado de médium natural ao de médium facultativo. Produz-se, então, um efeito semelhante ao que se dá no sonambulismo. Sabe-se que o sonambulismo natural geralmente cessa quando é substituído pelo sonambulismo magnético. Não se pára a faculdade emancipadora da alma: apenas se lhe dá outro curso. O mesmo acontece com a faculdade mediatriz. Para isto, em vez de entravar os fenômenos, o que raramente se consegue e que nem sempre está isento de perigo, é necessário excitar o médium a produzi-los à sua vontade, impondo-se ao Espírito. Por tal meio chega-se a dominá-lo; e de um denominador por vezes tirânico, fazemos um ser subordinado e até muito dócil. Um fato digno de observação, e justificado pela experiência, e que em semelhantes casos uma criança tem tanta e às vezes, mais autoridade que um adulto, prova nova, em apoio deste ponto capital da doutrina, que o Espírito só é criança pelo corpo e tem por si mesmo um desenvolvimento necessariamente anterior à sua encarnação atual, o qual lhe pode dar ascendente sobre os Espíritos que lhe sejam inferiores.
Por si mesma essa faculdade não indica um estado patológico, pois não é incompatível com a saúde perfeita. Se aquele que a possui é doente, o é por uma causa outra. Assim, os meios terapêuticos são impotentes para fazer cessar a mediunidade. Em certos casos ela pode ser consecutiva de uma certa fraqueza orgânica, mas nunca é a sua causa eficiente. Assim, não se poderia razoavelmente conceber qualquer inquietação do ponto de vista higiênico: ela não poderia ter inconvenientes senão quando o sensitivo, transformado em médium facultativo, dela fizesse um emprego abusivo, porque então teria uma emissão demasiado abundante de fluido vital e, consequentemente, um enfraquecimento orgânico.
Sobretudo deve ser evitada qualquer experimentação física, sempre prejudicial às organizações sensitivas, pois aí é que está o perigo: dela poderão resultar graves desordens na economia orgânica. A razão se revolta contra a ideia de torturas morais e corpóreas, a que, por vezes, são submetidos seres fracos e delicados, visando constatar que não há qualquer charlatanice de sua parte. Fazer tais provas é jogar com a vida. O observador de boa fé não precisa empregar tais meios. Aquele que está familiarizado com esses fenômenos sabe, aliás, que os mesmos pertencem mais à ordem moral que à ordem física, e que em vão a solução seria procurada em nossas ciências exatas.
Por isso mesmo que tais fenômenos estão ligados à ordem moral, deve evitar-se escrupulosamente tudo quanto possa excitar a imaginação. Conhecem-se os acidentes que podem ser ocasionados pelo medo e seríamos menos imprudentes se conhecêssemos todos os casos de loucura e de epilepsia que se originam nos contos do Lobo-mau e do Tutu-marambá. Que dizer, então, se nos persuadirmos de que é o diabo! Os que acreditam nessas coisas não sabem a responsabilidade que assumem: podem matar! Ora, o perigo não é apenas para o sensitivo, mas também para os que o cercam e que podem ficar apavorados com a ideia de que sua casa é um antro de demônios. Foi essa crença funesta que causou tantos atos de atrocidades nos tempos da ignorância. Com um pouco mais de discernimento poder-se-ia ter pensado que ao queimar um corpo supostamente possuído pelo diabo não se queimava o próprio diabo. Desde que queriam livrar-se do diabo, este é que devia morrer. Esclarecendo-nos sobre a verdadeira causa de todos esses fenômenos, a doutrina espírita dá-lhe o golpe de misericórdia. Longe, pois, de fazer nascer tal ideia, deve-se combatê-la, caso exista, o que constitui um dever de moralidade e de humanidade.
Quando uma tal faculdade se desenvolve espontaneamente numa pessoa, deve deixar-se que o fenômeno siga o seu curso natural: a natureza é mais sábia que os homens; aliás a Providência tem seus pontos de vista e o mais humilde pode ser instrumento de grandes desígnios. Deve-se, porém, convir que o fenômeno por vezes adquire proporções fatigantes e importunas para todos. Ora, eis aqui, em todo caso, o que se deve fazer[1].
Partindo do princípio que as manifestações físicas espontâneas têm o objetivo de chamar a nossa atenção para qualquer coisa, é preciso procurar conhecer tal objetivo, para o que se deve interrogar o Ser invisível que deseja comunicar-se. A respeito demos uma explicação no capítulo das manifestações. Pode ele querer algo para si mesmo ou para a pessoa a quem se manifesta. Num caso, como no outro, é provável, conforme já dissemos, que se for atendido cessem as visitas. Aliás, eis um outro meio, como o precedente, baseado na observação dos fatos.
Os seres invisíveis, que revelam sua presença por efeitos sensíveis, geralmente são Espíritos de ordem inferior e que podem ser dominados pelo ascendente moral. É esse ascendente que devemos adquirir. Longe, pois, de nos mostrarmos submissos aos seus caprichos, devemos opor-lhes a vontade e obrigá-los a obedecer, o que não impede que condescendamos com todos os pedidos justos e legítimos que nos pudessem fazer. Aliás, tudo depende da natureza do Espírito que se comunica: pode ele ser inferior, mas benevolente, e vir com boas intenções. É disso que nos devemos assegurar e que facilmente reconheceremos pela natureza das comunicações. Mas não lhe perguntemos se é um bom Espírito, pois responderá afirmativamente quem quer que ele seja. Seria o mesmo que perguntar a um ladrão se é um homem de bem.
Para obter esse ascendente é necessário fazer o sensitivo passar do estado de médium natural ao de médium facultativo. Produz-se, então, um efeito semelhante ao que se dá no sonambulismo. Sabe-se que o sonambulismo natural geralmente cessa quando é substituído pelo sonambulismo magnético. Não se pára a faculdade emancipadora da alma: apenas se lhe dá outro curso. O mesmo acontece com a faculdade mediatriz. Para isto, em vez de entravar os fenômenos, o que raramente se consegue e que nem sempre está isento de perigo, é necessário excitar o médium a produzi-los à sua vontade, impondo-se ao Espírito. Por tal meio chega-se a dominá-lo; e de um denominador por vezes tirânico, fazemos um ser subordinado e até muito dócil. Um fato digno de observação, e justificado pela experiência, e que em semelhantes casos uma criança tem tanta e às vezes, mais autoridade que um adulto, prova nova, em apoio deste ponto capital da doutrina, que o Espírito só é criança pelo corpo e tem por si mesmo um desenvolvimento necessariamente anterior à sua encarnação atual, o qual lhe pode dar ascendente sobre os Espíritos que lhe sejam inferiores.
[1] Um dos mais extraordinários fatos dessa natureza, pela variedade e singularidade dos fenômenos, é incontestavelmente o que em 1852 ocorreu no Palatinato, Baviera Rhenana, em Bergzabern, perto de Wissenbourg. É tanto mais notável quanto reúne, mais ou menos, e no mesmo sensitivo, todos os gêneros de manifestações espontâneas: barulho de abalar a casa, derrubamento de móveis, lançamento de objetos à distância por mãos invisíveis, visões e aparições, sonambulismo, êxtase, catalepsia, atração elétrica, gritos e sons aéreos, instrumentos tocados sem contato, comunicações inteligentes, etc. E, o que não é de importância menor, a constatação desses fatos durante quase dois anos, por inúmeras testemunhas oculares, dignas de fé por seu saber e sua posição social. O relato autêntico foi publicado, na época, por vários jornais alemães e notadamente numa brochura hoje esgotada e muito rara. A sua tradução completa é encontrada na REVISTA ESPÍRITA de 1858, com os comentários e a explicação necessários. Tanto quanto saibamos, é a única publicação francesa feita a respeito. Além do palpitante interesse que se liga a esses fenômenos, são eles eminentemente instrutivos, do ponto de vista do estudo prático do Espiritismo.
MÉDIUNS FACULTATIVOS
Médiuns facultativos são os que têm consciência de seu poder e produzem fenômenos espíritas por um ato da própria vontade. Tal faculdade, posto que inerente à espécie humana, como já ficou dito, está longe de encontrar-se em todos no mesmo grau. Mas se há poucas pessoas nas quais ela seja absolutamente nula, as que são aptas a produzir grandes efeitos, tais como a suspensão dos corpos no espaço, a translação aérea e sobretudo as aparições são ainda mais raras. Os mais simples efeitos são os de rotação dos objetos, os golpes vibrados pelo levantamento de um objeto ou na sua própria substância. Sem ligar uma importância capital a tais fenômenos, aconselhamos a que não sejam negligenciados: eles podem dar lugar a observações interessantes e ajudar a convicção[1]. É de notar-se, porém, que a faculdade de produzir efeitos materiais existe raramente nos que possuem mais perfeitos meios de comunicação, tais como, por exemplo, a escrita e a palavra. Geralmente ela diminui num sentido à medida que se desenvolve num outro.
[1] A explicação teórica é encontrado na REVISTA ESPÍRITA, nos números de maio e junho de 1858.
MÉDIUNS ESCREVENTES OU PSICÓGRAFOS
De todos os meios de comunicação é a escrita o mais simples, o mais cômodo e, sobretudo, o mais completo. É para ela que devem tender todos os esforços, pois que permite estabelecer com os Espíritos relações tão continuadas e tão regulares quanto as que existem entre nós. Devemos a ela ligar-nos tanto mais quanto é tal meio aquele pelo qual os Espíritos melhor revelam a sua natureza e o seu grau de perfeição ou de inferioridade. Pela facilidade que têm de exprimir-se, dão-nos eles a conhecer seus pensamentos íntimos, pondo-nos, assim, em condições de os julgar e lhes apreciar o valor.
Para o médium, a faculdade de escrever é, além disso, mais suscetível de desenvolvimento pelo exercício. No capítulo dos modos de comunicações explicamos as diversas maneiras de obter a escrita. Vimos que a cesta e a prancheta apenas desempenham o papel de apêndice da mão: é um porta-lápis alongado - eis tudo. Ter-se-á êxito do mesmo modo se o lápis for colocado na ponta de uma bengala. Tais aparelhos têm a vantagem de dar uma escrita mais característica do que a obtida com a mão, mas têm o inconveniente de exigir quase sempre a cooperação de uma segunda pessoa, o que pode ser Incomodo. Por isso aconselhamos a preferência pela escrita imediata. O processo é dos mais simples: consiste simplesmente em tomar lápis e papel e colocar-se na posição de uma pessoa que escreve sem qualquer preparação. Entretanto para se ter êxito são necessárias algumas recomendações.
Como, em definitiva, é pela influência de um Espírito que a gente escreve, esse Espírito não virá se não for chamado. É, pois, necessário evocá-lo por pensamento e lhe pedir, em nome de Deus, a bondade de se comunicar. Não há para isso uma formula sacramental: quem quer que pretendesse apresentar uma pode imediatamente ser taxado de charlatanismo. O pensamento é tudo, a forma nada é. Não é menos necessário chamar um que seja simpático, e isto por duas razões: a primeira é que ele virá de melhor vontade, desde que nos estime; a segunda é que, por força dessa estima, estará mais disposto a ajudar os nossos esforços para comunicar-se conosco. Será, pois, de preferência, um parente ou um amigo. Pode entretanto, acontecer que esse parente ou esse amigo se ache numa posição que não permite venha atender ao nosso apelo, ou que não tenha força suficiente para nos fazer escrever. Por isso é sempre útil juntar à evocação a evocação do nosso Espírito familiar, seja ele quem for, sem que haja necessidade de lhe saber o nome, por isso que ele estará sempre conosco. Então, uma de duas: ou será ele quem responde, ou irá procurar o outro; em todo Caso presta o seu apoio.
Uma coisa negligenciada por quase todos os principiantes e fazer uma pergunta. E evidente que o Espírito evocado não poderá responder, desde que não seja interrogado. Poderá sem dúvida, dizer algo espontaneamente, como acontece a cada momento com os médiuns formados; mas com quem esteja ainda no princípio, o Espírito tem uma primeira dificuldade a vencer. É, pois, necessário simplificá-la tanto quanto possível, por ser o efeito que produz uma pergunta conducente a uma resposta precisa. Para começar, dever-se-á ter cuidado de formular a pergunta de tal maneira que a resposta seja apenas sim ou não; mais tarde essa precaução tornar-se-á inútil. A natureza da pergunta não é indiferente: não é preciso que, por si mesma, tenha uma importância real; ao contrário, quanto mais simples, melhor; a princípio trata-se de simples relação a estabelecer; o essencial é que não seja fútil, que não se reporte a interesses privados e, sobretudo, que seja a expressão de um sentimento benevolente e simpático para o Espírito ao qual nos dirigimos.
Coisas não menos necessárias são a calma e o recolhimento, unidos a um ardente desejo e a uma firme vontade de êxito. E pela vontade aqui entendemos não uma vontade efêmera, que age por impulsos e que a cada instante é interrompida por outras preocupações, mas uma vontade paciente, perseverante, sustentada pela prece dirigida ao Espírito evocado. O recolhimento é favorecido pela solidão, pelo silêncio e pelo afastamento de tudo quanto possa causar distrações. Agora resta apenas uma coisa a fazer: esperar sem desânimo e renovar diariamente a tentativa durante dez a quinze minutos no máximo de cada vez, possivelmente num período de quinze dias a um ou dois meses. Por isso dissemos que era preciso uma vontade paciente e perseverante. É que, por outro lado, consultados os Espíritos sobre a aptidão desta ou daquela pessoa, quase sempre dizem: “com a vontade triunfareis”. É então possível que se tenha êxito logo da primeira vez, como também é possível que se tenha de esperar durante um tempo mais ou menos longo. Em todo caso, se ao cabo de três meses não se obtiver absolutamente nada será quase inútil continuar.
É de notar-se que quando se interrogam os Espíritos a respeito de saber se se é ou não médium, quase sempre eles respondem afirmativamente, o que não impede que os ensaios sejam muitas vezes infrutíferos. Isto se explica naturalmente. Faz-se ao Espírito uma pergunta genérica e ele responde de maneira geral. Ora, como se sabe, nada mais elástico do que a faculdade mediatriz, pois que se apresenta sob as mais variadas formas e em graus muito diversos. Pode-se, pois, ser médium sem o notar e num sentido diverso daquele em que se pensa. À pergunta vaga: sou médium? o Espírito pode responder afirmativamente. A uma pergunta mais precisa, como: sou médium escrevente? ele pode responder que não. É necessário levar em conta, ainda, a natureza do Espírito interrogado. Uns são levianos e tão ignorantes que respondem a torto e a direito, como verdadeiros estorvados.
Um meio que geralmente dá resultado, quer para ativar o desenvolvimento, quer para fazer com que escreva uma pessoa, sem o auxílio do qual não o conseguiria, consiste em empregar momentaneamente, como auxiliar, um bom médium escrevente ou de outra mediunidade, mas já desenvolvido. Se este puser a mão ou os dedos sobre a mão que deve escrever, é raro que esta não o consiga imediatamente. Compreende-se o que se passa em tais circunstâncias: a mão que segura o lápis torna-se, de algum modo, um apêndice da mão do médium, como se fosse a cesta ou a prancheta. Isto, porém, não impede que o exercício seja útil, quando se o quer empregar, pois que, repetido com frequência e regularidade, ajuda a vencer o obstáculo material e provoca o desenvolvimento da faculdade. Às vezes basta magnetizar fortemente o braço e a mão daquele que deseja escrever; por vezes mesmo o magnetizador se limita a pôr a mão sobre o ombro e, como temos presenciado, ele escreve imediatamente sob tal influência. O mesmo efeito também pode produzir-se sem nenhum contado e pela simples ação da vontade. Neste caso, é necessário excitar os esforços do Espírito, encorajando-o pela palavra. Compreende-se sem dificuldade que a confiança do magnetizador em sua própria força deve aqui representar um grande papel, e que um magnetizador incrédulo exerceria pouca ou nenhuma influência.
A força que permite desenvolver nos outros a faculdade de escrever constitui uma variedade de médiuns que chamamos médiuns excitadores[1]. Talvez pareça estranho que tal faculdades exista em pessoas que não escrevem, elas próprias, sob a ação de Espíritos. Seu concurso muitas vezes é útil aos principiantes, mesmo para os que possuam uma aptidão natural. Há uma porção de pequenas precauções que muitas vezes nós desprezamos, em detrimento de um progresso rápido e que um guia experimentado faz observar, seja por disposição material, seja principalmente pela natureza das primeiras perguntas e pela maneira de as fazer. Seu papel aqui é o de um professor que dispensamos, desde que nos tornamos hábeis.
A fé no médium incipiente não é condição de rigor: incontestavelmente acompanha os esforços, mas não é indispensável; bastam o desejo e a boa vontade. Têm-se visto pessoas absolutamente incrédulas ficar admiradas de escrever, mau grado seu, enquanto que crentes sinceros não o conseguem. Isto prova que a faculdade se deve a uma disposição orgânica.
Como disposição material recomendamos evitar tudo quanto possa prejudicar o livre movimento da mão; é mesmo preferível que esta não se apoie completamente sobre o papel. A ponta do lápis deve apoiar-se suficientemente para traçar, mas não tanto que crie resistência. Todas as precauções se tornam inúteis uma vez que se consegue escrever correntemente, porque então nenhum obstáculo poderia impedi-lo: são apenas os preliminares do estudante.
O primeiro indício de uma disposição para escrever é uma espécie de frêmito no braço e na mão; pouco a pouco a mão é arrastada por um impulso que não pode dominar. Frequentemente não traça, de início, senão riscos insignificantes; depois os caracteres se definem cada vez mais e a escrita acaba adquirindo a rapidez da escrita corrente. Em todo caso é preciso abandonar a mão ao seu movimento natural e não oferecer nem resistência nem impulso.
Por vezes a escrita é bem legível e as letras e palavras bem destacadas; mas com certos médiuns é difícil decifrar outra pessoa aquilo que ele escreve, a não ser pelo hábito. Geralmente é formada por grandes traços; muitas vezes algumas palavras apenas tomam toda uma página; os Espíritos são pouco econômicos quanto ao papel. Quando uma palavra ou frase é pouco legível, pede-se ao Espírito que a recomece, o que, em geral, ele faz de boa vontade. Quando a escrita é habitualmente ilegível, mesmo para o médium, quase sempre este consegue maior correção pelos exercícios frequentes e continuados, para os quais deve contribuir com uma vontade firme, e pedir com ardor que o Espírito escreva com mais clareza. Se se quiser conservar as respostas, é bom transcrevê-las imediatamente, bem como as perguntas, enquanto as temos na memória, pois mais tarde isto às vezes se toma impossível. Certos Espíritos, antes de começar uma resposta, fazem a mão executar algumas evoluções e traçam alguns riscos sem significação: dizem que é para exercitar e desligar à mão ou estabelecer afinidade. Por vezes são emblemas ou alegorias, cuja explicação dão a seguir. Muitas vezes adotam sinais convencionais para exprimir certas idéias, que passam a um emprego regular nas reuniões habituais. Para fazer notar que uma pergunta lhes desagrada e que não desejam respondê-la, farão, por exemplo, um longo traço, ou coisa semelhante.
Quando um Espírito termina o que quer dizer ou não mais quer responder, a mão fica imóvel e, seja qual for a força e a vontade do médium, não consegue nem mais uma palavra. É sinal de que o Espírito partiu. Ao contrário, enquanto ele não concluir, o lápis se move sem que a mão consiga parar. Se quiser dizer algo espontaneamente, a mão tomará o lápis convulsivamente e começará a escrever sem que nada se lhe oponha.
Tais são as explicações mais essenciais que devemos dar relativamente ao desenvolvimento da psicografia. A experiência dará a conhecer, na prática, certos detalhes cuja referência aqui seria inútil e pelos quais nos guiaremos como complementos aos princípios gerais. Que muitos experimentem: verificar-se-á que quase não há uma família que não tenha um médium escrevente entre os seus membros, nem que seja uma criança.
Quem quer que tenha recebido o dom de escrever sob a influência dos Espíritos possui uma faculdade preciosa, porque se toma intérprete entre o mundo visível e o invisível. É muitas vezes uma missão que recebeu para o bem, mas do qual não se deve envaidecer, pois a faculdade pode lhe ser retirada se dela fizer mau uso e, até, voltar-se contra si mesmo, no sentido de que escreverá coisas más e terá apenas maus Espíritos à sua disposição. Aquele que, a despeito dos esforços e da perseverança, não chega a possuí-Ia, não deve, por isso, concluir desfavoravelmente à sua pessoa: é que sua organização física não se presta para isso, mas não fica deserdado das comunicações espíritas; se as não recebe diretamente, pode obtê-las muito belas e muito boas por um intermediário. Aliás, pode, em compensação, possuir outras faculdades não menos úteis. A privação de um sentido quase sempre é compensada por um outro sentido mais desenvolvido.
Para o médium, a faculdade de escrever é, além disso, mais suscetível de desenvolvimento pelo exercício. No capítulo dos modos de comunicações explicamos as diversas maneiras de obter a escrita. Vimos que a cesta e a prancheta apenas desempenham o papel de apêndice da mão: é um porta-lápis alongado - eis tudo. Ter-se-á êxito do mesmo modo se o lápis for colocado na ponta de uma bengala. Tais aparelhos têm a vantagem de dar uma escrita mais característica do que a obtida com a mão, mas têm o inconveniente de exigir quase sempre a cooperação de uma segunda pessoa, o que pode ser Incomodo. Por isso aconselhamos a preferência pela escrita imediata. O processo é dos mais simples: consiste simplesmente em tomar lápis e papel e colocar-se na posição de uma pessoa que escreve sem qualquer preparação. Entretanto para se ter êxito são necessárias algumas recomendações.
Como, em definitiva, é pela influência de um Espírito que a gente escreve, esse Espírito não virá se não for chamado. É, pois, necessário evocá-lo por pensamento e lhe pedir, em nome de Deus, a bondade de se comunicar. Não há para isso uma formula sacramental: quem quer que pretendesse apresentar uma pode imediatamente ser taxado de charlatanismo. O pensamento é tudo, a forma nada é. Não é menos necessário chamar um que seja simpático, e isto por duas razões: a primeira é que ele virá de melhor vontade, desde que nos estime; a segunda é que, por força dessa estima, estará mais disposto a ajudar os nossos esforços para comunicar-se conosco. Será, pois, de preferência, um parente ou um amigo. Pode entretanto, acontecer que esse parente ou esse amigo se ache numa posição que não permite venha atender ao nosso apelo, ou que não tenha força suficiente para nos fazer escrever. Por isso é sempre útil juntar à evocação a evocação do nosso Espírito familiar, seja ele quem for, sem que haja necessidade de lhe saber o nome, por isso que ele estará sempre conosco. Então, uma de duas: ou será ele quem responde, ou irá procurar o outro; em todo Caso presta o seu apoio.
Uma coisa negligenciada por quase todos os principiantes e fazer uma pergunta. E evidente que o Espírito evocado não poderá responder, desde que não seja interrogado. Poderá sem dúvida, dizer algo espontaneamente, como acontece a cada momento com os médiuns formados; mas com quem esteja ainda no princípio, o Espírito tem uma primeira dificuldade a vencer. É, pois, necessário simplificá-la tanto quanto possível, por ser o efeito que produz uma pergunta conducente a uma resposta precisa. Para começar, dever-se-á ter cuidado de formular a pergunta de tal maneira que a resposta seja apenas sim ou não; mais tarde essa precaução tornar-se-á inútil. A natureza da pergunta não é indiferente: não é preciso que, por si mesma, tenha uma importância real; ao contrário, quanto mais simples, melhor; a princípio trata-se de simples relação a estabelecer; o essencial é que não seja fútil, que não se reporte a interesses privados e, sobretudo, que seja a expressão de um sentimento benevolente e simpático para o Espírito ao qual nos dirigimos.
Coisas não menos necessárias são a calma e o recolhimento, unidos a um ardente desejo e a uma firme vontade de êxito. E pela vontade aqui entendemos não uma vontade efêmera, que age por impulsos e que a cada instante é interrompida por outras preocupações, mas uma vontade paciente, perseverante, sustentada pela prece dirigida ao Espírito evocado. O recolhimento é favorecido pela solidão, pelo silêncio e pelo afastamento de tudo quanto possa causar distrações. Agora resta apenas uma coisa a fazer: esperar sem desânimo e renovar diariamente a tentativa durante dez a quinze minutos no máximo de cada vez, possivelmente num período de quinze dias a um ou dois meses. Por isso dissemos que era preciso uma vontade paciente e perseverante. É que, por outro lado, consultados os Espíritos sobre a aptidão desta ou daquela pessoa, quase sempre dizem: “com a vontade triunfareis”. É então possível que se tenha êxito logo da primeira vez, como também é possível que se tenha de esperar durante um tempo mais ou menos longo. Em todo caso, se ao cabo de três meses não se obtiver absolutamente nada será quase inútil continuar.
É de notar-se que quando se interrogam os Espíritos a respeito de saber se se é ou não médium, quase sempre eles respondem afirmativamente, o que não impede que os ensaios sejam muitas vezes infrutíferos. Isto se explica naturalmente. Faz-se ao Espírito uma pergunta genérica e ele responde de maneira geral. Ora, como se sabe, nada mais elástico do que a faculdade mediatriz, pois que se apresenta sob as mais variadas formas e em graus muito diversos. Pode-se, pois, ser médium sem o notar e num sentido diverso daquele em que se pensa. À pergunta vaga: sou médium? o Espírito pode responder afirmativamente. A uma pergunta mais precisa, como: sou médium escrevente? ele pode responder que não. É necessário levar em conta, ainda, a natureza do Espírito interrogado. Uns são levianos e tão ignorantes que respondem a torto e a direito, como verdadeiros estorvados.
Um meio que geralmente dá resultado, quer para ativar o desenvolvimento, quer para fazer com que escreva uma pessoa, sem o auxílio do qual não o conseguiria, consiste em empregar momentaneamente, como auxiliar, um bom médium escrevente ou de outra mediunidade, mas já desenvolvido. Se este puser a mão ou os dedos sobre a mão que deve escrever, é raro que esta não o consiga imediatamente. Compreende-se o que se passa em tais circunstâncias: a mão que segura o lápis torna-se, de algum modo, um apêndice da mão do médium, como se fosse a cesta ou a prancheta. Isto, porém, não impede que o exercício seja útil, quando se o quer empregar, pois que, repetido com frequência e regularidade, ajuda a vencer o obstáculo material e provoca o desenvolvimento da faculdade. Às vezes basta magnetizar fortemente o braço e a mão daquele que deseja escrever; por vezes mesmo o magnetizador se limita a pôr a mão sobre o ombro e, como temos presenciado, ele escreve imediatamente sob tal influência. O mesmo efeito também pode produzir-se sem nenhum contado e pela simples ação da vontade. Neste caso, é necessário excitar os esforços do Espírito, encorajando-o pela palavra. Compreende-se sem dificuldade que a confiança do magnetizador em sua própria força deve aqui representar um grande papel, e que um magnetizador incrédulo exerceria pouca ou nenhuma influência.
A força que permite desenvolver nos outros a faculdade de escrever constitui uma variedade de médiuns que chamamos médiuns excitadores[1]. Talvez pareça estranho que tal faculdades exista em pessoas que não escrevem, elas próprias, sob a ação de Espíritos. Seu concurso muitas vezes é útil aos principiantes, mesmo para os que possuam uma aptidão natural. Há uma porção de pequenas precauções que muitas vezes nós desprezamos, em detrimento de um progresso rápido e que um guia experimentado faz observar, seja por disposição material, seja principalmente pela natureza das primeiras perguntas e pela maneira de as fazer. Seu papel aqui é o de um professor que dispensamos, desde que nos tornamos hábeis.
A fé no médium incipiente não é condição de rigor: incontestavelmente acompanha os esforços, mas não é indispensável; bastam o desejo e a boa vontade. Têm-se visto pessoas absolutamente incrédulas ficar admiradas de escrever, mau grado seu, enquanto que crentes sinceros não o conseguem. Isto prova que a faculdade se deve a uma disposição orgânica.
Como disposição material recomendamos evitar tudo quanto possa prejudicar o livre movimento da mão; é mesmo preferível que esta não se apoie completamente sobre o papel. A ponta do lápis deve apoiar-se suficientemente para traçar, mas não tanto que crie resistência. Todas as precauções se tornam inúteis uma vez que se consegue escrever correntemente, porque então nenhum obstáculo poderia impedi-lo: são apenas os preliminares do estudante.
O primeiro indício de uma disposição para escrever é uma espécie de frêmito no braço e na mão; pouco a pouco a mão é arrastada por um impulso que não pode dominar. Frequentemente não traça, de início, senão riscos insignificantes; depois os caracteres se definem cada vez mais e a escrita acaba adquirindo a rapidez da escrita corrente. Em todo caso é preciso abandonar a mão ao seu movimento natural e não oferecer nem resistência nem impulso.
Por vezes a escrita é bem legível e as letras e palavras bem destacadas; mas com certos médiuns é difícil decifrar outra pessoa aquilo que ele escreve, a não ser pelo hábito. Geralmente é formada por grandes traços; muitas vezes algumas palavras apenas tomam toda uma página; os Espíritos são pouco econômicos quanto ao papel. Quando uma palavra ou frase é pouco legível, pede-se ao Espírito que a recomece, o que, em geral, ele faz de boa vontade. Quando a escrita é habitualmente ilegível, mesmo para o médium, quase sempre este consegue maior correção pelos exercícios frequentes e continuados, para os quais deve contribuir com uma vontade firme, e pedir com ardor que o Espírito escreva com mais clareza. Se se quiser conservar as respostas, é bom transcrevê-las imediatamente, bem como as perguntas, enquanto as temos na memória, pois mais tarde isto às vezes se toma impossível. Certos Espíritos, antes de começar uma resposta, fazem a mão executar algumas evoluções e traçam alguns riscos sem significação: dizem que é para exercitar e desligar à mão ou estabelecer afinidade. Por vezes são emblemas ou alegorias, cuja explicação dão a seguir. Muitas vezes adotam sinais convencionais para exprimir certas idéias, que passam a um emprego regular nas reuniões habituais. Para fazer notar que uma pergunta lhes desagrada e que não desejam respondê-la, farão, por exemplo, um longo traço, ou coisa semelhante.
Quando um Espírito termina o que quer dizer ou não mais quer responder, a mão fica imóvel e, seja qual for a força e a vontade do médium, não consegue nem mais uma palavra. É sinal de que o Espírito partiu. Ao contrário, enquanto ele não concluir, o lápis se move sem que a mão consiga parar. Se quiser dizer algo espontaneamente, a mão tomará o lápis convulsivamente e começará a escrever sem que nada se lhe oponha.
Tais são as explicações mais essenciais que devemos dar relativamente ao desenvolvimento da psicografia. A experiência dará a conhecer, na prática, certos detalhes cuja referência aqui seria inútil e pelos quais nos guiaremos como complementos aos princípios gerais. Que muitos experimentem: verificar-se-á que quase não há uma família que não tenha um médium escrevente entre os seus membros, nem que seja uma criança.
Quem quer que tenha recebido o dom de escrever sob a influência dos Espíritos possui uma faculdade preciosa, porque se toma intérprete entre o mundo visível e o invisível. É muitas vezes uma missão que recebeu para o bem, mas do qual não se deve envaidecer, pois a faculdade pode lhe ser retirada se dela fizer mau uso e, até, voltar-se contra si mesmo, no sentido de que escreverá coisas más e terá apenas maus Espíritos à sua disposição. Aquele que, a despeito dos esforços e da perseverança, não chega a possuí-Ia, não deve, por isso, concluir desfavoravelmente à sua pessoa: é que sua organização física não se presta para isso, mas não fica deserdado das comunicações espíritas; se as não recebe diretamente, pode obtê-las muito belas e muito boas por um intermediário. Aliás, pode, em compensação, possuir outras faculdades não menos úteis. A privação de um sentido quase sempre é compensada por um outro sentido mais desenvolvido.
[1] No Vocabulário Kardec chama-os médiums communicateurs (médiuns comunicantes); nós preferimos a denominação de médiuns excitadores, porque, na verdade, sua ação é antes estimulante e auxiliar para vencer a inércia ou a distonia vibratória entre o médium e o Espírito; o médium excitador age como um estabilizador da corrente magnética-espiritual entre o Espírito e o médium. Veja-se a nota nº 6. N. do T.
CAPÍTULO VI
PAPEL DO MÉDIUM E SUA INFLUÊNCIA NAS MANIFESTAÇÕES
Para compreender o papel do médium nas manifestações é preciso que nos demos conta da maneira por que se opera a transmissão do pensamento dos Espíritos. Falamos aqui dos médiuns escreventes.
Como dissemos, o Espírito possui um envoltório semi material chamado perispírito. O fluido condensado, por assim dizer, em redor do Espírito, para formar esse envoltório é o intermediário por meio do qual aquele age sobre o corpo; é o agente de sua força material; é por ele que se produzem os fenômenos físicos.
Se examinarmos certos efeitos que se produzem no movimento das mesas, da cesta ou da prancheta, que escreve, não poderemos duvidar de uma ação exercida diretamente pelo Espírito sobre aqueles objetos. Por vezes a cesta se agita com tal violência que escapa das mãos do médium; outras vezes, mesmo, se dirige para certas pessoas do grupo, para batê-las; outras, ainda, seus movimentos denotam sentimentos afetuosos. O mesmo acontece quando o lápis está na mão: por vezes é atirado ao longe, violentamente, ou a mão, como a cesta, se agita convulsivamente e bate na mesa com raiva, ainda que o médium esteja na maior calma e se admire de não ser senhor de si. Digamos, de passagem, que esses efeitos denotam geralmente a presença de Espíritos imperfeitos; os Espíritos realmente superiores são constantemente calmos, dignos e benevolentes; se não são escutados convenientemente, retiram-se e outros lhes tomam o lugar. O Espírito pode, pois, exprimir diretamente o seu pensamento pelo movimento de um objeto, do qual a mão do médium serve de ponto de apoio. Pode-o até sem que tal objeto esteja em contado com o médium.
A transmissão do pensamento também se dá por meio do Espírito do médium, ou melhor, por meio de sua alma, porque sob este nome designamos o Espírito encarnado. Neste caso o Espírito estranho não age sobre a mão, fazendo-a escrever como no caso da cesta; ele não a domina, não a guia: age sobre a alma, com a qual se identifica. Sob esse impulso, a alma dirige a mão por meio do fluido que constitui o seu perispírito. A mão dirige a cesta, a cesta dirige o lápis. Notemos aqui - e isto é Importante - que o Espírito estranho não se substitui à alma, pois não poderia deslocá-la: ele a domina, mau grado seu e lhe imprime a sua vontade. Quando dizemos mau grado seu, queremos falar da alma agindo exteriormente pelos órgãos do corpo. Mas a alma, como Espírito que é, mesmo encarnado, pode perfeitamente ter consciência da ação exercida sobre si mesma por um Espírito estranho. O papel da alma em tal. circunstância é, por vezes, inteiramente passivo, e, então, o médium nenhuma consciência tem do que escreve ou do que diz, caso seja um médium falante. Mas às vezes, a passividade não é absoluta: então há uma consciência mais ou menos vaga, posto sua mão seja arrastada por um movimento maquinal ao qual fique estranha a sua vontade.
Dir-se-á que se assim é, nada prova que seja um Espírito estranho quem escreve, mas o próprio médium. É aqui o lugar para relevar um erro partilhado por muita gente. Diremos, pois, que pode acontecer que a alma do médium se comunique, como se fosse um Espírito estranho; isto é fácil de compreender-se. Desde que podemos evocar o Espírito de pessoas vivas, ausentes ou presentes, e que esse Espírito se comunique pela escrita ou pela palavra do médium, por que não se comunicaria o Espírito encarnado no médium? Provam os fatos que, em certas circunstâncias assim acontece, como no sonambulismo, por exemplo. Daí se segue que a comunicação dada pela alma do médium seja de menor valor? Absolutamente. O Espírito encarnado no médium pode ser mais adiantado que certos Espíritos estranhos e, então, dará comunicações melhores. A nós cabe julgar. No caso, ele fala como Espírito desprendido da matéria e não como homem. A questão é de saber se não é sempre o Espírito do médium que emite seus próprios pensamentos, como pretendem alguns. Essa opinião absoluta é um sistema que não pode originar-se senão de uma observação incompleta. Assim, é sempre perigoso externar uma teoria sobre coisas não aprofundadas é das quais apenas se viu uma face. Sem dúvida casos há em que a intervenção de um Espírito estranho não é incontestável; basta, porém, que nalguns deles ela seja manifesta para que se conclua que um Espírito, que não o do médium, pode comunicar-se. Ora, essa intervenção estranha não seria duvidosa quando, por exemplo, uma pessoa que não soubesse ler nem escrever, nada obstante escrevesse como médium; quando um médium escreve ou fala uma língua que não conhece; quando, enfim - o que constitui o caso mais comum - nenhuma consciência tem do que escreve, quando os pensamentos expressos são contrários à sua maneira de ver, fora de seus conhecimentos ou acima de seu alcance mental. Sobre este último caso dá a experiência provas tão palpáveis que a dúvida não é permitida em quem haja observado muito e, sobretudo, observado bem.
Seja, pois, qual for o modo de ação do Espírito estranho para a produção pela palavra, o médium nunca passa de um instrumento, mas de um instrumento mais ou menos cômodo. Isto permite que façamos uma observação importante, que responderá a esta pergunta natural: Por que nem todos os médiuns escrevem em todas as línguas que lhes são desconhecidas?
O Espírito estranho sem dúvida compreende todas as línguas, desde que estas são a expressão do pensamento e o Espírito compreende pelo pensamento. Mas para comunicar tal pensamento é necessário um instrumento - o médium. A alma do médium que recebe a comunicação estranha só por seus órgãos corpóreos poderá transmiti-a; ora, esses órgãos não podem ter para uma língua desconhecida a mesma flexibilidade que têm para a que lhes é familiar. Um médium que apenas fala francês acidentalmente poderá dar uma resposta em inglês, por exemplo, se ao Espírito agrada fazê-lo; mas os Espíritos, que já acham muito lenta a linguagem humana, em relação à rapidez do pensamento, por isso que o abreviam quanto podem, impacientam-se com a resistência mecânica que aqueles oferecem. Por isso nem sempre o fazem. É também esta a razão por que o médium novato, que escreve lentamente e com dificuldade, mesmo em sua própria língua, em geral só consegue respostas breves e sem desenvolvimento. Assim, recomendam os Espíritos que por intermédio destes últimos não sejam feitas perguntas senão muito simples. Para as de maior importância é necessário um médium desenvolvido, que não ofereça nenhuma dificuldade mecânica ao Espírito. Nós não tomaríamos para leitor um escolar que apenas deletasse. Um bom operário não gosta de se servir de ferramenta ordinária. Acrescentamos uma outra consideração, de grande importância no que concerne às línguas estranhas. Os ensaios desse gênero são sempre feitos com o objetivo de curiosidade e de experimentação. Ora, nada mais antipático para os Espíritos do que as provas a que tentam submetê-los. Os Espíritos superiores a isso não se prestam e se afastam desde que tentamos entrar por esse caminho. Tanto se comprazem nas coisas úteis e sérias, quanto lhes repugna ocupar-se das coisas fúteis e sem finalidade. É, dirão os incrédulos, para nos convencer; e tal objetivo é útil, desde que pode ganhar adeptos à causa dos Espíritos. A isto respondem os Espíritos: "Nossa causa não necessita dos que são tão orgulhosos que se julgam indispensáveis: chamamos a nós aqueles que queremos e, frequentemente são os mais humildes. Jesus realizou os milagres que lhe pediam os Escribas? De que homens se serviu para revolucionar o mundo? Se quiserdes convencer-vos tendes outros meios fora da exibição de força: começai por vos submeterdes; não é do regulamento que o estudante imponha a sua vontade a.o seu professor”.
Disso resulta que, tirantes raras exceções, o médium transmite o pensamento dos Espíritos pelos meios mecânicos à sua disposição e que a expressão desse pensamento pode, e, mesmo, deve, na maioria dos casos, ressentir-se da imperfeição desses meios. Assim, o homem inculto, o campônio, poderá dizer as mais belas coisas, exprimir os mais elevados pensamentos, os mais filosóficos, falando como um camponês. Para os Espíritos o pensamento é tudo, a forma, nada. Isto responde à objeção de certos críticos, relativamente às incorreções de estilo e de ortografia, que podem ser notadas, e que tanto podem vir do médium quanto do Espírito. Seria futilidade agarrar-se a semelhantes coisas.
Se, do ponto de vista da execução, o médium não passa de um instrumento, sob outro aspecto exerce uma grande influência. Desde que, para se comunicar, o Espírito estranho se identifica com o do médium, tal identificação só se verifica quando entre eles se estabelece simpatia e, se assim se pode dizer, afinidade. A alma exerce sobre o Espírito estranho uma espécie de atração ou de repulsão, conforme o grau de similitude ou de dessemelhança. Ora, os bons têm afinidade pelos bons e os maus pelos maus. De ande se segue que as qualidades morais do médium têm uma influência capital sobre a natureza dos Espíritos que por seu intermédio se comunicam. Se for viciado, os Espíritos inferiores virão agrupar-se em seu redor e estarão sempre prontos a tomar o lugar dos bons Espíritos que forem chamados. As qualidades que atraem os bons Espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade de coração, o amor ao próximo e o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os repelem são: o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões pelas quais o homem se liga à matéria. Um médium por excelência seria, então, aquele que ligasse a facilidade de execução ao mais alto grau de qualidades morais.
A influência do Espírito do médium pode ainda exercer-se de outra maneira. Se for hostil ao Espírito estranho que se comunica, pode lhe ser um intérprete infiel, alterar ou mascarar seu pensamento, ou apresentá-lo em termos impróprios. Dá-se o mesmo entre nós, quando escolhemos um homem de má fé para uma missão de confiança.
A faculdade mediatriz, seja qual for o seu grau de extensão, não basta para que tenhamos boas comunicações. Antes de tudo é necessário, como condição expressa, um médium simpático aos bons Espíritos. A repulsão destes pelos médiuns inferiores do ponto de vista moral e fácil de compreender. Nos tomaríamos como confidentes pessoas às quais não estimássemos?
Certas criaturas não realmente mal aquinhoadas relativamente às comunicações: algumas há que nem recebem nem transmitem habitualmente senão coisas triviais ou grosseiras, para não dizer mais. Devem elas deplorá-lo como um indício seguro da natureza dos Espíritos que se agrupam em seu redor, pois certamente não são Espíritos superiores os que empregam semelhante linguagem. Nunca seriam demasiados os esforços para se desvencilharem de acólitos tão pouco recomendáveis, a menos que tais criaturas achem um certo encanto em tal gênero de conversação. Em todo caso, concitamo-las a evitar a sua exibição, pois isto lhes poderia dar uma ideia pouco lisonjeira das simpatias que encontram no mundo dos Espíritos. Completaremos o que fica dito dos médiuns à medida que o exigir o desenvolvimento dessas instruções.
Então seria absolutamente impossível ter boas comunicações por médiuns imperfeitos? É o que veremos no capitulo seguinte.
Como dissemos, o Espírito possui um envoltório semi material chamado perispírito. O fluido condensado, por assim dizer, em redor do Espírito, para formar esse envoltório é o intermediário por meio do qual aquele age sobre o corpo; é o agente de sua força material; é por ele que se produzem os fenômenos físicos.
Se examinarmos certos efeitos que se produzem no movimento das mesas, da cesta ou da prancheta, que escreve, não poderemos duvidar de uma ação exercida diretamente pelo Espírito sobre aqueles objetos. Por vezes a cesta se agita com tal violência que escapa das mãos do médium; outras vezes, mesmo, se dirige para certas pessoas do grupo, para batê-las; outras, ainda, seus movimentos denotam sentimentos afetuosos. O mesmo acontece quando o lápis está na mão: por vezes é atirado ao longe, violentamente, ou a mão, como a cesta, se agita convulsivamente e bate na mesa com raiva, ainda que o médium esteja na maior calma e se admire de não ser senhor de si. Digamos, de passagem, que esses efeitos denotam geralmente a presença de Espíritos imperfeitos; os Espíritos realmente superiores são constantemente calmos, dignos e benevolentes; se não são escutados convenientemente, retiram-se e outros lhes tomam o lugar. O Espírito pode, pois, exprimir diretamente o seu pensamento pelo movimento de um objeto, do qual a mão do médium serve de ponto de apoio. Pode-o até sem que tal objeto esteja em contado com o médium.
A transmissão do pensamento também se dá por meio do Espírito do médium, ou melhor, por meio de sua alma, porque sob este nome designamos o Espírito encarnado. Neste caso o Espírito estranho não age sobre a mão, fazendo-a escrever como no caso da cesta; ele não a domina, não a guia: age sobre a alma, com a qual se identifica. Sob esse impulso, a alma dirige a mão por meio do fluido que constitui o seu perispírito. A mão dirige a cesta, a cesta dirige o lápis. Notemos aqui - e isto é Importante - que o Espírito estranho não se substitui à alma, pois não poderia deslocá-la: ele a domina, mau grado seu e lhe imprime a sua vontade. Quando dizemos mau grado seu, queremos falar da alma agindo exteriormente pelos órgãos do corpo. Mas a alma, como Espírito que é, mesmo encarnado, pode perfeitamente ter consciência da ação exercida sobre si mesma por um Espírito estranho. O papel da alma em tal. circunstância é, por vezes, inteiramente passivo, e, então, o médium nenhuma consciência tem do que escreve ou do que diz, caso seja um médium falante. Mas às vezes, a passividade não é absoluta: então há uma consciência mais ou menos vaga, posto sua mão seja arrastada por um movimento maquinal ao qual fique estranha a sua vontade.
Dir-se-á que se assim é, nada prova que seja um Espírito estranho quem escreve, mas o próprio médium. É aqui o lugar para relevar um erro partilhado por muita gente. Diremos, pois, que pode acontecer que a alma do médium se comunique, como se fosse um Espírito estranho; isto é fácil de compreender-se. Desde que podemos evocar o Espírito de pessoas vivas, ausentes ou presentes, e que esse Espírito se comunique pela escrita ou pela palavra do médium, por que não se comunicaria o Espírito encarnado no médium? Provam os fatos que, em certas circunstâncias assim acontece, como no sonambulismo, por exemplo. Daí se segue que a comunicação dada pela alma do médium seja de menor valor? Absolutamente. O Espírito encarnado no médium pode ser mais adiantado que certos Espíritos estranhos e, então, dará comunicações melhores. A nós cabe julgar. No caso, ele fala como Espírito desprendido da matéria e não como homem. A questão é de saber se não é sempre o Espírito do médium que emite seus próprios pensamentos, como pretendem alguns. Essa opinião absoluta é um sistema que não pode originar-se senão de uma observação incompleta. Assim, é sempre perigoso externar uma teoria sobre coisas não aprofundadas é das quais apenas se viu uma face. Sem dúvida casos há em que a intervenção de um Espírito estranho não é incontestável; basta, porém, que nalguns deles ela seja manifesta para que se conclua que um Espírito, que não o do médium, pode comunicar-se. Ora, essa intervenção estranha não seria duvidosa quando, por exemplo, uma pessoa que não soubesse ler nem escrever, nada obstante escrevesse como médium; quando um médium escreve ou fala uma língua que não conhece; quando, enfim - o que constitui o caso mais comum - nenhuma consciência tem do que escreve, quando os pensamentos expressos são contrários à sua maneira de ver, fora de seus conhecimentos ou acima de seu alcance mental. Sobre este último caso dá a experiência provas tão palpáveis que a dúvida não é permitida em quem haja observado muito e, sobretudo, observado bem.
Seja, pois, qual for o modo de ação do Espírito estranho para a produção pela palavra, o médium nunca passa de um instrumento, mas de um instrumento mais ou menos cômodo. Isto permite que façamos uma observação importante, que responderá a esta pergunta natural: Por que nem todos os médiuns escrevem em todas as línguas que lhes são desconhecidas?
O Espírito estranho sem dúvida compreende todas as línguas, desde que estas são a expressão do pensamento e o Espírito compreende pelo pensamento. Mas para comunicar tal pensamento é necessário um instrumento - o médium. A alma do médium que recebe a comunicação estranha só por seus órgãos corpóreos poderá transmiti-a; ora, esses órgãos não podem ter para uma língua desconhecida a mesma flexibilidade que têm para a que lhes é familiar. Um médium que apenas fala francês acidentalmente poderá dar uma resposta em inglês, por exemplo, se ao Espírito agrada fazê-lo; mas os Espíritos, que já acham muito lenta a linguagem humana, em relação à rapidez do pensamento, por isso que o abreviam quanto podem, impacientam-se com a resistência mecânica que aqueles oferecem. Por isso nem sempre o fazem. É também esta a razão por que o médium novato, que escreve lentamente e com dificuldade, mesmo em sua própria língua, em geral só consegue respostas breves e sem desenvolvimento. Assim, recomendam os Espíritos que por intermédio destes últimos não sejam feitas perguntas senão muito simples. Para as de maior importância é necessário um médium desenvolvido, que não ofereça nenhuma dificuldade mecânica ao Espírito. Nós não tomaríamos para leitor um escolar que apenas deletasse. Um bom operário não gosta de se servir de ferramenta ordinária. Acrescentamos uma outra consideração, de grande importância no que concerne às línguas estranhas. Os ensaios desse gênero são sempre feitos com o objetivo de curiosidade e de experimentação. Ora, nada mais antipático para os Espíritos do que as provas a que tentam submetê-los. Os Espíritos superiores a isso não se prestam e se afastam desde que tentamos entrar por esse caminho. Tanto se comprazem nas coisas úteis e sérias, quanto lhes repugna ocupar-se das coisas fúteis e sem finalidade. É, dirão os incrédulos, para nos convencer; e tal objetivo é útil, desde que pode ganhar adeptos à causa dos Espíritos. A isto respondem os Espíritos: "Nossa causa não necessita dos que são tão orgulhosos que se julgam indispensáveis: chamamos a nós aqueles que queremos e, frequentemente são os mais humildes. Jesus realizou os milagres que lhe pediam os Escribas? De que homens se serviu para revolucionar o mundo? Se quiserdes convencer-vos tendes outros meios fora da exibição de força: começai por vos submeterdes; não é do regulamento que o estudante imponha a sua vontade a.o seu professor”.
Disso resulta que, tirantes raras exceções, o médium transmite o pensamento dos Espíritos pelos meios mecânicos à sua disposição e que a expressão desse pensamento pode, e, mesmo, deve, na maioria dos casos, ressentir-se da imperfeição desses meios. Assim, o homem inculto, o campônio, poderá dizer as mais belas coisas, exprimir os mais elevados pensamentos, os mais filosóficos, falando como um camponês. Para os Espíritos o pensamento é tudo, a forma, nada. Isto responde à objeção de certos críticos, relativamente às incorreções de estilo e de ortografia, que podem ser notadas, e que tanto podem vir do médium quanto do Espírito. Seria futilidade agarrar-se a semelhantes coisas.
Se, do ponto de vista da execução, o médium não passa de um instrumento, sob outro aspecto exerce uma grande influência. Desde que, para se comunicar, o Espírito estranho se identifica com o do médium, tal identificação só se verifica quando entre eles se estabelece simpatia e, se assim se pode dizer, afinidade. A alma exerce sobre o Espírito estranho uma espécie de atração ou de repulsão, conforme o grau de similitude ou de dessemelhança. Ora, os bons têm afinidade pelos bons e os maus pelos maus. De ande se segue que as qualidades morais do médium têm uma influência capital sobre a natureza dos Espíritos que por seu intermédio se comunicam. Se for viciado, os Espíritos inferiores virão agrupar-se em seu redor e estarão sempre prontos a tomar o lugar dos bons Espíritos que forem chamados. As qualidades que atraem os bons Espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade de coração, o amor ao próximo e o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os repelem são: o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sensualidade e todas as paixões pelas quais o homem se liga à matéria. Um médium por excelência seria, então, aquele que ligasse a facilidade de execução ao mais alto grau de qualidades morais.
A influência do Espírito do médium pode ainda exercer-se de outra maneira. Se for hostil ao Espírito estranho que se comunica, pode lhe ser um intérprete infiel, alterar ou mascarar seu pensamento, ou apresentá-lo em termos impróprios. Dá-se o mesmo entre nós, quando escolhemos um homem de má fé para uma missão de confiança.
A faculdade mediatriz, seja qual for o seu grau de extensão, não basta para que tenhamos boas comunicações. Antes de tudo é necessário, como condição expressa, um médium simpático aos bons Espíritos. A repulsão destes pelos médiuns inferiores do ponto de vista moral e fácil de compreender. Nos tomaríamos como confidentes pessoas às quais não estimássemos?
Certas criaturas não realmente mal aquinhoadas relativamente às comunicações: algumas há que nem recebem nem transmitem habitualmente senão coisas triviais ou grosseiras, para não dizer mais. Devem elas deplorá-lo como um indício seguro da natureza dos Espíritos que se agrupam em seu redor, pois certamente não são Espíritos superiores os que empregam semelhante linguagem. Nunca seriam demasiados os esforços para se desvencilharem de acólitos tão pouco recomendáveis, a menos que tais criaturas achem um certo encanto em tal gênero de conversação. Em todo caso, concitamo-las a evitar a sua exibição, pois isto lhes poderia dar uma ideia pouco lisonjeira das simpatias que encontram no mundo dos Espíritos. Completaremos o que fica dito dos médiuns à medida que o exigir o desenvolvimento dessas instruções.
Então seria absolutamente impossível ter boas comunicações por médiuns imperfeitos? É o que veremos no capitulo seguinte.
CAPÍTULO VII
INFLUÊNCIA DO MEIO NAS MANIFESTAÇÕES
Grave erro seria pensar que seja necessário ser médium a fim de atrair os seres do mundo invisível. O espaço está povoado de Espíritos; incessantemente nós os temos ao nosso redor, vendo-nos, observando-nos, participando de nossas reuniões, seguindo-nos ou fugindo-nos, conforme os atraiamos ou os repilamos. A mediunidade não é para isto: ela é apenas um meio de comunicação. Segundo o que temos visto quanto às causas de antipatia ou de simpatia dos Espíritos, facilmente se compreende que devemos estar rodeados pelos que têm afinidade por nosso próprio Espírito, conforme seja ele elevado ou degradado. Consideremos agora o estado moral do nosso globo e compreenderemos qual gênero de Espíritos que devem dominar entre os Espíritos errantes. Se considerarmos cada povo em particular, poderemos julgar, pelo caráter dominante dos habitantes, por suas preocupações, por seus sentimentos mais ou menos morais e humanitários, das ordens de Espíritos que aí se encontram de preferência. Os Espíritos não passam de almas desprendidas dos nossos corpos e que levam consigo o reflexo de nossas qualidades e de nossas imperfeições. Serão bons ou maus, conforme o que tenhamos sido, exceção feita daqueles que, tendo deixado no fundo do alambique terreno as suas impurezas, elevaram-se acima da turba de Espíritos imperfeitos. O mundo espírita não é, pois, na realidade, senão um extrato quintessenciado do mundo corpóreo, e que deste contém os bons e os maus odores.
Partindo deste princípio, suponhamos uma reunião de criaturas levianas, inconseqüentes, absorvidas em seus prazeres. Quais serão os Espíritos que ai se encontram preferencialmente? Com toda certeza não serão Espíritos superiores, do mesmo modo que não serão os nossos cientistas e os nossos filósofos que aí iriam por passatempo. Assim, toda vez que alguns homens se reúnem, têm consigo uma assembléia invisível que se afina com as suas qualidades ou com os seus defeitos, abstração feita de qualquer idéia de evocação. Adiantamos agora que eles tenham a possibilidade de entreter-se com os seres do mundo invisível através de um intérprete, isto é, de um médium. Quais os que responderão ao apelo? Evidentemente os que lá estão, prontinhos, e que apenas buscam uma ocasião para comunicar-se. Se numa assembléia fútil for chamado um Espírito superior, poderá ele vir e, até, dizer algumas palavras sensatas, como um bom pastor virá ao meio de suas ovelhas desgarradas. Mas desde que veja que não é compreendido nem escutado, vai-se embora, como o faríeis em seu lugar. Então os outros têm o campo livre.
Nem sempre basta que uma reunião seja séria para ter comunicações de ordem elevada. Há criaturas que nunca riem e cujo coração não é mais puro. Ora, é sobretudo o coração que atrai os bons Espíritos. Nenhuma condição moral exclui as comunicações espíritas; mas se estivermos em más condições, conversaremos com os nossos iguais, que não se pejam de nos enganar e que freqüentem ente lisonjeiam os nossos preconceitos.
Pelo fato de não pertencer a uma ordem superior nem sempre um Espírito é mau: por vezes é apenas leviano. Se nos divertirmos com suas facécias, ele as multiplicará de bom grado e nos dará entrada para o sal dos epigramas que não nos assentam bem e, sob uma forma jovial muitas vezes nos dão lições picantes. São os vaudevilistas do mundo espírita, assim como os Espíritos superiores são os seus cientistas e filósofos.
Vê-se por aí a enorme influência do meio sobre a natureza das manifestações inteligentes. Mas essa influência não se exerce como alguns pretendiam, quando não era ainda conhecido o mundo dos Espíritos como o é hoje, e antes que as experiências mais concludentes tivessem vindo esclarecer as dúvidas. Quando as comunicações concordam com a opinião dos assistentes não é porque tal opinião se reflita no Espírito do médium como em um espelho: é porque tendes convosco Espíritos que vos são simpáticos, pelo bem ou pelo mal e que abundam em vossos conceitos. E o que o prova é que se tiverdes a força de atrair outros Espíritos que não os que vos rodeiam, esse mesmo médium vos apresentará uma linguagem completamente diferente, e vos dirá as coisas mais afastadas de vossa mente e de vossas convicções. Em resumo, as condições do meio serão tanto melhores quanto mais homogeneidade aí houver para o bem, mais sentimentos puros e elevados, mais desejo sincero de instruir-se sem segundas intenções.
Nesse meio três elementos podem influir, cada um de per si ou simultaneamente: o conjunto dos assistentes, pelos Espíritos que atraem; o médium, pela natureza de seu próprio Espírito, que serve de intérprete; e aquele que interroga. Este pede, por si só, dominar todas as outras influências e, nada obstante todas as condições desfavoráveis do ambiente, pode por vezes obter grandes coisas por seu ascendente, desde que o fim a que se propõe seja útil. Os Espíritos superiores vêm ao seu apelo e para ele; os outros se calam, como escolares diante dos professores.
A influência do meio faz compreender que quanto menos numerosa a reunião melhor será, por ser mais fácil conseguir a homogeneidade. As pequenas sessões íntimas são sempre mais favoráveis às belas comunicações. Entretanto compreende-se que se cem pessoas reunidas estiverem bastante recolhidas e atentas, obterão mais que dez distraídas e barulhentas.
O que sobretudo é preciso entre os assistentes é uma comunhão de pensamento. Se esta visar o bem, os bons Espíritos virão facilmente e de boa vontade. Nunca seria demasiada a circunspeção mantida quanto aos elementos novos que introduzimos nas sessões: há pessoas que consigo levam a perturbação onde quer que se achem. Neste caso os mais incômodos não são os ignorantes da matéria, nem mesmo os que não acreditam: a convicção só se adquire com a experiência e há criaturas que de boa fé se querem esclarecer. Estas, sobretudo, das quais nos devemos preservar, são as criaturas de sistemas preconcebidos, os incrédulos que mau grado seu ainda duvidam de tudo, mesmo da evidência; os orgulhosos que pretendem que só eles têm a luz infusa, querem por toda parte impor as suas opiniões e olham com desdém os que pensam diversamente. Não nos deixemos influenciar por seu pretenso desejo de esclarecimento; muitos desses ficariam desapontados se fossem obrigados a concordar que se haviam enganado. Guardemo-nos, sobretudo, desses peroradores insípidos, que querem sempre dizer a última palavra. Os Espíritos não gostam de palavras inúteis.
Partindo deste princípio, suponhamos uma reunião de criaturas levianas, inconseqüentes, absorvidas em seus prazeres. Quais serão os Espíritos que ai se encontram preferencialmente? Com toda certeza não serão Espíritos superiores, do mesmo modo que não serão os nossos cientistas e os nossos filósofos que aí iriam por passatempo. Assim, toda vez que alguns homens se reúnem, têm consigo uma assembléia invisível que se afina com as suas qualidades ou com os seus defeitos, abstração feita de qualquer idéia de evocação. Adiantamos agora que eles tenham a possibilidade de entreter-se com os seres do mundo invisível através de um intérprete, isto é, de um médium. Quais os que responderão ao apelo? Evidentemente os que lá estão, prontinhos, e que apenas buscam uma ocasião para comunicar-se. Se numa assembléia fútil for chamado um Espírito superior, poderá ele vir e, até, dizer algumas palavras sensatas, como um bom pastor virá ao meio de suas ovelhas desgarradas. Mas desde que veja que não é compreendido nem escutado, vai-se embora, como o faríeis em seu lugar. Então os outros têm o campo livre.
Nem sempre basta que uma reunião seja séria para ter comunicações de ordem elevada. Há criaturas que nunca riem e cujo coração não é mais puro. Ora, é sobretudo o coração que atrai os bons Espíritos. Nenhuma condição moral exclui as comunicações espíritas; mas se estivermos em más condições, conversaremos com os nossos iguais, que não se pejam de nos enganar e que freqüentem ente lisonjeiam os nossos preconceitos.
Pelo fato de não pertencer a uma ordem superior nem sempre um Espírito é mau: por vezes é apenas leviano. Se nos divertirmos com suas facécias, ele as multiplicará de bom grado e nos dará entrada para o sal dos epigramas que não nos assentam bem e, sob uma forma jovial muitas vezes nos dão lições picantes. São os vaudevilistas do mundo espírita, assim como os Espíritos superiores são os seus cientistas e filósofos.
Vê-se por aí a enorme influência do meio sobre a natureza das manifestações inteligentes. Mas essa influência não se exerce como alguns pretendiam, quando não era ainda conhecido o mundo dos Espíritos como o é hoje, e antes que as experiências mais concludentes tivessem vindo esclarecer as dúvidas. Quando as comunicações concordam com a opinião dos assistentes não é porque tal opinião se reflita no Espírito do médium como em um espelho: é porque tendes convosco Espíritos que vos são simpáticos, pelo bem ou pelo mal e que abundam em vossos conceitos. E o que o prova é que se tiverdes a força de atrair outros Espíritos que não os que vos rodeiam, esse mesmo médium vos apresentará uma linguagem completamente diferente, e vos dirá as coisas mais afastadas de vossa mente e de vossas convicções. Em resumo, as condições do meio serão tanto melhores quanto mais homogeneidade aí houver para o bem, mais sentimentos puros e elevados, mais desejo sincero de instruir-se sem segundas intenções.
Nesse meio três elementos podem influir, cada um de per si ou simultaneamente: o conjunto dos assistentes, pelos Espíritos que atraem; o médium, pela natureza de seu próprio Espírito, que serve de intérprete; e aquele que interroga. Este pede, por si só, dominar todas as outras influências e, nada obstante todas as condições desfavoráveis do ambiente, pode por vezes obter grandes coisas por seu ascendente, desde que o fim a que se propõe seja útil. Os Espíritos superiores vêm ao seu apelo e para ele; os outros se calam, como escolares diante dos professores.
A influência do meio faz compreender que quanto menos numerosa a reunião melhor será, por ser mais fácil conseguir a homogeneidade. As pequenas sessões íntimas são sempre mais favoráveis às belas comunicações. Entretanto compreende-se que se cem pessoas reunidas estiverem bastante recolhidas e atentas, obterão mais que dez distraídas e barulhentas.
O que sobretudo é preciso entre os assistentes é uma comunhão de pensamento. Se esta visar o bem, os bons Espíritos virão facilmente e de boa vontade. Nunca seria demasiada a circunspeção mantida quanto aos elementos novos que introduzimos nas sessões: há pessoas que consigo levam a perturbação onde quer que se achem. Neste caso os mais incômodos não são os ignorantes da matéria, nem mesmo os que não acreditam: a convicção só se adquire com a experiência e há criaturas que de boa fé se querem esclarecer. Estas, sobretudo, das quais nos devemos preservar, são as criaturas de sistemas preconcebidos, os incrédulos que mau grado seu ainda duvidam de tudo, mesmo da evidência; os orgulhosos que pretendem que só eles têm a luz infusa, querem por toda parte impor as suas opiniões e olham com desdém os que pensam diversamente. Não nos deixemos influenciar por seu pretenso desejo de esclarecimento; muitos desses ficariam desapontados se fossem obrigados a concordar que se haviam enganado. Guardemo-nos, sobretudo, desses peroradores insípidos, que querem sempre dizer a última palavra. Os Espíritos não gostam de palavras inúteis.
Capítulo VIII - Das relações com os espíritos
DAS REUNIÕES
É óbvio que supomos as reuniões feitas com um fim sério. Quanto àquelas realizadas com o fito de divertimento e de curiosidade, nós as deixamos a si mesmas: os assistentes têm a liberdade de tirar a sorte e falar de seus pequenos segredos, se estiverem previamente convencidos de que vale a pena. Contudo, faremos notar que tais reuniões frívolas têm um grave inconveniente: certas pessoas podem levar a sério aquilo que quase sempre não passa de brincadeira dos Espíritos levianos, que se divertem à custa dos que os escutam. Quanto aos que jamais viram algo, não é lá que devem ir tomar as primeiras lições, nem buscar convicção: poderão equivocar-se singularmente quanto à natureza dos seres que constituem o mundo espírita, mais ou menos como aquele que julgasse toda a população de uma cidade pelos moradores de um de seus bairros.
De acordo com tudo quanto temos dito, compreende-se que o silêncio e o recolhimento sejam condições de primeira ordem; mas o que não é menos necessário é a regularidade das reuniões. Em todas há sempre Espíritos que poderíamos chamar de freqüentadores - e por isso não entendemos esses Espíritos que se acham por toda parte e em tudo se metem - tanto são Espíritos familiares, quanto aqueles que interrogamos mais freqüentemente. Não se deve supor que esses Espíritos não tenham outra coisa a fazer senão nos escutar: eles têm as suas ocupações e, aliás, podem encontrar-se em condições desfavoráveis para ser evocados.
Quando as reuniões são feitas em dias e horas prefixadas, eles por isso mesmo se dispõem e é raro que faltem. Alguns até levam a pontualidade ao extremo: formalizam-se por quinze minutos de atraso e se, eles próprios, marcam a hora de um apontamento, em vão os chamaríamos alguns minutos mais cedo. Fora das horas consagradas certamente podem vir e vêm até de boa vontade, desde que para um fim útil. Nada, porém, é mais prejudicial às boas comunicações do que os chamar a torto e a direito, quando nos dá na telha e, principalmente, sem um motivo sério. Como não são obrigados a submeter-se aos nossos caprichos, bem poderiam não se incomodar; e é sobretudo nessas ocasiões que outros lhes tomam o lugar e o nome.
Não há hora cabalística para evocações: a escolha é, pois, completamente indiferente; as melhores são aquelas em que as ocupações temporárias deixam mais calma e lazer. Os Espíritos que prescrevessem para qualquer coisa as horas de predileção consagradas aos seres infernais pelos contos fantásticos seriam, sem a menor dúvida, Espíritos mistificadores. Dá-se o mesmo em relação aos dias aos quais a superstição liga uma influência imaginária.
Também nada obsta que as reuniões sejam diárias: seu único inconveniente seria a sua grande freqüência. Se os Espíritos censuram o exagerado apego às coisas deste mundo, também recomendam não descuremos os deveres impostos por nossa posição social. Isto faz parte das provas. Aliás o nosso próprio Espírito, para a saúde do corpo, necessita não estar continuamente voltado para o mesmo objeto e, sobretudo, para as coisas abstratas. Ele lhes presta mais atenção quando não se acha fatigado. As reuniões semanais ou bihebdomadárias são suficientes; são feitas com mais solenidade e recolhimento do que quando mais amiúde. Falamos das sessões onde nos ocupamos de um trabalho regular e não daquelas que um médium incipiente consagra aos necessários exercícios de desenvolvimento. A bem dizer estas não são sessões, mas antes lições que darão resultados tanto mais rápidos quanto mais freqüentes. Uma vez, porém, desenvolvida a faculdade, é essencial não cometer abusos, pelos motivos já expostos. A satisfação causada pela posse dessa faculdade em certos principiantes excita nalguns um entusiasmo cuja moderação é muito importante. Devem eles pensar que ela lhes é dada para o bem e não para satisfazer uma vã curiosidade. Quando dizemos o bem, entendemos o de seus semelhantes e não somente o seu próprio. O médium que deseja entreter com os Espíritos relações sérias tanto deve evitar prestar-se à curiosidade dos amigos e conhecidos que quisessem assaltá-la com suas perguntas ociosas, quanto deve prestar um concurso decidido e desinteressado quando se tratar de coisas úteis. Do contrário seria egoísmo e o egoísmo é uma tara.
De acordo com tudo quanto temos dito, compreende-se que o silêncio e o recolhimento sejam condições de primeira ordem; mas o que não é menos necessário é a regularidade das reuniões. Em todas há sempre Espíritos que poderíamos chamar de freqüentadores - e por isso não entendemos esses Espíritos que se acham por toda parte e em tudo se metem - tanto são Espíritos familiares, quanto aqueles que interrogamos mais freqüentemente. Não se deve supor que esses Espíritos não tenham outra coisa a fazer senão nos escutar: eles têm as suas ocupações e, aliás, podem encontrar-se em condições desfavoráveis para ser evocados.
Quando as reuniões são feitas em dias e horas prefixadas, eles por isso mesmo se dispõem e é raro que faltem. Alguns até levam a pontualidade ao extremo: formalizam-se por quinze minutos de atraso e se, eles próprios, marcam a hora de um apontamento, em vão os chamaríamos alguns minutos mais cedo. Fora das horas consagradas certamente podem vir e vêm até de boa vontade, desde que para um fim útil. Nada, porém, é mais prejudicial às boas comunicações do que os chamar a torto e a direito, quando nos dá na telha e, principalmente, sem um motivo sério. Como não são obrigados a submeter-se aos nossos caprichos, bem poderiam não se incomodar; e é sobretudo nessas ocasiões que outros lhes tomam o lugar e o nome.
Não há hora cabalística para evocações: a escolha é, pois, completamente indiferente; as melhores são aquelas em que as ocupações temporárias deixam mais calma e lazer. Os Espíritos que prescrevessem para qualquer coisa as horas de predileção consagradas aos seres infernais pelos contos fantásticos seriam, sem a menor dúvida, Espíritos mistificadores. Dá-se o mesmo em relação aos dias aos quais a superstição liga uma influência imaginária.
Também nada obsta que as reuniões sejam diárias: seu único inconveniente seria a sua grande freqüência. Se os Espíritos censuram o exagerado apego às coisas deste mundo, também recomendam não descuremos os deveres impostos por nossa posição social. Isto faz parte das provas. Aliás o nosso próprio Espírito, para a saúde do corpo, necessita não estar continuamente voltado para o mesmo objeto e, sobretudo, para as coisas abstratas. Ele lhes presta mais atenção quando não se acha fatigado. As reuniões semanais ou bihebdomadárias são suficientes; são feitas com mais solenidade e recolhimento do que quando mais amiúde. Falamos das sessões onde nos ocupamos de um trabalho regular e não daquelas que um médium incipiente consagra aos necessários exercícios de desenvolvimento. A bem dizer estas não são sessões, mas antes lições que darão resultados tanto mais rápidos quanto mais freqüentes. Uma vez, porém, desenvolvida a faculdade, é essencial não cometer abusos, pelos motivos já expostos. A satisfação causada pela posse dessa faculdade em certos principiantes excita nalguns um entusiasmo cuja moderação é muito importante. Devem eles pensar que ela lhes é dada para o bem e não para satisfazer uma vã curiosidade. Quando dizemos o bem, entendemos o de seus semelhantes e não somente o seu próprio. O médium que deseja entreter com os Espíritos relações sérias tanto deve evitar prestar-se à curiosidade dos amigos e conhecidos que quisessem assaltá-la com suas perguntas ociosas, quanto deve prestar um concurso decidido e desinteressado quando se tratar de coisas úteis. Do contrário seria egoísmo e o egoísmo é uma tara.
DO LOCAL
Também não há lugares fatídicos para as comunicações espíritas: devem, entretanto, evitar-se aqueles que são de molde a chocar a imaginação. Os bons Espíritos vão a toda parte onde um coração puro os chama para o bem e os maus não têm predileção senão pelos lugares onde encontram simpatia. Os lugares de sepulcros têm mais influência sobre a nossa mente do que sobre os Espíritos e a experiência demonstra que tanto estes vêm ao quarto mais vulgar e sem aparelho diabólico, quanto aos seus túmulos e às capelas em ruínas, tanto em pleno dia quanto à luz da lua.
Se a escolha do local é indiferente, útil é não mudá-la desnecessariamente. O fluido vital, do qual cada Espírito errante ou encarnado é, de certo modo, um foco, irradia em seu redor pelo pensamento. Compreende-se, pois, que em um local habitual, deve haver um eflúvio desse fluido que aí forma, por assim dizer, uma atmosfera moral com a qual os Espíritos se identificam. Um lugar mesmo consagrado exclusivamente a essa espécie de entretenimentos e que não fosse, por assim dizer, profanado por preocupações vulgares seria ainda preferível, pois que seria um verdadeiro santuário de onde os maus Espíritos estariam excluídos, de vez que os elementos da atmosfera moral aí estariam menos misturados que num lugar banal.
A melhor disposição material é a que for mais cômoda e ocasionar o mínimo de desorganização e de confusão. Nos objetos que constituem a decoração, tudo quanto pode elevar o pensamento e lembrar o assunto de que nos ocupamos é útil. Entretanto é bom que se saiba que toda disposição ou ornamentação que cheira a grimório é absurda e, digamos logo, até perigosa, pelas idéias supersticiosas que naturalmente isto alimenta. Repetimos aqui o que dissemos pouco antes em relação às horas: os que recomendassem tais coisas ou práticas místicas quaisquer são Espíritos inferiores, que se divertem com a credulidade e que, eles próprios, se acham sob o império das idéias que tinham em vida. Dissemos, e nunca seria por demais repetido, que para os Espíritos superiores o pensamento é tudo e a forma, nada. É pelos bons pensamentos que os atraímos e não pelas fórmulas vãs. Os que ligam importância às coisas materiais provam por isso mesmo que ainda se acham sob a influência da matéria. Se, em certa época, as evocações estavam cercadas de mistérios e de símbolos, é que queriam esconder-se do vulgo e dar-se prestígio aos olhos dos ignorantes. Hoje a luz se fez para todos e é em vão que querem pô-la debaixo do alqueire.
Tudo quanto dissemos das reuniões onde se ocupam das comunicações espíritas se aplica naturalmente às comunicações individuais. Por isso não faremos menção especial. Dá-se o mesmo com tudo quanto nos resta examinar. Tomamos como modelo as reuniões, porque estas encerram condições mais complexas, de que cada um poderia fazer aplicação aos casos particulares. Acrescentamos, até, que as reuniões, quando se dão em boas condições, têm uma vantagem: várias pessoas, unidas por um pensamento comum, têm mais força para atrair bons Espíritos que gostam de achar-se num meio simpático, onde podem espargir a luz através de seus ensinamentos. Entretanto há circunstâncias em que eles preferem, e até recomendam as comunicações isoladas. Neste caso, o que de melhor se tem a fazer é conformar-se com os seus desejos.
Se a escolha do local é indiferente, útil é não mudá-la desnecessariamente. O fluido vital, do qual cada Espírito errante ou encarnado é, de certo modo, um foco, irradia em seu redor pelo pensamento. Compreende-se, pois, que em um local habitual, deve haver um eflúvio desse fluido que aí forma, por assim dizer, uma atmosfera moral com a qual os Espíritos se identificam. Um lugar mesmo consagrado exclusivamente a essa espécie de entretenimentos e que não fosse, por assim dizer, profanado por preocupações vulgares seria ainda preferível, pois que seria um verdadeiro santuário de onde os maus Espíritos estariam excluídos, de vez que os elementos da atmosfera moral aí estariam menos misturados que num lugar banal.
A melhor disposição material é a que for mais cômoda e ocasionar o mínimo de desorganização e de confusão. Nos objetos que constituem a decoração, tudo quanto pode elevar o pensamento e lembrar o assunto de que nos ocupamos é útil. Entretanto é bom que se saiba que toda disposição ou ornamentação que cheira a grimório é absurda e, digamos logo, até perigosa, pelas idéias supersticiosas que naturalmente isto alimenta. Repetimos aqui o que dissemos pouco antes em relação às horas: os que recomendassem tais coisas ou práticas místicas quaisquer são Espíritos inferiores, que se divertem com a credulidade e que, eles próprios, se acham sob o império das idéias que tinham em vida. Dissemos, e nunca seria por demais repetido, que para os Espíritos superiores o pensamento é tudo e a forma, nada. É pelos bons pensamentos que os atraímos e não pelas fórmulas vãs. Os que ligam importância às coisas materiais provam por isso mesmo que ainda se acham sob a influência da matéria. Se, em certa época, as evocações estavam cercadas de mistérios e de símbolos, é que queriam esconder-se do vulgo e dar-se prestígio aos olhos dos ignorantes. Hoje a luz se fez para todos e é em vão que querem pô-la debaixo do alqueire.
Tudo quanto dissemos das reuniões onde se ocupam das comunicações espíritas se aplica naturalmente às comunicações individuais. Por isso não faremos menção especial. Dá-se o mesmo com tudo quanto nos resta examinar. Tomamos como modelo as reuniões, porque estas encerram condições mais complexas, de que cada um poderia fazer aplicação aos casos particulares. Acrescentamos, até, que as reuniões, quando se dão em boas condições, têm uma vantagem: várias pessoas, unidas por um pensamento comum, têm mais força para atrair bons Espíritos que gostam de achar-se num meio simpático, onde podem espargir a luz através de seus ensinamentos. Entretanto há circunstâncias em que eles preferem, e até recomendam as comunicações isoladas. Neste caso, o que de melhor se tem a fazer é conformar-se com os seus desejos.
DAS EVOCAÇÕES
Pensam alguns que devemos abster-nos de evocar este ou aquele Espírito, quando se trata de ensinamentos genéricos; que é preferível esperar aquele que deseja comunicar-se. Baseiam-se no argumento de que, chamando um determinado Espírito, não há certeza de que seja ele mesmo quem se apresenta, ao passo que aquele que vem espontaneamente e de moto próprio melhor prova a sua identidade, pois que assim demonstra o desejo de entreter-se conosco. A nosso ver há nisso um erro. Primeiro porque há sempre em redor de nós Espíritos, mais comumente de baixa classe, que não perdem ocasião de comunicar-se; em segundo lugar, e por essa mesma razão, não chamando a nenhum particularmente, abre-se a porta a todos os que queiram entrar. Numa assembleia não dar a palavra a ninguém é deixá-la a todos; e sabe-se o que disso resulta. O apelo direto feito a um Espírito determinado é um laço entre nós e ele; chamamo-lo pelo nosso desejo e, assim, opomo-nos, por uma espécie de barreira, aos intrusos que nos poderiam induzir em erro quanto à sua mesma identidade. Sem um apelo direto, muitas vezes um Espírito não teria nenhum motivo para vir a nós, caso não fosse o nosso Espírito familiar. Aliás prova a experiência que, em todo caso, a evocação é preferível. Quanto à questão de identidade falaremos a seguir.
Esta regra, entretanto, não é absoluta. Nas reuniões regulares, sobretudo naquelas em que nos ocupamos em trabalho continuado, há sempre, conforme ficou dito, Espíritos habituais, que vêm sem ser chamados, por isso mesmo que, à vista da regularidade dos trabalhos, eles se acham prevenidos. Muitas vezes tomam a palavra espontaneamente, para indicar o que devemos fazer, ou para desenvolver um assunto em pauta, e, então, facilmente os reconhecemos, quer pela forma de linguagem, que é sempre idêntica, quer pela escrita ou por certos hábitos que lhes são familiares ou, ainda, pelos nomes que dão, ora no começo, ora no fim da manifestação.
Quanto aos Espíritos estranhos, mais simples é a maneira de os evocar: não há fórmulas sacramentais ou místicas; basta fazê-lo em nome de Deus, nos termos seguintes ou em outros equivalentes: “Peço a Deus Todo-poderoso que permita ao Espírito de... (designar o Espírito com bastante precisão) vir comunicar-se conosco”. Ou assim: “Em nome de Deus Todo-poderoso peço ao Espírito de... que venha comunicar-se conosco”. Se ele puder vir, geralmente obtêm-se como resposta: “Sim”. Ou: “Aqui estou”, ou, ainda: “Para que me querem?”
Muitas vezes nos surpreendemos com a presteza com que um Espírito evocado se apresenta, mesmo pela primeira vez. Dir-se-ia que estivesse prevenido. Efetivamente é o que acontece, quando nos preocupamos previamente com a evocação. Essa preocupação é uma espécie de evocação antecipada; e como temos sempre nossos Espíritos familiares ou outros que se identificam com o nosso pensamento, eles preparam o caminho de tal modo que, se nada se opuser, o Espírito que queremos evocar já se acha presente. Caso contrário, é o Espírito familiar do médium ou daquele que interroga, ou, ainda, o de um dos frequentadores quem o vai procurar, para o que não é preciso muito tempo. Se o Espírito evocado não puder vir imediatamente, o mensageiro (o mercúrio, se quiserem) marca um prazo de cinco minutos, um quarto de hora, uma hora ou mesmo alguns dias. Quando chega diz: “Ele está aqui”. Então podemos iniciar o questionário que desejamos fazer.
Quando dizemos que a evocação deve ser feita em nome de Deus entendemos que nossa recomendação deve ser tomada a sério e não levianamente. Os que nisso vissem uma fórmula sem consequência fariam melhor se se abstivessem.
Esta regra, entretanto, não é absoluta. Nas reuniões regulares, sobretudo naquelas em que nos ocupamos em trabalho continuado, há sempre, conforme ficou dito, Espíritos habituais, que vêm sem ser chamados, por isso mesmo que, à vista da regularidade dos trabalhos, eles se acham prevenidos. Muitas vezes tomam a palavra espontaneamente, para indicar o que devemos fazer, ou para desenvolver um assunto em pauta, e, então, facilmente os reconhecemos, quer pela forma de linguagem, que é sempre idêntica, quer pela escrita ou por certos hábitos que lhes são familiares ou, ainda, pelos nomes que dão, ora no começo, ora no fim da manifestação.
Quanto aos Espíritos estranhos, mais simples é a maneira de os evocar: não há fórmulas sacramentais ou místicas; basta fazê-lo em nome de Deus, nos termos seguintes ou em outros equivalentes: “Peço a Deus Todo-poderoso que permita ao Espírito de... (designar o Espírito com bastante precisão) vir comunicar-se conosco”. Ou assim: “Em nome de Deus Todo-poderoso peço ao Espírito de... que venha comunicar-se conosco”. Se ele puder vir, geralmente obtêm-se como resposta: “Sim”. Ou: “Aqui estou”, ou, ainda: “Para que me querem?”
Muitas vezes nos surpreendemos com a presteza com que um Espírito evocado se apresenta, mesmo pela primeira vez. Dir-se-ia que estivesse prevenido. Efetivamente é o que acontece, quando nos preocupamos previamente com a evocação. Essa preocupação é uma espécie de evocação antecipada; e como temos sempre nossos Espíritos familiares ou outros que se identificam com o nosso pensamento, eles preparam o caminho de tal modo que, se nada se opuser, o Espírito que queremos evocar já se acha presente. Caso contrário, é o Espírito familiar do médium ou daquele que interroga, ou, ainda, o de um dos frequentadores quem o vai procurar, para o que não é preciso muito tempo. Se o Espírito evocado não puder vir imediatamente, o mensageiro (o mercúrio, se quiserem) marca um prazo de cinco minutos, um quarto de hora, uma hora ou mesmo alguns dias. Quando chega diz: “Ele está aqui”. Então podemos iniciar o questionário que desejamos fazer.
Quando dizemos que a evocação deve ser feita em nome de Deus entendemos que nossa recomendação deve ser tomada a sério e não levianamente. Os que nisso vissem uma fórmula sem consequência fariam melhor se se abstivessem.
ESPÍRITOS QUE PODEM SER EVOCADOS
Podem ser evocados todos os Espíritos, seja qual for o grau da escala a que pertençam: os bons, como os maus, os que deixaram há pouco a vida, como os que viveram nas mais remotas eras, os homens ilustres, como os mais obscuros, nossos parentes e amigos, assim como os que nos são indiferentes. Mas não é dito que eles queiram ou possam sempre vir ao nosso apelo. Independentemente de sua vontade pessoal ou da permissão que lhes pode ser recusada por uma força superior, podem eles ser impedidos por motivos que nem sempre nos é dado penetrar.
Entre as causas que podem opor-se à manifestação de um Espírito, umas lhes são pessoais e outras lhes são estranhas. Entre as primeiras devem ser colocadas as suas ocupações ou as missões que devem realizar e das quais não podem desviar-se para ceder aos nossos desejos. Neste caso a visita é adiada.
Há, ainda, a sua própria situação. Posto o estado de encanação não seja um obstáculo absoluto, pode ser um impedimento em dados momentos, principalmente quando a encarnação se verifica em mundos inferiores e quando o próprio Espírito é pouco desmaterializado. Nos mundos superiores, naqueles onde os laços entre o Espírito e a matéria são muitos fracos, a manifestação é quase tão fácil quanto no estado de erraticidade; em todo caso é mais fácil do que naqueles em que a matéria corpórea é mais compacta.
As causas estranhas são devidas principalmente à natureza do médium, à da personalidade evocada, ao meio onde se dá a evocação e, enfim, ao objetivo que se tem em mira. Certos médiuns recebem mais particularmente comunicações de seus Espíritos familiares, que podem ser mais ou menos adiantados; outros são aptos a servir de intermediários a todos os Espíritos. Isto depende da simpatia ou da antipatia, da atração ou da repulsão que o Espírito do médium exerce sobre o Espírito estranho que o tome por intérprete com satisfação ou com repugnância. Depende, ainda, abstração feita das qualidades íntimas do médium, do desenvolvimento de sua faculdade mediúnica. Os Espíritos vêm com melhor vontade e, sobretudo, são mais explícitos com os médiuns que lhes não oferecem obstáculo material de qualquer espécie. Sendo todas as coisas iguais quanto às condições morais, quanto maior for a facilidade do médium para escrever ou falar, tanto mais se generalizarão as suas relações com o mundo espírita.
É necessário, ainda levar em conta a facilidade que deve dar o hábito de comunicar-se com este ou aquele Espírito. Com o tempo o Espírito estranho se identifica com o do médium e com o daquele que o chama. De lado a questão de simpatia, estabelecem-se entre eles relações semi materiais, que tomam as comunicações mais rápidas. É por isso que uma primeira conversa nem sempre é tão satisfatória quanto poderia desejar-se; por isso também às vezes os Espíritos pedem que sejam chamados novamente. O Espírito que vem habitualmente sente-se como em casa: está familiarizado com os ouvintes e os intérpretes; fala e age mais livremente.
Em resumo, e do que acabamos de dizer, resulta que a facilidade de evocar um Espírito qualquer não implica para este a obrigação de estar às nossas ordens; que ele poderá vir em dado momento e não em outro, pelo médium e com o evocador que lhe agrada e não com outros; que dirá o que quer e não será constrangido a dizer o que não quer; que irá embora quando lhe convier; enfim, que, por causas dependentes ou não de sua vontade, depois de se ter mostrado assíduo durante algum tempo, repentinamente poderá deixar de vir.
Da possibilidade de evocar os Espíritos encarnados resulta a de evocar o Espírito de uma pessoa viva. Então responderá ele como Espírito e não como homem e frequentemente suas ideias não serão as mesmas. Esta espécie de evocação requer prudência, porque circunstâncias há em que poderiam ter inconvenientes. A emancipação da alma, como se sabe, quase sempre se dá durante o sono. Ora, a evocação o provoca, se a pessoa não estiver dormindo ou, ao menos, produzirá um entorpecimento e uma suspensão momentânea das faculdades sensitivas. Assim, haveria perigo se nesse momento a pessoa se achasse numa posição em que necessitasse inteiramente de sua consciência. Outro inconveniente seria se estivesse doente porque o mal poderia agravar-se. O perigo, aliás, é atenuado no sentido em que o Espírito conhece as necessidades de seu corpo e a isto se conforma, não ficando ausente mais que o tempo necessário. Assim, por exemplo, quando vê que o corpo vai despertar, di-lo e anuncia que é forçado a se retirar. Como os Espíritos podem reencarnar na Terra, acontece por vezes que evocamos pessoas vivas sem o suspeitarmos; nós mesmos podemos sê-lo sem nos apercebermos. Mas então as circunstâncias não são as mesmas e disso nada resultaria de prejudicial.
Podemos admirar-nos de ver o Espírito dos mais ilustres homens, daqueles aos quais mal ousaríamos falar em vida, responder ao apelo das mais vulgares criaturas. Isto não surpreenderá senão os que não conhecem a natureza do mundo espírita. Quem quer que o tenha estudado, sabe que a posição ocupada na Terra não dá ali nenhuma supremacia e que lá o poderoso talvez esteja abaixo do que foi o seu criado. Tal é o sentido das palavras de Jesus: “Os grandes serão humilhados e os pequenos serão exaltados”. E, ainda: “Aquele que se humilha será exaltado e aquele que se eleva será humilhado”. Assim, um Espírito pode não ocupar entre os seus semelhantes a posição que lhe atribuímos; mas se for verdadeiramente superior deve ter-se despojado de todo orgulho e de toda vaidade e, desde então, olha o sentimento e não as exterioridades.
Entre as causas que podem opor-se à manifestação de um Espírito, umas lhes são pessoais e outras lhes são estranhas. Entre as primeiras devem ser colocadas as suas ocupações ou as missões que devem realizar e das quais não podem desviar-se para ceder aos nossos desejos. Neste caso a visita é adiada.
Há, ainda, a sua própria situação. Posto o estado de encanação não seja um obstáculo absoluto, pode ser um impedimento em dados momentos, principalmente quando a encarnação se verifica em mundos inferiores e quando o próprio Espírito é pouco desmaterializado. Nos mundos superiores, naqueles onde os laços entre o Espírito e a matéria são muitos fracos, a manifestação é quase tão fácil quanto no estado de erraticidade; em todo caso é mais fácil do que naqueles em que a matéria corpórea é mais compacta.
As causas estranhas são devidas principalmente à natureza do médium, à da personalidade evocada, ao meio onde se dá a evocação e, enfim, ao objetivo que se tem em mira. Certos médiuns recebem mais particularmente comunicações de seus Espíritos familiares, que podem ser mais ou menos adiantados; outros são aptos a servir de intermediários a todos os Espíritos. Isto depende da simpatia ou da antipatia, da atração ou da repulsão que o Espírito do médium exerce sobre o Espírito estranho que o tome por intérprete com satisfação ou com repugnância. Depende, ainda, abstração feita das qualidades íntimas do médium, do desenvolvimento de sua faculdade mediúnica. Os Espíritos vêm com melhor vontade e, sobretudo, são mais explícitos com os médiuns que lhes não oferecem obstáculo material de qualquer espécie. Sendo todas as coisas iguais quanto às condições morais, quanto maior for a facilidade do médium para escrever ou falar, tanto mais se generalizarão as suas relações com o mundo espírita.
É necessário, ainda levar em conta a facilidade que deve dar o hábito de comunicar-se com este ou aquele Espírito. Com o tempo o Espírito estranho se identifica com o do médium e com o daquele que o chama. De lado a questão de simpatia, estabelecem-se entre eles relações semi materiais, que tomam as comunicações mais rápidas. É por isso que uma primeira conversa nem sempre é tão satisfatória quanto poderia desejar-se; por isso também às vezes os Espíritos pedem que sejam chamados novamente. O Espírito que vem habitualmente sente-se como em casa: está familiarizado com os ouvintes e os intérpretes; fala e age mais livremente.
Em resumo, e do que acabamos de dizer, resulta que a facilidade de evocar um Espírito qualquer não implica para este a obrigação de estar às nossas ordens; que ele poderá vir em dado momento e não em outro, pelo médium e com o evocador que lhe agrada e não com outros; que dirá o que quer e não será constrangido a dizer o que não quer; que irá embora quando lhe convier; enfim, que, por causas dependentes ou não de sua vontade, depois de se ter mostrado assíduo durante algum tempo, repentinamente poderá deixar de vir.
Da possibilidade de evocar os Espíritos encarnados resulta a de evocar o Espírito de uma pessoa viva. Então responderá ele como Espírito e não como homem e frequentemente suas ideias não serão as mesmas. Esta espécie de evocação requer prudência, porque circunstâncias há em que poderiam ter inconvenientes. A emancipação da alma, como se sabe, quase sempre se dá durante o sono. Ora, a evocação o provoca, se a pessoa não estiver dormindo ou, ao menos, produzirá um entorpecimento e uma suspensão momentânea das faculdades sensitivas. Assim, haveria perigo se nesse momento a pessoa se achasse numa posição em que necessitasse inteiramente de sua consciência. Outro inconveniente seria se estivesse doente porque o mal poderia agravar-se. O perigo, aliás, é atenuado no sentido em que o Espírito conhece as necessidades de seu corpo e a isto se conforma, não ficando ausente mais que o tempo necessário. Assim, por exemplo, quando vê que o corpo vai despertar, di-lo e anuncia que é forçado a se retirar. Como os Espíritos podem reencarnar na Terra, acontece por vezes que evocamos pessoas vivas sem o suspeitarmos; nós mesmos podemos sê-lo sem nos apercebermos. Mas então as circunstâncias não são as mesmas e disso nada resultaria de prejudicial.
Podemos admirar-nos de ver o Espírito dos mais ilustres homens, daqueles aos quais mal ousaríamos falar em vida, responder ao apelo das mais vulgares criaturas. Isto não surpreenderá senão os que não conhecem a natureza do mundo espírita. Quem quer que o tenha estudado, sabe que a posição ocupada na Terra não dá ali nenhuma supremacia e que lá o poderoso talvez esteja abaixo do que foi o seu criado. Tal é o sentido das palavras de Jesus: “Os grandes serão humilhados e os pequenos serão exaltados”. E, ainda: “Aquele que se humilha será exaltado e aquele que se eleva será humilhado”. Assim, um Espírito pode não ocupar entre os seus semelhantes a posição que lhe atribuímos; mas se for verdadeiramente superior deve ter-se despojado de todo orgulho e de toda vaidade e, desde então, olha o sentimento e não as exterioridades.
LINGUAGEM A MANTER COM OS ESPÍRITOS
O grau de superioridade ou de inferioridade dos Espíritos indica naturalmente o tom que com eles devemos manter. É evidente que quanto mais elevados, tanto mais fazem jus ao nosso respeito, à nossa consideração e à nossa submissão. Não lhes devemos testemunhar menos deferência do que lhes faríamos em vida; mas por outros motivos. Se na Terra o considerávamos pela posição social, no mundo dos Espíritos nosso respeito só se dirige à superioridade moral. Sua própria elevação os coloca acima das puerilidades de nossas formas de adulação. Não será pelas palavras que lhes captaremos a benevolência, mas pela sinceridade dos sentimentos. Seria, pois, ridículo lhes dar títulos que os nossos costumes consagram à distinção das classes e que, em vida lhes teria talvez lisonjeado a vaidade. Se forem realmente superiores, não só não ligam importância, mas sentirão desagrado. Um bom pensamento lhes é mais agradável que os mais lisonjeiros epítetos. Do contrário não estariam acima da humanidade. O Espírito de um venerável eclesiástico, que na Terra foi um príncipe da Igreja, homem de bem e praticante da lei de Jesus, respondeu um dia a alguém que o evocava, dando-lhe o título de Monsenhor: “Devias dizer ao menos ex-monsenhor, porque aqui só Deus é Senhor. Fica sabendo que aqui encontro criaturas que na Terra se prosternavam à minha frente e diante das quais eu mesmo me inclino”.
Quanto à questão de saber se se deve tratar os Espíritos por tu[1] ela é muito pouco importante. O respeito está no pensamento e não nas palavras. Tudo depende da intenção ligada ao caso, pois a esse respeito os usos não são os mesmos em todas as línguas. Pode-se, pois, tratar ou não os Espíritos por tu, conforme sua classe e o grau de intimidade que exista entre eles e nós, como faríamos com os nossos semelhantes.
Se os Espíritos não ligam às palavras, gostam, entretanto, que se saiba o seu grau de condescendência, tanto em vir quanto em nos responder. Devemos, pois, agradecer-lhes, como também aos que se ligam a nós e nos protegem, o que constitui um meio para que continuem. Grave erro seria supor que a forma imperativa pode ter sobre eles alguma influência: é um meio infalível de afastar os Espíritos. Pedimos-lhes, mas não lhes ordenamos, pois que não se acham às nossas ordens; e tudo quanto denota orgulho os repele. Os próprios Espíritos familiares abandonam aqueles que os desamparam e se lhes mostram ingratos.
Mesmo quando não sejam de primeira categoria, nem por isso os Espíritos merecem menos a nossa consideração quando, sobretudo revelam uma relativa superioridade. Quanto aos Espíritos inferiores, seu caráter nos marca a linguagem que convém em seu trato. Entre estes alguns há que, posto inofensivos e até benevolentes, são levianos, ignorantes e estorvados. Tratá-los como se fossem Espíritos sérios, como o fazem certas pessoas, seria o mesmo que ajoelhar-se diante de um escolar ou de um jumento enfeitado com um capelo. O tom de familiaridade não lhes seria inadequado e eles não se formalizam: ao contrário, prestam-se de boa vontade.
Entre os Espíritos inferiores alguns são infelizes. Sejam quais forem as faltas que expiam, seus sofrimentos são títulos tanto maiores à nossa comissariarão que ninguém se pode gabar de escapar àquelas palavras do Cristo: “Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra”. A benevolência que lhes testemunhamos lhes é um alívio; em falta de simpatia devem eles encontrar a indulgência que desejaríamos tivessem para conosco.
Os Espíritos que revelam sua inferioridade pelo cinismo da linguagem, pelas mentiras e pela baixeza de sentimentos ou pela perfídia de seus conselhos certamente são menos dignos de nosso interesse que aqueles cujas palavras denotam arrependimento. Devemos-lhes, ao menos, a piedade que temos pelos maiores criminosos; e o meio de os reduzir ao silêncio é mostrarmo-nos superiores: pois eles só se entregam às pessoas das quais pensam que nada devem temer. É aqui o caso de falar com autoridade para os afastar, o que sempre se consegue por meio de uma vontade firme, intimando-os em nome de Deus e com o auxilio dos bons Espíritos. Eles se inclinam ante a superioridade moral, como um culpado ante o juiz.
Em resumo, tanto seria irreverente tratar os Espíritos superiores de igual para igual, quanto seria ridículo ter para com todos, sem exceção, a mesma deferência. Tenhamos veneração aos que a merecem, reconhecimento aos que nos assistem e protegem e para com todos uma benevolência de que um dia talvez nós mesmos tenhamos necessidade. Penetrando no mundo incorpóreo teremos aprendido a conhecê-lo e esse conhecimento nos deve orientar em nossas relações com os que o habitam. Em sua ignorância os Antigos lhes levantaram altares; para nós eles apenas são criaturas mais ou menos perfeitas e não levantamos altares senão a Deus[2].
Quanto à questão de saber se se deve tratar os Espíritos por tu[1] ela é muito pouco importante. O respeito está no pensamento e não nas palavras. Tudo depende da intenção ligada ao caso, pois a esse respeito os usos não são os mesmos em todas as línguas. Pode-se, pois, tratar ou não os Espíritos por tu, conforme sua classe e o grau de intimidade que exista entre eles e nós, como faríamos com os nossos semelhantes.
Se os Espíritos não ligam às palavras, gostam, entretanto, que se saiba o seu grau de condescendência, tanto em vir quanto em nos responder. Devemos, pois, agradecer-lhes, como também aos que se ligam a nós e nos protegem, o que constitui um meio para que continuem. Grave erro seria supor que a forma imperativa pode ter sobre eles alguma influência: é um meio infalível de afastar os Espíritos. Pedimos-lhes, mas não lhes ordenamos, pois que não se acham às nossas ordens; e tudo quanto denota orgulho os repele. Os próprios Espíritos familiares abandonam aqueles que os desamparam e se lhes mostram ingratos.
Mesmo quando não sejam de primeira categoria, nem por isso os Espíritos merecem menos a nossa consideração quando, sobretudo revelam uma relativa superioridade. Quanto aos Espíritos inferiores, seu caráter nos marca a linguagem que convém em seu trato. Entre estes alguns há que, posto inofensivos e até benevolentes, são levianos, ignorantes e estorvados. Tratá-los como se fossem Espíritos sérios, como o fazem certas pessoas, seria o mesmo que ajoelhar-se diante de um escolar ou de um jumento enfeitado com um capelo. O tom de familiaridade não lhes seria inadequado e eles não se formalizam: ao contrário, prestam-se de boa vontade.
Entre os Espíritos inferiores alguns são infelizes. Sejam quais forem as faltas que expiam, seus sofrimentos são títulos tanto maiores à nossa comissariarão que ninguém se pode gabar de escapar àquelas palavras do Cristo: “Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra”. A benevolência que lhes testemunhamos lhes é um alívio; em falta de simpatia devem eles encontrar a indulgência que desejaríamos tivessem para conosco.
Os Espíritos que revelam sua inferioridade pelo cinismo da linguagem, pelas mentiras e pela baixeza de sentimentos ou pela perfídia de seus conselhos certamente são menos dignos de nosso interesse que aqueles cujas palavras denotam arrependimento. Devemos-lhes, ao menos, a piedade que temos pelos maiores criminosos; e o meio de os reduzir ao silêncio é mostrarmo-nos superiores: pois eles só se entregam às pessoas das quais pensam que nada devem temer. É aqui o caso de falar com autoridade para os afastar, o que sempre se consegue por meio de uma vontade firme, intimando-os em nome de Deus e com o auxilio dos bons Espíritos. Eles se inclinam ante a superioridade moral, como um culpado ante o juiz.
Em resumo, tanto seria irreverente tratar os Espíritos superiores de igual para igual, quanto seria ridículo ter para com todos, sem exceção, a mesma deferência. Tenhamos veneração aos que a merecem, reconhecimento aos que nos assistem e protegem e para com todos uma benevolência de que um dia talvez nós mesmos tenhamos necessidade. Penetrando no mundo incorpóreo teremos aprendido a conhecê-lo e esse conhecimento nos deve orientar em nossas relações com os que o habitam. Em sua ignorância os Antigos lhes levantaram altares; para nós eles apenas são criaturas mais ou menos perfeitas e não levantamos altares senão a Deus[2].
[1] Há em francês o verbo tutoyer, tratar por tu, isto é, tratar alguém na 2ª pessoa do singular. É um tratamento doméstico e de intimidade. Via de regra o francês emprega a 2ª pessoa do plural, forma pouquíssimo usada em português. Em nossa língua o interlocutor (2ª pessoa) é tratado por você, o senhor, a senhora, etc. que levam o verbo para a terceira pessoa. Os primeiros tradutores das obras de Kardec para a nossa língua sistematicamente passaram o vous francês para o inusitado vós português. Desacostumada e despreparada a massa espírita ficou usando o pronome na 2ª do plural, mas coloca quase sempre o verbo na 3ª do singular, ferindo terrivelmente os ouvidos educados à boa linguagem. Por essas mesmas razões erram sistematicamente no emprego do imperativo negativo. São frequentes as cacofonias vós deve, vós é, vós sabe, vós tem, etc. em vez do nosso habitual o sr. deve, a sra. é, o sr. sabe, a sra. tem, etc. E ainda: Não tende esperança, não insultai a Deus, não cuspi no prato, em vez de não tenhais esperança, não insulteis a Deus, não cuspais no prato. N. do T.
[2] Vide no vocabulário o verbete Politeísmo.
[2] Vide no vocabulário o verbete Politeísmo.
PERGUNTAS QUE PODEM SER DIRIGIDAS AOS ESPÍRITOS
Se estivermos bem compenetrados dos princípios desenvolvidos até aqui, compreenderemos sem dificuldade a importância, do ponto de vista prático, do assunto de que vamos tratar: é a consequência e a aplicação e, até certo ponto, poderíamos prever-lhe a conclusão pelo conhecimento que nos dá a escala espírita do caráter dos Espíritos conforme a posição que ocupam. Essa escala nos oferece a medida do que lhes podemos perguntar e do que devemos esperar. Um estrangeiro que viesse ao nosso país na crença de que todos os homens aqui são iguais em conhecimento e em moral idade aqui encontraria muitas anomalias. Tudo, porém, lhe estaria explicado do momento em que tivesse compreendido que cada um fala e escreve conforme as suas aptidões. Dá-se o mesmo no mundo espírita. Desde que vejamos os Espíritos tão distanciados entre si sob todos os pontos de vista, compreenderemos facilmente que nem todos estão aptos a resolver todas as dificuldades e que uma pergunta mal dirigida pode expor-nos a um engano.
Posto isto, convém dirigir perguntas aos Espíritos? Algumas pessoas acham que nos devemos abster e que lhes devemos deixar a iniciativa do que querem dizer. Baseiam-se em que, falando espontaneamente, o Espírito falará mais livremente, dirá apenas o que quer e, assim, teremos mais segurança de receber a expressão de seu próprio pensamento. Pensam elas até que é mais respeitoso esperar o ensinamento que ele julga conveniente nos dar. A experiência contradita esta teoria, como tantas outras nascidas no início das manifestações. O conhecimento das diversas categorias de Espíritos traça o limite do respeito que lhes é devido e prova que, a menos que tenhamos a certeza de tratar com Espíritos superiores, seu ensino espontâneo nem sempre seria muito edificante. De lado esta consideração e supondo o Espírito suficientemente elevado para não dizer senão coisas boas, seu ensino muitas vezes seria limitado, caso não fosse alimentado por perguntas. Vimos inúmeras vezes sessões fracas ou nulas, por falta de um determinado assunto preponderante. Ora, como em definitiva os Espíritos não respondem senão aquilo que lhes convém, tomando uma atitude conveniente nós não faremos nenhuma violência ao seu livre-arbítrio. Por vezes eles mesmos provocam as perguntas, indagando: "Que queres? Pergunta e eu responderei”. Outras vezes eles nos interrogam não para instruir-se, mas para nos porem à prova ou nos levar a tomar mais claro o nosso pensamento. Reduzir-nos em sua presença a um papel meramente passivo seria um excesso de submissão que eles não exigem: o que querem é a atenção e o recolhimento. Quando espontaneamente tomam a palavra sem esperar as perguntas, como dissemos acima, ao falar das evocações, então é o caso de não os interromper e seguir a linha que eles traçam. Como, porém, nem sempre assim acontece, é bom estar de posse de um tema previamente escolhido, em falta de iniciativa dos Espíritos.
Regra geral: quando um Espírito fala não devemos interrompê-lo; quando ele manifesta por um sinal qualquer a intenção de falar, devemos esperar e não falar senão quando temos a certeza de que ele nada mais tem a dizer.
Se, em princípio, as perguntas não desagradam aos Espíritos, algumas há que lhes são soberanamente antipáticas e das quais nos devemos abster completamente, sob pena de não obtermos resposta ou termos respostas más. Quando dizemos que algumas perguntas são antipáticas, referimos aos Espíritos elevados: os inferiores não são tão escrupulosos; podemos perguntar-lhes tudo quanto quisermos sem os chocar, mesmo as coisas mais escabrosas e eles a tudo responderão como eles próprios dizem: "A uma pergunta boba, uma resposta boba”. Louco seria quem os levasse a sério.
Podem os Espíritos abster-se de responder por vários motivos: 1º - a questão lhes pode ser desagradável; 2º - nem sempre têm os conhecimentos necessários; 3º - há coisas que lhes é proibido revelar. Se, pois, não satisfazem a um pedido, e porque não querem, não podem ou não devem. Seja qual for o motivo, uma regra invariável é que toda vez que um Espírito recusa categoricamente responder, não devemos insistir. Do contrário a resposta será dada por um desses Espíritos levianos sempre prontos a se meterem em tudo e que muito pouco se inquietam com a verdade. Se a recusa não for absoluta, pode pedir-se ao Espírito que condescenda ao nosso desejo. Por vezes ele o faz, mas nunca cede à exigência. Esta regra não se aplica aos desenvolvimentos que devemos até pedir sobre um ponto que não estivesse suficientemente esclarecido. Quando um Espírito quer encerrar uma conversa, geralmente o indica por uma expressão tal como: adeus; chega por hoje - é tarde - até outro dia, etc. Quase sempre isto é sem apelo. A imobilidade do lápis é uma prova de que o Espírito já partiu e, então, é desnecessário insistir.
Dois pontos essenciais devem ser considerados nas perguntas: o fundo e a forma. Pela forma, posto que sem fraseologia ridícula, devem testemunhar atenções e condescendências devidas ao Espírito que se comunica, se for superior, e nossa benevolência se for nosso igual ou nosso inferior. Sob outro ponto de vista, devem ser claras, precisas, sem ambiguidade; devemos evitar as que tenham um sentido complexo. Melhor será fazer duas perguntas, caso necessário. Quando um assunto requer uma série de perguntas, importa que estas sejam postas em ordem, que se encadeiem e se sucedam metodicamente. Por isso é sempre útil prepará-las previamente, o que, aliás, como já dissemos, é uma espécie de evocação prévia, que prepara os caminhos; meditando sobre elas com a cabeça fresca, formulamo-las e as classificamos melhor, assim obtendo respostas mais satisfatórias. Isto não impede que, no curso da palestra, ajuntemos perguntas complementares, nas quais nem havíamos pensado, ou que podem ser sugeridas pelas respostas; mas o quadro está sempre traçado e é o essencial. O que devemos evitar é passar bruscamente de um a outro objetivo, por meio de perguntas que se não encadeiam, lançadas de permeio ao assunto principal. Por vezes acontece também que algumas perguntas preparadas antecipadamente, na previsão de certas respostas, se tornam inúteis e, neste caso, devemos passar adiante. Um fato que se verifica muito frequentemente é que por vezes a resposta se adianta à pergunta e que, apenas pronunciadas as primeiras palavras, o Espírito responde sem deixar que terminemos. Por vezes mesmo ele responde a um pensamento expresso em voz baixa por algum dos assistentes, sem que tenha sido feita uma pergunta e à revelia do médium. Se não tivéssemos a cada instante a prova manifesta da absoluta neutralidade deste último, fatos desse gênero não poderiam deixar a mais leve sombra de dúvida a tal respeito.
Em relação ao fundo, as perguntas merecem uma atenção especial, conforme o objetivo. As perguntas frívolas, de pura curiosidade ou de provas, são as que desagradam aos Espíritos sérios: elas os afastam ou eles não as respondem. Os Espíritos levianos se divertem com elas.
As perguntas de provas ordinariamente são feitas por aqueles que ainda não têm uma convicção adquirida e que procuram assim assegurar-se da existência dos Espíritos, de sua perspicácia e de sua identidade. Sem dúvida isto é natural de sua parte, mas foge completamente ao seu objetivo e a insistência sobre tal ponto é devida à sua ignorância mesma das bases sopre que repousa a ciência espírita, base completamente diferente daquelas das ciências experimentais. Aqueles, pois, que desejam instruir-se devem resignar-se a seguir uma via completamente diversa e a por de lado os nossos processos clássicos. Se acreditam não poder fazê-lo senão os experimentando a seu modo, melhor seria que se abstivessem. Que diria um professor ao qual pretendesse um aluno impor o seu método, que quisesse ensiná-la a agir desta ou daquela maneira e fazer as experiências à sua vontade? Ainda uma vez a ciência espírita tem seus princípios. Os que querem conhecê-la devem a eles se conformar. Do contrário não se poderão dizer aptos a julgá-los. Tais princípios os seguintes, no que concerne à questão das provas:
1º - Os Espíritos não são máquinas que movemos à nossa vontade: são seres inteligentes que não fazem nem dizem senão o que querem e que não podemos sujeitar aos nossos caprichos;
2º - As provas que desejamos ter de sua existência, de sua perspicácia e de sua identidade eles mesmos as dão espontaneamente e de bom grado em muitas ocasiões; mas as dão quando o querem e de maneira por que o querem; a nós cabe esperar, ver, observar e tais provas não nos faltarão: é necessário colhe-las de passagem; se quisermos provocá-las e então que nos escapam e nisto os Espíritos nos provam sua independência e seu livre-arbítrio.
Aliás, este princípio é que rege todas as ciências de observação. Que faz o naturalista que estuda os costumes de um inseto, por exemplo? Acompanha-o em todas as manifestações de sua inteligência ou de seu instinto; observa o que se passa, mas espera que os fenômenos se apresentem; não pensa em os provocar nem em lhes desviar o curso; aliás sabe que se fizesse não os teria mais na sua simplicidade natural. Dá-se mesmo em relação às observações espíritas.
De acordo com o que agora sabemos, compreende-se que não basta que um Espírito seja sério para resolver exprofesso toda questão séria; também não basta, como já dissemos, que tenha sido um cientista na Terra para resolver todas as questões de ciência, pois que pode estar ainda imbuído de preconceitos terrenos; é preciso que seja suficientemente elevado ou que o seu desenvolvimento como Espírito se tenha realizado no âmbito das ideias que lhe queremos submeter e esse desenvolvimento por vezes é bem diverso daquele que lhe pudemos observar em vida; mas também muitas vezes acontece que outros Espíritos mais elevados venham em auxílio daquele que interrogamos e supram a sua deficiência. Isto acontece sobretudo quando a intenção do interpelante é boa, pura e sem segunda intenção. Em suma, a primeira coisa a fazer, quando nos dirigimos pela primeira vez a um Espírito é aprender a conhecê-lo, a fim de julgar da natureza das perguntas que lhe podemos dirigir com mais segurança.
Em geral os Espíritos ligam pouca importância às questões puramente de interesse material e às que concernem às coisas da vida particular. Seria, pois, engano pensar que neles temos guias infalíveis aos quais podemos consultar a cada momento sobre a marcha e o resultado dos nossos negócios. Repetimo-lo mais uma vez: os Espíritos levianos respondem a tudo; até predizem, se o quisermos, a alta e a baixa na Bolsa, dirão se o marido esperado será louro ou moreno, etc. Tanto melhor se o acaso os faz acertar.
No número das questões frívolas não incluímos todas as que têm cunho pessoal. O bom-senso nos levará a uma apreciação. Mas os Espíritos que melhor nos podem guiar nesse terreno são os familiares, os encarregados de velar por nós e que, pelo hábito de nos acompanhar, estão identificados com as nossas necessidades. Estes, incontestavelmente, conhecem os nossos negócios melhor que nós. É, pois, a eles que devemos perguntar essas coisas e ainda devemos fazê-lo com calma, recolhimento e por um apelo sério à sua benevolência e não levianamente. Pedi-lo, porém, à queima-roupa e ao primeiro Espírito que se apresenta seria o mesmo que nos dirigirmos ao primeiro indivíduo que encontrássemos em nosso caminho.
Nossos Espíritos familiares podem, pois, esclarecer-nos, e em muitas circunstâncias o fazem de maneira eficaz; mas sua assistência nem sempre é patente e material; na maioria dos casos é oculta; ajudam-nos por uma porção de avisos indiretos que provocam e dos quais infelizmente nem sempre nos damos conta, do que resulta que muitas vezes só de nós mesmos nos devemos queixar por nossas tribulações. Quando os interrogamos em certos casos, eles podem dar-nos conselhos positivos; mas em geral se limitam a mostrar-nos o caminho e recomendar que não nos choquemos, para o que têm um duplo motivo. Primeiro, porque as tribulações da vida, quando não resultam de faltas propriamente nossas, fazem parte das provas que devemos suportar; podem eles ajudar-nos a sofrê-las com coragem e resignação, mas não lhes cabe desviá-las. Em segundo lugar se nos guiarem pela mão a fim de evitarem todos os escolhos, que faríamos do nosso livre arbítrio? Seríamos como crianças mantidas nas andadeiras até a idade adulta. Eles nos dizem: “Eis o caminho; siga a boa trilha: eu lhe inspirarei o que deve preferir, mas sirva-se de seu raciocínio como a criança se serve das pernas para andar”.
Podem os Espíritos predizer o futuro? Tal é a pergunta que não escapa a todo novato. Diremos apenas uma palavra. A Providência foi sábia ao ocultar o futuro. Que tormentos nos são poupados por sua ignorância! sem contar que se o conhecêssemos, nos abandonaríamos cegamente ao nosso destino, abdicando de qualquer iniciativa. Os próprios Espíritos não o conhecem senão em proporção de sua elevação e por isso os Espíritos inferiores que sofrem julgam sofrer sempre. Quando o sabem, não o devem revelar. Entretanto por vezes podem levantar a ponta do véu que o cobre; mas então o fazem espontaneamente, por considerá-la útil; nunca ao nosso pedido. Dá-se o mesmo como nosso passado. Insistir nesse ponto, como sobre outros, quando eles se recusam a responder, é tornar-se joguete dos mistificadores.
Não poderíamos passar em revista toda a variedade de perguntas que é possível fazer sem reproduzir aqui o que está contido em O LIVRO DOS ESPÍRITOS. A ele remetemos o leitor, para o desenvolvimento de tudo quanto concerne o futuro, as existências anteriores, as descobertas, os tesouros ocultos, as ciências, a medicina, etc.
Posto isto, convém dirigir perguntas aos Espíritos? Algumas pessoas acham que nos devemos abster e que lhes devemos deixar a iniciativa do que querem dizer. Baseiam-se em que, falando espontaneamente, o Espírito falará mais livremente, dirá apenas o que quer e, assim, teremos mais segurança de receber a expressão de seu próprio pensamento. Pensam elas até que é mais respeitoso esperar o ensinamento que ele julga conveniente nos dar. A experiência contradita esta teoria, como tantas outras nascidas no início das manifestações. O conhecimento das diversas categorias de Espíritos traça o limite do respeito que lhes é devido e prova que, a menos que tenhamos a certeza de tratar com Espíritos superiores, seu ensino espontâneo nem sempre seria muito edificante. De lado esta consideração e supondo o Espírito suficientemente elevado para não dizer senão coisas boas, seu ensino muitas vezes seria limitado, caso não fosse alimentado por perguntas. Vimos inúmeras vezes sessões fracas ou nulas, por falta de um determinado assunto preponderante. Ora, como em definitiva os Espíritos não respondem senão aquilo que lhes convém, tomando uma atitude conveniente nós não faremos nenhuma violência ao seu livre-arbítrio. Por vezes eles mesmos provocam as perguntas, indagando: "Que queres? Pergunta e eu responderei”. Outras vezes eles nos interrogam não para instruir-se, mas para nos porem à prova ou nos levar a tomar mais claro o nosso pensamento. Reduzir-nos em sua presença a um papel meramente passivo seria um excesso de submissão que eles não exigem: o que querem é a atenção e o recolhimento. Quando espontaneamente tomam a palavra sem esperar as perguntas, como dissemos acima, ao falar das evocações, então é o caso de não os interromper e seguir a linha que eles traçam. Como, porém, nem sempre assim acontece, é bom estar de posse de um tema previamente escolhido, em falta de iniciativa dos Espíritos.
Regra geral: quando um Espírito fala não devemos interrompê-lo; quando ele manifesta por um sinal qualquer a intenção de falar, devemos esperar e não falar senão quando temos a certeza de que ele nada mais tem a dizer.
Se, em princípio, as perguntas não desagradam aos Espíritos, algumas há que lhes são soberanamente antipáticas e das quais nos devemos abster completamente, sob pena de não obtermos resposta ou termos respostas más. Quando dizemos que algumas perguntas são antipáticas, referimos aos Espíritos elevados: os inferiores não são tão escrupulosos; podemos perguntar-lhes tudo quanto quisermos sem os chocar, mesmo as coisas mais escabrosas e eles a tudo responderão como eles próprios dizem: "A uma pergunta boba, uma resposta boba”. Louco seria quem os levasse a sério.
Podem os Espíritos abster-se de responder por vários motivos: 1º - a questão lhes pode ser desagradável; 2º - nem sempre têm os conhecimentos necessários; 3º - há coisas que lhes é proibido revelar. Se, pois, não satisfazem a um pedido, e porque não querem, não podem ou não devem. Seja qual for o motivo, uma regra invariável é que toda vez que um Espírito recusa categoricamente responder, não devemos insistir. Do contrário a resposta será dada por um desses Espíritos levianos sempre prontos a se meterem em tudo e que muito pouco se inquietam com a verdade. Se a recusa não for absoluta, pode pedir-se ao Espírito que condescenda ao nosso desejo. Por vezes ele o faz, mas nunca cede à exigência. Esta regra não se aplica aos desenvolvimentos que devemos até pedir sobre um ponto que não estivesse suficientemente esclarecido. Quando um Espírito quer encerrar uma conversa, geralmente o indica por uma expressão tal como: adeus; chega por hoje - é tarde - até outro dia, etc. Quase sempre isto é sem apelo. A imobilidade do lápis é uma prova de que o Espírito já partiu e, então, é desnecessário insistir.
Dois pontos essenciais devem ser considerados nas perguntas: o fundo e a forma. Pela forma, posto que sem fraseologia ridícula, devem testemunhar atenções e condescendências devidas ao Espírito que se comunica, se for superior, e nossa benevolência se for nosso igual ou nosso inferior. Sob outro ponto de vista, devem ser claras, precisas, sem ambiguidade; devemos evitar as que tenham um sentido complexo. Melhor será fazer duas perguntas, caso necessário. Quando um assunto requer uma série de perguntas, importa que estas sejam postas em ordem, que se encadeiem e se sucedam metodicamente. Por isso é sempre útil prepará-las previamente, o que, aliás, como já dissemos, é uma espécie de evocação prévia, que prepara os caminhos; meditando sobre elas com a cabeça fresca, formulamo-las e as classificamos melhor, assim obtendo respostas mais satisfatórias. Isto não impede que, no curso da palestra, ajuntemos perguntas complementares, nas quais nem havíamos pensado, ou que podem ser sugeridas pelas respostas; mas o quadro está sempre traçado e é o essencial. O que devemos evitar é passar bruscamente de um a outro objetivo, por meio de perguntas que se não encadeiam, lançadas de permeio ao assunto principal. Por vezes acontece também que algumas perguntas preparadas antecipadamente, na previsão de certas respostas, se tornam inúteis e, neste caso, devemos passar adiante. Um fato que se verifica muito frequentemente é que por vezes a resposta se adianta à pergunta e que, apenas pronunciadas as primeiras palavras, o Espírito responde sem deixar que terminemos. Por vezes mesmo ele responde a um pensamento expresso em voz baixa por algum dos assistentes, sem que tenha sido feita uma pergunta e à revelia do médium. Se não tivéssemos a cada instante a prova manifesta da absoluta neutralidade deste último, fatos desse gênero não poderiam deixar a mais leve sombra de dúvida a tal respeito.
Em relação ao fundo, as perguntas merecem uma atenção especial, conforme o objetivo. As perguntas frívolas, de pura curiosidade ou de provas, são as que desagradam aos Espíritos sérios: elas os afastam ou eles não as respondem. Os Espíritos levianos se divertem com elas.
As perguntas de provas ordinariamente são feitas por aqueles que ainda não têm uma convicção adquirida e que procuram assim assegurar-se da existência dos Espíritos, de sua perspicácia e de sua identidade. Sem dúvida isto é natural de sua parte, mas foge completamente ao seu objetivo e a insistência sobre tal ponto é devida à sua ignorância mesma das bases sopre que repousa a ciência espírita, base completamente diferente daquelas das ciências experimentais. Aqueles, pois, que desejam instruir-se devem resignar-se a seguir uma via completamente diversa e a por de lado os nossos processos clássicos. Se acreditam não poder fazê-lo senão os experimentando a seu modo, melhor seria que se abstivessem. Que diria um professor ao qual pretendesse um aluno impor o seu método, que quisesse ensiná-la a agir desta ou daquela maneira e fazer as experiências à sua vontade? Ainda uma vez a ciência espírita tem seus princípios. Os que querem conhecê-la devem a eles se conformar. Do contrário não se poderão dizer aptos a julgá-los. Tais princípios os seguintes, no que concerne à questão das provas:
1º - Os Espíritos não são máquinas que movemos à nossa vontade: são seres inteligentes que não fazem nem dizem senão o que querem e que não podemos sujeitar aos nossos caprichos;
2º - As provas que desejamos ter de sua existência, de sua perspicácia e de sua identidade eles mesmos as dão espontaneamente e de bom grado em muitas ocasiões; mas as dão quando o querem e de maneira por que o querem; a nós cabe esperar, ver, observar e tais provas não nos faltarão: é necessário colhe-las de passagem; se quisermos provocá-las e então que nos escapam e nisto os Espíritos nos provam sua independência e seu livre-arbítrio.
Aliás, este princípio é que rege todas as ciências de observação. Que faz o naturalista que estuda os costumes de um inseto, por exemplo? Acompanha-o em todas as manifestações de sua inteligência ou de seu instinto; observa o que se passa, mas espera que os fenômenos se apresentem; não pensa em os provocar nem em lhes desviar o curso; aliás sabe que se fizesse não os teria mais na sua simplicidade natural. Dá-se mesmo em relação às observações espíritas.
De acordo com o que agora sabemos, compreende-se que não basta que um Espírito seja sério para resolver exprofesso toda questão séria; também não basta, como já dissemos, que tenha sido um cientista na Terra para resolver todas as questões de ciência, pois que pode estar ainda imbuído de preconceitos terrenos; é preciso que seja suficientemente elevado ou que o seu desenvolvimento como Espírito se tenha realizado no âmbito das ideias que lhe queremos submeter e esse desenvolvimento por vezes é bem diverso daquele que lhe pudemos observar em vida; mas também muitas vezes acontece que outros Espíritos mais elevados venham em auxílio daquele que interrogamos e supram a sua deficiência. Isto acontece sobretudo quando a intenção do interpelante é boa, pura e sem segunda intenção. Em suma, a primeira coisa a fazer, quando nos dirigimos pela primeira vez a um Espírito é aprender a conhecê-lo, a fim de julgar da natureza das perguntas que lhe podemos dirigir com mais segurança.
Em geral os Espíritos ligam pouca importância às questões puramente de interesse material e às que concernem às coisas da vida particular. Seria, pois, engano pensar que neles temos guias infalíveis aos quais podemos consultar a cada momento sobre a marcha e o resultado dos nossos negócios. Repetimo-lo mais uma vez: os Espíritos levianos respondem a tudo; até predizem, se o quisermos, a alta e a baixa na Bolsa, dirão se o marido esperado será louro ou moreno, etc. Tanto melhor se o acaso os faz acertar.
No número das questões frívolas não incluímos todas as que têm cunho pessoal. O bom-senso nos levará a uma apreciação. Mas os Espíritos que melhor nos podem guiar nesse terreno são os familiares, os encarregados de velar por nós e que, pelo hábito de nos acompanhar, estão identificados com as nossas necessidades. Estes, incontestavelmente, conhecem os nossos negócios melhor que nós. É, pois, a eles que devemos perguntar essas coisas e ainda devemos fazê-lo com calma, recolhimento e por um apelo sério à sua benevolência e não levianamente. Pedi-lo, porém, à queima-roupa e ao primeiro Espírito que se apresenta seria o mesmo que nos dirigirmos ao primeiro indivíduo que encontrássemos em nosso caminho.
Nossos Espíritos familiares podem, pois, esclarecer-nos, e em muitas circunstâncias o fazem de maneira eficaz; mas sua assistência nem sempre é patente e material; na maioria dos casos é oculta; ajudam-nos por uma porção de avisos indiretos que provocam e dos quais infelizmente nem sempre nos damos conta, do que resulta que muitas vezes só de nós mesmos nos devemos queixar por nossas tribulações. Quando os interrogamos em certos casos, eles podem dar-nos conselhos positivos; mas em geral se limitam a mostrar-nos o caminho e recomendar que não nos choquemos, para o que têm um duplo motivo. Primeiro, porque as tribulações da vida, quando não resultam de faltas propriamente nossas, fazem parte das provas que devemos suportar; podem eles ajudar-nos a sofrê-las com coragem e resignação, mas não lhes cabe desviá-las. Em segundo lugar se nos guiarem pela mão a fim de evitarem todos os escolhos, que faríamos do nosso livre arbítrio? Seríamos como crianças mantidas nas andadeiras até a idade adulta. Eles nos dizem: “Eis o caminho; siga a boa trilha: eu lhe inspirarei o que deve preferir, mas sirva-se de seu raciocínio como a criança se serve das pernas para andar”.
Podem os Espíritos predizer o futuro? Tal é a pergunta que não escapa a todo novato. Diremos apenas uma palavra. A Providência foi sábia ao ocultar o futuro. Que tormentos nos são poupados por sua ignorância! sem contar que se o conhecêssemos, nos abandonaríamos cegamente ao nosso destino, abdicando de qualquer iniciativa. Os próprios Espíritos não o conhecem senão em proporção de sua elevação e por isso os Espíritos inferiores que sofrem julgam sofrer sempre. Quando o sabem, não o devem revelar. Entretanto por vezes podem levantar a ponta do véu que o cobre; mas então o fazem espontaneamente, por considerá-la útil; nunca ao nosso pedido. Dá-se o mesmo como nosso passado. Insistir nesse ponto, como sobre outros, quando eles se recusam a responder, é tornar-se joguete dos mistificadores.
Não poderíamos passar em revista toda a variedade de perguntas que é possível fazer sem reproduzir aqui o que está contido em O LIVRO DOS ESPÍRITOS. A ele remetemos o leitor, para o desenvolvimento de tudo quanto concerne o futuro, as existências anteriores, as descobertas, os tesouros ocultos, as ciências, a medicina, etc.
MÉDIUNS REMUNERADOS
Ainda não conhecemos médiuns escreventes dando consultas a tanto por sessão. Talvez isto aconteça e, por isso, algumas palavras nos parecem úteis. Para começar diremos que nada se prestaria mais à charlatanice e às peloticas do que semelhante oficio. Se vimos os falsos sonâmbulos, veremos em maior número os falsos médiuns. Só isto basta como motivo para desconfiança. O desinteresse, ao contrário, é a resposta mais categórica que se possa opor aos que nos fatos apenas veem uma manobra hábil. Não há charlatanismo desinteressado. Qual seria o objetivo das pessoas que usassem a intrujice sem proveito? com mais forte razão quando a sua reconhecida honorabilidade as coloca acima da suspeição. Se o ganho que um médium consegue de sua faculdade pode ser um motivo de suspeição, não seria prova de que a suspeita tivesse fundamento. Poderia, pois, ter uma aptidão real e agir de muito boa fé, posto que se fazendo pagar. Vejamos se, neste caso, é possível esperar razoavelmente um resultado satisfatório.
Se foi bem compreendido o que dissemos das condições necessárias para servir de intérprete aos bons Espíritos, das numerosas causas que os podem afastar, das circunstâncias independentes de sua vontade que, por vezes constituem um obstáculo à sua vinda; enfim de todas as condições morais que podem exercer influência sobre a natureza das comunicações, como poderíamos supor que um Espírito, por menos elevado que fosse, estivesse continuamente às ordens de um vendedor de consultas e submetido às suas exigências para satisfazer a curiosidade do primeiro que chegasse? Sabemos da aversão dos Espíritos por tudo quanto cheira a cupidez e a egoísmo, o pouco caso que ligam às coisas materiais e queríamos que eles ajudassem a traficar com a sua presença?! Isto repugna pensar e seria preciso conhecer muito pouco a natureza do mundo espírita para pensar que assim pudesse ser. Como, porém, os Espíritos levianos são menos escrupulosos e apenas procuram ocasião para divertir-se à nossa custa, o resultado é que se pão formos mistificados por um falso médium, teremos toda chance de o ser por alguns entre os médiuns. Só estas reflexões nos dão a medida do grau de confiança que deveríamos depositar em comunicações desse gênero. Aliás, para que serviriam hoje os médiuns remunerados, se, em falta de nossa própria faculdade, poderemos descobri-la na família ou entre os amigos e conhecidos?
O inconveniente que acabamos de assinalar não é o mesmo quando se trata de manifestações puramente físicas. A natureza dos Espíritos que se comunicam nessas circunstâncias o toma facilmente compreensível. Contudo, como a faculdade dos médiuns de influência física nem sempre está à sua disposição, por vezes poderia faltar àquele que a deveria exibir em hora certa, para satisfazer ao público. A faculdade mediúnica, mesmo nesse limite, não nos foi dada para exibição e quem quer que pretenda ter os Espíritos às suas ordens, ainda que os das mais baixas camadas, para os obrigar a agir a todo instante, pode razoavelmente ser suspeito de charlatanismo e de prestidigitação mais ou menos hábil. Tomemos como tal sempre que virmos anúncios de pretensas sessões de espiritismo ou espiritualismo a tanto a cadeira.
Se foi bem compreendido o que dissemos das condições necessárias para servir de intérprete aos bons Espíritos, das numerosas causas que os podem afastar, das circunstâncias independentes de sua vontade que, por vezes constituem um obstáculo à sua vinda; enfim de todas as condições morais que podem exercer influência sobre a natureza das comunicações, como poderíamos supor que um Espírito, por menos elevado que fosse, estivesse continuamente às ordens de um vendedor de consultas e submetido às suas exigências para satisfazer a curiosidade do primeiro que chegasse? Sabemos da aversão dos Espíritos por tudo quanto cheira a cupidez e a egoísmo, o pouco caso que ligam às coisas materiais e queríamos que eles ajudassem a traficar com a sua presença?! Isto repugna pensar e seria preciso conhecer muito pouco a natureza do mundo espírita para pensar que assim pudesse ser. Como, porém, os Espíritos levianos são menos escrupulosos e apenas procuram ocasião para divertir-se à nossa custa, o resultado é que se pão formos mistificados por um falso médium, teremos toda chance de o ser por alguns entre os médiuns. Só estas reflexões nos dão a medida do grau de confiança que deveríamos depositar em comunicações desse gênero. Aliás, para que serviriam hoje os médiuns remunerados, se, em falta de nossa própria faculdade, poderemos descobri-la na família ou entre os amigos e conhecidos?
O inconveniente que acabamos de assinalar não é o mesmo quando se trata de manifestações puramente físicas. A natureza dos Espíritos que se comunicam nessas circunstâncias o toma facilmente compreensível. Contudo, como a faculdade dos médiuns de influência física nem sempre está à sua disposição, por vezes poderia faltar àquele que a deveria exibir em hora certa, para satisfazer ao público. A faculdade mediúnica, mesmo nesse limite, não nos foi dada para exibição e quem quer que pretenda ter os Espíritos às suas ordens, ainda que os das mais baixas camadas, para os obrigar a agir a todo instante, pode razoavelmente ser suspeito de charlatanismo e de prestidigitação mais ou menos hábil. Tomemos como tal sempre que virmos anúncios de pretensas sessões de espiritismo ou espiritualismo a tanto a cadeira.
CAPÍTULO IX
ASSUNTOS DE ESTUDO
Quando se evocam parentes e amigos ou personagens célebres, a fim de comparar suas opiniões de além-túmulo com as que tinham em vida, por vezes fica-se embaraçado para sustentar a conversação, a menos que se caia na banalidade e nas coisas fúteis. Pode, pois, ser útil indicar a fonte em que podemos tomar os temas de observação, por assim dizer ilimitados.
Como se viu, o mundo espírita apresenta tantas variedades, do ponto de vista intelectual e moral quanto a humanidade. Devemos mesmo dizer que é muito maior, pois que, seja qual for a distância que separa os homens na Terra, do primeiro ao último elo, há Espíritos aquém e além desses mesmos elos. Para conhecer um povo é preciso vê-lo da base ao topo, estudá-lo em todas as fases da vida, sondar as suas ideias, perquirir os seus hábitos particulares, numa palavra fazer-lhe, por assim dizer, a dissecção moral. Só multiplicando as observações é que podemos descobrir as analogias e as anomalias, e firmar um julgamento por comparação. Quem poderá contar os volumes escritos sobre etnografia, antropologia e sobre o coração humano? Entretanto estamos ainda longe de tudo haver dito. O que se fez em relação ao homem pode ser feito em relação aos Espíritos. E este é o único meio de aprender a conhecer esse mundo, que nos interessa tanto mais quanto a morte, a que todos estamos sujeitos, a ele nos conduz pela própria força das coisas. Ora, esse mundo se nos revela pelas manifestações inteligentes dos Espíritos. Podemos, pois, interrogar os seus habitantes de todas as classes, já não somente sobre generalidades, mas sobre particularidades de sua existência de além-túmulo e por aí julgar o que nos espera conforme a nossa própria conduta na Terra. Até o presente a sorte que nos era reservada não nos era senão objeto de ensino teórico. As manifestações espíritas no-las mostram a nu, fazem-nos tocá-las e vê-las pelos mais surpreendentes exemplos, cuja realidade não poderia ser posta em dúvida por quem quer que lhes volte um olhar perscrutador. É a essa realidade que queremos dar os meios de constatar pela direção dos estudos.
Se a evocação dos homens ilustres, dos Espíritos superiores é eminentemente útil pelos ensinamentos que nos trazem, a dos Espíritos vulgares não o é menos, posto sejam eles incapazes de resolver questões de maior alcance. Por sua inferioridade eles mesmos se retratam e, quanto menor a distância que nos separa deles, mais aí encontramos correspondência com a nossa própria situação. É, pois, do mais alto interesse, sob o duplo ponto de vista psicológico e moral, estudar a posição dos que foram nossos contemporâneos, que partilharam ao nosso lado o caminho da vida, cujo caráter, aptidões, vícios e virtudes conhecemos, ainda que fossem criaturas muito obscuras. Nós os compreendemos melhor, porque estão em nosso nível; por vezes nos oferecem traços característicos do mais alto interesse; diremos ainda que é nesse círculo, de certo modo íntimo, que a identidade dos Espíritos se revela, sobretudo de maneira menos contestável. Como se vê, é uma mina inesgotável de observações, ainda que considerando apenas os homens cuja vida apresenta alguma particularidade em relação ao gênero de morte, à idade, às boas, ou más qualidades, à posição feliz ou infeliz na Terra, os hábitos, o estado mental, etc.
Com os Espíritos elevados o quadro dos estudos se amplia: além das questões psicológicas que têm um certo limite, é possível propor-lhe uma porção de problemas morais que se estendem ao infinito sobre todas as posições da vida, sobre a melhor conduta a ter nesta ou naquela circunstância, sobre os nossos deveres recíprocos, etc. O valor da instrução que se recebe sobre um assunto qualquer, moral, histórico, filosófico ou científico, depende inteiramente do estado do Espírito que se interroga. A nós cabe julgá-lo.
Além das perguntas propriamente ditas, podemos solicitar dos Espíritos superiores dissertações sobre determinados assuntos, ou por eles escolhidos numa lista que se lhes apresenta. Podemos, assim, tomar para texto as qualidades, os vícios e os desvios da sociedade, como a avareza, o orgulho, a preguiça, o ciúme, o ódio, a cólera, a caridade, a modéstia, etc. Espíritos um pouco menos elevados, mas inteligentes, podem tratar de maneira feliz assuntos menos sérios, mas não menos interessantes. Outros, enfim, podem, conforme a sua aptidão e a facilidade de execução que lhes ofereça o médium, ditar obras de fôlego.
A maneira de fazer as perguntas e as coordenar é, como acabamos de ver, uma coisa essencial. Sobre isto encontraremos numerosas aplicações nos artigos publicados na REVISTA ESPÍRITA, sob o título de Palestras Familiares de Além-Túmulo. Podem ser tomadas como exemplo da marcha a seguir nas relações que se queiram estabelecer com os Espíritos.
Como se viu, o mundo espírita apresenta tantas variedades, do ponto de vista intelectual e moral quanto a humanidade. Devemos mesmo dizer que é muito maior, pois que, seja qual for a distância que separa os homens na Terra, do primeiro ao último elo, há Espíritos aquém e além desses mesmos elos. Para conhecer um povo é preciso vê-lo da base ao topo, estudá-lo em todas as fases da vida, sondar as suas ideias, perquirir os seus hábitos particulares, numa palavra fazer-lhe, por assim dizer, a dissecção moral. Só multiplicando as observações é que podemos descobrir as analogias e as anomalias, e firmar um julgamento por comparação. Quem poderá contar os volumes escritos sobre etnografia, antropologia e sobre o coração humano? Entretanto estamos ainda longe de tudo haver dito. O que se fez em relação ao homem pode ser feito em relação aos Espíritos. E este é o único meio de aprender a conhecer esse mundo, que nos interessa tanto mais quanto a morte, a que todos estamos sujeitos, a ele nos conduz pela própria força das coisas. Ora, esse mundo se nos revela pelas manifestações inteligentes dos Espíritos. Podemos, pois, interrogar os seus habitantes de todas as classes, já não somente sobre generalidades, mas sobre particularidades de sua existência de além-túmulo e por aí julgar o que nos espera conforme a nossa própria conduta na Terra. Até o presente a sorte que nos era reservada não nos era senão objeto de ensino teórico. As manifestações espíritas no-las mostram a nu, fazem-nos tocá-las e vê-las pelos mais surpreendentes exemplos, cuja realidade não poderia ser posta em dúvida por quem quer que lhes volte um olhar perscrutador. É a essa realidade que queremos dar os meios de constatar pela direção dos estudos.
Se a evocação dos homens ilustres, dos Espíritos superiores é eminentemente útil pelos ensinamentos que nos trazem, a dos Espíritos vulgares não o é menos, posto sejam eles incapazes de resolver questões de maior alcance. Por sua inferioridade eles mesmos se retratam e, quanto menor a distância que nos separa deles, mais aí encontramos correspondência com a nossa própria situação. É, pois, do mais alto interesse, sob o duplo ponto de vista psicológico e moral, estudar a posição dos que foram nossos contemporâneos, que partilharam ao nosso lado o caminho da vida, cujo caráter, aptidões, vícios e virtudes conhecemos, ainda que fossem criaturas muito obscuras. Nós os compreendemos melhor, porque estão em nosso nível; por vezes nos oferecem traços característicos do mais alto interesse; diremos ainda que é nesse círculo, de certo modo íntimo, que a identidade dos Espíritos se revela, sobretudo de maneira menos contestável. Como se vê, é uma mina inesgotável de observações, ainda que considerando apenas os homens cuja vida apresenta alguma particularidade em relação ao gênero de morte, à idade, às boas, ou más qualidades, à posição feliz ou infeliz na Terra, os hábitos, o estado mental, etc.
Com os Espíritos elevados o quadro dos estudos se amplia: além das questões psicológicas que têm um certo limite, é possível propor-lhe uma porção de problemas morais que se estendem ao infinito sobre todas as posições da vida, sobre a melhor conduta a ter nesta ou naquela circunstância, sobre os nossos deveres recíprocos, etc. O valor da instrução que se recebe sobre um assunto qualquer, moral, histórico, filosófico ou científico, depende inteiramente do estado do Espírito que se interroga. A nós cabe julgá-lo.
Além das perguntas propriamente ditas, podemos solicitar dos Espíritos superiores dissertações sobre determinados assuntos, ou por eles escolhidos numa lista que se lhes apresenta. Podemos, assim, tomar para texto as qualidades, os vícios e os desvios da sociedade, como a avareza, o orgulho, a preguiça, o ciúme, o ódio, a cólera, a caridade, a modéstia, etc. Espíritos um pouco menos elevados, mas inteligentes, podem tratar de maneira feliz assuntos menos sérios, mas não menos interessantes. Outros, enfim, podem, conforme a sua aptidão e a facilidade de execução que lhes ofereça o médium, ditar obras de fôlego.
A maneira de fazer as perguntas e as coordenar é, como acabamos de ver, uma coisa essencial. Sobre isto encontraremos numerosas aplicações nos artigos publicados na REVISTA ESPÍRITA, sob o título de Palestras Familiares de Além-Túmulo. Podem ser tomadas como exemplo da marcha a seguir nas relações que se queiram estabelecer com os Espíritos.
CAPÍTULO X
CONSELHOS AOS NOVATOS
O conhecimento da ciência espírita repousa sobre uma convicção moral e uma convicção material. A primeira é adquirida pelo raciocínio; a segunda, pela observação dos fatos. Para o novato seria lógico primeiro ver, depois raciocinar. Infelizmente nem sempre pode ser assim. Seria impossível fazer um curso prático de Espiritismo, como se faz um curso de Física ou de Química. Os fenômenos que pertencem ao âmbito destas duas ciências podem reproduzir-se à vontade; pode-se, pois, fazê-las passar por gradações aos olhos do aluno, procedendo do simples para o complexo. Não se dá o mesmo nos fenômenos espíritas: não os manejamos como uma máquina elétrica; é preciso tomá-las como eles se apresentam, porque não depende de nós traçar-lhes uma ordem metódica. Daí resulta que muitas vezes eles são ininteligíveis ou pouco concludentes para os principiantes. Podem espantar sem convencer.
É possível contornar esse inconveniente seguindo marcha contrária, isto é, começando pela teoria. É o que aconselhamos a todos quantos queiram seriamente esclarecer-se. Pelo estudo dos princípios da ciência, perfeitamente compreensíveis sem experimentação prática, adquirimos uma primeira convicção moral, que necessita apenas de corroboração pelos fatos. Ora, como nesse estudo preliminar todos os fatos foram passados em revista e comentados, resulta que quando os vemos, os compreendemos, seja qual for a ordem na qual as circunstâncias nos permitam observá-las.
Procuramos reunir nas nossas três publicações todos os elementos necessários a tal efeito, encarando a ciência sob todos os aspectos e dando sobre os vários pontos as explicações que comporta o estado atual dos conhecimentos. Uma leitura atenta dessas obras seria, pois, uma primeira iniciação que permitiria esperar os fatos ou daria os meios de os provocar com conhecimento de causa, desde que a isso nada se opusesse, sem que nos perdêssemos em ensaios que poderiam ser infrutíferos, por não terem sido conduzidos dentro dos limites do possível.
Nesta Instrução Prática encontram-se os princípios fundamentais necessários aos principiantes; na REVISTA ESPÍRITA, além de extensos desenvolvimentos, uma variedade considerável de fatos e de aplicações. Enfim, em O LIVRO DOS MÉDIUNS, o próprio ensino dos Espíritos sobre todas as questões de metafísica e de moral que se ligam à doutrina espírita.
É possível contornar esse inconveniente seguindo marcha contrária, isto é, começando pela teoria. É o que aconselhamos a todos quantos queiram seriamente esclarecer-se. Pelo estudo dos princípios da ciência, perfeitamente compreensíveis sem experimentação prática, adquirimos uma primeira convicção moral, que necessita apenas de corroboração pelos fatos. Ora, como nesse estudo preliminar todos os fatos foram passados em revista e comentados, resulta que quando os vemos, os compreendemos, seja qual for a ordem na qual as circunstâncias nos permitam observá-las.
Procuramos reunir nas nossas três publicações todos os elementos necessários a tal efeito, encarando a ciência sob todos os aspectos e dando sobre os vários pontos as explicações que comporta o estado atual dos conhecimentos. Uma leitura atenta dessas obras seria, pois, uma primeira iniciação que permitiria esperar os fatos ou daria os meios de os provocar com conhecimento de causa, desde que a isso nada se opusesse, sem que nos perdêssemos em ensaios que poderiam ser infrutíferos, por não terem sido conduzidos dentro dos limites do possível.
Nesta Instrução Prática encontram-se os princípios fundamentais necessários aos principiantes; na REVISTA ESPÍRITA, além de extensos desenvolvimentos, uma variedade considerável de fatos e de aplicações. Enfim, em O LIVRO DOS MÉDIUNS, o próprio ensino dos Espíritos sobre todas as questões de metafísica e de moral que se ligam à doutrina espírita.
CAPÍTULO XI
INFLUÊNCIA DO ESPIRITISMO
A princípio os adversários do Espiritismo empregaram contra ele as armas do ridículo e, sem cerimônia, taxaram de loucos a todos os seus partidários. Essa arma não apenas se desgasta: começa ela própria a se tornar ridícula, tanto aumenta, em fados os países, o número de supostos loucos e porque seria necessário mandar aos hospícios os homens mais eminentes pelo seu saber e posição social. Então trocaram as baterias; tomaram um tom mais sério e se apiedaram da sorte reservada à humanidade por essa doutrina cujos perigos exaltaram, sem pensar que proclamando o perigo de uma coisa, constatavam a sua realidade. Se o Espiritismo é uma quimera, por que tanta canseira? É combater moinhos de vento. Deixai-o tranquilo e ele morrerá. Eis, porém, que em vez de morrer, ele se propaga com incrível rapidez e os seus adeptos se multiplicam em todos os pontos do globo a tal ponto que se isto continua em breve haverá mais loucos que gente sã. Ora, quem contribuiu para esse resultado? Foram os próprios adversários que, sem o querer, lhe fizeram a propaganda. Suas diatribes tiveram o efeito do fruto proibido. Cada um disse consigo mesmo: “Se se encarniçam tanto contra o monstro, é porque o monstro existe”. É um raciocínio lógico. E, ajudados pela curiosidade, quiseram vê-la, nem que fosse a ponta do dedo e arregalando os olhos. Assim obrigaram a pensar a muita gente que, sem isso e não tendo ouvido falar do assunto, jamais se teriam ocupado da matéria.
Se o Espiritismo é uma realidade, é porque está na natureza, não é uma teoria, uma opinião, ou um sistema: são os fatos. Se é perigoso, é necessário lhe dar uma direção. Não se suprime um rio - retificar-lhe o curso. Vejamos, pois, em poucas palavras, quais são esses supostos perigos.
Dizem que pode produzir uma impressão prejudicial às faculdades mentais. Já nos explicamos suficientemente no curso desta obra sobre a verdadeira fonte deste perigo, que vem precisamente daqueles que julgam combatê-la inoculando nos cérebros fracos a ideia do diabo ou do demônio. É verdade que a exaltação também pode vir em sentido oposto. Mas, de lado qualquer ideia de Espiritismo, não se vê nenhum cérebro desarranjado por uma falsa apreciação das coisas mais santas? Ultimamente os jornais relataram o caso de uma jovem camponesa que, tomando o Evangelho ao pé da letra "Se tua mão é causa de escândalo, corta-a”, decepou o punho a machadadas. Devemos, por isso, concluir que o Evangelho seja perigoso? E essa mãe, que mata os filhos para os fazer entrar no Paraíso, prova que seja perigosa a ideia do Paraíso?
Em apoio a esse preconceito contra o Espiritismo citam-se números. Por exemplo, dizem que nos Estados Unidos, apenas numa região, contam-se quatro mil casos de loucura causada por essas ideias. Para começar, perguntamos aos que divulgam fatos desse gênero em que fonte os colheram? tal estatística é autêntica? Cremo-los tirados de jornais daquele país os quais, como todos os adversários, julgando-se com o monopólio do bom senso, consideram como cérebros doentes todos os que acreditam nas manifestações espíritas. Não é de admirar que com semelhante sistema tenham encontrado quatro mil. O número até nos parece modesto, porque hoje eles se contam por centenas de milhares. Então construam hospícios para todo o mundo!
Chega sobre um assunto que não merece um exame sério. Vejamos uma acusação muito mais grave.
Dizem algumas pessoas que o Espiritismo arruína a religião. Há bem razão de dizer-se que nada mais perigoso que um amigo desastrado. Tais pessoas não pensam que assim dizendo elas mesmas atacam a religião nos seus fundamentos: a sua eternidade. Como?! uma religião estabelecida por Deus seria comprometida por alguns Espíritos batedores? Credes então no poder desses Espíritos, que para vós, em outras ocasiões, não passam de quimeras? Ao menos ficai de acordo convosco: se tais Espíritos são mitos, por que os temeis? Se existem, de duas uma: ou os julgais muito poderosos ou julgais a religião muito fraca. Escolhei. Mas - direis vós - nós não tememos os Espíritos, não cremos neles; só tememos as falsas doutrinas dos que os preconizam. Vá lá. Mas, em vossa opinião, os que acreditam nos Espíritos são loucos. Então vós tendes receio de que os loucos destruam a Igreja! Escolhei ainda. Quanto a nós, diremos que os que assim falam não têm fé. Porque é não ter fé no poder de Deus acreditar que seja vulnerável por causas tão frágeis uma religião da qual diz Jesus: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela”.
Entretanto vejamos em que a doutrina é contrária aos princípios religiosos. Que ensinam esses Espíritos? Dizem isto: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos”. "Amai-vos uns aos outros como irmãos. Perdoai aos vossos inimigos; esquecei as ofensas; fazei aos outros o que quereríeis que vos fosse feito. Não vos contenteis em não fazer o mal: fazei o bem. Suportai com paciência e resignação as penas da vida. Bani do vosso coração o egoísmo, o orgulho, a inveja, o ódio, o ciúme”. Dizem ainda: "Deus vos dá os bens da terra para que deles façais bom uso e não para gozar como avarentos; a sensualidade vos rebaixa ao nível dos brutos”.
Mas Jesus também disse tudo isso. Sua moral é, pois, a do Evangelho. Ensinam eles o dogma da fatalidade? Não: proclamam que o homem é livre em todos os seus atos e responsável por suas obras. Dizem que pouco importa a conduta aqui na Terra e que o destino é o mesmo depois da morte? Absolutamente: eles reconhecem as penas e recompensas futuras; vão mais adiante: eles as tornam patentes, porque são os próprios seres felizes ou infelizes que nos vêm pintar Os seus sofrimentos ou as suas alegrias. É verdade que eles não os explicam exatamente como no vosso meio; não admitem um fogo material para queimar eternamente as almas imateriais. Mas que importa a forma, se o fundo existe? a menos que se pretenda que a forma seja mais importante que o fundo, e o sentido figurado superior ao sentido próprio. As crenças religiosas não se modificaram sobre muitas passagens das Escrituras, notadamente sobre os seis dias da criação, que se sabe muito bem não serem mais seis vezes vinte e quatro horas, mas, talvez, seis vezes mil anos? sobre a ancianidade do globo terrestre? sobre o movimento da Terra em redor do Sol? O que outrora era considerado como uma heresia digna do fogo terreno e do fogo celeste e como que a derrubada da religião, já não é admitido peta Igreja desde que a ciência positiva veio demonstrar não o erro do texto, mas a falsa interpretação que lhe havia sido dada? Dá-se o mesmo em relação ao inferno, que ela não mais coloca nos lugares baixos da Terra, desde que os alcançamos com olhos investigadores: a alta teologia admite perfeitamente a existência de um fogo moral; ela não assina mais um lugar determinado ao purgatório, desde que foram sondadas as profundezas do espaço e penso que ele bem poderia estar por toda parte, mesmo ao nosso lado. A religião não sofreu por isso. Ao contrário, ganhou por não se chocar contra a evidência dos fatos. É, preciso não a julgar pelo que ainda ensinam nas escolas de aldeia, onde as doutrinas superiores não seriam compreendidas. O alto clero está mais esclarecido do que geralmente se pensa e em muitas ocasiões provou que sabe, conforme as necessidades transpor a rotina da tradição e dos preconceitos. Há, porém, criaturas que querem ser mais religiosas que a religião e a rebaixam pela estreiteza de seus pontos de vista. Para estas a forma é tudo e até ultrapassa a moral do Evangelho, que praticam muito pouco: são estas as que lhe causam maiores males. Em que, pois, a doutrina espírita seria perniciosa? Ela explica aquilo que era inexplicado; demonstra a possibilidade do que se pensava impossível; prova a utilidade da prece; apenas diz que a prece do coração é a única eficaz e que as dos lábios não passam de simulacro. Quem ousaria sustentar o contrário? A não eternidade das penas! a reencarnação! Eis a grande pedra de escândalo! Mas se jamais os fatos se tornaram tão patentes e tão vulgares quanto o movimento da Terra em torno do Sol, será preciso torná-los evidentes, como se fez com o resto; certamente buscando desde já, seria menos difícil concordar que não se acredita. Assim, não haja pressa em pronunciar uma sentença que talvez fosse muito precipitada: aproveitemos as lições da História.
O maior inimigo da religião é o materialismo e este não tem mais rude adversário do que a doutrina espírita. O Espiritismo já trouxe ao Espiritualismo muitos materialistas obstinados, que até então haviam resistido a todos os argumentos teológicos. É que o Espiritismo faz mais do que argumentar: torna as coisas patentes. É, pois, o mais poderoso auxiliar das ideias religiosas, porque dá ao homem a convicção de seu destino futuro e, neste sentido, deve ser acolhido como um benefício para a humanidade. Em muitos corações ele reanimou a fé na Providência, fez nascer a esperança em substituição à dúvida. Fez mais: arrancou mais de unia vítima ao suicídio, restabeleceu a paz e a concórdia nas famílias, acalmou ódios, amorteceu paixões brutais, desarmou a vingança e levou a resignação às almas sofredoras. É subversivo da ordem social e da moral publica? Uma doutrina que condena o ódio e o egoísmo, que prega o desinteresse, o amor ao próximo sem exceção de seitas e de castas não pode excitar as paixões hostis e cena desejável para o repouso do mundo e para a felicidade do gênero humano que todos os homens compreendessem e praticassem tais princípios: eles nada deveriam temer uns dos outros.
Eis aonde conduz a loucura do Espiritismo aqueles que, aprofundando-se nos mistérios, veem nas manifestações algo mais que mesas girantes e demônios que batem.
Se o Espiritismo é uma realidade, é porque está na natureza, não é uma teoria, uma opinião, ou um sistema: são os fatos. Se é perigoso, é necessário lhe dar uma direção. Não se suprime um rio - retificar-lhe o curso. Vejamos, pois, em poucas palavras, quais são esses supostos perigos.
Dizem que pode produzir uma impressão prejudicial às faculdades mentais. Já nos explicamos suficientemente no curso desta obra sobre a verdadeira fonte deste perigo, que vem precisamente daqueles que julgam combatê-la inoculando nos cérebros fracos a ideia do diabo ou do demônio. É verdade que a exaltação também pode vir em sentido oposto. Mas, de lado qualquer ideia de Espiritismo, não se vê nenhum cérebro desarranjado por uma falsa apreciação das coisas mais santas? Ultimamente os jornais relataram o caso de uma jovem camponesa que, tomando o Evangelho ao pé da letra "Se tua mão é causa de escândalo, corta-a”, decepou o punho a machadadas. Devemos, por isso, concluir que o Evangelho seja perigoso? E essa mãe, que mata os filhos para os fazer entrar no Paraíso, prova que seja perigosa a ideia do Paraíso?
Em apoio a esse preconceito contra o Espiritismo citam-se números. Por exemplo, dizem que nos Estados Unidos, apenas numa região, contam-se quatro mil casos de loucura causada por essas ideias. Para começar, perguntamos aos que divulgam fatos desse gênero em que fonte os colheram? tal estatística é autêntica? Cremo-los tirados de jornais daquele país os quais, como todos os adversários, julgando-se com o monopólio do bom senso, consideram como cérebros doentes todos os que acreditam nas manifestações espíritas. Não é de admirar que com semelhante sistema tenham encontrado quatro mil. O número até nos parece modesto, porque hoje eles se contam por centenas de milhares. Então construam hospícios para todo o mundo!
Chega sobre um assunto que não merece um exame sério. Vejamos uma acusação muito mais grave.
Dizem algumas pessoas que o Espiritismo arruína a religião. Há bem razão de dizer-se que nada mais perigoso que um amigo desastrado. Tais pessoas não pensam que assim dizendo elas mesmas atacam a religião nos seus fundamentos: a sua eternidade. Como?! uma religião estabelecida por Deus seria comprometida por alguns Espíritos batedores? Credes então no poder desses Espíritos, que para vós, em outras ocasiões, não passam de quimeras? Ao menos ficai de acordo convosco: se tais Espíritos são mitos, por que os temeis? Se existem, de duas uma: ou os julgais muito poderosos ou julgais a religião muito fraca. Escolhei. Mas - direis vós - nós não tememos os Espíritos, não cremos neles; só tememos as falsas doutrinas dos que os preconizam. Vá lá. Mas, em vossa opinião, os que acreditam nos Espíritos são loucos. Então vós tendes receio de que os loucos destruam a Igreja! Escolhei ainda. Quanto a nós, diremos que os que assim falam não têm fé. Porque é não ter fé no poder de Deus acreditar que seja vulnerável por causas tão frágeis uma religião da qual diz Jesus: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela”.
Entretanto vejamos em que a doutrina é contrária aos princípios religiosos. Que ensinam esses Espíritos? Dizem isto: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos”. "Amai-vos uns aos outros como irmãos. Perdoai aos vossos inimigos; esquecei as ofensas; fazei aos outros o que quereríeis que vos fosse feito. Não vos contenteis em não fazer o mal: fazei o bem. Suportai com paciência e resignação as penas da vida. Bani do vosso coração o egoísmo, o orgulho, a inveja, o ódio, o ciúme”. Dizem ainda: "Deus vos dá os bens da terra para que deles façais bom uso e não para gozar como avarentos; a sensualidade vos rebaixa ao nível dos brutos”.
Mas Jesus também disse tudo isso. Sua moral é, pois, a do Evangelho. Ensinam eles o dogma da fatalidade? Não: proclamam que o homem é livre em todos os seus atos e responsável por suas obras. Dizem que pouco importa a conduta aqui na Terra e que o destino é o mesmo depois da morte? Absolutamente: eles reconhecem as penas e recompensas futuras; vão mais adiante: eles as tornam patentes, porque são os próprios seres felizes ou infelizes que nos vêm pintar Os seus sofrimentos ou as suas alegrias. É verdade que eles não os explicam exatamente como no vosso meio; não admitem um fogo material para queimar eternamente as almas imateriais. Mas que importa a forma, se o fundo existe? a menos que se pretenda que a forma seja mais importante que o fundo, e o sentido figurado superior ao sentido próprio. As crenças religiosas não se modificaram sobre muitas passagens das Escrituras, notadamente sobre os seis dias da criação, que se sabe muito bem não serem mais seis vezes vinte e quatro horas, mas, talvez, seis vezes mil anos? sobre a ancianidade do globo terrestre? sobre o movimento da Terra em redor do Sol? O que outrora era considerado como uma heresia digna do fogo terreno e do fogo celeste e como que a derrubada da religião, já não é admitido peta Igreja desde que a ciência positiva veio demonstrar não o erro do texto, mas a falsa interpretação que lhe havia sido dada? Dá-se o mesmo em relação ao inferno, que ela não mais coloca nos lugares baixos da Terra, desde que os alcançamos com olhos investigadores: a alta teologia admite perfeitamente a existência de um fogo moral; ela não assina mais um lugar determinado ao purgatório, desde que foram sondadas as profundezas do espaço e penso que ele bem poderia estar por toda parte, mesmo ao nosso lado. A religião não sofreu por isso. Ao contrário, ganhou por não se chocar contra a evidência dos fatos. É, preciso não a julgar pelo que ainda ensinam nas escolas de aldeia, onde as doutrinas superiores não seriam compreendidas. O alto clero está mais esclarecido do que geralmente se pensa e em muitas ocasiões provou que sabe, conforme as necessidades transpor a rotina da tradição e dos preconceitos. Há, porém, criaturas que querem ser mais religiosas que a religião e a rebaixam pela estreiteza de seus pontos de vista. Para estas a forma é tudo e até ultrapassa a moral do Evangelho, que praticam muito pouco: são estas as que lhe causam maiores males. Em que, pois, a doutrina espírita seria perniciosa? Ela explica aquilo que era inexplicado; demonstra a possibilidade do que se pensava impossível; prova a utilidade da prece; apenas diz que a prece do coração é a única eficaz e que as dos lábios não passam de simulacro. Quem ousaria sustentar o contrário? A não eternidade das penas! a reencarnação! Eis a grande pedra de escândalo! Mas se jamais os fatos se tornaram tão patentes e tão vulgares quanto o movimento da Terra em torno do Sol, será preciso torná-los evidentes, como se fez com o resto; certamente buscando desde já, seria menos difícil concordar que não se acredita. Assim, não haja pressa em pronunciar uma sentença que talvez fosse muito precipitada: aproveitemos as lições da História.
O maior inimigo da religião é o materialismo e este não tem mais rude adversário do que a doutrina espírita. O Espiritismo já trouxe ao Espiritualismo muitos materialistas obstinados, que até então haviam resistido a todos os argumentos teológicos. É que o Espiritismo faz mais do que argumentar: torna as coisas patentes. É, pois, o mais poderoso auxiliar das ideias religiosas, porque dá ao homem a convicção de seu destino futuro e, neste sentido, deve ser acolhido como um benefício para a humanidade. Em muitos corações ele reanimou a fé na Providência, fez nascer a esperança em substituição à dúvida. Fez mais: arrancou mais de unia vítima ao suicídio, restabeleceu a paz e a concórdia nas famílias, acalmou ódios, amorteceu paixões brutais, desarmou a vingança e levou a resignação às almas sofredoras. É subversivo da ordem social e da moral publica? Uma doutrina que condena o ódio e o egoísmo, que prega o desinteresse, o amor ao próximo sem exceção de seitas e de castas não pode excitar as paixões hostis e cena desejável para o repouso do mundo e para a felicidade do gênero humano que todos os homens compreendessem e praticassem tais princípios: eles nada deveriam temer uns dos outros.
Eis aonde conduz a loucura do Espiritismo aqueles que, aprofundando-se nos mistérios, veem nas manifestações algo mais que mesas girantes e demônios que batem.