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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861 > Agosto
Agosto
Fenômenos psico-fisiológicosDas pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa
O jornal Le Siècle, de 4 de julho de 1861, cita o seguinte fato, segundo o jornal do Havre:
“Acaba de morrer no hospício um homem que era vítima de uma aberração mental das mais singulares. Era um soldado, chamado Pierre Valin, que tinha sido ferido na cabeça na batalha de Solferino. A ferida estava completamente cicatrizada, mas desde então ele julgava-se morto.
“Quando lhe perguntavam pela saúde, respondia: “Quereis saber como vai Pierre Valin? Pobre rapaz! Foi morto com um tiro na cabeça em Solferino. O que vedes aqui não é Valin, é uma máquina que fizeram à sua semelhança, mas é muito mal feita. Deveríeis pedir que fizessem outra.”
“Jamais, falando de si mesmo, ele dizia eu ou a mim, mas este. Muitas vezes caía em completa imobilidade e insensibilidade, que durava vários dias. Contra isto aplicavam sinapismos e vesicatórios, que jamais produziram o menor sinal de dor. Muitas vezes exploraram a sensibilidade da pele, beliscando os braços e as pernas, sem que ele manifestasse o menor sofrimento.
“Para ter mais certeza de que não dissimulava, o médico fazia picá-lo nas costas enquanto lhe falavam; o doente de nada se apercebia. Muitas vezes, Pierre Valin recusava alimentar-se, dizendo que isto não tinha necessidade; que, aliás isto não tinha ventre, etc.
“O fato, porém, não é único no gênero. Um outro soldado, igualmente ferido na cabeça, falava sempre na terceira pessoa e no feminino. Ele exclamava: “Ah! Como ela sofre! Ela está com muita sede! etc.” De começo lhe fizeram ver o erro e ele concordou com muita surpresa, mas voltava continuamente ao mesmo erro e, nos últimos tempos de sua vida, só se exprimia dessa maneira.
“Também em consequência de uma ferida na cabeça, posto que perfeitamente curado, um zuavo tinha perdido a memória dos substantivos. Sargento instrutor, embora soubesse muito bem o nome dos soldados de seu esquadrão, só os designava por expressões como estas: O morenão, o castanhozinho, etc. Para comandar usava de perífrases para designar o fuzil, o sabre, etc. Foram obrigados a mandá-lo para casa.
“Os últimos anos do célebre médico Baudelocque ofereceram exemplo de lesão análoga, porém menos característica. Ele se lembrava muito bem do que havia feito quando gozava de saúde. Reconhecia pela voz os que vinham vê-lo, pois havia ficado cego, mas não tinha a menor consciência de sua existência. Se lhe perguntassem, por exemplo, “Como vai a cabeça?”, respondia: “Eu não tenho cabeça.” Se lhe pedissem o braço para tomar o pulso, respondia não saber onde ele estava. Um dia quis, ele próprio, sentir o pulso e puseram-lhe a mão direita no punho esquerdo. Ele perguntou se era mesmo a sua mão que sentia. Não obstante, contou exatamente a pulsação.”
A cada passo oferece-nos a Fisiologia fenômenos que parecem anomalias e ante os quais ela fica muda. Por que isto? Já o dissemos e nunca seria demais repetir: é que ela quer atribuir tudo ao elemento material, sem levar na menor conta o espiritual. Enquanto se obstinar nessa via restritiva, será ela impotente para resolver os mil problemas que surgem a cada instante sob o seu escalpelo, como a dizer-lhe: “Bem vês que existe algo além da matéria, pois apenas com a matéria não podes tudo explicar.” E aqui não falamos apenas de alguns fenômenos bizarros, que poderiam pegá-la desprevenida, mas dos mais vulgares efeitos. Pelo menos dos sonhos ela se deu conta? Não falamos dos sonhos reais, desses que são percepções reais de coisas ausentes, presentes ou futuras, mas simplesmente dos sonhos fantásticos, ou de lembranças. Ela explica como se produzem essas imagens tão claras e precisas que por vezes nos aparecem? Qual é esse espelho mágico que, assim, conserva a imagem das coisas? No sonambulismo natural, que ninguém contesta, explica ela de onde vem essa estranha faculdade de ver sem auxílio dos olhos? De ver, não vagamente, mas os mais minuciosos detalhes, a ponto de se poder fazer com precisão e regularidade trabalhos que, em estado normal, exigiriam uma visão penetrante? Há, pois, em nós, algo que vê independentemente dos olhos. Nesse estado, o sensitivo não apenas age, mas pensa, calcula, combina, prevê e entrega-se a trabalhos intelectuais que é incapaz de executar em estado de vigília e dos quais não conserva a menor lembrança. Há, pois, algo que pensa independentemente da matéria. O que é isso? Aí ela para. Contudo, tais fatos não são raros. Mas, um sábio irá aos antípodas para ver e calcular um eclipse, ao passo que ele não vai à casa do vizinho para observar um fenômeno da alma. Os fatos naturais e espontâneos, que provam a ação independente de um princípio inteligente, são muito numerosos, mas esta ação ressalta ainda com mais evidência nos fenômenos magnéticos e espíritas, nos quais o isolamento desse princípio se produz, por assim dizer, à vontade.
Voltemos ao nosso assunto. Registramos um fato semelhante na Revista de junho de 1861, a propósito da evocação do Marquês de Saint-Paul. Em seus últimos momentos ele dizia sempre: “Ele tem sede. É preciso dar-lhe de beber. Ele tem frio. É preciso aquecê-lo. Ele tem dor em tal parte, etc.” E quando lhe diziam: “Mas sois vós que tendes sede”, ele respondia: “Não. É ele.” É que o eu pensante está no Espírito e não no corpo. Já em parte desprendido, o Espírito considerava o seu corpo como outra individualidade, que, a bem dizer, não era ele. Era, pois, ao seu corpo, a esse outro indivíduo que era preciso dar de beber, e não a ele Espírito. Assim, quando na evocação lhe fizeram esta pergunta: “Por que faláveis sempre na terceira pessoa?” ele respondeu: “Porque, como vos disse, eu estava vendo e sentia claramente as diferenças que existem entre o físico e o espiritual. Essas diferenças, ligadas entre si pelo fluido de vida, tornam-se muito distintas aos olhos dos agonizantes clarividentes.”
Uma causa semelhante deve ter produzido o efeito notado nos militares dos quais se falou. Talvez digam que o ferimento tenha determinado uma espécie de loucura. Mas o Marquês de Saint-Paul não tinha sido ferido. Ele estava no pleno gozo de sua razão, do que temos certeza, pois obtivemos essa informação de sua irmã, que é membro da Sociedade. O que nele se produziu espontaneamente pode perfeitamente ter sido determinado nos outros por uma causa acidental. Aliás, todos os magnetizadores sabem que é muito comum aos sonâmbulos falarem na terceira pessoa, assim fazendo distinção entre a personalidade de sua alma ou Espírito, e a do corpo.
No estado normal, as duas individualidades se confundem, e sua perfeita assimilação é necessária à harmonia dos atos da vida, mas o princípio inteligente é como esses gases que não se prendem a certos corpos sólidos senão por uma coesão efêmera e que escapam ao primeiro sopro. Há sempre uma tendência a se desembaraçar de seu fardo corpóreo, desde que a força que mantém o equilíbrio cesse de agir por uma causa qualquer. Só a atividade harmônica dos órgãos mantém a união íntima e completa entre alma e corpo. Mas, à menor suspensão dessa atividade, a alma retoma o voo. É isto o que acontece no sono, no meio sono, no simples entorpecimento dos sentidos, na catalepsia, na letargia, no sonambulismo natural ou magnético, no êxtase, no que se chama sonhar acordado ou segunda vista, nas inspirações do gênio, em todas as grandes tensões do Espírito, que por vezes tornam o corpo insensível. É, enfim, o que pode ter lugar como consequência de certos estados patológicos. Uma porção de fenômenos espirituais não tem outra causa senão a emancipação da alma. A Medicina bem que admite a influência das causas morais, mas não admite o elemento moral como princípio ativo. Eis por que ela confunde esses fenômenos com a loucura orgânica, e também por que lhes aplica um tratamento puramente físico que muitas vezes determina uma loucura real, onde desta só havia a aparência.
Entre os fatos citados, um há que parece muito bizarro. É o do militar que falava na terceira pessoa do feminino. O elemento primitivo do fenômeno é, como dissemos, a distinção das duas personalidades em consequência do desprendimento do Espírito. Há, porém, outra causa, revelada pelo Espiritismo, e que deve ser levada em conta, desde que pode dar às ideias um caráter especial: é a vaga lembrança de existências anteriores que, no estado de emancipação da alma, pode despertar e permitir um olhar retrospectivo sobre alguns pontos do passado. Em tais condições, o desprendimento da alma jamais é completo. As ideias se ressentem do enfraquecimento dos órgãos e por isso não podem ser muito lúcidas, pois não são inteiramente lúcidas nem mesmo nos primeiros momentos após a morte. Suponhamos que o homem de que falamos tenha sido mulher na encarnação precedente. Neste caso, a ideia que pode ter conservado poderia confundir-se com a de seu estado atual.
Não poderíamos encontrar nesse fato a causa primeira da ideia fixa de certos alienados que se julgam reis? Se foram reis em existência pretérita, pode ficar-lhes uma lembrança que lhes dê a ilusão. Isto é apenas uma suposição, mas que, para os iniciados no Espiritismo não é desprovida de verossimilhança. Se a causa for possível neste caso, dirão que não poderia aplicar-se aos que se julgam lobos ou porcos, pois sabe-se que o homem jamais foi animal. É certo, mas um homem pode ter estado numa condição abjeta que o obrigasse a viver entre animais imundos e selvagens. Aí talvez esteja a fonte dessa ilusão que, em alguns, bem lhes poderia ter sido imposta como punição dos atos de sua vida atual. Quando fatos da natureza desses de que temos falado se apresentam, se, em vez de os assimilar sistematicamente às moléstias puramente corporais, seguíssemos atentamente todas as fases, com o auxílio dos dados fornecidos pelas observações espíritas, sem esforço reconheceríamos a dupla causa que lhes assinalamos e compreenderíamos que não é com duchas, cautérios e sangrias que podem ser remediados.
O caso do Dr. Baudelocque também encontra sua explicação em causas análogas. Diz o artigo que ele não tinha a menor consciência de sua existência. É um erro, pois ele não se julgava morto; apenas não tinha consciência de sua existência corpórea. Ele se achava num estado mais ou menos semelhante ao de certos Espíritos que, nos primeiros tempos após a morte, não julgam estar mortos e tomam o seu corpo pelo de um outro, uma vez que a perturbação em que se encontram não lhes permite se deem conta da situação. O que se passa com certos desencarnados pode ocorrer com certos encarnados. É assim que o Dr. Baudelocque podia fazer abstração de seu corpo e dizer que não mais tinha cabeça, pois seu Espírito não mais tinha cabeça carnal. As observações espíritas fornecem numerosos exemplos do gênero, e assim lançam uma luz nova sobre uma imensa variedade de fenômenos até hoje não explicados e inexplicáveis sem as bases fornecidas pelo Espiritismo.
Restaria a examinar o caso do zuavo que havia perdido a memória dos substantivos. Mas este não pode ser explicado senão por considerações de outra ordem, que entram no domínio da fisiologia orgânica. Os desenvolvimentos que ele comporta nos levam a consagrar-lhe um artigo especial, que publicaremos proximamente.
“Acaba de morrer no hospício um homem que era vítima de uma aberração mental das mais singulares. Era um soldado, chamado Pierre Valin, que tinha sido ferido na cabeça na batalha de Solferino. A ferida estava completamente cicatrizada, mas desde então ele julgava-se morto.
“Quando lhe perguntavam pela saúde, respondia: “Quereis saber como vai Pierre Valin? Pobre rapaz! Foi morto com um tiro na cabeça em Solferino. O que vedes aqui não é Valin, é uma máquina que fizeram à sua semelhança, mas é muito mal feita. Deveríeis pedir que fizessem outra.”
“Jamais, falando de si mesmo, ele dizia eu ou a mim, mas este. Muitas vezes caía em completa imobilidade e insensibilidade, que durava vários dias. Contra isto aplicavam sinapismos e vesicatórios, que jamais produziram o menor sinal de dor. Muitas vezes exploraram a sensibilidade da pele, beliscando os braços e as pernas, sem que ele manifestasse o menor sofrimento.
“Para ter mais certeza de que não dissimulava, o médico fazia picá-lo nas costas enquanto lhe falavam; o doente de nada se apercebia. Muitas vezes, Pierre Valin recusava alimentar-se, dizendo que isto não tinha necessidade; que, aliás isto não tinha ventre, etc.
“O fato, porém, não é único no gênero. Um outro soldado, igualmente ferido na cabeça, falava sempre na terceira pessoa e no feminino. Ele exclamava: “Ah! Como ela sofre! Ela está com muita sede! etc.” De começo lhe fizeram ver o erro e ele concordou com muita surpresa, mas voltava continuamente ao mesmo erro e, nos últimos tempos de sua vida, só se exprimia dessa maneira.
“Também em consequência de uma ferida na cabeça, posto que perfeitamente curado, um zuavo tinha perdido a memória dos substantivos. Sargento instrutor, embora soubesse muito bem o nome dos soldados de seu esquadrão, só os designava por expressões como estas: O morenão, o castanhozinho, etc. Para comandar usava de perífrases para designar o fuzil, o sabre, etc. Foram obrigados a mandá-lo para casa.
“Os últimos anos do célebre médico Baudelocque ofereceram exemplo de lesão análoga, porém menos característica. Ele se lembrava muito bem do que havia feito quando gozava de saúde. Reconhecia pela voz os que vinham vê-lo, pois havia ficado cego, mas não tinha a menor consciência de sua existência. Se lhe perguntassem, por exemplo, “Como vai a cabeça?”, respondia: “Eu não tenho cabeça.” Se lhe pedissem o braço para tomar o pulso, respondia não saber onde ele estava. Um dia quis, ele próprio, sentir o pulso e puseram-lhe a mão direita no punho esquerdo. Ele perguntou se era mesmo a sua mão que sentia. Não obstante, contou exatamente a pulsação.”
A cada passo oferece-nos a Fisiologia fenômenos que parecem anomalias e ante os quais ela fica muda. Por que isto? Já o dissemos e nunca seria demais repetir: é que ela quer atribuir tudo ao elemento material, sem levar na menor conta o espiritual. Enquanto se obstinar nessa via restritiva, será ela impotente para resolver os mil problemas que surgem a cada instante sob o seu escalpelo, como a dizer-lhe: “Bem vês que existe algo além da matéria, pois apenas com a matéria não podes tudo explicar.” E aqui não falamos apenas de alguns fenômenos bizarros, que poderiam pegá-la desprevenida, mas dos mais vulgares efeitos. Pelo menos dos sonhos ela se deu conta? Não falamos dos sonhos reais, desses que são percepções reais de coisas ausentes, presentes ou futuras, mas simplesmente dos sonhos fantásticos, ou de lembranças. Ela explica como se produzem essas imagens tão claras e precisas que por vezes nos aparecem? Qual é esse espelho mágico que, assim, conserva a imagem das coisas? No sonambulismo natural, que ninguém contesta, explica ela de onde vem essa estranha faculdade de ver sem auxílio dos olhos? De ver, não vagamente, mas os mais minuciosos detalhes, a ponto de se poder fazer com precisão e regularidade trabalhos que, em estado normal, exigiriam uma visão penetrante? Há, pois, em nós, algo que vê independentemente dos olhos. Nesse estado, o sensitivo não apenas age, mas pensa, calcula, combina, prevê e entrega-se a trabalhos intelectuais que é incapaz de executar em estado de vigília e dos quais não conserva a menor lembrança. Há, pois, algo que pensa independentemente da matéria. O que é isso? Aí ela para. Contudo, tais fatos não são raros. Mas, um sábio irá aos antípodas para ver e calcular um eclipse, ao passo que ele não vai à casa do vizinho para observar um fenômeno da alma. Os fatos naturais e espontâneos, que provam a ação independente de um princípio inteligente, são muito numerosos, mas esta ação ressalta ainda com mais evidência nos fenômenos magnéticos e espíritas, nos quais o isolamento desse princípio se produz, por assim dizer, à vontade.
Voltemos ao nosso assunto. Registramos um fato semelhante na Revista de junho de 1861, a propósito da evocação do Marquês de Saint-Paul. Em seus últimos momentos ele dizia sempre: “Ele tem sede. É preciso dar-lhe de beber. Ele tem frio. É preciso aquecê-lo. Ele tem dor em tal parte, etc.” E quando lhe diziam: “Mas sois vós que tendes sede”, ele respondia: “Não. É ele.” É que o eu pensante está no Espírito e não no corpo. Já em parte desprendido, o Espírito considerava o seu corpo como outra individualidade, que, a bem dizer, não era ele. Era, pois, ao seu corpo, a esse outro indivíduo que era preciso dar de beber, e não a ele Espírito. Assim, quando na evocação lhe fizeram esta pergunta: “Por que faláveis sempre na terceira pessoa?” ele respondeu: “Porque, como vos disse, eu estava vendo e sentia claramente as diferenças que existem entre o físico e o espiritual. Essas diferenças, ligadas entre si pelo fluido de vida, tornam-se muito distintas aos olhos dos agonizantes clarividentes.”
Uma causa semelhante deve ter produzido o efeito notado nos militares dos quais se falou. Talvez digam que o ferimento tenha determinado uma espécie de loucura. Mas o Marquês de Saint-Paul não tinha sido ferido. Ele estava no pleno gozo de sua razão, do que temos certeza, pois obtivemos essa informação de sua irmã, que é membro da Sociedade. O que nele se produziu espontaneamente pode perfeitamente ter sido determinado nos outros por uma causa acidental. Aliás, todos os magnetizadores sabem que é muito comum aos sonâmbulos falarem na terceira pessoa, assim fazendo distinção entre a personalidade de sua alma ou Espírito, e a do corpo.
No estado normal, as duas individualidades se confundem, e sua perfeita assimilação é necessária à harmonia dos atos da vida, mas o princípio inteligente é como esses gases que não se prendem a certos corpos sólidos senão por uma coesão efêmera e que escapam ao primeiro sopro. Há sempre uma tendência a se desembaraçar de seu fardo corpóreo, desde que a força que mantém o equilíbrio cesse de agir por uma causa qualquer. Só a atividade harmônica dos órgãos mantém a união íntima e completa entre alma e corpo. Mas, à menor suspensão dessa atividade, a alma retoma o voo. É isto o que acontece no sono, no meio sono, no simples entorpecimento dos sentidos, na catalepsia, na letargia, no sonambulismo natural ou magnético, no êxtase, no que se chama sonhar acordado ou segunda vista, nas inspirações do gênio, em todas as grandes tensões do Espírito, que por vezes tornam o corpo insensível. É, enfim, o que pode ter lugar como consequência de certos estados patológicos. Uma porção de fenômenos espirituais não tem outra causa senão a emancipação da alma. A Medicina bem que admite a influência das causas morais, mas não admite o elemento moral como princípio ativo. Eis por que ela confunde esses fenômenos com a loucura orgânica, e também por que lhes aplica um tratamento puramente físico que muitas vezes determina uma loucura real, onde desta só havia a aparência.
Entre os fatos citados, um há que parece muito bizarro. É o do militar que falava na terceira pessoa do feminino. O elemento primitivo do fenômeno é, como dissemos, a distinção das duas personalidades em consequência do desprendimento do Espírito. Há, porém, outra causa, revelada pelo Espiritismo, e que deve ser levada em conta, desde que pode dar às ideias um caráter especial: é a vaga lembrança de existências anteriores que, no estado de emancipação da alma, pode despertar e permitir um olhar retrospectivo sobre alguns pontos do passado. Em tais condições, o desprendimento da alma jamais é completo. As ideias se ressentem do enfraquecimento dos órgãos e por isso não podem ser muito lúcidas, pois não são inteiramente lúcidas nem mesmo nos primeiros momentos após a morte. Suponhamos que o homem de que falamos tenha sido mulher na encarnação precedente. Neste caso, a ideia que pode ter conservado poderia confundir-se com a de seu estado atual.
Não poderíamos encontrar nesse fato a causa primeira da ideia fixa de certos alienados que se julgam reis? Se foram reis em existência pretérita, pode ficar-lhes uma lembrança que lhes dê a ilusão. Isto é apenas uma suposição, mas que, para os iniciados no Espiritismo não é desprovida de verossimilhança. Se a causa for possível neste caso, dirão que não poderia aplicar-se aos que se julgam lobos ou porcos, pois sabe-se que o homem jamais foi animal. É certo, mas um homem pode ter estado numa condição abjeta que o obrigasse a viver entre animais imundos e selvagens. Aí talvez esteja a fonte dessa ilusão que, em alguns, bem lhes poderia ter sido imposta como punição dos atos de sua vida atual. Quando fatos da natureza desses de que temos falado se apresentam, se, em vez de os assimilar sistematicamente às moléstias puramente corporais, seguíssemos atentamente todas as fases, com o auxílio dos dados fornecidos pelas observações espíritas, sem esforço reconheceríamos a dupla causa que lhes assinalamos e compreenderíamos que não é com duchas, cautérios e sangrias que podem ser remediados.
O caso do Dr. Baudelocque também encontra sua explicação em causas análogas. Diz o artigo que ele não tinha a menor consciência de sua existência. É um erro, pois ele não se julgava morto; apenas não tinha consciência de sua existência corpórea. Ele se achava num estado mais ou menos semelhante ao de certos Espíritos que, nos primeiros tempos após a morte, não julgam estar mortos e tomam o seu corpo pelo de um outro, uma vez que a perturbação em que se encontram não lhes permite se deem conta da situação. O que se passa com certos desencarnados pode ocorrer com certos encarnados. É assim que o Dr. Baudelocque podia fazer abstração de seu corpo e dizer que não mais tinha cabeça, pois seu Espírito não mais tinha cabeça carnal. As observações espíritas fornecem numerosos exemplos do gênero, e assim lançam uma luz nova sobre uma imensa variedade de fenômenos até hoje não explicados e inexplicáveis sem as bases fornecidas pelo Espiritismo.
Restaria a examinar o caso do zuavo que havia perdido a memória dos substantivos. Mas este não pode ser explicado senão por considerações de outra ordem, que entram no domínio da fisiologia orgânica. Os desenvolvimentos que ele comporta nos levam a consagrar-lhe um artigo especial, que publicaremos proximamente.
Manifestações americanas
No Banner of Light, jornal de Nova Iorque, de 18 de maio de 1861, lê-se:
Pensando que os fatos seguintes são dignos de atenção, reunimo-los a fim de serem publicados pelo Banner, seguidos das assinaturas com que os nossos assinantes atestam a sua autenticidade.
“Na manhã de quarta-feira, 1.º de maio, pedimos ao médium Sr. Say, que nos encontrasse em casa do Sr. Hallock, em Nova York. O médium sentou-se perto de uma mesa sobre a qual tinham sido colocados uma corneta de estanho, um violino e três pedaços de corda. Os convidados sentaram-se em semicírculo, em frente ao médium, a seis ou sete polegadas da mesa. Suas mãos se tocavam, para dar a cada um a certeza de que ninguém saía do lugar durante as experiências que vamos descrever. A luz foi retirada e pediram aos convidados que cantassem. Após alguns minutos, tendo sido trazida a luz, o médium foi encontrado em sua cadeira, com os braços cruzados e os punhos amarrados com a corda apertada a ponto de prejudicar a circulação e inchar as mãos. A ponta da corda passava por trás da cadeira e prendia as pernas às travessas. Uma outra corda amarrava os joelhos muito fortemente, enquanto a terceira da mesma maneira prendia os tornozelos. Nestas condições era claro que o médium nem podia andar, nem se levantar ou usar as mãos.
Uma pessoa do círculo colocou uma folha de papel no chão, debaixo dos pés do médium e riscou a lápis o contorno dos pés. A luz foi levada e quase imediatamente a corneta, tomada por uma força invisível, começou a bater rápida e violentamente sobre a mesa, deixando várias marcas. Da corneta saía uma voz que conversava com os presentes. A articulação das palavras era muito clara; o som era de uma voz masculina e o tom por vezes mais alto do que na conversa normal. Uma outra voz, mais fraca, um pouco gutural e menos clara, conversava também com a assistência. Trouxeram a luz e o médium foi encontrado em sua cadeira, com pés e mãos atados, como já descrito, e os pés sobre o papel, nas linhas a lápis. Mais uma vez a luz foi levada e a corneta recomeçou como acima. Pediram aos presentes que cantassem e as manifestações cessaram. As experiências foram repetidas várias vezes e o médium foi sempre encontrado no mesmo estado. Esta foi a primeira série de manifestações.
Mais uma vez a luz foi retirada e o grupo cantou um pouco, depois do que, tendo retornado a luz, constatou-se que o médium estava sempre amarrado à cadeira. Foi posta uma campainha sobre a mesa e, tendo sido feita a obscuridade, ela começou a bater na mesa, na corneta e no chão; foi retirada da mesa e começou a tocar muito forte, e parecia percorrer um arco de cinco a seis pés a cada badalada. Durante esse tempo, o médium exclamava: “Estou aqui, estou aqui”, para mostrar que se achava sempre no mesmo lugar.
Fizeram no violino uma grande marca fosforescente. Retirada a luz, logo se viu, pelo traço fosforescente, que o violino se elevava a seis ou sete pés e voava rápido no ar. Pelo ouvido podia-se acompanhá-lo, porque as cordas vibravam no voo. Enquanto o violino flutuava, o médium exclamava: “Estou aqui, estou aqui.”
Uma pessoa do grupo pôs sobre a mesa um vaso com água pela metade e um papel entre os lábios do médium. Levada a luz, cantaram um pouco; trazida a luz, encontraram o vaso vazio, sem sinal de água, quer sobre a mesa, quer no chão; o médium sempre em seu lugar e o papel seco entre os seus lábios. Assim terminou a segunda série de experiências.
A Sra. Spence sentou-se em frente ao médium. Um senhor sentou-se entre os dois, pondo o pé direito sobre o daquela senhora, a mão direita sobre a cabeça do médium e a esquerda sobre a cabeça da senhora Spence. O médium pegou o braço direito do senhor com ambas as mãos e a senhora fez o mesmo com o outro braço. Quando a luz foi retirada, o senhor sentiu distintamente os dedos de uma mão passando sobre o seu rosto e lhe puxar o nariz; recebeu uma bofetada, ouvida pelos assistentes, e o violino veio bater-lhe na cabeça, o que igualmente foi ouvido pelo grupo. Cada um repetiu a experiência e experimentou os mesmos efeitos. Assim termina a terceira série e garantimos que nada disto podia ter sido produzido pelo Sr. Fay, nem por qualquer outra pessoa do grupo.
Charles Patridge, R. T. Hallock, Sra. Sarah P. Clark, Sra. Mary, S. Hallock, Sra. Amanda, Sr. Spence, Senhorita Alla Britt, William Blondel, William P. Coles, W. B. Hallock, B. Franklin Clark, Peyton Spence.
OBSERVAÇÃO: Não contestamos a possibilidade de todas essas coisas e não temos qualquer motivo de dúvida quanto à honorabilidade dos signatários, apesar de não os conhecermos. Contudo, mantemos as reflexões feitas em nosso último número, a propósito dos dois artigos sobre os desenhos misteriosos e a exploração do Espiritismo.
Diz-se que na América essa exploração nada tem que choque a opinião pública e acham muito natural que os médiuns se façam pagar. Isto se compreende, de acordo com os hábitos de um país onde time is money. Nem por isso deixaremos de repetir o que dissemos num outro artigo: que o desinteresse absoluto é uma garantia ainda melhor que todas as precauções materiais. Se nossos escritos contribuíram, na França e em outros países, para lançar o descrédito sobre a mediunidade interesseira, cremos que isto não será um dos menores serviços que eles terão prestado ao Espiritismo sério. Estas reflexões gerais absolutamente não são feitas tendo em vista o Sr. Fay, cuja posição perante o público nós desconhecemos.
A. K.
Pensando que os fatos seguintes são dignos de atenção, reunimo-los a fim de serem publicados pelo Banner, seguidos das assinaturas com que os nossos assinantes atestam a sua autenticidade.
“Na manhã de quarta-feira, 1.º de maio, pedimos ao médium Sr. Say, que nos encontrasse em casa do Sr. Hallock, em Nova York. O médium sentou-se perto de uma mesa sobre a qual tinham sido colocados uma corneta de estanho, um violino e três pedaços de corda. Os convidados sentaram-se em semicírculo, em frente ao médium, a seis ou sete polegadas da mesa. Suas mãos se tocavam, para dar a cada um a certeza de que ninguém saía do lugar durante as experiências que vamos descrever. A luz foi retirada e pediram aos convidados que cantassem. Após alguns minutos, tendo sido trazida a luz, o médium foi encontrado em sua cadeira, com os braços cruzados e os punhos amarrados com a corda apertada a ponto de prejudicar a circulação e inchar as mãos. A ponta da corda passava por trás da cadeira e prendia as pernas às travessas. Uma outra corda amarrava os joelhos muito fortemente, enquanto a terceira da mesma maneira prendia os tornozelos. Nestas condições era claro que o médium nem podia andar, nem se levantar ou usar as mãos.
Uma pessoa do círculo colocou uma folha de papel no chão, debaixo dos pés do médium e riscou a lápis o contorno dos pés. A luz foi levada e quase imediatamente a corneta, tomada por uma força invisível, começou a bater rápida e violentamente sobre a mesa, deixando várias marcas. Da corneta saía uma voz que conversava com os presentes. A articulação das palavras era muito clara; o som era de uma voz masculina e o tom por vezes mais alto do que na conversa normal. Uma outra voz, mais fraca, um pouco gutural e menos clara, conversava também com a assistência. Trouxeram a luz e o médium foi encontrado em sua cadeira, com pés e mãos atados, como já descrito, e os pés sobre o papel, nas linhas a lápis. Mais uma vez a luz foi levada e a corneta recomeçou como acima. Pediram aos presentes que cantassem e as manifestações cessaram. As experiências foram repetidas várias vezes e o médium foi sempre encontrado no mesmo estado. Esta foi a primeira série de manifestações.
Mais uma vez a luz foi retirada e o grupo cantou um pouco, depois do que, tendo retornado a luz, constatou-se que o médium estava sempre amarrado à cadeira. Foi posta uma campainha sobre a mesa e, tendo sido feita a obscuridade, ela começou a bater na mesa, na corneta e no chão; foi retirada da mesa e começou a tocar muito forte, e parecia percorrer um arco de cinco a seis pés a cada badalada. Durante esse tempo, o médium exclamava: “Estou aqui, estou aqui”, para mostrar que se achava sempre no mesmo lugar.
Fizeram no violino uma grande marca fosforescente. Retirada a luz, logo se viu, pelo traço fosforescente, que o violino se elevava a seis ou sete pés e voava rápido no ar. Pelo ouvido podia-se acompanhá-lo, porque as cordas vibravam no voo. Enquanto o violino flutuava, o médium exclamava: “Estou aqui, estou aqui.”
Uma pessoa do grupo pôs sobre a mesa um vaso com água pela metade e um papel entre os lábios do médium. Levada a luz, cantaram um pouco; trazida a luz, encontraram o vaso vazio, sem sinal de água, quer sobre a mesa, quer no chão; o médium sempre em seu lugar e o papel seco entre os seus lábios. Assim terminou a segunda série de experiências.
A Sra. Spence sentou-se em frente ao médium. Um senhor sentou-se entre os dois, pondo o pé direito sobre o daquela senhora, a mão direita sobre a cabeça do médium e a esquerda sobre a cabeça da senhora Spence. O médium pegou o braço direito do senhor com ambas as mãos e a senhora fez o mesmo com o outro braço. Quando a luz foi retirada, o senhor sentiu distintamente os dedos de uma mão passando sobre o seu rosto e lhe puxar o nariz; recebeu uma bofetada, ouvida pelos assistentes, e o violino veio bater-lhe na cabeça, o que igualmente foi ouvido pelo grupo. Cada um repetiu a experiência e experimentou os mesmos efeitos. Assim termina a terceira série e garantimos que nada disto podia ter sido produzido pelo Sr. Fay, nem por qualquer outra pessoa do grupo.
Charles Patridge, R. T. Hallock, Sra. Sarah P. Clark, Sra. Mary, S. Hallock, Sra. Amanda, Sr. Spence, Senhorita Alla Britt, William Blondel, William P. Coles, W. B. Hallock, B. Franklin Clark, Peyton Spence.
OBSERVAÇÃO: Não contestamos a possibilidade de todas essas coisas e não temos qualquer motivo de dúvida quanto à honorabilidade dos signatários, apesar de não os conhecermos. Contudo, mantemos as reflexões feitas em nosso último número, a propósito dos dois artigos sobre os desenhos misteriosos e a exploração do Espiritismo.
Diz-se que na América essa exploração nada tem que choque a opinião pública e acham muito natural que os médiuns se façam pagar. Isto se compreende, de acordo com os hábitos de um país onde time is money. Nem por isso deixaremos de repetir o que dissemos num outro artigo: que o desinteresse absoluto é uma garantia ainda melhor que todas as precauções materiais. Se nossos escritos contribuíram, na França e em outros países, para lançar o descrédito sobre a mediunidade interesseira, cremos que isto não será um dos menores serviços que eles terão prestado ao Espiritismo sério. Estas reflexões gerais absolutamente não são feitas tendo em vista o Sr. Fay, cuja posição perante o público nós desconhecemos.
A. K.
Palestras familiares de além-túmulo - Don Peyra, prior de Amilly
Esta evocação foi feita o ano passado, na Sociedade, a pedido do Sr. Borreau, de Niort, o qual nos havia dirigido a seguinte notícia:
“Há cerca de trinta anos, nós tínhamos no priorato de Amilly, muito perto de Mauzé, um sacerdote chamado Don Peyra, que deixou na região a fama de feiticeiro. De fato ele se ocupava constantemente de Ciências Ocultas. Contam-se dele coisas que parecem fabulosas, mas que, segundo a Ciência Espírita, bem poderiam ter sua razão de ser. Há cerca de doze anos, fazendo com uma sonâmbula experiências muito interessantes, achei-me em relação com seu Espírito. Apresentou-se como um auxiliar, com o qual não podíamos deixar de ter êxito, mas nós fracassamos. Depois, em pesquisas da mesma natureza, fui levado a crer que esse Espírito deveria ter-se interessado. Venho pedir, se não abuso de vossa benevolência, que ele seja evocado e lhe seja perguntado quais foram e quais são suas relações comigo. Partindo daí, talvez um dia eu tenha coisas interessantes a vos comunicar.”
“Há cerca de trinta anos, nós tínhamos no priorato de Amilly, muito perto de Mauzé, um sacerdote chamado Don Peyra, que deixou na região a fama de feiticeiro. De fato ele se ocupava constantemente de Ciências Ocultas. Contam-se dele coisas que parecem fabulosas, mas que, segundo a Ciência Espírita, bem poderiam ter sua razão de ser. Há cerca de doze anos, fazendo com uma sonâmbula experiências muito interessantes, achei-me em relação com seu Espírito. Apresentou-se como um auxiliar, com o qual não podíamos deixar de ter êxito, mas nós fracassamos. Depois, em pesquisas da mesma natureza, fui levado a crer que esse Espírito deveria ter-se interessado. Venho pedir, se não abuso de vossa benevolência, que ele seja evocado e lhe seja perguntado quais foram e quais são suas relações comigo. Partindo daí, talvez um dia eu tenha coisas interessantes a vos comunicar.”
PRIMEIRA PALESTRA, A 13 DE JANEIRO DE 1860
1. (Evocação) ─ Aqui estou.
1. (Evocação) ─ Aqui estou.
2. ─ De onde vem a reputação de feiticeiro que tínheis em vida? ─ Conversas de comadres. Eu estudava Química.
3. ─ Qual o motivo que vos pôs em relação com o Sr. Borreau, de Niort? ─ O desejo de me distrair um pouco, a propósito do poder que ele me atribuía.
4. ─ Diz ele que vos apresentastes como auxiliar em suas pesquisas. Poderíeis dizer-nos qual a natureza dessas pesquisas? ─ Não sou bastante indiscreto para trair um segredo que ele julgou melhor não vos revelar. Vossa pergunta me ofende.
5. ─ Não queremos insistir, mas vos faremos notar que poderíeis ter respondido de modo mais conveniente a pessoas que vos interrogam seriamente e com benevolência. Vossa linguagem não é a de um Espírito adiantado. ─ Sou o que sempre fui.
6. ─ De que natureza são as coisas fabulosas que contam de vós? ─ Como vos disse, são histórias. Eu conhecia a opinião que formavam de mim e, longe de procurar abafá-la, fazia o que era preciso para favorecê-la.
7. ─ Levando-se em conta a resposta precedente, parece que não progredistes após a morte. ─ Na verdade não procurei fazê-lo, pois não conhecia os meios. Contudo, julgo que existe algo a fazer. Há pouco pensei nisto.
8. ─ Vossa linguagem nos admira, vinda de um Espírito que foi sacerdote em vida e que, por isso mesmo, deveria ter ideias de certa elevação. ─ Acredito piamente que eu era muito, muito pouco instruído.
9. ─ Tende a bondade de desenvolver o vosso pensamento. ─ Por demais instruído para crer, mas não bastante para saber.
10. ─ Então não éreis o que se chama um bom padre? ─ Oh! Não!
11─ Quais as vossas ocupações como Espírito? ─ Sempre a Química. Creio que teria feito melhor se procurasse Deus em vez da matéria.
12. ─ Como pode um Espírito ocupar-se da Química? ─ Oh! Permiti-me dizer que a pergunta é pueril. Terei necessidade de microscópio ou de alambique para estudar as propriedades da matéria, que sabeis tão penetrável ao Espírito?
13. ─ Sois feliz como Espírito? ─ Palavra que não. Como eu vos disse, creio ter seguido um caminho errado e vou mudá-lo, sobretudo se tiver a felicidade de ser um pouco ajudado, sobretudo se a mim, que tanto deveria ter orado pelos outros, o que confesso não ter feito sempre pelo dinheiro recebido, se, dizia eu, não quiserem a mim aplicar a pena de Talião.
14. ─ Agradecemos por terdes vindo e faremos por vós o que não fizestes pelos outros. ─ Valeis mais do que eu.
SEGUNDA PALESTRA, 25 DE JUNHO DE 1861
Tendo-nos o Sr. Borreau remetido novas perguntas para o Espírito de Don Peyra, este foi evocado novamente, por intermédio de outro médium e deu as respostas seguintes, das quais se colhem lições úteis, quer como estudo das individualidades do mundo espírita, quer como ensinamento geral.
SEGUNDA PALESTRA, 25 DE JUNHO DE 1861
Tendo-nos o Sr. Borreau remetido novas perguntas para o Espírito de Don Peyra, este foi evocado novamente, por intermédio de outro médium e deu as respostas seguintes, das quais se colhem lições úteis, quer como estudo das individualidades do mundo espírita, quer como ensinamento geral.
15. (Evocação) ─ O que quereis de mim e por que me perturbais?
16. ─ Foi o Sr. Borreau, de Niort, que nos pediu vos dirigíssemos algumas perguntas. ─ O que mais ele quer de mim? Não está contente por me perturbar em Niort? Por que é necessário que me evoque em Paris, onde nada me chama? Gostaria que ele tivesse a ideia de me deixar em repouso. Ele me chama, evoca-me, põe-me em contato com sonâmbulos, evoca-me por terceiros. Esse senhor é muito aborrecido.
17. ─ Contudo deveis lembrar-vos de que já vos evocamos e que respondestes mais gentilmente do que hoje. E até vos prometemos orar por vós. ─ Recordo-me disso muito bem, mas prometer e fazer são coisas diversas. Vós orastes, mas os outros...
18. ─ Certamente outros também oraram. Enfim, quereis responder às perguntas do Sr. Borreau? ─ Garanto-vos que por ele eu não tenho a menor vontade de fazê-lo, porque está sempre na minha cola. Perdoai a expressão, mas ela é verdadeira, tanto mais quanto entre mim e ele não há nenhuma afinidade. Mas para vós, que piedosamente chamastes sobre mim a misericórdia do Alto, quero responder da melhor maneira que puder.
19. ─ Dizíeis há pouco que vos perturbavam. Podeis dar-nos uma explicação a respeito, para nossa instrução pessoal? ─ Digo ser perturbado no sentido que chamastes a minha atenção e o meu pensamento para junto de vós, ocupando-vos de mim e vi que necessitava responder ao que perguntásseis, quando mais não fosse, por polidez. Explico-me mal. Meu pensamento estava alhures, em meus estudos, em minhas ocupações habituais. Vossa evocação forçosamente chamou-me a atenção sobre vós, sobre as coisas da Terra. Consequentemente, como não estava em meus propósitos ocupar-me de vós e da Terra, perturbastes-me.
OBSERVAÇÃO: Os Espíritos são mais ou menos comunicativos e vêm com maior ou menor vontade, conforme seu caráter. Mas podemos estar certos de que, como os homens sérios, não gostam de ser importunados sem necessidade. Quanto aos Espíritos levianos, é diferente: estão sempre dispostos a meter-se em tudo, mesmo quando não são chamados.
20. ─ Quando vos pusestes em contato com o Sr. Borreau, conhecíeis suas crenças na possibilidade de fazer triunfar suas convicções pela realização de uma grande façanha, ante a qual a incredulidade seria forçada a inclinar-se? ─ O Sr. Borreau queria que eu o servisse numa operação meio magnética, meio espírita. Mas ele não tem estatura para levar a bom termo semelhante trabalho e não julguei dever conceder-lhe o meu concurso por mais tempo. Aliás, eu o faria se tivesse podido. Não tinha chegado, e não chegou ainda, a hora para isto.
21. ─ Poderíeis ver e dizer-lhe quais as causas que, durante suas pesquisas na Vendeia, vieram determinar o seu fracasso, derrubando-o, bem como a sua sonâmbula e a duas outras pessoas presentes? ─ Minha resposta precedente pode aplicar-se a esta pergunta. O Sr. Borreau foi derribado pelos Espíritos que lhe quiseram dar uma lição e ensinar-lhe a não procurar aquilo que deve ficar oculto. Fui eu que os empurrei, utilizando o fluido do próprio magnetizador.
Observação: Esta observação concorda perfeitamente com a teoria que foi dada, das manifestações físicas. Não foi com as mãos que os Espíritos os empurraram, mas com o próprio fluido animado das pessoas, combinado com o do Espírito. A dissertação que fazemos a seguir sobre os transportes de objetos contém a respeito desenvolvimentos do mais alto interesse. Uma comparação que talvez tenha alguma analogia parece justificar a expressão do Espírito. Quando um corpo carregado de eletricidade positiva se aproxima de uma pessoa, esta se carrega de eletricidade contrária. A tensão cresce até a distância explosiva. Nesse ponto os dois fluidos se reúnem violentamente pela centelha e a pessoa recebe um choque que, conforme a massa de fluido, pode derrubá-la e até fulminá-la. Nesse fenômeno é sempre necessário que a pessoa forneça seu quinhão de fluido. Se considerássemos o corpo eletrizado positivamente como um ser inteligente, agindo por vontade própria e compreendendo a operação, diríamos que ele combinou uma parte do fluido da pessoa com o seu. No caso do Sr. Borreau, as coisas talvez não se tenham passado exatamente assim, mas compreende-se que aí pode haver um efeito análogo, e que Dom Peyra foi lógico dizendo que os derrubou com seu próprio fluido. Compreender-se-á melhor ainda se se reportar ao que está dito em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns sobre o fluido universal, que é o princípio do fluido vital, do fluido elétrico e do fluido magnético animal.
22. ─ Durante suas longas e dramáticas experiências, ele diz ter feito descobertas para ele muito mais admiráveis do que a solução que buscava. Vós as conheceis, não? ─ Sim. Mas há algo que ele não descobriu: que os Espíritos não têm por missão ajudar os homens em pesquisas semelhantes às que ele fazia. Se eles pudessem assim proceder, Deus nada poderia ocultar, e os homens negligenciariam o trabalho e o exercício de suas faculdades para correr, este em busca de um tesouro, aquele de uma invenção, pedindo aos Espíritos que lhes servissem isso tudo quentinho, de modo que bastaria curvar-se e colher a glória e a fortuna. Na verdade teríamos muito que fazer se tivéssemos que satisfazer à ambição de todo mundo. Vedes, assim, que rebuliço no mundo dos Espíritos pela crença universal no Espiritismo? Ora seríamos chamados à direita, ora à esquerda; aqui para cavar a terra e enriquecer um preguiçoso; ali para poupar a um imbecil o esforço de resolver um problema; além, para aquecer o forno de um químico; em toda parte para descobrir a pedra filosofal. A mais bela descoberta que o Sr. Borreau deveria ter feito é a de saber que sempre há Espíritos que se divertem em dar miragens de minas de ouro, mesmo aos olhos do mais clarividente sonâmbulo, fazendo-as aparecer onde não estão e rindo-se à vossa custa, quando pensais apoderar-se delas, e isto para vos ensinar que a sabedoria e o trabalho são os verdadeiros tesouros.
23. ─ O objetivo das pesquisas do Sr. Borreau era um tesouro? ─ Parece-me haver dito, quando me chamastes pela primeira vez, que não sou indiscreto. Se ele julgou conveniente não dizer-vos, não me cabe fazê-lo.
OBSERVAÇÃO: Vê-se que o Espírito é discreto. Aliás, é uma qualidade geralmente encontrada em todos eles, e mesmo nos Espíritos pouco adiantados, de onde se pode concluir que se um Espírito fizesse revelações indiscretas sobre alguém, muito provavelmente seria para se divertir e seria erro levá-los a sério.
24. ─ Poderíeis dar-lhe algumas explicações sobre a mão invisível que por muito tempo traçou numerosos escritos que ele encontrava nas folhas do caderno posto de propósito para recebê-los? ─ Quanto aos escritos, não são dos Espíritos. Mais tarde ele lhes conhecerá a fonte, que não devo revelar agora. Os Espíritos podem tê-los provocado, com o fito a que me referi antes, mas não foram eles que escreveram.
OBSERVAÇÃO: Embora estas duas conversas tenham ocorrido com dezoito meses de intervalo, e por médiuns diversos, reconhece-se um encadeamento, uma sequência e uma semelhança de linguagem que não permitem duvidar que o mesmo Espírito tenha respondido. Quanto à identidade, esta ressalta da carta seguinte, que nos escreveu o Sr. Borreau, após a remessa da segunda evocação.
18 DE JULHO DE 1861
“Senhor,
“Venho agradecer-vos o trabalho que tivestes, e a presteza em remeter-me a última evocação de Dom Peyra. Como dizeis, o Espírito do antigo prior não estava de bom humor, assim exprimindo vigorosamente a impaciência que lhe causou essa nova iniciativa. Daí resulta, senhor, um grande ensinamento. É que os Espíritos que fazem o jogo malévolo de atormentar-nos, por sua vez podem ser pagos por nós na mesma moeda.
“Ah! Senhores de além-túmulo! ─ aqui me refiro apenas aos Espíritos farsistas e levianos ─ sem dúvida vos gabaríeis do privilégio exclusivo de nos importunar. E eis que um pobre Espírito terreno, muito pacífico, apenas pondo-se em guarda contra vossas manobras e procurando esclarecê-las, vos atormenta a ponto de o sentirdes penosamente sobre os vossos ombros fluídicos! Ora! Que direi, então, meu caro prior, quando confessais ter feito parte da turba espírita que tão cruelmente me obsidiou e pregou tantas peças durante minhas excursões pela Vendeia? Se é verdade que estáveis nisto, devíeis saber que não as empreendi senão com o fito de fazer triunfar a verdade por fatos irrefutáveis. Sem dúvida é uma grande ambição, mas era honesta, segundo me parece. Apenas, como dizeis, eu não tinha porte para lutar e vós e os vossos nos derrubaram de tal modo, que nos vimos obrigados a abandonar a partida, carregando os nossos mortos, porque as vossas manobras fantásticas, que determinaram terrível luta, acabaram de rebentar a minha pobre sonâmbula que, num desmaio que não durou menos de seis horas, já não dava nenhum sinal de vida e nós a julgávamos morta. Sem dúvida, a nossa posição parecerá mais fácil de compreender do que de descrever, se se pensar que era meianoite e que estávamos em campos ensanguentados pelas guerras da Vendeia, região de aspecto selvagem e cercada de colinas nuas, cujos ecos vinham repetir os gritos lancinantes da vítima. Meu pavor estava no auge, pensando na terrível responsabilidade que caía sobre mim e da qual não sabia como escapar. Eu estava desarvorado! Só a prece poderia salvar-me, e me salvou. Se a isto chamais lições, haveis de concordar que são rudes! Era ainda provavelmente para me dar uma dessas lições que um ano mais tarde me chamáveis a Mauzé. Mas então eu estava mais instruído e já sabia o que pensar quanto à existência dos Espíritos e quanto aos atos e gestos de muitos deles. Além disso, a cena não estava mais organizada para um drama como em Châtillon. Assim, eu estava livre para uma escaramuça.
“Perdão, senhor, se me deixei arrastar com o prior. Volto a vós, para vos ocupar uma vez mais, se me permitirdes. Há poucos dias fui à casa de um homem muito honrado, que o conheceu bastante na mocidade e lhe mostrei a comunicação que me remetestes. Ele reconheceu perfeitamente a linguagem, o estilo e o espírito cáustico do antigo prior, e contou-me os fatos seguintes:
“Tendo sido forçado pela Revolução a abandonar o priorato de Surgères, Dom Peyra comprou a pequena propriedade de Amilly, perto de Mauzé, onde se fixou. Ali tornou conhecidas suas belas curas, obtidas por meio do magnetismo e da eletricidade, que empregava com sucesso. Mas vendo que os negócios não iam tão bem quanto desejava, empregou o charlatanismo e, com o auxílio de sua máquina elétrica, praticou artes mágicas que não tardaram a fazê-lo passar por feiticeiro. Longe de combater tal opinião, ele a provocava e encorajava. Em Amilly havia uma longa aleia de bordos, por onde chegavam os clientes, vindos frequentemente de dez a quinze léguas. Sua máquina era posta em comunicação com a maçaneta da porta e quando os pobres camponeses queriam bater, sentiam-se como que fulminados. É fácil imaginar o que tais fatos deviam produzir em gente pouco esclarecida, sobretudo naquela época.
“Temos um provérbio que diz que na pele morreu a raposa. Ora! Vejo que será preciso que troquemos de pele mais de uma vez antes que os nossos maus instintos nos abandonem. De tudo isto, senhor, não tireis a conclusão de que eu deseje mal ao prior. Não. E a prova é que, seguindo o vosso exemplo, orei por ele, o que confesso, assim como ele vos disse, que não havia feito até então.
“Aceitai, etc.
J. -B. BORREAU.
” Notar-se-á que esta carta é de 18 de julho de 1861, ao passo que a primeira evocação remonta a janeiro de 1860. Nessa época não conhecíamos todas essas particularidades da vida de Dom Peyra, com as quais suas respostas concordam perfeitamente, pois ele diz que fazia o que era preciso para firmar sua reputação de feiticeiro.
O que aconteceu ao Sr. Borreau tem uma singular analogia com as travessuras que, em vida, Dom Peyra fazia aos seus visitantes, e muito nos inclinaríamos a crer que este último quis repeti-las. Ora, para tanto não necessitava de máquina elétrica, pois dispunha da grande máquina universal. Compreender-se-á a possibilidade, aproximando esta ideia da observação feita acima, na pergunta 21. O Sr. Borreau encontra uma espécie de compensação às malícias de certos Espíritos, nos aborrecimentos que lhes podemos causar. Contudo, nós o aconselhamos a não se fiar muito, porque eles têm mais meios de nos escapar do que nós de nos subtrairmos à sua influência. Aliás, é evidente que se, na época, o Sr. Borreau conhecesse a fundo o Espiritismo, teria sabido o que razoavelmente se lhes pode pedir e não se teria aventurado em tentativas que a Ciência lhe teria demonstrado não conduzir senão a uma mistificação. Ele não foi o primeiro a adquirir experiências à própria custa. Por isso não cessamos de repetir: Estudai primeiro a teoria. Ela vos ensinará todas as dificuldades da prática, e assim afastareis escolhos dos quais vos sentireis felizes em sair apenas com alguns aborrecimentos. Sua intenção, diz ele, era boa, pois queria provar por um grande feito, a verdade do Espiritismo. Mas, em casos semelhantes, os Espíritos dão as provas que querem e quando querem, e jamais quando se lhes pede. Conhecemos pessoas que, também elas, queriam dar provas irrecusáveis por meio da descoberta de tesouros colossais através dos Espíritos, mas o que lhes resultou de mais claro foi gastar o seu dinheiro. Acrescentaremos que se tais provas dessem resultado, por acaso, uma só vez, seriam mais prejudiciais do que úteis, porque falseariam a opinião sobre o objetivo do Espiritismo, estabelecendo a crença de que ele pode servir de meio de adivinhação. Então se justificaria a resposta de Dom Peyra à pergunta 22.
18 DE JULHO DE 1861
“Senhor,
“Venho agradecer-vos o trabalho que tivestes, e a presteza em remeter-me a última evocação de Dom Peyra. Como dizeis, o Espírito do antigo prior não estava de bom humor, assim exprimindo vigorosamente a impaciência que lhe causou essa nova iniciativa. Daí resulta, senhor, um grande ensinamento. É que os Espíritos que fazem o jogo malévolo de atormentar-nos, por sua vez podem ser pagos por nós na mesma moeda.
“Ah! Senhores de além-túmulo! ─ aqui me refiro apenas aos Espíritos farsistas e levianos ─ sem dúvida vos gabaríeis do privilégio exclusivo de nos importunar. E eis que um pobre Espírito terreno, muito pacífico, apenas pondo-se em guarda contra vossas manobras e procurando esclarecê-las, vos atormenta a ponto de o sentirdes penosamente sobre os vossos ombros fluídicos! Ora! Que direi, então, meu caro prior, quando confessais ter feito parte da turba espírita que tão cruelmente me obsidiou e pregou tantas peças durante minhas excursões pela Vendeia? Se é verdade que estáveis nisto, devíeis saber que não as empreendi senão com o fito de fazer triunfar a verdade por fatos irrefutáveis. Sem dúvida é uma grande ambição, mas era honesta, segundo me parece. Apenas, como dizeis, eu não tinha porte para lutar e vós e os vossos nos derrubaram de tal modo, que nos vimos obrigados a abandonar a partida, carregando os nossos mortos, porque as vossas manobras fantásticas, que determinaram terrível luta, acabaram de rebentar a minha pobre sonâmbula que, num desmaio que não durou menos de seis horas, já não dava nenhum sinal de vida e nós a julgávamos morta. Sem dúvida, a nossa posição parecerá mais fácil de compreender do que de descrever, se se pensar que era meianoite e que estávamos em campos ensanguentados pelas guerras da Vendeia, região de aspecto selvagem e cercada de colinas nuas, cujos ecos vinham repetir os gritos lancinantes da vítima. Meu pavor estava no auge, pensando na terrível responsabilidade que caía sobre mim e da qual não sabia como escapar. Eu estava desarvorado! Só a prece poderia salvar-me, e me salvou. Se a isto chamais lições, haveis de concordar que são rudes! Era ainda provavelmente para me dar uma dessas lições que um ano mais tarde me chamáveis a Mauzé. Mas então eu estava mais instruído e já sabia o que pensar quanto à existência dos Espíritos e quanto aos atos e gestos de muitos deles. Além disso, a cena não estava mais organizada para um drama como em Châtillon. Assim, eu estava livre para uma escaramuça.
“Perdão, senhor, se me deixei arrastar com o prior. Volto a vós, para vos ocupar uma vez mais, se me permitirdes. Há poucos dias fui à casa de um homem muito honrado, que o conheceu bastante na mocidade e lhe mostrei a comunicação que me remetestes. Ele reconheceu perfeitamente a linguagem, o estilo e o espírito cáustico do antigo prior, e contou-me os fatos seguintes:
“Tendo sido forçado pela Revolução a abandonar o priorato de Surgères, Dom Peyra comprou a pequena propriedade de Amilly, perto de Mauzé, onde se fixou. Ali tornou conhecidas suas belas curas, obtidas por meio do magnetismo e da eletricidade, que empregava com sucesso. Mas vendo que os negócios não iam tão bem quanto desejava, empregou o charlatanismo e, com o auxílio de sua máquina elétrica, praticou artes mágicas que não tardaram a fazê-lo passar por feiticeiro. Longe de combater tal opinião, ele a provocava e encorajava. Em Amilly havia uma longa aleia de bordos, por onde chegavam os clientes, vindos frequentemente de dez a quinze léguas. Sua máquina era posta em comunicação com a maçaneta da porta e quando os pobres camponeses queriam bater, sentiam-se como que fulminados. É fácil imaginar o que tais fatos deviam produzir em gente pouco esclarecida, sobretudo naquela época.
“Temos um provérbio que diz que na pele morreu a raposa. Ora! Vejo que será preciso que troquemos de pele mais de uma vez antes que os nossos maus instintos nos abandonem. De tudo isto, senhor, não tireis a conclusão de que eu deseje mal ao prior. Não. E a prova é que, seguindo o vosso exemplo, orei por ele, o que confesso, assim como ele vos disse, que não havia feito até então.
“Aceitai, etc.
J. -B. BORREAU.
” Notar-se-á que esta carta é de 18 de julho de 1861, ao passo que a primeira evocação remonta a janeiro de 1860. Nessa época não conhecíamos todas essas particularidades da vida de Dom Peyra, com as quais suas respostas concordam perfeitamente, pois ele diz que fazia o que era preciso para firmar sua reputação de feiticeiro.
O que aconteceu ao Sr. Borreau tem uma singular analogia com as travessuras que, em vida, Dom Peyra fazia aos seus visitantes, e muito nos inclinaríamos a crer que este último quis repeti-las. Ora, para tanto não necessitava de máquina elétrica, pois dispunha da grande máquina universal. Compreender-se-á a possibilidade, aproximando esta ideia da observação feita acima, na pergunta 21. O Sr. Borreau encontra uma espécie de compensação às malícias de certos Espíritos, nos aborrecimentos que lhes podemos causar. Contudo, nós o aconselhamos a não se fiar muito, porque eles têm mais meios de nos escapar do que nós de nos subtrairmos à sua influência. Aliás, é evidente que se, na época, o Sr. Borreau conhecesse a fundo o Espiritismo, teria sabido o que razoavelmente se lhes pode pedir e não se teria aventurado em tentativas que a Ciência lhe teria demonstrado não conduzir senão a uma mistificação. Ele não foi o primeiro a adquirir experiências à própria custa. Por isso não cessamos de repetir: Estudai primeiro a teoria. Ela vos ensinará todas as dificuldades da prática, e assim afastareis escolhos dos quais vos sentireis felizes em sair apenas com alguns aborrecimentos. Sua intenção, diz ele, era boa, pois queria provar por um grande feito, a verdade do Espiritismo. Mas, em casos semelhantes, os Espíritos dão as provas que querem e quando querem, e jamais quando se lhes pede. Conhecemos pessoas que, também elas, queriam dar provas irrecusáveis por meio da descoberta de tesouros colossais através dos Espíritos, mas o que lhes resultou de mais claro foi gastar o seu dinheiro. Acrescentaremos que se tais provas dessem resultado, por acaso, uma só vez, seriam mais prejudiciais do que úteis, porque falseariam a opinião sobre o objetivo do Espiritismo, estabelecendo a crença de que ele pode servir de meio de adivinhação. Então se justificaria a resposta de Dom Peyra à pergunta 22.
Correspondência - Carta do Sr. Mathieu sobre os médiuns trapaceiros
PARIS, 21 DE JULHO DE 1861
Senhor,
Pode-se estar em desacordo sobre certos pontos e em perfeito acordo sobre outros. Acabo de ler, no artigo “Exploração do Espiritismo”, no último número da Revista, reflexões sobre a fraude, em matéria de experiências espiritualistas (ou espíritas), às quais sou feliz por me associar com todas as forças. Aí toda dissidência em matéria de teorias e doutrinas desaparece como que por encanto.
Talvez eu não seja tão severo quanto vós a respeito dos médiuns que, de forma digna e conveniente, aceitam uma remuneração pelo tempo que consagram às experiências, por vezes longas e fatigantes, mas o sou, e não se poderia sê-lo mais, em relação aos que, em tais casos, suprem, no momento, pelo truque e pela fraude, a ausência ou a insuficiência dos resultados prometidos e esperados.
Misturar o falso ao verdadeiro, quando se trata de fenômenos obtidos pela intervenção dos Espíritos, é muito simplesmente uma infâmia e haveria obliteração do senso moral no médium que julgasse poder fazê-lo sem escrúpulo. Assim como fazeis notar perfeitamente, é lançar o descrédito sobre a coisa no espírito dos indecisos, desde que reconhecida a fraude. Acrescentarei que é comprometer da mais deplorável maneira os homens honrados que prestam aos médiuns o apoio desinteressado de seus conhecimentos e suas luzes, que se tornam fiadores de sua boa-fé, e de certo modo os patrocinam. É cometer para com eles uma verdadeira prevaricação.
Todo médium reconhecidamente culpado de manobras fraudulentas, que fosse pilhado com a mão na cumbuca, para me servir de uma expressão um pouco trivial, mereceria ser banido por todos os espiritualistas ou espíritas do mundo, para os quais seria um dever rigoroso desmascará-lo ou desmoralizá-lo.
Se vos convier inserir estas linhas em vossa Revista, senhor, elas estão ao vosso serviço.
Aceitai, etc.
MATHIEU.
Não esperávamos menos dos sentimentos dignos que distinguem o Sr. Mathieu, senão essa enérgica reprovação aos médiuns de má-fé. Teríamos, pelo contrário, ficado surpreendidos se ele tivesse encarado friamente e com indiferença tais abusos de confiança. Eles podiam ser mais fáceis quando o Espiritismo era menos conhecido, mas, à medida que esta Ciência se espalha e é melhor compreendida, que melhor se conhecem as verdadeiras condições em que os fenômenos podem produzir-se, por toda parte encontram-se olhos clarividentes capazes de descobrir a fraude. Denunciá-la em qualquer parte onde ela se mostre é o melhor meio de desencorajá-la.
Disseram que era melhor não desvendar essas torpezas, no interesse do Espiritismo; que a possibilidade de enganar poderia aumentar a desconfiança dos indecisos. Não somos desta opinião e pensamos que mais vale que os indecisos sejam desconfiados do que enganados, porque, uma vez sabendo que o foram, poderiam afastar-se para sempre. Além disso, haveria um inconveniente ainda maior, o de crerem que os espíritas se deixam iludir facilmente. Ao contrário, estarão tanto mais dispostos a crer quanto mais virem os crentes cercarem-se das maiores precauções e repudiarem os médiuns susceptíveis de enganar.
O Sr. Mathieu diz que não pode ser tão severo quanto nós a respeito de médiuns que, de uma forma digna e discreta, aceitam uma remuneração pelo tempo consagrado ao assunto. Estamos perfeitamente de acordo que pode e deve haver honrosas exceções, mas como o atrativo do ganho é uma grande tentação e como as pessoas neófitas não têm a necessária experiência para distinguir o verdadeiro do falso, mantemos nossa opinião de que a melhor garantia de sinceridade está no desinteresse absoluto, porque onde nada há a ganhar, o charlatanismo nada tem a fazer. Aquele que paga quer algo por seu dinheiro e não se conformaria se lhe dissessem que o Espírito não quer agir. Daí à descoberta de meios de fazer o Espírito agir a todo custo, há apenas um passo, conforme o provérbio: a necessidade é a mãe da indústria. Acrescentamos que os médiuns ganharão cem vezes mais em consideração do que deixam de ganhar em proventos materiais. Diz-se que a consideração não alimenta a vida. É certo que não basta, mas, para viver, há outras atividades mais honestas do que a exploração das almas dos mortos.
Pode-se estar em desacordo sobre certos pontos e em perfeito acordo sobre outros. Acabo de ler, no artigo “Exploração do Espiritismo”, no último número da Revista, reflexões sobre a fraude, em matéria de experiências espiritualistas (ou espíritas), às quais sou feliz por me associar com todas as forças. Aí toda dissidência em matéria de teorias e doutrinas desaparece como que por encanto.
Talvez eu não seja tão severo quanto vós a respeito dos médiuns que, de forma digna e conveniente, aceitam uma remuneração pelo tempo que consagram às experiências, por vezes longas e fatigantes, mas o sou, e não se poderia sê-lo mais, em relação aos que, em tais casos, suprem, no momento, pelo truque e pela fraude, a ausência ou a insuficiência dos resultados prometidos e esperados.
Misturar o falso ao verdadeiro, quando se trata de fenômenos obtidos pela intervenção dos Espíritos, é muito simplesmente uma infâmia e haveria obliteração do senso moral no médium que julgasse poder fazê-lo sem escrúpulo. Assim como fazeis notar perfeitamente, é lançar o descrédito sobre a coisa no espírito dos indecisos, desde que reconhecida a fraude. Acrescentarei que é comprometer da mais deplorável maneira os homens honrados que prestam aos médiuns o apoio desinteressado de seus conhecimentos e suas luzes, que se tornam fiadores de sua boa-fé, e de certo modo os patrocinam. É cometer para com eles uma verdadeira prevaricação.
Todo médium reconhecidamente culpado de manobras fraudulentas, que fosse pilhado com a mão na cumbuca, para me servir de uma expressão um pouco trivial, mereceria ser banido por todos os espiritualistas ou espíritas do mundo, para os quais seria um dever rigoroso desmascará-lo ou desmoralizá-lo.
Se vos convier inserir estas linhas em vossa Revista, senhor, elas estão ao vosso serviço.
Aceitai, etc.
MATHIEU.
Não esperávamos menos dos sentimentos dignos que distinguem o Sr. Mathieu, senão essa enérgica reprovação aos médiuns de má-fé. Teríamos, pelo contrário, ficado surpreendidos se ele tivesse encarado friamente e com indiferença tais abusos de confiança. Eles podiam ser mais fáceis quando o Espiritismo era menos conhecido, mas, à medida que esta Ciência se espalha e é melhor compreendida, que melhor se conhecem as verdadeiras condições em que os fenômenos podem produzir-se, por toda parte encontram-se olhos clarividentes capazes de descobrir a fraude. Denunciá-la em qualquer parte onde ela se mostre é o melhor meio de desencorajá-la.
Disseram que era melhor não desvendar essas torpezas, no interesse do Espiritismo; que a possibilidade de enganar poderia aumentar a desconfiança dos indecisos. Não somos desta opinião e pensamos que mais vale que os indecisos sejam desconfiados do que enganados, porque, uma vez sabendo que o foram, poderiam afastar-se para sempre. Além disso, haveria um inconveniente ainda maior, o de crerem que os espíritas se deixam iludir facilmente. Ao contrário, estarão tanto mais dispostos a crer quanto mais virem os crentes cercarem-se das maiores precauções e repudiarem os médiuns susceptíveis de enganar.
O Sr. Mathieu diz que não pode ser tão severo quanto nós a respeito de médiuns que, de uma forma digna e discreta, aceitam uma remuneração pelo tempo consagrado ao assunto. Estamos perfeitamente de acordo que pode e deve haver honrosas exceções, mas como o atrativo do ganho é uma grande tentação e como as pessoas neófitas não têm a necessária experiência para distinguir o verdadeiro do falso, mantemos nossa opinião de que a melhor garantia de sinceridade está no desinteresse absoluto, porque onde nada há a ganhar, o charlatanismo nada tem a fazer. Aquele que paga quer algo por seu dinheiro e não se conformaria se lhe dissessem que o Espírito não quer agir. Daí à descoberta de meios de fazer o Espírito agir a todo custo, há apenas um passo, conforme o provérbio: a necessidade é a mãe da indústria. Acrescentamos que os médiuns ganharão cem vezes mais em consideração do que deixam de ganhar em proventos materiais. Diz-se que a consideração não alimenta a vida. É certo que não basta, mas, para viver, há outras atividades mais honestas do que a exploração das almas dos mortos.
Dissertações e ensinos espíritas
Da influência moral dos médiuns nas comunicações (Sociedade espírita de Paris. Médium: Sr. D'Ambel)Já dissemos que os médiuns, como médiuns, têm apenas uma influência secundária nas comunicações dos Espíritos; que seu papel é o da máquina elétrica que transmite os despachos telegráficos entre pontos afastados da Terra. Assim, quando queremos ditar uma comunicação, agimos sobre o médium como o funcionário do telégrafo sobre o aparelho, isto é, assim como o tac tac do telégrafo desenha, a milhares de léguas, sobre uma fita de papel, os sinais reprodutores do telegrama, nós nos comunicamos através de distâncias incomensuráveis, que separam o mundo invisível do visível, o mundo imaterial do mundo encarnado, aquilo que vos queremos ensinar através do aparelho mediúnico. Mas, assim como as influências atmosféricas atuam, perturbando as transmissões do telégrafo elétrico, a influência moral do médium atua, e por vezes perturba, a transmissão de nossas mensagens de Além-Túmulo, por sermos obrigados a passá-las por um meio que lhes é contrário. Contudo, na maioria dos casos essa influência é anulada por nossa energia e nossa vontade, e nenhum ato perturbador se manifesta. Com efeito, ditados de alto alcance filosófico, comunicações de perfeita moralidade são transmitidos, às vezes, por médiuns pouco adequados a tais ensinos superiores, enquanto, por outro lado, comunicações pouco edificantes também chegam, por vezes, através de médiuns que se envergonham de lhes haver servido de condutores.
Em tese geral, pode-se afirmar que Espíritos semelhantes chamam Espíritos semelhantes e que raramente Espíritos de plêiades elevadas se comunicam por aparelhos maus condutores, quando têm à mão bons instrumentos mediúnicos, numa palavra, bons médiuns.
Os médiuns levianos e pouco sérios, portanto, atraem Espíritos da mesma natureza. Eis por que suas comunicações são marcadas por banalidades, frivolidades, ideias sem ordenação e às vezes muito heterodoxas, do ponto de vista espírita. Certamente podem dizer, e por vezes dizem coisas boas. Mas é sobretudo neste caso que se torna preciso um exame severo e escrupuloso porque, de permeio a coisas boas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e com uma calculada perfídia fatos controvertidos, afirmações mentirosas, a fim de iludir a boa-fé dos ouvintes. Deve-se, então, suprimir toda palavra ou frase equívoca, e não conservar do ditado senão aquilo que é aceito pela lógica ou que já foi ensinado pela Doutrina. As comunicações dessa natureza não são de temer senão pelos espíritas isolados e pelos grupos recentes ou pouco esclarecidos, porque nas reuniões em que os adeptos são mais adiantados e adquiriram experiência, por mais que a gralha se enfeite com penas de pavão, será sempre impiedosamente desmascarada.
Não falarei dos médiuns que gostam de pedir e escutar comunicações obscenas. Deixemo-los satisfazer-se na companhia dos Espíritos cínicos. Aliás, as comunicações dessa ordem por si mesmas buscam a solidão e o isolamento. Em todo caso, não poderiam senão provocar o desdém e o mal-estar entre os membros dos grupos filosóficos sérios. Mas, a influência moral do médium se faz sentir realmente quando este substitui suas ideias pessoais pelas que os Espíritos se esforçam por lhe sugerir, e também quando extrai de sua imaginação teorias fantásticas que ele próprio e de boa-fé julga provirem de comunicações intuitivas. É então de apostar-se mil contra um que estas não passam de um reflexo do Espírito do próprio médium. Acontece até o fato curioso que a mão do médium por vezes se move quase que mecanicamente, impulsionada por um Espírito secundário e zombeteiro. É contra essa pedra de toque que se vêm quebrar as imaginações jovens e ardentes, porque, arrastadas pelo entusiasmo de suas próprias ideias, pelas lantejoulas de seus conhecimentos literários, desconhecem o ditado modesto de um Espírito sábio e, trocando a presa por sua sombra, a substituem por uma paráfrase empolada. É contra esse escolho temível que igualmente vêm chocar-se as personalidades ambiciosas que, em falta de comunicações que os bons Espíritos lhes recusam, apresentam suas próprias obras como obras daqueles Espíritos. Eis por que é necessário que os chefes de grupos espíritas possuam um tato fino e uma rara sagacidade, para discernir entre as comunicações autênticas e as que não o são, e para não ferir os que se enganam a si mesmos.
Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos antigos provérbios. Não admitais, pois, senão aquilo que vos é de uma evidência certa. Desde que surja uma opinião nova, por pouco duvidosa que vos pareça, passai-a pelo crivo da razão e da lógica. Aquilo que é reprovado pela razão e pelo bom senso deve ser rejeitado firmemente. Mais vale repelir dez verdades que admitir uma só mentira, uma só teoria falsa. Com efeito, sobre essa teoria poderíeis edificar todo um sistema, que se esboroaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento construído sobre areia movediça, ao passo que se hoje rejeitardes certas verdades, porque não vos parecem demonstradas clara e logicamente, em breve um fato brutal ou uma demonstração irrefutável virá atestar-vos a sua autenticidade.
Não obstante, ó espíritas, lembrai-vos de que não há o impossível para Deus e para os bons Espíritos senão a injustiça e a iniquidade.
Agora o Espiritismo está bastante espalhado entre os homens e moralizou suficientemente os adeptos sinceros de sua santa doutrina, para que os Espíritos não mais sejam constrangidos a utilizar maus utensílios, médiuns imperfeitos. Agora, portanto, se um médium, seja ele quem for, por sua conduta ou por seus costumes, por seu orgulho, por falta de amor e de caridade, der motivo legítimo de suspeita, repeli, repeli suas comunicações, pois há uma serpente oculta na relva. Eis minha conclusão sobre a influência moral dos médiuns.
ERASTO.
Em tese geral, pode-se afirmar que Espíritos semelhantes chamam Espíritos semelhantes e que raramente Espíritos de plêiades elevadas se comunicam por aparelhos maus condutores, quando têm à mão bons instrumentos mediúnicos, numa palavra, bons médiuns.
Os médiuns levianos e pouco sérios, portanto, atraem Espíritos da mesma natureza. Eis por que suas comunicações são marcadas por banalidades, frivolidades, ideias sem ordenação e às vezes muito heterodoxas, do ponto de vista espírita. Certamente podem dizer, e por vezes dizem coisas boas. Mas é sobretudo neste caso que se torna preciso um exame severo e escrupuloso porque, de permeio a coisas boas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e com uma calculada perfídia fatos controvertidos, afirmações mentirosas, a fim de iludir a boa-fé dos ouvintes. Deve-se, então, suprimir toda palavra ou frase equívoca, e não conservar do ditado senão aquilo que é aceito pela lógica ou que já foi ensinado pela Doutrina. As comunicações dessa natureza não são de temer senão pelos espíritas isolados e pelos grupos recentes ou pouco esclarecidos, porque nas reuniões em que os adeptos são mais adiantados e adquiriram experiência, por mais que a gralha se enfeite com penas de pavão, será sempre impiedosamente desmascarada.
Não falarei dos médiuns que gostam de pedir e escutar comunicações obscenas. Deixemo-los satisfazer-se na companhia dos Espíritos cínicos. Aliás, as comunicações dessa ordem por si mesmas buscam a solidão e o isolamento. Em todo caso, não poderiam senão provocar o desdém e o mal-estar entre os membros dos grupos filosóficos sérios. Mas, a influência moral do médium se faz sentir realmente quando este substitui suas ideias pessoais pelas que os Espíritos se esforçam por lhe sugerir, e também quando extrai de sua imaginação teorias fantásticas que ele próprio e de boa-fé julga provirem de comunicações intuitivas. É então de apostar-se mil contra um que estas não passam de um reflexo do Espírito do próprio médium. Acontece até o fato curioso que a mão do médium por vezes se move quase que mecanicamente, impulsionada por um Espírito secundário e zombeteiro. É contra essa pedra de toque que se vêm quebrar as imaginações jovens e ardentes, porque, arrastadas pelo entusiasmo de suas próprias ideias, pelas lantejoulas de seus conhecimentos literários, desconhecem o ditado modesto de um Espírito sábio e, trocando a presa por sua sombra, a substituem por uma paráfrase empolada. É contra esse escolho temível que igualmente vêm chocar-se as personalidades ambiciosas que, em falta de comunicações que os bons Espíritos lhes recusam, apresentam suas próprias obras como obras daqueles Espíritos. Eis por que é necessário que os chefes de grupos espíritas possuam um tato fino e uma rara sagacidade, para discernir entre as comunicações autênticas e as que não o são, e para não ferir os que se enganam a si mesmos.
Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos antigos provérbios. Não admitais, pois, senão aquilo que vos é de uma evidência certa. Desde que surja uma opinião nova, por pouco duvidosa que vos pareça, passai-a pelo crivo da razão e da lógica. Aquilo que é reprovado pela razão e pelo bom senso deve ser rejeitado firmemente. Mais vale repelir dez verdades que admitir uma só mentira, uma só teoria falsa. Com efeito, sobre essa teoria poderíeis edificar todo um sistema, que se esboroaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento construído sobre areia movediça, ao passo que se hoje rejeitardes certas verdades, porque não vos parecem demonstradas clara e logicamente, em breve um fato brutal ou uma demonstração irrefutável virá atestar-vos a sua autenticidade.
Não obstante, ó espíritas, lembrai-vos de que não há o impossível para Deus e para os bons Espíritos senão a injustiça e a iniquidade.
Agora o Espiritismo está bastante espalhado entre os homens e moralizou suficientemente os adeptos sinceros de sua santa doutrina, para que os Espíritos não mais sejam constrangidos a utilizar maus utensílios, médiuns imperfeitos. Agora, portanto, se um médium, seja ele quem for, por sua conduta ou por seus costumes, por seu orgulho, por falta de amor e de caridade, der motivo legítimo de suspeita, repeli, repeli suas comunicações, pois há uma serpente oculta na relva. Eis minha conclusão sobre a influência moral dos médiuns.
ERASTO.
Transportes de objetos e outros fenômenos tangíveis (Sociedade espírita de Paris. Médium: Sr. D'Ambel)
Para obter fenômenos desta ordem é necessário dispor de médiuns que chamarei sensitivos, isto é, dotados, no mais alto grau, das faculdades mediúnicas de expansão e de penetrabilidade, porque o sistema nervoso dos mesmos, facilmente excitável, lhes permite, por meio de certas vibrações, projetar ao seu redor com profusão, seu fluido animalizado.
As pessoas cuja natureza é impressionável, e cujos nervos vibram ao menor sentimento, à menor sensação, às quais a influência moral ou física interna ou externa sensibiliza, são muito aptas a se tornarem excelentes médiuns para efeitos físicos de tangibilidade e de transportes. Com efeito, seu sistema nervoso, quase que inteiramente desprovido do envoltório refratário que isola esse sistema na maior parte dos outros encarnados, as torna adequadas ao desenvolvimento desses diversos fenômenos. Em consequência, com uma criatura dessa natureza e cujas faculdades outras não são hostis à medianimização, mais facilmente serão obtidos os fenômenos de tangibilidade; as pancadas nas paredes e nos móveis; os movimentos inteligentes e até a suspensão no espaço da matéria inerte mais pesada. A fortiori, obter-se-ão esses resultados se, em vez de um médium, dispusermos de vários igualmente bem dotados.
Mas da produção desses fenômenos à obtenção dos de transporte de objetos, há um mundo, pois, nesse caso, não só é mais complexo e mais difícil o trabalho do Espírito, mas, além disso, o Espírito não pode operar senão através de um único aparelho mediúnico, isto é, vários médiuns não podem contribuir simultaneamente para a produção do mesmo fenômeno. Ao contrário acontece, até, que a presença de certas pessoas antipáticas ao Espírito que opera, entrava radicalmente o trabalho deste. Por estes motivos, que como vedes não deixam de ter importância, acrescentai que os transportes de objetos sempre precisam de uma concentração maior e, ao mesmo tempo, de maior difusão de certos fluidos e que, finalmente, estes não podem ser obtidos senão com os médiuns mais bem dotados, aqueles, numa palavra, cujo aparelho eletromedianímico esteja mais bem condicionado.
Em geral os casos de transporte de objetos são e continuarão sendo muito raros. Não necessito demonstrar-vos por que são e serão menos frequentes que os outros fenômenos de tangibilidade. Do que vos digo, vós mesmos deduzireis. Aliás, esses fenômenos são de tal natureza que não só nem todos os médiuns são adequados, mas nem todos os Espíritos podem produzi-los. Com efeito, entre o Espírito e o médium influenciado deve existir certa afinidade, certa analogia, numa palavra, certa semelhança que permita à parte expansiva do fluido perispirítico do encarnado misturar-se, unir-se, combinar-se com o do Espírito que quer fazer um transporte de objetos. Essa fusão deve ser tal, que a força resultante, por assim dizer, se torne uma, da mesma maneira que uma corrente elétrica agindo sobre o carvão produz apenas um foco, um só clarão.
Por que tal união? Por que tal fusão? perguntareis. É que, para a produção de tais fenômenos, é necessário que as necessidades do Espírito motor sejam aumentadas por algumas do medianimizado; é que o fluido vital, indispensável à produção de todos os fenômenos medianímicos é apanágio exclusivo do encarnado e, por conseguinte, o Espírito operador é obrigado a impregnar-se dele. Só então pode ele, por meio de certas propriedades do vosso meio ambiente, desconhecidas por vós, isolar, tornar invisíveis e fazer mover certos objetos materiais e os próprios encarnados.
No momento não me é permitido desvendar-vos essas leis particulares, que regem os gases e os fluidos que vos cercam. Mas dentro de alguns anos, antes que se passe a existência de um homem, ser-vos-á revelada a explicação dessas leis e desses fenômenos e vereis surgir e produzir-se uma nova variedade de médiuns, que cairão num estado cataléptico particular, desde que medianimizados.
Vedes de quantas dificuldades está cercada a produção dos transportes de objetos. Daí podeis concluir muito logicamente que os fenômenos dessa natureza são excessivamente raros e com tanto mais razão quão pouco a eles se prestam os Espíritos, porque isto exige de sua parte um trabalho quase material, o que lhes é um aborrecimento e uma fadiga. Por outro lado, ainda acontece que muitas vezes, apesar da sua energia e da sua vontade, o estado do próprio médium lhes opõe uma barreira intransponível.
É, pois, evidente, e o vosso raciocínio o sanciona, nem eu o duvido, que os casos das batidas e do movimento e suspensão de objetos são fenômenos simples, que se operam pela concentração e dilatação de certos fluidos, e que podem ser provocados e obtidos pela vontade e pelo trabalho dos médiuns aptos para tanto, quando estes são secundados por Espíritos amigos e benevolentes, ao passo que os fenômenos de transporte de objetos são múltiplos; são complexos; exigem um concurso de circunstâncias especiais; não podem operar-se senão por um só Espírito e um só médium; e necessitam, além das condições de tangibilidade, de uma combinação muito particular para isolar e tornar invisível o objeto ou os objetos do transporte.
Vós todos, espíritas, compreendeis minhas explicações e vos dais conta perfeitamente dessa concentração de fluidos especiais para a locomoção e tactibilidade da matéria inerte. Acreditais nisso como acreditais nos fenômenos da eletricidade e do magnetismo, com os quais os fatos medianímicos têm muita analogia e são, por assim dizer, sua consagração e desenvolvimento. Quanto aos incrédulos, tenho mais o que fazer do que convencê-los e deles não me ocupo. Acreditarão um dia, pela força da evidência, pois é preciso que se inclinem ante o testemunho unânime dos fatos espíritas, como foram forçados a fazê-lo ante tantos outros que a princípio haviam repelido.
Em resumo: se os casos de tangibilidade são frequentes, os de transporte de objetos são muito raros, porque as condições são difíceis, e consequentemente nenhum médium pode dizer: “A tal hora, em tal momento, obterei um transporte de objeto”, porque muitas vezes o próprio Espírito é impedido no seu trabalho. Devo acrescentar que esses fenômenos são duplamente difíceis em público, porque se encontram, quase sempre, elementos energicamente refratários, que paralisam os esforços do Espírito e, com mais forte razão, a ação do médium. Ao contrário, tende a certeza de que esses fenômenos se produzem espontaneamente, na maioria dos casos à revelia dos médiuns e sem premeditação, quase sempre em particular e, enfim, muito raramente, quando estes estão prevenidos. Daí deveis concluir que há um legítimo motivo de suspeita todas as vezes que um médium se gaba de obtê-los à vontade, isto é, de comandar os Espíritos como se eles fossem seus criados, o que é simplesmente absurdo. Tende ainda como regra geral que os fenômenos espíritas não são fatos para exibição em espetáculos e para divertir curiosos. Se alguns Espíritos se prestam a tais coisas, isto não ocorre senão para fenômenos simples, e não para os que, como os de transporte de objetos e outros semelhantes, exigem condições excepcionais.
Lembrai-vos, espíritas, de que se é absurdo repelir sistematicamente todos os fenômenos de Além-Túmulo, também não é prudente aceitá-los todos cegamente. Quando se manifestar espontaneamente ou de maneira instantânea um fenômeno de tangibilidade, de aparição, de visibilidade ou de transporte de objetos, aceitai-o. Mas nunca seria demais repetir: nada aceiteis cegamente. Que cada fato seja submetido a um exame minucioso, severo e profundo, porque, crede, tão rico em fenômenos sublimes e grandiosos, o Espiritismo nada tem a ganhar com estas pequenas manifestações que podem ser imitadas por hábeis prestidigitadores.
Bem sei o que ides dizer: é que os fenômenos são úteis para convencer os incrédulos. Mas, tende certeza de que se não tivésseis tido outros meios de convicção, hoje não seríeis a centésima parte dos espíritas que sois. Falai ao coração. É por ele que fareis mais conversões sérias. Se para certas pessoas julgais útil agir pelos fatos materiais, pelo menos apresentai-os em condições tais que não possam dar lugar a uma falsa interpretação, e sobretudo não vos afasteis das condições normais desses fatos, porque estes, apresentados em más condições, oferecem argumentos aos incrédulos, em vez de convencê-los.
ERASTO
As pessoas cuja natureza é impressionável, e cujos nervos vibram ao menor sentimento, à menor sensação, às quais a influência moral ou física interna ou externa sensibiliza, são muito aptas a se tornarem excelentes médiuns para efeitos físicos de tangibilidade e de transportes. Com efeito, seu sistema nervoso, quase que inteiramente desprovido do envoltório refratário que isola esse sistema na maior parte dos outros encarnados, as torna adequadas ao desenvolvimento desses diversos fenômenos. Em consequência, com uma criatura dessa natureza e cujas faculdades outras não são hostis à medianimização, mais facilmente serão obtidos os fenômenos de tangibilidade; as pancadas nas paredes e nos móveis; os movimentos inteligentes e até a suspensão no espaço da matéria inerte mais pesada. A fortiori, obter-se-ão esses resultados se, em vez de um médium, dispusermos de vários igualmente bem dotados.
Mas da produção desses fenômenos à obtenção dos de transporte de objetos, há um mundo, pois, nesse caso, não só é mais complexo e mais difícil o trabalho do Espírito, mas, além disso, o Espírito não pode operar senão através de um único aparelho mediúnico, isto é, vários médiuns não podem contribuir simultaneamente para a produção do mesmo fenômeno. Ao contrário acontece, até, que a presença de certas pessoas antipáticas ao Espírito que opera, entrava radicalmente o trabalho deste. Por estes motivos, que como vedes não deixam de ter importância, acrescentai que os transportes de objetos sempre precisam de uma concentração maior e, ao mesmo tempo, de maior difusão de certos fluidos e que, finalmente, estes não podem ser obtidos senão com os médiuns mais bem dotados, aqueles, numa palavra, cujo aparelho eletromedianímico esteja mais bem condicionado.
Em geral os casos de transporte de objetos são e continuarão sendo muito raros. Não necessito demonstrar-vos por que são e serão menos frequentes que os outros fenômenos de tangibilidade. Do que vos digo, vós mesmos deduzireis. Aliás, esses fenômenos são de tal natureza que não só nem todos os médiuns são adequados, mas nem todos os Espíritos podem produzi-los. Com efeito, entre o Espírito e o médium influenciado deve existir certa afinidade, certa analogia, numa palavra, certa semelhança que permita à parte expansiva do fluido perispirítico do encarnado misturar-se, unir-se, combinar-se com o do Espírito que quer fazer um transporte de objetos. Essa fusão deve ser tal, que a força resultante, por assim dizer, se torne uma, da mesma maneira que uma corrente elétrica agindo sobre o carvão produz apenas um foco, um só clarão.
Por que tal união? Por que tal fusão? perguntareis. É que, para a produção de tais fenômenos, é necessário que as necessidades do Espírito motor sejam aumentadas por algumas do medianimizado; é que o fluido vital, indispensável à produção de todos os fenômenos medianímicos é apanágio exclusivo do encarnado e, por conseguinte, o Espírito operador é obrigado a impregnar-se dele. Só então pode ele, por meio de certas propriedades do vosso meio ambiente, desconhecidas por vós, isolar, tornar invisíveis e fazer mover certos objetos materiais e os próprios encarnados.
No momento não me é permitido desvendar-vos essas leis particulares, que regem os gases e os fluidos que vos cercam. Mas dentro de alguns anos, antes que se passe a existência de um homem, ser-vos-á revelada a explicação dessas leis e desses fenômenos e vereis surgir e produzir-se uma nova variedade de médiuns, que cairão num estado cataléptico particular, desde que medianimizados.
Vedes de quantas dificuldades está cercada a produção dos transportes de objetos. Daí podeis concluir muito logicamente que os fenômenos dessa natureza são excessivamente raros e com tanto mais razão quão pouco a eles se prestam os Espíritos, porque isto exige de sua parte um trabalho quase material, o que lhes é um aborrecimento e uma fadiga. Por outro lado, ainda acontece que muitas vezes, apesar da sua energia e da sua vontade, o estado do próprio médium lhes opõe uma barreira intransponível.
É, pois, evidente, e o vosso raciocínio o sanciona, nem eu o duvido, que os casos das batidas e do movimento e suspensão de objetos são fenômenos simples, que se operam pela concentração e dilatação de certos fluidos, e que podem ser provocados e obtidos pela vontade e pelo trabalho dos médiuns aptos para tanto, quando estes são secundados por Espíritos amigos e benevolentes, ao passo que os fenômenos de transporte de objetos são múltiplos; são complexos; exigem um concurso de circunstâncias especiais; não podem operar-se senão por um só Espírito e um só médium; e necessitam, além das condições de tangibilidade, de uma combinação muito particular para isolar e tornar invisível o objeto ou os objetos do transporte.
Vós todos, espíritas, compreendeis minhas explicações e vos dais conta perfeitamente dessa concentração de fluidos especiais para a locomoção e tactibilidade da matéria inerte. Acreditais nisso como acreditais nos fenômenos da eletricidade e do magnetismo, com os quais os fatos medianímicos têm muita analogia e são, por assim dizer, sua consagração e desenvolvimento. Quanto aos incrédulos, tenho mais o que fazer do que convencê-los e deles não me ocupo. Acreditarão um dia, pela força da evidência, pois é preciso que se inclinem ante o testemunho unânime dos fatos espíritas, como foram forçados a fazê-lo ante tantos outros que a princípio haviam repelido.
Em resumo: se os casos de tangibilidade são frequentes, os de transporte de objetos são muito raros, porque as condições são difíceis, e consequentemente nenhum médium pode dizer: “A tal hora, em tal momento, obterei um transporte de objeto”, porque muitas vezes o próprio Espírito é impedido no seu trabalho. Devo acrescentar que esses fenômenos são duplamente difíceis em público, porque se encontram, quase sempre, elementos energicamente refratários, que paralisam os esforços do Espírito e, com mais forte razão, a ação do médium. Ao contrário, tende a certeza de que esses fenômenos se produzem espontaneamente, na maioria dos casos à revelia dos médiuns e sem premeditação, quase sempre em particular e, enfim, muito raramente, quando estes estão prevenidos. Daí deveis concluir que há um legítimo motivo de suspeita todas as vezes que um médium se gaba de obtê-los à vontade, isto é, de comandar os Espíritos como se eles fossem seus criados, o que é simplesmente absurdo. Tende ainda como regra geral que os fenômenos espíritas não são fatos para exibição em espetáculos e para divertir curiosos. Se alguns Espíritos se prestam a tais coisas, isto não ocorre senão para fenômenos simples, e não para os que, como os de transporte de objetos e outros semelhantes, exigem condições excepcionais.
Lembrai-vos, espíritas, de que se é absurdo repelir sistematicamente todos os fenômenos de Além-Túmulo, também não é prudente aceitá-los todos cegamente. Quando se manifestar espontaneamente ou de maneira instantânea um fenômeno de tangibilidade, de aparição, de visibilidade ou de transporte de objetos, aceitai-o. Mas nunca seria demais repetir: nada aceiteis cegamente. Que cada fato seja submetido a um exame minucioso, severo e profundo, porque, crede, tão rico em fenômenos sublimes e grandiosos, o Espiritismo nada tem a ganhar com estas pequenas manifestações que podem ser imitadas por hábeis prestidigitadores.
Bem sei o que ides dizer: é que os fenômenos são úteis para convencer os incrédulos. Mas, tende certeza de que se não tivésseis tido outros meios de convicção, hoje não seríeis a centésima parte dos espíritas que sois. Falai ao coração. É por ele que fareis mais conversões sérias. Se para certas pessoas julgais útil agir pelos fatos materiais, pelo menos apresentai-os em condições tais que não possam dar lugar a uma falsa interpretação, e sobretudo não vos afasteis das condições normais desses fatos, porque estes, apresentados em más condições, oferecem argumentos aos incrédulos, em vez de convencê-los.
ERASTO
Os animais médiuns (Sociedade espírita de Paris. Médium: Sr. D'Ambel)
Abordo hoje o problema da mediunidade dos animais, levantado e sustentado por um dos vossos mais fervorosos adeptos. Em virtude do axioma quem pode o mais pode o menos, pretende ele que podemos mediunizar aves e outros animais, deles nos servindo em nossas comunicações com a espécie humana. É o que, em Filosofia, ou antes, em Lógica, chamais pura e simplesmente um sofisma.
Diz ele: “Vós animais a matéria inerte, isto é, uma mesa, uma cadeira, um piano; a fortiori, deveis animar a matéria já animada, notadamente as aves.” Então! Na concepção normal do Espiritismo, assim não é. Isto não existe.
Para começar, entendamo-nos acerca dos nossos fatos. Que é um médium? É o ser, é o indivíduo que serve aos Espíritos como traço de união, a fim de que estes facilmente possam comunicar-se com os homens, Espíritos encarnados. Por consequência, sem médium, nada de comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, nem de qualquer espécie.
Há um princípio que, disto tenho certeza, é admitido por todos os espíritas; é que os semelhantes agem com e como os seus semelhantes. Ora, quais são os semelhantes dos Espíritos, senão os Espíritos, encarnados ou não? Será preciso repeti-lo incessantemente? Ora, eu vo-lo repetirei ainda: Vosso perispírito e o nosso são tirados do mesmo meio; são de natureza idêntica. Numa palavra, são semelhantes. Possuem uma propriedade de assimilação mais ou menos desenvolvida, de magnetização mais ou menos vigorosa, que nos permite a nós, Espíritos e encarnados, nos pormos em contato pronta e facilmente. Enfim, o que pertence propriamente aos médiuns, o que é mesmo da essência de sua individualidade, é uma afinidade especial, e ao mesmo tempo uma força de expansão particular que neles anulam toda refratabilidade e estabelecem entre eles e nós uma espécie de corrente, uma espécie de fusão que facilita nossas comunicações. Aliás, é essa refratabilidade da matéria que se opõe ao desenvolvimento da mediunidade na maioria daqueles que não são médiuns. Acrescentarei que é a essa qualidade refratária que se deve atribuir a particularidade que faz com que certos indivíduos que não são médiuns transmitam e desenvolvam a mediunidade, pelo seu simples contato com médiuns neófitos ou médiuns quase passivos, isto é, desprovidos de certas qualidades mediúnicas.
Os homens estão sempre dispostos a exagerar tudo. Uns ─ e não falo aqui dos materialistas ─ recusam uma alma aos animais e outros querem conceder-lhes uma, por assim dizer, semelhante à nossa. Por que querer assim confundir o perfectível com o imperfectível? Não, não. Estejam bem convictos de que o fogo que anima os animais, o sopro que os faz agir, mover-se e falar sua linguagem não tem, até o presente, nenhuma aptidão para se misturar, para unir-se, para fundir-se com o sopro divino, a alma etérea, o Espírito, numa palavra, que anima o ser essencialmente perfectível, o homem, esse rei da Criação. Ora, o que marca a superioridade da espécie humana sobre as outras espécies terrenas não é essa condição essencial de perfectibilidade? Então! Reconhecei, pois, que não é possível assimilar ao homem, único perfectível em si e em suas obras, qualquer indivíduo das outras raças vivas na Terra.
O cão, que por sua inteligência superior entre os animais tornou-se amigo e comensal do homem, é perfectível por si mesmo e por sua iniciativa pessoal? Ninguém ousaria sustentá-lo, porque o cão não leva o cão a progredir, e dentre eles, o mais bem adestrado é sempre adestrado por seu dono. Desde que o mundo é mundo, a lontra sempre edifica sua toca sobre as águas, com as mesmas proporções e seguindo uma regra invariável. Os rouxinóis e as andorinhas jamais construíram seus ninhos de maneira diferente da de seus pais. Um ninho de pardal de antes do dilúvio, como um ninho de pardal da época moderna é sempre um ninho de pardal, edificado nas mesmas condições e com o mesmo sistema de entrelaçamento de palhinhas de ervas e resíduos colhidos na primavera, na época dos amores. As abelhas e as formigas, essas pequenas repúblicas domésticas, jamais variaram em seus hábitos de aprovisionamento, nas atitudes, nos costumes, nas produções. Finalmente, a aranha sempre tece sua teia da mesma maneira.
Por outro lado, se buscardes as cabanas de folhagem e as tendas das primeiras idades da Terra, encontrareis em seu lugar os palácios e os castelos da civilização moderna. As vestimentas de pele bruta foram substituídas pelos tecidos de ouro e de seda. Enfim, a cada passo encontrareis a prova dessa marcha incessante da Humanidade para o progresso.
Desse progresso constante, invencível, irrefutável da espécie humana, e desse estacionamento indefinido das outras espécies animadas, concluireis comigo que se existem princípios comuns ao que vive e se move na Terra, o sopro e a matéria, não é menos verdadeiro que apenas vós, Espíritos encarnados, estais submetidos a essa inevitável lei do progresso, que vos impele fatalmente sempre para a frente. Deus pôs os animais ao vosso lado como auxiliares para vos nutrir, vestir, acompanhar. Deu-lhes certa dose de inteligência porque, para vos auxiliar, necessitavam compreender, e lhes dimensionou a inteligência aos serviços que estão chamados a prestar. Mas, em sua sabedoria, não quis que fossem submetidos à mesma lei do progresso. Tais quais foram criados, assim ficaram e ficarão até a extinção de suas raças.
Foi dito que os Espíritos mediunizam e fazem mover a matéria inerte, cadeiras, mesas, pianos. Fazem mover-se, sim, mas não mediunizam! Porque, ainda uma vez, sem médium não se pode produzir nenhum desses fenômenos. O que há de extraordinário quando auxiliados por um ou vários médiuns, façamos mover a matéria inerte, passiva, que, justamente em razão de sua passividade, de sua inércia, é própria para sofrer os movimentos e os impulsos que lhes desejamos imprimir? Para isso necessitamos de médiuns, é verdade. Mas não é necessário que o médium esteja presente ou consciente, porque podemos agir com os elementos que nos fornece, malgrado seu e até mesmo em sua ausência, sobretudo nos casos de tangibilidade e transporte de objetos. Nosso envoltório fluídico, mais imponderável e sutil que o mais sutil e imponderável dos vossos gases, unindo-se, casando-se, combinando-se com o envoltório fluídico, mas animalizado, do médium, e cujas propriedades de expansão e de penetrabilidade não são percebidas por vossos sentidos grosseiros e são quase inexplicáveis para vós, nos permite mover os móveis, e mesmo quebrá-los, em quartos desabitados.
Certamente os Espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis pelos animais, muitas vezes tomados de súbito por esse pavor que vos parece infundado, e que é causado pela vista de um ou vários desses Espíritos mal-intencionados para com os indivíduos presentes ou para com os donos desses animais. Muitas vezes encontrais cavalos que não querem avançar nem recuar ou que empacam ante um obstáculo imaginário. Pois bem! Tende certeza de que o obstáculo imaginário é frequentemente um Espírito ou um grupo de Espíritos que se divertem impedindo-lhes o avanço. Lembrai-vos da jumenta de Balaão, que vendo um anjo à sua frente e, temendo a sua espada chamejante, obstinava-se em não avançar. É que antes de se tornar visível a Balaão, o anjo quis mostrar-se apenas para o animal. Mas, repito, não mediunizamos diretamente nem os animais, nem a matéria inerte. Sempre nos é preciso o concurso consciente ou inconsciente de um médium humano, porque nos é necessária a união de fluidos similares, o que não encontramos nos animais, nem na matéria bruta.
Ele diz que o Sr. Thiry magnetizou seu cão. Que aconteceu? Ele o matou, porque esse infeliz animal depois caiu numa espécie de atonia, de langor, em consequência da magnetização. Com efeito, inundando-o de um fluido tirado de uma essência superior à essência especial de sua natureza, esmagou-o e sobre ele agiu, embora mais lentamente, à maneira de um raio. Assim, como não há nenhuma identificação possível entre o nosso perispírito e o envoltório fluídico dos animais propriamente ditos, nós os esmagaríamos instantaneamente se os mediunizássemos.
Assentado isto, reconheço perfeitamente que nos animais existem aptidões diversas; que certos sentimentos; que certas paixões idênticas às paixões humanas neles se desenvolvem; que são sensíveis e reconhecidos, vingativos e odientos, conforme se atue bem ou mal com eles. É que Deus, que nada faz incompleto, deu aos animais companheiros ou servos do homem, qualidades de sociabilidade que faltam inteiramente aos animais selvagens que habitam as solidões.
Resumindo: os fatos mediúnicos não se podem manifestar sem o concurso consciente ou inconsciente do médium, e só entre os encarnados, Espíritos como nós, é que podemos encontrar os que nos podem servir de médiuns. Quanto a educar cães, aves ou outros animais para fazerem tais ou quais exercícios, é assunto vosso e não nosso.
Diz ele: “Vós animais a matéria inerte, isto é, uma mesa, uma cadeira, um piano; a fortiori, deveis animar a matéria já animada, notadamente as aves.” Então! Na concepção normal do Espiritismo, assim não é. Isto não existe.
Para começar, entendamo-nos acerca dos nossos fatos. Que é um médium? É o ser, é o indivíduo que serve aos Espíritos como traço de união, a fim de que estes facilmente possam comunicar-se com os homens, Espíritos encarnados. Por consequência, sem médium, nada de comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, nem de qualquer espécie.
Há um princípio que, disto tenho certeza, é admitido por todos os espíritas; é que os semelhantes agem com e como os seus semelhantes. Ora, quais são os semelhantes dos Espíritos, senão os Espíritos, encarnados ou não? Será preciso repeti-lo incessantemente? Ora, eu vo-lo repetirei ainda: Vosso perispírito e o nosso são tirados do mesmo meio; são de natureza idêntica. Numa palavra, são semelhantes. Possuem uma propriedade de assimilação mais ou menos desenvolvida, de magnetização mais ou menos vigorosa, que nos permite a nós, Espíritos e encarnados, nos pormos em contato pronta e facilmente. Enfim, o que pertence propriamente aos médiuns, o que é mesmo da essência de sua individualidade, é uma afinidade especial, e ao mesmo tempo uma força de expansão particular que neles anulam toda refratabilidade e estabelecem entre eles e nós uma espécie de corrente, uma espécie de fusão que facilita nossas comunicações. Aliás, é essa refratabilidade da matéria que se opõe ao desenvolvimento da mediunidade na maioria daqueles que não são médiuns. Acrescentarei que é a essa qualidade refratária que se deve atribuir a particularidade que faz com que certos indivíduos que não são médiuns transmitam e desenvolvam a mediunidade, pelo seu simples contato com médiuns neófitos ou médiuns quase passivos, isto é, desprovidos de certas qualidades mediúnicas.
Os homens estão sempre dispostos a exagerar tudo. Uns ─ e não falo aqui dos materialistas ─ recusam uma alma aos animais e outros querem conceder-lhes uma, por assim dizer, semelhante à nossa. Por que querer assim confundir o perfectível com o imperfectível? Não, não. Estejam bem convictos de que o fogo que anima os animais, o sopro que os faz agir, mover-se e falar sua linguagem não tem, até o presente, nenhuma aptidão para se misturar, para unir-se, para fundir-se com o sopro divino, a alma etérea, o Espírito, numa palavra, que anima o ser essencialmente perfectível, o homem, esse rei da Criação. Ora, o que marca a superioridade da espécie humana sobre as outras espécies terrenas não é essa condição essencial de perfectibilidade? Então! Reconhecei, pois, que não é possível assimilar ao homem, único perfectível em si e em suas obras, qualquer indivíduo das outras raças vivas na Terra.
O cão, que por sua inteligência superior entre os animais tornou-se amigo e comensal do homem, é perfectível por si mesmo e por sua iniciativa pessoal? Ninguém ousaria sustentá-lo, porque o cão não leva o cão a progredir, e dentre eles, o mais bem adestrado é sempre adestrado por seu dono. Desde que o mundo é mundo, a lontra sempre edifica sua toca sobre as águas, com as mesmas proporções e seguindo uma regra invariável. Os rouxinóis e as andorinhas jamais construíram seus ninhos de maneira diferente da de seus pais. Um ninho de pardal de antes do dilúvio, como um ninho de pardal da época moderna é sempre um ninho de pardal, edificado nas mesmas condições e com o mesmo sistema de entrelaçamento de palhinhas de ervas e resíduos colhidos na primavera, na época dos amores. As abelhas e as formigas, essas pequenas repúblicas domésticas, jamais variaram em seus hábitos de aprovisionamento, nas atitudes, nos costumes, nas produções. Finalmente, a aranha sempre tece sua teia da mesma maneira.
Por outro lado, se buscardes as cabanas de folhagem e as tendas das primeiras idades da Terra, encontrareis em seu lugar os palácios e os castelos da civilização moderna. As vestimentas de pele bruta foram substituídas pelos tecidos de ouro e de seda. Enfim, a cada passo encontrareis a prova dessa marcha incessante da Humanidade para o progresso.
Desse progresso constante, invencível, irrefutável da espécie humana, e desse estacionamento indefinido das outras espécies animadas, concluireis comigo que se existem princípios comuns ao que vive e se move na Terra, o sopro e a matéria, não é menos verdadeiro que apenas vós, Espíritos encarnados, estais submetidos a essa inevitável lei do progresso, que vos impele fatalmente sempre para a frente. Deus pôs os animais ao vosso lado como auxiliares para vos nutrir, vestir, acompanhar. Deu-lhes certa dose de inteligência porque, para vos auxiliar, necessitavam compreender, e lhes dimensionou a inteligência aos serviços que estão chamados a prestar. Mas, em sua sabedoria, não quis que fossem submetidos à mesma lei do progresso. Tais quais foram criados, assim ficaram e ficarão até a extinção de suas raças.
Foi dito que os Espíritos mediunizam e fazem mover a matéria inerte, cadeiras, mesas, pianos. Fazem mover-se, sim, mas não mediunizam! Porque, ainda uma vez, sem médium não se pode produzir nenhum desses fenômenos. O que há de extraordinário quando auxiliados por um ou vários médiuns, façamos mover a matéria inerte, passiva, que, justamente em razão de sua passividade, de sua inércia, é própria para sofrer os movimentos e os impulsos que lhes desejamos imprimir? Para isso necessitamos de médiuns, é verdade. Mas não é necessário que o médium esteja presente ou consciente, porque podemos agir com os elementos que nos fornece, malgrado seu e até mesmo em sua ausência, sobretudo nos casos de tangibilidade e transporte de objetos. Nosso envoltório fluídico, mais imponderável e sutil que o mais sutil e imponderável dos vossos gases, unindo-se, casando-se, combinando-se com o envoltório fluídico, mas animalizado, do médium, e cujas propriedades de expansão e de penetrabilidade não são percebidas por vossos sentidos grosseiros e são quase inexplicáveis para vós, nos permite mover os móveis, e mesmo quebrá-los, em quartos desabitados.
Certamente os Espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis pelos animais, muitas vezes tomados de súbito por esse pavor que vos parece infundado, e que é causado pela vista de um ou vários desses Espíritos mal-intencionados para com os indivíduos presentes ou para com os donos desses animais. Muitas vezes encontrais cavalos que não querem avançar nem recuar ou que empacam ante um obstáculo imaginário. Pois bem! Tende certeza de que o obstáculo imaginário é frequentemente um Espírito ou um grupo de Espíritos que se divertem impedindo-lhes o avanço. Lembrai-vos da jumenta de Balaão, que vendo um anjo à sua frente e, temendo a sua espada chamejante, obstinava-se em não avançar. É que antes de se tornar visível a Balaão, o anjo quis mostrar-se apenas para o animal. Mas, repito, não mediunizamos diretamente nem os animais, nem a matéria inerte. Sempre nos é preciso o concurso consciente ou inconsciente de um médium humano, porque nos é necessária a união de fluidos similares, o que não encontramos nos animais, nem na matéria bruta.
Ele diz que o Sr. Thiry magnetizou seu cão. Que aconteceu? Ele o matou, porque esse infeliz animal depois caiu numa espécie de atonia, de langor, em consequência da magnetização. Com efeito, inundando-o de um fluido tirado de uma essência superior à essência especial de sua natureza, esmagou-o e sobre ele agiu, embora mais lentamente, à maneira de um raio. Assim, como não há nenhuma identificação possível entre o nosso perispírito e o envoltório fluídico dos animais propriamente ditos, nós os esmagaríamos instantaneamente se os mediunizássemos.
Assentado isto, reconheço perfeitamente que nos animais existem aptidões diversas; que certos sentimentos; que certas paixões idênticas às paixões humanas neles se desenvolvem; que são sensíveis e reconhecidos, vingativos e odientos, conforme se atue bem ou mal com eles. É que Deus, que nada faz incompleto, deu aos animais companheiros ou servos do homem, qualidades de sociabilidade que faltam inteiramente aos animais selvagens que habitam as solidões.
Resumindo: os fatos mediúnicos não se podem manifestar sem o concurso consciente ou inconsciente do médium, e só entre os encarnados, Espíritos como nós, é que podemos encontrar os que nos podem servir de médiuns. Quanto a educar cães, aves ou outros animais para fazerem tais ou quais exercícios, é assunto vosso e não nosso.
Erasto.
OBSERVAÇÃO: A propósito da discussão havida na Sociedade sobre a mediunidade dos animais, disse o Sr. Allan Kardec ter observado muito atentamente as experiências feitas nestes últimos tempos em aves às quais se atribuía a faculdade mediúnica e acrescentou que reconheceu, da menos contestável das maneiras, os processos da prestidigitação, isto é, das cartas marcadas, mas empregadas com muita habilidade para iludir o espectador que se contenta com a aparência, sem perscrutar o fundo. Com efeito, essas aves fazem coisas que nem o homem mais inteligente, nem mesmo o mais lúcido sonâmbulo poderiam fazer, de onde poder-se-ia concluir que possuem faculdades intelectuais superiores ao homem, o que seria contrário às leis da Natureza. O que mais se deve admirar em tais experiências é a arte, a paciência que foi preciso empregar para educar esses animais, tornando-os dóceis e atentos. Para obter esses resultados, certamente foi necessário lidar com naturezas flexíveis, mas isto, na verdade, só se dá com animais amestrados, nos quais há mais hábito que combinações. A prova disto é que se deixam de treiná-los durante algum tempo, eles perdem rapidamente o que aprenderam. O encanto de tais experiências, como o de todas as manobras de prestidigitação, está no segredo dos processos. Uma vez conhecido o processo, perdem toda a atração. Foi o que aconteceu quando os saltimbancos quiseram imitar a lucidez sonambúlica pelo pretenso fenômeno a que chamavam dupla vista. Não podia haver ilusão para quem quer que conhecesse as condições normais do sonambulismo. Dá-se o mesmo com a suposta mediunidade das aves, de que se pode dar conta facilmente qualquer observador experimentado.
Povos! Silêncio! (Remetida pelo Sr. Sabò, de Bordeus. Médium: Sra. Oazemajoux)
I
Para onde correm essas crianças vestindo túnicas brancas? A alegria ilumina-lhes o coração. Seu enxame folgazão vai recrear-se nos verdes prados onde elas farão uma ampla colheita de flores e perseguirão o inseto brilhante que se alimenta em seus cálices. Despreocupadas e felizes, não veem além do horizonte azul que as cerca. Sua queda será terrível se não vos apressardes em dispor seus corações para os ensinamentos espíritas. Porque os Espíritos do Senhor atravessaram as nuvens e vêm pregar para vós, escutai suas vozes amigas. Escutai atentamente. Povos! Silêncio!
II
Eles se tornaram grandes e fortes. A beleza máscula de uns, a graça e o abandono de outras fazem reviver no coração dos pais as suaves lembranças de uma época já distante, mas o sorriso que ia espalhar-se em seus lábios emurchecidos desaparece para dar lugar às sombrias preocupações. É que também eles beberam a grandes sorvos na taça encantada das ilusões da juventude, e seu veneno sutil lhes enfraqueceu o sangue, enervou-lhes as forças, envelheceu-lhes os rostos, desguarneceu suas frontes e eles queriam impedir seus filhos de provar a mesma taça envenenada. Irmãos! O Espiritismo será o antídoto que deve preservar a nova geração de suas devastações mortais. Porque os Espíritos do Senhor atravessaram as nuvens e vêm regar para vós, escutai suas vozes amigas. Escutai atentamente. Povos, Silêncio!
III
Atingiram a virilidade; tornaram-se homens; são sérios e graves, mas não são felizes. Seus corações estão gastos e têm apenas uma fibra sensível: a da ambição. Eles empregam tudo quanto têm de força e de energia na aquisição dos bens terrenos. Para eles não há felicidade sem as dignidades, as honrarias, a fortuna. Insensatos! De um instante para outro o anjo da libertação vai bater-vos à porta, e sereis forçados a abandonar todas as quimeras. Sois proscritos que Deus pode chamar para a mãe-pátria a qualquer instante. Não edifiqueis palácios nem monumentos. Uma tenda, roupa e pão, eis o necessário. Contentai-vos com isto e o vosso supérfluo, dai-o aos vossos irmãos necessitados de abrigo, roupa e pão. O Espiritismo vem dizer-vos que os verdadeiros tesouros que deveis adquirir são o amor a Deus e o amor ao próximo. Eles vos farão ricos para a eternidade. Porque os Espíritos do Senhor atravessaram as nuvens e vêm pregar para vós, escutai suas vozes amigas. Escutai atentamente. Povos! Silêncio!
IV
Estão com as frontes inclinadas à borda do sepulcro. Têm medo e queriam erguer a cabeça, mas o tempo lhes vergou as espáduas, endureceu-lhes os nervos e os músculos, e estão impotentes para olhar para o alto. Ah! Que angústias vêm assaltá-los! Repassam no recôndito da alma sua vida inútil e por vezes criminosa. O remorso os rói, como um abutre esfaimado. É que muitas vezes, no curso dessa existência escoada na indiferença, negaram seu Deus, que lhes aparece, às bordas da sepultura, como vingador inexorável. Não temais, irmãos, e orai. Se, em sua justiça, Deus vos castiga, levará em consideração o vosso arrependimento, porque o Espiritismo vem dizer-vos que não existe eternidade das penas e que renasceis para vos purificardes e expiar. Assim, vós que estais fatigados do exílio na Terra, fazei todos os esforços para vos melhorardes, a fim de não mais retornardes. Porque os Espíritos do Senhor atravessaram as nuvens e vêm pregar para vós, escutai suas vozes amigas. Escutai atentamente. Povos! Silêncio!
BYRON.
Para onde correm essas crianças vestindo túnicas brancas? A alegria ilumina-lhes o coração. Seu enxame folgazão vai recrear-se nos verdes prados onde elas farão uma ampla colheita de flores e perseguirão o inseto brilhante que se alimenta em seus cálices. Despreocupadas e felizes, não veem além do horizonte azul que as cerca. Sua queda será terrível se não vos apressardes em dispor seus corações para os ensinamentos espíritas. Porque os Espíritos do Senhor atravessaram as nuvens e vêm pregar para vós, escutai suas vozes amigas. Escutai atentamente. Povos! Silêncio!
II
Eles se tornaram grandes e fortes. A beleza máscula de uns, a graça e o abandono de outras fazem reviver no coração dos pais as suaves lembranças de uma época já distante, mas o sorriso que ia espalhar-se em seus lábios emurchecidos desaparece para dar lugar às sombrias preocupações. É que também eles beberam a grandes sorvos na taça encantada das ilusões da juventude, e seu veneno sutil lhes enfraqueceu o sangue, enervou-lhes as forças, envelheceu-lhes os rostos, desguarneceu suas frontes e eles queriam impedir seus filhos de provar a mesma taça envenenada. Irmãos! O Espiritismo será o antídoto que deve preservar a nova geração de suas devastações mortais. Porque os Espíritos do Senhor atravessaram as nuvens e vêm regar para vós, escutai suas vozes amigas. Escutai atentamente. Povos, Silêncio!
III
Atingiram a virilidade; tornaram-se homens; são sérios e graves, mas não são felizes. Seus corações estão gastos e têm apenas uma fibra sensível: a da ambição. Eles empregam tudo quanto têm de força e de energia na aquisição dos bens terrenos. Para eles não há felicidade sem as dignidades, as honrarias, a fortuna. Insensatos! De um instante para outro o anjo da libertação vai bater-vos à porta, e sereis forçados a abandonar todas as quimeras. Sois proscritos que Deus pode chamar para a mãe-pátria a qualquer instante. Não edifiqueis palácios nem monumentos. Uma tenda, roupa e pão, eis o necessário. Contentai-vos com isto e o vosso supérfluo, dai-o aos vossos irmãos necessitados de abrigo, roupa e pão. O Espiritismo vem dizer-vos que os verdadeiros tesouros que deveis adquirir são o amor a Deus e o amor ao próximo. Eles vos farão ricos para a eternidade. Porque os Espíritos do Senhor atravessaram as nuvens e vêm pregar para vós, escutai suas vozes amigas. Escutai atentamente. Povos! Silêncio!
IV
Estão com as frontes inclinadas à borda do sepulcro. Têm medo e queriam erguer a cabeça, mas o tempo lhes vergou as espáduas, endureceu-lhes os nervos e os músculos, e estão impotentes para olhar para o alto. Ah! Que angústias vêm assaltá-los! Repassam no recôndito da alma sua vida inútil e por vezes criminosa. O remorso os rói, como um abutre esfaimado. É que muitas vezes, no curso dessa existência escoada na indiferença, negaram seu Deus, que lhes aparece, às bordas da sepultura, como vingador inexorável. Não temais, irmãos, e orai. Se, em sua justiça, Deus vos castiga, levará em consideração o vosso arrependimento, porque o Espiritismo vem dizer-vos que não existe eternidade das penas e que renasceis para vos purificardes e expiar. Assim, vós que estais fatigados do exílio na Terra, fazei todos os esforços para vos melhorardes, a fim de não mais retornardes. Porque os Espíritos do Senhor atravessaram as nuvens e vêm pregar para vós, escutai suas vozes amigas. Escutai atentamente. Povos! Silêncio!
BYRON.
Jean-Jacques Rousseau (Médium: Sra. Costel)
NOTA: A médium estava ocupada com problemas muito estranhos ao Espiritismo. Dispunha-se a escrever sobre assuntos pessoais, quando uma força invisível a constrangeu a escrever o que segue, apesar de seu desejo de continuar o trabalho começado. É o que explica o começo da comunicação.
“Eis-me aqui, embora não me chames. Venho falar-te de coisas muito estranhas às tuas preocupações. Sou o Espírito de Jean-Jacques Rousseau. Há muito esperava ocasião de comunicar-me contigo. Escuta, pois.
“Penso que o Espiritismo é um estudo puramente filosófico das causas secretas dos movimentos interiores da alma, pouco ou nada definidos até agora. Ele explica, mais ainda do que descobre, horizontes novos. A reencarnação e as provas sofridas antes de atingir o fim supremo não são revelações, mas uma confirmação importante. Estou comovido pelas verdades que esse meio põe à luz. Digo meio com intenção, porque, a meu ver, o Espiritismo é uma alavanca que afasta as barreiras da cegueira. A preocupação com as questões morais está inteiramente por criar. Discute-se a política que move os interesses gerais; discutem-se os interesses privados; apaixona-se pelo ataque ou pela defesa das personalidades; os sistemas têm partidários e detratores, mas as verdades morais, que são o pão da alma, o pão da vida, são deixadas no pó acumulado pelos séculos. Todos os aperfeiçoamentos são úteis aos olhos da multidão, salvo os da alma. Sua educação, sua elevação são quimeras, boas só para encher os lazeres dos sacerdotes, dos poetas, das mulheres, quer como moda, quer como ensinamento.
“Se o Espiritismo ressuscitar o Espiritualismo, devolverá à Sociedade o impulso que dá a uns dignidade interior, a outros resignação, a todos a necessidade de elevar-se para o Ser Supremo, esquecido e desprezado por suas ingratas criaturas.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU.
“Eis-me aqui, embora não me chames. Venho falar-te de coisas muito estranhas às tuas preocupações. Sou o Espírito de Jean-Jacques Rousseau. Há muito esperava ocasião de comunicar-me contigo. Escuta, pois.
“Penso que o Espiritismo é um estudo puramente filosófico das causas secretas dos movimentos interiores da alma, pouco ou nada definidos até agora. Ele explica, mais ainda do que descobre, horizontes novos. A reencarnação e as provas sofridas antes de atingir o fim supremo não são revelações, mas uma confirmação importante. Estou comovido pelas verdades que esse meio põe à luz. Digo meio com intenção, porque, a meu ver, o Espiritismo é uma alavanca que afasta as barreiras da cegueira. A preocupação com as questões morais está inteiramente por criar. Discute-se a política que move os interesses gerais; discutem-se os interesses privados; apaixona-se pelo ataque ou pela defesa das personalidades; os sistemas têm partidários e detratores, mas as verdades morais, que são o pão da alma, o pão da vida, são deixadas no pó acumulado pelos séculos. Todos os aperfeiçoamentos são úteis aos olhos da multidão, salvo os da alma. Sua educação, sua elevação são quimeras, boas só para encher os lazeres dos sacerdotes, dos poetas, das mulheres, quer como moda, quer como ensinamento.
“Se o Espiritismo ressuscitar o Espiritualismo, devolverá à Sociedade o impulso que dá a uns dignidade interior, a outros resignação, a todos a necessidade de elevar-se para o Ser Supremo, esquecido e desprezado por suas ingratas criaturas.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU.
A controvérsia (Enviada pelo Sr. Sabô, de Bordéus)
Ó Deus! Meu senhor, meu pai e meu Criador, dignai-vos dar ao vosso servo um pouco daquela eloquência humana que levava a convicção ao coração dos irmãos que vinham, em torno da cátedra sagrada, instruir-se nas verdades que lhes havíeis ensinado.
Enviando seus Espíritos para vos ensinarem vossos verdadeiros deveres para com ele e para com os vossos irmãos, Deus quer, sobretudo, que a caridade seja o móvel de todas as vossas ações, e vossos irmãos que querem fazer renascer esses dias de luto estão na via do orgulho. Esse tempo está longe de vós, e Deus seja para sempre bendito por ter permitido que os homens cessassem para sempre essas disputas religiosas, que jamais produziram qualquer bem e que causaram tanto mal. Por que querer discutir os textos evangélicos que já comentastes de tantas maneiras? Esses diversos comentários foram feitos quando não tínheis o Espiritismo para vos esclarecer, e ele vos diz: A moral evangélica é a melhor; segui-a. Mas, se no fundo de vossa consciência uma voz gritar: Para mim há tal ou qual ponto obscuro e não me posso permitir pensar diferentemente de meus outros irmãos! Eloim! meu irmão, ponde de lado aquilo que vos perturba; amai a Deus e a caridade, e estareis no bom caminho. Para que serviu o fruto de minhas longas vigílias, quando eu vivia em vosso mundo? Para nada. Muitos não lançaram os olhos sobre os meus escritos, que não eram ditados pela caridade e que sempre atraíram perseguições aos meus irmãos. A controvérsia é sempre animada por um sentimento de intolerância, que pode degenerar até à ofensa, e a teimosia com que cada um sustenta suas pretensões afasta a época em que a grande família humana, reconhecendo os erros passados, respeitará todas as crenças e não afiará o punhal que tinha cortado esses laços fraternos. Para dar-vos um exemplo do que acabo de dizer, abri o Evangelho e aí encontrareis estas palavras: “Eu sou a verdade e a vida; apenas aquele que crer em mim viverá.” Muitos de vós condenais os que não seguem a religião que possui ensinamentos do Verbo Encarnado. Contudo, muitos estão sentados à direita do Senhor porque, na retidão de seus corações, o adoraram e amaram; porque respeitaram as crenças de seus irmãos; porque clamaram ao Senhor quando viram os povos se estraçalhando entre si nas lutas religiosas; porque não estavam aptos a encontrar o verdadeiro sentido das palavras do Cristo e porque não passavam de instrumentos cegos de seus sacerdotes e de seus ministros.
Meu Deus, eu que vivia nesses tempos em que os corações estavam cheios de tempestades contra os irmãos de uma crença oposta, se tivesse sido mais tolerante; se em meus escritos não tivesse condenado sua maneira de interpretar o Evangelho, eles estariam hoje menos irritados contra os seus irmãos católicos, e todos teriam dado um passo maior em direção à fraternidade universal. Mas os protestantes, os judeus, todas as religiões um pouco destacadas, têm seus sábios e seus doutores, e quando o Espiritismo, mais espalhado, for estudado de boa-fé por esses homens instruídos, eles virão, como fizeram os católicos, trazer a luz aos seus irmãos e acalmar os seus escrúpulos religiosos. Deixai, pois, Deus continuar sua obra de reforma moral que vos deve elevar para Ele, a todos no mesmo grau, e não vos rebeleis contra os ensinos dos Espíritos que ele vos envia.
BOSSUET
Enviando seus Espíritos para vos ensinarem vossos verdadeiros deveres para com ele e para com os vossos irmãos, Deus quer, sobretudo, que a caridade seja o móvel de todas as vossas ações, e vossos irmãos que querem fazer renascer esses dias de luto estão na via do orgulho. Esse tempo está longe de vós, e Deus seja para sempre bendito por ter permitido que os homens cessassem para sempre essas disputas religiosas, que jamais produziram qualquer bem e que causaram tanto mal. Por que querer discutir os textos evangélicos que já comentastes de tantas maneiras? Esses diversos comentários foram feitos quando não tínheis o Espiritismo para vos esclarecer, e ele vos diz: A moral evangélica é a melhor; segui-a. Mas, se no fundo de vossa consciência uma voz gritar: Para mim há tal ou qual ponto obscuro e não me posso permitir pensar diferentemente de meus outros irmãos! Eloim! meu irmão, ponde de lado aquilo que vos perturba; amai a Deus e a caridade, e estareis no bom caminho. Para que serviu o fruto de minhas longas vigílias, quando eu vivia em vosso mundo? Para nada. Muitos não lançaram os olhos sobre os meus escritos, que não eram ditados pela caridade e que sempre atraíram perseguições aos meus irmãos. A controvérsia é sempre animada por um sentimento de intolerância, que pode degenerar até à ofensa, e a teimosia com que cada um sustenta suas pretensões afasta a época em que a grande família humana, reconhecendo os erros passados, respeitará todas as crenças e não afiará o punhal que tinha cortado esses laços fraternos. Para dar-vos um exemplo do que acabo de dizer, abri o Evangelho e aí encontrareis estas palavras: “Eu sou a verdade e a vida; apenas aquele que crer em mim viverá.” Muitos de vós condenais os que não seguem a religião que possui ensinamentos do Verbo Encarnado. Contudo, muitos estão sentados à direita do Senhor porque, na retidão de seus corações, o adoraram e amaram; porque respeitaram as crenças de seus irmãos; porque clamaram ao Senhor quando viram os povos se estraçalhando entre si nas lutas religiosas; porque não estavam aptos a encontrar o verdadeiro sentido das palavras do Cristo e porque não passavam de instrumentos cegos de seus sacerdotes e de seus ministros.
Meu Deus, eu que vivia nesses tempos em que os corações estavam cheios de tempestades contra os irmãos de uma crença oposta, se tivesse sido mais tolerante; se em meus escritos não tivesse condenado sua maneira de interpretar o Evangelho, eles estariam hoje menos irritados contra os seus irmãos católicos, e todos teriam dado um passo maior em direção à fraternidade universal. Mas os protestantes, os judeus, todas as religiões um pouco destacadas, têm seus sábios e seus doutores, e quando o Espiritismo, mais espalhado, for estudado de boa-fé por esses homens instruídos, eles virão, como fizeram os católicos, trazer a luz aos seus irmãos e acalmar os seus escrúpulos religiosos. Deixai, pois, Deus continuar sua obra de reforma moral que vos deve elevar para Ele, a todos no mesmo grau, e não vos rebeleis contra os ensinos dos Espíritos que ele vos envia.
BOSSUET
O pauperismo (Enviada pelo Sr. Sabò, de Bordéus)
Em vão os filantropos de vossa Terra sonham com coisas que jamais verão realizadas. Lembrai-vos destas palavras do Cristo: “Sempre tereis pobres entre vós.” Sabeis que estas palavras são a expressão da verdade. Agora que conheceis o Espiritismo, meu amigo, não achais justa e equitativa essa desigualdade das condições que vos alçava o coração cheio de murmúrios contra esse Deus que não tinha feito todos os homens igualmente ricos e felizes? Então! Agora que pensais ter Deus feito bem tudo quanto fez, e que sabeis ser a pobreza um castigo ou uma prova, buscai aliviá-la, mas não useis utopias para fazer os infelizes sonharem com uma igualdade impossível. Certamente, por uma sábia organização social, é possível aliviar muitos sofrimentos, e é isto que se deve ter em mira, mas pretender fazê-los todos desaparecer da face da Terra é uma ideia quimérica. Sendo a Terra um lugar de expiação, sempre haverá pobres que expiam nessa prova o abuso dos bens de que Deus os havia feito os dispensadores, e que jamais conheceram a doçura de fazer o bem aos seus irmãos; que entesouraram moeda por moeda, para amontoar riquezas inúteis para si mesmos e para os outros; que se enriqueceram com os despojos da viúva e do órfão. Oh! Esses são muito culpados, e seu egoísmo terá consequências terríveis. Contudo, guardai-vos de ver, em todos os pobres, culpados em punição. Se a pobreza é para alguns uma severa expiação, para outros é uma provação que lhes deve abrir mais rapidamente o santuário dos eleitos. Sim, sempre haverá pobres e ricos, para que uns tenham o mérito da resignação e outros o da caridade e do devotamento. Quer sejais ricos ou pobres, estais num terreno escorregadio que vos pode precipitar no abismo, e num declive no qual só as vossas virtudes vos podem reter.
Quando digo que haverá sempre pobres na Terra, quero dizer que enquanto houver vícios que dela farão um lugar de expiação para os Espíritos perversos, Deus os enviará para nela se encarnarem, para seu próprio castigo e para castigo dos vivos. Merecei por vossas virtudes que Deus não vos envie senão bons Espíritos, e de um inferno fareis um paraíso terrestre.
ADOLFO,
Bispo de Alger
Quando digo que haverá sempre pobres na Terra, quero dizer que enquanto houver vícios que dela farão um lugar de expiação para os Espíritos perversos, Deus os enviará para nela se encarnarem, para seu próprio castigo e para castigo dos vivos. Merecei por vossas virtudes que Deus não vos envie senão bons Espíritos, e de um inferno fareis um paraíso terrestre.
ADOLFO,
Bispo de Alger
A concórdia (Enviada pelo Sr. Rodolphe, de Mulhouse)
Meus amigos, sede unidos. A união faz a força. Proscrevei de vossas reuniões todo espírito de discórdia, todo espírito de inveja. Não invejeis as comunicações que recebe este ou aquele médium. Cada um recebe conforme a disposição de seu Espírito e a perfeição de seus órgãos.
Jamais esqueçais que sois irmãos e que essa fraternidade não é ilusória. É uma fraternidade real, porque aquele que foi vosso irmão numa outra existência pode achar-se entre vós, noutra família.
Sede unidos pelo espírito e pelo coração. Tende a mesma comunhão de pensamentos. Sede dignos de vós mesmos, da doutrina que professais e dos ensinamentos que fostes chamados a difundir.
Sede, pois, conciliatórios nas opiniões. Que elas não sejam absolutas. Procurai esclarecer-vos uns aos outros. Ponde-vos à altura de vosso apostolado e dai ao mundo o exemplo da boa harmonia.
Sede o exemplo vivo da fraternidade humana e mostrai onde podem chegar os homens sinceramente devotados à propagação da moral.
Com um só objetivo, não deveis ter senão um só e mesmo pensamento, o de pôr em prática o que ensinais. Que vossa divisa seja: União e Concórdia; Paz e Fraternidade!
MARDOQUEU
Jamais esqueçais que sois irmãos e que essa fraternidade não é ilusória. É uma fraternidade real, porque aquele que foi vosso irmão numa outra existência pode achar-se entre vós, noutra família.
Sede unidos pelo espírito e pelo coração. Tende a mesma comunhão de pensamentos. Sede dignos de vós mesmos, da doutrina que professais e dos ensinamentos que fostes chamados a difundir.
Sede, pois, conciliatórios nas opiniões. Que elas não sejam absolutas. Procurai esclarecer-vos uns aos outros. Ponde-vos à altura de vosso apostolado e dai ao mundo o exemplo da boa harmonia.
Sede o exemplo vivo da fraternidade humana e mostrai onde podem chegar os homens sinceramente devotados à propagação da moral.
Com um só objetivo, não deveis ter senão um só e mesmo pensamento, o de pôr em prática o que ensinais. Que vossa divisa seja: União e Concórdia; Paz e Fraternidade!
MARDOQUEU
Aurora dos novos dias (Sociedade espirita de Paris - Médim: Sra. Costel)
Eis-me aqui, eu que não evocais, mas que estou desejosa de ser útil, por minha vez, à Sociedade cujo objetivo é tão sério quanto o é o vosso. Falarei de política. Não vos alarmeis. Sei dentro de que limites devo manter-me.
A situação atual da Europa oferece o mais surpreendente aspecto para o observador. Em nenhuma época, sem excetuar o fim do último século, que fez tão grande rombo nos preconceitos e abusos que comprimiam o espírito humano; em nenhuma época, dizia, o movimento intelectual se fez sentir mais intrépido, mais franco. Digo franco, porque o espírito europeu marcha na verdade. A liberdade não é mais um fantasma sangrento, mas a bela e grande deusa da prosperidade pública. Mesmo na Alemanha, essa Alemanha que descrevi com tanto amor, o sopro ardente da época abate as últimas fortalezas dos preconceitos. Sede felizes, vós que viveis em tal momento. Porém, mais felizes ainda serão os vossos descendentes, porque aproxima-se a hora, a hora anunciada pelo Precursor. Vedes clarear-se o horizonte, mas, como outrora os hebreus, ficareis no limiar da Terra Prometida e não vereis erguer-se o sol radioso dos novos dias.
STAËL
A situação atual da Europa oferece o mais surpreendente aspecto para o observador. Em nenhuma época, sem excetuar o fim do último século, que fez tão grande rombo nos preconceitos e abusos que comprimiam o espírito humano; em nenhuma época, dizia, o movimento intelectual se fez sentir mais intrépido, mais franco. Digo franco, porque o espírito europeu marcha na verdade. A liberdade não é mais um fantasma sangrento, mas a bela e grande deusa da prosperidade pública. Mesmo na Alemanha, essa Alemanha que descrevi com tanto amor, o sopro ardente da época abate as últimas fortalezas dos preconceitos. Sede felizes, vós que viveis em tal momento. Porém, mais felizes ainda serão os vossos descendentes, porque aproxima-se a hora, a hora anunciada pelo Precursor. Vedes clarear-se o horizonte, mas, como outrora os hebreus, ficareis no limiar da Terra Prometida e não vereis erguer-se o sol radioso dos novos dias.
STAËL