Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868

Allan Kardec

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Agosto

O materialismo e o direito

O materialismo, vangloriando-se como não o tinha feito em nenhuma outra época e se apresentando como supremo regulador dos destinos morais da Humanidade, teve por efeito apavorar as massas pelas consequências inevitáveis de suas doutrinas para a ordem social. Por isto mesmo provocou, em favor das ideias espiritualistas, uma enérgica reação que lhe deve provar que está longe de merecer simpatias tão gerais quanto supõe, e que labora em estranha ilusão se espera um dia impor suas leis ao mundo.

Seguramente as crenças espiritualistas dos tempos passados são insuficientes para o século atual; elas não estão mais no nível intelectual de nossa geração; sobre muitos pontos elas estão em contradição com os dados concretos da Ciência; deixam no espírito um vago incompatível com a necessidade do positivo que domina na Sociedade moderna; além disso, cometem o imenso erro de se imporem pela fé cega e proscrever o livre exame. Daí resulta, sem dúvida nenhuma, o desenvolvimento da incredulidade na maioria das pessoas. É muito evidente que se os homens não fossem alimentados, desde a infância, senão por ideias de natureza a serem mais tarde confirmadas pela razão, não haveria incrédulos. Quantas pessoas reconduzidas à crença pelo Espiritismo nos disseram: Se nos tivessem sempre apresentado Deus, a alma e a vida futura de maneira racional, jamais teríamos duvidado!

Pelo fato de um princípio receber uma aplicação má ou falsa, segue-se que seja preciso rejeitá-lo? Assim acontece com coisas espirituais, como com a legislação e todas as instituições sociais: é necessário apropriá-las aos tempos, sob pena de sucumbirem. Mas, em vez de apresentar algo de melhor que o velho espiritualismo clássico, o materialismo preferiu tudo suprimir, o que o dispensava de procurar, e parecia mais cômodo àqueles a quem importuna a ideia de Deus e do futuro. Que pensariam de um médico que, achando que o regime de um convalescente não é bastante substancial para o seu temperamento, lhe prescrevesse não comer absolutamente nada?

O que nos espanta encontrar na maioria dos materialistas da escola moderna é o espírito de intolerância levado aos seus últimos limites, eles que reivindicam sem cessar o direito de liberdade de consciência. Seus próprios correligionários políticos não encontram condescendência diante deles, desde que façam profissão de espiritualismo, testemunha o Sr. Jules Favre, a propósito de seu discurso na Academia (Fígaro de 8 de maio de 1868); e como o Sr. Camille Flammarion, ultrajantemente ridicularizado e denegrido, num outro jornal cujo nome esquecemos, porque ousou provar Deus pela Ciência. Segundo o autor dessa diatribe, não se pode ser sábio senão com a condição de não crer em Deus; Chateaubriand não passa de um escritor medíocre e insensato. Se homens de tão incontestável mérito são tratados com tão pouca consideração, os espíritas não se devem lamentar de serem um tanto ridicularizados a propósito de suas crenças.

Há neste momento, da parte de um certo partido, um levante de armas contra as ideias espiritualistas em geral, entre as quais se acha incluído o Espiritismo. O que ele busca não é um Deus melhor e mais justo, é o Deus-matéria, menos aborrecido, porque não é preciso prestar-lhe contas. Ninguém contesta a esse partido o direito de ter as suas opiniões, de discutir as opiniões contrárias, mas o que não se lhe poderia conceder é a pretensão, ao menos singular para homens que se apresentam como apóstolos da liberdade, de impedir que os outros creiam à sua maneira e que discutam as doutrinas que eles não partilham. Intolerância por intolerância, uma não vale mais que a outra.

Um dos melhores protestos que temos lido contra as tendências materialistas foi publicado no jornal le Droit, sob o título: O materialismo e o direito. A questão aí é tratada com notável profundidade e uma perfeita lógica, no duplo ponto de vista da ordem social e da jurisprudência. Sendo a causa do espiritualismo a do Espiritismo, aplaudimos toda enérgica defesa da primeira, mesmo quando aí é feita abstração da segunda. Eis por que pensamos que os leitores da Revista verão com prazer a reprodução desse artigo.

(Extrato do jornal le Droit, de 14 de maio de 1868)

A geração presente atravessa uma crise intelectual com a qual não se deve inquietar além da medida, mas cujo desenlace seria imprudência deixar ao acaso. Desde quando a Humanidade passou a pensar, o homem acreditava na alma, princípio imaterial distinto dos órgãos que o servem; faziam-na até imortal. Acreditavam numa Providência, criadora e senhora dos seres e das coisas, no bem, no justo, na liberdade do arbítrio humano, numa vida futura que, por valer mais do que o mundo em que estamos, não necessita, como diz o poeta, senão existir.

Modernos doutores, que começam a tornar-se barulhentos, mudaram tudo isto. O homem é por eles reconduzido à dignidade do animal, e o animal reduzido a um agregado material. A matéria e as propriedades da matéria, tais seriam os únicos objetos possíveis da ciência humana; o pensamento não seria senão um produto do órgão que é sua sede, e o homem, quando as moléculas orgânicas que constituem a sua pessoa se desagregam e voltam aos elementos, pereceria inteiramente.

Se as doutrinas materialistas jamais devessem ter a sua hora de triunfo, os jurisconsultos filósofos ─ há que dizer para a sua honra ─ seriam os primeiros vencidos. O que teriam a fazer as suas regras e as suas leis num mundo no qual a lei da matéria fosse toda a lei? As ações humanas não podem ser senão fatos automáticos, se o homem for todo matéria. Mas então, onde estará a liberdade? E se a liberdade não existir, onde estará a lei moral? A que título uma autoridade qualquer poderia pretender dominar a expansão fatal de uma força toda física e necessariamente legítima se ela é fatal? O materialismo arruína a lei moral, e com a lei moral o direito, a ordem civil toda inteira, isto é, as condições de existência da Humanidade. Tais consequências imediatas, inevitáveis, certamente merecem que nelas pensemos. Vejamos, pois, como se reproduz esta velha doutrina materialista, que não vimos surgir, até o presente, senão nos piores dias.

Quase sempre houve materialistas, teóricos ou práticos, quer por desvio do senso comum, quer para justificar baixos hábitos de viver. A primeira razão de ser do materialismo está na imperfeição da inteligência humana. Disse Cícero, em termos muito crus, que não há tolice que não tenha encontrado algum filósofo para defendê-la: Nihil tam absurde dici potest quod non dicatur ab aliquo philosophorum. Sua segunda razão de ser está nas más inclinações do coração humano. O materialismo prático, que se reduz a algumas máximas vergonhosas, sempre apareceu nas épocas de decomposição moral ou social, como as da Regência e do Diretório. O mais das vezes, quando houve visadas mais altas, o materialismo filosófico foi uma reação contra as exigências exageradas das doutrinas ultraespiritualistas ou religiosas. Mas em nossos dias ele se produz com um caráter novo; ele se diz científico. A história natural seria toda a ciência do homem; nada existiria do que ela não tem por objeto, e como ela não tem por objeto o espírito, o espírito não existe.

Para quem queira pensar no caso, com efeito o materialismo é mesmo um perigo, não da ciência verdadeira, mas da ciência incompleta e presunçosa; é uma planta má que cresce em seu solo. De onde vêm as tendências materialistas, mais ou menos marcantes, de tantos cientistas? De sua constante ocupação em estudar e manipular a matéria? Talvez um pouco. Mas elas vêm sobretudo de seus hábitos de espírito, da prática exclusiva de seu método experimental. O método científico pode reduzir-se a estes termos: Não reconhecer senão os fatos; induzir muito prudentemente a lei desses fatos; banir absolutamente todas as pesquisas das causas. Não é de admirar que, depois disto, inteligências de vistas curtas, débeis nalgum sentido, deformadas, como nos tornamos todos, por um mesmo trabalho intelectual ou físico muito contínuo, desconheçam a existência dos fatos morais, aos quais não convém a aplicação do seu instrumento lógico, e, por uma transmissão insensível, passem da ignorância metódica à negação.

Entretanto, se esse método exclusivamente experimental pode achar-se em erro, o erro está no estudo do homem, ser duplo, espírito e matéria, cujo próprio organismo não pode ser senão o produto e o instrumento da força oculta, mas essencialmente una que o anima. Não se quer ver no organismo humano senão um agregado material! Por que cindir o homem e querer metodicamente nele considerar apenas um princípio, se há dois? É possível gabar-se, ao menos, de assim explicar todos os fenômenos da vida? O materialismo fisiológico, que prepara o materialismo filosófico, mas que a ele não conduz necessariamente, é ferido de impotência a cada passo. A vida, digam o que disserem, é um movimento, o movimento da alma formando o corpo; e a alma é, assim, a mola que move e transporta, por uma ação desconhecida e inconsciente, os elementos dos corpos vivos. Trazendo sistematicamente o estudo do homem físico às condições do estudo dos corpos não organizados; não vendo nas forças vivas de cada parte do organismo senão propriedades da matéria; localizando essas forças em cada uma dessas partes; não considerando a vida senão como uma manifestação física, um resultado, quando ela talvez seja um princípio; afastando a unidade do princípio de vida como uma hipótese, quando ela pode ser uma realidade, cai-se, sem dúvida, no materialismo fisiológico, para depois escorregar rapidamente no materialismo filosófico; mas se conclui por uma enumeração e um exame incompleto dos fatos; acreditou-se marchar apenas apoiado na observação, e afastou-se o fato capital que domina e determina todos os fatos particulares.

O materialismo da nova escola não é, pois, um resultado demonstrado do estudo; é uma opinião preconcebida. O fisiologista não admite o espírito; mas que há de admirável? É uma causa, e ele se pôs a estudar com um método que lhe interdita precisamente a pesquisa das causas. Não queremos submeter a causa do espiritualismo a uma questão de fisiologia controvertida, e sobre a qual poderiam refutar-nos com razão. O senso íntimo me revela a existência da alma com uma autoridade muito diferente. Quando o materialista fisiológico for tão verdadeiro quanto é discutível, nossas convicções espiritualistas ficarão menos inteiras. Fortalecido pelo testemunho do senso íntimo, confirmado pelo assentimento de mil gerações que se sucederam na Terra, repetiríamos o velho adágio: “A verdade não destrói a verdade”, e nós esperaríamos que a conciliação se fizesse com o tempo. Mas de que peso não nos sentimos aliviados quando vemos que, para negar a alma e dar essa declaração como um resultado da ciência, o sábio, por confissão própria, partiu metodicamente da ideia que a alma não existe!

Lemos muitos livros de Fisiologia, em geral muito mal escritos; o que nos chamou a atenção foi o vício constante dos raciocínios do fisiologista organicista quando ele sai da sua área para se fazer filósofo. Vemo-lo constantemente tomar um efeito por uma causa, uma faculdade por uma substância, um atributo por um ser, confundir as existências e as forças, etc., e raciocinar como lhe convém. Dir-se-ia uma aposta. Algumas vezes ele transpõe distâncias incríveis sem se dar conta do caminho que faz. Que espírito exato e claro, por exemplo, jamais pôde compreender o pensamento tão conhecido de Cabanis e de Broussais, que “o cérebro produz, secreta o pensamento?” Outras vezes, o homem positivo, o homem da ciência, o homem da observação e dos fatos, nos dirá seriamente que o cérebro “armazena as ideias.” Ainda um pouco, ele as desenhará. É metáfora ou aranzel?

Jamais será pedido à ciência natural que tome partido pró ou contra a alma humana; mas por que ela não se resolve a ignorar o que não é objeto de suas investigações? Com que direito ousa ela jurar que nada há depois dela, depois de ter constituído a lei de não ver? Por que não guarda ela um pouco dessa reserva que vai bem a todos nós, sobretudo aos que têm a pretensão de não avançar senão com a certeza? A que título o anatomista tomará para si a responsabilidade de declarar que a alma não existe, porque não a encontrou com seu escalpelo? Pelo menos começou ele a demonstrar rigorosamente, cientificamente, por experiências e por fatos, segundo o método que preconiza, que o seu escalpelo a tudo pode atingir, até mesmo um princípio imaterial?

Aconteça o que acontecer com todas estas questões, o materialismo, dizendo-se científico, sem por isto adquirir mais valor, instala-se à luz do dia, e é preciso que vejamos o que seria o direito materialista. Ai de nós! O estado social materialista oferecer-nos-ia um tristíssimo e vergonhoso espetáculo. Para começar, uma coisa é certa, é que, se o homem não existe senão por seu organismo, essa massa material e automática que será daqui por diante todo o homem, provido de um encéfalo para secretar ideias, não será responsável por todos os movimentos que ela produzirá[1]. Com ela não será preciso que o encéfalo de uma outra massa material se lembre de secretar ideias de justiça ou de injustiça, porque essas ideias de justiça ou de injustiça não são aplicáveis senão a uma força livre que existe por si mesma, capaz de querer e de se abster. Não se convence a torrente ou a avalanche.

Então a liberdade, isto é, a vontade de agir ou não agir, não existirá aqui em baixo, como também não existirá o direito. Nesse estado, todas as forças terão um pleno e absoluto poder de expansão. Tudo será legítimo, lícito, permitido, digamos mesmo, ordenado, porque é claro que todo fato que não seja o ato de uma vontade livre, que não se produz como um ato moralmente obrigatório ou moralmente proibido, é um fato inevitável, que bem pode vir chocar-se com um fato contrário do mesmo caráter, mas que, como todos os fatos físicos, cai no império inelutável das leis naturais.

Basta expor tais ideias para lhes fazer justiça. É o sistema de Spinoza, que muito resolutamente estabeleceu o princípio do direito da força. Os fortes, diz Spinoza, são feitos para dominar os fracos, da mesma forma que os peixes para nadar e os maiores para comer os menores. No sistema materialista, o que seria chamado direito não poderia ter um princípio diferente. Mas qual homem dotado de senso ousaria professar tal sistema, que bastaria, por si só, para refutar o materialismo, porquanto necessariamente dele decorre? Querem, entretanto, que esse princípio da força se ache, de fato, limitado por si mesmo? Nada será ganho, ou quase nada, com esse flagrante desmentido do princípio. Admitamos, se quiserem, que a substância pensante (continuamos a falar a linguagem dos materialistas) se concerte nos indivíduos para regularizar essa expansão da força: a que chegará ela? No máximo a um conjunto de regras que terão por base o interesse, e mais, como não há outras leis senão as leis da matéria, essa legislação não terá qualquer caráter obrigatório; cada um poderá infringi-la se sua matéria pensante o aconselhar e se sua força permitir. Assim, nesta singular doutrina, não haverá nem mesmo um estado social construído sobre o plano da triste sociedade de Hobbes.

Não falamos ainda senão das condições primeiras de todo estado social. Mas, em toda sociedade civil consagra-se a propriedade individual; contrata-se, vende-se, aluga-se, associa-se, etc. O casamento funda a família; daí nasce toda uma ordem nova de relações. Pela educação no lar e pela educação pública, perpetuam-se as tradições. Assim se forma um espírito nacional e se desenvolve a civilização. Nossa sociedade materialista terá o seu direito civil? Impossível supô-lo, porque o direito civil, em seu conjunto, tem por princípio a justiça, e a justiça não pode ser senão uma palavra, ou uma contradição, numa doutrina que não conhece senão a matéria e as propriedades da matéria. Chega-se assim, inevitavelmente, a concluir (a menos que desarrazoando a propósito), que o estado civil da sociedade materialista é o estado de bestialidade.

Nada dizemos demais ao afirmarmos que o materialismo é destrutivo, não de tal moral, mas de toda moral; não de tal estado civil, mas de todo estado civil, de toda a Sociedade. É preciso recuar com ele além das regiões da barbárie, além da selvageria. Há que proscrevê-lo por isto? Deus não o permita. Assim reconhecido o seu caráter, não pediríamos, entretanto, que o seu ensino fosse interditado; nós o defenderíamos, se necessário, contra toda compressão pela força, desde que o professor não falasse senão em seu próprio nome. A liberdade nos é tão cara ─ sabem-nos os leitores deste jornal ─ ela leva consigo tais benefícios; temos uma tal confiança no bom-senso público, que não conceberíamos nenhuma inquietude por ver toda cátedra, toda tribuna aberta a todas as ideias.

Mas a questão não mais se apresentaria nos mesmos termos se acontecesse que o professor falasse numa cátedra do Estado, sustentada pelo orçamento. Certo ou errado, o Estado ensina. Pode ele ensinar doutrinas cujas consequências mais próximas sejam destrutivas do Estado? Ficará ao arbítrio de todo professor fazer o Estado endossar todas as doutrinas que puder conceber?

A questão não é simples. Os professores do Estado são funcionários públicos; seu ensino não pode ser e não é senão um ensino oficial. O Estado é responsável pelo que eles dizem; ele responde por isso perante a juventude e as famílias. Se por causa das grandes palavras de independência do professorado, recusassem o seu controle, eles se fariam opressores do Estado, pela mais hipócrita das opressões, porque assumiriam a responsabilidade pelas doutrinas que ele desaprova.

Sem dúvida a autoridade superior deve aos seus professores, muitas vezes encanecidos pelo estudo, cuidados, consideração, uma grande confiança, como aos seus generais, aos seus administradores e aos seus magistrados. Mas ela não lhes deve o sacrifício do mandato do país, que se presume que lhe pertença. O professor não é mais independente do Estado do que o general que tomasse o comando de uma insurreição.

H. THIERCELIN

[1] Assim como o fígado não é responsável pela bile que secreta.



O jornal La Solidarité

O jornal la Solidarité, do qual falamos na Revista de junho de 1868, continua a ocupar-se do Espiritismo, com o tom de discussão séria que caracteriza essa folha eminentemente filosófica.

Sob o título de Pesquisas psicológicas a propósito de Espiritismo, o número de 1º de julho contém um artigo do qual extraímos as seguintes passagens:

“Há bem poucos jornais que se podem dizer independentes. Quero dizer de uma verdadeira independência, aquela que permite tratar de um assunto sem preocupação de partido, de igreja, de escola, de faculdade, de academia; melhor que isto: sem preocupação com o público, com seu próprio público de leitores e de assinantes, e não se inquietando senão em pesquisar a verdade e proclamá-la. O Solidarité tem essa vantagem muito rara de enfrentar até a perda de assinantes ─ pois não vive senão de sacrifícios ─ e de estar colocado muito alto nas regiões do pensamento para temer as flechas do ridículo.

“Tratando do Espiritismo, sabíamos que não satisfaríamos a ninguém, nem aos crentes nem aos incrédulos; ninguém, a não ser, talvez, as pessoas que não têm uma ideia preconcebida sobre a questão. Esses sabem que não sabem. Esses são os sábios, e são pouco numerosos.”

O autor descreve a seguir o fenômeno material das mesas girantes, que explica pela eletricidade humana, declarando nada ver que acuse uma intervenção estranha.

É o que temos dito desde o começo.

Ele continua:

“Enquanto não temos senão que explicar o movimento automático dos objetos, não necessitamos ir além do que é obtido nas ciências físicas. Mas a dificuldade aumenta quando chegamos aos fenômenos de natureza intelectual.

“Depois de se haver contentado em dançar, a mesa logo se pôs a responder às perguntas. Desde então, como duvidar que aí houvesse uma inteligência? A crença vaga nos Espíritos tinha suscitado o movimento dos objetos materiais, porque é evidente que sem esse a priori, jamais se teriam lembrado de fazer girar as mesas. Essa crença, achando-se confirmada pelas aparências, deveria levar a dar mais um passo. Considerando-se que o Espírito é a causa do movimento das mesas, deveria vir o pensamento de interrogá-lo.

As primeiras manifestações inteligentes, diz o Sr. Allan Kardec, se deram por meio de mesas que se erguiam e batiam com um pé um determinado número de pancadas, e respondiam assim, por um sim ou por um não, conforme a convenção, a uma pergunta formulada. A seguir obtiveram-se respostas mais desenvolvidas pelas letras do alfabeto. Com o objeto móvel batendo um número de pancadas correspondente ao número de ordem de cada letra, chegou-se a formular palavras e frases, respondendo às perguntas feitas. A justeza das respostas e sua correlação excitaram a admiração. O ser misterioso que assim respondia, interrogado sobre a sua natureza, declarou que era Espírito ou Gênio, deu o seu nome e forneceu diversas informações por sua conta.”

“Esse meio de correspondência era longo e incômodo, como observa muito justamente o Sr. Allan Kardec. Não tardou que fosse substituído pela corbelha, depois pela prancheta. Hoje esses meios estão geralmente abandonados, e os crentes se reportam ao que maquinalmente escreve a mão do médium, sob o ditado do Espírito.

“É difícil saber qual a parte do médium nos produtos mais ou menos inspirados de sua pena; também não é fácil determinar o grau de automatismo de uma corbelha ou de uma prancheta, quando estes objetos estão colocados sob mãos vivas. Mas se a correspondência pela mesa é lenta e pouco cômoda, permite constatar a passividade do instrumento. Para nós, a relação intelectual por meio da mesa está tão bem estabelecida quanto a da correspondência telegráfica. O fato é real. Apenas se trata de saber se existe o correspondente de além-túmulo. Há um Espírito, um ser invisível com o qual se corresponde, ou os operadores são vítimas de uma ilusão e não estão em contato senão consigo mesmos? Eis a questão.

“Atribuímos à eletricidade emitida pela máquina humana os movimentos mecânicos das mesas; não temos que procurar alhures senão na alma humana o agente que imprime a esses movimentos um caráter inteligente. Representando a eletricidade como um fluido elástico de extrema sutileza, que se interpõe entre as moléculas dos corpos e os cerca como que de uma atmosfera, pode-se muito bem compreender que a alma, graças a esse envoltório, faça sentir sua ação sobre todas as partes do corpo, sem nele ocupar um lugar determinado, e que a unidade do eu esteja, ao mesmo tempo, em todos os lugares que sua atmosfera pode atingir. A ação pelo contato então ultrapassa a periferia do corpo, e as vibrações etéreas ou fluídicas, comunicando-se de uma atmosfera à outra, podem produzir entre os seres em relação, efeitos à distância. Há nisso tudo um mundo a estudar. As forças aí se influenciam e aí se transformam segundo as leis dinâmicas conhecidas, mas os seus efeitos variam com o ritmo dos movimentos moleculares e conforme esses movimentos se exerçam por vibração, por ondulação ou por oscilação. Mas, aconteça o que acontecer com essas teorias que estão longe de haver atingido a positividade necessária para tomar lugar na Ciência, nada se opõe a que consideremos o eu humano como estendendo à tábua a ação de sua espontaneidade, dela se servindo como de um apêndice ao seu sistema nervoso, para manifestar movimentos voluntários.

“O que mais frequentemente provoca ilusão nestas espécies de correspondências telegráficas, é que o eu de cada um dos assistentes não pode mais se reconhecer na resultante da coletividade. A representação subjetiva que se faz no espírito do médium, pelo concurso desta espécie de fotografia, pode não parecer com nenhum dos assistentes, embora sem dúvida a maioria tenha fornecido algum traço. Entretanto é raro, se observarmos com cuidado, que não encontremos mais particularmente a imagem de um dos operadores que foi instrumento passivo da força coletiva. Não é um Espírito ultramundano que fala na sala, é o espírito do médium, mas o espírito do médium talvez dublê do espírito de tal assistente que o domina muitas vezes sem que nenhum deles o saiba, e exaltado por forças que lhe vêm, como de diversas correntes eletromagnéticas, do concurso dado pelos assistentes[1].

“Vimos muitas vezes a personalidade do médium trair-se por erros ortográficos, por erros históricos ou geográficos que ele cometia habitualmente e que não podiam ser atribuídos a um Espírito realmente distinto de sua própria pessoa.

“Uma coisa das mais comuns nos fenômenos desta natureza é a revelação de segredos que o interrogante não julgava conhecidos por ninguém; mas ele esquece que esses segredos são conhecidos por aquele que interroga, e que o médium pode ler em seu pensamento. Para isto é necessária uma certa relação mental; mas essa relação é estabelecida por uma derivação da corrente nervosa que envolve cada indivíduo, mais ou menos como se poderia desviar a centelha elétrica, interceptando a linha telegráfica e a substituindo por um novo fio condutor. Tal faculdade é muito menos rara do que se pensa. A comunicação do pensamento é um fato admitido por todas as pessoas que se ocuparam de magnetismo, e é fácil para cada um se convencer da frequência e da realidade do fenômeno.

“Somos obrigados a deslizar sobre essas explicações muito imperfeitas. Elas não bastam, bem o sabemos, para infirmar a crença nos Espíritos, naqueles que julgam ter provas evidentes de sua intervenção.

“Não lhes podemos opor provas da mesma natureza. A crença em individualidades espirituais não só nada tem de irracional, mas nós a consideramos inteiramente natural. Nossa convicção profunda, como sabeis, é que o eu humano persiste em sua identidade após a morte, e que ele recupera, depois de sua separação do organismo terrestre, todas as suas aquisições anteriores. Que a pessoa humana esteja, então, revestida de um organismo de uma natureza etérea, é o que nos parece perfeitamente provável. O perispírito desses senhores assim não nos repugna. Então, o que é que nos separa? Nada de fundamental. Nada, a não ser a insuficiência de suas provas. Nós não achamos que as relações espíritas entre os mortos e os vivos sejam constatadas pelos movimentos das mesas, pelas correspondências, pelos ditados. Nós cremos que os fenômenos físicos se explicam fisicamente, e que os fenômenos psíquicos são causados pelas forças inerentes à alma dos operadores. Falamos do que vimos e estudamos com muito cuidado. Nada conhecemos, até aqui, entre as inspirações dos médiuns, que não tivesse podido ser produzido pelo cérebro vivo, sem o concurso de qualquer força celeste, e a maior parte de suas produções estão abaixo do nível intelectual do meio em que vivemos.

“Num próximo artigo examinaremos as doutrinas filosóficas e religiosas do Espiritismo, e notadamente as de que o Sr. Allan Kardec apresentou a síntese no seu último volume, intitulado A Gênese segundo o Espiritismo.

Sem dúvida haveria muita coisa a responder sobre este artigo. Contudo, não o refutaremos, porque seria repetir o que tantas vezes temos escrito sobre o mesmo assunto. Temos a satisfação de reconhecer, com o autor, que a distância que ainda o separa de nós é pouca coisa: não é senão o fato material das relações diretas entre o mundo visível e o mundo invisível. Entretanto, essa pouca coisa é muito, por suas consequências.

Aliás, é importante notar que se ele não admite essas relações, também não as nega de maneira absoluta; nem repugna à sua razão conceber a sua possibilidade; com efeito, essa possibilidade decorre, muito naturalmente, do que ele admite. O que lhe falta, diz ele, são as provas do fato das comunicações. Ora! Essas provas lhe chegarão, mais cedo ou mais tarde; ele as encontrará, quer na observação atenta das circunstâncias que acompanham certas comunicações mediúnicas, quer na inumerável variedade das manifestações que se produziam antes do Espiritismo, e ainda se produzem em pessoas que não o conhecem e nele não acreditam, e nas quais, consequentemente, não se poderia admitir a influência de uma ideia preconcebida. Seria preciso ignorar os primeiros elementos do Espiritismo para crer que o fato das manifestações não se produz senão entre os adeptos.

Esperando, e ainda mesmo que aí devesse deter-se a sua convicção, seria desejável que todos os materialistas chegassem a esse ponto. Devemos, então, felicitar-nos por contá-lo, entre os homens de valor, pelo menos simpático à ideia geral, e por ver um jornal recomendável por seu caráter sério e sua independência, combater conosco a incredulidade absoluta em matéria de espiritualidade, bem como os abusos que fizeram do princípio espiritual. Marchamos para o mesmo fim por vias diferentes, mas convergindo para um ponto comum e nos aproximando cada vez mais pelas ideias; algumas dissidências sobre questões de detalhe não nos devem impedir de nos darmos as mãos.

Neste tempos de efervescência e de aspiração por um melhor estado de coisas, cada um traz sua pedra para a edificação do mundo novo; cada um trabalha de seu lado, com os meios que lhe são próprios. O Espiritismo traz o seu contingente, que ainda não está completo, mas como ele não é exclusivo, não rejeita nenhum concurso; ele aceita o bem que pode servir à grande causa da Humanidade, venha de onde vier, mesmo que venha dos seus adversários.

Como dissemos no começo, não empreenderemos a refutação da teoria exposta no Solidarité sobre a fonte das manifestações inteligentes. Sobre isto apenas diremos poucas palavras.

Como se vê, essa teoria não é outra senão um dos primeiros sistemas que surgiram na origem do Espiritismo, quando a experiência ainda não havia elucidado a questão. Ora, é notório que tal opinião está hoje reduzida a algumas raras individualidades. Se ela estivesse certa, por que não teria prevalecido? Como é que milhões de espíritas que há quinze anos fazem experiências no mundo inteiro e em todas as línguas, que se recrutam em sua maioria na classe esclarecida, que contam em suas fileiras homens de saber e de incontestável valor intelectual, tais como médicos, engenheiros, magistrados etc., teriam constatado a realidade das manifestações, se ela não existisse? Podemos admitir razoavelmente que todos se tenham iludido? Que não se tenham encontrado entre eles homens de bastante bomsenso e de perspicácia para reconhecer a verdadeira causa? Como dissemos, essa teoria não é nova e não passou despercebida entre os espíritas; ao contrário, tem sido seriamente meditada e explorada por eles, e é precisamente porque a viram desmentida pelos fatos, impotente para explicá-los todos, que ela foi abandonada.

É grave erro crer que os espíritas tenham vindo com a ideia preconcebida da intervenção dos Espíritos nas manifestações; se assim foi com alguns, a verdade é que a maioria deles não chegou à crença senão depois de ter passado pela dúvida ou pela incredulidade.

É igualmente um erro crer que, sem o a priori da crença nos Espírito, jamais se tivessem lembrado de fazer girar as mesas. O fenômeno das mesas girantes e falantes era conhecido nos tempos de Tertuliano e na China de épocas imemoriais. Na Tartária e na Sibéria conheciam as mesas volantes[2]. Em certas províncias da Espanha servem-se de peneiras suspensas pelas pontas de tesouras. Os que interrogam pensam que são Espíritos que respondem? Absolutamente. Perguntailhes o que é e eles não sabem; são as mesas e as peneiras dotadas de uma força desconhecida; eles interrogam esses movimentos como os da varinha de condão, sem ir além do fato material.

Os fenômenos espíritas modernos não começaram pelas mesas girantes, mas pelas pancadas espontâneas dadas nas paredes e nos móveis; esses ruídos causaram espanto, surpreenderam; seu modo de percussão tinha algo de insólito, um caráter intencional, uma persistência que parecia indicar um ponto determinado, como quando alguém bate para chamar a atenção. Os primeiros movimentos de mesas ou outros objetos foram igualmente espontâneos, como ainda hoje o são em certos indivíduos que não têm qualquer conhecimento do Espiritismo. Dá-se aqui como na maior parte dos fenômenos naturais que se produzem diariamente e nada obstante passam desapercebidos, cuja causa fica ignorada, até o momento em que observadores sérios e mais esclarecidos prestem atenção neles, estudem-nos e os explorem.

Assim, de duas teorias contrárias nascidas na mesma época, uma cresce com o tempo, por força da experiência, generaliza-se, ao passo que a outra se extingue. Em favor da qual há presunção de verdade e de sobrevivência? Não damos isto como prova, mas como um fato que merece ser levado em consideração.

O Sr. Fauvety apoia-se em que nada encontrou nas comunicações mediúnicas que ultrapasse o alcance do cérebro humano. Eis aí, ainda, uma velha objeção cem vezes refutada pela própria Doutrina Espírita. Alguma vez o Espiritismo teria dito que os Espíritos são seres fora da Humanidade? Ao contrário, ele vem destruir o preconceito que deles faz seres excepcionais, anjos ou demônios, intermediários entre os homens e a Divindade, espécies de semideuses.

Ele repousa sobre o princípio que os Espíritos não são senão homens despojados de seu envoltório material; que o mundo visível se derrama incessantemente, pela morte, no mundo invisível, e este no mundo carnal pelos nascimentos.

Desde que os Espíritos pertencem à Humanidade, por que haveriam de querer que eles tivessem uma linguagem sobre-humana? Nós sabemos que alguns dentre eles não sabem mais, e por vezes sabem muito menos que certos homens, porquanto se instruem com estes últimos; os que eram incapazes de fazer obras-primas quando vivos, não as farão como Espíritos; o Espírito de um hotentote não falará como um acadêmico, e o Espírito de um acadêmico, que não passa de um ser humano, não falará como um deus.

Não é, pois, na excentricidade de suas ideias e pensamentos, na superioridade excepcional de seu estilo, que se deve buscar a prova da origem espiritual das comunicações, mas nas circunstâncias que atestam que, numa multidão de casos, o pensamento não pode vir de um encarnado, mesmo que fosse da mais banal trivialidade.

Desses fatos ressalta a prova da existência do mundo invisível em cujo meio vivemos, e por isto os Espíritos do mais baixo escalão o provam tão bem quanto os mais elevados. Ora, a existência do mundo invisível em nosso meio, parte integrante da Humanidade terrena, desaguadouro das almas desencarnadas e fonte das almas encarnadas, é um fato capital, imenso; é toda uma revolução nas crenças; é a chave do passado e do futuro do homem, que em vão procuraram todas as filosofias, como os sábios em vão buscaram a chave dos mistérios astronômicos antes de conhecer a lei da gravitação. Que acompanhem a fieira das consequências forçadas deste único fato: a existência do mundo invisível em torno de nós, e chegarão a uma transformação completa, inevitável, nas ideias, para a destruição dos preconceitos e dos abusos delas decorrentes e, por consequência, a uma modificação das relações sociais.

Eis aonde leva o Espiritismo. Sua doutrina é o desenvolvimento, a dedução das consequências do fato principal, cuja existência ele acaba de revelar. Suas consequências são inumeráveis, porque pouco a pouco elas atingem todos os ramos da ordem social, tanto no físico quanto no moral. É o que compreendem todos os que se deram ao trabalho de estudá-lo seriamente, e que compreenderão ainda melhor mais tarde, mas não os que, só lhe tendo visto a superfície, imaginam que ele esteja todo inteiro numa mesa que gira ou em perguntas pueris sobre a identidade de Espíritos.

Para maiores desenvolvimentos das questões tratadas neste artigo, remetemos ao primeiro capítulo de A Gênese: Caráter da revelação espírita[3].



[1] Ver, para resposta a várias proposições contidas neste artigo: O Livro dos Médiuns, Cap. IV, Sistemas. ─ Introdução de O Livro dos Espíritos. Que é o Espiritismo? Cap. I, Pequena Conferência.


[2] Revista Espírita de outubro de 1859.


[3] Publicado em brochura separada. Preço, 15 centavos; pelo correio, 20 centavos.



O partido espírita

Um dos nossos correspondentes de Sens nos transmitiu as observações seguintes, sobre a qualificação de partido dada ao Espiritismo, a propósito de nosso artigo do mês de julho, sobre o mesmo assunto.

“Num artigo do último número da Revista, intitulado: O partido espírita, dizeis que, uma vez que dão esse nome ao Espiritismo, ele o aceita. Mas deve aceitá-lo? Isto talvez mereça um sério exame.

“Todas as religiões, assim como o Espiritismo, não ensinam que todos os homens são irmãos, que são todos filhos de um pai comum, que é Deus? Ora, deveria haver partidos entre os filhos de Deus? Não é uma ofensa ao Criador? Porque o objetivo dos partidos é armar os homens uns contra os outros; e pode a imaginação conceber maior crime do que armar os filhos de Deus, uns contra os outros?

“Tais são, senhor, as reflexões que julguei dever submeter à vossa apreciação. Talvez fosse oportuno submetê-las, também, à dos benevolentes Espíritos que guiam os trabalhos do Espiritismo, a fim de conhecer a sua opinião. Esta questão talvez seja mais grave do que parece à primeira vista. De minha parte, repugnar-me-ia pertencer a um partido. Creio que o Espiritismo deve considerar os partidos como uma ofensa a Deus.”

Estamos perfeitamente de acordo com o nosso honrado correspondente, cuja intenção só podemos louvar. Contudo, cremos que seus escrúpulos são um pouco exagerados, no caso em apreço, sem dúvida porque não examinou a questão suficientemente.

A palavra partido implica, por sua etimologia, a ideia de divisão, de cisão e, por conseguinte, a de luta, de agressão, de violência, de intolerância, de ódio, de animosidade, de vingança, coisas todas contrárias ao espírito do Espiritismo. O Espiritismo, não tendo nenhum desses caracteres, pois que os repudia, por suas próprias tendências não é um partido na acepção vulgar da palavra, e o nosso correspondente tem muitíssima razão para repelir a qualificação sob esse ponto de vista.

Mas, ao nome de partido se liga também a ideia de uma força, física ou moral, bastante forte para pesar na balança, bastante preponderante para que se deva contar com ela; aplicá-la ao Espiritismo, pouco ou nada conhecido, é dar-lhe um atestado de notória existência, uma posição entre as opiniões, constatar a sua importância e, como consequência, provocar o seu exame, o que ele não cessa de pedir. Sob este aspecto, ele devia repudiar tanto menos essa qualificação, embora fazendo reservas sobre o sentido a ligar a isto, quanto, partida do alto, ela dava um desmentido oficial aos que pretendem que o Espiritismo é um mito sem consistência, que eles se gabavam vinte vezes de haver sepultado. Foi possível julgar do alcance desta palavra pelo ardor desajeitado com que certos órgãos da imprensa dela se apoderaram para transformá-la num espantalho.

É por esta consideração, e neste sentido, que dissemos que o Espiritismo aceita o título de partido, já que lho dão, porque significava engrandecê-lo aos olhos do público. Mas não temos a intenção de fazê-lo perder sua qualidade essencial, a de doutrina filosófica moralizadora, que constitui a sua glória e a sua força. Longe de nós, pois, o pensamento de transformar em partidários os adeptos de uma doutrina de paz, de tolerância, de caridade e de fraternidade. A palavra partido, aliás, não implica sempre a ideia de luta, de sentimentos hostis; não se diz: o partido da paz; o partido das criaturas honestas? O Espiritismo já provou, e provará sempre, que pertence a essa categoria.

Aliás, faça o que fizer, o Espiritismo não pode deixar de ser um partido. O que é, com efeito, um partido, abstração feita da ideia de luta? É uma opinião que não é partilhada senão por uma parte da população; mas essa qualificação não é dada senão às opiniões que contam um número de aderentes bastante considerável para chamar a atenção e representar um papel. Ora, não sendo ainda opinião de todos, a opinião espírita é necessariamente um partido em relação às opiniões contrárias que o combatem, até que ele os tenha unido a todos. Em virtude de seus princípios, ele não é agressivo; ele não se impõe; ele não subjuga; ele não pede para si senão a liberdade de pensar à sua maneira, seja. Mas, a partir do momento que é atacado, tratado como pária, ele deve defender-se e reivindicar para si o que é de direito comum; ele deve, é seu dever, sob pena de ser acusado de renegar a sua causa, que é a de todos os irmãos em crença, que não poderá abandonar sem covardia. Ele entra, pois, forçosamente na luta, por maior repugnância que experimente; ele não é o inimigo de ninguém, é verdade, mas tem inimigos que procuram arrasá-lo; é por sua firmeza, por sua perseverança e por sua coragem que ele se lhes imporá; suas armas são muito diferentes das armas dos adversários, isto também é verdade, mas ele não deixa de ser para eles, e a despeito de sua vontade, um partido, pois não lhe teriam dado este título se não o tivessem julgado bastante forte para contrabalançá-los.

Tais são os motivos pelos quais cremos que o Espiritismo podia aceitar a qualificação de partido que lhe era dada por seus antagonistas, sem que ele a tenha tomado por si mesmo, porque era levantar a luva que lhe era atirada. Nós pensamos que podia, sem repudiar os seus princípios.


Perseguições

Pelo fim de 1864 foi pregada uma perseguição contra o Espiritismo em várias cidades do sul, e seguida de alguns efeitos. Eis um resumo de um desses sermões que nos foi enviado na ocasião, com todas as indicações necessárias para constatar sua autenticidade. Apreciarão a nossa reserva não citando os lugares, nem as pessoas:

“Fugi, cristãos; fugi desses homens perdidos e dessas mulheres más que se entregam a práticas que a Igreja condena! Não tenhais nenhuma relação com esses loucos e essas loucas; abandonai-os a um isolamento absoluto. Fugi deles como de criaturas perigosas. Não os suporteis ao vosso lado e expulsai-os do lugar santo, cujo acesso é interdito à sua indignidade.

“Vede esses homens perdidos e essas mulheres más que se ocultam na sombra e que se reúnem em segredo para propagar suas ignóbeis doutrinas; segui-os como eu em seus covis. Não se diriam conspiradores de baixo escalão, satisfazendo-se nas trevas para aí formar seus infames conchavos? Eles conspiram com audácia, com efeito, ajudados por Satã, contra a nossa santa madre Igreja, que Jesus estabeleceu para reinar na Terra. Que fazem eles ainda, esses homens ímpios e essas mulheres sem-vergonha? Eles blasfemam contra Deus; eles negam as sublimes verdades que durante séculos inspiraram o mais profundo respeito aos seus antepassados; eles se enfeitam com uma falsa caridade, do que só conhecem o nome, e dela se servem como manto para ocultar sua ambição! Eles se introduzem, como lobos rapaces, em vossas residências para seduzir vossas filhas e vossas mulheres e para vos perder a todos para sempre; mas vós os expulsareis de vossa presença como seres malfazejos!

“Compreendestes, cristãos, quais são os que assinalo à vossa reprovação! São os espíritas! E por que eu não os nomearia? É tempo de os repelir e de amaldiçoar as suas doutrinas infernais!”

Os sermões deste gênero estavam na ordem do dia naquela época. Se exumamos este documento dos nossos arquivos, após quatro anos, é para responder à qualificação de partido perigoso dada aos espíritas, nestes últimos tempos, por certos órgãos da imprensa. Na circunstância precitada, de que lado estava a agressão, a provocação, numa palavra, o espírito de partido? Seria possível levar mais longe a excitação ao ódio dos cidadãos uns contra os outros, à divisão das famílias? Tais pregações não lembram as da época desastrosa em que essas mesmas regiões eram ensanguentadas pelas guerras de religião, em que o pai estava armado contra o filho e o filho contra o pai? Nós não os julgamos do ponto de vista da caridade evangélica, mas do da prudência. É mesmo político assim excitar as paixões fanáticas numa região onde o passado ainda está vivaz? Onde a autoridade muitas vezes tem dificuldade em prevenir os conflitos? É prudente aí exibir de novo os fachos da discórdia? Queriam então aí renovar a cruzada contra os albigenses e a guerra das Cévennes? Se semelhantes sermões tivessem sido pregados contra os protestantes, represálias sangrentas seriam inevitáveis. Hoje se lançam contra o Espiritismo porque, não tendo ainda existência legal, julgam que tudo é permitido contra ele.

Pois bem! Qual tem sido, em todos os tempos, a atitude dos espíritas, em presença dos ataques de que têm sido objeto? A da calma, da moderação. Não deveriam bendizer uma doutrina cuja força é bastante grande para pôr um freio às paixões turbulentas e vingativas? Notai, entretanto, que em parte alguma os espíritas formam um corpo constituído; que eles não estão arregimentados em congregações obedientes a uma palavra de ordem; que não há entre eles qualquer filiação patente ou secreta; eles sofrem muito simplesmente e individualmente a influência de uma ideia filosófica, e essa ideia, livremente aceita pela razão, e não imposta, basta para modificar suas tendências, porque eles têm consciência de estar com a verdade. Eles veem esta ideia crescer sem cessar, infiltrar-se em toda parte, ganhar terreno diariamente; eles têm fé no seu futuro, porque ela está em harmonia com os princípios da eterna justiça; porque ela responde às necessidades sociais e porque se identifica com o progresso, cuja marcha é irresistível. Eis por que eles são calmos ante os ataques de que ela é objeto; eles acreditariam dar uma prova de desconfiança em sua força, se a sustentassem pela violência e por meios materiais. Eles riem-se desses ataques, pois os mesmos não resultam senão em propagá-la mais rapidamente, atestando a sua importância.

Mas os ataques não se limitam à ideia. Embora a cruzada contra os espíritas já não seja pregada abertamente como era há alguns anos, seus adversários não se tornaram nem mais benevolentes, nem mais tolerantes; a perseguição não é menos exercida sorrateiramente, quando se oferece a ocasião, contra os indivíduos que ela atinge, não só na sua liberdade de consciência, que é um direito sagrado, mas mesmo em seus interesses materiais. Em falta de razão, os adversários do Espiritismo ainda esperam derrubá-lo pela calúnia e pela repressão. Sem dúvida se equivocam, mas enquanto esperam, há algumas vítimas. Ora, desnecessário dissimular que a luta não está terminada; os adeptos devem, pois, armar-se de resolução para avançar com firmeza pela via que lhes é traçada.

É não só com vistas ao presente, mas sobretudo prevendo o futuro, que julgamos conveniente reproduzir a instrução que se segue, sobre a qual chamamos a séria atenção dos adeptos. Além disto, ela constitui um desmentido aos que buscam apresentar o Espiritismo como um partido perigoso para a ordem social. Praza a Deus que todos os partidos não obedeçam senão a semelhantes inspirações, porquanto a paz não tardaria a reinar na Terra.

(Paris, 10 de dezembro de 1864 - Médium: Sr. Delanne)

“Meus filhos, estas perseguições, como tantas outras, cairão e não podem ser prejudiciais à causa do Espiritismo. Os bons Espíritos velam pela execução das ordens do Senhor: nada tendes a temer. Nada obstante, é uma advertência para vos manterdes em guarda e agir com prudência. É uma tempestade que rebenta, como tendes que esperar e ver rebentar muitas outras, conforme vos temos anunciado, porque não deveis pensar que os vossos inimigos facilmente se darão por vencidos. Não, eles lutarão passo a passo, até se convencerem de sua impotência. Assim, deixai-os lançar o seu veneno, sem vos inquietardes com o que possam dizer, porque bem sabeis que nada podem contra a Doutrina, que deve triunfar, apesar de tudo. Eles bem o sentem, e é isto o que os exaspera e redobra o seu furor.

É preciso esperar que na luta eles façam algumas vítimas, mas aí estará a prova pela qual o Senhor reconhecerá a coragem e a perseverança de seus verdadeiros servidores. Que mérito teríeis em triunfar sem esforço? Como valentes soldados, os feridos serão os mais recompensados; e que glória para os que saírem da luta mutilados e cobertos de honrosas cicatrizes! Se um povo inimigo viesse invadir o vosso país, não sacrificaríeis os vossos bens, a vossa vida por sua independência? Por que, então, vos lamentaríeis de alguns arranhões que recebeis numa luta cujo desfecho inevitável conheceis, e na qual estais certos da vitória? Agradecei, pois, a Deus por vos haver posto na linha de frente, para que sejais dos primeiros a recolher as palmas gloriosas que serão o prêmio de vosso devotamento à santa causa. Agradecei aos vossos perseguidores, que vos dão oportunidade de mostrar a vossa coragem e de adquirir mais mérito. Não vades ao encontro da perseguição; não a busqueis, mas se ela vier, aceitai-a como uma das provas da vida, porque é uma delas, e uma das mais proveitosas ao vosso adiantamento, conforme a maneira pela qual a suportardes. Acontece com esta prova o mesmo que acontece em todas as outras: por vossa conduta podeis fazer que ela seja fecunda ou sem frutos para vós.

Vergonha aos que tiverem recuado e preferido o repouso da Terra àquele que lhes estava preparado, porque o Senhor fará a conta de seus sacrifícios. Ele lhes dirá: “Que pedis, vós que nada perdestes, nada sacrificastes; que não renunciastes nem a uma noite do vosso sono, nem a um pouco de vossa mesa, nem deixastes um pedaço de vossas roupas no campo de batalha? Que fizestes durante esse tempo, enquanto os vossos irmãos marchavam ao encontro do perigo? Mantiveste-vos de lado, para deixar passar a tempestade e vos mostrar depois do perigo, ao passo que os vossos irmãos subiam resolutamente para a estacada.

Pensai nos mártires cristãos! Eles não tinham, como vós, as comunicações incessantes do mundo invisível para reanimar a sua fé, contudo, não recuavam ante o sacrifício, nem de sua vida, nem de seus bens. Ademais, já passou o tempo dessas provas cruéis; os sacrifícios sangrentos, as torturas, as fogueiras não mais se renovarão; vossas provas são mais morais do que materiais; elas serão, por consequência, menos penosas, mas não serão menos meritórias, porque tudo é proporcional ao seu tempo. Hoje é o espírito que domina, eis por que o espírito sofre mais do que o corpo. A predominância das provas espirituais sobre as provas materiais é um indício do adiantamento do espírito. Além disto, vós sabeis que muitos dos que sofreram pelo Cristianismo vêm concorrer para o coroamento da obra, e são eles que sustentam a luta com mais coragem; eles juntam, assim, uma palma às que já haviam conquistado.

O que vos digo, meus amigos, não é para vos decidir a entrar estouvadamente na luta, de cabeça baixa, não; ao contrário, eu vos digo: Agi com prudência e circunspecção, no próprio interesse da Doutrina, que sofreria por causa de um zelo irrefletido. Mas se um sacrifício for necessário, fazei-o sem murmurar e pensai que uma perda temporal nada é ao lado da compensação que por isso recebereis.

Não vos inquieteis com o futuro da Doutrina. Entre os que hoje a combatem, mais de um será seu defensor de amanhã. Os adversários se agitam; em dado momento quererão reunir-se para desfechar um grande golpe e derrubar o edifício começado, mas seus esforços serão vãos, e a divisão afetará as suas fileiras. Aproximam-se os tempos em que os acontecimentos favorecerão o desabrochar do que semeais. Considerai a obra na qual trabalhais, sem vos preocupardes com o que possam dizer ou fazer. Vossos inimigos fazem tudo o que podem para vos empurrar para além dos limites da moderação, a fim de poder dar um pretexto às suas agressões. Seus insultos não têm outra finalidade, mas a vossa indiferença e a vossa longanimidade os confundem. À violência, continuai, pois, a opor a suavidade e a caridade; fazei o bem aos que vos querem mal, a fim de que mais tarde eles possam distinguir o verdadeiro do falso. Tendes uma arma poderosa: a do raciocínio. Servivos dela, mas não a mancheis jamais pela injúria, o supremo argumento dos que não têm boas razões para dar. Esforçai-vos, enfim, pela dignidade de vossa conduta, para fazer respeitar em vós o título de espírita.

São Luís.




Espiritismo retrospectivo

A mediunidade pelo copo D'Água em 1706


(Em casa do Duque de Orleans)



Podem compreender-se sob o título geral de Espiritismo Retrospectivo os pensamentos, as doutrinas, as crenças e todos os fatos espíritas anteriores ao Espiritismo Moderno, isto é, até 1850, data na qual começaram as observações e os estudos sobre esses tipos de fenômenos. Não foi senão em 1857 que tais observações foram coordenadas em corpo de doutrina metódica e filosófica. Esta divisão nos parece útil à história do Espiritismo.

O fato seguinte é relatado nas Memórias do Duque de Saint-Simon[1]:

“Lembro-me também de uma coisa que ele (o Duque de Orléans) me contou no salão de Marly, por ocasião de sua partida para a Itália, cuja singularidade, verificada pelo acontecimento, me leva a não omiti-lo. Ele era curioso por todas as sortes de artes e ciências, e, com muitíssimo espírito, tinha tido toda a sua vida a fraqueza, tão comum na corte dos filhos de Henrique II, que Catarina de Médicis tinha, entre outros males, trazido da Itália. Tanto quanto era possível, ele tinha procurado ver o diabo, sem ter conseguido, conforme me disse muitas vezes, e ver coisas extraordinárias e saber o futuro. A Sery tinha em casa uma filha de oito a nove anos, que ali havia nascido e dali nunca havia saído, e que tinha a ignorância e a simplicidade dessa idade e dessa educação. Entre outros velhacos envolvidos com curiosidades ocultas, dos quais o Sr. Duque de Orléans tinha visto muitos em sua vida, apresentaram-lhe um que pretendia fazer ver, num copo cheio d’água, tudo quanto se quisesse saber. Ele pediu alguém jovem e inocente para aí olhar, e essa pequena foi considerada indicada para tanto. Então eles se divertiram em querer saber o que se passava nessa mesma ocasião em lugares distantes, e a pequena via e descrevia o que estava vendo. Aquele homem pronunciava alguma coisa baixinho sobre o copo cheio d’água e logo ali observavam com sucesso.

“Os embustes de que tantas vezes tinha sido vítima o Sr. Duque de Orléans levaram-no a uma prova que pudesse dar-lhe certeza. Ordenou baixinho, ao ouvido de um de seus servidores, que fosse imediatamente à casa da Sra. de Nancré; que verificasse quem ali estava, o que faziam, a posição e o mobiliário da sala e a situação de tudo quanto ali se passava, e sem perder um instante nem falar a ninguém, vir dizer-lhe ao ouvido. Num relance a missão foi executada, sem que ninguém se apercebesse de que se tratava; e a menina, sempre na sala. Quando o Sr. Duque de Orléans foi informado, ele pediu à menina que visse quem estava em casa da Sra. de Nancré e o que ali se passava. Logo ela lhe contou, palavra por palavra, tudo o que tinha visto o enviado do Sr. Duque de Orléans, a descrição do rosto, da aparência, das roupas, das pessoas que ali estavam, sua situação na sala, as pessoas que jogavam em duas mesas diferentes, as que olhavam ou conversavam sentadas ou de pé, a disposição dos móveis, numa palavra, tudo. Na mesma hora o Sr. Duque de Orléans determinou que Nancré fosse lá, e ele relatou ter encontrado tudo como a menina havia dito, e como o valete que lá tinha estado havia contado ao ouvido do Sr. Duque de Orléans.

“Ele me falava pouco dessas coisas, porque eu tomava a liberdade de embaraçá-lo. Tomei a liberdade de injuriá-lo, neste caso, e de dizer-lhe que eu julgava poder demovê-lo da crença nesses sortilégios, numa ocasião, sobretudo, em que ele devia ter o espírito ocupado com tantas grandes coisas. ‘Isto não é tudo, disse-me ele: não vos contei isto senão para chegar ao resto.’ Em seguida contou-me que, encorajado pela exatidão do que a menina havia visto na sala da Sra. Nancré, ele quis ver algo de mais importante, e o que se passaria com a morte do rei, mas sem indagar a data, que não se podia ver no copo. Então ele fez essa pergunta à menina, que jamais tinha ouvido falar de Versalhes, nem tinha visto ninguém da corte senão ele. Ela olhou e lhe explicou demoradamente tudo o que via. Fez com exatidão a descrição do quarto do rei em Versalhes, e do mobiliário que, com efeito, aí se achava por ocasião de sua morte. Ela o descreveu perfeitamente em seu leito, e disse que estava de pé junto ao leito, ou no quarto, um menino bem comportado, seguro pela Sra. de Ventadour, com o que gritou, porque a tinha visto em casa da senhorita Sery. Ela lhes fez conhecer a Sra. de Maintenon, o rosto singular de Fayon, a Sra. Duquesa de Orléans, a senhora duquesa e a Sra. Princesa de Conti; gritou ao Sr. Duque de Orléans; numa palavra, deu-lhe a conhecer o que lá havia de príncipes, de senhores, de criados e de valetes. Quando acabou de dizer tudo, o Sr. Duque de Orléans, surpreso porque não lhe tinha referido Monsenhor, o Sr. Duque de Bourgonha, o Sr. Duque de Berry, lhe perguntou se não via pessoas com tais e tais feições. Ela respondeu com firmeza que não, e repetiu aquelas que ela via. Era o que o Sr. Duque de Orléans não podia compreender e de que se admirou muito comigo, em vão procurando a razão.

“A cerimônia de exaltação o explicou. Estávamos, então, em 1706. Os quatro estavam então cheios de vida e de saúde, e os quatro tinham morrido antes do rei. A mesma coisa aconteceu com o Sr. Príncipe, com o Sr. Duque e com o Sr. Príncipe de Conti, que ela não viu, enquanto viu os filhos dos dois últimos, o Sr. de Maine, os seus, e o Sr. Conde de Toulouse. Mas até a exaltação, isto ficou na obscuridade. Terminada esta curiosidade, o Sr. Duque de Orléans quis saber o que aconteceria consigo. Então não foi mais no copo d’água. O homem que lá estava se ofereceu para lhe mostrar, como se pintado na parede da sala, desde que ele não tivesse medo de ver. E ao cabo de um quarto de hora, de algumas afetações diante de todos, a figura do Sr. Duque de Orléans, vestido como estava então e em tamanho natural, apareceu de repente na parede, como em pintura, com uma coroa na cabeça. Ela não era da França, nem da Espanha, nem da Inglaterra, nem imperial; o Sr. Duque de Orléans, que a considerou de olhos arregalados, jamais pôde adivinhá-la, e jamais tinha visto uma semelhante; ela tinha apenas quatro círculos e nada no topo. Essa coroa lhe cobria a cabeça.

“Da obscuridade precedente e desta, aproveitei a ocasião para lhe censurar a vaidade dessas espécies de curiosidades, os justos enganos do diabo, que Deus permite para castigar as curiosidades que ele proíbe, o nada e as trevas que daí resultam em vez da luz e da satisfação que nelas se buscam. Ele seguramente estava bem longe de ser regente do reino, e de imaginá-lo. Talvez fosse o que lhe anunciava essa coroa singular. Tudo isto se havia passado em Paris, em casa de sua amante, em presença de sua mais estreita intimidade, na véspera do dia em que ele me contou, e eu o achei tão extraordinário que aqui lhe dei lugar, não para aprová-lo, mas para fazer o registro.”

A credibilidade do Duque de Saint-Simon é tanto menos suspeita pelo fato de ele se opor a essa espécie de ideias; não se pode, pois, duvidar que tenha registrado fielmente o relato do Duque de Orléans. Quanto ao fato em si mesmo, não é provável que o Duque o tivesse inventado à toa. Os fenômenos que se produzem em nossos dias, aliás, provam a sua possibilidade; o que, então, passava por algo de maravilhoso, é agora um fato muito natural. Certamente não se pode levar à conta da imaginação da menina, que aliás, sendo desconhecida do indivíduo, não lhe podia servir de comparsa. As palavras pronunciadas sobre o copo d’água sem dúvida não tinham outro objetivo senão dar ao fenômeno uma aparência misteriosa e cabalística, segundo as crenças da época; mas podiam muito bem exercer uma ação magnética inconsciente, e isto com tanto mais razão porque aquele homem parecia dotado de uma vontade enérgica. Quanto ao fato do quadro que ele fez aparecer na parede, até o presente não se lhe pode dar qualquer explicação. Ademais, a magnetização prévia da água não parece ser indispensável.

Um dos nossos correspondentes da Espanha citava-nos, há alguns dias, o seguinte fato, que se havia passado sob suas vistas, há uns quinze anos, numa época e numa região onde o Espiritismo era desconhecido e quando ele mesmo levava a incredulidade até os últimos limites. Em sua família tinham ouvido falar da faculdade que têm certas pessoas de ver numa garrafa de cristal cheia d’água, e a isso não ligavam mais importância do que nas crendices populares. Não obstante, quiseram experimentar, por curiosidade. Uma moça, após um instante de concentração, viu um parente dele, do qual fez o retrato exato; ela o viu numa montanha, a algumas léguas dali, onde não podiam supor que ele estivesse, depois descer num despenhadeiro, voltar, fazer diversas idas e vindas. Quando o indivíduo regressou e lhe disseram de onde vinha e o que tinha feito, ele ficou muito surpreso, pois não havia comunicado a ninguém a sua intenção. Aqui a imaginação está completamente fora de causa, porque o pensamento de nenhum dos assistentes poderia agir sobre o espírito da moça.

Sendo a influência da imaginação a grande objeção que opõem a esse gênero de fenômenos, como a todos os da mediunidade em geral, seria preciso colher com o maior cuidado os casos em que é demonstrado que essa influência não se pode dar. O fato seguinte é um exemplo não menos concludente.

Um outro de nossos assinantes, de Palermo, na Sicília, esteve ultimamente em Paris; em sua ausência, a filha, que jamais veio a Paris, recebeu o número da Revista onde se trata do copo d’água; ela quis tentar ver seu pai. Não o viu, mas viu várias ruas que, pela descrição que fez ao lhe escrever, ele facilmente reconheceu como sendo as ruas de la Paix, Castiglione e Rivoli. Ora, essas ruas eram precisamente aquelas por onde ele havia passado no mesmo dia em que a experiência foi feita. Assim, aquela jovem senhora não vê o pai, que ela conhece, que deseja ver, no qual tem o pensamento concentrado, ao passo que vê o caminho por ele percorrido, que ela não conhecia. Que razão dar a essa originalidade? Os Espíritos nos disseram que as coisas se haviam passado dessa maneira para dar uma prova irrecusável de que em nada a imaginação havia entrado no caso.

Pelas reflexões que seguem, completaremos o que dissemos sobre o mesmo assunto no número de junho.

Tanto o copo quanto a garrafa de cristal, com ou sem água, evidentemente representam, neste fenômeno, o papel de agentes hipnóticos; a concentração da visão e do pensamento em um ponto provocam um maior ou menor desprendimento da alma e, por conseguinte, o desenvolvimento da visão psíquica. (Vide a Revista de janeiro de 1860 ─ Detalhes sobre o hipnotismo).

Esse gênero de mediunidade pode dar lugar a modos especiais de manifestações, a percepções novas; é um meio a mais de constatar a existência e a independência da alma, e, por isto mesmo, um assunto de estudo muito interessante; mas, como dissemos, seria um erro pensar que aí esteja um meio melhor que outro de saber tudo quanto se deseja, porque há coisas que nos devem ficar ocultas, ou que não podem ser reveladas senão em seu devido tempo. Quando chegar o momento de conhecê-las, seremos informados por uma das mil maneiras de que dispõem os Espíritos, quer sejamos, quer não sejamos espíritas. Mas o copo d’água não é mais eficaz do que outra. Pelo fato de se haverem dele servido os Espíritos para dar indicações salutares para as doenças, não se segue que seja um processo infalível para triunfar de todos os males, mesmo dos que não devem ser curados. Se uma cura é possível pelos Espíritos, estes dão seu conselho por um meio qualquer e por qualquer médium apto para esse gênero de comunicação. A eficácia está na prescrição, e não na maneira segundo a qual ela é dada.

O copo d’água também não é uma garantia contra a interferência dos maus Espíritos; a experiência já provou que os Espíritos mal-intencionados se servem desse meio como de outros para induzir em erro e abusar da credulidade. Em que seria possível opor-lhes um obstáculo mais poderoso? Temo-lo dito muitas vezes, e nunca seria demais repeti-lo: Não há mediunidade ao abrigo dos maus Espíritos, e não existe nenhum processo material para afastá-los. O melhor, o único preservativo está em si próprio; é por sua própria depuração que os afastamos, como pela limpeza do corpo nos preservamos contra insetos nocivos.



[1] Vide o número de junho de 1866 da Revista Espírita.



A reencarnação no Japão



São Francisco-Xavier e o Bonzo Japonês



O relato seguinte é extraído da história de São Francisco Xavier pelo Pe. Bouhours. É uma discussão teológica entre um bonzo japonês chamado Tucarondono e São Francisco Xavier, então missionário no Japão.

“─ Não sei se me conheces, ou melhor, se me reconheces, disse Tucarondono a São Francisco Xavier.

“─ Não me lembro de jamais tê-lo visto, respondeu-lhe este.

“Então o bonzo, rebentando de riso e se voltando para outros bonzos, seus confrades, que ele tinha trazido consigo, lhes disse:

“─ Bem vejo que não teria dificuldade em vencer um homem que tratou comigo mais de cem vezes, e que finge jamais me ter visto.

“Em seguida, olhando Xavier com um sorriso de desprezo, continuou:

“─ Nada te resta das mercadorias que me vendeste no porto de Frénasoma?

“─ Na verdade, replicou Xavier com uma expressão sempre serena e modesta, em minha vida não fui negociante e jamais estive em Frénasoma.

“─ Ah! Que esquecimento e que tolice! replicou o bonzo, fazendo-se de admirado e continuando suas risadas: O que! É possível que tenhas esquecido isto?

“─ Avivai-me a memória, prosseguiu docemente o Pai, vós que tendes mais memória e mais espírito que eu.

“─ Bem que eu quero, disse o bonzo, todo orgulhoso do elogio que Xavier lhe havia feito. Hoje faz exatamente mil e quinhentos anos que tu e eu, que éramos negociantes, fazíamos o nosso comércio em Frénasoma e que te comprei cem peças de seda muito barato. Lembras-te agora?

“O santo, que avaliou até onde iria a conversa do bonzo perguntou-lhe, honestamente, que idade tinha ele.

“─ Tenho cinquenta e dois anos, disse Tucarondono.

“─ Como é possível, redarguiu Xavier, que fôsseis negociante há quinze séculos, se não há senão meio século que estais no mundo, e que negociássemos naquele tempo, vós e eu, em Frénasoma, se a maioria entre vós outros bonzos ensinais que o Japão não passava de um deserto há mil e quinhentos anos?

“─ Escuta-me, disse o bonzo; tu ouvirás os oráculos e concordarás que temos mais conhecimento das coisas passadas do que vós outros o tendes das coisas presentes.

“─ Deves, pois, saber que o mundo jamais teve começo, e que as almas, a bem dizer, não morrem. A alma se desprende do corpo onde estava encerrada; ela busca um outro, novo e vigoroso, onde renascemos, ora com o sexo mais nobre, ora com o sexo imperfeito, conforme as diversas constelações do céu e os diferentes aspectos da lua. Essas mudanças de nascimento fazem que também mude a nossa sorte. Ora, é a recompensa dos que viveram santamente ter a lembrança fresca de todas as vidas que levaram nos séculos passados e de representar-se em si mesmo todo inteiro, tal qual foi há uma eternidade, sob a forma de príncipe, de negociante, de homem de letras, de guerreiro e sob outras aparências. Ao contrário, alguém como tu que sabe tão pouco de seus negócios, que ignora o que foi e o que fez no curso de uma infinidade de séculos, mostra que seus crimes o tomaram digno da morte tantas vezes que ele perdeu a lembrança das vidas que mudou.”

OBSERVAÇÃO: Não se pode supor que Francisco Xavier tivesse inventado esta história, que não lhe era favorável, nem suspeitar a boa-fé do seu historiador, o Pe. Bouhours. Por outro lado, não é menos certo que era uma armadilha preparada ao missionário pelo bonzo, pois sabemos que a lembrança das vidas anteriores é um caso excepcional e que, em todo caso, jamais comporta detalhes tão precisos. Mas o que ressalta deste fato é que a doutrina da reencarnação existia no Japão naquela época, em condições idênticas, salvo a intervenção das constelações e da Lua, as que são ensinadas em nossos dias pelos Espíritos. Uma outra similitude não menos notável é a ideia que a precisão da lembrança é um sinal de superioridade. Os Espíritos nos dizem, com efeito, que nos mundos superiores à Terra, onde o corpo é menos material e a alma está num estado normal de desprendimento, a lembrança do passado é uma faculdade comum a todos; aí eles se lembram das existências anteriores, como nos lembramos dos primeiros anos de nossa infância. É bem evidente que os japoneses não estão neste grau de desmaterialização, que não existe na Terra, mas esse fato prova que eles têm a sua intuição.



Carta do Sr. Monico

Ao Jornal la mahouna, de Guelma, Argélia

O jornal la Mahouna, de 26 de junho de 1868, publicou a carta seguinte, que reproduzimos com prazer, dirigindo ao autor as mais sinceras felicitações.

“Senhor Diretor,

“Acabo de ler um artigo no Indépendant, de Constantina, de 20 do corrente, apreciando o papel pouco delicado que teria representado um certo Sr. Home, segundo esse jornal (na Inglaterra), começado por estas linhas: ‘Os espíritas, sucessores dos feiticeiros da Idade Média, não se limitam mais a indicar aos imbecis, seus adeptos, tesouros ocultos. Eles arranjam-se para descobri-los em seu proveito.’ Segue a apreciação etc...

“Permiti-me, senhor redator, servir-me do vosso honrado jornal para protestar energicamente contra o autor dessas linhas, tão pouco literárias e tão ferinas para os adeptos dessas ideias, ideias certamente muito desconhecidas, porquanto tão falsamente apreciadas.

“O Espiritismo sucede aos feiticeiros, como a Astronomia sucedeu aos astrólogos. Quer dizer que essa Ciência hoje tão difundida, que esclareceu os homens, dando-lhes a conhecer as imensidades siderais que as religiões primitivas haviam afeiçoado ao seu ideal e para servir aos seus interesses, esposou todas as elucubrações fantasiosas e grosseiras dos astrólogos de outrora?

“Vós não pensais assim.

“Do mesmo modo, o Espiritismo, tão atacado pelos que não o conhecem, vem destruir os erros dos feiticeiros e revelar uma ciência nova à Humanidade. Ele vem explicar esses fenômenos até agora incompreendidos, que a ignorância popular atribuía ao milagre.

“Longe de esposar as superstições de uma outra época, como os feiticeiros, os mágicos etc., como toda essa multidão de párias rebeldes à civilização, empregando esses meios a fim de explorar a ignorância e especular com os vícios, ele vem, digo eu, destruí-los e, ao mesmo tempo, trazer ao serviço do homem uma força imensa, muito superior a todas as trazidas pelas filosofias antigas e modernas.

“Essa força é: conhecimento do passado e do futuro reservado ao homem, respondendo a estas perguntas: De onde venho? Para aonde vou?

“Esta dúvida terrível que pesava sobre a consciência humana, o Espiritismo vem explicá-la, não só teoricamente e por abstração, mas materialmente, isto é, por provas acessíveis aos nossos sentidos, e fora de qualquer aforismo ou sentença teológica.

“As antigas opiniões, muitas vezes nascidas da ignorância e da fantasia, desaparecem pouco a pouco para dar lugar a convicções novas, baseadas na observação, e cuja realidade é das mais manifestas; o traço dos velhos preconceitos se apaga, e o homem mais refletido, estudando com mais atenção esses fenômenos reputados sobrenaturais, neles encontrou o produto de uma vontade manifestando-se fora dele.

“Pelo fato dessa manifestação, o Universo aparece, para o espírita, como um mecanismo conduzido por um número infinito de inteligências, um imenso governo em que cada ser inteligente tem a sua parte de ação sob o olhar de Deus, quer no estado de homem, quer no de alma ou Espírito. Para ele a morte não é um espantalho que faz tremer, nem o nada; ela não é senão o ponto extremo de uma fase do ser e o começo de outra, isto é, muito simplesmente, uma transformação.

“Detenho-me, pois não tenho a pretensão de dar um curso de Espiritismo, e, ainda menos, a de convencer o meu adversário, mas não posso deixar que seja ofendida uma doutrina que proclama como princípio a liberdade de consciência e as máximas do mais depurado Cristianismo, sem protestar com toda a minha alma.

“O Espiritismo tem por inimigos os que não o estudaram nem na sua parte filosófica nem na sua parte experimental; é por isto que o primeiro que surge, sem se dar ao trabalho de se esclarecer, se arroga o direito, a priori, de tratá-lo de absurdo.

“Mas, infelizmente para o homem, sempre foi assim, cada vez que surgiu uma ideia nova. Aí está a História para prová-lo.

“Estando o Espiritismo de acordo com as ciências de nossa época (Vide A Gênese, os Milagres e as Predições segundo o Espiritismo), seus mais autorizados representantes e todos os escritos que saíram de seu seio declararam que ele estava pronto para aceitar todas as ideias baseadas nas verdades científicas e rejeitar todas as que fossem reconhecidas como manchadas de erros; numa palavra, que ele quer marchar à frente do progresso humano.

“Os adeptos desta doutrina, em vez de se esconderem na sombra e de se reunirem nas catacumbas, procedem de maneira muito diversa. É em plena luz e publicamente que emitem as suas ideias e se exercitam na prática de seus princípios.

A opinião espírita na França é representada por cinco revistas ou jornais; na Inglaterra, na Alemanha, na Itália e na Rússia, por quinze folhas hebdomadárias; nos Estados Unidos da América, esse país de liberdade e de progresso em todos os gêneros, por numerosos jornais ou revistas, e os adeptos do Espiritismo nesse país já se contam por milhões, que involuntariamente e sem reflexão, o autor do artigo do Indépendant trata de imbecis.

“Nossa época, tão distanciada dos atos de intolerância religiosa, que se ri das disputas teológicas e dos raios do Vaticano, deveria inspirar melhor o respeito às opiniões contrárias.

“Tende a bondade de receber etc.

“JULES MONICO.”

O mesmo jornal, de 17 de julho, traz outro artigo do Sr. Monico, que anuncia que deve publicar uma série, em resposta a alguns ataques dos antagonistas do Espiritismo. Aí vemos igualmente o anúncio, como estando no prelo, de uma brochura do mesmo autor, intitulada: A liberdade de consciência, e que deve aparecer na primeira quinzena de agosto. Preço: l franco.



Bibliografia

O Espiritismo em Lyon, jornal bimestral, que aparece em Lyon desde 15 de fevereiro, continua com perseverança e sucesso o curso de sua publicação. Como dissemos há tempos, e como ele mesmo diz, não é um jornal com pretensões literárias; seu objetivo, mais modesto, é popularizar, pela modicidade de seu preço, as sãs ideias sobre a Doutrina. Ele é feito fora de qualquer ideia de especulação, porque o excedente dos gastos materiais é lançado na caixa de socorro. É, pois, uma obra de devotamento da parte dos que empreenderam essa pesada tarefa. Pelo bom espírito em que é concebida a sua redação e o louvável objetivo a que se propõe, ele não pode deixar de conciliar as simpatias e o encorajamento de todos os espíritas sinceros. Lemos com vivo prazer, no topo dos últimos números, um aviso, pelo qual informa que o senhor senador prefeito do Ródano autorizou sua venda na via pública. Fazemos votos por sua prosperidade, pois ele deve trazer benefícios à Doutrina e aos infelizes. Por falta de espaço adiamos para o próximo número as reflexões sugeridas por alguns artigos, entre os quais notamos um, no número de 15 de julho, sabiamente concebido, sobre o processo do Sr. Home.

ALLAN KARDEC.


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