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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1869 > Abril
Abril
Aviso muito importante.
A partir de 1.º de abril, o escritório de assinaturas e de expedição da Revista espírita se transfere para a sede da Livraria Espírita, Rua de Lille, 7.
A partir da mesma data, a sede da redação e o domicílio pessoal do Sr. Allan Kardec ficam na Avenida e Villa Ségur, 39, atrás dos Inválidos.
A Sociedade Espírita de Paris provisoriamente fará suas sessões no local da Livraria, na Rua de Lille, 7.
Livraria espírita.
Há algum tempo tínhamos anunciado o projeto de publicação de um catálogo minucioso das obras que interessam ao Espiritismo, e a intenção de juntá-lo, como suplemento, a um dos números da Revista. Nesse ínterim, tendo sido o projeto da criação de uma casa especial para as obras desse gênero concebido e executado por uma sociedade de espíritas, demos-lhe o nosso trabalho, que foi completado à vista de seu novo destino.
Tendo reconhecido a incontestável utilidade dessa fundação e a solidez das bases em que ela está apoiada, não hesitamos em dar-lhe nosso apoio moral.
Eis em que termos ela está anunciada no topo do catálogo que remetemos aos nossos assinantes com o presente número:
“O interesse cada vez maior atribuído aos estudos psicológicos em geral, e em particular o desenvolvimento que as ideias espíritas vêm tomando há alguns anos, fizeram sentir a utilidade de uma casa especial para a concentração dos documentos concernentes a essas matérias. Fora das obras fundamentais da doutrina Espírita, existe um grande número de livros, tanto antigos quanto modernos, úteis ao complemento desses estudos, e que são ignorados, ou sobre os quais faltam informações necessárias para obtê-los. Visando a preencher esta lacuna foi fundada a Livraria Espírita.
“A Livraria Espírita não é uma empresa comercial. Ela foi criada por uma sociedade de espíritas, com vistas aos interesses da doutrina, e renuncia, pelo contrato que os liga, a qualquer especulação pessoal.
“Ela é administrada por um gerente, simples mandatário, e todos os lucros apurados no balanço anual serão por ele lançados na caixa geral do Espiritismo.
“Essa caixa é provisoriamente administrada pelo gerente da Livraria, sob a supervisão da sociedade fundadora. Em consequência, receberá os fundos de qualquer procedência, enviados para esse destino, terá uma contabilidade exata e operará a movimentação até o momento em que as circunstâncias determinarem o seu emprego"
Tendo reconhecido a incontestável utilidade dessa fundação e a solidez das bases em que ela está apoiada, não hesitamos em dar-lhe nosso apoio moral.
Eis em que termos ela está anunciada no topo do catálogo que remetemos aos nossos assinantes com o presente número:
“O interesse cada vez maior atribuído aos estudos psicológicos em geral, e em particular o desenvolvimento que as ideias espíritas vêm tomando há alguns anos, fizeram sentir a utilidade de uma casa especial para a concentração dos documentos concernentes a essas matérias. Fora das obras fundamentais da doutrina Espírita, existe um grande número de livros, tanto antigos quanto modernos, úteis ao complemento desses estudos, e que são ignorados, ou sobre os quais faltam informações necessárias para obtê-los. Visando a preencher esta lacuna foi fundada a Livraria Espírita.
“A Livraria Espírita não é uma empresa comercial. Ela foi criada por uma sociedade de espíritas, com vistas aos interesses da doutrina, e renuncia, pelo contrato que os liga, a qualquer especulação pessoal.
“Ela é administrada por um gerente, simples mandatário, e todos os lucros apurados no balanço anual serão por ele lançados na caixa geral do Espiritismo.
“Essa caixa é provisoriamente administrada pelo gerente da Livraria, sob a supervisão da sociedade fundadora. Em consequência, receberá os fundos de qualquer procedência, enviados para esse destino, terá uma contabilidade exata e operará a movimentação até o momento em que as circunstâncias determinarem o seu emprego"
Profissão de fé espírita americana
Reproduzimos do Salut, de Nova Orleans, a declaração de princípios aprovada na quinta convenção nacional, ou assembleia dos delegados dos espíritas das diversas partes dos Estados Unidos. A comparação das crenças, sobre essas matérias, entre o que se chama a escola americana e a escola europeia, é uma coisa de grande importância, de que cada um poderá convencer-se.
Declaração de princípios
O espiritualismo nos ensina:
Declaração de princípios
O espiritualismo nos ensina:
1. ─
Que o homem tem uma natureza espiritual, bem como uma natureza corporal; ou
antes, que o homem verdadeiro é um Espírito que tem uma forma orgânica composta
de materiais sublimados, que representa uma estrutura correspondente à do corpo
material.
2. ─
Que o homem, como Espírito, é imortal. Tendo reconhecido que sobrevive a essa
mudança chamada morte, pode-se razoavelmente supor que sobreviverá a todas as
vicissitudes futuras.
3. ─
Que há um mundo, ou estado espiritual, com suas realidades substanciais, tanto
objetivas quanto subjetivas.
4. ─
Que o processo da morte física não transforma, de nenhum modo essencial, a
constituição mental ou o caráter moral daquele que a experimenta, pois, se assim
não fosse, sua identidade seria destruída.
5. ─
Que a felicidade ou a infelicidade, tanto no estado espiritual quanto neste,
não depende de um decreto arbitrário ou de uma lei especial, mas antes, do
caráter, das aspirações e do grau de harmonia ou conformidade do indivíduo com
a lei divina e universal.
6. ─
Segue-se que a experiência e os conhecimentos adquiridos desde esta vida se
tornam as bases sobre as quais começa a vida nova.
7. ─
Considerando-se que o crescimento, sob certos aspectos, é a lei do ser humano
na vida presente, e que aquilo que se chama a morte não é, na realidade, senão
o nascimento para uma outra condição de existência que conserva todas as
vantagens adquiridas na experiência desta vida, daí se pode inferir que o
crescimento, o desenvolvimento, a expansão ou a progressão são o destino
infinito do espírito humano.
8. ─
Que o mundo espiritual não está afastado de nós, mas que está perto, que nos
rodeia ou está entremeado ao nosso presente estado de existência, e,
consequentemente, que estamos constantemente sob a vigilância dos seres
espirituais.
9. ─
Que, tendo em vista que os indivíduos passam constantemente da vida terrestre
para a vida espiritual, em todos os graus de desenvolvimento intelectual e
moral, o estado espiritual compreende todos os graus de caracteres, do mais
baixo ao mais elevado.
10. ─
Que, considerando-se que o céu e o inferno, ou a felicidade e a infelicidade,
dependem antes dos sentimentos íntimos que das circunstâncias exteriores, há
tantas gradações para cada um quantas as nuanças de caracteres, e cada
indivíduo gravita em seu próprio lugar, por uma lei natural de afinidade.
Podemos dividi-los em sete graus gerais ou esferas, mas estas devem compreender
as variedades indefinidas, ou uma “infinidade de moradas”, correspondentes aos
caracteres diversos dos indivíduos, pois cada ser goza de tanta felicidade
quanto lhe permite o seu caráter.
11. ─
Que as comunicações do mundo dos Espíritos, quer sejam recebidas por impressão
mental, por inspiração, ou por qualquer outra maneira, não são,
necessariamente, verdades infalíveis, mas, ao contrário, se ressentem
inevitavelmente das imperfeições da inteligência das quais emanam e da via
pelas quais elas chegam; e que, ainda, são suscetíveis de receber uma falsa
interpretação daqueles a quem são dirigidas.
12. ─
Segue-se que nenhuma comunicação inspirada, atualmente ou no passado (sejam
quais forem as pretensões que possam ou tenham podido ser apresentadas quanto à
sua fonte), tem uma autoridade mais ampla que a de retratar a verdade à
consciência individual, porquanto esta última é o padrão final a que se devem
reportar para o julgamento de todos os ensinamentos inspirados ou espirituais.
13. ─
Que a inspiração, ou a afluência das ideias e sugestões vindas do mundo
espiritual, não é um milagre dos tempos passados, mas um fato perpétuo, o
método constante da economia divina para a elevação da raça humana.
14. ─
Que todos os seres angélicos ou demoníacos que se manifestaram ou que se
imiscuíram nos negócios dos homens no passado, eram simples Espíritos humanos
desencarnados, em diversos graus de progressão.
15. ─
Que todos os milagres autênticos (assim chamados) dos tempos passados, tais
como a ressurreição dos que estavam mortos em aparência, a cura das moléstias
pela imposição das mãos ou outros meios igualmente simples, o contato
inofensivo com venenos, o movimento de objetos materiais sem concurso visível,
etc., etc., foram produzidos em harmonia com as leis universais e, por
conseguinte, podem repetir-se em todos os tempos, sob condições favoráveis.
16. ─
Que as causas de todo fenômeno ─ as fontes da vida, da inteligência e do amor ─
devem ser procuradas no domínio interior e espiritual, e não no domínio
exterior e material.
17. ─
Que o encadeamento das causas tende inevitavelmente a remontar e a avançar para
um Espírito infinito, que é não só um princípio
formador (a sabedoria), mas uma fonte
de afeição (o amor), ─ que assim sustenta a dupla relação do parentesco, do
pai e da mãe, de todas as inteligências finitas que, entretanto, são unidas por
laços filiais.
18. ─
Que o homem, a título de filho desse Pai infinito, é sua mais alta
representação nesta esfera de seres, sendo o homem perfeito a mais completa
personificação da “plenitude do Pai” que podemos contemplar, e que cada homem,
em virtude desse parentesco, é, ou tem em seus refolhos íntimos, um germe de
divindade, uma porção incorruptível da essência divina que o leva
constantemente ao bem, e que, com o tempo, ultrapassará todas as imperfeições
inerentes à condição rudimentar ou terrena, e triunfará sobre todo o mal.
19. ─
Que o mal é a falta mais ou menos grande de harmonia com esse princípio íntimo
ou divino, portanto, quer se chame Cristianismo, Espiritualismo, Religião,
Filosofia; quer se reconheça o “Espírito Santo”, a Bíblia, ou a inspiração
espiritual e celeste, tudo quanto ajuda o homem a submeter à sua natureza
interna o que em si há de mais exterior e a torná-lo harmonioso com ela, é um
meio de triunfar sobre o mal. Eis, pois, a base da crença dos espíritas americanos. Se não é a da totalidade, é, ao menos, a da maioria. Essa crença não é mais o resultado de um sistema preconcebido nesse país do que o Espiritismo na França. Ninguém a imaginou; viuse, observou-se e tiraram-se conclusões. Lá, como aqui, não se partiu da hipótese dos Espíritos para explicar os fenômenos, mas dos fenômenos, como efeito, chegouse aos Espíritos como causa, pela observação. Eis uma circunstância capital que os detratores se obstinam em não levar em conta. Porque trazem consigo, com o pensamento, o desejo de não encontrarem os Espíritos, eles imaginam que os espíritas deveriam ter tomado seu ponto de partida na ideia preconcebida dos Espíritos, e que a imaginação os fez vê-los por toda parte. Como é, então, que tantas pessoas que neles não acreditavam se renderam à evidência? Há milhares de exemplos, na América, como aqui. Muitos, ao contrário, passaram pela hipótese que o Sr. Chevillard julga ter inventado, e a ela não renunciaram senão depois de haverem reconhecido a sua impotência para tudo explicar. Ainda uma vez, não se chegou à afirmação dos Espíritos senão depois de haver experimentado todas as outras soluções.
Já pudemos notar as relações e as diferenças existentes entre as duas escolas, e para os que não se apegam às palavras, mas vão ao fundo das ideias, a diferença se reduz a pouca coisa. Não se tendo copiado estas duas escolas, tal coincidência é um fato muito notável. Assim, eis dos lados do Atlântico milhões de pessoas que observam um fenômeno e chegam ao mesmo resultado. É verdade que o Sr. Chevillard ainda não tinha passado por lá para opor o seu veto e dizer àqueles milhões de criaturas, entre as quais há bom número que não passa por tolos: “Estais todos enganados; só eu possuo a chave desses estranhos fenômenos, e eu vou dar ao mundo a sua solução definitiva”.
Para tornar a comparação mais fácil, vamos tomar a profissão de fé americana, artigo por artigo, e pôr em paralelo o que diz, sobre cada uma das proposições aí formuladas, a doutrina do Livro dos Espíritos, publicado em 1857, e que, ademais, está desenvolvida em outras obras fundamentais.
Já pudemos notar as relações e as diferenças existentes entre as duas escolas, e para os que não se apegam às palavras, mas vão ao fundo das ideias, a diferença se reduz a pouca coisa. Não se tendo copiado estas duas escolas, tal coincidência é um fato muito notável. Assim, eis dos lados do Atlântico milhões de pessoas que observam um fenômeno e chegam ao mesmo resultado. É verdade que o Sr. Chevillard ainda não tinha passado por lá para opor o seu veto e dizer àqueles milhões de criaturas, entre as quais há bom número que não passa por tolos: “Estais todos enganados; só eu possuo a chave desses estranhos fenômenos, e eu vou dar ao mundo a sua solução definitiva”.
Para tornar a comparação mais fácil, vamos tomar a profissão de fé americana, artigo por artigo, e pôr em paralelo o que diz, sobre cada uma das proposições aí formuladas, a doutrina do Livro dos Espíritos, publicado em 1857, e que, ademais, está desenvolvida em outras obras fundamentais.
Um resumo mais completo é encontrado no cap. II de O que é o Espiritismo?
1. O
homem possui uma alma ou espírito, princípio inteligente, no qual residem o
pensamento, a vontade, o senso moral, e do qual o corpo não é senão o
envoltório material. O espírito é o ser principal, preexistente e sobrevivente
ao corpo, que não passa de acessório temporário.
Quer durante a vida carnal, quer depois de te-la
deixado, o espírito é revestido de um corpo fluídico ou perispírito, que
reproduz a forma do corpo material.
2. O
espírito é imortal; só o corpo é perecível.
3. Desprendidos
do corpo carnal, os Espíritos constituem o mundo invisível ou espiritual que
nos rodeia e em cujo meio vivemos.
As transformações fluídicas produzem imagens e objetos
tão reais para os Espíritos, eles próprios fluídicos, quão reais são as imagens
e os objetos terrestres para os homens, que são materiais. Tudo é relativo em
cada um desses dois mundos. (Vide A Gênese segundo o Espiritismo, capítulo
dos fluidos e das criações fluídicas).
4. A
morte do corpo nada muda na natureza do Espírito, que conserva as aptidões
intelectuais e morais adquiridas durante a vida terrestre.
5. O
Espírito leva em si mesmo os elementos de sua felicidade ou de sua
infelicidade; é feliz ou infeliz em razão do seu grau de depuração moral; ele
sofre por suas próprias imperfeições, cujas consequências naturais suporta, sem
que a punição seja uma condenação especial e individual.
A infelicidade do homem na Terra provém da
inobservância das leis divinas. Quando ele conformar os seus atos e as suas
instituições sociais a essas leis, será tão feliz quanto o comporta a sua
natureza corporal.
6. Nada
do que o homem adquire durante a vida terrena em conhecimentos e perfeições
morais para ele é perdido; ele é, na vida futura, aquilo que se fez na vida
presente.
7. O
progresso é a lei universal, em virtude da qual o Espírito progride
indefinidamente.
8. Os
Espíritos estão em meio a nós; rodeiam-nos, veem-nos, escutam-nos e participam,
em certa medida, das ações dos homens.
9. Não
sendo senão as almas dos homens, são encontrados Espíritos em todos os graus de
saber e de ignorância, de bondade e de perversidade que existem na Terra.
10. Segundo
a crença vulgar, o céu e o inferno são lugares circunscritos de recompensas e
punições. Segundo o Espiritismo, levando os Espíritos em si mesmos os elementos
de sua felicidade ou de seus sofrimentos, são felizes ou infelizes em qualquer
parte onde se encontrem; as palavras céu e inferno não passam de figuras que
caracterizam um estado de felicidade ou de desgraça.
Há, por assim dizer, tantos graus entre os Espíritos
quantas as nuanças nas aptidões intelectuais e morais. Não obstante, se
considerarmos os caracteres mais marcantes, podemos agrupá-los em nove classes
ou categorias principais, que podemos dividir ao infinito, sem que essa
classificação nada tenha de absoluto. (O
Livro dos Espíritos, item 100. Escala espírita).
À medida que os Espíritos avançam na perfeição,
habitam mundos cada vez mais adiantados fisicamente e moralmente. Sem dúvida é
o que entendia Jesus por estas palavras: “Na casa de meu Pai há muitas
moradas.” (Vide O Evangelho segundo o
Espiritismo, Cap. III).
11. Os
Espíritos podem manifestar-se aos homens de diversas maneiras: pela inspiração,
pela palavra, pela vista, pela escrita, etc.
É um erro crer que os Espíritos tenham a ciência
infusa; seu saber, no espaço como na Terra, está subordinado ao seu grau de
adiantamento, e há Espíritos que, sobre certas coisas, sabem menos que os
homens. Suas comunicações estão em relação com os seus conhecimentos e, por
isto mesmo, não poderiam ser infalíveis. O pensamento do Espírito pode, além
disso, ser alterado pelo meio que ele atravessa para se manifestar.
Aos que perguntam para que servem as comunicações dos
Espíritos, já que eles não sabem mais que os homens, respondemos que eles
servem, em primeiro lugar, para provar que os Espíritos existem e, por
consequência, a imortalidade da alma; em segundo lugar, para nos mostrar onde
eles estão, o que eles são, o que fazem, em que condições são felizes ou
infelizes na vida futura; em terceiro lugar, para destruir os preconceitos
vulgares sobre a natureza dos Espíritos e o estado das almas após a morte,
coisas estas que não seriam por nós conhecidas sem a comunicação com o mundo
invisível.
12. As
comunicações dos Espíritos são opiniões pessoais, que não devem ser aceitas
cegamente. Em nenhuma circunstância deve o homem abrir mão de seu próprio
julgamento e de seu livre-arbítrio. Seria dar prova de ignorância e de
leviandade aceitar como verdades absolutas tudo quanto vem dos Espíritos, pois
eles dizem o que sabem. Cabe-nos submeter seus ensinamentos ao controle da
lógica e da razão.
13. Sendo
as comunicações a consequência do incessante contato dos Espíritos e dos
homens, elas se deram em todos os tempos; estão na ordem das leis da Natureza e
nada têm de miraculoso, seja qual for a forma sob a qual se apresentem. Pondo
em contato o mundo material e o espiritual, essas comunicações tendem à
elevação do homem, provando-lhe que a Terra não é para ele nem o começo, nem o
fim de todas as coisas, e que ele tem outros destinos.
14. Os
seres designados sob o nome de anjos ou de demônios não são criações especiais,
distintas da Humanidade. Os anjos são Espíritos que saíram da Humanidade e
chegaram à perfeição. Os demônios são Espíritos ainda imperfeitos, mas que
melhorarão.
Seria contrário à justiça e à bondade de Deus ter
criado seres perpetuamente votados ao mal, incapazes de voltar ao bem, e outros
privilegiados, isentos de qualquer trabalho para chegar à perfeição e à
felicidade.
Segundo o Espiritismo, Deus não concede favores nem
privilégios para nenhuma de suas criaturas; todos os Espíritos têm um mesmo
ponto de partida e a mesma rota a percorrer, para chegarem, pelo trabalho, à
perfeição e à felicidade. Alguns chegaram: são os anjos ou Espíritos Puros;
outros ainda estão para trás: são os Espíritos imperfeitos. (Vide A Gênese, capítulos dos Anjos e dos
Demônios).[1]
15. O
Espiritismo não admite os milagres, no sentido teológico da palavra, visto que,
segundo ele, nada se realiza fora das leis da Natureza. Certos fatos,
supondo-os autênticos, só foram reputados miraculosos porque se ignoravam as
suas causas naturais. O caráter do milagre é ser excepcional e insólito. Quando
um fato se reproduz espontaneamente ou facultativamente, é que ele está
subordinado a uma lei, e então já não é um milagre. Os fenômenos de dupla
vista, de aparições, de presciência, de curas pela imposição das mãos, e todos
os efeitos designados sob o nome de manifestações físicas estão neste caso.
(Vide, para o desenvolvimento completo desta questão, a segunda parte de A Gênese, os Milagres e as Predições segundo
o Espiritismo).
16. Todas
as faculdades intelectuais e morais têm sua fonte no princípio espiritual, e
não no princípio material.
17. Depurando-se,
o Espírito do homem tende a aproximar-se da Divindade, princípio e fim de todas
as coisas.
18. A
alma humana, emanação divina, traz em si o germe ou princípio do bem, que é o
seu objetivo final, e deve fazê-la triunfar das imperfeições inerentes ao seu
estado de inferioridade na Terra.
19. Tudo
o que tende a elevar o homem, a desprender sua alma dos braços da matéria, seja
sob a forma filosófica ou sob a forma religiosa, é um elemento de progresso que
o aproxima do bem, ajudando-o a triunfar de seus maus instintos.
Todas as religiões conduzem a esse objetivo, por meios
mais ou menos eficazes e racionais, conforme o grau de adiantamento dos homens,
para o uso dos quais elas foram feitas.
Em que o Espiritismo americano difere, então, do Espiritismo europeu? Seria porque um se chama Espiritualismo e o outro Espiritismo? Questão pueril de palavras, sobre a qual seria supérfluo insistir. De um e do outro lado a coisa é vista de um ponto muito elevado para semelhante futilidade. Talvez ainda difiram em alguns pontos de forma e de detalhes, muito insignificantes, que se devem mais aos usos e costumes de cada país do que ao fundo da Doutrina. O essencial é que haja concordância sobre os pontos fundamentais, e é o que ressalta, com evidência, da comparação acima.
Ambos reconhecem o progresso indefinido da alma como a lei essencial do futuro; ambos admitem a pluralidade das existências sucessivas nos mundos cada vez mais avançados. A única diferença consiste em que o Espiritismo europeu admite essa pluralidade de existências na Terra, até que o Espírito tenha atingido aqui o grau de adiantamento intelectual e moral que comporta este globo, após o que o deixa por outros mundos, onde adquire novas qualidades e novos conhecimentos. De acordo sobre a ideia principal, eles não diferem, portanto, senão quanto a um dos modos de aplicação. Poderá estar aí uma causa de antagonismo entre criaturas que perseguem um grande objetivo humanitário?
Ambos reconhecem o progresso indefinido da alma como a lei essencial do futuro; ambos admitem a pluralidade das existências sucessivas nos mundos cada vez mais avançados. A única diferença consiste em que o Espiritismo europeu admite essa pluralidade de existências na Terra, até que o Espírito tenha atingido aqui o grau de adiantamento intelectual e moral que comporta este globo, após o que o deixa por outros mundos, onde adquire novas qualidades e novos conhecimentos. De acordo sobre a ideia principal, eles não diferem, portanto, senão quanto a um dos modos de aplicação. Poderá estar aí uma causa de antagonismo entre criaturas que perseguem um grande objetivo humanitário?
Ademais, o princípio da reencarnação na Terra não é peculiar no Espiritismo europeu; era um ponto fundamental da doutrina druídica; em nossos dias, antes do Espiritismo, esse princípio foi proclamado por ilustres filósofos, tais como Dupont de Nemours, Charles Fourier, Jean Reynaud, etc. Faríamos uma lista interminável de escritores de todas as nações, poetas, romancistas e outros que o proclamaram em suas obras; nos Estados Unidos citaremos Benjamin Franklin e a Sra. Beecher Stowe, autora de A Cabana do Pai Tomás.
Assim, não somos o seu criador nem o seu inventor. Hoje ele tende a tomar lugar na Filosofia moderna, fora do Espiritismo, como única solução possível e racional para uma porção de problemas psicológicos e morais até agora inexplicáveis. Não é aqui o lugar de discutir essa questão, para cujo desenvolvimento remetemos à introdução de O Livro dos Espíritos, e ao capítulo IV de O Evangelho segundo o Espiritismo. De duas, uma: esse princípio é verdadeiro, ou não é. Se é verdadeiro, é uma lei, e como toda lei da Natureza, não são as opiniões contrárias de alguns homens que o impedirão de ser uma verdade e de ser aceito.
Já explicamos muitas vezes as causas que se haviam oposto à sua introdução no Espiritismo americano; essas causas desaparecem dia a dia, e é do nosso conhecimento que já encontra numerosas simpatias naquele país. Além disto, o programa acima dele não fala. Se ele não é proclamado, também não é contestado. Podemos mesmo dizer que ele ressalta implicitamente, como consequência forçada de certas afirmações.
Em suma, como se vê, a maior barreira que separa os espíritas dos dois continentes é o Oceano, através do qual eles podem perfeitamente dar-se as mãos.
O que faltou aos Estados Unidos foi um centro de ação para coordenar os princípios. Não existe, a bem dizer, corpo metódico de doutrina; havemos de convir que ali se encontram ideias muito justas e de alto alcance, mas sem ligação. É opinião de todos os americanos que tivemos ocasião de ver, e é confirmado por um relato feito numa das convenções em Cleveland, em 1867, de onde extraímos as seguintes passagens:
“Na opinião de vossa comissão, o que hoje se chama Espiritualismo é um caos onde a verdade mais pura está incessantemente misturada aos erros mais grosseiros. Uma das coisas que mais servirão para o adiantamento da nova Filosofia será o hábito de empregar bons métodos de observação. Recomendamos aos nossos irmãos e irmãs uma atenção levada ao escrúpulo em toda esta parte do Espiritualismo. Nós os induzimos, também, a desconfiar das aparências e a nem sempre tomar por um estado extático, ou por uma agitação vinda do mundo espiritual, disposições de alma que podem ter sua origem na desordem dos órgãos, e em particular nas moléstias dos nervos e do fígado, ou em qualquer outra excitação completamente independente da ação dos Espíritos.
“Cada um dos membros da comissão já teve uma experiência muito longa desses fenômenos; há dez a quinze anos, todos já tínhamos sido testemunhas de fatos cuja origem extraterrestre não podia ser posta em dúvida, e que se impunham à razão. Mas todos estávamos igualmente convencidos de que uma grande parte do que se dá à multidão como manifestações espiritualistas são muito simplesmente habilidades manuais mais ou menos bem executadas por impostores que disto se servem para explorar a credulidade pública.
“As observações que acabamos de fazer a propósito das habilidades qualificadas de manifestações se aplicam por inteiro a todos os supostos médiuns que se recusam a fazer suas experiências em outro lugar que não seja um quarto escuro: os Davenport, Fays, Eddies, Ferrises, Church, miss Vanwie e outros, que pretendem fazer coisas materialmente impossíveis, e se dão como instrumentos dos Espíritos, sem trazer a menor prova em apoio às suas operações. Depois de uma atenta investigação da matéria, temos obrigação de declarar que a obscuridade não é uma condição indispensável à produção dos fenômenos; que ela é como tal reclamada apenas pelos impostores, e que não tem outra utilidade senão favorecer as suas trapaças. Em consequência, aconselhamos às pessoas que se ocupam de Espiritualismo, a renunciar à evocação dos Espíritos no escuro.
“Criticando uma prática que pode ser substituída sem esforço por modos de experimentação infinitamente mais probantes, não pretendemos infligir uma censura aos médiuns que a utilizam de boa-fé, mas denunciar à opinião pública os charlatães que exploram uma coisa digna de todo o respeito. Queremos defender os verdadeiros médiuns, e livrar a nossa gloriosa causa das imposturas que a desonram.
“Nós acreditamos nas manifestações físicas; elas são indispensáveis ao progresso do Espiritualismo. São provas simples e claras que ferem, desde o início, aqueles a quem não cegam os preconceitos; elas são um ponto de partida para chegar à compreensão das manifestações de uma ordem mais elevada; o caminho que conduziu a maior parte dos espiritualistas americanos do ateísmo ou da dúvida ao conhecimento da imortalidade da alma.” (Extraído do New-York Herald, de 10 de setembro de 1867).
Assim, não somos o seu criador nem o seu inventor. Hoje ele tende a tomar lugar na Filosofia moderna, fora do Espiritismo, como única solução possível e racional para uma porção de problemas psicológicos e morais até agora inexplicáveis. Não é aqui o lugar de discutir essa questão, para cujo desenvolvimento remetemos à introdução de O Livro dos Espíritos, e ao capítulo IV de O Evangelho segundo o Espiritismo. De duas, uma: esse princípio é verdadeiro, ou não é. Se é verdadeiro, é uma lei, e como toda lei da Natureza, não são as opiniões contrárias de alguns homens que o impedirão de ser uma verdade e de ser aceito.
Já explicamos muitas vezes as causas que se haviam oposto à sua introdução no Espiritismo americano; essas causas desaparecem dia a dia, e é do nosso conhecimento que já encontra numerosas simpatias naquele país. Além disto, o programa acima dele não fala. Se ele não é proclamado, também não é contestado. Podemos mesmo dizer que ele ressalta implicitamente, como consequência forçada de certas afirmações.
Em suma, como se vê, a maior barreira que separa os espíritas dos dois continentes é o Oceano, através do qual eles podem perfeitamente dar-se as mãos.
O que faltou aos Estados Unidos foi um centro de ação para coordenar os princípios. Não existe, a bem dizer, corpo metódico de doutrina; havemos de convir que ali se encontram ideias muito justas e de alto alcance, mas sem ligação. É opinião de todos os americanos que tivemos ocasião de ver, e é confirmado por um relato feito numa das convenções em Cleveland, em 1867, de onde extraímos as seguintes passagens:
“Na opinião de vossa comissão, o que hoje se chama Espiritualismo é um caos onde a verdade mais pura está incessantemente misturada aos erros mais grosseiros. Uma das coisas que mais servirão para o adiantamento da nova Filosofia será o hábito de empregar bons métodos de observação. Recomendamos aos nossos irmãos e irmãs uma atenção levada ao escrúpulo em toda esta parte do Espiritualismo. Nós os induzimos, também, a desconfiar das aparências e a nem sempre tomar por um estado extático, ou por uma agitação vinda do mundo espiritual, disposições de alma que podem ter sua origem na desordem dos órgãos, e em particular nas moléstias dos nervos e do fígado, ou em qualquer outra excitação completamente independente da ação dos Espíritos.
“Cada um dos membros da comissão já teve uma experiência muito longa desses fenômenos; há dez a quinze anos, todos já tínhamos sido testemunhas de fatos cuja origem extraterrestre não podia ser posta em dúvida, e que se impunham à razão. Mas todos estávamos igualmente convencidos de que uma grande parte do que se dá à multidão como manifestações espiritualistas são muito simplesmente habilidades manuais mais ou menos bem executadas por impostores que disto se servem para explorar a credulidade pública.
“As observações que acabamos de fazer a propósito das habilidades qualificadas de manifestações se aplicam por inteiro a todos os supostos médiuns que se recusam a fazer suas experiências em outro lugar que não seja um quarto escuro: os Davenport, Fays, Eddies, Ferrises, Church, miss Vanwie e outros, que pretendem fazer coisas materialmente impossíveis, e se dão como instrumentos dos Espíritos, sem trazer a menor prova em apoio às suas operações. Depois de uma atenta investigação da matéria, temos obrigação de declarar que a obscuridade não é uma condição indispensável à produção dos fenômenos; que ela é como tal reclamada apenas pelos impostores, e que não tem outra utilidade senão favorecer as suas trapaças. Em consequência, aconselhamos às pessoas que se ocupam de Espiritualismo, a renunciar à evocação dos Espíritos no escuro.
“Criticando uma prática que pode ser substituída sem esforço por modos de experimentação infinitamente mais probantes, não pretendemos infligir uma censura aos médiuns que a utilizam de boa-fé, mas denunciar à opinião pública os charlatães que exploram uma coisa digna de todo o respeito. Queremos defender os verdadeiros médiuns, e livrar a nossa gloriosa causa das imposturas que a desonram.
“Nós acreditamos nas manifestações físicas; elas são indispensáveis ao progresso do Espiritualismo. São provas simples e claras que ferem, desde o início, aqueles a quem não cegam os preconceitos; elas são um ponto de partida para chegar à compreensão das manifestações de uma ordem mais elevada; o caminho que conduziu a maior parte dos espiritualistas americanos do ateísmo ou da dúvida ao conhecimento da imortalidade da alma.” (Extraído do New-York Herald, de 10 de setembro de 1867).
[1] No original consta: A Gênese, no entanto, acreditamos que a
referência correta seria O Céu e o
Inferno, capítulos dos Anjos e dos Demônios. (N. do Revisor)
As conferências do Sr. Chevillard
Apreciadas pelo Jornal Paris
Lê-se no jornal Paris, de 7 de março de 1869, a propósito das conferências do Sr. Chevillard, sobre o Espiritismo:
“Recordam-se da celeuma causada há alguns anos, no mundo, pelo fenômeno das mesas girantes.
“Não havia família que não possuísse sua mesinha animada, nem círculo que não tivesse os seus Espíritos familiares; marcava-se dia para fazer a mesinha girar, como se marcava encontro para uma festinha dançante. Um instante de curiosidade pública (reavivada pelo clero a amedrontar as almas timoratas pelo espectro abominável de Satã) não conheceu mais limites e as mesas estalavam, faziam barulho, dançavam, do subsolo à mansarda, com uma obediência das mais meritórias.
“Pouco a pouco a febre caiu, fez-se silêncio, a moda encontrou outros divertimentos, quem sabe? Sem dúvida os quadros vivos.
“Mas, afastando-se, a multidão deixava imóveis alguns cabeças-duras, apesar de tudo presos a essas manifestações singulares. Insensivelmente uma espécie de laço misterioso se estendia, correndo de um a outro. Os isolados da véspera reapareciam no dia seguinte; em breve uma vasta associação não fazia mais, desses grupos esparsos, senão uma única família, marchando, sob a divisa de uma crença comum, à procura da verdade pelo Espiritismo.
“Parece que neste momento o exército conta bastantes soldados aguerridos para que lhes deem as honras do combate. O Sr. Chevillard, depois de haver apresentado a solução DEFINITIVA do problema espírita, não hesitou em prosseguir o seu assunto numa nova conferência: As ilusões do Espiritismo.
“Por outro lado, o Sr. Desjardin, depois de ter falado dos inovadores em Medicina, ameaça bater, em futuro próximo, as teorias espíritas. Sem dúvida os crentes responderão que os Espíritos não poderão encontrar uma melhor ocasião para se afirmar. É pois um despertar, uma luta que se trava.
“Hoje os espíritas são mais numerosos na Europa do que se supõe. Contam-se por milhões, sem falar dos que creem e não se gabam. O exército recruta todos os dias novos adeptos. Que há de admirável? Não são cada vez mais numerosos os que choram e pedem nas comunicações de um mundo melhor, a esperança no futuro?
“A discussão sobre este assunto parece que deve ser séria. É interessante tomar algumas notas desde o primeiro dia.
“O Sr. Chevillard é generoso; ele não nega os fatos; ─ ele atesta a boa-fé dos médiuns com os quais foi posto em contato; não sente qualquer embaraço em declarar que ele próprio produziu os fenômenos de que fala. Testemunha que os espíritas jamais se encontraram em semelhante festa, e não deixarão de tirar partido de tais concessões, ─ se podem opor ao Sr. Chevillard outra coisa senão a sinceridade de sua convicção.
“Não nos cabe responder, mas apenas separar desse conjunto de fatos umas tantas leis magnéticas que compõem a teoria do conferencista. ‘As vibrações da mesa, diz ele, são produzidas pelo pensamento interno voluntário do médium, ajudado pelo desejo dos assistentes crédulos, sempre numerosos.’ Assim se acha formalmente indicado o fluido nervoso ou vital com o qual o Sr. Chevillard estabelece a solução definitiva do problema espírita. ‘Todo fato espírita, acrescenta ele mais adiante, é uma sucessão de movimentos produzidos sobre um objeto inanimado por um magnetismo inconsciente.’
“Enfim, resumindo todo o seu sistema numa fórmula abstrata, ele afirma que “A ideia da ação voluntária mecânica se transmite, pelo fluido nervoso, do cérebro até o objeto inanimado que executa a ação na qualidade de órgão ligado pelo fluido ao ser que quer, quer seja a ligação por contato, quer à distância; mas o ser não tem a percepção de seu ato, porque não o executa por esforço muscular”.
“Esses três exemplos bastam para indicar uma teoria, que, aliás, não temos que discutir, e sobre a qual talvez tenhamos que voltar mais tarde. Mas, lembrando-nos de uma lição do Sr. E. Caro, na Sorbonne, naturalmente censuraríamos ao Sr.
Chevillard o próprio título de sua conferência. Terá ele, para começar, perguntado se nessas questões que escapam ao controle, à prova matemática ─ que não podem ser julgadas senão por dedução ─ a pesquisa das causas primeiras não é incompatível com as fórmulas da Ciência?
“O Espiritismo deixa uma larga margem à liberdade de raciocínio para poder depender da Ciência propriamente dita. Os fatos que se constatam, sem dúvida maravilhosos, mas sempre idênticos, escapam a todo controle, e a convicção não pode nascer senão da multiplicidade das observações.
“A causa, digam o que disserem os iniciados, permanece um mistério para o homem que friamente pesa esses fenômenos estranhos, e os crentes ficam reduzidos a fazer votos para que, mais cedo ou mais tarde, uma circunstância fortuita rompa esse véu que aos nossos olhos oculta os grandes problemas da vida, e nos mostre radioso o deus desconhecido.”
PAGÈS DE NOYEZ.
Demos a nossa apreciação sobre o alcance das conferências do Sr. Chevillard no número precedente, e seria supérfluo refutar uma teoria que, como dissemos, nada tem de novo, não importando como pense o autor. Que ele tenha seu sistema sobre a causa das manifestações, é direito seu; que o creia justo, é muito natural; mas que tenha a pretensão de dar, só ele, a solução definitiva do problema, é dizer que só a ele é dado proferir a última palavra dos segredos da Natureza, e que depois dele nada mais há para ver, nem nada para descobrir. Qual é o sábio que já pronunciou o nec plus ultra nas ciências? Há coisas que se podem pensar, mas nem sempre é correto proclamar muito alto.
Ademais, não vimos nenhum espírita inquietar-se com a pretensa descoberta do Sr. Chevillard; todos, ao contrário, fazem votos para que ele continue a sua aplicação até os últimos limites, sem omitir nenhum dos fenômenos que lhe possam opor; quereríamos, sobretudo, vê-lo resolver definitivamente estas duas questões:
Em que se tornam os Espíritos dos homens após a morte?
Em virtude de que lei esses mesmos Espíritos, que agitavam a matéria durante a vida do corpo, não podem mais agitá-la depois da morte e manifestar-se aos vivos?
Se o Sr. Chevillard admite que o Espírito é distinto da matéria e sobrevive ao corpo, deve admitir que o corpo é o instrumento do Espírito nos diferentes atos da vida; que ele obedeça a vontade do Espírito. Desde que admita que, pela transmissão do fluido elétrico, as mesas, os lápis e outros objetos se tornem apêndices do corpo e obedeçam, assim, ao pensamento do Espírito encarnado, por que, por uma corrente elétrica análoga, não poderiam eles obedecer ao pensamento de um Espírito desencarnado?
Entre os que admitem a realidade dos fenômenos, quatro hipóteses foram emitidas sobre sua causa, a saber: 1º A ação exclusiva do fluido nervoso, elétrico, magnético ou qualquer outro; 2º O reflexo do pensamento dos médiuns e dos assistentes, nas manifestações inteligentes; 3º A intervenção dos demônios; 4º A continuidade das relações dos Espíritos humanos desprendidos da matéria, com o mundo corporal.
Essas quatro proposições, desde a origem do Espiritismo foram preconizadas e discutidas sob todas as formas, em numerosos escritos, por homens de um valor incontestável. Então não faltou a luz da discussão. Como é que, desses diversos sistemas, o dos Espíritos encontrou mais simpatias; que só ele prevaleceu e é hoje o único admitido pela imensa maioria dos observadores em todos os países do mundo; que todos os argumentos de seus adversários, após mais de quinze anos, dele não puderam triunfar, se eles são a expressão da verdade?
É ainda uma questão interessante a resolver.
“Recordam-se da celeuma causada há alguns anos, no mundo, pelo fenômeno das mesas girantes.
“Não havia família que não possuísse sua mesinha animada, nem círculo que não tivesse os seus Espíritos familiares; marcava-se dia para fazer a mesinha girar, como se marcava encontro para uma festinha dançante. Um instante de curiosidade pública (reavivada pelo clero a amedrontar as almas timoratas pelo espectro abominável de Satã) não conheceu mais limites e as mesas estalavam, faziam barulho, dançavam, do subsolo à mansarda, com uma obediência das mais meritórias.
“Pouco a pouco a febre caiu, fez-se silêncio, a moda encontrou outros divertimentos, quem sabe? Sem dúvida os quadros vivos.
“Mas, afastando-se, a multidão deixava imóveis alguns cabeças-duras, apesar de tudo presos a essas manifestações singulares. Insensivelmente uma espécie de laço misterioso se estendia, correndo de um a outro. Os isolados da véspera reapareciam no dia seguinte; em breve uma vasta associação não fazia mais, desses grupos esparsos, senão uma única família, marchando, sob a divisa de uma crença comum, à procura da verdade pelo Espiritismo.
“Parece que neste momento o exército conta bastantes soldados aguerridos para que lhes deem as honras do combate. O Sr. Chevillard, depois de haver apresentado a solução DEFINITIVA do problema espírita, não hesitou em prosseguir o seu assunto numa nova conferência: As ilusões do Espiritismo.
“Por outro lado, o Sr. Desjardin, depois de ter falado dos inovadores em Medicina, ameaça bater, em futuro próximo, as teorias espíritas. Sem dúvida os crentes responderão que os Espíritos não poderão encontrar uma melhor ocasião para se afirmar. É pois um despertar, uma luta que se trava.
“Hoje os espíritas são mais numerosos na Europa do que se supõe. Contam-se por milhões, sem falar dos que creem e não se gabam. O exército recruta todos os dias novos adeptos. Que há de admirável? Não são cada vez mais numerosos os que choram e pedem nas comunicações de um mundo melhor, a esperança no futuro?
“A discussão sobre este assunto parece que deve ser séria. É interessante tomar algumas notas desde o primeiro dia.
“O Sr. Chevillard é generoso; ele não nega os fatos; ─ ele atesta a boa-fé dos médiuns com os quais foi posto em contato; não sente qualquer embaraço em declarar que ele próprio produziu os fenômenos de que fala. Testemunha que os espíritas jamais se encontraram em semelhante festa, e não deixarão de tirar partido de tais concessões, ─ se podem opor ao Sr. Chevillard outra coisa senão a sinceridade de sua convicção.
“Não nos cabe responder, mas apenas separar desse conjunto de fatos umas tantas leis magnéticas que compõem a teoria do conferencista. ‘As vibrações da mesa, diz ele, são produzidas pelo pensamento interno voluntário do médium, ajudado pelo desejo dos assistentes crédulos, sempre numerosos.’ Assim se acha formalmente indicado o fluido nervoso ou vital com o qual o Sr. Chevillard estabelece a solução definitiva do problema espírita. ‘Todo fato espírita, acrescenta ele mais adiante, é uma sucessão de movimentos produzidos sobre um objeto inanimado por um magnetismo inconsciente.’
“Enfim, resumindo todo o seu sistema numa fórmula abstrata, ele afirma que “A ideia da ação voluntária mecânica se transmite, pelo fluido nervoso, do cérebro até o objeto inanimado que executa a ação na qualidade de órgão ligado pelo fluido ao ser que quer, quer seja a ligação por contato, quer à distância; mas o ser não tem a percepção de seu ato, porque não o executa por esforço muscular”.
“Esses três exemplos bastam para indicar uma teoria, que, aliás, não temos que discutir, e sobre a qual talvez tenhamos que voltar mais tarde. Mas, lembrando-nos de uma lição do Sr. E. Caro, na Sorbonne, naturalmente censuraríamos ao Sr.
Chevillard o próprio título de sua conferência. Terá ele, para começar, perguntado se nessas questões que escapam ao controle, à prova matemática ─ que não podem ser julgadas senão por dedução ─ a pesquisa das causas primeiras não é incompatível com as fórmulas da Ciência?
“O Espiritismo deixa uma larga margem à liberdade de raciocínio para poder depender da Ciência propriamente dita. Os fatos que se constatam, sem dúvida maravilhosos, mas sempre idênticos, escapam a todo controle, e a convicção não pode nascer senão da multiplicidade das observações.
“A causa, digam o que disserem os iniciados, permanece um mistério para o homem que friamente pesa esses fenômenos estranhos, e os crentes ficam reduzidos a fazer votos para que, mais cedo ou mais tarde, uma circunstância fortuita rompa esse véu que aos nossos olhos oculta os grandes problemas da vida, e nos mostre radioso o deus desconhecido.”
PAGÈS DE NOYEZ.
Demos a nossa apreciação sobre o alcance das conferências do Sr. Chevillard no número precedente, e seria supérfluo refutar uma teoria que, como dissemos, nada tem de novo, não importando como pense o autor. Que ele tenha seu sistema sobre a causa das manifestações, é direito seu; que o creia justo, é muito natural; mas que tenha a pretensão de dar, só ele, a solução definitiva do problema, é dizer que só a ele é dado proferir a última palavra dos segredos da Natureza, e que depois dele nada mais há para ver, nem nada para descobrir. Qual é o sábio que já pronunciou o nec plus ultra nas ciências? Há coisas que se podem pensar, mas nem sempre é correto proclamar muito alto.
Ademais, não vimos nenhum espírita inquietar-se com a pretensa descoberta do Sr. Chevillard; todos, ao contrário, fazem votos para que ele continue a sua aplicação até os últimos limites, sem omitir nenhum dos fenômenos que lhe possam opor; quereríamos, sobretudo, vê-lo resolver definitivamente estas duas questões:
Em que se tornam os Espíritos dos homens após a morte?
Em virtude de que lei esses mesmos Espíritos, que agitavam a matéria durante a vida do corpo, não podem mais agitá-la depois da morte e manifestar-se aos vivos?
Se o Sr. Chevillard admite que o Espírito é distinto da matéria e sobrevive ao corpo, deve admitir que o corpo é o instrumento do Espírito nos diferentes atos da vida; que ele obedeça a vontade do Espírito. Desde que admita que, pela transmissão do fluido elétrico, as mesas, os lápis e outros objetos se tornem apêndices do corpo e obedeçam, assim, ao pensamento do Espírito encarnado, por que, por uma corrente elétrica análoga, não poderiam eles obedecer ao pensamento de um Espírito desencarnado?
Entre os que admitem a realidade dos fenômenos, quatro hipóteses foram emitidas sobre sua causa, a saber: 1º A ação exclusiva do fluido nervoso, elétrico, magnético ou qualquer outro; 2º O reflexo do pensamento dos médiuns e dos assistentes, nas manifestações inteligentes; 3º A intervenção dos demônios; 4º A continuidade das relações dos Espíritos humanos desprendidos da matéria, com o mundo corporal.
Essas quatro proposições, desde a origem do Espiritismo foram preconizadas e discutidas sob todas as formas, em numerosos escritos, por homens de um valor incontestável. Então não faltou a luz da discussão. Como é que, desses diversos sistemas, o dos Espíritos encontrou mais simpatias; que só ele prevaleceu e é hoje o único admitido pela imensa maioria dos observadores em todos os países do mundo; que todos os argumentos de seus adversários, após mais de quinze anos, dele não puderam triunfar, se eles são a expressão da verdade?
É ainda uma questão interessante a resolver.
A criança elétrica
Vários jornais reproduziram o seguinte fato:
A aldeia de Saint-Urbain, nos limites de Loire e do Ardèche, está toda inquieta. Escrevem-nos que ali se passam coisas estranhas. Uns as imputam ao diabo, outros aí veem o dedo de Deus, marcando com o selo da predestinação uma de suas criaturas privilegiadas.
Eis, em duas palavras, de que se trata, diz o Memorial de la Loire:
“Há uns quinze dias nasceu nesta aldeia uma criança que desde a sua entrada no mundo manifestou as mais admiráveis virtudes, as mais singulares propriedades, diriam os sábios. Logo depois de batizada, tornou-se impalpável e intangível! Intangível, não como a sensitiva, mas à maneira de uma garrafa de Leyde carregada de eletricidade, que não se pode tocar sem sentir uma viva comoção. Além do mais, ela é luminosa! De todas as suas extremidades se desprendem, por momentos, eflúvios brilhantes, que a fazem assemelhar-se a uma lucíola.
“À medida que o bebê se desenvolve e se fortalece, esses curiosos fenômenos se acentuam com mais energia e intensidade. Até se produzem novos. Conta-se, por exemplo, que em certos dias, quando se aproxima das mãos e dos pés do menino algum objeto de pequeno volume, como uma colher, uma faca, uma taça, mesmo um prato, os utensílios são tomados de um frêmito e de uma vibração sutis, que nada pode explicar.
“É particularmente à tarde e à noite que esses fatos extraordinários se acentuam, quer em estado de sono, quer em vigília. Por vezes, então ─ e aqui está um prodígio ─ o berço parece encher-se de uma claridade esbranquiçada, semelhante a essas belas fosforescências que tomam as águas do mar na esteira dos navios, e que a Ciência ainda não explicou perfeitamente.
“Contudo, o menino não parece absolutamente incomodado com as manifestações de que sua minúscula pessoa é o misterioso teatro. Ele mama, dorme, passa muito bem e nem é menos chorão nem mais impaciente do que os seus semelhantes. Ele tem dois irmãozinhos de quatro a cinco anos, que nasceram e vivem à maneira dos mais vulgares pequerruchos.
“Acrescentemos que os pais, valentes agricultores, o marido chegando aos quarenta e a mulher aos trinta, são os esposos menos elétricos e luminosos do mundo. Eles só brilham pela honestidade e pelo cuidado com que criam sua pequena família.
“Chamaram o cura da comuna vizinha, que declarou, após um longo exame, não compreender absolutamente nada disso; depois o cirurgião, que apalpou, reapalpou, tocou de novo, auscultou e percutiu o paciente, sem querer pronunciar-se claramente sobre o caso, mas que prepara um relatório científico à Academia, do qual se falará no mundo médico.
“Um malandro da região, e os há em toda a parte, farejando uma boa especulaçãozinha, propôs alugar o menino à razão de 200 francos por mês, ‘para mostrá-lo nas feiras’. É um belo negócio para os pais. Mas naturalmente o pai e a mãe querem acompanhar um filho tão precioso ─ a 2 francos por dia ─ e esta condição ainda impede a conclusão do negócio.
“O correspondente que nos dá esses estranhos detalhes nos certifica, ‘sob palavra de honra’, que eles são a mais exata expressão da verdade e que ele teve o cuidado de fazer subscrever sua carta ‘pelos quatro maiores proprietários da região.’”
Certamente nenhum Espírita verá neste fato algo de sobrenatural nem miraculoso. É um fenômeno puramente físico, uma variante, quanto à forma, do que apresentam as pessoas ditas elétricas. Sabe-se que certos animais, como o peixeelétrico e o gimnoto, têm propriedades análogas.
Eis a instrução dada a respeito por um dos guias instrutores da Sociedade de Paris:
“Como vos temos dito com frequência, os mais singulares fenômenos se multiplicam dia a dia, para atrair a atenção da Ciência. O menino em questão é, pois, um instrumento, mas não foi escolhido para esse efeito senão em razão da situação criada em seu passado. Por excêntrico que seja, em aparência, um fenômeno qualquer, produzido num encarnado, tem sempre como causa imediata a situação intelectual e moral desse encarnado e uma relação com seus antecedentes, pois todas as existências são solidárias. Sem dúvida é um assunto de estudo para os que o testemunham, mas secundariamente. É sobretudo para aquele que dele é objeto, uma provação ou uma expiação. Há, pois, o fato material, que é do campo da Ciência, e a causa moral, que pertence ao Espiritismo.
“Mas, perguntareis, como semelhante estado pode ser uma provação para um menino dessa idade? Para o menino, certamente não, mas para o Espírito, que não tem idade, a provação é certa.
“Achando-se, como encarnado, numa situação excepcional, cercado de uma auréola física que não passa de uma máscara, mas que pode passar aos olhos de certa gente por um sinal de santidade ou de predestinação, o Espírito, desprendido durante o sono, se orgulha da impressão que produz. Era um taumaturgo de uma espécie particular que passou sua última existência a brincar de pessoa santa, em meio aos prodígios que se tinha exercitado a realizar, e que quis continuar seu papel nesta existência. Para atrair o respeito e a veneração, ele quis nascer, como menino, em condições excepcionais. Se viver, será um falso profeta do futuro, e não será o único.
“Quanto ao fenômeno em si mesmo, é certo que terá pouca duração. A Ciência deve, pois, apressar-se, se quiser estudá-lo de visu. Mas ela nada fará, temerosa de encontrar dificuldades embaraçosas. Ela contentar-se-á em considerar o menino como um peixe-elétrico humano.”
Dr. MOREL LAVALLÉE.
A aldeia de Saint-Urbain, nos limites de Loire e do Ardèche, está toda inquieta. Escrevem-nos que ali se passam coisas estranhas. Uns as imputam ao diabo, outros aí veem o dedo de Deus, marcando com o selo da predestinação uma de suas criaturas privilegiadas.
Eis, em duas palavras, de que se trata, diz o Memorial de la Loire:
“Há uns quinze dias nasceu nesta aldeia uma criança que desde a sua entrada no mundo manifestou as mais admiráveis virtudes, as mais singulares propriedades, diriam os sábios. Logo depois de batizada, tornou-se impalpável e intangível! Intangível, não como a sensitiva, mas à maneira de uma garrafa de Leyde carregada de eletricidade, que não se pode tocar sem sentir uma viva comoção. Além do mais, ela é luminosa! De todas as suas extremidades se desprendem, por momentos, eflúvios brilhantes, que a fazem assemelhar-se a uma lucíola.
“À medida que o bebê se desenvolve e se fortalece, esses curiosos fenômenos se acentuam com mais energia e intensidade. Até se produzem novos. Conta-se, por exemplo, que em certos dias, quando se aproxima das mãos e dos pés do menino algum objeto de pequeno volume, como uma colher, uma faca, uma taça, mesmo um prato, os utensílios são tomados de um frêmito e de uma vibração sutis, que nada pode explicar.
“É particularmente à tarde e à noite que esses fatos extraordinários se acentuam, quer em estado de sono, quer em vigília. Por vezes, então ─ e aqui está um prodígio ─ o berço parece encher-se de uma claridade esbranquiçada, semelhante a essas belas fosforescências que tomam as águas do mar na esteira dos navios, e que a Ciência ainda não explicou perfeitamente.
“Contudo, o menino não parece absolutamente incomodado com as manifestações de que sua minúscula pessoa é o misterioso teatro. Ele mama, dorme, passa muito bem e nem é menos chorão nem mais impaciente do que os seus semelhantes. Ele tem dois irmãozinhos de quatro a cinco anos, que nasceram e vivem à maneira dos mais vulgares pequerruchos.
“Acrescentemos que os pais, valentes agricultores, o marido chegando aos quarenta e a mulher aos trinta, são os esposos menos elétricos e luminosos do mundo. Eles só brilham pela honestidade e pelo cuidado com que criam sua pequena família.
“Chamaram o cura da comuna vizinha, que declarou, após um longo exame, não compreender absolutamente nada disso; depois o cirurgião, que apalpou, reapalpou, tocou de novo, auscultou e percutiu o paciente, sem querer pronunciar-se claramente sobre o caso, mas que prepara um relatório científico à Academia, do qual se falará no mundo médico.
“Um malandro da região, e os há em toda a parte, farejando uma boa especulaçãozinha, propôs alugar o menino à razão de 200 francos por mês, ‘para mostrá-lo nas feiras’. É um belo negócio para os pais. Mas naturalmente o pai e a mãe querem acompanhar um filho tão precioso ─ a 2 francos por dia ─ e esta condição ainda impede a conclusão do negócio.
“O correspondente que nos dá esses estranhos detalhes nos certifica, ‘sob palavra de honra’, que eles são a mais exata expressão da verdade e que ele teve o cuidado de fazer subscrever sua carta ‘pelos quatro maiores proprietários da região.’”
Certamente nenhum Espírita verá neste fato algo de sobrenatural nem miraculoso. É um fenômeno puramente físico, uma variante, quanto à forma, do que apresentam as pessoas ditas elétricas. Sabe-se que certos animais, como o peixeelétrico e o gimnoto, têm propriedades análogas.
Eis a instrução dada a respeito por um dos guias instrutores da Sociedade de Paris:
“Como vos temos dito com frequência, os mais singulares fenômenos se multiplicam dia a dia, para atrair a atenção da Ciência. O menino em questão é, pois, um instrumento, mas não foi escolhido para esse efeito senão em razão da situação criada em seu passado. Por excêntrico que seja, em aparência, um fenômeno qualquer, produzido num encarnado, tem sempre como causa imediata a situação intelectual e moral desse encarnado e uma relação com seus antecedentes, pois todas as existências são solidárias. Sem dúvida é um assunto de estudo para os que o testemunham, mas secundariamente. É sobretudo para aquele que dele é objeto, uma provação ou uma expiação. Há, pois, o fato material, que é do campo da Ciência, e a causa moral, que pertence ao Espiritismo.
“Mas, perguntareis, como semelhante estado pode ser uma provação para um menino dessa idade? Para o menino, certamente não, mas para o Espírito, que não tem idade, a provação é certa.
“Achando-se, como encarnado, numa situação excepcional, cercado de uma auréola física que não passa de uma máscara, mas que pode passar aos olhos de certa gente por um sinal de santidade ou de predestinação, o Espírito, desprendido durante o sono, se orgulha da impressão que produz. Era um taumaturgo de uma espécie particular que passou sua última existência a brincar de pessoa santa, em meio aos prodígios que se tinha exercitado a realizar, e que quis continuar seu papel nesta existência. Para atrair o respeito e a veneração, ele quis nascer, como menino, em condições excepcionais. Se viver, será um falso profeta do futuro, e não será o único.
“Quanto ao fenômeno em si mesmo, é certo que terá pouca duração. A Ciência deve, pois, apressar-se, se quiser estudá-lo de visu. Mas ela nada fará, temerosa de encontrar dificuldades embaraçosas. Ela contentar-se-á em considerar o menino como um peixe-elétrico humano.”
Dr. MOREL LAVALLÉE.
Um cura médium curador
Um dos nossos assinantes do Departamento dos Hautes-Alpes escreve-nos o seguinte:
“Há algum tempo se fala muito, no vale do Queyras, de um padre que, sem estudos médicos, cura uma porção de pessoas de várias afecções. Há muito tempo que age assim, e dizem que augustas pessoas o consultaram, quando era chefe de outra paróquia nos Basses-Alpes. Suas curas tinham repercutido, e dizem que, por punição, ele foi mandado como cura em La Chalpe, comuna vizinha de Abriès, na fronteira do Piemonte. Lá continuou a ser útil à Humanidade, aliviando e curando, como no passado.
“Para os espíritas isto nada tem de admirável. Se vos falo do caso é porque no vale do Queyras, como alhures, ele faz muito alvoroço. Como todos os médiuns curadores sérios, ele nunca aceita nada. S. M. a Imperatriz herdeira da Rússia, ao que dizem, ter-lhe-ia oferecido várias notas de banco, que ele recusou, pedindo-lhe que as pusesse na caixa de esmolas, se as quisesse dar para a sua igreja.
“Um outro indivíduo um dia escorregou uma moeda de vinte francos entre os seus papéis; quando ele percebeu, fe-lo voltar sob pretexto de novas indicações a lhe dar e lhe devolveu o dinheiro.
“Uma porção de pessoas fala dessas curas de visu; outras não acreditam. Sei do fato através de pessoas que são as menos favoráveis.
“Tinham denunciado o cura por exercício ilegal da Medicina; dois policiais se apresentaram em sua casa para levá-lo à autoridade. Ele lhes disse: ‘Eu vos seguirei, mas aguardai um instante, por favor, porque não comi. Almoçai comigo e me vigiareis.’ Durante o repasto, ele disse a um dos policiais:
“─ Estais doente.
“─ Doente? Agora, nem tanto. Há três meses, não nego.
“─ Ora! Sei o que tendes, e se quiserdes, posso curar-vos já, se fizerdes o que eu disser.
“Conversaram e a proposta foi aceita.
“O cura mandou suspender o policial pelos pés, de modo que as mãos ficassem no chão e o sustentassem; colocou sob sua cabeça uma tigela de leite quente e lhe administrou o que se chama uma fumigação de leite. Ao cabo de alguns minutos, uma cobrinha, dizem uns, um grande verme, segundo outros, caiu na vasilha. Reconhecido, o policial pôs a cobra numa garrafa e conduziu o cura ao magistrado, ao qual explicou o seu caso. Como consequência disso, o cura foi posto em liberdade.
“Eu teria desejado muito ver esse cura, acrescenta o nosso correspondente, mas a neve em nossas montanhas tornam os caminhos muito difíceis nesta estação; sou obrigado a me contentar com as informações que vos transmito. A conclusão de tudo isto é que esta faculdade se desenvolve e os exemplos se multiplicam. Na comuna que vos cito, e em nosso vale, isto produz um grande efeito. Como sempre, uns dizem charlatão, outros demônio; outros feiticeiro, mas os fatos aí estão, e não perdi a ocasião para declarar minha maneira de pensar, explicando que os fatos desse gênero nada têm de sobrenatural nem de diabólico, como se tem visto milhares de exemplos, desde os tempos mais remotos, e que é um modo de manifestação do poder de Deus, sem que haja derrogação de suas leis eternas.”
“Há algum tempo se fala muito, no vale do Queyras, de um padre que, sem estudos médicos, cura uma porção de pessoas de várias afecções. Há muito tempo que age assim, e dizem que augustas pessoas o consultaram, quando era chefe de outra paróquia nos Basses-Alpes. Suas curas tinham repercutido, e dizem que, por punição, ele foi mandado como cura em La Chalpe, comuna vizinha de Abriès, na fronteira do Piemonte. Lá continuou a ser útil à Humanidade, aliviando e curando, como no passado.
“Para os espíritas isto nada tem de admirável. Se vos falo do caso é porque no vale do Queyras, como alhures, ele faz muito alvoroço. Como todos os médiuns curadores sérios, ele nunca aceita nada. S. M. a Imperatriz herdeira da Rússia, ao que dizem, ter-lhe-ia oferecido várias notas de banco, que ele recusou, pedindo-lhe que as pusesse na caixa de esmolas, se as quisesse dar para a sua igreja.
“Um outro indivíduo um dia escorregou uma moeda de vinte francos entre os seus papéis; quando ele percebeu, fe-lo voltar sob pretexto de novas indicações a lhe dar e lhe devolveu o dinheiro.
“Uma porção de pessoas fala dessas curas de visu; outras não acreditam. Sei do fato através de pessoas que são as menos favoráveis.
“Tinham denunciado o cura por exercício ilegal da Medicina; dois policiais se apresentaram em sua casa para levá-lo à autoridade. Ele lhes disse: ‘Eu vos seguirei, mas aguardai um instante, por favor, porque não comi. Almoçai comigo e me vigiareis.’ Durante o repasto, ele disse a um dos policiais:
“─ Estais doente.
“─ Doente? Agora, nem tanto. Há três meses, não nego.
“─ Ora! Sei o que tendes, e se quiserdes, posso curar-vos já, se fizerdes o que eu disser.
“Conversaram e a proposta foi aceita.
“O cura mandou suspender o policial pelos pés, de modo que as mãos ficassem no chão e o sustentassem; colocou sob sua cabeça uma tigela de leite quente e lhe administrou o que se chama uma fumigação de leite. Ao cabo de alguns minutos, uma cobrinha, dizem uns, um grande verme, segundo outros, caiu na vasilha. Reconhecido, o policial pôs a cobra numa garrafa e conduziu o cura ao magistrado, ao qual explicou o seu caso. Como consequência disso, o cura foi posto em liberdade.
“Eu teria desejado muito ver esse cura, acrescenta o nosso correspondente, mas a neve em nossas montanhas tornam os caminhos muito difíceis nesta estação; sou obrigado a me contentar com as informações que vos transmito. A conclusão de tudo isto é que esta faculdade se desenvolve e os exemplos se multiplicam. Na comuna que vos cito, e em nosso vale, isto produz um grande efeito. Como sempre, uns dizem charlatão, outros demônio; outros feiticeiro, mas os fatos aí estão, e não perdi a ocasião para declarar minha maneira de pensar, explicando que os fatos desse gênero nada têm de sobrenatural nem de diabólico, como se tem visto milhares de exemplos, desde os tempos mais remotos, e que é um modo de manifestação do poder de Deus, sem que haja derrogação de suas leis eternas.”
Variedades
Os milagres de Bois-D'Haine
Le Progrès thérapeutique, jornal de Medicina, em seu número de 1º de março de 1869, dá conta de um fenômeno bizarro, tornado objeto de curiosidade pública no burgo de Bois-d’Haine, na Bélgica. Trata-se de uma jovem de 18 anos que todas as sextas-feiras, de 1h30min às 4h30min cai num estado de êxtase cataléptico; nesse estado ela fica deitada, braços estendidos, um pé sobre o outro, na posição de Jesus na cruz.
A insensibilidade e a rigidez dos membros foram constatadas por diversos médicos. Durante a crise, cinco feridas se abrem nos lugares exatos onde se localizaram as do Cristo, e deixam minar sangue verdadeiro. Depois da crise, o sangue para de correr, as chagas se fecham e são cicatrizadas em 24 horas. Durante os acessos, diz o doutor Beaucourt, autor do artigo, o reverendo Pe. Séraphin, presente às sessões, graças ao ascendente que ele tem sobre a doente, tem o poder de despertá-la de seu êxtase. Ele acrescenta: “Todo homem que não for ateu deve, para ser lógico, admitir que aquele que estabeleceu as leis admiráveis, tanto físicas quanto fisiológicas que regem a Natureza, também pode, à vontade, suspender ou mudar momentaneamente uma ou várias dessas leis.”
Como se vê, é um milagre em regra, e uma repetição do milagre das estigmatizadas. Como os milagres segundo a Igreja não são do campo do Espiritismo, julgamos supérfluo levar mais longe a busca das causas do fenômeno, e isto tanto mais quanto outro jornal disse, depois, que o bispo da diocese tinha interditado toda exibição.
A insensibilidade e a rigidez dos membros foram constatadas por diversos médicos. Durante a crise, cinco feridas se abrem nos lugares exatos onde se localizaram as do Cristo, e deixam minar sangue verdadeiro. Depois da crise, o sangue para de correr, as chagas se fecham e são cicatrizadas em 24 horas. Durante os acessos, diz o doutor Beaucourt, autor do artigo, o reverendo Pe. Séraphin, presente às sessões, graças ao ascendente que ele tem sobre a doente, tem o poder de despertá-la de seu êxtase. Ele acrescenta: “Todo homem que não for ateu deve, para ser lógico, admitir que aquele que estabeleceu as leis admiráveis, tanto físicas quanto fisiológicas que regem a Natureza, também pode, à vontade, suspender ou mudar momentaneamente uma ou várias dessas leis.”
Como se vê, é um milagre em regra, e uma repetição do milagre das estigmatizadas. Como os milagres segundo a Igreja não são do campo do Espiritismo, julgamos supérfluo levar mais longe a busca das causas do fenômeno, e isto tanto mais quanto outro jornal disse, depois, que o bispo da diocese tinha interditado toda exibição.
O despertar do Sr. Louis
No número precedente publicamos o relato do estado singular de um Espírito que julgava sonhar. Enfim, ele despertou e o anunciou espontaneamente, na comunicação seguinte:
(Sociedade de Paris, 12 de fevereiro de 1869 – Médium, Sr. Leymarie)
Decididamente, senhores, malgrado meu, é preciso que eu abra os olhos e os ouvidos; é preciso que eu escute e veja. Por mais que negue, que declare que sois maníacos, muito corajosos, mas muito inclinados aos vossos devaneios, às ilusões, é necessário, confesso-o, a despeito dos meus ditos, que eu finalmente saiba que não mais sonho. Quanto a isto, estou certo, mas completamente certo. Venho à vossa casa todas às sextas-feiras, dia de reunião e, à força de ouvir repetir, quis saber se esse famoso sonho se prolongará indefinidamente. O amigo Jobard encarregou-se de me edificar a respeito, e isto com provas fundamentadas.
Não pertenço mais à Terra; estou morto; vi o luto dos meus, o pesar dos amigos, o contentamento de alguns invejosos, e agora venho ver-vos. Meu corpo não me seguiu; está mesmo lá, no seu recanto, no meio do adubo humano; e, com ou sem apelo, hoje venho a vós, não mais com despeito, mas com o desejo e a convicção de me esclarecer. Tenho perfeito discernimento; vejo o que fui; percorro com Jobard distâncias imensas, portanto, eu vivo, eu concebo, eu combino, eu possuo a minha vontade e meu livre-arbítrio, assim, nem tudo morre. Não éramos, pois, uma agregação inteligente de moléculas, e todas as salmodias sobre a inteligência da matéria não passavam de frases vazias e sem consistência.
Ah! Crede, senhores, se meus olhos se abrem, entrevejo uma verdade nova, e não é sem sofrimentos, sem revoltas, sem retornos amargos!
É, pois, muito verdadeiro! O Espírito permanece! Fluido inteligente, ele pode, sem a matéria, viver sua vida própria, etérea, e segundo a vossa expressão: semimaterial. Por vezes, entretanto, eu me pergunto se o sonho bizarro que eu tinha há mais de um mês não continua com essas peripécias novas, inauditas; mas o raciocínio frio, impassível de Jobard força-me a mão, e quando resisto, ele ri e se delicia em me confundir e, todo contente, cumula-me de epigramas e ditos alegres! Por mais que me rebele e me revolte, há que obedecer à verdade.
O Desnoyers da Terra, o autor de Jean-Paul Choppard ainda está em vida, e seu pensamento ardente abarca outros horizontes. Outrora ele era liberal e terra a terra, ao passo que agora aborda e abraça problemas desconhecidos, maravilhosos; e, ante essas novas apreciações, senhores, tende a bondade de perdoar minhas expressões um tanto levianas, porque, se eu não tinha razão completamente, bem poderíeis estar um pouco errados.
Vou refletir, reconhecer-me definitivamente, e se o resultado de minhas pesquisas sérias me conduzir às vossas ideias, há que esperar, não será mais para me queimar o cérebro.
Até outra vez, senhores.
LOUIS DESNOYERS.
O mesmo Espírito deu espontaneamente a comunicação seguinte, a propósito da morte de Lamartine:
(Sociedade de Paris, 5 de março de 1869 – Médium: Sr. Leymarie)
Sim, senhores, nós morremos mais ou menos esquecidos; pobres seres, vivemos confiantes nos órgãos que transmitem os nossos pensamentos. Queremos a vida com suas exuberâncias, fazemos uma multidão de projetos. Neste mundo o nosso trajeto é ter tido sua repercussão e, chegada a última hora, todo esse alvoroço, todo esse barulhinho, nossa altivez, nosso egoísmo, nosso labor, tudo é engolido na massa. É uma gota d’água no oceano humano.
Lamartine era um grande e nobre Espírito, cavalheiresco, entusiasta, um verdadeiro mestre na acepção da palavra, um diamante muito puro, bem lapidado. Ele era belo, grande; ele tinha o olhar, ele tinha o gesto do predestinado; ele sabia pensar, escrever; ele sabia falar; ele era um inspirado, um transformador!... Poeta, mudou o impulso da Literatura, emprestando-lhe suas asas prodigiosas; homem, ele governou um povo, uma revolução, e suas mãos se retiraram puras do contato com o poder.
Ninguém mais que ele foi amado, acariciado, bendito, adorado; e quando vieram os cabelos brancos, quando o desencorajamento tomava o belo velho, o lutador dos grandes dias, não lhe perdoaram mais um instante de desfalecimento. A própria França que estava em desfalecimento esbofeteou o poeta, o grande homem; ela quis apequená-lo, a esse lutador de duas revoluções, e o esquecimento, repito, parecia enterrar essa grande e magnânima figura! Ele está morto e bem morto, pois o acolhi no além-túmulo, com todos os que o tinham apreciado e estimado, malgrado o ostracismo, do qual a juventude das escolas fazia uma arma contra ele.
Ele estava transfigurado, sim, senhores, transfigurado por ver a dor de ter visto os que o tinham tanto amado recusar-lhe o devotamento que, entretanto, ele não soube nunca recusar em outros tempos, ao passo que os vencedores lhe estendiam as mãos. O poeta havia se tornado filósofo, e esse pensador amadurecia sua alma dolorida, para a grande prova. Ele via melhor; ele pressentia tudo, tudo o que esperais, senhores, e tudo o que eu não esperava.
Mais que ele, eu sou um vencido; vencido pela morte, vencido em vida pela necessidade, esse inimigo insaciável que nos inquieta como um roedor; e muito mais vencido hoje, porque venho inclinar-me ante a verdade.
Ah! Se para a França hoje reluz uma grande verdade; se a França de 89, se a mãe de tantos gênios desaparecidos recomeça a sentir que um de seus mais caros filhos, o bom, o nobre Lamartine desapareceu, hoje sinto que para ele nada está morto; sua lembrança está por toda a parte; as ondas sonoras de tantas lembranças emocionam o mundo. Ele era imortal entre vós, mas muito mais ainda entre nós, onde está realmente transfigurado. Seu Espírito resplandece, e Deus pode receber o grande desconhecido. De agora em diante Lamartine pode abarcar os mais vastos horizontes e cantar os hinos grandiosos que o seu grande coração havia sonhado. Ele pode preparar o vosso futuro, meus amigos, e acelerar conosco as etapas humanitárias. Mais do que nunca, ele poderá ver desenvolver-se em vós esse ardente amor de instrução, de progresso, de liberdade e de associação, que são os elementos do futuro. A França é uma iniciadora; ela sabe o que pode. Ela quererá, ousará, quando sua juba poderosa tiver sacudido o formigueiro que vive às custas de sua virilidade e de sua grandeza.
Poderei eu, como ele, ganhar minha auréola e tornar-me resplandecente de felicidade, ver-me regenerar por vossa crença, cuja grandeza hoje compreendo? Por vós, Deus me marcou como uma ovelha desgarrada. Obrigado, senhores. Ao contato dos mortos tão lamentados, sinto-me viver e em breve direi convosco na mesma prece: A morte é a auréola; a morte é a vida.
LOUIS DESNOYERS.
(Sociedade de Paris, 12 de fevereiro de 1869 – Médium, Sr. Leymarie)
Decididamente, senhores, malgrado meu, é preciso que eu abra os olhos e os ouvidos; é preciso que eu escute e veja. Por mais que negue, que declare que sois maníacos, muito corajosos, mas muito inclinados aos vossos devaneios, às ilusões, é necessário, confesso-o, a despeito dos meus ditos, que eu finalmente saiba que não mais sonho. Quanto a isto, estou certo, mas completamente certo. Venho à vossa casa todas às sextas-feiras, dia de reunião e, à força de ouvir repetir, quis saber se esse famoso sonho se prolongará indefinidamente. O amigo Jobard encarregou-se de me edificar a respeito, e isto com provas fundamentadas.
Não pertenço mais à Terra; estou morto; vi o luto dos meus, o pesar dos amigos, o contentamento de alguns invejosos, e agora venho ver-vos. Meu corpo não me seguiu; está mesmo lá, no seu recanto, no meio do adubo humano; e, com ou sem apelo, hoje venho a vós, não mais com despeito, mas com o desejo e a convicção de me esclarecer. Tenho perfeito discernimento; vejo o que fui; percorro com Jobard distâncias imensas, portanto, eu vivo, eu concebo, eu combino, eu possuo a minha vontade e meu livre-arbítrio, assim, nem tudo morre. Não éramos, pois, uma agregação inteligente de moléculas, e todas as salmodias sobre a inteligência da matéria não passavam de frases vazias e sem consistência.
Ah! Crede, senhores, se meus olhos se abrem, entrevejo uma verdade nova, e não é sem sofrimentos, sem revoltas, sem retornos amargos!
É, pois, muito verdadeiro! O Espírito permanece! Fluido inteligente, ele pode, sem a matéria, viver sua vida própria, etérea, e segundo a vossa expressão: semimaterial. Por vezes, entretanto, eu me pergunto se o sonho bizarro que eu tinha há mais de um mês não continua com essas peripécias novas, inauditas; mas o raciocínio frio, impassível de Jobard força-me a mão, e quando resisto, ele ri e se delicia em me confundir e, todo contente, cumula-me de epigramas e ditos alegres! Por mais que me rebele e me revolte, há que obedecer à verdade.
O Desnoyers da Terra, o autor de Jean-Paul Choppard ainda está em vida, e seu pensamento ardente abarca outros horizontes. Outrora ele era liberal e terra a terra, ao passo que agora aborda e abraça problemas desconhecidos, maravilhosos; e, ante essas novas apreciações, senhores, tende a bondade de perdoar minhas expressões um tanto levianas, porque, se eu não tinha razão completamente, bem poderíeis estar um pouco errados.
Vou refletir, reconhecer-me definitivamente, e se o resultado de minhas pesquisas sérias me conduzir às vossas ideias, há que esperar, não será mais para me queimar o cérebro.
Até outra vez, senhores.
LOUIS DESNOYERS.
O mesmo Espírito deu espontaneamente a comunicação seguinte, a propósito da morte de Lamartine:
(Sociedade de Paris, 5 de março de 1869 – Médium: Sr. Leymarie)
Sim, senhores, nós morremos mais ou menos esquecidos; pobres seres, vivemos confiantes nos órgãos que transmitem os nossos pensamentos. Queremos a vida com suas exuberâncias, fazemos uma multidão de projetos. Neste mundo o nosso trajeto é ter tido sua repercussão e, chegada a última hora, todo esse alvoroço, todo esse barulhinho, nossa altivez, nosso egoísmo, nosso labor, tudo é engolido na massa. É uma gota d’água no oceano humano.
Lamartine era um grande e nobre Espírito, cavalheiresco, entusiasta, um verdadeiro mestre na acepção da palavra, um diamante muito puro, bem lapidado. Ele era belo, grande; ele tinha o olhar, ele tinha o gesto do predestinado; ele sabia pensar, escrever; ele sabia falar; ele era um inspirado, um transformador!... Poeta, mudou o impulso da Literatura, emprestando-lhe suas asas prodigiosas; homem, ele governou um povo, uma revolução, e suas mãos se retiraram puras do contato com o poder.
Ninguém mais que ele foi amado, acariciado, bendito, adorado; e quando vieram os cabelos brancos, quando o desencorajamento tomava o belo velho, o lutador dos grandes dias, não lhe perdoaram mais um instante de desfalecimento. A própria França que estava em desfalecimento esbofeteou o poeta, o grande homem; ela quis apequená-lo, a esse lutador de duas revoluções, e o esquecimento, repito, parecia enterrar essa grande e magnânima figura! Ele está morto e bem morto, pois o acolhi no além-túmulo, com todos os que o tinham apreciado e estimado, malgrado o ostracismo, do qual a juventude das escolas fazia uma arma contra ele.
Ele estava transfigurado, sim, senhores, transfigurado por ver a dor de ter visto os que o tinham tanto amado recusar-lhe o devotamento que, entretanto, ele não soube nunca recusar em outros tempos, ao passo que os vencedores lhe estendiam as mãos. O poeta havia se tornado filósofo, e esse pensador amadurecia sua alma dolorida, para a grande prova. Ele via melhor; ele pressentia tudo, tudo o que esperais, senhores, e tudo o que eu não esperava.
Mais que ele, eu sou um vencido; vencido pela morte, vencido em vida pela necessidade, esse inimigo insaciável que nos inquieta como um roedor; e muito mais vencido hoje, porque venho inclinar-me ante a verdade.
Ah! Se para a França hoje reluz uma grande verdade; se a França de 89, se a mãe de tantos gênios desaparecidos recomeça a sentir que um de seus mais caros filhos, o bom, o nobre Lamartine desapareceu, hoje sinto que para ele nada está morto; sua lembrança está por toda a parte; as ondas sonoras de tantas lembranças emocionam o mundo. Ele era imortal entre vós, mas muito mais ainda entre nós, onde está realmente transfigurado. Seu Espírito resplandece, e Deus pode receber o grande desconhecido. De agora em diante Lamartine pode abarcar os mais vastos horizontes e cantar os hinos grandiosos que o seu grande coração havia sonhado. Ele pode preparar o vosso futuro, meus amigos, e acelerar conosco as etapas humanitárias. Mais do que nunca, ele poderá ver desenvolver-se em vós esse ardente amor de instrução, de progresso, de liberdade e de associação, que são os elementos do futuro. A França é uma iniciadora; ela sabe o que pode. Ela quererá, ousará, quando sua juba poderosa tiver sacudido o formigueiro que vive às custas de sua virilidade e de sua grandeza.
Poderei eu, como ele, ganhar minha auréola e tornar-me resplandecente de felicidade, ver-me regenerar por vossa crença, cuja grandeza hoje compreendo? Por vós, Deus me marcou como uma ovelha desgarrada. Obrigado, senhores. Ao contato dos mortos tão lamentados, sinto-me viver e em breve direi convosco na mesma prece: A morte é a auréola; a morte é a vida.
LOUIS DESNOYERS.
OBSERVAÇÃO: Uma senhora, membro da Sociedade, que conhecia particularmente o Sr. Lamartine e tinha assistido aos seus últimos momentos, acabara de dizer que depois de sua morte sua fisionomia se havia literalmente transfigurado, que ela não tinha mais a decrepitude da velhice. É a essa circunstância que o Espírito faz alusão.
Dissertações espíritas
Lamartine
(Sociedade espírita de Paris, 14 de março de 1869 - Médium: Sr. Leymarie)
Um amigo, um grande poeta, escrevia-me em dolorosa circunstância: “Ela é sempre vossa companheira, invisível, mas presente; perdestes a mulher, mas não a alma! Caro amigo, vivamos nos mortos!” Pensamento consolador, salutar, que reconforta na luta e faz pensar incessantemente nesta sucessão ascendente da matéria, nesta unidade na concepção de tudo o que é, neste maravilhoso e incomparável obreiro que, para a continuidade do progresso, liga o Espírito a esta matéria, por sua vez espiritualizada pela presença do elemento superior.
Não, minha bem-amada, não perdi tua alma, que vivia gloriosa, cintilante de todas as claridades do mundo invisível. Minha vida é um protesto vivo contra o flagelo ameaçador do ceticismo em suas múltiplas formas.
Ninguém, mais que eu, afirmou energicamente a personalidade divina e acreditou na personalidade humana, defendendo a liberdade. Se o sentimento do infinito estava desenvolvido em mim; se a presença divina palpita em páginas entusiásticas, é que eu devia desbravar a minha senda; é que eu vivia da presença de Deus, e essa fonte, jorrando incessantemente, sempre me fez crer no bem, no belo, na retidão, no devotamento, na honra do indivíduo e, mais ainda, na honra da nação, essa individualidade condensada. É que minha companheira era uma natureza de escol, forte e terna. Junto dela, compreendi a natureza da alma e suas íntimas relações com a estátua de carne, essa maravilha! Assim, meus estudos eram espiritualizados, por consequência fecundos e rápidos, voltando-se incessantemente para as formas do belo e a paixão das letras. Casei a ciência com o pensamento, para que, em mim, a Filosofia pudesse servir-se desses dois preciosos instrumentos poéticos.
Por vezes minha forma era abstrata e não estava ao alcance de todos; mas os pensadores sérios a adotaram; todos os grandes espíritos de meu tempo me abriram suas fileiras. A ortodoxia católica me olhava como uma ovelha fugindo do rebanho do pastor romano, sobretudo quando, levado pelos acontecimentos, partilhei a responsabilidade de uma revolução gloriosa.
Arrastado um momento pelas aspirações populares, por esse poderoso sopro de ideias comprimidas, eu não era mais o homem das grandes situações; eu tinha terminado a minha jornada e, para mim, no relógio do tempo, soavam as horas de lassidão e desencorajamento. Vi o meu calvário, e enquanto Lamartine o subia penosamente, os filhos desta França tão amada lhe cuspiam no rosto, sem respeito aos seus cabelos brancos, o ultraje, o desafio, a injúria.
Prova solene, senhores, na qual a alma se retempera e se retifica, porque o esquecimento é a morte, e a morte na Terra é o comércio com Deus, esse distribuidor judicioso de todas as forças!
Morri como cristão; tinha nascido na Igreja e parto diante dela! Há um ano, eu tinha uma profunda intuição. Falava pouco, mas viajava sem cessar pelas planícies etéreas, onde tudo se refunde sob o olhar do Senhor dos mundos; o problema da vida se desenrolava majestosamente, gloriosamente. Compreendi o pensamento de Swedenborg e da escola dos teósofos, de Fourier, de Jean Reynaud, de Henri Martin, de Victor Hugo, e o Espiritismo, que me era familiar, embora em contradição com os meus preconceitos e o meu nascimento, preparava-me para o desligamento, para a partida. A transição não foi penosa; como o pólen de uma flor, meu Espírito, levado por um turbilhão, encontrou a planta irmã. Como vós, eu a chamo de erraticidade, e para me fazer amar essa irmã desejada, minha mãe, minha esposa bem-amada, uma multidão de amigos e de invisíveis me cercavam como uma auréola luminosa. Mergulhado nesse fluido benéfico, meu Espírito se asserenava, como o corpo desse viajor do deserto que, após uma longa viagem sob um céu de chumbo e fogo, encontraria um banho generoso para seu corpo, uma fonte límpida e fresca para a sua sede ardente.
Alegrias inefáveis do céu sem limites, concertos de todas as harmonias, moléculas que repercutis os acordes da ciência divina, calor vivificante de suas impressões sem nome que a língua humana não poderia decifrar, bem-estar novo, renascimento, completa elasticidade, elétrica profundeza das certezas, similitudes das leis, calma cheia de grandeza, esferas que encerrais as Humanidades, oh! sede bem-vindas, emoções previstas, aumentadas indefinidamente de radiações do infinito!
Permutai vossas ideias, espíritas que acreditais em nós. Estudai nas fontes sempre novas do nosso ensino; firmai-vos, e que cada membro da família seja um apóstolo que fale, marche e se conduza com vontade, com a certeza de que não dais nada ao desconhecido. Sabei muito para que vossa inteligência se eleve. A ciência humana, reunida à ciência dos vossos auxiliares invisíveis, mas luminosos, vos fará senhores do futuro. Expulsareis a sombra para vir a nós, isto é, à luz, a Deus.
ALPHONSE DE LAMARTINE.
Não, minha bem-amada, não perdi tua alma, que vivia gloriosa, cintilante de todas as claridades do mundo invisível. Minha vida é um protesto vivo contra o flagelo ameaçador do ceticismo em suas múltiplas formas.
Ninguém, mais que eu, afirmou energicamente a personalidade divina e acreditou na personalidade humana, defendendo a liberdade. Se o sentimento do infinito estava desenvolvido em mim; se a presença divina palpita em páginas entusiásticas, é que eu devia desbravar a minha senda; é que eu vivia da presença de Deus, e essa fonte, jorrando incessantemente, sempre me fez crer no bem, no belo, na retidão, no devotamento, na honra do indivíduo e, mais ainda, na honra da nação, essa individualidade condensada. É que minha companheira era uma natureza de escol, forte e terna. Junto dela, compreendi a natureza da alma e suas íntimas relações com a estátua de carne, essa maravilha! Assim, meus estudos eram espiritualizados, por consequência fecundos e rápidos, voltando-se incessantemente para as formas do belo e a paixão das letras. Casei a ciência com o pensamento, para que, em mim, a Filosofia pudesse servir-se desses dois preciosos instrumentos poéticos.
Por vezes minha forma era abstrata e não estava ao alcance de todos; mas os pensadores sérios a adotaram; todos os grandes espíritos de meu tempo me abriram suas fileiras. A ortodoxia católica me olhava como uma ovelha fugindo do rebanho do pastor romano, sobretudo quando, levado pelos acontecimentos, partilhei a responsabilidade de uma revolução gloriosa.
Arrastado um momento pelas aspirações populares, por esse poderoso sopro de ideias comprimidas, eu não era mais o homem das grandes situações; eu tinha terminado a minha jornada e, para mim, no relógio do tempo, soavam as horas de lassidão e desencorajamento. Vi o meu calvário, e enquanto Lamartine o subia penosamente, os filhos desta França tão amada lhe cuspiam no rosto, sem respeito aos seus cabelos brancos, o ultraje, o desafio, a injúria.
Prova solene, senhores, na qual a alma se retempera e se retifica, porque o esquecimento é a morte, e a morte na Terra é o comércio com Deus, esse distribuidor judicioso de todas as forças!
Morri como cristão; tinha nascido na Igreja e parto diante dela! Há um ano, eu tinha uma profunda intuição. Falava pouco, mas viajava sem cessar pelas planícies etéreas, onde tudo se refunde sob o olhar do Senhor dos mundos; o problema da vida se desenrolava majestosamente, gloriosamente. Compreendi o pensamento de Swedenborg e da escola dos teósofos, de Fourier, de Jean Reynaud, de Henri Martin, de Victor Hugo, e o Espiritismo, que me era familiar, embora em contradição com os meus preconceitos e o meu nascimento, preparava-me para o desligamento, para a partida. A transição não foi penosa; como o pólen de uma flor, meu Espírito, levado por um turbilhão, encontrou a planta irmã. Como vós, eu a chamo de erraticidade, e para me fazer amar essa irmã desejada, minha mãe, minha esposa bem-amada, uma multidão de amigos e de invisíveis me cercavam como uma auréola luminosa. Mergulhado nesse fluido benéfico, meu Espírito se asserenava, como o corpo desse viajor do deserto que, após uma longa viagem sob um céu de chumbo e fogo, encontraria um banho generoso para seu corpo, uma fonte límpida e fresca para a sua sede ardente.
Alegrias inefáveis do céu sem limites, concertos de todas as harmonias, moléculas que repercutis os acordes da ciência divina, calor vivificante de suas impressões sem nome que a língua humana não poderia decifrar, bem-estar novo, renascimento, completa elasticidade, elétrica profundeza das certezas, similitudes das leis, calma cheia de grandeza, esferas que encerrais as Humanidades, oh! sede bem-vindas, emoções previstas, aumentadas indefinidamente de radiações do infinito!
Permutai vossas ideias, espíritas que acreditais em nós. Estudai nas fontes sempre novas do nosso ensino; firmai-vos, e que cada membro da família seja um apóstolo que fale, marche e se conduza com vontade, com a certeza de que não dais nada ao desconhecido. Sabei muito para que vossa inteligência se eleve. A ciência humana, reunida à ciência dos vossos auxiliares invisíveis, mas luminosos, vos fará senhores do futuro. Expulsareis a sombra para vir a nós, isto é, à luz, a Deus.
ALPHONSE DE LAMARTINE.
Charles Fourier
Um discípulo de Charles Fourier, que ao mesmo tempo é espírita, ultimamente nos dirigiu uma evocação com o pedido de solicitar uma resposta, se fosse possível, a fim de se esclarecer sobre certas questões. Tendo-nos parecido ambas instrutivas, transcrevemo-las a seguir.
(Paris, Grupo Desliens, 9 de março de 1869) “Irmão Fourier,
“Do alto da esfera ultramundana, se teu Espírito me pode ver e ouvir, eu te peço comunicar-te comigo, a fim de me fortalecer na convicção que tua admirável teoria dos quatro movimentos fez nascer em mim sobre a lei da harmonia universal, ou de me desenganar se tiveste a infelicidade, tu mesmo, de te enganares. ─ A ti, cujo gênio incomparável parece ter levantado a cortina que ocultava a Natureza, e cujo Espírito deve ser mais lúcido ainda do que era no mundo material, eu te peço que me digas se reconheces, no mundo dos Espíritos, como na Terra, que haja desmoronamento da ordem natural estabelecida por Deus, em nossa organização social; se as atrações passionais são realmente a alavanca de que Deus se serve para conduzir o homem ao seu verdadeiro destino; se a analogia é um meio seguro para descobrir a verdade.
“Peço-te que me digas, também, o que pensas das sociedades cooperativas que germinam de todos os lados na superfície do nosso globo. Se teu Espírito pode ler no pensamento do homem sincero, tu deves saber que a dúvida o torna infeliz; eis por que te suplico, de tua morada de além-túmulo, a bondade de fazer tudo quanto dependa de ti para me convencer.
“Recebe, nosso irmão, a certeza do respeito que devo à tua memória, e de minha maior veneração.”
J. G.
Resposta. ─ “É uma pergunta muito séria, caro irmão em crença, indagar de um homem se ele se enganou, quando um certo número de anos se passaram desde que ele expôs o sistema que melhor satisfazia às suas aspirações para o desconhecido! Enganei-me?... Quem não se enganou quando quis, apenas com as suas forças, levantar o véu que lhe ocultava o fogo sagrado?! Prometeu fez homens com esse fogo, mas a lei do progresso condenou esses homens às lutas físicas e morais. Eu fiz um sistema, destinado, como todos os sistemas, a viver um tempo, depois a transformar-se, a associar-se a novos elementos mais verdadeiros. Como vedes, há ideias como homens. Desde que elas nasceram, elas não morrem: elas se transformam. Grosseiras de início, envoltas na ganga da linguagem, encontram sucessivamente artesãos que as talham e as vão polindo cada vez mais, até que esse eixo informe se tenha tornado o diamante de brilho vivo, a pedra preciosa por excelência.
“Busquei conscienciosamente e achei muito. Apoiando-me nos princípios adquiridos, fiz avançar alguns passos o pensamento inteligente e regenerador. O que descobri era verdadeiro em princípio; falseei-o, ao querer aplicá-lo. Quis criar a série, estabelecer harmonias, mas essas séries, essas harmonias não necessitavam de criador; elas existiam desde o começo; eu não podia senão perturbá-las, querendo estabelecê-las sobre as pequenas bases de minha concepção, quando Deus lhes havia dado o Universo por laboratório gigantesco.
“Meu mais sério título, aquele que ignoram e talvez mais desdenhem, é ter partilhado com Jean Reynaud, Ballanche, Joseph de Maîstre e muitos outros, o pressentimento da verdade; é ter sonhado com essa regeneração humana pela provação, essa sucessão de existências reparadoras, essa comunicação do mundo livre e do mundo encadeado à matéria, que tendes a felicidade de tocar com o dedo. Nós tínhamos previsto e vós realizais o nosso sonho. Eis os nossos maiores títulos de glória, os únicos que, de minha parte, estimo e dos quais me lembro.
“Duvidais, dizeis vós, meu amigo! Tanto melhor, porque aquele que duvida verdadeiramente, procura, e aquele que procura, encontra. Procurai, pois, e se não depende senão de mim pôr a convicção em vossas mãos, contai com o meu concurso devotado. Mas escutai um conselho de amigo, que pus em prática em minha vida e no qual sempre me dei bem: “Se quiserdes uma demonstração séria de uma lei universal, buscai a sua aplicação individual. Quereis a verdade? Buscai-a em vós mesmo, e na observação dos fatos de vossa própria vida. Todos os elementos de prova aí estão. Que aquele que quer saber se examine, e encontrará.
“CH. FOURIER.”
(Paris, Grupo Desliens, 9 de março de 1869) “Irmão Fourier,
“Do alto da esfera ultramundana, se teu Espírito me pode ver e ouvir, eu te peço comunicar-te comigo, a fim de me fortalecer na convicção que tua admirável teoria dos quatro movimentos fez nascer em mim sobre a lei da harmonia universal, ou de me desenganar se tiveste a infelicidade, tu mesmo, de te enganares. ─ A ti, cujo gênio incomparável parece ter levantado a cortina que ocultava a Natureza, e cujo Espírito deve ser mais lúcido ainda do que era no mundo material, eu te peço que me digas se reconheces, no mundo dos Espíritos, como na Terra, que haja desmoronamento da ordem natural estabelecida por Deus, em nossa organização social; se as atrações passionais são realmente a alavanca de que Deus se serve para conduzir o homem ao seu verdadeiro destino; se a analogia é um meio seguro para descobrir a verdade.
“Peço-te que me digas, também, o que pensas das sociedades cooperativas que germinam de todos os lados na superfície do nosso globo. Se teu Espírito pode ler no pensamento do homem sincero, tu deves saber que a dúvida o torna infeliz; eis por que te suplico, de tua morada de além-túmulo, a bondade de fazer tudo quanto dependa de ti para me convencer.
“Recebe, nosso irmão, a certeza do respeito que devo à tua memória, e de minha maior veneração.”
J. G.
Resposta. ─ “É uma pergunta muito séria, caro irmão em crença, indagar de um homem se ele se enganou, quando um certo número de anos se passaram desde que ele expôs o sistema que melhor satisfazia às suas aspirações para o desconhecido! Enganei-me?... Quem não se enganou quando quis, apenas com as suas forças, levantar o véu que lhe ocultava o fogo sagrado?! Prometeu fez homens com esse fogo, mas a lei do progresso condenou esses homens às lutas físicas e morais. Eu fiz um sistema, destinado, como todos os sistemas, a viver um tempo, depois a transformar-se, a associar-se a novos elementos mais verdadeiros. Como vedes, há ideias como homens. Desde que elas nasceram, elas não morrem: elas se transformam. Grosseiras de início, envoltas na ganga da linguagem, encontram sucessivamente artesãos que as talham e as vão polindo cada vez mais, até que esse eixo informe se tenha tornado o diamante de brilho vivo, a pedra preciosa por excelência.
“Busquei conscienciosamente e achei muito. Apoiando-me nos princípios adquiridos, fiz avançar alguns passos o pensamento inteligente e regenerador. O que descobri era verdadeiro em princípio; falseei-o, ao querer aplicá-lo. Quis criar a série, estabelecer harmonias, mas essas séries, essas harmonias não necessitavam de criador; elas existiam desde o começo; eu não podia senão perturbá-las, querendo estabelecê-las sobre as pequenas bases de minha concepção, quando Deus lhes havia dado o Universo por laboratório gigantesco.
“Meu mais sério título, aquele que ignoram e talvez mais desdenhem, é ter partilhado com Jean Reynaud, Ballanche, Joseph de Maîstre e muitos outros, o pressentimento da verdade; é ter sonhado com essa regeneração humana pela provação, essa sucessão de existências reparadoras, essa comunicação do mundo livre e do mundo encadeado à matéria, que tendes a felicidade de tocar com o dedo. Nós tínhamos previsto e vós realizais o nosso sonho. Eis os nossos maiores títulos de glória, os únicos que, de minha parte, estimo e dos quais me lembro.
“Duvidais, dizeis vós, meu amigo! Tanto melhor, porque aquele que duvida verdadeiramente, procura, e aquele que procura, encontra. Procurai, pois, e se não depende senão de mim pôr a convicção em vossas mãos, contai com o meu concurso devotado. Mas escutai um conselho de amigo, que pus em prática em minha vida e no qual sempre me dei bem: “Se quiserdes uma demonstração séria de uma lei universal, buscai a sua aplicação individual. Quereis a verdade? Buscai-a em vós mesmo, e na observação dos fatos de vossa própria vida. Todos os elementos de prova aí estão. Que aquele que quer saber se examine, e encontrará.
“CH. FOURIER.”
Bibliografia
Há uma vida futura?
Opiniões diversas sobre este assunto, colhidas e ordenadas por um Fantasma[1].
Para a maioria, não importando a vida futura, uma demonstração se torna de certo modo supérflua, porque é mais ou menos como se quiséssemos provar que o Sol se ergue todas as manhãs. Entretanto, como há cegos que não veem o Sol se levantar, é bom saber como se lhes pode provar; ora, é a tarefa que empreendeu o Fantasma, autor deste livro. Esse Fantasma é um ilustre engenheiro, que conhecemos pela reputação, por outras obras filosóficas que trazem o seu nome; mas como ele julgou apropriado neste não apor o seu nome, não nos julgamos com o direito de cometer uma indiscrição, embora saibamos que ele não faz qualquer mistério sobre suas crenças.
Este livro prova, mais uma vez, que a Ciência não conduz fatalmente ao materialismo, e que um matemático pode ser um firme crente em Deus, na alma, na vida futura e em todas as suas consequências.
Não é uma simples profissão de fé, mas uma demonstração digna de um matemático, por sua lógica cerrada e irresistível. Não é, também, uma dissertação árida e dogmática, mas uma polêmica orientada sob a forma de conversação familiar, na qual o pró e o contra são imparcialmente discutidos.
Conta o autor que, assistindo ao enterro de um de seus amigos, em caminho pôs-se a conversar com vários convidados. A circunstância e as emoções da cerimônia levaram a conversa para a sorte do homem após a morte. A princípio ela se travou com um niilista, ao qual ele resolveu demonstrar a realidade da vida futura por argumentos encadeados com uma arte admirável, e sem chocá-lo ou feri-lo, conduzi-lo naturalmente às suas ideias.
Junto ao túmulo são pronunciados dois discursos sobre a questão do futuro, num sentido diametralmente oposto, e produzem impressões diferentes. No retorno, novos interlocutores se juntam aos dois primeiros; eles concordam em se reunir na casa de um deles, e lá se trava uma polêmica séria, na qual as diversas opiniões fazem valer as razões sobre as quais se apoiam.
Este livro, cuja leitura é atraente, tem todo o atrativo de uma história, e toda a profundeza de uma tese filosófica. Acrescentaremos que, entre os princípios que preconiza, não encontramos um só em contradição com a Doutrina Espírita, na qual o autor deve ter-se inspirado.
A necessidade da reencarnação para o progresso, sua evidência, sua concordância com a justiça de Deus, a expiação e a reparação pelo reencontro dos que se prejudicaram numa precedente existência, ali são demonstradas com uma clareza absoluta. Vários exemplos citados provam que o esquecimento do passado, na vida de relação, é um benefício da Providência, e que esse esquecimento momentâneo não impede de tirar proveito da experiência do passado, visto que a alma se recorda nos momentos de desprendimento.
Eis, em poucas palavras, um dos fatos contados por um dos interlocutores e que, diz ele, lhe é pessoal.
Ele era aprendiz numa grande fábrica. Por sua conduta, inteligência e caráter, conquistara a estima e a amizade do patrão que, em consequência, o associou à sua casa. Vários fatos, dos quais agora não se dá conta, nele provam a percepção e a intuição das coisas durante o sono; essa faculdade até lhe serviu para prevenir um acidente que poderia ter consequências desastrosas para a fábrica.
A filha do patrão, encantadora menina de oito anos, lhe testemunha afeição e se diverte com ele; mas, cada vez que ela se aproxima, ele experimenta um frio glacial e uma repulsa instintiva; seu contato lhe faz mal. Pouco a pouco, entretanto, tal sentimento se abranda, depois se extingue. Mais tarde ele a desposa. Ela é boa, afetuosa, previdente e a união é muito feliz.
Uma noite ele teve um sonho horrível. Ele se via na sua precedente encarnação; sua mulher se havia conduzido de maneira indigna e tinha sido a causa de sua morte e, coisa estranha! ele não podia separar a ideia dessa mulher da de sua atual esposa; parecia-lhe que se tratava da mesma pessoa. Abalado por essa visão ao despertar, ficou triste; pressionado pela mulher para lhe dizer a causa, decidiu-se a contar-lhe o pesadelo. “É singular, disse ela, tive um sonho semelhante, e eu é que era a culpada.” As circunstâncias fazem com que ambos reconheçam não estarem unidos pela primeira vez. O marido compreende a repulsa que tinha por sua esposa, quando ela era menina; a mulher redobra de cuidados para apagar seu passado; mas ela já está perdoada, porque a reparação se deu e a união continua a ser próspera.
Daí a conclusão que esses dois seres se encontravam novamente unidos, um para reparar, o outro para perdoar; que se eles tivesses tido a lembrança do passado, ter-se-iam afastado e teriam perdido o benefício, um da reparação, o outro do perdão.
Para dar uma ideia exata do interesse desse livro, seria preciso citá-lo por inteiro. Limitar-nos-emos à passagem seguinte:
“Vós me perguntais se creio na vida futura, dizia-me um velho general; se nós, os soldados, cremos! E como quereis que não seja assim, a menos que sejamos um tríplice animal? Em que quereis que pensemos na véspera de um combate, de um assalto, que tudo prenuncia que deve ser mortífero?... Depois de ter dito adeus, em pensamento, aos seres queridos que estamos ameaçados de deixar, voltamos instintivamente aos ensinos maternos que nos mostraram uma vida futura na qual os seres simpáticos se reencontram. Colhemos nessas lembranças um redobramento de coragem que nos faz enfrentar os maiores perigos, conforme o nosso temperamento, com calma ou com um certo entusiasmo e, mais vezes ainda, com um arrebatamento, uma alegria, que são os traços característicos do exército francês.
“Afinal de contas, nós somos descendentes desses bravos gauleses, cuja crença na vida futura era tão grande, que tomavam emprestadas grandes somas para reembolsar numa outra existência. Vou mais longe; estou persuadido de que somos sempre esses filhos da velha Gália que, entre o tempo de César e o nosso, atravessaram um grande número de existências, em cada uma das quais conquistaram um grau mais elevado nas falanges terrenas.”
Este livro será lido com proveito pelos mais firmes crentes, porque aí colherão novos argumentos para refutar seus adversários.
[1] I vol. in-12. 3 francos.
Para a maioria, não importando a vida futura, uma demonstração se torna de certo modo supérflua, porque é mais ou menos como se quiséssemos provar que o Sol se ergue todas as manhãs. Entretanto, como há cegos que não veem o Sol se levantar, é bom saber como se lhes pode provar; ora, é a tarefa que empreendeu o Fantasma, autor deste livro. Esse Fantasma é um ilustre engenheiro, que conhecemos pela reputação, por outras obras filosóficas que trazem o seu nome; mas como ele julgou apropriado neste não apor o seu nome, não nos julgamos com o direito de cometer uma indiscrição, embora saibamos que ele não faz qualquer mistério sobre suas crenças.
Este livro prova, mais uma vez, que a Ciência não conduz fatalmente ao materialismo, e que um matemático pode ser um firme crente em Deus, na alma, na vida futura e em todas as suas consequências.
Não é uma simples profissão de fé, mas uma demonstração digna de um matemático, por sua lógica cerrada e irresistível. Não é, também, uma dissertação árida e dogmática, mas uma polêmica orientada sob a forma de conversação familiar, na qual o pró e o contra são imparcialmente discutidos.
Conta o autor que, assistindo ao enterro de um de seus amigos, em caminho pôs-se a conversar com vários convidados. A circunstância e as emoções da cerimônia levaram a conversa para a sorte do homem após a morte. A princípio ela se travou com um niilista, ao qual ele resolveu demonstrar a realidade da vida futura por argumentos encadeados com uma arte admirável, e sem chocá-lo ou feri-lo, conduzi-lo naturalmente às suas ideias.
Junto ao túmulo são pronunciados dois discursos sobre a questão do futuro, num sentido diametralmente oposto, e produzem impressões diferentes. No retorno, novos interlocutores se juntam aos dois primeiros; eles concordam em se reunir na casa de um deles, e lá se trava uma polêmica séria, na qual as diversas opiniões fazem valer as razões sobre as quais se apoiam.
Este livro, cuja leitura é atraente, tem todo o atrativo de uma história, e toda a profundeza de uma tese filosófica. Acrescentaremos que, entre os princípios que preconiza, não encontramos um só em contradição com a Doutrina Espírita, na qual o autor deve ter-se inspirado.
A necessidade da reencarnação para o progresso, sua evidência, sua concordância com a justiça de Deus, a expiação e a reparação pelo reencontro dos que se prejudicaram numa precedente existência, ali são demonstradas com uma clareza absoluta. Vários exemplos citados provam que o esquecimento do passado, na vida de relação, é um benefício da Providência, e que esse esquecimento momentâneo não impede de tirar proveito da experiência do passado, visto que a alma se recorda nos momentos de desprendimento.
Eis, em poucas palavras, um dos fatos contados por um dos interlocutores e que, diz ele, lhe é pessoal.
Ele era aprendiz numa grande fábrica. Por sua conduta, inteligência e caráter, conquistara a estima e a amizade do patrão que, em consequência, o associou à sua casa. Vários fatos, dos quais agora não se dá conta, nele provam a percepção e a intuição das coisas durante o sono; essa faculdade até lhe serviu para prevenir um acidente que poderia ter consequências desastrosas para a fábrica.
A filha do patrão, encantadora menina de oito anos, lhe testemunha afeição e se diverte com ele; mas, cada vez que ela se aproxima, ele experimenta um frio glacial e uma repulsa instintiva; seu contato lhe faz mal. Pouco a pouco, entretanto, tal sentimento se abranda, depois se extingue. Mais tarde ele a desposa. Ela é boa, afetuosa, previdente e a união é muito feliz.
Uma noite ele teve um sonho horrível. Ele se via na sua precedente encarnação; sua mulher se havia conduzido de maneira indigna e tinha sido a causa de sua morte e, coisa estranha! ele não podia separar a ideia dessa mulher da de sua atual esposa; parecia-lhe que se tratava da mesma pessoa. Abalado por essa visão ao despertar, ficou triste; pressionado pela mulher para lhe dizer a causa, decidiu-se a contar-lhe o pesadelo. “É singular, disse ela, tive um sonho semelhante, e eu é que era a culpada.” As circunstâncias fazem com que ambos reconheçam não estarem unidos pela primeira vez. O marido compreende a repulsa que tinha por sua esposa, quando ela era menina; a mulher redobra de cuidados para apagar seu passado; mas ela já está perdoada, porque a reparação se deu e a união continua a ser próspera.
Daí a conclusão que esses dois seres se encontravam novamente unidos, um para reparar, o outro para perdoar; que se eles tivesses tido a lembrança do passado, ter-se-iam afastado e teriam perdido o benefício, um da reparação, o outro do perdão.
Para dar uma ideia exata do interesse desse livro, seria preciso citá-lo por inteiro. Limitar-nos-emos à passagem seguinte:
“Vós me perguntais se creio na vida futura, dizia-me um velho general; se nós, os soldados, cremos! E como quereis que não seja assim, a menos que sejamos um tríplice animal? Em que quereis que pensemos na véspera de um combate, de um assalto, que tudo prenuncia que deve ser mortífero?... Depois de ter dito adeus, em pensamento, aos seres queridos que estamos ameaçados de deixar, voltamos instintivamente aos ensinos maternos que nos mostraram uma vida futura na qual os seres simpáticos se reencontram. Colhemos nessas lembranças um redobramento de coragem que nos faz enfrentar os maiores perigos, conforme o nosso temperamento, com calma ou com um certo entusiasmo e, mais vezes ainda, com um arrebatamento, uma alegria, que são os traços característicos do exército francês.
“Afinal de contas, nós somos descendentes desses bravos gauleses, cuja crença na vida futura era tão grande, que tomavam emprestadas grandes somas para reembolsar numa outra existência. Vou mais longe; estou persuadido de que somos sempre esses filhos da velha Gália que, entre o tempo de César e o nosso, atravessaram um grande número de existências, em cada uma das quais conquistaram um grau mais elevado nas falanges terrenas.”
Este livro será lido com proveito pelos mais firmes crentes, porque aí colherão novos argumentos para refutar seus adversários.
[1] I vol. in-12. 3 francos.
A alma
Este livro tende para o mesmo objetivo do precedente: a demonstração da alma, da vida futura, da pluralidade das existências, mas sob uma forma mais didática, mais científica, posto que sempre clara e inteligível para todo mundo. A refutação do materialismo e, em particular, das doutrinas de Büchner e de Maleschott, aí ocupa largo espaço, e não é a parte menos interessante nem a menos instrutiva, pela irresistível lógica dos argumentos. A doutrina desses dois escritores, de um incontestável talento, e que pretendem explicar todos os fenômenos morais só pelas forças da matéria, teve muita repercussão na Alemanha e, por consequência, na França; ela naturalmente foi aclamada com entusiasmo pelos materialistas, felizes por aí encontrarem a sanção às suas ideias; ela recrutou partidários sobretudo entre a juventude das escolas, que delas se valem para se libertar, em nome da aparente legalidade de uma filosofia, do que impõe freio à crença em Deus e na imortalidade.
O autor se ocupa em reduzir ao seu justo valor os sofismas sobre os quais se apoia essa filosofia; demonstra as desastrosas consequências que ela teria para a Sociedade, se algum dia viesse a prevalecer, e sua incompatibilidade com toda doutrina moral. Embora ela quase não seja conhecida senão em determinada esfera, uma refutação de certo modo popular é muito útil, a fim de premunir os que pudessem deixar-se seduzir pelos argumentos especiosos que ela invoca. Estamos persuadidos de que, entre as pessoas que a preconizam, algumas recuariam se tivessem compreendido toda a sua extensão.
Ainda que não fosse senão deste ponto de vista, a obra do Sr. Dyonis mereceria sérios encorajamentos, porque é um campeão enérgico para a causa do Espiritualismo, que é também a do Espiritismo, ao qual se vê que o autor não é estranho. Mas a isso não se limita a tarefa que ele se impôs; ele encara a questão da alma de maneira ampla e completa; ele é um desses que admitem o seu progresso indefinido, através da animalidade, da humanidade e além da humanidade. Talvez, sob certas aspectos, seu livro encerre algumas proposições um pouco aventurosas, mas que é bom trazer à luz, a fim de que sejam amadurecidas pela discussão.
Lamentamos que a falta de espaço não nos permita justificar a nossa apreciação por algumas citações. Limitar-nos-emos à seguinte passagem, e a dizer que os que lerem este livro não perderão seu tempo:
“Se examinamos os seres que se sucederam nos períodos geológicos, notamos que há progresso nos indivíduos dotados sucessivamente de vida, e que o último chegado, o homem, é uma prova irrecusável desse desenvolvimento moral, pelo dom da inteligência transmissível que ele foi o primeiro a receber, e o único de todos os animais.
“Esta perfectibilidade da alma, oposta à imperfectibilidade da matéria nos leva a pensar que a alma humana não é a primeira expressão da alma, mas apenas a última expressão até aqui. Em outros termos, que a alma progrediu desde a primeira manifestação da vida, passando alternativamente pelas plantas, os animálculos, os animais e o homem, para se elevar ainda, por meio de criações de uma ordem superior que os nossos sentidos imperfeitos não nos permitem compreender, mas que a lógica dos fatos nos leva a admitir. A lei de progresso, que seguimos nos desenvolvimentos físicos dos animais sucessivos, existiria, pois, igualmente, e principalmente, em seu desenvolvimento moral.”
O autor se ocupa em reduzir ao seu justo valor os sofismas sobre os quais se apoia essa filosofia; demonstra as desastrosas consequências que ela teria para a Sociedade, se algum dia viesse a prevalecer, e sua incompatibilidade com toda doutrina moral. Embora ela quase não seja conhecida senão em determinada esfera, uma refutação de certo modo popular é muito útil, a fim de premunir os que pudessem deixar-se seduzir pelos argumentos especiosos que ela invoca. Estamos persuadidos de que, entre as pessoas que a preconizam, algumas recuariam se tivessem compreendido toda a sua extensão.
Ainda que não fosse senão deste ponto de vista, a obra do Sr. Dyonis mereceria sérios encorajamentos, porque é um campeão enérgico para a causa do Espiritualismo, que é também a do Espiritismo, ao qual se vê que o autor não é estranho. Mas a isso não se limita a tarefa que ele se impôs; ele encara a questão da alma de maneira ampla e completa; ele é um desses que admitem o seu progresso indefinido, através da animalidade, da humanidade e além da humanidade. Talvez, sob certas aspectos, seu livro encerre algumas proposições um pouco aventurosas, mas que é bom trazer à luz, a fim de que sejam amadurecidas pela discussão.
Lamentamos que a falta de espaço não nos permita justificar a nossa apreciação por algumas citações. Limitar-nos-emos à seguinte passagem, e a dizer que os que lerem este livro não perderão seu tempo:
“Se examinamos os seres que se sucederam nos períodos geológicos, notamos que há progresso nos indivíduos dotados sucessivamente de vida, e que o último chegado, o homem, é uma prova irrecusável desse desenvolvimento moral, pelo dom da inteligência transmissível que ele foi o primeiro a receber, e o único de todos os animais.
“Esta perfectibilidade da alma, oposta à imperfectibilidade da matéria nos leva a pensar que a alma humana não é a primeira expressão da alma, mas apenas a última expressão até aqui. Em outros termos, que a alma progrediu desde a primeira manifestação da vida, passando alternativamente pelas plantas, os animálculos, os animais e o homem, para se elevar ainda, por meio de criações de uma ordem superior que os nossos sentidos imperfeitos não nos permitem compreender, mas que a lógica dos fatos nos leva a admitir. A lei de progresso, que seguimos nos desenvolvimentos físicos dos animais sucessivos, existiria, pois, igualmente, e principalmente, em seu desenvolvimento moral.”
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[1] 1 volume in 12; 3,50 francos.
Sociedades e jornais espíritas no estrangeiro
A abundância das matérias nos obriga a adiar para o próximo número o relatório de duas sociedades espíritas constituídas em bases sérias, por estatutos impressos, mui sabiamente concebidos: uma em Sevilha, na Espanha, a outra em Florença, na Itália.
Falaremos igualmente de dois novos jornais espíritas que nos limitaremos a anunciar a seguir.
El Espiritismo (O Espiritismo); 12 páginas in-4º, saindo duas vezes por mês, desde 1.º de março, em Sevilha, Calle de Genova, 51. ─ Preço por trimestre: Sevilha, 5 reales; províncias, 6 reales; estrangeiro, 10 reales.
II Veggente (O Vidente), jornal magnético-espírita hebdomadário; quatro páginas in-4º; publicado em Florença, via Pietra Piana, 40. ─ Preço: 4,50 francos por ano. Por seis meses, 2,50 francos.
Falaremos igualmente de dois novos jornais espíritas que nos limitaremos a anunciar a seguir.
El Espiritismo (O Espiritismo); 12 páginas in-4º, saindo duas vezes por mês, desde 1.º de março, em Sevilha, Calle de Genova, 51. ─ Preço por trimestre: Sevilha, 5 reales; províncias, 6 reales; estrangeiro, 10 reales.
II Veggente (O Vidente), jornal magnético-espírita hebdomadário; quatro páginas in-4º; publicado em Florença, via Pietra Piana, 40. ─ Preço: 4,50 francos por ano. Por seis meses, 2,50 francos.
Erratum
Número de março de 1869, pág. 93, linha 31, em vez de: concerto do Espírito, leia-se: conceito do Espírito[1].
ALLAN KARDEC.
[1] A correção foi feita no devido lugar. Nota do tradutor.