Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860

Allan Kardec

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Julho

Aviso

O escritório da Revista Espírita e o domicilio particular do Sr. Allan Kardec foram transferidos para a Rua Sainte-Anne, n.º 59, travessa Salnte-Anne.


Boletim

(SEXTA-FEIRA, 1.º DE JUNHO DE 1860 — SESSÃO PARTICULAR)

Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 25 de maio.

Por proposta da comissão e após relato verbal, a Sociedade admite como sócios livres:

Sra. E..., de Viena, Áustria.

Assuntos administrativos. A comissão propõe e a Sociedade adota as seguintes proposições:

— Considerando que, nos termos do art. 16 do regulamento, no fim de abril a Sociedade pode dar a conhecer a intenção de retirada de certos membros;

Que se as admissões feitas pela direção e comissão antes dessa época, poderiam recair sobre membros que não continuarão a fazer parte;

Que não seria racional que os que pretendem retirar-se fossem admitidos;

Resolve o seguinte:


1.º — As eleições para a direção e para a comissão serão feitas na primeira sessão de maio. Os membros em exercício continuarão suas funções até essa época.


2.º — A Sociedade, considerando que uma ausência muito prolongada e não prevista dos membros da direção e da comissão pode entravar a marcha dos trabalhos;


Resolve o seguinte:

Os membros da direção e da comissão, ausentes durante três meses sem prévio aviso, serão considerados resignatários, providenciando-se a sua substituição.


Comunicações diversas.

1.º — Leitura de um ditado espontâneo pela Sra. L..., sobre a honestidade relativa, assinado por Georges, Espírito familiar.

2.º — Outro, pela Sra. Schmidt, sobre a Influência do médium sobre o Espírito, assinado por Alfred de Musset.


3.º — Relato de um caso concernente a duas pessoas, das quais uma é uma pobre moça, e cujas relações atuais são conseqüência das que existiam em sua vida anterior. Circunstâncias aparentemente fortuitas as puseram em relação e elas experimentaram uma simpatia recíproca, revelada por singular coincidência do poder mediúnico. Interrogado sobre certos fatos, um Espírito superior disse que a jovem tinha sido filha da outra em vida anterior, havia sido abandonada e, na presente existência, posta em seu caminho, para lhe dar ocasião de reparar a falta protegendo-a, o que ela está resolvida a fazer, a despeito de sua situação bastante precária, pois vive de seu trabalho.



O fato, que contêm muitos detalhes interessantes, vem em apoio do que sempre tem sido dito sobre certas simpatias, cuja causa remonta a vidas precedentes.

Sem contradita, esse princípio dá uma razão de ser a mais ao sentimento fraterno, que faz uma lei da caridade e da benevolência, porque aperta e multiplica os laços que devem unir a Humanidade.



Estudos.

1.º — Evocação da grande Françoise, uma das principais convulsionárias de Saint-Médard, da qual uma primeira evocação foi publicada no número de maio último. Este Espírito foi chamado novamente a seu pedido, com o objetivo de retificar a opinião emitida sobre o diácono Pâris. Acusa-se de o haver caluniado, desnaturando suas intenções e pensa que a retratação feita espontaneamente poupar-lhe-á a punição que por isso merecia.

São Luís completa a comunicação com informes sobre os mundos destinados ao castigo dos Espíritos culpados.


2.º — Exame analítico e crítico das comunicações de Charlet sobre os animais. O Espírito desenvolve, completa e retifica certas afirmações que tinham parecido obscuras ou erradas. Tal exame será continuado na próxima sessão. Publicado a seguir.



3.º Dois ditados espontâneos, o primeiro pela srta. Huet, sobre a continuação das Memórias de um Espírito; o segundo pela Sra. Lesc..., assinado por Georges, seu Espírito familiar, sobre o exame cri tico que a Sociedade se propõe fazer das comunicações espíritas, O Espírito aprova muito esse gênero de estudo e o considera como um meio de evitar falsas comunicações.



(SEXTA-FEIRA, 8 DE JUNHO DE 1860 — SESSÃO GERAL)


Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 1.º de junho.

A Sra. Viúva G..., antigo membro titular, não incluída na lista de 30 de abril, em cumprimento do novo regulamento da Sociedade, escreve explicando os motivos de sua abstenção e pede seja reintegrada como associada livre. Conforme parecer da comissão, é admitida nestas condições.

Comunicações diversas.

1.º — Leitura de um ditado espontâneo, recebido pela Sra. Lesc... e assinado por Delphine de Girardin, sobre as primeiras impressões de um Espírito. Apresenta um quadro poético e muito real das sensações que o Espírito experimenta ao deixar a Terra.



2.º — Outro, pelo mesmo médium, assinado por Alfred de Musset, intitulado Aspirações de um Espírito.



3.º — O Sr. M..., de Metz, relata um fato interessante e pessoal, sobre a influência que um médium pode exercer sobre outra pessoa, para lhe desenvolver a faculdade mediúnica. Por tal meio ela foi desenvolvida no Sr. M...; mas o que há de particular no caso é que foi uma ação à distância. Estando o médium em Châlons, e o Sr. M... em Metz, combinaram a hora para a prova e o Sr. M... constatou o momento preciso em que o médium o influenciava ou cessava de agir. Ainda mais, descreveu as impressões espirituais que sentia o médium e das quais não podia fazer uma idéia e, por outro lado, o médium escreveu as mesmas palavras traçadas pelo Sr. M...

Ainda mais, houve com o médium um fato muito curioso de escrita direta espontânea, isto é, sem provocação e sem qualquer intenção de sua parte, porque nem pensava em tal, Várias palavras, que não podiam ter outra origem, quando se conhecem as circunstâncias, inopinadamente foram achadas escritas, com manifesta intenção, e adequadas à situação. Tendo tentado nova manifestação, o médium não a conseguiu.



Estudos.

1.º — Diversas perguntas a São Luis. 1.º sobre o estado dos Espíritos; 2.º — sobre o que se deve entender por esfera ou planeta das flores, de que falam alguns Espíritos; 3.º — sobre as faculdades intelectuais latentes; 4.º — sobre os sinais de reconhecimento para constatar a identidade dos Espíritos.

2.º — Evocação de Antoine T..., desaparecido há alguns anos, sem deixar indícios sobre sua sorte. Reconhecida como inexata uma primeira evocação, ele explica o motivo e dá novos detalhes sobre sua pessoa. A investigação mostrará se são mais exatos que os primeiros.


3.º — Evocação do astrólogo Vogt, de Munique, que se suicidou a 4 de maio de 1860. Seu Espírito, pouco desprendido, ainda se acha sob o império das idéias que o preocupavam em vida.


4.º — Dois ditados espontâneos e simultâneos, o primeiro pelo Sr. Didier Filho, sobre a Fatalidade, assinado por Lammenais; o segundo pela Sra. Lesc..., assinado por Dauphine de Girardin, sobre as Mascaradas Humanas.



(SEXTA-FEIRA, 15 DE JUNHO DE 1860 — SESSÃO PARTICULAR)

Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 8 de junho.

Por proposta da comissão, são recebidos como sócios livres:

O Sr. Conde de N..., de Moscou.

O Sr. P..., proprietário em Paris.


Comunicações diversas.

1.º — Leitura de uma carta informando que em certas localidades o clero se ocupa seriamente com o estudo do Espiritismo, e que membros bem esclarecidos desse corpo falam dele como de uma coisa chamada a exercer uma grande influência nas relações sociais.


2.º — Leitura de uma evocação particular, feita em casa do Sr. Allan Kardec, do Sr. J... Filho, de Saint-Etienne. Posto que de interesse privado, a evocação apresenta ensinamentos úteis, pela elevação de pensamentos do Espírito chamado, e foi ouvida com vivo interesse.


3.º — Observação apresentada pelo Sr. Allan Kardec a respeito de uma predição que lhe foi submetida por um médium de seu conhecimento. Segundo ela, certos acontecimentos devem ocorrer em data fixa e, como constatação, o Espírito tinha dltQ ao médium que a fizesse assinar por várias pessoas, entre outras o Sr. Allan Kardec, a fim de poder certificar, na ocorrência, a época em que fora feita. Eu me recusei, disse o Sr. Allan Kardec, pelas seguintes considerações: “Já há multa tendência a ver no Espiritismo um meio de adivinhação, o que é contrário ao seu objetivo; quando fatos futuros são anunciados e se realizam, temos sem dúvida, um caso curioso e excepcional, mas seria perigoso considerá-lo como uma regra. Por isso, não quis que meu nome servisse para endossar uma crença que falsearia o Espiritismo, em seu principio e na sua aplicação.”


Estudos.
1.º — Evocação de Thilorier, físico, que morrera supondo ter encontrado o meio de substituir o vapor pelo ácido carbônico condensado, como força motriz. Reconhece que tal descoberta não passava de sua imaginação. Publicada adiante.


2.º — Continuação do exame critico das comunicações de Charlet sobre os animais. Será publicado.


3.º — Evocação de um Espírito batedor, que se manifesta ao filho do Sr. N..., membro da Sociedade, por efeitos físicos de certa originalidade. Disse ter sido tambor-mor na banda militar do Vaticano e chamar-se Eugène. Sua linguagem não desmente a qualidade que se atribui.


4.º — Ditado espontâneo pela Sra. Lesc..., sobre o desenvolvimento das faculdades intelectuais, a propósito da evocação de Thilorier, e assinado Georges, Espírito familiar, E de notar-se que muitas vezes esse Espírito apropria suas comunicações às circunstâncias, o que prova que assiste às conversas, mesmo sem ser chamado. O fato produziu-se em várias outras ocasiões, da parte de outros Espíritos.

Outro, pelo Sr. Didier Filho, assinado por Vauvernagues e contendo alguns notáveis pensamentos.



(SEXTA-FEIRA, 22 DE JUNHO DE 1860 — SESSÃO GERAL)

Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 15 de junho.


Comunicações diversas.

1.º — Leitura de um ditado espontâneo, recebido de Alfred de Musset pela Sra. Lesc..., sobre a Reverte.


2.º — Relato de um fato natural de mediunidade espontânea, como médium escrevente, apresentado pela Sra. Lub..., membro da Sociedade. A pessoa é uma camponesa de quinze anos e que, sem qualquer conhecimento de Espiritismo, escreve quase diariamente, por vezes páginas inteiras, de maneira absolutamente mecânica. Uma intuição lhe diz que deve ser um Espírito que lhe fala, porque, quando é levada a escrever, toma um lápis dizendo: Vejamos o que ele vai me dizer hoje. Suas comunicações quase sempre se relacionam com episódios da vida privada, quer para ela, quer para pessoas de seu conhecimento e, quase sempre, de extrema justeza, sobre coisas que ela ignora completamente. E provável que, se a faculdade fosse cultivada e bem dirigida, se desenvolveria de modo notável e útil.



Estudos.

1.º — Pergunta sobre os animais de transição que podem preencher a lacuna existente na escala dos seres vivos, entre o animal e o homem. o estudo será continuado.


2.º — Perguntas sobre os inventores e as descobertas prematuras, a propósito da evocação de Thilorier.

3. — Manifestações físicas produzidas pelo filho do Sr. N..., rapaz de treze anos, de que se falou na última sessão. O Espírito batedor a ele ligado o faz simular, com as mãos e os dedos, com incrível volubilidade, toda sorte de evoluções militares, como cargas de cavalaria, manobras de artilharia, ataques de fortes, etc., tomando todos os objetos a seu alcance, para fingir de armas. Exprime os vários sentimentos que o agitam, como a cólera, a impaciência ou a zombaria, por violentas batidas e gestos de pantomima, muito expressivos. Além disso, nota-se a impassibilidade e a despreocupação do rapaz, enquanto mãos e braços se entregam a essa espécie de ginástica. Torna-se evidente que todos os movimentos independem de sua vontade. Durante o resto da sessão e quando já interrompida a experiência, o Espírito aproveita a ocasião para manifestar, a seu modo, o contentamento ou o mau humor a respeito do que se diz. Numa palavra, vê-se que se apodera dos membros do rapaz e os emprega como seus. Tal gênero de manifestações oferece um curioso assunto para estudo, por sua originalidade, e pode dar a compreender a maneira por que os Espíritos agem sobre certas criaturas.

Interrogado quanto às conseqüências que tais manifestações podem ter sobre o rapaz, São Luis faz advertências cheias de sabedoria e aconselha não as provocar. Além disso, concita a Sociedade a não entrar nessa via de experiências, cujo resultado seria o afastamento dos Espíritos sérios, e a continuar ocupando-se, como fez até agora, em aprofundar as questões importantes.


A frenologia e a fisiognomia

A frenologia é a ciência que trata das funções atribuídas a cada parte do cérebro. O Dr. Gall, fundador dessa ciência, pensava que, desde que o cérebro é o ponto onde terminam todas as sensações, e de onde partem todas as manifestações das faculdades intelectuais e morais, cada uma das faculdades primitivas deveria ter ali o seu órgão especial. Assim, seu sistema consiste na localização das faculdades.

Como o desenvolvimento da caixa óssea é determinado pelo desenvolvimento de cada parte cerebral, produzindo protuberâncias, concluiu ele que do exame dessas protuberâncias poder-se-ia deduzir a predominância de tal ou qual faculdade e, daí, o caráter ou as aptidões do indivíduo. Daí, também, o nome de cranioscopia dado a essa ciência, com a diferença de que a frenologia tem por objeto tudo o que concerne às atribuições do cérebro, ao passo que a cranioscopia se limita às induções tiradas da inspeção do crânio. Numa palavra, Gall fez, a respeito do crânio e do cérebro, o que Lavater fez para os traços fisionômicos.

Não vamos aqui discutir o mérito dessa ciência, nem examinar se é verdadeira ou exagerada em todas as suas consequências. Mas ela foi, alternadamente, defendida e criticada por homens de alto valor científico. Se certos detalhes ainda são hipotéticos, nem por isso deixa de repousar sobre um princípio incontestável, o das funções gerais do cérebro, e sobre as relações existentes entre o desenvolvimento ou a atrofia desse órgão e as manifestações intelectuais. O nosso propósito é o estudo das suas consequências psicológicas.

Das relações existentes entre o desenvolvimento do cérebro e a manifestação de certas faculdades, concluíram alguns cientistas que os órgãos do cérebro são a própria fonte das faculdades, doutrina que não passa de materialismo, porque tende para a negação do princípio inteligente, estranho à matéria. Consequentemente, ela faz do homem uma máquina sem livre-arbítrio e sem responsabilidade por seus atos, pois sempre poderia atribuir os seus erros à sua organização e seria injustiça puni-lo por faltas que não teriam dependido dele. Ficamos, com razão, abalados pelas consequências de semelhante teoria. Devia-se, por isso, proscrever a frenologia?

Não, mas examinar o que nela poderia existir de verdadeiro ou de falso na maneira de encarar os fatos. Ora, esse exame prova que as atribuições do cérebro em geral e mesmo a localização das faculdades, podem conciliar-se perfeitamente com o espiritualismo mais severo, que encontraria nisso a explicação de certos fatos.

Admitamos, por um instante, a título de hipótese, a existência de um órgão especial para o instinto musical. Suponhamos, além disso, como nos ensina a Doutrina Espírita, que um Espírito, cuja existência é muito anterior ao seu corpo, se encarne com a faculdade musical muito desenvolvida. Essa faculdade influirá naturalmente sobre o órgão correspondente, e impelirá o seu desenvolvimento, como o exercício de um membro aumenta o volume dos músculos. Na infância, como o sistema ósseo oferece pouca resistência, o crânio sofre a influência do movimento expansivo da massa cerebral. Assim, o desenvolvimento do crânio é produzido pelo desenvolvimento do cérebro, como o desenvolvimento do cérebro é produzido pelo de sua faculdade. A faculdade é a causa primeira; o estado do cérebro é um efeito consecutivo. Sem a faculdade não existiria o órgão, ou ele seria apenas rudimentar.

Encarada sob este ponto de vista, como se vê, nada tem a frenologia de contrário à moral, porque deixa ao homem toda a sua responsabilidade, e acrescentamos que esta teoria é, ao mesmo tempo, conforme à lógica e à observação dos fatos.

Objetam com os casos conhecidos, nos quais a influência do organismo sobre a manifestação das faculdades é incontestável, como os da loucura e da idiotia, mas é fácil resolver o problema. Diariamente veem-se homens muito inteligentes tornarem-se loucos. O que isto prova? Um homem muito forte pode quebrar uma perna e não poderá mais andar. Ora, a vontade de andar não está na perna, mas no cérebro. Essa vontade só é paralisada pela impossibilidade de mover a perna. No louco, o órgão que servia às manifestações do pensamento, uma vez desarranjado por uma causa física qualquer, o pensamento não pode manifestar-se de maneira regular. Ele vaga a torto e a direito, fazendo o que chamamos extravagâncias. Nem por isso deixa de existir em sua integridade, e a prova está em que, se o órgão for restabelecido, volta o anterior pensamento, assim como o movimento da perna que se restabelece. Assim, o pensamento não está no cérebro, como não está na caixa craniana. O cérebro é o instrumento do pensamento, como o olho é o instrumento da visão, e o crânio é a superfície sólida que se molda aos movimentos do instrumento.

Se o instrumento for deteriorado, não se dá a manifestação, exatamente como, quando se perdeu um olho, não mais se pode ver.

Às vezes, entretanto, acontece que a suspensão da livre manifestação do pensamento não é devida a uma causa acidental, como na loucura a constituição primitiva dos órgãos pode oferecer ao Espírito, desde o nascimento, um obstáculo do qual sua atividade não pode triunfar. É o que ocorre quando os órgãos são atrofiados, ou apresentam uma resistência insuperável. Tal é o caso da idiotia. O Espírito está como que aprisionado e sofre essa constrição, mas nem por isso deixa de pensar como Espírito, do mesmo modo que um prisioneiro atrás das grades. O estudo das manifestações do Espírito de pessoas vivas, pela evocação, lança uma grande luz sobre os fenômenos psicológicos. Isolando o Espírito da matéria, provase pelos fatos que os órgãos não são a causa das faculdades, mas simples instrumentos, com o auxílio dos quais as faculdades se manifestam com maior ou menor liberdade ou precisão; que muitas vezes eles são como abafadores que amortecem as manifestações, o que explica a maior liberdade do Espírito quando desprendido da matéria.

No conceito materialista, o que é um idiota? Nada. Quando muito, é um ser humano. Conforme a Doutrina Espírita é um ser dotado de razão, como todo mundo, mas enfermo de nascença pelo cérebro, como outros o são pelos membros.

Reabilitando-o, esta doutrina não é mais moral, mais humana do que aquela que dele faz um ser de refugo? Não é mais consolador para um pai, que tem a infelicidade de ter um tal filho, pensar que esse envoltório imperfeito encerra uma alma que pensa?

Aos que, sem serem materialistas, não admitem a pluralidade das existências, perguntaremos: O que é a alma do idiota? Se a alma é formada ao mesmo tempo que o corpo, por que cria Deus seres assim desgraçados? Qual será o seu futuro? Ao contrário, admiti uma sucessão de existências e tudo se explica conforme a justiça: a idiotia pode ser uma punição ou uma prova e, em todo o caso, não passa de incidente na vida do Espírito. Isto não é maior, mais digno da justiça de Deus, do que supor que Deus tenha criado um ser eternamente malogrado?

Agora lancemos as vistas para a fisiognomonia. Esta ciência é baseada no princípio incontestável de que é o pensamento que põe os órgãos em ação, que imprime certos movimentos aos músculos. Daí se segue que estudando as relações entre os movimentos aparentes e o pensamento, daqueles movimentos que não se vêem, pode-se deduzir o pensamento, que não se vê. É assim que não nos enganaremos quanto à intenção de quem faz um gesto agressivo ou amigo; que distinguimos, pela maneira de andar, um homem apressado do que não o é. De todos os músculos, os mais móveis são os da face. Ali se refletem muitas vezes até as mais delicadas nuanças do pensamento. É por isso que, com razão, se diz que o rosto é o espelho da alma. Pela frequência de certas sensações, os músculos adquirem o hábito dos movimentos correspondentes e acabam formando a ruga. A forma exterior se modifica, assim, pelas impressões da alma, de onde se segue que dessa forma, por vezes se podem deduzir essas impressões, como do gesto pode deduzir-se o pensamento. Tal é o princípio geral da arte, ou, se se quiser, da ciência fisiognomônica. Este princípio é verdadeiro. Ele não só se apoia sobre base racional, mas é confirmado pela observação, e Lavater tem a glória, se não de havê-lo descoberto, ao menos de tê-lo desenvolvido e formulado em corpo de doutrina.

Infelizmente, Lavater caiu no erro comum à maior parte dos autores de sistemas. É que, de um princípio verdadeiro, sob certos aspectos, eles concluem por uma aplicação universal e, em seu entusiasmo por terem descoberto uma verdade, vêemna em tudo. Eis aí o exagero e, por vezes, o ridículo. Não vamos aqui examinar o sistema de Lavater em detalhe. Diremos apenas que tanto é ele coerente ao remontar do físico ao moral por certos sinais exteriores, quanto é ilógico ao atribuir um sentido qualquer às formas ou sinais sobre os quais o pensamento não pode ter qualquer ação. É a falsa aplicação de um princípio verdadeiro que muitas vezes o relegou ao plano das crenças supersticiosas, e que leva a confundir na mesma reprovação os que veem certo e os que exageram.

Digamos, entretanto, para ser justo, que muitas vezes a falta é menos do mestre que dos discípulos que, em sua admiração fanática e irrefletida, por vezes levam as consequências de um princípio para além dos limites do possível.

Se examinarmos agora esta ciência nas suas relações com o Espiritismo, teremos que combater várias induções errôneas que dela poderiam ser tiradas. Entre as relações fisiognomônicas, uma há, sobretudo, sobre a qual a imaginação muitas vezes se exerceu. É a semelhança de algumas pessoas com certos animais.

Procuremos, então, buscar a causa.

A semelhança física resulta, entre os parentes, da consanguinidade que transmite, de um a outro, partículas orgânicas semelhantes, porque o corpo procede do corpo. Mas não poderia vir à mente de ninguém supor que aquele que se parece com um gato, por exemplo, tenha nas veias sangue de gato. Há, pois, uma outra causa. Para começar, pode ser fortuita e sem qualquer significação, o que é o caso mais comum. Contudo, além da semelhança física, por vezes se nota uma certa analogia de inclinações. Isto poderia explicar-se pela mesma causa que modifica os traços fisionômicos. Se um Espírito ainda atrasado conserva alguns dos instintos animais, seu caráter, como homem, terá esses traços e as paixões que o agitam poderão dar a esses traços algo que lembra vagamente os do animal cujos instintos possui. Mas esses traços se apagam à medida que o Espírito se depura e que o homem avança na via da perfeição.

Aqui seria o Espírito a imprimir o cunho à fisionomia; mas da similitude dos instintos seria absurdo concluir que o homem que tem os do gato, possa ser a encarnação do Espírito de um gato. Longe de ensinar tal teoria, o Espiritismo sempre demonstrou o seu ridículo e a sua impossibilidade. É certo que se nota uma gradação contínua na série animal; mas entre o animal e o homem há uma solução de continuidade. Ora, mesmo admitindo, o que é apenas um sistema, que o Espírito haja passado por todos os graus da escala animal, antes de chegar ao homem, haveria sempre, de um ao outro, uma interrupção que não existiria se o Espírito do animal pudesse encarnar-se diretamente no corpo do homem. Se assim fosse, entre os Espíritos errantes haveria os de animais, como há Espíritos humanos, o que não se dá.

Sem entrar no exame aprofundado desta questão, que discutiremos mais tarde, dizemos, segundo os Espíritos, que nisto estão de acordo com a observação dos fatos, que nenhum homem é a encarnação do espírito de um animal. Os instintos animais do homem se devem à imperfeição do próprio Espírito ainda não depurado e que, sob a influência da matéria, dá preponderância às necessidades físicas sobre as morais e sobre o senso moral ainda não desenvolvido suficientemente. Sendo as mesmas as necessidades físicas no homem e no animal, necessariamente resulta que, até o senso moral estabelecer um contrapeso, pode haver entre eles uma certa analogia de instintos, mas aí estaca a paridade. O senso moral que não existe num, e que no outro está em germe e cresce incessantemente, estabelece entre eles uma verdadeira linha de demarcação.

Outra indução não menos errônea é tirada do princípio da pluralidade das existências. Da sua semelhança com certas pessoas, alguns concluem que podem ter sido tais pessoas. Ora, do que precede, fácil é demonstrar que aí existe apenas uma ideia quimérica. Como dissemos, as relações consanguíneas podem produzir uma similitude de formas, mas este não é o caso, pois Esopo pode ter sido mais tarde um homem bonito e Sócrates um belo rapaz. Assim, quando não há filiação corpórea, só haverá uma semelhança fortuita, pois não há qualquer necessidade do Espírito habitar corpos parecidos e, ao tomar um novo corpo, não traz qualquer parcela do antigo. Entretanto, conforme o que dissemos acima quanto ao caráter que as paixões podem imprimir aos traços, poder-se-ia pensar que, se um Espírito não progrediu sensivelmente e volta com as mesmas inclinações, poderá trazer no rosto identidade de expressão. Isto é exato, mas seria no máximo um ar de família, e daí a uma semelhança real há muita distância. Aliás, este caso deve ser excepcional, pois é raro que o Espírito não venha em nova existência com disposições sensivelmente modificadas. Assim, dos sinais fisiognomônicos não é possível, absolutamente, tirar qualquer indício das existências anteriores. Não se pode encontrá-las senão no caráter moral, nas ideias instintivas e intuitivas, nas inclinações inatas, nas que não resultam da educação, assim como na natureza das expiações enfrentadas. E ainda isto não poderia indicar senão o gênero de existência, o caráter que se deveria ter, levando em conta o progresso, mas não a individualidade. (Ver o Livro dos Espíritos, n.0 216 e 217).

Os fantasmas

A Academia assim define este vocábulo: “Diz-se dos Espíritos que se supõe voltarem do outro mundo.” Ela não diz: que voltam. Só os espíritas são bastante loucos para ousarem afirmar tais coisas. Seja como for, pode-se dizer que a crença nos fantasmas é universal. Evidentemente se funda na intuição da existência dos Espíritos e na possibilidade de comunicação com eles. Sob este ponto de vista, todo Espírito que manifesta sua presença, seja pela escrita de um médium, seja apenas batendo numa mesa, seria um fantasma. Mas geralmente esse nome quase sepulcral é reservado para os que se tornam visíveis e que se supõe, como diz com razão a

Academia, vir em circunstâncias mais dramáticas. São histórias de comadres? O fato em si, não; os acessórios, sim. Sabe-se que os Espíritos podem manifestar-se à vista, e até mesmo sob uma forma tangível, eis o que é real. Mas o que é fantástico são os acessórios, onde o medo, que tudo exagera, ordinariamente acompanha esse fenômeno em si tão simples que se explica por uma lei muito natural e que, consequentemente, nada tem de maravilhoso nem de diabólico. Por que, então, temem-se os fantasmas? Precisamente por causa desses mesmos acessórios que a imaginação se compraz em tornar apavorantes, porque ela se apavorou e talvez tivesse acreditado ver o que não viu. Em geral eles são representados sob um aspecto lúgubre, vindo de preferência à noite, de preferência nas noites mais escuras, em horas fatais, em lugares sinistros, amortalhados ou vestidos de modo esquisito.

Ao contrário, o Espiritismo ensina que os Espíritos podem mostrar-se em qualquer lugar, a qualquer hora, de dia como de noite; que em geral o fazem sob a aparência que tinham em vida; que só a imaginação criou os fantasmas; que os que aparecem, longe de serem temíveis, as mais das vezes são parentes ou amigos que vêm a nós por afeição, ou Espíritos infelizes aos quais podemos ajudar. Também são, por vezes, brincalhões do mundo espírita, que se divertem às nossas custas e se riem do medo que causam. Compreende-se que com estes o melhor meio é rir também, e provar-lhes que não temos medo. Aliás, eles se limitam quase sempre a fazer barulho e raramente se tornam visíveis. Infeliz de quem os leve a sério, porque redobram as brincadeiras. Seria o mesmo que exorcizar um moleque de Paris.

Mesmo supondo seja um mau Espírito, que mal poderia ele fazer? Não seria cem vezes mais racional temer um valentão vivo do que temer um valentão morto que se tornou Espírito? Aliás, sabemos que estamos constantemente rodeados por Espíritos, que só diferem dos que chamamos fantasmas porque não os vemos.

Os adversários do Espiritismo não deixarão de acusá-lo por aceitar uma crença supersticiosa. Mas o fato das manifestações visíveis, constatado, explicado pela teoria e confirmado por inúmeras testemunhas, não se pode impedir, e nem mesmo todas as negações poderão impedir que se reproduza, porque há poucas pessoas que consultando as suas lembranças não se recordam de algum caso dessa natureza e que não podem pôr em dúvida. Então o melhor é ser esclarecido sobre o que há de verdadeiro ou de falso, de possível ou impossível nas histórias desse gênero. É explicando-se uma coisa, raciocinando sobre ela, que nos premunimos contra o medo pueril. Conhecemos muita gente que temia muito os fantasmas. Hoje que, graças ao Espiritismo, sabem o que é isto, seu maior desejo é ver um. Conhecemos outras que tiveram visões que as tinham apavorado; agora que as compreendem, não mais se abalam. Conhecem-se os perigos do mal do medo para os cérebros fracos.

Ora, um dos resultados do conhecimento do Espiritismo esclarecido é precisamente curar esse mal, o que não é um dos seus menores benefícios.

Recordação de uma vida anterior

Sociedade, 25 de maio de 1860

Um dos nossos assinantes nos envia uma carta de um de seus amigos, da qual extraímos o seguinte:

“Perguntastes a minha opinião, ou antes, se acredito na presença ou não, junto a nós, das almas dos que amamos. Pedis ainda explicações relativas à minha convicção de que nossas almas mudam de envoltório muito rapidamente.

“Por mais ridículo que pareça, direi que minha convicção sincera é a de ter sido assassinado durante os massacres de São Bartolomeu. Eu era muito criança quando tal lembrança veio ferir-me a imaginação. Mais tarde, quando li essa triste página de nossa História, pareceu que muitos detalhes me eram conhecidos, e ainda creio que se a velha Paris fosse reconstruída eu reconheceria essa velha aleia sombria onde, fugindo, senti o frio de três punhaladas dadas pelas costas. Há detalhes desta cena sangrenta em minha memória que jamais desapareceram. Por que tinha eu essa convicção antes de saber o que tinha sido o São Bartolomeu? Por que, lendo o relato desse massacre eu me perguntei: é sonho, esse sonho desagradável que tive em criança, cuja lembrança me ficou tão viva? Por que, quando quis consultar a memória, forçar o pensamento, fiquei como um pobre louco ao qual surge uma ideia e que parece lutar para lhe descobrir a razão? Por que? Nada sei. Certo me achareis ridículo, mas nem por isso guardarei menos a lembrança, a convicção.

“Se eu vos dissesse que tinha sete anos quando tive um sonho e que ele era assim: Eu tinha vinte anos, era um rapaz bem posto e parece que era rico. Vim baterme em duelo e fui morto. Se eu vos dissesse que a saudação que se faz com a arma antes de se bater, eu a fiz na primeira vez que tive um florete na mão; se eu vos dissesse que cada preliminar mais ou menos graciosa que a educação ou a civilização pôs na arte de se matar me era conhecida antes de minha educação nas armas, certamente diríeis que sou louco ou maníaco. Bem pode ser, mas às vezes me parece que um clarão atravessa essa névoa e tenho a convicção de que a lembrança do passado se restabelece em minh’alma.

“Se me perguntásseis se creio na simpatia entre as almas, em seu poder de se porem em contato entre elas, a despeito da distância, apesar da morte, eu vos responderia: Sim, e este sim seria pronunciado com toda a força de minha convicção. Aconteceu de encontrar-me a vinte e cinco léguas de Lima, após vinte e seis dias de viagem, e de despertar em lágrimas, com uma verdadeira dor no coração. Uma tristeza mortal apoderou-se de mim o dia todo. Registrei o fato em meu diário. Àquela hora, na mesma noite, meu irmão tinha sido atingido por um ataque de apoplexia, que comprometeu gravemente a sua vida. Confrontei o dia e a hora. Tudo exato. Eis um fato; as pessoas existem. Direis que eu sou louco?

“Não li qualquer autor tratando de tal assunto. Fá-lo-ei em minha volta. Talvez dessa leitura jorre alguma luz para mim.”

O. Sr. V..., autor desta carta, é oficial de marinha e atualmente está em viagem. Poderia ser interessante ver se, evocando-o, confirmaria suas lembranças, mas havia a impossibilidade de preveni-lo de nossa intenção e, por outro lado, à vista de seu serviço, poderia ser difícil achar um momento propício. Contudo, disseram-nos que chamássemos o seu anjo da guarda, quando quiséssemos evocá-lo, e ele nos diria se poderíamos fazê-lo.

1. Evocação do anjo da guarda do Sr. V...
─ Atendo ao vosso chamado.

2. ─ Conheceis o motivo que nos leva a querer evocar o vosso protegido. Não se trata de satisfazer a uma vã curiosidade, mas de constatar, se possível, um fato interessante para a ciência espírita, o da recordação de sua vida anterior.
─ Compreendo o vosso desejo, mas no momento seu Espírito não está livre. Ele está ocupado ativamente pelo corpo e numa inquietude moral que o impede de repousar.

3. ─ Ele ainda está no mar?
─ Está em terra. Mas poderei responder a algumas das vossas perguntas, porque aquela alma foi sempre confiada à minha guarda.

4. ─ Desde que tendes a bondade de responder, perguntaremos se a lembrança que ele julga conservar de sua morte numa existência anterior é uma ilusão.
─ É uma intuição muito real. Essa pessoa estava muito bem na Terra, nessa época.

5. ─ Por que motivo essa lembrança lhe é mais precisa do que para outros? Há nisso alguma causa fisiológica ou alguma utilidade particular para ele?
─ Essas lembranças vivas são muito raras. Deve-se um pouco ao gênero de morte que de tal modo o impressionou que está, por assim dizer, encarnado em sua alma. Contudo, muitas outras pessoas tiveram morte tão terrível e não lhes ficou a lembrança. Só raramente Deus o permite.

6. ─ Depois dessa morte no São Bartolomeu, teve ele outras existências?
─ Não.

7. ─ Que idade tinha quando morreu?
─ Uns trinta anos.

8. ─ Pode-se saber o que era ele?
─ Ele era ligado à casa de Coligny.

9. ─ Se tivéssemos podido evocá-lo teríamos perguntado se recorda o nome da rua onde foi assassinado, a fim de ver se, indo a esse lugar, quando ele voltar a Paris, a lembrança da cena lhe seria ainda mais precisa.
─ Foi no cruzamento de Bucy.

10. ─ A casa onde ele foi morto ainda existe?
─ Não. Ela foi reconstruída.

11. ─ Com o mesmo objetivo teríamos perguntado se ele se recorda do nome que tinha.
─ Seu nome não é conhecido na História, pois era simples soldado. Chamavase Gaston Vincent

12. ─ Seu amigo, aqui presente, desejaria saber se ele recebeu suas cartas?
─ Ainda não.

13. ─ Éreis o seu anjo da guarda nessa época?
─ Sim. Naquela época e agora.

OBSERVAÇÃO: Céticos, antes mais trocistas do que sérios, poderiam dizer que o anjo da guarda o guardou mal e perguntar por que não desviou a mão que o feriu. Posto tal pergunta mal mereça uma resposta, talvez algumas palavras arespeito não sejam inúteis.

Para começar diremos que, se morrer pertence à natureza humana, nenhum anjo de guarda tem o poder de opor-se ao curso das leis da Natureza. Do contrário, razão não haveria para que não impedissem a morte natural, tanto quanto a acidental. Em segundo lugar, estando o momento e o gênero de morte no destino de cada um, é preciso que se cumpra o destino. Diremos, por fim, que os Espíritos não encaram a morte como nós. A verdadeira vida é a do Espírito, da qual as várias existências corpóreas não passam de episódios. O corpo é um envoltório que o Espírito reveste momentaneamente e que ele deixa, como se faz com uma roupa usada ou rasgada.

Pouco importa, pois, que se morra um pouco mais cedo ou mais tarde, de uma ou de outra maneira, pois que, em definitivo, sempre é preciso chegar à morte, que longe de prejudicar o Espírito, pode ser-lhe muito útil, conforme a maneira por que se realiza. É o prisioneiro que deixa a prisão temporária pela liberdade eterna. Pode ser que o fim trágico de Gaston Vincent lhe tenha sido uma coisa útil, como Espírito, o que o seu anjo da guarda compreendia melhor do que ele, porque um deles só via o presente, ao passo que o outro via o futuro. Espíritos retirados deste mundo por uma morte prematura, na flor da idade, por vezes nos responderam que era um favor de Deus, que assim os havia preservado dos males aos quais, sem isto, estariam expostos.


Dos animais

Dissertações espontâneas feitas pelo Espírito de Charlet, em Várias sessões da sociedade

I
Há entre vós uma coisa que sempre vos excita a atenção e a curiosidade. Esse mistério, pois que é para vós um grande mistério, é a ligação, ou antes, a distância existente entre a vossa alma e a dos animais, mistério que, a despeito de toda a sua ciência, Buffon, o mais poético dos naturalistas, e Cuvier, o mais profundo, jamais puderam penetrar, assim como o escalpelo não vos detalha a anatomia do coração. Ora, sabei, os animais vivem, e tudo o que vive pensa. Não se pode, pois, viver sem pensar.

Assim sendo, resta demonstrar-vos que quanto mais o homem avança, não conforme o tempo, mas conforme a perfeição, mais penetrará a ciência espiritual, o que se aplica não somente a vós, mas também aos seres que estão abaixo de vós: os animais. Oh! exclamarão alguns homens, persuadidos de que o vocábulo homem significa todo o aperfeiçoamento, mas há um paralelo possível entre o homem e o bruto? Podeis chamar inteligência àquilo que não passa de instinto? Sentimento ao que é apenas sensação? Numa palavra, podeis rebaixar a imagem de Deus? Responderemos. Houve um tempo em que a metade do gênero humano era considerada no nível do bruto, em que o animal não figurava; um tempo, que é agora o vosso, em que a metade do gênero humano é encarada como inferior e o animal como bruto. Então! Do ponto de vista do mundo é assim, não há dúvida. Do ponto de vista espiritual a coisa é diferente. O que os Espíritos superiores diriam do homem terreno, os homens dizem dos animais.

Tudo é infinito na Natureza, tanto o material como o espiritual. Ocupemo-nos pois um pouco desses pobres brutos, espiritualmente falando, e vereis que o animal vive realmente, desde que pensa.

Isto serve de prefácio a um pequeno curso que vos darei a esse respeito. Aliás, em vida, eu havia dito que a melhor companhia do homem é o cão. Continua no próximo número.
CHARLET

II


O mundo é uma escada imensa, cuja elevação é infinita, mas cuja base repousa num horrível caos. Quero dizer que o mundo não é senão um progresso constante dos seres. Estais muito embaixo. Não obstante, há muitos abaixo de vós. Porque, ouvi bem, não falo apenas do vosso planeta, mas de todos os mundos do Universo.
Não temais, porém, pois nos limitaremos à Terra.

Antes disso, entretanto, duas palavras sobre um mundo chamado Júpiter, do qual o engenhoso e imortal Palissy vos deu alguns esboços estranhos e tão sobrenaturais para a vossa imaginação. Lembrai-vos de que num desses encantadores desenhos ele vos representou alguns animais de Júpiter. Não há neles um progresso evidente? Podeis negar-lhes um grau de superioridade sobre os animais terrestres? E ainda só vedes nisso um progresso de forma e não de inteligência, posto que a atividade de que se ocupam não possa ser executada pelos animais terrestres? Só vos cito este exemplo para vos indicar desde logo uma superioridade de seres que estão muito abaixo de vós. Que seria se vos enumerasse todos os mundos que conheço, isto é, cinco ou seis? Mas limitando-nos à Terra, vede a diferença que entre eles existe. Então! Se a forma é tão variada, tão progressiva, que mesmo na matéria há progresso, podeis deixar de admitir o progresso espiritual desses seres? Ora, sabei-o, se a matéria progride, mesmo a mais atrasada, com mais forte razão o espírito que a anima. Continuarei da próxima vez.
CHARLET

NOTA: Com o número de agosto de 1858, publicamos uma prancha desenhada e gravada pelo Espírito de Bernard Palissy, representando e casa de Mozart em Júpiter, com uma descrição desse planeta, que foi sempre designado como um dos mundos mais adiantados do nosso turbilhão solar, moralmente e fisicamente. O mesmo Espírito deu um grande número de desenhos sobre o mesmo assunto. Entre outros, há um que representa uma cena de animais, jogando na parte reservada para sua habitação, na casa de Zoroastro. É, sem dúvida, um dos mais interessantes da coleção. Entre os animais apresentados, há uns cuja forma se aproxima bastante da forma humana terrena, tendo ao mesmo tempo algo do macaco e do sátiro. Sua ação denota inteligência e compreende-se que sua estrutura possa prestar-se aos trabalhos manuais que executa para os homens. São, ao que se diz, criados e operários, pois os homens só se ocupam de trabalhos da inteligência. É a esse desenho, feito há mais de três anos, que alude Charlet na comunicação acima.

III

Nos mundos adiantados, os animais são de tal modo superiores que a mais rigorosa ordem lhes é dada pela palavra, e entre vós, muitas vezes, a pauladas. Em Júpiter, por exemplo, basta uma palavra, e entre vós as chicotadas não bastam.

Contudo, há um sensível progresso em vossa Terra, jamais explicado: é que o próprio animal se aperfeiçoa. Assim, outrora o animal era muito mais rebelde ao homem. Também há progresso de vossa parte, por terdes instintivamente compreendido esse aperfeiçoamento dos animais, pois que vos proibis de bater neles. Eu dizia que há progresso moral no animal. Há também progresso de condição. Assim, um pobre cavalo açoitado, ferido por um carroceiro mais brutal que ele, comparativamente estará numa condição muito mais tranquila, mais feliz que a de seu carrasco. Não é de toda justiça, e devemos acaso admirar-nos de que um animal que sofre, que chora, que é reconhecido ou humilhado, conforme a suavidade ou a crueldade de seus donos, tenha a recompensa por haver pacientemente suportado uma vida cheia de torturas? Antes de tudo, Deus é justo e todas as suas criaturas estão sob suas leis, e estas dizem: “Todo ser fraco que tiver sofrido será recompensado.” Sempre comparativamente ao homem, entendo, e ouso acrescentar, para concluir, que por vezes o animal tem mais alma, mais coração que o homem, em muitas circunstâncias.
CHARLET



IV

Em vosso globo a superioridade do homem se manifesta por essa elevação da inteligência que o torna o rei da Terra. Ao lado do homem, o animal é muito fraco, muito inferior e, pobre escravo desta terra de provação, por vezes tem que suportar caprichos cruéis de seu tirano: o homem! A antiga metempsicose era uma lembrança muito confusa da reencarnação e, contudo, essa mesma doutrina não passa de crença popular. Os grandes Espíritos admitiam a reencarnação progressiva; não compreendendo como eles o Universo, a massa ignorante naturalmente dizia: Desde que o homem se reencarna, isto não pode ser senão na Terra; então sua punição, seu tártaro, sua provação é a vida no corpo de um animal. Absolutamente como na Idade Média, os cristãos diziam: É no grande vale que se dará o julgamento, após o que os condenados irão para baixo da terra, queimar-se em suas entranhas.

Acreditando na metempsicose, os antigos acreditavam, portanto, em espíritos de animais, desde que admitiam a passagem da alma humana para corpos de animais. Pitágoras lembrava-se de sua antiga existência e reconhecia o escudo que usara no cerco de Troia. Sócrates morreu predizendo sua nova vida.

Desde que, como disse, tudo é progresso no Universo; desde que as leis de Deus não são e não podem ser senão leis do progresso, do ponto de vista em que estais, do ponto de vista de vossas tendências espiritualistas, não admitir o progresso
do que está abaixo do homem seria insensato e uma prova de ignorância ou de completa indiferença.

Como o homem, o animal tem aquilo a que chamais consciência, e que não é outra coisa senão a sensação da alma quando fez o bem ou o mal? Observai e vede se o animal não dá prova de consciência, sempre, relativamente ao homem. Credes que o cão não saiba quando fez o bem ou o mal? Se não o sentisse, não viveria.

Como já vos disse, a sensação moral, numa palavra, a consciência, existe nele como no homem, sem o que seria preciso negar-lhe o sentimento de gratidão, o sofrimento, os pesares, enfim todos os caracteres de uma inteligência, caracteres que todo homem sério pode observar em todos os animais, conforme seus diversos graus, porque, mesmo entre eles, há diversidades singulares.
CHARLET

V

Rei da Terra pela inteligência, o homem é também um ser superior do ponto de vista material. Suas formas são harmoniosas e, para se fazer obedecer, seu Espírito tem um organismo admirável: o corpo. A cabeça do homem é alta e olha o céu, diz o Gênesis; o animal olha a terra e, pela estrutura de seu corpo, a ela parece mais ligado que o homem. Além disso, a harmonia magnífica do corpo humano não existe no animal. Vede a infinita variedade que os distingue uns dos outros e que, entretanto, não corresponde ao seu Espírito, porque os animais ─ e entendo sua imensa maioria ─ têm, quase todos, o mesmo grau de inteligência. Assim, no animal há variedade na forma; ao contrário, no homem há variedade no Espírito. Tomai dois homens que tenham os mesmos gostos, aptidões, inteligência; tomai um cão, um cavalo, um gato, numa palavra, mil animais, e dificilmente notareis diferenças em sua inteligência. Assim, o Espírito dorme no animal; no homem brilha em todos os sentidos; seu Espírito adivinha Deus e compreende a razão de ser da perfeição.

Assim, pois, no homem, a harmonia simples da forma, começo do infinito no Espírito. Vede agora a superioridade do homem que domina o animal, materialmente por sua estrutura admirável e intelectualmente por suas imensas faculdades. Parece que, nos animais, aprouve a Deus variar mais a forma, encerrando o Espírito; ao contrário, no homem, fazer do próprio corpo humano a manifestação material do Espírito.

Igualmente admirável nessas duas criações, a Providência tanto é infinita no mundo material quanto no espiritual. O homem está para o animal como a flor e todo o reino vegetal estão para a matéria bruta. Nestas poucas linhas quis eu estabelecer o lugar que deve ocupar o animal na escala da perfeição. Veremos como pode elevar-se comparativamente ao homem.
CHARLET

VI

Como se eleva o Espírito? Pela submissão, pela humildade. O que perde o homem é a razão orgulhosa, que o impele a desprezar todo subalterno e invejar todo superior. A inveja é a mais viva expressão do orgulho. Não é o prazer do orgulho, é o desejo doentio, incessante, de poder gozá-lo. Os invejosos são os mais orgulhosos, quando se tornam poderosos. Olhai o mestre de todos vós, o Cristo, o homem por excelência, mas na mais alta fase da sublimidade. O Cristo, digo eu, em vez de vir com audácia e insolência para derrubar o mundo antigo, vem à Terra encarnar-se numa família pobre e nasce entre os animais. Encontrareis por toda parte esses pobres animais, em todos os instantes em que o homem vive simplesmente com a natureza, numa palavra, pensando em Deus. Ele nasce entre os animais e estes lhe exaltam o poder na sua linguagem tão expressiva, tão natural e tão simples. Vede que tema para reflexão! O Espírito ainda inferior que os anima pressente o Cristo, isto é, o Espírito em toda a sua essência de perfeição. Balaão, o falso profeta, o orgulho humano em toda a sua corrupção, blasfemou contra Deus e bateu no seu animal. De súbito, o Espírito ilumina o Espírito ainda muito vago do jumento e ele fala. Por um instante torna-se igual ao homem e, por sua palavra, é o que será dentro de alguns milhares de séculos. Poderíamos citar muitos outros fatos, mas este me parece bem notável, a propósito do que eu dizia sobre o orgulho do homem, que nega até a sua alma, por não poder compreendê-la, e vai até a negação do sentimento entre os seres inferiores, entre os quais o Cristo preferiu nascer.
CHARLET

VII

Eu vos entretive durante algum tempo com o que vos havia prometido. Como disse de começo, não falei do ponto de vista anatômico ou médico, mas apenas da essência espiritual que existe nos animais. Terei ainda que falar sobre outros vários pontos que, sendo bem diferentes, não são menos úteis à Doutrina. Permiti-me uma última recomendação, a de refletir um pouco sobre quanto eu disse. Não é extenso, nem pedante e, crede-me, nem por isso é menos útil. Um dia, quando o Bom Pastor dividir suas ovelhas, que vos possa contar entre os bons e excelentes animais que tiverem seguido melhor os seus preceitos. Perdoai-me esta imagem um pouco viva. Ainda uma vez, precisais refletir no que vos digo. Aliás, continuarei a vos falar enquanto quiserdes. Terei que vos dizer outra coisa da próxima vez, para definir meu pensamento sobre a inteligência dos animais. Todo vosso,
CHARLET

VIII

Tudo quanto vos posso dizer no momento, amigos, é que vejo com prazer a linha de conduta que seguis. Que a caridade, esta virtude das almas verdadeiramente francas e nobres, seja sempre o vosso guia, pois é o sinal da verdadeira superioridade. Perseverai neste caminho que necessariamente vos deve conduzir todos, a despeito dos esforços cuja força não suspeitais, à verdade e à unidade.

A modéstia também é um dom muito difícil de adquirir, não é, senhores? É uma virtude bastante rara entre os homens. Pensai que para progredir na via do bem e do progresso, só tendes que usar a modéstia. Sem Deus, sem seus divinos preceitos, que seríeis? Um pouco menos que esses pobres animais dos quais vos falei, e sobre os quais tenho ainda a intenção de vos entreter. Cingi os rins e preparai-vos para lutar de novo, mas não fraquejeis. Pensai que não é contra Deus que lutais, como Jacó, mas contra o Espírito do mal, que invade tudo e a vós próprios, a cada instante.

O que vos tenho a dizer seria muito longo para esta noite. Tenho a intenção de vos explicar a queda moral dos animais, após a queda moral do homem. Para concluir o que vos disse sobre os animais, tomarei por título: O primeiro homem feroz e o primeiro animal tornado feroz.

Desconfiai dos Espíritos maus. Não suspeitais de sua força, disse-vos há pouco.

Embora esta última frase não se relacione com a precedente, não é menos verdadeira e a propósito. Agora, refleti.
CHARLET

OBSERVAÇÃO: O Espírito achou que devia interromper naquele dia o assunto principal de que tratava, para nos dar este ditado incidental, motivado por uma circunstância particular de que se quis aproveitar. Publicamo-lo, não obstante, porque encerra úteis instruções.

IX

Quando foi criado o primeiro homem, era tudo harmonia na Natureza. A onipotência do Criador tinha posto em cada ser uma palavra de bondade, de generosidade e de amor. O homem era radioso. Os animais desejavam seu olhar celeste e suas carícias eram as mesmas para ele e para sua celeste companheira. A vegetação era luxuriante. O sol dourava e iluminava toda a Natureza, da mesma forma que o sol misterioso da alma, centelha de Deus, iluminava interiormente a inteligência do homem. Numa palavra, todos os reinos da Natureza apresentavam essa calma infinita, que parecia compreender Deus. Tudo parecia ter bastante inteligência para exaltar a onipotência do Criador. O céu sem nuvens era como o coração do homem, e a água límpida e azul tinha reflexos infinitos, como a alma do homem tinha os reflexos de Deus.

Muito tempo depois, tudo pareceu mudar subitamente. A Natureza oprimida soltou um longo suspiro e, pela primeira vez, a voz de Deus se fez ouvir. Terrível dia de desgraça, em que o homem, que até então não tinha ouvido senão a grande voz de Deus, que lhe dizia em tudo: “Tu és imortal”, ficou apavorado com estas terríveis palavras: “Caim, por que mataste teu irmão?” Logo, tudo mudou: o sangue de Abel espalhou-se por toda a Terra; as árvores mudaram de cor; a vegetação, tão rica e colorida, murchou; o céu tornou-se escuro.

Por que o animal se tornou feroz? Magnetismo todo poderoso, invencível, que então tomou todas as criaturas, a sede de sangue, o desejo de carnificina brilhavam em seus olhos, outrora tão suaves, e o animal tornou-se feroz como o homem. Pois o homem, que tinha sido o rei da Terra, não havia dado o exemplo? O animal seguiu o seu exemplo e desde então a morte planou sobre a Terra, morte que se tornou odiosa, em vez de uma transformação suave e espiritual. O corpo do homem deveria dispersar-se no ar, como o corpo do Cristo, mas dispersou-se na terra, nessa terra regada pelo sangue de Abel. E o homem trabalhou, e o animal trabalhou.
CHARLET

Exame crítico (Das dissertações de Charlet sobre animais)

Sobre o § I

1. ─ Dizeis: Tudo o que vive, pensa, logo, não se pode viver sem pensar. A proposição nos parece algo absoluta, pois a planta vive e não pensa. Admitis isto como um princípio?
─ Sem dúvida. Só falo da vida animal e não da vida vegetal. Deveis compreendê-lo.

2. ─ Mais adiante dizeis: Vereis que o animal vive realmente, desde que pensa.
Não há inversão na frase? Parece que a proposição é: Vereis que o animal pensa, realmente, desde que vive.
─ Isto é evidente

Sobre o § II

3. ─ Lembrais o desenho feito dos animais de Júpiter. Nota-se que têm uma notável analogia com os sátiros da fábula. Essa ideia dos sátiros seria uma intuição da existência desses seres em outros mundos e, neste caso, não seria mera criação fantástica?
─ Quanto mais novo era o mundo, mais ele se lembrava. O homem tinha a intuição de uma ordem de seres intermediários, ora mais atrasados que ele, ora mais adiantados. Era o que ele chamava os deuses.

4. ─ Então admitis que as divindades mitológicas não eram senão o que chamamos Espíritos?
─ Sim.

5. ─ Foi-nos dito que em Júpiter é possível o entendimento pela simples transmissão do pensamento. Quando os habitantes desse planeta se dirigem aos animais, que são seus servidores e operários, recorrem a uma linguagem particular?
Teriam eles, para comunicar-se com os animais, uma linguagem articulada, e entre si a do pensamento?
─ Não, não há linguagem articulada, mas uma espécie de magnetismo poderoso que faz curvar-se o animal e o leva a executar os menores desejos e as ordens de seus senhores. O Espírito todo poderoso não pode curvar-se.

6. ─ Evidentemente, entre nós, os animais têm uma linguagem, pois se compreendem, mas é muito limitada. Os de Júpiter têm uma linguagem mais precisa e positiva que os nossos? Numa palavra, uma linguagem articulada?
─ Sim.

7. ─ Os habitantes de Júpiter compreendem melhor que nós a linguagem dos animais?
─ Veem através deles e os compreendem perfeitamente.

8. ─ Examinando a série dos seres vivos, encontra-se uma cadeia ininterrupta, desde a madrépora, da própria planta, até o animal mais inteligente. Mas entre o animal mais inteligente e o homem há uma evidente lacuna, que em algum lugar deve ser preenchida, porque a Natureza não deixa elos vazios. De onde vem essa lacuna?
─ Essa lacuna dos seres é apenas aparente, pois não existe na realidade. Ela provém das raças desaparecidas. (São Luís)

9. ─ Tal lacuna pode existir na Terra, mas certamente não existe no conjunto do Universo e deve ser preenchida em alguma parte. Não o seria por certos animais de mundos superiores que, como os de Júpiter, por exemplo, parecem aproximar-se muito do homem terreno pela forma, pela linguagem e por outros sinais?
─ Nas esferas superiores o germe surgido da Terra desenvolve-se e jamais se perde. Tornando-vos Espíritos, reencontrareis todos os seres criados e desaparecidos nos cataclismos do vosso globo. (São Luís)

OBSERVAÇÃO: Desde que essas raças intermediárias existiram na Terra e dela desapareceram, justifica-se o que disse Charlet pouco antes, que quanto mais novo era o mundo, mais ele se lembrava. Se elas houvessem existido apenas nosmundos superiores, o homem da Terra, menos adiantado, não lhes poderia guardar a lembrança.

Sobre o § III

10. ─ Dizeis que tudo se aperfeiçoa e, como prova do progresso do animal, dizeis que outrora ele era mais rebelde ao homem. É evidente que o animal se aperfeiçoa, mas, pelo menos na Terra, não se aperfeiçoa senão pelos cuidados do homem. Abandonado a si mesmo, retoma sua natureza selvagem, até mesmo o cão.
─ E o homem se aperfeiçoa pelos cuidados de quem? Não é pelos de Deus?
Tudo é escala na Natureza.

11. ─ Falais de recompensas para os animais que sofrem maus tratos e dizeis que é perfeitamente justo que haja compensação para eles. Assim, parece que admitis no animal a consciência do eu após a morte, com a recordação de seu passado. Isto é contrário ao que nos tem sido dito. Se as coisas se passassem como dizeis, resultaria que no mundo dos Espíritos haveria Espíritos de animais. Entãonão haveria razão para ali não existirem os Espíritos das ostras. Podeis dizer se vedes em torno de vós Espíritos de cães, de gatos, de cavalos ou elefantes, como vedes Espíritos humanos?
─ A alma do animal ─ tendes toda razão ─ não se reconhece após a morte; é um conjunto confuso de germes que podem passar para o corpo de tal ou qual animal, conforme o desenvolvimento adquirido. Não é individualizada. Contudo, direi que em certos animais, mesmo em muitos, é individualizada.

12. ─ Esta teoria, aliás, de modo algum justifica os maus tratos dos animais. O homem é sempre culpado por fazer sofrer qualquer ser sensível e a Doutrina nos diz que por isso ele será punido. Mas daí a pôr o animal numa condição superior a ele, há uma grande distância. Que pensais disto?
─ Sim, mas estabelecei que no entanto há sempre uma escala entre os animais e pensai que há distância entre certas raças. O homem é tanto mais culpado quanto mais poderoso.

13. ─ Como explicais que mesmo no mais selvagem estágio o homem se faça obedecer pelo mais inteligente animal?
─ É sobretudo a Natureza que age no caso. O homem selvagem é o homem da Natureza. Ele conhece o animal intimamente. O homem civilizado o estuda, e o animal se curva diante dele. O homem é sempre o homem frente ao animal, quer seja selvagem, quer civilizado.

Sobre o § V

14. ─ (A Charlet). Nada temos a dizer sobre este parágrafo, que nos parece muito racional. Tendes algo a acrescentar?
─ Apenas isto: os animais têm todas as faculdades que indiquei, mas neles o progresso se realiza pela educação que recebem do homem e não por si mesmos.
Abandonado ao estado selvagem, o animal retoma o tipo que tinha ao sair das mãos do Criador. Submetido ao homem, aperfeiçoa-se. Eis tudo.

15. ─ Isto é perfeitamente certo para os indivíduos e para as espécies, mas se considerarmos o conjunto da escala dos seres, há uma evidente marcha ascendente,
que não se detém, relativamente aos animais da Terra, visto que os de Júpiter são física e intelectualmente superiores aos nossos.
─ Cada raça é perfeita em si mesma e não emigra para raças estranhas. Em Júpiter são os mesmos tipos, formando raças distintas, mas não são os Espíritos dos animais mortos.

16. ─ Então em que se torna o princípio inteligente dos animais mortos?
─ Volta à massa em que cada novo animal toma a porção de inteligência que lhe é necessária. Ora, é precisamente isto que distingue o homem do animal. Nele o Espírito é individualizado e progride por si mesmo e é isso que lhe dá superioridade sobre todos os animais. Eis por que o homem, mesmo selvagem, como fizestes notar, se faz obedecer, mesmo pelos mais inteligentes animais.

Sobre o § VI

17. ─ Dais a história de Balaão como fato positivo. Seriamente, que pensais sobre isto?
─ É uma pura alegoria, ou antes, uma ficção, para castigar o orgulho. Fizeram falar o burro de Balaão, como La Fontaine fez falar muitos outros animais.

Sobre o § IX*

18. ─ Nessa passagem Charlet parece ter sido arrastado pela imaginação, pois o quadro que faz da degradação moral do animal é mais fantástico do que científico.
Com efeito, o animal é feroz por necessidade, e foi para satisfazer a essa necessidade que a Natureza lhe deu uma organização especial. Se uns devem nutrir-se de carne, é por uma razão providencial e porque era útil à harmonia geral que certos elementos orgânicos fossem absorvidos. O animal é, pois, feroz por constituição e não se conceberia que a queda moral do homem tivesse desenvolvido os dentes caninos do tigre e encurtado os seus intestinos, porque então não haveria razão para que o mesmo não tivesse acontecido com o carneiro. Antes dizemos que, na Terra, sendo o homem pouco adiantado, aqui se encontra com seres inferiores em todos os sentidos, e cujo contato lhe é causa de inquietudes, de sofrimentos e, consequentemente, uma fonte de provas que o auxiliam em seu progresso futuro.

Que pensa Charlet destas reflexões?
─ Só posso aprová-las. Eu era um pintor e não um literato ou um cientista. Por isso, de vez em quando me deixo arrastar pelo prazer, novo para mim, de escrever belas frases, mesmo em detrimento da verdade. Mas o que dizeis é muito justo e inspirado. No quadro que tracei, bordei certas ideias recebidas, para não chocar nenhuma convicção. A verdade é que as primeiras épocas eram a idade do ferro, muito afastadas das pretensas suavidades. Descobrindo diariamente tesouros acumulados pela bondade de Deus, tanto no espaço quanto na Terra, a civilização levou o homem à conquista da verdadeira terra prometida, que Deus concederá à inteligência e ao trabalho, e que não entregou pronta e acabada nas mãos dos homens crianças, que deviam descobri-la por sua própria inteligência. Aliás, este erro que cometi não poderia ser prejudicial aos olhos da gente esclarecida, que o notaria facilmente. Para os ignorantes passaria desapercebido. Contudo, concordo que errei. Agi levianamente, e isto vos prova até que ponto deveis controlar as comunicações que recebeis.


___________________________________________
* No original é o número XI, que é inexistente. (NT)


Observação geral

Um ensinamento importante, do ponto de vista da ciência espírita, ressalta destas comunicações. A primeira coisa que se destaca, ao lê-las, é uma mistura de ideias justas, profundas e com o cunho do observador, ao lado de outras evidentemente falsas e fundadas mais na imaginação do que na realidade. Sem sombra de dúvida, Charlet era um homem acima do vulgar, mas, como Espírito, não é mais universal do que era em vida e pode equivocar-se porque, não sendo ainda bastante elevado, só encara as coisas de seu ponto de vista. Aliás, só os Espíritos chegados ao último grau de perfeição estão isentos de erros. Os outros, por melhores que sejam, nem tudo sabem e podem enganar-se; mas, quando verdadeiramente bons, o fazem de boa-fé e concordam francamente, ao passo que há outros que o fazem conscientemente e que se obstinam nas mais absurdas ideias. É por isso que devemos guardar-nos de aceitar o que vem do mundo invisível sem havê-lo submetido ao controle da lógica. Os bons Espíritos o recomendam incessantemente e jamais se ofendem com a crítica porque, de duas uma: ou estão seguros do que dizem e então nada temem, ou não o estão e, se têm consciência de sua insuficiência, eles mesmos buscam a verdade. Ora, se os homens podem instruir-se com os Espíritos, alguns Espíritos podem instruir-se com os homens. Ao contrário, os outros querem dominar, esperando impor a aceitação das suas utopias por causa da sua condição de Espíritos. Então, seja por presunção de sua parte ou por má intenção, não suportam a contradita. Querem ser acreditados sob palavra, pois sabem muito bem que em caso de exame só podem perder. Ofendem-se à menor dúvida sobre sua infalibilidade e soberbamente ameaçam abandonar-vos, como indignos de ouvi-los.

Assim, só gostam dos que se ajoelham aos seus pés. Não há homens assim? E é de admirar que os encontremos com seus caprichos no mundo dos Espíritos? Nos homens, uma tal característica é sempre, aos olhos de gente sensata, um indício de orgulho, de vã suficiência, de tola vaidade, e portanto de pequenez nas ideias e de falso julgamento. O que seria um sinal de inferioridade moral nos homens, não poderia ser indício de superioridade nos Espíritos.

Como acabamos de ver, Charlet de boa vontade se presta à controvérsia; escuta e admite as objeções e responde com benevolência; desenvolve o que era obscuro e reconhece lealmente o que não era exato. Numa palavra, não quer passar por mais sábio do que é, e nisto prova mais elevação do que se se obstinasse nas ideias falsas, a exemplo de certos Espíritos que se escandalizam ao simples enunciado de que suas comunicações parecem susceptíveis de comentários.

O que é ainda próprio desses Espíritos orgulhosos é a espécie de fascinação que exercem sobre seus médiuns, através da qual por vezes os fazem compartilhar dos mesmos sentimentos. Dizemos de propósito seus médiuns, porque deles se apoderam e neles querem ter instrumentos que agem de olhos fechados. De modo algum se acomodariam a um médium perscrutador ou que visse bem claro. Não se dá o mesmo entre os homens? Quando o encontram, temendo que lhes escape, inspiramlhe o afastamento de quem quer que possa esclarecê-lo. Isolam-no de certo modo, a fim de estarem em liberdade, ou não o aproximam senão daqueles de quem nada têm a temer. Para melhor lhes captar a confiança, fazem-se de bons apóstolos, usurpando os nomes de Espíritos venerados, cuja linguagem procuram imitar. Mas, por mais que façam, jamais a ignorância poderá imitar o verdadeiro saber, nem uma natureza perversa a verdadeira virtude. O orgulho brotará sempre sob o manto de uma falsa humildade, e porque temem ser desmascarados, evitam a discussão e dela afastam
seus médiuns.

Não há ninguém que, julgando friamente e sem prevenção, não reconheça como má uma tal influência, porque ressalta ao mais vulgar bom-senso que um Espírito realmente bom e esclarecido jamais procura exercê-la. Pode pois dizer-se que todo médium que a ela se submete se acha sob o império de uma obsessão, da qual deve oquanto antes procurar livrar-se. O que se quer, antes de tudo, não são comunicações a todo custo, mas comunicações boas e verdadeiras. Ora, para se ter boas comunicações são necessários bons Espíritos, e para se ter bons Espíritos é preciso ter bons médiuns, livres de qualquer influência má. A natureza dos Espíritos que habitualmente assistem um médium é, pois, uma das primeiras coisas a considerar.

Para conhecê-la exatamente, há um critério infalível e não é nos sinais materiais, nem nas fórmulas de evocação ou de conjuração que será encontrada. Esse critério está nos sentimentos que o Espírito inspira ao médium. Pela maneira de agir deste último pode-se julgar a natureza dos Espíritos que o dirigem e consequentemente o grau de confiança que merecem suas comunicações.

Isto não é uma opinião pessoal, um sistema, mas um princípio deduzido da mais rigorosa lógica, se admitirmos esta premissa: um mau pensamento não pode ser sugerido por um bom Espírito. Enquanto não se provar que um bom Espírito pode inspirar o mal, diremos que todo ato que se afaste da benevolência, da caridade e da humildade, e no qual se note o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho ferido ou a simples acrimônia, não pode ter sido inspirado senão por um mau Espírito, ainda quando este hipocritamente pregasse as mais belas máximas, porque, se fosse realmente bom, prová-lo-ia pondo seus atos em harmonia com suas palavras. A prática do Espiritismo é cercada de tantas dificuldades; os Espíritos enganadores são tão astuciosos, tão sabidos e ao mesmo tempo tão numerosos, que não seria demais armar-se do máximo de precauções para frustrá-los. Importa, pois, rebuscar com o maior cuidado todos os indícios pelos quais eles se podem trair. Ora, esses indícios estão, ao mesmo tempo, em sua linguagem e nos atos que provocam.

Tendo submetido estas reflexões ao Espírito de Charlet, eis o que disse a respeito: “Não posso senão aprovar o que acabais de dizer e aconselhar a todosquantos se ocupam do Espiritismo a seguir tão sábios conselhos, evidentemente ditados por bons Espíritos, mas que não são absolutamente ─ bem podeis crê-lo ─ do gosto dos maus, pois estes sabem muito bem que é esse o meio mais eficaz de combater a sua influência. Assim, fazem tudo quanto podem para desviar disso aqueles que querem prender em suas redes”.

Charlet disse que foi arrastado pelo prazer, para ele novo, de escrever belas frases, mesmo com sacrifício da verdade. Que teria acontecido se tivéssemos publicado seu trabalho sem comentários? Teriam acusado o Espiritismo por aceitar ideias ridículas, e a nós mesmos por não sabermos distinguir o verdadeiro do falso.

Muitos Espíritos estão no mesmo caso. Encontram satisfação para o amor-próprio ao espalhar, através de médiuns, já que não podem fazê-lo diretamente, peças literárias, científicas, filosóficas ou dogmáticas de grande fôlego. Mas quando esses Espíritos têm apenas um falso saber, escrevem coisas absurdas, assim como o fariam os homens. É sobretudo nessas obras continuadas que podemos julgá-los, porque sua ignorância os torna incapazes de representar o papel por muito tempo e eles próprios revelam sua insuficiência, a cada passo, ferindo a lógica e a razão. Através de uma porção de ideias falsas, há, por vezes, algumas boas, com que contam para iludir.

Tal incoerência apenas demonstra sua incapacidade. São os pedreiros que sabem alinhar as pedras da construção, mas que são incapazes de construir um palácio. É por vezes curioso ver o dédalo inextricável de combinações e de raciocínios em que se metem, e dos quais não saem senão à força de sofismas e de utopias. Vimos alguns que, à custa de expedientes, deixaram o seu trabalho. Outros, porém, não se dão por vencidos e querem agir até o fim, rindo-se ainda à custa dos que os levam a sério.
Estas reflexões nos são sugeridas como um princípio geral, e seria erro ver nelas uma aplicação qualquer. Entre os numerosos escritos publicados sobre o Espiritismo, sem dúvida alguns poderiam dar lugar a uma crítica fundada, mas não os pomos a todos na mesma linha; indicamos um meio de apreciá-los, e cada um fará como entender. Se ainda não decidimos fazer-lhes um exame em nossa Revista é pelo receio de que se equivoquem quanto ao móvel da crítica que poderíamos fazer. Assim, preferimos esperar que o Espiritismo seja melhor conhecido e, sobretudo, melhor compreendido. Então nossa opinião, apoiada em base geralmente admitida, não poderá ser acusada de parcialidade. O que esperamos acontece diariamente, pois vemos que em muitas circunstâncias o julgamento da opinião pública precede o nosso. Assim, nos aplaudimos por nossa reserva.

Empreenderemos este exame quando julgarmos oportuno o momento, mas já se pode ver qual será a base de nossa apreciação. Essa base é a lógica, da qual cada um pode fazer uso por si mesmo, pois não temos a tola pretensão de ter o privilégio de sua posse. Com efeito, a lógica é o grande critério de toda comunicação espírita, como o é de todos os trabalhos humanos. Sabemos bem que aquele que raciocina erradamente julga ser lógico. Ele o é à sua maneira, mas só para si e não para os outros. Quando uma lógica é rigorosa como dois e dois são quatro, e as consequências são deduzidas de axiomas evidentes, o bom-senso geral, mais cedo ou mais tarde, faz justiça a todos esses sofismas. Cremos que as proposições seguintes têm esse caráter:

1. ─ Os bons Espíritos não podem ensinar e inspirar senão o bem; assim, tudo o que não é rigorosamente bem não pode vir de um bom Espírito;

2. ─ Os Espíritos esclarecidos e verdadeiramente superiores não podem ensinar coisas absurdas; assim, toda comunicação manchada de erros manifestos ou contrários aos dados mais vulgares da ciência e da observação, só por isso atesta a inferioridade de sua origem;

3. ─ A superioridade de um escrito qualquer está na justeza e na profundidade das ideias e não nos enfeites e na redundância do estilo; assim, toda comunicação espírita em que há mais palavras e frases brilhantes do que pensamentos sólidos, não pode vir de um Espírito realmente superior;

4. ─ A ignorância não pode contrafazer o verdadeiro saber, nem o mal contrafazer o bem de maneira absoluta; assim, todo Espírito que, sob um nome venerado, diz coisas incompatíveis com o título que se dá, é responsável por fraude;

5. ─ É da essência de um Espírito elevado ligar-se mais ao pensamento do que à forma e à matéria, de onde se segue que a elevação do Espírito está na razão da elevação das ideias; assim, todo Espírito meticuloso nos detalhes da forma, que prescreve puerilidades, numa palavra, que liga importância aos sinais e às coisas materiais, acusa, por isso mesmo, uma pequenez de ideias, e não pode ser verdadeiramente superior;

6. ─ Um Espírito realmente superior não pode contradizer-se; assim, se duas comunicações contraditórias forem dadas sob um mesmo nome respeitável, uma delas necessariamente é apócrifa, e se uma for verdadeira, só pode ser aquela que em nada desmente a superioridade do Espírito cujo nome a encima.

A consequência a tirar destes princípios é que fora das questões morais só se deve acolher com reservas o que vem dos Espíritos, e que, em todo caso, jamais deve ser aceito sem exame. Daí decorre a necessidade de se ter a maior circunspecção na publicação dos escritos emanados dessa fonte, sobretudo quando, pela estranheza das doutrinas que contêm, ou pela incoerência das ideias, podem prestar-se ao ridículo. É preciso desconfiar da inclinação de certos Espíritos pelas ideias sistemáticas e do amor-próprio com que buscam espalhá-las. Assim, é sobretudo nas teorias científicas que precisa haver extrema prudência e guardar-se de dar precipitadamente como verdades alguns sistemas por vezes mais sedutores do que reais e que, mais cedo ou mais tarde, podem receber um desmentido oficial. Que sejam apresentados como probabilidades, se forem lógicos, e como podendo servir de base a observações ulteriores, vá; mas seria imprudência tomá-los prematuramente como artigos de fé. Diz um provérbio: “Nada mais perigoso que um amigo imprudente.” Ora, é o caso dos que, no Espiritismo, se deixam levar por um zelo mais ardente que refletido.

Bibliografia

Anunciamos uma continuação do Livro dos Espíritos sob o título de Espiritismo Experimental, que seria publicada em abril último. O trabalho foi retardado por circunstâncias independentes de nossa vontade e sobretudo pela maior importância que julgamos dever lhe dar. Hoje está no prelo e brevemente anunciaremos a data de seu aparecimento.

NOTA: A falta de espaço nos obriga a adiar para o próximo número várias comunicações importantes que nos enviaram.
ALLAN KARDEC

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