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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1860 > Novembro
Novembro
BoletimSEXTA-FEIRA, 5 DE OUTUBRO DE 1860 (SESSÃO PARTICULAR) Reunião da comissão.
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 24 de agosto.
Com o parecer da comissão, que tomou conhecimento da carta de solicitação, e após relatório verbal, a Sociedade admite como sócio livre o Sr. B..., negociante em Paris.
Comunicações diversas:
1.º ─ O Sr. Allan Kardec relata o resultado da viagem feita no interesse do Espiritismo e se felicita pelo cordial acolhimento recebido por toda parte e, notadamente, em Sens, Mâcon, Lyon e Saint-Étienne. Por toda parte onde esteve, constatou os consideráveis progressos da Doutrina; mas o que, sobretudo, é digno de nota, é que em parte alguma viu fazerem dela uma distração. Por toda parte dela se ocupam de modo sério e compreendem o seu alcance e as consequências futuras. Sem dúvida ainda há muitos oponentes, dos quais os mais encarniçados são interesseiros, mas os trocistas diminuem sensivelmente. Vendo que seus sarcasmos não trazem os brincalhões para o seu lado, e que estes mais favorecem do que entravam o progresso das crenças novas, começam a compreender que nada ganham e gastam suas energias em pura perda e, por isso, se calam. Uma expressão muito característica aparece, por toda parte, na ordem do dia: O Espiritismo está no ar. Por si só, ela pinta bem o estado de coisas. Mas é sobretudo em Lyon que os resultados são mais notáveis. Ali os espíritas são numerosos em todas as classes e, na classe obreira, eles se contam por centenas. A Doutrina Espírita exerceu entre os operários a mais salutar influência do ponto de vista da ordem, da moral e das ideias religiosas. Em resumo, a propagação do Espiritismo marcha com a mais encorajadora rapidez.
O Sr. Allan Kardec lê o discurso pronunciado pelo Sr. Guillaume, no banquete que os espíritas lioneses lhe ofereceram, e a resposta que ele deu.
Reconhecida pelos testemunhos de simpatia que os confrades de Lyon lhe deram na ocasião, a Sociedade lhes vota uma mensagem de agradecimentos, cujo projeto foi submetido à comissão e por esta emendado. A mensagem será transmitida por intermédio do presidente.
O Sr. Allan Kardec viu em Saint-Étienne o Sr. R... e dele ouviu a exposição do sistema que lhe foi ditado por meio do que ele chama escrita inconsciente. Tal sistema será, posteriormente, objeto de um estudo especial.
Além disso, ele dá conta de um caso muito curioso de obsessão física de uma pessoa de Lyon; de um caso de mediunidade visual, do qual foi testemunha, e de um fenômeno de transfiguração ocorrido nas proximidades de Saint-Étienne, com uma mocinha que em certos momentos tomava a aparência completa de seu irmão, falecido há alguns anos.
2.º ─ Relato de um notável caso de identidade espírita, ocorrido num navio da marinha imperial, estacionado nos mares da China. O fato é relatado por um cirurgião da frota, presente à sessão. Todo mundo no navio, desde os marinheiros até o estado-maior, se ocupava de evocações, mas ninguém conhecia os meios de obter comunicações escritas; assim, serviam-se da tiptologia alfabética. Tiveram a ideia de evocar um tenente, falecido há dois anos. Entre outras particularidades, disse ele: “Peço insistentemente que paguem ao capitão a quantia de... (e designa a soma), que eu lhe devo, e lamento não lha ter podido pagar antes de morrer.” Ninguém conhecia tal circunstância. O próprio capitão se havia esquecido, mas verificando suas contas encontrou menção da dívida do tenente, cuja cifra era perfeitamente idêntica à indicada por seu Espírito.
3.º ─ O Sr. de Grand-Boulogne lê uma encantadora poesia dedicada por ele a seu Espírito familiar.
Estudos:
1.º ─ Perguntas dirigidas a São Luís sobre sua aparição a um médium vidente de Lyon, em presença do Sr. Allan Kardec. Ele responde: “Sim. Era eu mesmo. Era dever de minha missão não abandonar o diretor da Sociedade que eu patrocino.”
Outras perguntas sobre a impressão física produzida em certos médiuns escreventes pelos bons ou maus Espíritos.
2.º ─ Evocação do Sr. Ch. de P..., que encontraram afogado, e cuja morte foi considerada um suicídio. Ele desmente tal opinião, contando as causas acidentais que lhe ocasionaram a morte.
3.º ─ Ditado espontâneo, assinado por Lamennais, recebido pelo Sr. D...
SEXTA-FEIRA, 12 DE OUTUBRO DE 1800 (SESSÃO GERAL) Reunião da comissão.
Presidência do Sr. Jobard, de Bruxelas, presidente honorário.
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 5 de outubro.
Comunicações diversas:
1.º ─ Leitura de várias comunicações recebidas pela Sra. Schm...: Os Órfãos, assinado por Jules Morin. Outras, assinadas por Alfred de Musset; a rainha de Ouda, por Nicolas.
2.º ─ Leitura de um ditado espontâneo, assinado por São Luís, recebido pelo Sr. Darcol, com vários conselhos aos espíritas.
3.º ─ Carta ao Sr. Allan Kardec, pelo Sr. J..., de Terre-Noire, sobre a impressão penosa que lhe produziu a exposição do sistema do Sr. R...
Estudos:
1.º ─ Evocação de Saul, rei dos Judeus. Declara que não é ele que se comunica com a Srta. B. O Espírito que se manifesta com tal nome havia ensinado no círculo dessa senhorinha um sistema particular cujos pontos principais são: 1.º ─ Os Espíritos são tanto mais esclarecidos quanto mais antiga sua existência terrena, de onde se segue que, por exemplo, São Luís é menos adiantado que ele, porque morreu há menos tempo; 2.º ─ Os Espíritos só se encarnam na Terra, e o número dessas encarnações é de três, nem mais nem menos, o que basta para levá-los do grau mais baixo ao mais alto.
Tendo o Sr. Allan Kardec combatido esta teoria como irracional e desmentida pelos fatos, o Espírito tinha insistido em fazê-lo mudar de ideia. Evocado, não pôde sustentar sua teoria, mas não se considera vencido e pede para ser ouvido em outra sessão íntima e por seu médium habitual.
NOTA: Realizada a sessão alguns dias depois, o Espírito persistiu em dizer-se Saul, rei dos Judeus. Mas, apertado por perguntas, deu provas da mais absoluta ignorância, dizendo, por exemplo, que a encarnação só se dá na Terra, porque esta é o único globo sólido. Em sua opinião, todos os outros planetas são globos fluídicos e não poderiam servir de habitação a seres corpóreos. Quando se lhe contestou a teoria, pelo fenômeno dos eclipses do Sol, sustentou que jamais o Sol foi eclipsado por Mercúrio e Vênus no que, aliás, nem sempre os astrônomos tinham estado de acordo.
Este fato prova, mais uma vez, que os Espíritos estão longe de ter a ciência infusa e quanto é preciso se pôr em guarda contra os sistemas que, por amor próprio, alguns procuram impor, através de algumas bonitas máximas de moral.
Este, a despeito de sua jactância, mostrou o seu ponto fraco com a ridícula teoria dos corpos planetários e demonstrou que, em vida, devia ser menos instruído que o mais atrasado estudante, o que não significa muito, em relação a seu adiantamento. Quando esses Espíritos encontram ouvintes que acolhem suas palavras com uma confiança muito cega, eles se aproveitam disso, mas serão tanto menos encontrados quanto mais nos penetrarmos da certeza de que é preciso submeter todas as comunicações ao severo controle da lógica e da razão. Quando esses Espíritos pseudo-sábios virem que ninguém mais se ilude com os nomes respeitáveis que eles se atribuem, e que não podem impor suas utopias, compreenderão que perdem seu tempo e se calarão.
2.º ─ Evocação do Espírito que se comunica com Sr. R... e que também lhe ditou um sistema completo. Tal estudo será feito posteriormente.
3.º ─ Ditado espontâneo recebido pelo Sr. D... sobre a ciência infusa, assinado por São Luís. Essa comunicação parece ter sido provocada pelos assuntos de que se ocuparam durante a sessão.
4.º ─ Desenho obtido pela Srta. J... e assinado por Ary Scheffer.
5.º ─ Evocação de Nicolas pela Srta. J... Como de hábito ele se manifesta violento, e diz: “Pedir-me calma é pedir que eu não seja eu. Como vedes, ainda queimo. É que o sopro da batalha subiu até mim”.
Interrogado quanto à razão por que se mostrou tão calmo com a Sra. Sch..., responde: Eu tinha tomado um intérprete para não quebrar esta frágil criatura; pude ter belos e bons pensamentos, mas não pude escrevê-los eu mesmo.
Um outro Espírito manifesta-se espontaneamente através da Srta. J... Por sua extrema suavidade, por sua escrita calma, correta e quase moldada, que contrasta de maneira tão notável com a escrita nervosa, angulosa e impaciente de N..., a médium crê reconhecer João Batista, que várias vezes se manifestou dessa maneira. Ele fala da eficácia da prece e lembra as profecias do Apocalipse, que hoje encontram sua aplicação.
SEXTA-FEIRA, 19 DE OUTUBRO DE 1860 (SESSÃO PARTICULAR) Reunião da comissão
Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.
Por indicação da comissão e depois de relatório verbal, são admitidos como sócios livres o Sr. G..., negociante em Paris, e o Sr. D..., funcionário dos correios.
Comunicações diversas:
1.º ─ Leitura de uma comunicação recebida pela Sra. Sch..., de seu irmão. É notável pela elevação dos pensamentos e prova a afeição que os Espíritos conservam por aqueles que amaram na Terra.
2.º ─ A Sra. Desl... lê a evocação de uma antiga empregada falecida quando a serviço de sua família. Essa evocação, na qual o Espírito prova o seu apego e os seus bons sentimentos, oferece uma notável particularidade na forma da linguagem, que é, em todos os pontos, semelhante à da gente do campo, e na qual o Espírito conservou até as expressões que lhe eram familiares.
3.º ─ Caso de identidade relativo ao Espírito do Sr. Charles de P..., evocado na sessão de 5 de outubro. A pessoa a quem se havia manifestado em Bordéus, e que o tinha evocado novamente nos primeiros dias deste mês, soube, por seu intermédio, que o haviam chamado na Sociedade, onde tinha confirmado o que lhe dissera a respeito da causa acidental de sua morte. Pouco depois essa pessoa recebeu carta do Sr. Allan Kardec, transmitindo detalhes da evocação feita na Sociedade.
4.º ─ Relato de diversos casos de aparições vaporosas e tangíveis, e de transporte de objetos materiais, ocorridos com o Sr. de St.-G..., presente à sessão, bem como a uma de suas parentas. Esses casos serão objeto de exame ulterior.
Estudos:
1.º ─ Evocação do Espírito que se manifestou visivelmente ao Sr. de St.-G... Ele dá algumas explicações, mas declara que prefere comunicar-se por intermédio de seu médium habitual.
2.º ─ Evocação de um Espírito que toma o nome de Balthazar e se revelou espontaneamente à Srta. H..., mostrando disposições gastronômicas. Esta evocação oferece um grande interesse do ponto de vista do estudo dos Espíritos não desmaterializados, e que conservam os instintos da vida terrena.
3.º ─ Três ditados espontâneos recebidos: o primeiro pelo Sr. Didier filho, sobre o Cristianismo, assinado por Lamennais; o segundo pela Sra. Costel, sobre os Espíritos inferiores, assinado por Delphine de Girardin; o terceiro pela Srta. Huet: o Beijo de Paz, parábola assinada por Channing.
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 24 de agosto.
Com o parecer da comissão, que tomou conhecimento da carta de solicitação, e após relatório verbal, a Sociedade admite como sócio livre o Sr. B..., negociante em Paris.
Comunicações diversas:
1.º ─ O Sr. Allan Kardec relata o resultado da viagem feita no interesse do Espiritismo e se felicita pelo cordial acolhimento recebido por toda parte e, notadamente, em Sens, Mâcon, Lyon e Saint-Étienne. Por toda parte onde esteve, constatou os consideráveis progressos da Doutrina; mas o que, sobretudo, é digno de nota, é que em parte alguma viu fazerem dela uma distração. Por toda parte dela se ocupam de modo sério e compreendem o seu alcance e as consequências futuras. Sem dúvida ainda há muitos oponentes, dos quais os mais encarniçados são interesseiros, mas os trocistas diminuem sensivelmente. Vendo que seus sarcasmos não trazem os brincalhões para o seu lado, e que estes mais favorecem do que entravam o progresso das crenças novas, começam a compreender que nada ganham e gastam suas energias em pura perda e, por isso, se calam. Uma expressão muito característica aparece, por toda parte, na ordem do dia: O Espiritismo está no ar. Por si só, ela pinta bem o estado de coisas. Mas é sobretudo em Lyon que os resultados são mais notáveis. Ali os espíritas são numerosos em todas as classes e, na classe obreira, eles se contam por centenas. A Doutrina Espírita exerceu entre os operários a mais salutar influência do ponto de vista da ordem, da moral e das ideias religiosas. Em resumo, a propagação do Espiritismo marcha com a mais encorajadora rapidez.
O Sr. Allan Kardec lê o discurso pronunciado pelo Sr. Guillaume, no banquete que os espíritas lioneses lhe ofereceram, e a resposta que ele deu.
Reconhecida pelos testemunhos de simpatia que os confrades de Lyon lhe deram na ocasião, a Sociedade lhes vota uma mensagem de agradecimentos, cujo projeto foi submetido à comissão e por esta emendado. A mensagem será transmitida por intermédio do presidente.
O Sr. Allan Kardec viu em Saint-Étienne o Sr. R... e dele ouviu a exposição do sistema que lhe foi ditado por meio do que ele chama escrita inconsciente. Tal sistema será, posteriormente, objeto de um estudo especial.
Além disso, ele dá conta de um caso muito curioso de obsessão física de uma pessoa de Lyon; de um caso de mediunidade visual, do qual foi testemunha, e de um fenômeno de transfiguração ocorrido nas proximidades de Saint-Étienne, com uma mocinha que em certos momentos tomava a aparência completa de seu irmão, falecido há alguns anos.
2.º ─ Relato de um notável caso de identidade espírita, ocorrido num navio da marinha imperial, estacionado nos mares da China. O fato é relatado por um cirurgião da frota, presente à sessão. Todo mundo no navio, desde os marinheiros até o estado-maior, se ocupava de evocações, mas ninguém conhecia os meios de obter comunicações escritas; assim, serviam-se da tiptologia alfabética. Tiveram a ideia de evocar um tenente, falecido há dois anos. Entre outras particularidades, disse ele: “Peço insistentemente que paguem ao capitão a quantia de... (e designa a soma), que eu lhe devo, e lamento não lha ter podido pagar antes de morrer.” Ninguém conhecia tal circunstância. O próprio capitão se havia esquecido, mas verificando suas contas encontrou menção da dívida do tenente, cuja cifra era perfeitamente idêntica à indicada por seu Espírito.
3.º ─ O Sr. de Grand-Boulogne lê uma encantadora poesia dedicada por ele a seu Espírito familiar.
Estudos:
1.º ─ Perguntas dirigidas a São Luís sobre sua aparição a um médium vidente de Lyon, em presença do Sr. Allan Kardec. Ele responde: “Sim. Era eu mesmo. Era dever de minha missão não abandonar o diretor da Sociedade que eu patrocino.”
Outras perguntas sobre a impressão física produzida em certos médiuns escreventes pelos bons ou maus Espíritos.
2.º ─ Evocação do Sr. Ch. de P..., que encontraram afogado, e cuja morte foi considerada um suicídio. Ele desmente tal opinião, contando as causas acidentais que lhe ocasionaram a morte.
3.º ─ Ditado espontâneo, assinado por Lamennais, recebido pelo Sr. D...
SEXTA-FEIRA, 12 DE OUTUBRO DE 1800 (SESSÃO GERAL) Reunião da comissão.
Presidência do Sr. Jobard, de Bruxelas, presidente honorário.
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão de 5 de outubro.
Comunicações diversas:
1.º ─ Leitura de várias comunicações recebidas pela Sra. Schm...: Os Órfãos, assinado por Jules Morin. Outras, assinadas por Alfred de Musset; a rainha de Ouda, por Nicolas.
2.º ─ Leitura de um ditado espontâneo, assinado por São Luís, recebido pelo Sr. Darcol, com vários conselhos aos espíritas.
3.º ─ Carta ao Sr. Allan Kardec, pelo Sr. J..., de Terre-Noire, sobre a impressão penosa que lhe produziu a exposição do sistema do Sr. R...
Estudos:
1.º ─ Evocação de Saul, rei dos Judeus. Declara que não é ele que se comunica com a Srta. B. O Espírito que se manifesta com tal nome havia ensinado no círculo dessa senhorinha um sistema particular cujos pontos principais são: 1.º ─ Os Espíritos são tanto mais esclarecidos quanto mais antiga sua existência terrena, de onde se segue que, por exemplo, São Luís é menos adiantado que ele, porque morreu há menos tempo; 2.º ─ Os Espíritos só se encarnam na Terra, e o número dessas encarnações é de três, nem mais nem menos, o que basta para levá-los do grau mais baixo ao mais alto.
Tendo o Sr. Allan Kardec combatido esta teoria como irracional e desmentida pelos fatos, o Espírito tinha insistido em fazê-lo mudar de ideia. Evocado, não pôde sustentar sua teoria, mas não se considera vencido e pede para ser ouvido em outra sessão íntima e por seu médium habitual.
NOTA: Realizada a sessão alguns dias depois, o Espírito persistiu em dizer-se Saul, rei dos Judeus. Mas, apertado por perguntas, deu provas da mais absoluta ignorância, dizendo, por exemplo, que a encarnação só se dá na Terra, porque esta é o único globo sólido. Em sua opinião, todos os outros planetas são globos fluídicos e não poderiam servir de habitação a seres corpóreos. Quando se lhe contestou a teoria, pelo fenômeno dos eclipses do Sol, sustentou que jamais o Sol foi eclipsado por Mercúrio e Vênus no que, aliás, nem sempre os astrônomos tinham estado de acordo.
Este fato prova, mais uma vez, que os Espíritos estão longe de ter a ciência infusa e quanto é preciso se pôr em guarda contra os sistemas que, por amor próprio, alguns procuram impor, através de algumas bonitas máximas de moral.
Este, a despeito de sua jactância, mostrou o seu ponto fraco com a ridícula teoria dos corpos planetários e demonstrou que, em vida, devia ser menos instruído que o mais atrasado estudante, o que não significa muito, em relação a seu adiantamento. Quando esses Espíritos encontram ouvintes que acolhem suas palavras com uma confiança muito cega, eles se aproveitam disso, mas serão tanto menos encontrados quanto mais nos penetrarmos da certeza de que é preciso submeter todas as comunicações ao severo controle da lógica e da razão. Quando esses Espíritos pseudo-sábios virem que ninguém mais se ilude com os nomes respeitáveis que eles se atribuem, e que não podem impor suas utopias, compreenderão que perdem seu tempo e se calarão.
2.º ─ Evocação do Espírito que se comunica com Sr. R... e que também lhe ditou um sistema completo. Tal estudo será feito posteriormente.
3.º ─ Ditado espontâneo recebido pelo Sr. D... sobre a ciência infusa, assinado por São Luís. Essa comunicação parece ter sido provocada pelos assuntos de que se ocuparam durante a sessão.
4.º ─ Desenho obtido pela Srta. J... e assinado por Ary Scheffer.
5.º ─ Evocação de Nicolas pela Srta. J... Como de hábito ele se manifesta violento, e diz: “Pedir-me calma é pedir que eu não seja eu. Como vedes, ainda queimo. É que o sopro da batalha subiu até mim”.
Interrogado quanto à razão por que se mostrou tão calmo com a Sra. Sch..., responde: Eu tinha tomado um intérprete para não quebrar esta frágil criatura; pude ter belos e bons pensamentos, mas não pude escrevê-los eu mesmo.
Um outro Espírito manifesta-se espontaneamente através da Srta. J... Por sua extrema suavidade, por sua escrita calma, correta e quase moldada, que contrasta de maneira tão notável com a escrita nervosa, angulosa e impaciente de N..., a médium crê reconhecer João Batista, que várias vezes se manifestou dessa maneira. Ele fala da eficácia da prece e lembra as profecias do Apocalipse, que hoje encontram sua aplicação.
SEXTA-FEIRA, 19 DE OUTUBRO DE 1860 (SESSÃO PARTICULAR) Reunião da comissão
Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.
Por indicação da comissão e depois de relatório verbal, são admitidos como sócios livres o Sr. G..., negociante em Paris, e o Sr. D..., funcionário dos correios.
Comunicações diversas:
1.º ─ Leitura de uma comunicação recebida pela Sra. Sch..., de seu irmão. É notável pela elevação dos pensamentos e prova a afeição que os Espíritos conservam por aqueles que amaram na Terra.
2.º ─ A Sra. Desl... lê a evocação de uma antiga empregada falecida quando a serviço de sua família. Essa evocação, na qual o Espírito prova o seu apego e os seus bons sentimentos, oferece uma notável particularidade na forma da linguagem, que é, em todos os pontos, semelhante à da gente do campo, e na qual o Espírito conservou até as expressões que lhe eram familiares.
3.º ─ Caso de identidade relativo ao Espírito do Sr. Charles de P..., evocado na sessão de 5 de outubro. A pessoa a quem se havia manifestado em Bordéus, e que o tinha evocado novamente nos primeiros dias deste mês, soube, por seu intermédio, que o haviam chamado na Sociedade, onde tinha confirmado o que lhe dissera a respeito da causa acidental de sua morte. Pouco depois essa pessoa recebeu carta do Sr. Allan Kardec, transmitindo detalhes da evocação feita na Sociedade.
4.º ─ Relato de diversos casos de aparições vaporosas e tangíveis, e de transporte de objetos materiais, ocorridos com o Sr. de St.-G..., presente à sessão, bem como a uma de suas parentas. Esses casos serão objeto de exame ulterior.
Estudos:
1.º ─ Evocação do Espírito que se manifestou visivelmente ao Sr. de St.-G... Ele dá algumas explicações, mas declara que prefere comunicar-se por intermédio de seu médium habitual.
2.º ─ Evocação de um Espírito que toma o nome de Balthazar e se revelou espontaneamente à Srta. H..., mostrando disposições gastronômicas. Esta evocação oferece um grande interesse do ponto de vista do estudo dos Espíritos não desmaterializados, e que conservam os instintos da vida terrena.
3.º ─ Três ditados espontâneos recebidos: o primeiro pelo Sr. Didier filho, sobre o Cristianismo, assinado por Lamennais; o segundo pela Sra. Costel, sobre os Espíritos inferiores, assinado por Delphine de Girardin; o terceiro pela Srta. Huet: o Beijo de Paz, parábola assinada por Channing.
Bibliografia - Carta de um católico sobre o Espiritismo - Pelo o Dr. Grand, antigo vice-cônsul da franca
Propôs-se o autor da brochura provar que se pode ser, ao mesmo tempo, bom católico e fervoroso espírita. Neste sentido, prega pela palavra e pelo exemplo, pois é sinceramente uma e outra coisa. Por fatos e argumentos de uma lógica rigorosa,estabelece a concordância do Espiritismo com a religião, e demonstra que todos os dogmas fundamentais encontram na Doutrina Espírita uma explicação de molde a satisfazer à razão mais exigente, que em vão a Teologia se esforça para dar, de onde conclui que se esses dogmas fossem ensinados desta maneira, encontrariam menos incrédulos e que, portanto, devendo a religião ganhar com tal aliança, dia virá em que, pela força das coisas, o Espiritismo estará na religião, ou a religião no Espiritismo.
Parece difícil que, após a leitura desse livrinho, aqueles que os escrúpulos religiosos ainda afastam do Espiritismo não sejam conduzidos a uma apreciação mais sadia do problema. Aliás, há um fato evidente: é que as ideias espíritas marcham com tal rapidez que, sem ser adivinho nem feiticeiro, é possível prever o tempo em que serão tão gerais que, de bom ou de mau grado, ter-se-á que contar com elas. Elas conquistarão foros de cidade, sem haver necessidade da permissão de ninguém; e dentro em pouco reconhecer-se-á, se ainda não se fez, a absoluta impossibilidade de lhe deter o curso. As próprias diatribes lhes dão um impulso extraordinário e não se poderia crer no número de adeptos que, sem o querer, fez o Sr. Louis Figuier com a sua Histoire du merveilleux (História do maravilhoso), na qual pretende tudo explicar pela alucinação, quando, em definitivo, nada explica, porque seu ponto de partida é a negação de toda força fora da Humanidade e sua teoria material não pode resolver todos os casos. As pilhérias do Sr. Oscar Comettant não são argumentos. Ele provocou risos, mas não à custa dos espíritas. O impudente e grosseiro artigo da Gazette de Lyon só fez mal a ela mesma, porque todo mundo o julgou como ele mereceu. Após a leitura da brochura de que falamos, que dirão os que ousam ainda insinuar que os espíritas são ímpios, e que a sua doutrina ameaça a religião? Eles não se apercebem que assim dizendo fariam crer que a religião é vulnerável. Com efeito, ela seria muito vulnerável se uma utopia ─ desde que, segundo eles, isto é utopia ─ pudesse comprometê-la. Não receamos dizer que todos os homens sinceramente religiosos ─ e desta forma entendemos os que o são mais pelo coração do que pelos lábios ─ reconhecerão no Espiritismo uma manifestação divina, cujo objetivo é reavivar a fé que se extingue.
Recomendamos instantemente essa brochura a todos os nossos leitores, e cremos que estes farão uma coisa útil, procurando propagá-la.
Parece difícil que, após a leitura desse livrinho, aqueles que os escrúpulos religiosos ainda afastam do Espiritismo não sejam conduzidos a uma apreciação mais sadia do problema. Aliás, há um fato evidente: é que as ideias espíritas marcham com tal rapidez que, sem ser adivinho nem feiticeiro, é possível prever o tempo em que serão tão gerais que, de bom ou de mau grado, ter-se-á que contar com elas. Elas conquistarão foros de cidade, sem haver necessidade da permissão de ninguém; e dentro em pouco reconhecer-se-á, se ainda não se fez, a absoluta impossibilidade de lhe deter o curso. As próprias diatribes lhes dão um impulso extraordinário e não se poderia crer no número de adeptos que, sem o querer, fez o Sr. Louis Figuier com a sua Histoire du merveilleux (História do maravilhoso), na qual pretende tudo explicar pela alucinação, quando, em definitivo, nada explica, porque seu ponto de partida é a negação de toda força fora da Humanidade e sua teoria material não pode resolver todos os casos. As pilhérias do Sr. Oscar Comettant não são argumentos. Ele provocou risos, mas não à custa dos espíritas. O impudente e grosseiro artigo da Gazette de Lyon só fez mal a ela mesma, porque todo mundo o julgou como ele mereceu. Após a leitura da brochura de que falamos, que dirão os que ousam ainda insinuar que os espíritas são ímpios, e que a sua doutrina ameaça a religião? Eles não se apercebem que assim dizendo fariam crer que a religião é vulnerável. Com efeito, ela seria muito vulnerável se uma utopia ─ desde que, segundo eles, isto é utopia ─ pudesse comprometê-la. Não receamos dizer que todos os homens sinceramente religiosos ─ e desta forma entendemos os que o são mais pelo coração do que pelos lábios ─ reconhecerão no Espiritismo uma manifestação divina, cujo objetivo é reavivar a fé que se extingue.
Recomendamos instantemente essa brochura a todos os nossos leitores, e cremos que estes farão uma coisa útil, procurando propagá-la.
Homero
Estamos há muito tempo em relação com dois médiuns de Sens, tão distintos por suas faculdades quanto recomendáveis por sua modéstia, devotamento e pureza de intenções. Evitaríamos dizê-lo se não os soubéssemos inacessíveis ao orgulho, essa pedra de tropeço de tantos médiuns, contra a qual vieram quebrar-se tantas disposições felizes. É uma qualidade bastante rara, que merece ser assinalada. Pudemos assegurar-nos pessoalmente das simpatias que eles gozam entre os bons Espíritos. Mas, longe de se prevalecerem disso; longe de se julgarem os únicos intérpretes da verdade, e sem se deixarem ofuscar por nomes imponentes, aceitam com toda humildade e prudente reserva as comunicações que recebem, sempre as submetendo ao controle da razão. É o único meio de desencorajar os Espíritos enganadores, sempre à espreita de pessoas dispostas a aceitar sob palavra tudo quanto vem do mundo dos Espíritos, desde que subscrito por um nome respeitável. Aliás, eles nunca receberam comunicações frívolas, triviais, grosseiras ou ridículas, e jamais qualquer Espírito tentou inculcar-lhes ideias excêntricas ou impor-se como regulador absoluto. Ainda mais, o que prova tudo isto em favor dos Espíritos que os assistem são os sentimentos de verdadeira benevolência e verdadeira caridade cristã que eles inspiram aos seus protegidos. Tal é a impressão que nos ficou do que vimos, e nos sentimos felizes em proclamá-lo.
No interesse da conservação e do aperfeiçoamento de sua faculdade, fazemos votos que jamais caiam no engano dos médiuns que se julgam infalíveis. Não há um só que se possa gabar de jamais ter sido enganado. As melhores intenções não garantem sempre, e muitas vezes são uma prova para exercitar o julgamento e a perspicácia. Mas, a respeito dos que têm a infelicidade de se julgarem infalíveis, os Espíritos enganadores são muito hábeis para não deixar de tirar proveito. Fazem o que fazem os homens: exploram todas as fraquezas.
Entre as comunicações que esses senhores nos enviaram, a seguinte, assinada por Homero, sem ter nada de muito saliente relativamente às ideias, pareceu-nos merecer particular atenção, em razão de um fato notável que até certo ponto pode ser considerado como prova de identidade. Esta comunicação foi obtida espontaneamente e sem que o médium absolutamente pensasse no poeta grego. Ela deu lugar a diversas perguntas que também julgamos conveniente publicar.
Um dia o médium escreveu o seguinte, sem saber quem lho ditava:
“Meu Deus! Como são profundos os vossos desígnios e impenetráveis as vossas vistas! Em todos os tempos os homens têm procurado a solução de uma porção de problemas que ainda não foram resolvidos. Eu também procurei durante toda a minha vida, e não consegui resolver o que de todos parece o mais simples: o mal, aguilhão de que vos servis para impelir o homem a fazer o bem por amor. Ainda bem jovem, conheci os maus-tratos que os homens fazem sofrer uns aos outros, sem premeditação, como se o mal para eles fosse um elemento natural, posto não seja assim, desde que todos tendem para o mesmo fim, que é o bem. Estrangulam-se uns aos outros e, ao despertarem, constatam que feriram um irmão! Mas são esses os vossos desígnios e não nos cabe mudá-los. Só temos o mérito ou o demérito de haver resistido mais ou menos à tentação e, como sanção de tudo isto, o castigo ou a recompensa.
“Passei a juventude entre os caniços do Mélès; banhei-me e embalei-me muitas vezes em suas ondas. Por isso, na minha juventude, eu era chamado Melesígeno.”
No interesse da conservação e do aperfeiçoamento de sua faculdade, fazemos votos que jamais caiam no engano dos médiuns que se julgam infalíveis. Não há um só que se possa gabar de jamais ter sido enganado. As melhores intenções não garantem sempre, e muitas vezes são uma prova para exercitar o julgamento e a perspicácia. Mas, a respeito dos que têm a infelicidade de se julgarem infalíveis, os Espíritos enganadores são muito hábeis para não deixar de tirar proveito. Fazem o que fazem os homens: exploram todas as fraquezas.
Entre as comunicações que esses senhores nos enviaram, a seguinte, assinada por Homero, sem ter nada de muito saliente relativamente às ideias, pareceu-nos merecer particular atenção, em razão de um fato notável que até certo ponto pode ser considerado como prova de identidade. Esta comunicação foi obtida espontaneamente e sem que o médium absolutamente pensasse no poeta grego. Ela deu lugar a diversas perguntas que também julgamos conveniente publicar.
Um dia o médium escreveu o seguinte, sem saber quem lho ditava:
“Meu Deus! Como são profundos os vossos desígnios e impenetráveis as vossas vistas! Em todos os tempos os homens têm procurado a solução de uma porção de problemas que ainda não foram resolvidos. Eu também procurei durante toda a minha vida, e não consegui resolver o que de todos parece o mais simples: o mal, aguilhão de que vos servis para impelir o homem a fazer o bem por amor. Ainda bem jovem, conheci os maus-tratos que os homens fazem sofrer uns aos outros, sem premeditação, como se o mal para eles fosse um elemento natural, posto não seja assim, desde que todos tendem para o mesmo fim, que é o bem. Estrangulam-se uns aos outros e, ao despertarem, constatam que feriram um irmão! Mas são esses os vossos desígnios e não nos cabe mudá-los. Só temos o mérito ou o demérito de haver resistido mais ou menos à tentação e, como sanção de tudo isto, o castigo ou a recompensa.
“Passei a juventude entre os caniços do Mélès; banhei-me e embalei-me muitas vezes em suas ondas. Por isso, na minha juventude, eu era chamado Melesígeno.”
1. ─
Sendo este nome desconhecido, rogamos ao Espírito a bondade de explicálo de maneira
precisa.
─ Minha mocidade foi embalada nas ondas; a poesia me
deu cabelos brancos. Eu sou aquele a quem chamais Homero.”
OBSERVAÇÃO: Grande foi a nossa surpresa, pois nenhuma
ideia tínhamos desse apelido de Homero. Encontramo-lo depois no dicionário
mitológico.
Continuamos as perguntas.
2. ─ Poderíeis dizer-nos a que devemos a felicidade de vossa visita espontânea, porque ─ e por isso vos pedimos perdão ─ absolutamente não pensávamos em vós neste momento. ─ É porque venho às vossas reuniões, como se vai sempre aos irmãos que têm em vista fazer o bem.
3. ─ Se ousássemos, pediríamos que nos falásseis dos últimos instantes de vossa vida terrena. ─ Oh! meus amigos, Deus permita que não morrais tão infelizes quanto eu! Meu corpo finou-se na última das misérias humanas. A alma fica muito perturbada em tal estado. O despertar é mais difícil, mas também é muito mais belo! Oh! Como Deus é grande! Que ele vos abençoe! Eu o peço do fundo do coração.
4. ─ Os poemas da Ilíada e da Odisseia, que nós temos, são exatamente aqueles que vós compusestes? ─ Não. Eles foram alterados.
5. ─ Várias cidades disputaram a honra de vos ter sido o berço. Poderíeis esclarecer-nos a respeito? ─ Procurai a cidade da Grécia que possuía a casa do cortesão Cleanax. Foi ele que expulsou minha mãe do lugar do meu nascimento, porque ela não quis ser sua amante, e sabereis em que cidade vim à luz. Sim, elas disputaram essa suposta honra, mas não disputavam por me haverem dado hospitalidade. Oh! Eis os pobres humanos. Sempre futilidades; bons pensamentos, nunca!
2. ─ Poderíeis dizer-nos a que devemos a felicidade de vossa visita espontânea, porque ─ e por isso vos pedimos perdão ─ absolutamente não pensávamos em vós neste momento. ─ É porque venho às vossas reuniões, como se vai sempre aos irmãos que têm em vista fazer o bem.
3. ─ Se ousássemos, pediríamos que nos falásseis dos últimos instantes de vossa vida terrena. ─ Oh! meus amigos, Deus permita que não morrais tão infelizes quanto eu! Meu corpo finou-se na última das misérias humanas. A alma fica muito perturbada em tal estado. O despertar é mais difícil, mas também é muito mais belo! Oh! Como Deus é grande! Que ele vos abençoe! Eu o peço do fundo do coração.
4. ─ Os poemas da Ilíada e da Odisseia, que nós temos, são exatamente aqueles que vós compusestes? ─ Não. Eles foram alterados.
5. ─ Várias cidades disputaram a honra de vos ter sido o berço. Poderíeis esclarecer-nos a respeito? ─ Procurai a cidade da Grécia que possuía a casa do cortesão Cleanax. Foi ele que expulsou minha mãe do lugar do meu nascimento, porque ela não quis ser sua amante, e sabereis em que cidade vim à luz. Sim, elas disputaram essa suposta honra, mas não disputavam por me haverem dado hospitalidade. Oh! Eis os pobres humanos. Sempre futilidades; bons pensamentos, nunca!
OBSERVAÇÃO: O fato mais marcante desta comunicação é a revelação do apelido de Homero, e é tanto mais notável quanto os dois médiuns, que reconhecem e deploram a insuficiência de sua instrução, o que os obriga a viver do trabalho manual, não podiam ter a menor ideia a respeito. E tanto menos se pode atribuí-lo a um reflexo qualquer do pensamento, dado o fato de que no momento estavam sós.
A respeito disto, faremos outra observação: todo espírita sabe, por menos experimentado que ele seja, que alguma pessoa que soubesse o apelido de Homero e, o tendo evocado, se lhe tivesse pedido para dizê-lo, como prova de identidade, não o teria conseguido. Se as comunicações fossem apenas um reflexo do pensamento, como não diria e Espírito aquilo que sabemos, enquanto ele próprio diz aquilo que ignoramos? É que ele também tem a sua dignidade e a sua susceptibilidade, e quer provar que não está às ordens do primeiro curioso que apareça. Suponhamos que aquele que mais protesta contra o que chama capricho ou má vontade do Espírito, se apresente numa casa declinando o seu nome. Que faria, se o acolhessem e lhe pedissem à queima-roupa que provasse ser ele mesmo? Voltaria as costas. É o que fazem os Espíritos. Isto não quer dizer que se deva crer sob palavra, mas quando se querem provas de identidade, é preciso saber tratá-los tão bem como aos homens. As provas de identidade dadas espontaneamente pelos Espíritos são sempre as melhores.
Se nos estendemos tanto a propósito de um assunto que parece não comportar tantas considerações, é que nos parece útil não perder ocasião de chamar a atenção sobre a parte prática de uma ciência cercada de mais dificuldades do que se pensa, e que muitos julgam possuir porque sabem fazer bater uma mesa ou mover-se um lápis. Aliás, nós nos dirigimos aos que ainda julgam necessitar de conselhos, e não aos que, após alguns meses de estudo, pensam não mais necessitá-los. Se os conselhos que julgamos conveniente dar forem perdidos por alguns, sabemos que não o serão por todos, e que muitos os receberão com prazer.
A respeito disto, faremos outra observação: todo espírita sabe, por menos experimentado que ele seja, que alguma pessoa que soubesse o apelido de Homero e, o tendo evocado, se lhe tivesse pedido para dizê-lo, como prova de identidade, não o teria conseguido. Se as comunicações fossem apenas um reflexo do pensamento, como não diria e Espírito aquilo que sabemos, enquanto ele próprio diz aquilo que ignoramos? É que ele também tem a sua dignidade e a sua susceptibilidade, e quer provar que não está às ordens do primeiro curioso que apareça. Suponhamos que aquele que mais protesta contra o que chama capricho ou má vontade do Espírito, se apresente numa casa declinando o seu nome. Que faria, se o acolhessem e lhe pedissem à queima-roupa que provasse ser ele mesmo? Voltaria as costas. É o que fazem os Espíritos. Isto não quer dizer que se deva crer sob palavra, mas quando se querem provas de identidade, é preciso saber tratá-los tão bem como aos homens. As provas de identidade dadas espontaneamente pelos Espíritos são sempre as melhores.
Se nos estendemos tanto a propósito de um assunto que parece não comportar tantas considerações, é que nos parece útil não perder ocasião de chamar a atenção sobre a parte prática de uma ciência cercada de mais dificuldades do que se pensa, e que muitos julgam possuir porque sabem fazer bater uma mesa ou mover-se um lápis. Aliás, nós nos dirigimos aos que ainda julgam necessitar de conselhos, e não aos que, após alguns meses de estudo, pensam não mais necessitá-los. Se os conselhos que julgamos conveniente dar forem perdidos por alguns, sabemos que não o serão por todos, e que muitos os receberão com prazer.
Palestras familiares de além-túmulo - Baltazar, o Espírito gastrônomo
Numa reunião espírita particular apresentou-se espontaneamente um Espírito, sob o nome de Baltazar, e ditou a seguinte frase por meio de batidas:
“Gosto da boa mesa e das mulheres; viva o melão e a lagosta, o café e o licor !” Pareceu-nos que tais disposições de um habitante do outro mundo poderia dar lugar a um estudo sério, do qual poderíamos tirar um ensinamento instrutivo sobre as faculdades e sensações de certos Espíritos. A nosso ver, era um interessante objeto de observação que se apresentava por si mesmo, ou, melhor ainda, que talvez tivesse sido enviado pelos Espíritos elevados, desejosos de nos fornecerem meios de instrução. Seríamos culpados se não o aproveitássemos. É evidente que aquela frase burlesca revela, da parte do Espírito, uma natureza muito especial, cujo estudo pode lançar uma nova luz sobre o que podemos chamar a fisiologia do mundo espírita.
Eis por que a Sociedade julgou dever evocá-lo, não por um motivo fútil, mas na esperança de encontrar um novo assunto para instrução.
Certas pessoas creem que só se pode aprender com o Espírito dos grandes homens. É um erro. Sem dúvida só os Espíritos de escol nos podem dar lições de alta filosofia teórica, mas o conhecimento do estado real do mundo invisível não é para nós menos importante. Pelo estudo de alguns Espíritos, surpreendemos, de certo modo, a natureza em flagrante. É vendo as chagas que podemos encontrar o meio de curá-las. Como nos daríamos conta das penas e dos sofrimentos da vida futura, se não tivéssemos visto Espíritos infelizes? Por eles compreendemos que se pode sofrer muito sem estar no fogo e nas torturas materiais do Inferno, e esta convicção, dada pelo espetáculo da ralé da vida espírita, não é uma das causas que menos contribuíram para atrair partidários à Doutrina.
1. Evocação:
─ Meus amigos, eis-me aqui, diante de
uma grande mesa, mas ah! Está vazia!
2. ─
Esta mesa está vazia, é certo; mas quereis dizer-nos de que vos serviria se
estivesse carregada de alimentos? Que faríeis deles?
─
Sentiria o seu aroma, como outrora lhes saboreava o gosto.
OBSERVAÇÃO: Esta resposta é todo um ensinamento.
Sabemos que os Espíritos têm as nossas sensações e percebem os odores tão bem
quanto os sons. Não podendo comer, um Espírito material e sensual se repasta da
emanação dos alimentos; saboreia-os pelo olfato, como em vida o fazia pelo
paladar. Há, pois, algo de material em seu prazer; mas como, na verdade, há
mais desejo do que realidade, este mesmo prazer, aguilhoando os desejos,
torna-se um suplício para os Espíritos inferiores, que ainda conservaram as
paixões humanas.
3. ─
Falemos muito seriamente, peço-vos. Nosso propósito não é brincar, mas de nos
instruirmos. Tende a bondade de responder seriamente às nossas perguntas e, se
for necessário, servi-vos da assistência de um Espírito esclarecido. Tendes um
corpo fluídico, bem o sabemos. Mas dizei, nesse corpo há um estômago?
─ Estômago também fluídico, onde só
os aromas podem passar.
4 ─ Quando vedes comidas gostosas,
sentis vontade de comer?
─ Ah! Comer! Eu não posso mais. Para mim, esses
alimentos são o que são as flores para vós: cheirais, mas não comeis. Isto vos
contenta. Pois então! Também eu fico contente.
5.
─ Sentis prazer vendo os outros comerem?
─ Muito, quando estou perto.
6.
─ Sentis necessidade de comer e beber? Notai que
dizemos
necessidade; há pouco
havíamos dito
desejo, o que não é a
mesma coisa. ─ Necessidade, não; mas desejo, sim, sempre!
7.
─ Esse desejo fica plenamente satisfeito pelo
cheiro que aspirais? É a mesma coisa que se realmente comêsseis?
─ É como se eu vos perguntasse se a vista de um objeto
que desejais ardentemente vos substitui a posse desse objeto.
8.
─ Assim, parece que o desejo que experimentais
deve ser um verdadeiro suplício, pois não há prazer real...
─ Suplício maior do que pensais. Mas eu procuro
atordoar-me, criando-me a ilusão.
9.
─ Vosso estado nos parece muito material.
Dizei-nos: dormis algumas vezes?
─ Não. Gosto de rodar um pouco por
toda parte.
10.
─ O tempo vos parece longo? Por vezes vos
aborreceis?
─ Não. Eu percorro as feiras e os mercados; vou ver
chegar a pescaria e com isto me ocupo muito bem.
11.
─ Que fazíeis quando na Terra?
Nota: Alguém diz que sem dúvida era
cozinheiro.
─ Apreciador da boa
mesa, não glutão. Advogado, filho de gastrônomo, neto de gastrônomo. Meus pais
eram
fermiers généraux. (Financistas que na antiga monarquia tinham o
direito de cobrar impostos, mediante o pagamento de certa quantia fixa ao
Tesouro
).
Respondendo à reflexão precedente, o
Espírito acrescenta:
─ “Bem vês que eu não era cozinheiro e que não te
convidaria para os meus almoços, pois não sabes comer nem beber.”
12.
─ Há muito tempo que estais morto?
─ Morri há uns trinta anos, com
oitenta de idade.
13.
─ Vedes outros Espíritos mais felizes do que
vós?
─ Sim. Vejo alguns cuja felicidade consiste em louvar a
Deus. Ainda não conheço isto. Meus pensamentos roçam pela Terra.
14.
─ Compreendeis as causas que os tornam mais
felizes do que vós?
─ Eu ainda não as aprecio, como aquele que não sabe o
que é um bom prato e não o aprecia. Talvez chegue a isso. Adeus. Vou à procura
de um jantarzinho muito delicado e muito suculento.
BALTAZAR
OBSERVAÇÃO: Este Espírito é um verdadeiro fenômeno. Ele
faz parte dessa classe numerosa de seres invisíveis que não se elevaram em nada
acima da condição da Humanidade. Só tem de menos o corpo material, mas as suas
ideias são exatamente as mesmas. Este não é um mau Espírito. Ele não tem contra
si senão a sensualidade, que, ao mesmo tempo, é para ele um suplício e um gozo.
Como Espírito, não é, pois, muito infeliz; é até feliz ao seu modo. Mas Deus
sabe o que o espera em nova existência! Uma triste volta poderá fazê-lo bem
refletir e desenvolver o senso moral, ainda abafado pela preponderância dos
sentidos.
Um espírita ao seu espírito familiar - Estâncias
Oh! Tu que à minha tristeza
Olhas com terna piedade!
Oh! Tu que à minha fraqueza
Dás o apoio da amizade!
Espírito, gênio ou flama,
Suspende teu voo aos céus;
Fica e esta minha alma inflama,
Oh! Conselheiro entre os véus!
Enviado da Providência,
Enviado da Providência,
Sábio intérprete da Lei,
Fala, que escuto em paciência:
Mestre, ensina e aprenderei.
Ainda há pouco eu duvidava,
A dúvida me afligia,
Mestre, ensina e aprenderei.
Ainda há pouco eu duvidava,
A dúvida me afligia,
Teu sopro a sombra afastava
Dando-me a luz da alegria.
Assim, Deus, mestre adorável,
Antes Pai que criador,
Põe, com ternura inefável,
Assim, Deus, mestre adorável,
Antes Pai que criador,
Põe, com ternura inefável,
Um anjo na nossa dor.
Cada qual, ó maravilha!
Tem um celeste guardião;
Cada um tem na sua trilha
Cada qual, ó maravilha!
Tem um celeste guardião;
Cada um tem na sua trilha
O amparo de oculta mão.
Doce anjo que me consola!
Irmão bendito entre os véus,
Doce anjo que me consola!
Irmão bendito entre os véus,
Contigo minha alma evola,
Que se evole para os céus!
Amo-te, anjo tutelar,
Sou feliz se as mãos nos damos,
Sigo-te, estrela a clarear
Amo-te, anjo tutelar,
Sou feliz se as mãos nos damos,
Sigo-te, estrela a clarear
O céu para onde avançamos.
A. G.
A. G.
Relações afetuosas dos Espíritos
Comentário sobre o ditado espontâneo, publicado na Revista do mês de outubro de 1860, sob o título de O Despertar do Espírito.
São geralmente admiradas as belas comunicações do Espírito que assina Georges. Mas, em razão mesmo da superioridade de que esse Espírito dá provas, várias pessoas viram com surpresa o que diz em sua comunicação O Despertar do Espírito, a propósito das relações de além-túmulo. Ali se lê o seguinte:
“A gente se despoja de todos os preconceitos terrenos. A verdade aparece em toda a sua luz. Nada atenua as faltas. Nada oculta as virtudes. A gente vê a própria alma tão claramente quanto num espelho. A gente procura entre os Espíritos os que foram conhecidos, porque o Espírito se apavora no seu isolamento, mas eles passam sem se deterem. Não há comunicações amistosas entre os Espíritos errantes; até mesmo aqueles que se amaram não trocam sinais de reconhecimento; essas formas diáfanas deslizam e não se fixam. As comunicações afetuosas são reservadas aos Espíritos superiores.”
O pensamento do reencontro após a morte e da comunicação com os que amamos é uma das mais suaves consolações do Espiritismo, e a ideia de que as almas não possam ter entre si relação de amizade seria pungente, se fosse absoluta; por isso não nos surpreendemos com o sentimento penoso que ela produziu. Se Georges tivesse sido um desses Espíritos vulgares ou sistemáticos, que externam suas próprias ideias sem se inquietarem com sua exatidão ou sua falsidade, não teríamos dado a menor importância. Em razão de sua sabedoria e de sua profundeza habituais, poder-se-ia supor houvesse algo de verdadeiro no fundo dessa teoria, mas que o pensamento não teria sido expresso completamente. Com efeito, é o que resulta das explicações que pedimos. Temos, pois, uma prova a mais de que nada se deve aceitar sem o haver submetido ao controle da razão; e aqui a razão e os fatos nos dizem que tal teoria não poderia ser absoluta.
Se o isolamento fosse uma propriedade inerente à erraticidade, tal estado seria um verdadeiro suplício, tanto mais penoso quanto pode prolongar-se por muitos séculos. Sabemos por experiência que a privação da vista dos que amamos é uma punição para certos Espíritos; mas sabemos, também, que muitos são felizes por se encontrarem; que ao saírem desta vida, os nossos amigos do mundo espírita nos vêm receber e nos ajudam a nos desembaraçarmos das roupagens materiais, e que nada é mais penoso do que não encontrar nenhuma alma benevolente nesse momento solene. Esta consoladora doutrina seria uma quimera? Não, não é possível, porque não é apenas o resultado de um ensino. São as próprias almas, felizes ou sofredoras, que vêm descrever a situação. Sabemos que os Espíritos se reúnem e se entendem para agirem de comum acordo, com mais força em certas ocasiões, tanto para o mal quanto para o bem; que os Espíritos sem os necessários conhecimentos para responder às perguntas que lhes são dirigidas, podem ser assistidos por Espíritos mais esclarecidos; que estes têm por missão ajudar com seus conselhos o adiantamento dos Espíritos mais atrasados; que os Espíritos inferiores agem sob o impulso de outros Espíritos, dos quais são instrumentos; que recebem ordens, proibições ou permissões, circunstâncias essas que não ocorreriam se os Espíritos ficassem entregues a si mesmos. O simples bom-senso nos diz, pois, que a situação de que se falou é relativa e não absoluta; que pode verificar-se para alguns em dadas circunstâncias, mas não poderia ser geral, porque, do contrário, seria o maior obstáculo ao progresso do Espírito e, por isto mesmo, não seria conforme à justiça de Deus, nem à sua bondade. Evidentemente, o Espírito de Georges só encarou uma fase da erraticidade, na qual, para melhor dizer, restringiu a acepção do termo errante a uma certa categoria de Espíritos, em vez de aplicá-la, como nós o fazemos, indistintamente a todos os Espíritos não encarnados.
Pode acontecer, portanto, que dois seres que se amaram não troquem sinais de reconhecimento; que nem mesmo se possam ver e falar, se for uma punição para um deles. Por outro lado, como os Espíritos se reúnem conforme a ordem hierárquica, dois seres que se amaram na Terra podem pertencer a ordens muito diferentes e, por isso mesmo, ficarem separados, até que o menos adiantado alcance o grau do outro. Tal privação pode ser, assim, uma consequência da expiação e das provas terrestres. A nós cabe agir de modo a não merecê-la.
A felicidade dos Espíritos é relativa à sua elevação. Essa felicidade só é completa para os Espíritos depurados, cuja felicidade consiste principalmente no amor que os une. Isto se concebe e é de toda justiça, porque se despojaram de todo egoísmo e de toda influência material, porque somente neles ela é pura, sem segunda intenção e coisa alguma a perturba. Daí se segue que suas comunicações devem ser, por isto mesmo, mais afetuosas e mais expansivas do que entre os Espíritos ainda sob o império das paixões terrenas. É preciso daí concluir que os Espíritos errantes não são forçosamente privados, mas podem ser privados de tais comunicações, se tal for a punição a eles imposta. Como diz Georges em outra passagem: “Esta privação momentânea lhes dá mais ardor para atingirem o momento em que as provas realizadas lhes devolverão o objeto de sua afeição.” Portanto, essa privação não é o estado normal dos Espíritos errantes, mas uma expiação para os que a mereceram, uma das mil e uma vicissitudes que nos esperam na outra vida, quando tivermos desmerecido nesta.
São geralmente admiradas as belas comunicações do Espírito que assina Georges. Mas, em razão mesmo da superioridade de que esse Espírito dá provas, várias pessoas viram com surpresa o que diz em sua comunicação O Despertar do Espírito, a propósito das relações de além-túmulo. Ali se lê o seguinte:
“A gente se despoja de todos os preconceitos terrenos. A verdade aparece em toda a sua luz. Nada atenua as faltas. Nada oculta as virtudes. A gente vê a própria alma tão claramente quanto num espelho. A gente procura entre os Espíritos os que foram conhecidos, porque o Espírito se apavora no seu isolamento, mas eles passam sem se deterem. Não há comunicações amistosas entre os Espíritos errantes; até mesmo aqueles que se amaram não trocam sinais de reconhecimento; essas formas diáfanas deslizam e não se fixam. As comunicações afetuosas são reservadas aos Espíritos superiores.”
O pensamento do reencontro após a morte e da comunicação com os que amamos é uma das mais suaves consolações do Espiritismo, e a ideia de que as almas não possam ter entre si relação de amizade seria pungente, se fosse absoluta; por isso não nos surpreendemos com o sentimento penoso que ela produziu. Se Georges tivesse sido um desses Espíritos vulgares ou sistemáticos, que externam suas próprias ideias sem se inquietarem com sua exatidão ou sua falsidade, não teríamos dado a menor importância. Em razão de sua sabedoria e de sua profundeza habituais, poder-se-ia supor houvesse algo de verdadeiro no fundo dessa teoria, mas que o pensamento não teria sido expresso completamente. Com efeito, é o que resulta das explicações que pedimos. Temos, pois, uma prova a mais de que nada se deve aceitar sem o haver submetido ao controle da razão; e aqui a razão e os fatos nos dizem que tal teoria não poderia ser absoluta.
Se o isolamento fosse uma propriedade inerente à erraticidade, tal estado seria um verdadeiro suplício, tanto mais penoso quanto pode prolongar-se por muitos séculos. Sabemos por experiência que a privação da vista dos que amamos é uma punição para certos Espíritos; mas sabemos, também, que muitos são felizes por se encontrarem; que ao saírem desta vida, os nossos amigos do mundo espírita nos vêm receber e nos ajudam a nos desembaraçarmos das roupagens materiais, e que nada é mais penoso do que não encontrar nenhuma alma benevolente nesse momento solene. Esta consoladora doutrina seria uma quimera? Não, não é possível, porque não é apenas o resultado de um ensino. São as próprias almas, felizes ou sofredoras, que vêm descrever a situação. Sabemos que os Espíritos se reúnem e se entendem para agirem de comum acordo, com mais força em certas ocasiões, tanto para o mal quanto para o bem; que os Espíritos sem os necessários conhecimentos para responder às perguntas que lhes são dirigidas, podem ser assistidos por Espíritos mais esclarecidos; que estes têm por missão ajudar com seus conselhos o adiantamento dos Espíritos mais atrasados; que os Espíritos inferiores agem sob o impulso de outros Espíritos, dos quais são instrumentos; que recebem ordens, proibições ou permissões, circunstâncias essas que não ocorreriam se os Espíritos ficassem entregues a si mesmos. O simples bom-senso nos diz, pois, que a situação de que se falou é relativa e não absoluta; que pode verificar-se para alguns em dadas circunstâncias, mas não poderia ser geral, porque, do contrário, seria o maior obstáculo ao progresso do Espírito e, por isto mesmo, não seria conforme à justiça de Deus, nem à sua bondade. Evidentemente, o Espírito de Georges só encarou uma fase da erraticidade, na qual, para melhor dizer, restringiu a acepção do termo errante a uma certa categoria de Espíritos, em vez de aplicá-la, como nós o fazemos, indistintamente a todos os Espíritos não encarnados.
Pode acontecer, portanto, que dois seres que se amaram não troquem sinais de reconhecimento; que nem mesmo se possam ver e falar, se for uma punição para um deles. Por outro lado, como os Espíritos se reúnem conforme a ordem hierárquica, dois seres que se amaram na Terra podem pertencer a ordens muito diferentes e, por isso mesmo, ficarem separados, até que o menos adiantado alcance o grau do outro. Tal privação pode ser, assim, uma consequência da expiação e das provas terrestres. A nós cabe agir de modo a não merecê-la.
A felicidade dos Espíritos é relativa à sua elevação. Essa felicidade só é completa para os Espíritos depurados, cuja felicidade consiste principalmente no amor que os une. Isto se concebe e é de toda justiça, porque se despojaram de todo egoísmo e de toda influência material, porque somente neles ela é pura, sem segunda intenção e coisa alguma a perturba. Daí se segue que suas comunicações devem ser, por isto mesmo, mais afetuosas e mais expansivas do que entre os Espíritos ainda sob o império das paixões terrenas. É preciso daí concluir que os Espíritos errantes não são forçosamente privados, mas podem ser privados de tais comunicações, se tal for a punição a eles imposta. Como diz Georges em outra passagem: “Esta privação momentânea lhes dá mais ardor para atingirem o momento em que as provas realizadas lhes devolverão o objeto de sua afeição.” Portanto, essa privação não é o estado normal dos Espíritos errantes, mas uma expiação para os que a mereceram, uma das mil e uma vicissitudes que nos esperam na outra vida, quando tivermos desmerecido nesta.
Dissertações espíritas - Recebidas ou lidas por vários médiuns na sociedade
PRIMEIRAS IMPRESSÕES DE UM ESPÍRITO
(MÉDIUM. SRA. COSTEL)
Falarei da estranha mudança que se opera no Espírito após a libertação, Ele se evapora dos despojos que abandona, como uma chama se desprende do foco que a produziu; depois se dá uma grande perturbação e essa dúvida estranha: estou morto ou vivo? A ausência das sensações primárias produzidas pelo corpo espanta e imobiliza, por assim dizer. Assim como um homem habituado a um fardo pesado, nossa alma, aliviada de repente, não sabe o que fazer de sua liberdade; depois, o espaço infinito, as maravilhas sem número dos astros, sucedendo-se num ritmo harmonioso, os Espíritos solícitos, flutuando no ar e deslumbrantes de luz sutil que parece atravessá-los, o sentimento da libertação que inunda de súbito, a necessidade de lançar-se também no espaço como pássaros que querem treinar suas asas, tais são as primeiras impressões que todos nós sentimos. Não posso lhe revelar todas as fases desta existência; acrescentarei só, que logo satisfeito com o seu espanto, o espírito ávido quer se lançar e subir mais, às regiões do verdadeiro belo, do verdadeiro bem, e essa aspiração é o tormento dos Espíritos sedentos do infinito. Como a crisálida, esperam despojar-se de sua pele; sentem surgirem asas que os levarão, radiosos, ao azul abençoado. Mas, retidos ainda pelos laços do pecado, devem planar entre o céu e a Terra, não pertencendo nem a um, nem a outra. Que são todas as aspirações terrenas, comparadas ao ardor incrível do ser que entreviu um recanto da eternidade! Assim, sofrei muito para chegardes depurados entre nós. O Espiritismo vos ajudará, pois é uma obra abençoada; ele liga entre si os Espíritos e os vivos, que formam os anéis de uma cadeia invisível subindo até Deus.
(MÉDIUM. SRA. COSTEL)
Falarei da estranha mudança que se opera no Espírito após a libertação, Ele se evapora dos despojos que abandona, como uma chama se desprende do foco que a produziu; depois se dá uma grande perturbação e essa dúvida estranha: estou morto ou vivo? A ausência das sensações primárias produzidas pelo corpo espanta e imobiliza, por assim dizer. Assim como um homem habituado a um fardo pesado, nossa alma, aliviada de repente, não sabe o que fazer de sua liberdade; depois, o espaço infinito, as maravilhas sem número dos astros, sucedendo-se num ritmo harmonioso, os Espíritos solícitos, flutuando no ar e deslumbrantes de luz sutil que parece atravessá-los, o sentimento da libertação que inunda de súbito, a necessidade de lançar-se também no espaço como pássaros que querem treinar suas asas, tais são as primeiras impressões que todos nós sentimos. Não posso lhe revelar todas as fases desta existência; acrescentarei só, que logo satisfeito com o seu espanto, o espírito ávido quer se lançar e subir mais, às regiões do verdadeiro belo, do verdadeiro bem, e essa aspiração é o tormento dos Espíritos sedentos do infinito. Como a crisálida, esperam despojar-se de sua pele; sentem surgirem asas que os levarão, radiosos, ao azul abençoado. Mas, retidos ainda pelos laços do pecado, devem planar entre o céu e a Terra, não pertencendo nem a um, nem a outra. Que são todas as aspirações terrenas, comparadas ao ardor incrível do ser que entreviu um recanto da eternidade! Assim, sofrei muito para chegardes depurados entre nós. O Espiritismo vos ajudará, pois é uma obra abençoada; ele liga entre si os Espíritos e os vivos, que formam os anéis de uma cadeia invisível subindo até Deus.
DELPHINE DE GIRARDIN
OS ÓRFÃOS
(MÉDIUM, SRA. SCHMIDT)
Meus irmãos, amai os órfãos. Se soubésseis quanto é triste ser só e abandonado, sobretudo em tenra idade! Deus permite que haja órfãos para nos induzir a lhes servir de pais. Que divina caridade ajudar uma pobre criaturinha abandonada, evitar que sofra fome e frio, dirigir sua alma, para que não se perca no vicio! Quem estende a mão a uma criança abandonada é agradável a Deus, porque compreende e pratica a sua lei. Pensai ainda que, multas vezes, a criança que socorreis vos tenha sido querida em outra vida. E se vós a pudésseis lembrar, isto não seria caridade, mas dever. Assim, pois, meus amigos, todo ser sofredor é vosso irmão e tem direito à vossa caridade; não essa caridade que fere o coração, essa esmola que queima a mão onde cai, porque os vossos óbolos são, por vezes, muito amargos. Quantas vezes elas seriam recusadas, se nas águas-furtadas não as esperassem a doença e a fome! Dai delicadamente; juntai aos benefícios o mais precioso de todos: uma boa palavra, uma carícia, um sorriso amigo; evitai esse tom de piedade e de proteção, que revolve o ferro no coração que sangra, e pensai que, fazendo o bem, trabalhais por vós e pelos vossos.
Jules Morin
OBSERVAÇÃO: O Espírito que assim assina é completamente desconhecido. Podemos ver pela comunicação acima, e por muitas outras do mesmo gênero, que nem sempre é preciso um nome ilustre para obter belas coisas. É uma puerilidade prender-se ao nome. Deve-se aceitar o bem de qualquer parte que venha; aliás o número de nomes ilustres é muito limitado; o dos Espíritos é infinito. Por que, pois, não os haveria também capazes entre os que não são conhecidos? Fazemos esta reflexão porque há pessoas que julgam nada poder obter de sublime, senão chamando celebridades. A experiência prova o contrário todos os dias, e nos mostra que podemos aprender alguma coisa com todos os Espíritos, se soubermos aproveitar as oportunidades.
(MÉDIUM, SRA. SCHMIDT)
Meus irmãos, amai os órfãos. Se soubésseis quanto é triste ser só e abandonado, sobretudo em tenra idade! Deus permite que haja órfãos para nos induzir a lhes servir de pais. Que divina caridade ajudar uma pobre criaturinha abandonada, evitar que sofra fome e frio, dirigir sua alma, para que não se perca no vicio! Quem estende a mão a uma criança abandonada é agradável a Deus, porque compreende e pratica a sua lei. Pensai ainda que, multas vezes, a criança que socorreis vos tenha sido querida em outra vida. E se vós a pudésseis lembrar, isto não seria caridade, mas dever. Assim, pois, meus amigos, todo ser sofredor é vosso irmão e tem direito à vossa caridade; não essa caridade que fere o coração, essa esmola que queima a mão onde cai, porque os vossos óbolos são, por vezes, muito amargos. Quantas vezes elas seriam recusadas, se nas águas-furtadas não as esperassem a doença e a fome! Dai delicadamente; juntai aos benefícios o mais precioso de todos: uma boa palavra, uma carícia, um sorriso amigo; evitai esse tom de piedade e de proteção, que revolve o ferro no coração que sangra, e pensai que, fazendo o bem, trabalhais por vós e pelos vossos.
Jules Morin
OBSERVAÇÃO: O Espírito que assim assina é completamente desconhecido. Podemos ver pela comunicação acima, e por muitas outras do mesmo gênero, que nem sempre é preciso um nome ilustre para obter belas coisas. É uma puerilidade prender-se ao nome. Deve-se aceitar o bem de qualquer parte que venha; aliás o número de nomes ilustres é muito limitado; o dos Espíritos é infinito. Por que, pois, não os haveria também capazes entre os que não são conhecidos? Fazemos esta reflexão porque há pessoas que julgam nada poder obter de sublime, senão chamando celebridades. A experiência prova o contrário todos os dias, e nos mostra que podemos aprender alguma coisa com todos os Espíritos, se soubermos aproveitar as oportunidades.
UM IRMÃO MORTO A SUA IRMÃ VIVA
(MÉDIUM, SRA. SCHMIDT)
Minha irmã, não me evoques muitas vezes. Isto não me impede de vir ver-te todos os dias. Conheço teus aborrecimentos: tua vida é penosa, eu o sei, mas é preciso sofrer a sorte nem sempre alegre. Contudo, há por vezes um alivio nas penas. Por exemplo, aquele que faz o bem à custa de sua própria felicidade, pode, por si mesmo ou pelos outros, desviar o rigor de mutas provas.
Neste mundo é raro ver-se fazer o bem com essa abnegação. Sem dúvida é difícil, mas não impossível; e os que têm essa sublime virtude são realmente os eleitos do Senhor. Se a gente se desse bem conta dessa pobre peregrinação na Terra, o compreenderia, mas assim não é: os homens se apegam à busca dos bens, como se devessem ficar sempre em seu exílio. Contudo, o bom senso comum, a mais simples lógica demonstram, diariamente, que aqui não passamos de aves de arribação e que os que têm menos penas nas asas são os que chegam mais depressa.
(MÉDIUM, SRA. SCHMIDT)
Minha irmã, não me evoques muitas vezes. Isto não me impede de vir ver-te todos os dias. Conheço teus aborrecimentos: tua vida é penosa, eu o sei, mas é preciso sofrer a sorte nem sempre alegre. Contudo, há por vezes um alivio nas penas. Por exemplo, aquele que faz o bem à custa de sua própria felicidade, pode, por si mesmo ou pelos outros, desviar o rigor de mutas provas.
Neste mundo é raro ver-se fazer o bem com essa abnegação. Sem dúvida é difícil, mas não impossível; e os que têm essa sublime virtude são realmente os eleitos do Senhor. Se a gente se desse bem conta dessa pobre peregrinação na Terra, o compreenderia, mas assim não é: os homens se apegam à busca dos bens, como se devessem ficar sempre em seu exílio. Contudo, o bom senso comum, a mais simples lógica demonstram, diariamente, que aqui não passamos de aves de arribação e que os que têm menos penas nas asas são os que chegam mais depressa.
Minha boa irmã, para que serve a esse rico todo esse luxo, todo esse supérfluo? Amanhã estará despojado de todos esses vãos ouropéis para descer ao túmulo, para onde nada levará! É verdade que fez uma linda viagem; nada lhe faltou, não sabia mais o que desejar e esgotou as delicias da vida. Também é certo que, em seu delírio, por vezes lançou, sorrindo, a esmola nas mãos de seu irmão. Por isso terá retirado algo da boca? Não: não se privou de um só prazer, de uma só fantasia. Contudo, esse irmão é também um filho de Deus, pai de todos, a que tudo pertence. Compreendes, minha irmã, que um bom pai não deserda um de seus filhos para enriquecer o outro? Eis por que recompensará o que foi privado de sua parte nesta vida.
Assim, pois, os que se julgam deserdados, abandonados e esquecidos, alcançarão em breve a margem bendita, onde reinam a justiça e a felicidade. Mas infelizes dos que fizeram mau uso dos bens que nosso Pai lhes confiou. Infeliz, também, o homem aquinhoado com o dom precioso da inteligência, se dela abusou! Acredita-me, Maria, quando se crê em Deus nada existe na Terra que se possa invejar, a não ser a graça de praticar suas leis.
Teu IRMÃO WILHELM
Assim, pois, os que se julgam deserdados, abandonados e esquecidos, alcançarão em breve a margem bendita, onde reinam a justiça e a felicidade. Mas infelizes dos que fizeram mau uso dos bens que nosso Pai lhes confiou. Infeliz, também, o homem aquinhoado com o dom precioso da inteligência, se dela abusou! Acredita-me, Maria, quando se crê em Deus nada existe na Terra que se possa invejar, a não ser a graça de praticar suas leis.
Teu IRMÃO WILHELM
O CRISTIANISMO
(MÉDIUM, SR. DIDIER FILHO)
O que é preciso observar no Espiritismo é a moral cristã.Desde séculos houve muitas religiões, muitos cismas e muitas pretensas verdades. E tudo quanto foi erguido fora do cristianismo caiu, porque o Espírito Santo não o animava. O Cristo resume o que a moral mais pura, a mais divina, ensina ao homem, no tocante aos seus deveres nesta vida e na outra. A Antigüidade, no que tem de mais sublime, é pobre ante essa moral tão rica e tão fértil. A auréola de Platão empalidece ante a do Cristo e a taça de Sócrates é muito pequena ante o imenso cálice do Filho do Homem. Es tu, ó Sesostris! déspotas do imóvel Egito, quem te pode medir, do alto de tuas pirâmides colossais, com o Cristo nascido numa manjedoura? Es tu, Solon? Es tu, Licurgo, cuja lei bárbara condenava as crianças mal formadas, que vos podeis comparar Àquele que disse face à face com o orgulho “Deixai vir a mim as criancinhas”? Sois vós, pontífices sagrados do piedoso Numa, cuja moral queria a morte viva das vestais culpadas, que vos podeis comparar àquele que disse à adúltera: “Levanta-te mulher, e não peques mais”? Não, não mais com esses mistérios tenebrosos que praticais, ó sacerdotes antigos, nem com esses mistérios cristãos que são a base desta religião sublime, que se chama Cristianismo. Ante elevos inclinais todos, legisladores e sacerdotes humanos; inclinai-vos, porque foi o próprio Deus quem falou pela boca desse ser privilegiado que se chama Cristo.
LAMENNAIS
(MÉDIUM, SR. DIDIER FILHO)
O que é preciso observar no Espiritismo é a moral cristã.Desde séculos houve muitas religiões, muitos cismas e muitas pretensas verdades. E tudo quanto foi erguido fora do cristianismo caiu, porque o Espírito Santo não o animava. O Cristo resume o que a moral mais pura, a mais divina, ensina ao homem, no tocante aos seus deveres nesta vida e na outra. A Antigüidade, no que tem de mais sublime, é pobre ante essa moral tão rica e tão fértil. A auréola de Platão empalidece ante a do Cristo e a taça de Sócrates é muito pequena ante o imenso cálice do Filho do Homem. Es tu, ó Sesostris! déspotas do imóvel Egito, quem te pode medir, do alto de tuas pirâmides colossais, com o Cristo nascido numa manjedoura? Es tu, Solon? Es tu, Licurgo, cuja lei bárbara condenava as crianças mal formadas, que vos podeis comparar Àquele que disse face à face com o orgulho “Deixai vir a mim as criancinhas”? Sois vós, pontífices sagrados do piedoso Numa, cuja moral queria a morte viva das vestais culpadas, que vos podeis comparar àquele que disse à adúltera: “Levanta-te mulher, e não peques mais”? Não, não mais com esses mistérios tenebrosos que praticais, ó sacerdotes antigos, nem com esses mistérios cristãos que são a base desta religião sublime, que se chama Cristianismo. Ante elevos inclinais todos, legisladores e sacerdotes humanos; inclinai-vos, porque foi o próprio Deus quem falou pela boca desse ser privilegiado que se chama Cristo.
LAMENNAIS
O TEMPO PERDIDO
(MÉDIUM, SRTA. HUET)
Se, por um instante, pudésseis refletir sobre a perda de tempo, mas refletir muito seriamente e calcular o imenso erro que cometeis, veríeis quanto esta hora, este minuto escoado inutilmente e que não podereis recuperar, poderia ser necessário ao vosso bem futuro. Nem todos os tesouros da Terra vo-lo poderiam devolver, E se o passastes mal, um dia sereis obrigado a repará-lo pela expiação, e, talvez, de maneira terrível! Que não daríeis então para recuperar esse tempo perdido! Votos inúteis; pesares supérfluos! Assim, pensai bem nisto, está no vosso interesse futuro e, mesmo, presente. Porque muitas vezes os pesares nos atingem mesmo na Terra. Quando Deus vos pedir contas da existência que vos deu, da missão que tínheis de cumprir, que lhe respondereis? Sereis como o enviado de um soberano que, longe de cumprir as ordens de seu superior, passasse o tempo a divertir-se e absolutamente não se ocupasse do negócio para o qual foi credenciado, Em que responsabilidade não incorreria à sua volta? Aqui sois enviados de Deus e tereis que prestar contas do tempo passado com os vossos irmãos. Eu vos recomendo esta meditação.
Massillon
(MÉDIUM, SRTA. HUET)
Se, por um instante, pudésseis refletir sobre a perda de tempo, mas refletir muito seriamente e calcular o imenso erro que cometeis, veríeis quanto esta hora, este minuto escoado inutilmente e que não podereis recuperar, poderia ser necessário ao vosso bem futuro. Nem todos os tesouros da Terra vo-lo poderiam devolver, E se o passastes mal, um dia sereis obrigado a repará-lo pela expiação, e, talvez, de maneira terrível! Que não daríeis então para recuperar esse tempo perdido! Votos inúteis; pesares supérfluos! Assim, pensai bem nisto, está no vosso interesse futuro e, mesmo, presente. Porque muitas vezes os pesares nos atingem mesmo na Terra. Quando Deus vos pedir contas da existência que vos deu, da missão que tínheis de cumprir, que lhe respondereis? Sereis como o enviado de um soberano que, longe de cumprir as ordens de seu superior, passasse o tempo a divertir-se e absolutamente não se ocupasse do negócio para o qual foi credenciado, Em que responsabilidade não incorreria à sua volta? Aqui sois enviados de Deus e tereis que prestar contas do tempo passado com os vossos irmãos. Eu vos recomendo esta meditação.
Massillon
OS SÁBIOS
(MÉDIUM, SRTA. HUET)
Desde que chamais um Espírito, Deus permite que eu venha. Vou dar-vos um bom conselho, principalmente a vós, Sr...
Ocupais-vos sempre dos sábios; é a vossa preocupação. Deixai-os de lado. Que têm eles com as crenças religiosas e, sobretudo, espíritas? Não repeliram em todos os tempos as verdades que se apresentaram? Não rejeitaram todas as invenções, tratando-as de quimeras? Os que anunciaram essas verdades não eram tratados como loucos e, assim, encarcerados; outros metidos nos calabouços da inquisição, outros lapidados ou queimados? Mais tarde a verdade não brilhava menos aos olhos dos sábios surpresos, que a tinham posto embaixo do alqueire. Dirigindo-vos incessantemente a eles, quereis, novo Galileu, sofrer a tortura moral, que é o ridículo, e ser forçado à retratação? Dirigiu-se o Cristo aos Acadêmicos de seu tempo? Não. Pregava a divina moral a todos em geral e ao povo em particular.
Para apóstolos ou propagadores de sua vinda, escolheu pescadores, criaturas de coração simples, muito ignorantes, que não conheciam as leis da Natureza e não sabiam se um milagre as podia contrariar, mas que acreditavam ingenuamente. “Ide, dizia Jesus, e contai o que vistes.”
Jamais fez um milagre que não fosse em favor dos que o pediam com fé e convicção. Recusou-os aos fariseus e aos saduceus, que vinham para o tentar, e chamou-os hipócritas. Dirigi-vos assim também a pessoas inteligentes, dispostas a crer.
Deixai os sábios e os incrédulos.
Aliás, o que é um sábio? Um homem mais instruído do que os outros, porque estudou mais, mas que perdeu o prestigio que tinha antigamente, auréola fatal, que por vezes lhe valia as honras da fogueira. Porque à medida que se desenvolvia a inteligência popular, o seu brilho diminuiu. Hoje, um homem de gênio não mais teme ser acusado de feitiçaria; não é mais o aliado de Satã.
A Humanidade esclarecida aprecia no seu justo valor aquele que trabalha muito e sabe muito; ela sabe colocar no pedestal que lhe convém o homem de gênio que produz belas obras. E sabendo em que consiste a ciência do sábio, não mais o atormenta; como sabe de onde emana o gênio criador, inclina-se perante ele. Mas, por sua vez, quer ter a liberdade de crer naquelas verdades que lhe dão consolação. Não quer que aquele que sabe mais ou menos Química, mais ou menos Retórica, que produz a mais bela ópera, venha entravar as suas crenças, lançando-lhe o ridículo no rosto e tratando suas idéias como loucura. Ela se esquivará desse caminho e silenciosamente continuará na sua trilha. Um dia a verdade envolverá o mundo inteiro, e os que a tinham repelido serão obrigados a reconhecê-la. Eu mesma, que me ocupei do Espiritismo até meu último dia, sempre o pratiquei na intimidade.
Pouco me importa a Academia. Acreditai-me: mais tarde ela virá até vós.
DELPHINE DE GIRARDIN
(MÉDIUM, SRTA. HUET)
Desde que chamais um Espírito, Deus permite que eu venha. Vou dar-vos um bom conselho, principalmente a vós, Sr...
Ocupais-vos sempre dos sábios; é a vossa preocupação. Deixai-os de lado. Que têm eles com as crenças religiosas e, sobretudo, espíritas? Não repeliram em todos os tempos as verdades que se apresentaram? Não rejeitaram todas as invenções, tratando-as de quimeras? Os que anunciaram essas verdades não eram tratados como loucos e, assim, encarcerados; outros metidos nos calabouços da inquisição, outros lapidados ou queimados? Mais tarde a verdade não brilhava menos aos olhos dos sábios surpresos, que a tinham posto embaixo do alqueire. Dirigindo-vos incessantemente a eles, quereis, novo Galileu, sofrer a tortura moral, que é o ridículo, e ser forçado à retratação? Dirigiu-se o Cristo aos Acadêmicos de seu tempo? Não. Pregava a divina moral a todos em geral e ao povo em particular.
Para apóstolos ou propagadores de sua vinda, escolheu pescadores, criaturas de coração simples, muito ignorantes, que não conheciam as leis da Natureza e não sabiam se um milagre as podia contrariar, mas que acreditavam ingenuamente. “Ide, dizia Jesus, e contai o que vistes.”
Jamais fez um milagre que não fosse em favor dos que o pediam com fé e convicção. Recusou-os aos fariseus e aos saduceus, que vinham para o tentar, e chamou-os hipócritas. Dirigi-vos assim também a pessoas inteligentes, dispostas a crer.
Deixai os sábios e os incrédulos.
Aliás, o que é um sábio? Um homem mais instruído do que os outros, porque estudou mais, mas que perdeu o prestigio que tinha antigamente, auréola fatal, que por vezes lhe valia as honras da fogueira. Porque à medida que se desenvolvia a inteligência popular, o seu brilho diminuiu. Hoje, um homem de gênio não mais teme ser acusado de feitiçaria; não é mais o aliado de Satã.
A Humanidade esclarecida aprecia no seu justo valor aquele que trabalha muito e sabe muito; ela sabe colocar no pedestal que lhe convém o homem de gênio que produz belas obras. E sabendo em que consiste a ciência do sábio, não mais o atormenta; como sabe de onde emana o gênio criador, inclina-se perante ele. Mas, por sua vez, quer ter a liberdade de crer naquelas verdades que lhe dão consolação. Não quer que aquele que sabe mais ou menos Química, mais ou menos Retórica, que produz a mais bela ópera, venha entravar as suas crenças, lançando-lhe o ridículo no rosto e tratando suas idéias como loucura. Ela se esquivará desse caminho e silenciosamente continuará na sua trilha. Um dia a verdade envolverá o mundo inteiro, e os que a tinham repelido serão obrigados a reconhecê-la. Eu mesma, que me ocupei do Espiritismo até meu último dia, sempre o pratiquei na intimidade.
Pouco me importa a Academia. Acreditai-me: mais tarde ela virá até vós.
DELPHINE DE GIRARDIN
O HOMEM
O homem é um composto de grandeza e de miséria, de ciência e de ignorância. É, na Terra, o verdadeiro representante de Deus, porque sua vasta inteligência abarca o Universo. Soube descobrir uma parte dos segredos da Natureza; sabe servir-se dos elementos; percorre distâncias imensas por meio do vapor; pode conversar com o seu semelhante de um antípoda ao outro, pela eletricidade, que sabe dirigir; seu gênio é imenso; quando sabe depor tudo isto aos pés da Divindade e lhe render homenagem, é quase igual a Deus!
Mas como é pequeno e miserável, quando o orgulho se apossa de seu ser! Não vê a sua miséria; não vê que sua existência, esta vida, que não pode compreender, lhe é arrebatada, às vezesinstantaneamente, apenas pela vontade dessa Divindade que eledesconhece, pois não pode defender-se contra ela; é preciso se cumpra a sua sorte! Ele, que tudo estudou, tudo analisou; ele, que conhece tão bem a marcha dos astros, conhece acaso a força criadora que faz germinar o grão de trigo que lançou à terra? Pode criar uma flor, por mais simples e mais modesta? Não. Ai pára o seu poder. Deveria, então reconhecer um poder muito superior ao seu. A humildade deveria apoderar-se de seu coração e, admirando as obras de Deus, praticaria então um ato de adoração.
SANTA TEREZA
O homem é um composto de grandeza e de miséria, de ciência e de ignorância. É, na Terra, o verdadeiro representante de Deus, porque sua vasta inteligência abarca o Universo. Soube descobrir uma parte dos segredos da Natureza; sabe servir-se dos elementos; percorre distâncias imensas por meio do vapor; pode conversar com o seu semelhante de um antípoda ao outro, pela eletricidade, que sabe dirigir; seu gênio é imenso; quando sabe depor tudo isto aos pés da Divindade e lhe render homenagem, é quase igual a Deus!
Mas como é pequeno e miserável, quando o orgulho se apossa de seu ser! Não vê a sua miséria; não vê que sua existência, esta vida, que não pode compreender, lhe é arrebatada, às vezesinstantaneamente, apenas pela vontade dessa Divindade que eledesconhece, pois não pode defender-se contra ela; é preciso se cumpra a sua sorte! Ele, que tudo estudou, tudo analisou; ele, que conhece tão bem a marcha dos astros, conhece acaso a força criadora que faz germinar o grão de trigo que lançou à terra? Pode criar uma flor, por mais simples e mais modesta? Não. Ai pára o seu poder. Deveria, então reconhecer um poder muito superior ao seu. A humildade deveria apoderar-se de seu coração e, admirando as obras de Deus, praticaria então um ato de adoração.
SANTA TEREZA
DA FIRMEZA NOS TRABALHOS ESPÍRITAS
Vou falar-vos da firmeza que deveis ter nos vossos trabalhos espíritas. A propósito vos foi feita uma advertência. Eu vos aconselho a estudá-la de coração, a aplicar-lhe a vossa atenção. Porque, assim como São Paulo, sereis perseguidos, não em carne e osso, mas em espírito. Os incrédulos, fariseus da época, vos censurarão, vos ridicularizarão. Mas nada temais: será uma prova que vos fortificará, se souberdes ofertá-la a Deus; e, mais tarde, vereis vossos esforços coroados de sucesso. Será um grande triunfo para vós à luz da eternidade, sem esquecer que, neste mundo, já é uma consolação, para as pessoas que perderam parentes e amigos, saber que são felizes, que é possível comunicar-se com eles; é uma felicidade. Marchai à frente, pois, cumpri a missão que Deus vos dá, e ela será considerada no dia em que comparecerdes ante o Todo-Poderoso.
CHANNING
Vou falar-vos da firmeza que deveis ter nos vossos trabalhos espíritas. A propósito vos foi feita uma advertência. Eu vos aconselho a estudá-la de coração, a aplicar-lhe a vossa atenção. Porque, assim como São Paulo, sereis perseguidos, não em carne e osso, mas em espírito. Os incrédulos, fariseus da época, vos censurarão, vos ridicularizarão. Mas nada temais: será uma prova que vos fortificará, se souberdes ofertá-la a Deus; e, mais tarde, vereis vossos esforços coroados de sucesso. Será um grande triunfo para vós à luz da eternidade, sem esquecer que, neste mundo, já é uma consolação, para as pessoas que perderam parentes e amigos, saber que são felizes, que é possível comunicar-se com eles; é uma felicidade. Marchai à frente, pois, cumpri a missão que Deus vos dá, e ela será considerada no dia em que comparecerdes ante o Todo-Poderoso.
CHANNING
OS INIMIGOS DO PROGRESSO
(MÉDIUM, SR. R...)
Os inimigos do progresso, da luz e da verdade trabalham na sombra; preparam uma cruzada contra as nossas manifestações; não vos preocupeis com isto. Sois sustentados poderosamente; deixai que se agitem na sua impotência. Contudo, por todos os meios que estão em vossa força, dedicai-vos a combater, a aniquilar a idéia da eternidade das penas, pensamento blasfemo contra a justiça e a bondade de Deus, fonte a mais fecunda da incredulidade, do materialismo e da indiferença que invadiram as massas, desde que sua inteligência começou a se desenvolver. Prestes a se esclarecer, mesmo quando apenas desbastado, bem depressa o Espírito apreendeu a monstruosa injustiça; sua razão a repele e, então, raramente deixa de confundir, no mesmo ostracismo, a pena que revolta e o Deus ao qual ela é atribuída.
Dai os males sem número que se precipitaram sabre vós, e para os quais trazemos o remédio. A tarefa que vos assinalamos vos será tanto mais fácil, quanto as autoridades sobre as quais se apóiam os defensores desta crença têm, todas, se furtado a um pronunciamento formal. Nem os Concílios, nem os Padres da Igreja fecharam essa grave questão. Se, conforme os próprios Evangelhos, e tomando ao pé da letra as palavras emblemáticas do Cristo, ele ameaçou os culpados com um fogo que não se extingue, um fogo eterno, absolutamente nada, em suas palavras, prova que haja condenado os culpados eternamente.
Pobres ovelhas desgarradas, sabei ver o Bom Pastor que vem de longe e que em vez de querer, para sempre, vos banir a todos de sua presença, ele mesmo vem ao vosso encontro para vos reconduzir ao aprisco. Filhos pródigos, deixai o vosso exílio voluntário; dirigi vossos passos para a morada paterna. O pai vos abre os braços e está sempre pronto a festejar o vosso retorno à família.
LAMENNAIS
(MÉDIUM, SR. R...)
Os inimigos do progresso, da luz e da verdade trabalham na sombra; preparam uma cruzada contra as nossas manifestações; não vos preocupeis com isto. Sois sustentados poderosamente; deixai que se agitem na sua impotência. Contudo, por todos os meios que estão em vossa força, dedicai-vos a combater, a aniquilar a idéia da eternidade das penas, pensamento blasfemo contra a justiça e a bondade de Deus, fonte a mais fecunda da incredulidade, do materialismo e da indiferença que invadiram as massas, desde que sua inteligência começou a se desenvolver. Prestes a se esclarecer, mesmo quando apenas desbastado, bem depressa o Espírito apreendeu a monstruosa injustiça; sua razão a repele e, então, raramente deixa de confundir, no mesmo ostracismo, a pena que revolta e o Deus ao qual ela é atribuída.
Dai os males sem número que se precipitaram sabre vós, e para os quais trazemos o remédio. A tarefa que vos assinalamos vos será tanto mais fácil, quanto as autoridades sobre as quais se apóiam os defensores desta crença têm, todas, se furtado a um pronunciamento formal. Nem os Concílios, nem os Padres da Igreja fecharam essa grave questão. Se, conforme os próprios Evangelhos, e tomando ao pé da letra as palavras emblemáticas do Cristo, ele ameaçou os culpados com um fogo que não se extingue, um fogo eterno, absolutamente nada, em suas palavras, prova que haja condenado os culpados eternamente.
Pobres ovelhas desgarradas, sabei ver o Bom Pastor que vem de longe e que em vez de querer, para sempre, vos banir a todos de sua presença, ele mesmo vem ao vosso encontro para vos reconduzir ao aprisco. Filhos pródigos, deixai o vosso exílio voluntário; dirigi vossos passos para a morada paterna. O pai vos abre os braços e está sempre pronto a festejar o vosso retorno à família.
LAMENNAIS
DISTINÇÃO DA NATUREZA DOS ESPÍRITOS
(MÉDIUM, SRA. COSTEL)
Quero falar-te das altas verdades do Espiritismo. Elas estão estreitamente ligadas às da moral, sendo, pois, importante jamais separá-las. Para começar, o ponto que atrai a atenção dos seres inteligentes é a dúvida sobre a própria verdade das comunicações espíritas. A verdade, primeira dignidade da alma, está empenhada neste ponto de partida. Procuremos, então, estabelecê-la.
Não há um meio infalível para distinguir a natureza dos Espíritos, se abdicarmos da razão, da comparação, da reflexão. Estas três faculdades são mais que suficientes para distinguir seguramente os diversos Espíritos, O livre arbítrio é o eixo sobre o qual gira o pivô da inteligência humana; o equilíbrio se romperia, se os Espíritos não tivessem senão que falar para submeter os homens. Então o seu poder igualaria o de Deus. Não pode ser assim. O intercâmbio entre os humanos e os invisíveis parece a escada de Jacob: se permite que uns subam, deixa que outros desçam. E todos agindo uns sobre os outros, sob os olhos de Deus, devem marchar para ele, no mesmo espírito de amor e de inteligente submissão. Apenas abordei superficialmente este assunto e vos aconselho a aprofundá-lo sob todos os seus aspectos.
Lázaro
(MÉDIUM, SRA. COSTEL)
Quero falar-te das altas verdades do Espiritismo. Elas estão estreitamente ligadas às da moral, sendo, pois, importante jamais separá-las. Para começar, o ponto que atrai a atenção dos seres inteligentes é a dúvida sobre a própria verdade das comunicações espíritas. A verdade, primeira dignidade da alma, está empenhada neste ponto de partida. Procuremos, então, estabelecê-la.
Não há um meio infalível para distinguir a natureza dos Espíritos, se abdicarmos da razão, da comparação, da reflexão. Estas três faculdades são mais que suficientes para distinguir seguramente os diversos Espíritos, O livre arbítrio é o eixo sobre o qual gira o pivô da inteligência humana; o equilíbrio se romperia, se os Espíritos não tivessem senão que falar para submeter os homens. Então o seu poder igualaria o de Deus. Não pode ser assim. O intercâmbio entre os humanos e os invisíveis parece a escada de Jacob: se permite que uns subam, deixa que outros desçam. E todos agindo uns sobre os outros, sob os olhos de Deus, devem marchar para ele, no mesmo espírito de amor e de inteligente submissão. Apenas abordei superficialmente este assunto e vos aconselho a aprofundá-lo sob todos os seus aspectos.
Lázaro
Scarron
(MÉDIUM, SRTA. HUET)
Meus amigos, fui muito Infeliz na Terra, porque meu Espíritoera igual e por vezes superior ao das pessoas que me cercavam; mas o corpo era inferior. Assim, meu coração era ulcerado pelos sofrimentos morais e pelos males físicos que haviam reduzido o meu envoltório terreno a um estado lastimoso e miserável.
Meu caráter se azedara com as moléstias e as contrariedades que experimentava nas relações com os amigos. Deixei-me arrastar à malignidade mais causticante; eu era alegre e aparentemente sem mágoas; contudo, sofria no mais fundo do coração. E quando estava só, entregue aos secretos pensamentos de minh’alma, gemia por encontrar-me em luta entre o bem e o mal. O mais belo dia de minha existência foi aquele em que meu Espírito separou-se do corpo; em que, leve e iluminado por um ralo divino, lançou-se às esferas celestes. Parecia que eu renascera e a felicidade apoderou-se de meu ser. Enfim, eu repousava.
Mais tarde, a consciência despertou. Reconheci os erros contra o Criador; experimentei o remorso e implorei piedade ao Todo-Poderoso. Desde então, procuro instruir-me no bem; procuro tornar-me útil aos homens e progrido diariamente. Contudo, sinto necessidade de que orem por mim e peço aos crentes fervorosos que em meti favor elevem o pensamento a Deus. Se me evocam, procuro atender sempre e responder às perguntas tanto quanto o posso. Assim se pratica a caridade.
PAUL SCARRON
O NADA DA VIDA
(MÉDIUM, SRTA. HUET)
Meus bons amigos de adoção. permiti vos diga algumas palavras, como conselhos. Deus me permite vir até vós. Que pena não possa eu comunicar-vos todo o ardor que havia em meu coração e que me animava para o bem! Crede em Deus, autor de todas as coisas; amai-o; sede bons e caridosos. A caridade é a chave do céu. Para vos tomardes bons, pensai algumas vezes na morte; é um pensamento que eleva a alma e a deixa melhor, tornando-a humilde. Porque, o que somos na Terra? Um átomo atirado no espaço; muito pouca coisa no Universo. O homem nada é; faz número. Quando olha à sua frente, quando olha para trás, só vê o infinito; sua vida, por mais longa que seja, é um ponto na eternidade. Pensai, então, em vossa alma, pensai na vida nova que vos espera, pois não podeis duvidar que ela existe, quando mais não fosse, pelos desejos de vossa alma, jamais satisfeitos, o que é uma prova de que eles devem referir-se a um mundo melhor. Até logo.
S.SWETCHINE
(MÉDIUM, SRTA. HUET)
Meus bons amigos de adoção. permiti vos diga algumas palavras, como conselhos. Deus me permite vir até vós. Que pena não possa eu comunicar-vos todo o ardor que havia em meu coração e que me animava para o bem! Crede em Deus, autor de todas as coisas; amai-o; sede bons e caridosos. A caridade é a chave do céu. Para vos tomardes bons, pensai algumas vezes na morte; é um pensamento que eleva a alma e a deixa melhor, tornando-a humilde. Porque, o que somos na Terra? Um átomo atirado no espaço; muito pouca coisa no Universo. O homem nada é; faz número. Quando olha à sua frente, quando olha para trás, só vê o infinito; sua vida, por mais longa que seja, é um ponto na eternidade. Pensai, então, em vossa alma, pensai na vida nova que vos espera, pois não podeis duvidar que ela existe, quando mais não fosse, pelos desejos de vossa alma, jamais satisfeitos, o que é uma prova de que eles devem referir-se a um mundo melhor. Até logo.
S.SWETCHINE
AOS MÉDIUNS
(MÉDIUM, SR. DARCOL)
Quando quiserdes receber comunicações de bons Espíritos, importa que vos prepareis para esse favor pelo recolhimento, pelas intenções sãs e pelo desejo de fazer o bem, visando ao progresso geral. Porque, lembrai-vos, o egoísmo é uma causa de retardamento em todo avanço. Lembrai-vos de que se Deus permite que alguns dentre vós recebam o sopro de alguns de seus filhos que, pela sua conduta, souberam merecer a felicidade de compreender sua bondade infinita, é que quer, por solicitação nossa, e à vista de vossas boas intenções, vos dar os meios de avançar no seu caminho. Assim, pois, ó médiuns! tirai proveito dessa faculdade que Deus vos quer conceder. Tende fé na mansuetude do nosso Mestre; tende a caridade sempre em prática; jamais vos canseis de exercer esta sublime virtude, bem como a tolerância. Que as vossas ações estejam sempre em harmonia com a vossa consciência. É um meio certo de centuplicar vossa felicidade nesta vida passageira e de vos preparardes uma existência ainda mil vezes mais suave.
Abstenha-se o médium que, entre vós, não se sentir com forças de perseverar no ensino espírita. Porque, aproveitando a luz que o esclarece, será menos escusável do que só tendo de expiar a própria cegueira.
FRANCISCO DE SALLES
(MÉDIUM, SR. DARCOL)
Quando quiserdes receber comunicações de bons Espíritos, importa que vos prepareis para esse favor pelo recolhimento, pelas intenções sãs e pelo desejo de fazer o bem, visando ao progresso geral. Porque, lembrai-vos, o egoísmo é uma causa de retardamento em todo avanço. Lembrai-vos de que se Deus permite que alguns dentre vós recebam o sopro de alguns de seus filhos que, pela sua conduta, souberam merecer a felicidade de compreender sua bondade infinita, é que quer, por solicitação nossa, e à vista de vossas boas intenções, vos dar os meios de avançar no seu caminho. Assim, pois, ó médiuns! tirai proveito dessa faculdade que Deus vos quer conceder. Tende fé na mansuetude do nosso Mestre; tende a caridade sempre em prática; jamais vos canseis de exercer esta sublime virtude, bem como a tolerância. Que as vossas ações estejam sempre em harmonia com a vossa consciência. É um meio certo de centuplicar vossa felicidade nesta vida passageira e de vos preparardes uma existência ainda mil vezes mais suave.
Abstenha-se o médium que, entre vós, não se sentir com forças de perseverar no ensino espírita. Porque, aproveitando a luz que o esclarece, será menos escusável do que só tendo de expiar a própria cegueira.
FRANCISCO DE SALLES
A HONESTIDADE RELATIVA
(MÉDIUM, SRA. COSTEL)
Hoje nos ocuparemos da moralidade dos que não a têm, isto é, da honestidade relativa, que se acha nos mais pervertidos corações. O ladrão não rouba o lenço do seu camarada, mesmo quando este tenha dois; o negociante não é careiro para o amigo; o traidor, apesar de tudo é fiel a alguém. Jamais um clarão divino está completamente ausente do coração humano; assim, deve ser conservado com cuidados infinitos, senão desenvolvido. O julgamento estreito e brutal dos homens impede, por sua severidade, muito mais as recuperações do que a prática das más ações. Desenvolvido, o Espiritismo deve ser e será a consolação e a esperança dos corações feridos pela justiça humana. Cheia de sublimes ensinamentos, a religião palra muito alto para os ignorantes. Ela não atinge, como devia, a espessa imaginação do iletrado, que quer ver para crer. Esclarecida pelos médiuns, a crença florescerá no coração ressequido talvez do próprio médium. Assim, é sobretudo ao povo que os verdadeiros espíritas devem dirigir-se, como outrora os apóstolos. Que espalhem a doutrina consoladora; como pioneiros, que se enterrem no pântano da ignorância e do vicio, para desbastar, sanear, preparar o terreno das almas, a fim de que elas possam receber a bela cultura do Cristo.
Georges
(MÉDIUM, SRA. COSTEL)
Hoje nos ocuparemos da moralidade dos que não a têm, isto é, da honestidade relativa, que se acha nos mais pervertidos corações. O ladrão não rouba o lenço do seu camarada, mesmo quando este tenha dois; o negociante não é careiro para o amigo; o traidor, apesar de tudo é fiel a alguém. Jamais um clarão divino está completamente ausente do coração humano; assim, deve ser conservado com cuidados infinitos, senão desenvolvido. O julgamento estreito e brutal dos homens impede, por sua severidade, muito mais as recuperações do que a prática das más ações. Desenvolvido, o Espiritismo deve ser e será a consolação e a esperança dos corações feridos pela justiça humana. Cheia de sublimes ensinamentos, a religião palra muito alto para os ignorantes. Ela não atinge, como devia, a espessa imaginação do iletrado, que quer ver para crer. Esclarecida pelos médiuns, a crença florescerá no coração ressequido talvez do próprio médium. Assim, é sobretudo ao povo que os verdadeiros espíritas devem dirigir-se, como outrora os apóstolos. Que espalhem a doutrina consoladora; como pioneiros, que se enterrem no pântano da ignorância e do vicio, para desbastar, sanear, preparar o terreno das almas, a fim de que elas possam receber a bela cultura do Cristo.
Georges
PROVEITO DOS CONSELHOS
(MÉDIUM, SRTA. HUET)
Aproveitais os nossos conselhos e o que vos dizemos diária-mente? Não; muito pouco. Saindo de uma de vossas reuniões, entreteis a curiosidade do fato, discutis o maior ou menor interesseque teve para os assistentes. Mas haverá um só entre vós que se pergunte se pode aplicar a moral, o conselho que acabamos de prescrever, e se tem intenção de o fazer? Pediu, solicitou uma comunicação; obteve-a; isto lhe basta. Volta às suas ocupações diárias, prometendo vir rever um espetáculo tifo interessante; conta os fatos aos seus amigos, a fim de excitar sua curiosidade e somente para provar que os sábios podem ser confundidos; bem poucos o fazem visando a pregar a moral; muitopoucos, mesmo, procuram melhorar-se.
Minha lição é severa. Contudo, não vos quero desencorajar. Trazei sempre a boa vontade, apenas com um pouco mais de bons sentimentos referentes a Deus, e menos desejo de aniquilar os que não querem crer: estes pertencem ao tempo e a Deus.
Marie (Espírito Familiar)
(MÉDIUM, SRTA. HUET)
Aproveitais os nossos conselhos e o que vos dizemos diária-mente? Não; muito pouco. Saindo de uma de vossas reuniões, entreteis a curiosidade do fato, discutis o maior ou menor interesseque teve para os assistentes. Mas haverá um só entre vós que se pergunte se pode aplicar a moral, o conselho que acabamos de prescrever, e se tem intenção de o fazer? Pediu, solicitou uma comunicação; obteve-a; isto lhe basta. Volta às suas ocupações diárias, prometendo vir rever um espetáculo tifo interessante; conta os fatos aos seus amigos, a fim de excitar sua curiosidade e somente para provar que os sábios podem ser confundidos; bem poucos o fazem visando a pregar a moral; muitopoucos, mesmo, procuram melhorar-se.
Minha lição é severa. Contudo, não vos quero desencorajar. Trazei sempre a boa vontade, apenas com um pouco mais de bons sentimentos referentes a Deus, e menos desejo de aniquilar os que não querem crer: estes pertencem ao tempo e a Deus.
Marie (Espírito Familiar)
PENSAMENTOS SOLTOS
Ó homens! como sois soberbamente orgulhosos! Vossa pretensão é verdadeiramente cômica. Quereis tudo saber e vossa essência se opõe, sabei-o, a esta faculdade de compreensão universal. Não chegareis a conhecer esta maravilhosa Natureza senão pelo trabalho perseverante. Não tereis a alegria de aprofundar esses tesouros e de entrever o infinito de Deus, senão ao vos melhorardes pela caridade, fazendo todas as coisas do ponto de vista do bem para todos, e referindo esta faculdade do bem a Deus, que, na sua generosidade sem igual, vos recompensará além de toda expectativa.
Massilon
O homem é o joguete dos acontecimentos, como, por vezes, se diz. De que acontecimentos se quer falar? Qual seria a sua causa e o seu objetivo? Jamais se viu nisso o dedo de Deus. Esse pensamento vago e materialista, mãe da fatalidade, desgarrou muitos grandes Espíritos e várias inteligências profundas. Sabeis o que disse Balzac: “Não há princípios; só há acontecimentos.” Isto é, segundo ele, o homem não tem livre arbítrio; a fatalidade o toma no berço e o conduz até o túmulo. Monstruosa invenção do Espírito humano! Tal pensamento abate a liberdade; a liberdade, isto é, o progresso, a ascensão da alma humana, demonstração evidente da existência de Deus. Assim o homem se deixaria conduzir e seria escravo de tudo: dos homens e de si mesmo! Ó homem! examina-te. Nasceste para a servidão? Não. Nasceste para a liberdade.
LAMENNAIS
Ó homens! como sois soberbamente orgulhosos! Vossa pretensão é verdadeiramente cômica. Quereis tudo saber e vossa essência se opõe, sabei-o, a esta faculdade de compreensão universal. Não chegareis a conhecer esta maravilhosa Natureza senão pelo trabalho perseverante. Não tereis a alegria de aprofundar esses tesouros e de entrever o infinito de Deus, senão ao vos melhorardes pela caridade, fazendo todas as coisas do ponto de vista do bem para todos, e referindo esta faculdade do bem a Deus, que, na sua generosidade sem igual, vos recompensará além de toda expectativa.
Massilon
O homem é o joguete dos acontecimentos, como, por vezes, se diz. De que acontecimentos se quer falar? Qual seria a sua causa e o seu objetivo? Jamais se viu nisso o dedo de Deus. Esse pensamento vago e materialista, mãe da fatalidade, desgarrou muitos grandes Espíritos e várias inteligências profundas. Sabeis o que disse Balzac: “Não há princípios; só há acontecimentos.” Isto é, segundo ele, o homem não tem livre arbítrio; a fatalidade o toma no berço e o conduz até o túmulo. Monstruosa invenção do Espírito humano! Tal pensamento abate a liberdade; a liberdade, isto é, o progresso, a ascensão da alma humana, demonstração evidente da existência de Deus. Assim o homem se deixaria conduzir e seria escravo de tudo: dos homens e de si mesmo! Ó homem! examina-te. Nasceste para a servidão? Não. Nasceste para a liberdade.
LAMENNAIS
Maria D'Agreda - Fenômeno de bicorporeidade
Num resumo histórico que acaba de ser publicado, sobre a vida de Maria de Jesus d’Agreda, encontramos um admirável caso de bicorporeidade, que prova como tais fenômenos são perfeitamente aceitos pela religião. É verdade que para certas pessoas as crenças religiosas não são mais autoridade que as crenças espíritas, mas quando essas crenças se apoiarem nas demonstrações dadas pelo Espiritismo e nas provas patentes de sua possibilidade que ele fornece, através de uma teoria racional, sem derrogar as leis da Natureza, e de sua realidade, por exemplos análogos e autênticos, há que render-se à evidência e reconhecer que fora das leis conhecidas há outras que ainda estão nos segredos de Deus.
Maria de Jesus nasceu em Agreda, cidade da Castela, a 2 de abril de 1602, de pais nobres e de virtude exemplar. Ainda muito jovem, tornou-se superiora do convento da Imaculada Conceição de Maria, onde morreu em odor de santidade. Eis o relato que se acha em sua biografia:
“Por maior que seja o nosso desejo de resumir, não podemos deixar de falar aqui do papel inteiramente excepcional de missionária e de apóstolo que Maria d’Agreda exerceu no Novo México. O fato que vamos contar e do qual há provas incontestáveis, provaria por si só quanto eram elevados os dons sobrenaturais com que Deus havia enriquecido a sua humilde serva, e como era ardente o zelo que ela nutria no coração pela salvação do próximo. Nas suas relações íntimas e extraordinárias com Deus, ela recebia uma viva luz, com a ajuda da qual descobria o mundo inteiro, a multidão dos homens que o habitavam, entre os quais os que ainda não haviam entrado no círculo da Igreja e estavam em evidente perigo de perder-se por toda a eternidade. À vista da perda de tantas almas, Maria d’Agreda sentia o coração trespassado e, na sua dor, multiplicava as preces fervorosas. Deus a fez saber que os povos do Novo México apresentavam menos obstáculos que o resto dos homens para a sua conversão e que era especialmente sobre estes que a sua divina misericórdia queria espalhar-se. Tal conhecimento foi um novo aguilhão para o coração caridoso de Maria d’Agreda, e, do mais profundo de sua alma, implorou a clemência divina em favor desse pobre povo. O próprio Deus lhe ordenou que orasse e trabalhasse para tal fim. E ela o fez de maneira tão eficaz que o Senhor, cujas razões são impenetráveis, operou nela e por ela uma das maiores maravilhas que a História pode relatar.
“Um dia, tendo-a o Senhor arrebatado em êxtase, no momento em que orava instantemente pela salvação daquelas almas, Maria d’Agreda sentiu-se de repente transportada para uma região longínqua e desconhecida, sem saber como. Então encontrou-se num clima que não era o de Castela e se sentiu sob os raios de um sol mais ardente que de costume. Ante ela estavam homens de uma raça que jamais tinha encontrado, e Deus lhe ordenava que satisfizesse seus caridosos desejos e pregasse a lei e a fé santa àquele povo. A extática de Agreda obedecia à ordem. Pregava a esses índios em sua língua espanhola e esses pagãos entendiam como se ela lhes falasse em sua língua materna. Seguiam-se conversões em grande número. Voltando do êxtase, esta santa criatura se achava no mesmo lugar em que estava no começo do arrebatamento. Não foi uma só vez que Maria de Jesus desempenhou esse maravilhoso papel de missionária e de apóstolo junto aos habitantes do Novo México. O primeiro êxtase do gênero ocorreu em 1622, mas foi seguido de mais de quinhentos êxtases do mesmo gênero, durante cerca de oito anos. Maria d’Agreda encontrava-se continuamente nessa mesma região para continuar o seu apostolado. Parecia-lhe que o número dos conversos tinha aumentado prodigiosamente e que uma nação inteira, com o rei à frente, estava resolvida a abraçar a fé em Jesus Cristo.
“Ao mesmo tempo ela via, mas a grande distância, os franciscanos espanhóis que trabalhavam na conversão desse novo mundo, mas ignoravam a existência desse povo que ela havia convertido. Tal consideração a levou a aconselhar aos índios que mandassem alguns dentre eles àqueles missionários, para pedir que viessem lhes conceder o batismo. Foi por este meio que a Divina Providência quis dar uma brilhante manifestação do bem que Maria d’Agreda havia feito no Novo México, por sua pregação extática.
“Um dia, os missionários franciscanos que Maria d’Agreda tinha visto em Espírito, mas a uma grande distância, se viram abordados por um bando de índios de uma raça que ainda não tinham encontrado em suas excursões. Eles se anunciavam como enviados de sua nação, pedindo a graça do batismo com grande instância. Surpreendidos com a vista desses índios, e mais admirados ainda pelo pedido que faziam, os missionários procuraram saber a sua causa. Os mensageiros responderam que desde muito tempo uma mulher havia aparecido em sua terra, anunciando a lei de Jesus Cristo. Acrescentaram que essa mulher desaparecia de um momento para o outro, sem que se descobrisse o seu paradeiro; que lhes tinha feito conhecer o verdadeiro Deus e lhes havia aconselhado a irem aos missionários, a fim de obterem para toda a nação a graça do sacramento que resgata os pecados e transforma os homens em filhos de Deus. A surpresa dos missionários cresceu ainda mais quando, interrogando os índios sobre os mistérios da fé, encontraram-nos perfeitamente instruídos de tudo o que é necessário para a salvação. Os missionários tomaram todas as informações possíveis sobre essa mulher, mas tudo quanto os índios puderam dizer foi que jamais tinham visto uma pessoa semelhante. Entretanto, alguns detalhes descritivos da roupa levaram os missionários a suspeitar que ela portasse hábitos de religiosa. Um deles, que tinha consigo o retrato da venerável madre Luíza de Carrion, ainda viva, e cuja santidade era conhecida em toda a Espanha, o mostrou aos índios, pensando que eles talvez pudessem reconhecer alguns traços da mulher-apóstolo. Estes, depois de examinarem o retrato, responderam que a mulher que lhes havia pregado a lei de Jesus Cristo na verdade tinha um véu, como esta do retrato, mas que, pelos traços do rosto, era completamente diferente, sendo mais moça e de uma grande beleza.
“Então alguns missionários partiram com os emissários índios, para recolher entre eles tão abundante colheita. Após alguns dias de viagem, chegaram ao meio da tribo, onde foram recebidos com as mais vivas demonstrações de alegria e reconhecimento. Na viagem constataram que em todos os indivíduos daquela raça a instrução cristã era completa.
“O chefe da nação, objeto de especial solicitude da serva de Deus, quis ser o primeiro a receber a graça do batismo com toda a sua família, e em poucos dias a nação inteira seguiu o seu exemplo.
“Não obstante esses grandes acontecimentos, ignorava-se ainda quem era a serva do Senhor que tinha evangelizado esses povos, e tinha-se uma santa curiosidade e piedosa impaciência por conhecê-la. Sobretudo o Padre Alonzo de Benavides, que era o superior dos missionários franciscanos no Novo México, queria romper o véu do mistério que ainda cobria o nome da mulher-apóstolo e aspirava voltar momentaneamente à Espanha para descobrir o retiro dessa religiosa desconhecida, que prodigiosamente havia cooperado para a salvação de tantas almas. Em 1630 pôde, enfim, seguir para a Espanha, e foi diretamente a Madrid, onde se achava então o Geral de sua ordem. Benavides lhe deu a conhecer o objetivo a que se havia proposto ao decidir sua viagem à Europa. O Geral conhecia Maria de Jesus d’Agreda e, conforme o dever de seu cargo, tivera de examinar a fundo o íntimo dessa religiosa. Conhecia, pois, a sua santidade, tão bem quanto a sublimidade dos caminhos em que Deus a havia posto. Veio-lhe logo o pensamento de que essa mulher privilegiada bem podia ser a mulher-apóstolo de que lhe falava o Padre Benavides, e lhe comunicou suas impressões. Deu-lhe cartas, pelas quais o constituía seu comissário, com ordem a Maria d’Agreda para responder com toda simplicidade às perguntas que julgasse conveniente lhe dirigir. Com tais ordens, o comissário partiu para Agreda.
“A humilde irmã se viu, assim, obrigada a revelar ao missionário tudo quanto sabia com referência ao objeto de sua missão junto a ela. Confusa e ao mesmo tempo dócil, ela relatou a Benavides tudo quanto lhe tinha acontecido em seus êxtases, acrescentando, com franqueza, que estava completamente incerta quanto ao modo pelo qual sua ação tinha podido exercer-se a tão grande distância. Benavides também interrogou-a sobre as particularidades dos lugares que tantas vezes deveria ter visitado e verificou que ela estava bem informada sobre tudo o que se relacionava com o Novo México e os seus habitantes. Ela lhe expôs, nos mínimos detalhes, a topografia dessas regiões e as mencionou servindo-se mesmo dos nomes próprios, como teria feito um viajante depois de vários anos passados nessas regiões. Acrescentou mesmo que tinha visto Benavides várias vezes, bem como seus religiosos, indicando os lugares, os dias, as horas, as circunstâncias, e fornecendo detalhes especiais sobre cada um dos missionários.
“Compreende-se facilmente o alívio de Benavides por ter enfim descoberto a alma privilegiada de que Deus se havia servido para exercer sua ação miraculosa sobre os habitantes do Novo México.
“Antes de deixar a cidade de Agreda, Benavides quis redigir um relato de tudo quanto havia constatado, quer na América, quer em Agreda, nas suas conversas com a serva de Deus. Nessa peça exprimiu sua convicção pessoal tocante à maneira por que a ação de Maria de Jesus se tinha feito sentir nos índios. Ele inclinava-se a crer que a ação tinha sido corporal. Sobre o assunto, a humilde religiosa sempre guardou uma grande reserva. A despeito de mil indícios que levavam Benavides a concluir pelo que já havia concluído, antes dele, o confessor da serva de Deus, indícios que pareciam acusar uma mudança corporal de lugar, Maria d’Agreda sempre persistiu na crença de que tudo se passava em Espírito. Na sua humildade, ela era mesmo fortemente tentada a pensar que o fenômeno fosse simples alucinação, posto que, de sua parte, inocente e involuntária. Mas o seu diretor, que conhecia os fundamentos das coisas, pensava que a religiosa fosse transportada corporalmente, em seus êxtases, aos lugares de seus trabalhos evangélicos. Ele apoiava sua opinião na impressão física que a mudança de clima provocara em Maria d’Agreda na longa série de trabalhos entre os índios, e na opinião de várias pessoas doutas que ele entendera dever consultar em grande segredo. Seja como for, o fato permanece sempre como um dos mais maravilhosos de que já se falou nos anais dos santos e é muito próprio para dar uma ideia verdadeira, não só das comunicações divinas que Maria d’Agreda recebia, mas também de sua candura e de sua amável sinceridade.”
Maria de Jesus nasceu em Agreda, cidade da Castela, a 2 de abril de 1602, de pais nobres e de virtude exemplar. Ainda muito jovem, tornou-se superiora do convento da Imaculada Conceição de Maria, onde morreu em odor de santidade. Eis o relato que se acha em sua biografia:
“Por maior que seja o nosso desejo de resumir, não podemos deixar de falar aqui do papel inteiramente excepcional de missionária e de apóstolo que Maria d’Agreda exerceu no Novo México. O fato que vamos contar e do qual há provas incontestáveis, provaria por si só quanto eram elevados os dons sobrenaturais com que Deus havia enriquecido a sua humilde serva, e como era ardente o zelo que ela nutria no coração pela salvação do próximo. Nas suas relações íntimas e extraordinárias com Deus, ela recebia uma viva luz, com a ajuda da qual descobria o mundo inteiro, a multidão dos homens que o habitavam, entre os quais os que ainda não haviam entrado no círculo da Igreja e estavam em evidente perigo de perder-se por toda a eternidade. À vista da perda de tantas almas, Maria d’Agreda sentia o coração trespassado e, na sua dor, multiplicava as preces fervorosas. Deus a fez saber que os povos do Novo México apresentavam menos obstáculos que o resto dos homens para a sua conversão e que era especialmente sobre estes que a sua divina misericórdia queria espalhar-se. Tal conhecimento foi um novo aguilhão para o coração caridoso de Maria d’Agreda, e, do mais profundo de sua alma, implorou a clemência divina em favor desse pobre povo. O próprio Deus lhe ordenou que orasse e trabalhasse para tal fim. E ela o fez de maneira tão eficaz que o Senhor, cujas razões são impenetráveis, operou nela e por ela uma das maiores maravilhas que a História pode relatar.
“Um dia, tendo-a o Senhor arrebatado em êxtase, no momento em que orava instantemente pela salvação daquelas almas, Maria d’Agreda sentiu-se de repente transportada para uma região longínqua e desconhecida, sem saber como. Então encontrou-se num clima que não era o de Castela e se sentiu sob os raios de um sol mais ardente que de costume. Ante ela estavam homens de uma raça que jamais tinha encontrado, e Deus lhe ordenava que satisfizesse seus caridosos desejos e pregasse a lei e a fé santa àquele povo. A extática de Agreda obedecia à ordem. Pregava a esses índios em sua língua espanhola e esses pagãos entendiam como se ela lhes falasse em sua língua materna. Seguiam-se conversões em grande número. Voltando do êxtase, esta santa criatura se achava no mesmo lugar em que estava no começo do arrebatamento. Não foi uma só vez que Maria de Jesus desempenhou esse maravilhoso papel de missionária e de apóstolo junto aos habitantes do Novo México. O primeiro êxtase do gênero ocorreu em 1622, mas foi seguido de mais de quinhentos êxtases do mesmo gênero, durante cerca de oito anos. Maria d’Agreda encontrava-se continuamente nessa mesma região para continuar o seu apostolado. Parecia-lhe que o número dos conversos tinha aumentado prodigiosamente e que uma nação inteira, com o rei à frente, estava resolvida a abraçar a fé em Jesus Cristo.
“Ao mesmo tempo ela via, mas a grande distância, os franciscanos espanhóis que trabalhavam na conversão desse novo mundo, mas ignoravam a existência desse povo que ela havia convertido. Tal consideração a levou a aconselhar aos índios que mandassem alguns dentre eles àqueles missionários, para pedir que viessem lhes conceder o batismo. Foi por este meio que a Divina Providência quis dar uma brilhante manifestação do bem que Maria d’Agreda havia feito no Novo México, por sua pregação extática.
“Um dia, os missionários franciscanos que Maria d’Agreda tinha visto em Espírito, mas a uma grande distância, se viram abordados por um bando de índios de uma raça que ainda não tinham encontrado em suas excursões. Eles se anunciavam como enviados de sua nação, pedindo a graça do batismo com grande instância. Surpreendidos com a vista desses índios, e mais admirados ainda pelo pedido que faziam, os missionários procuraram saber a sua causa. Os mensageiros responderam que desde muito tempo uma mulher havia aparecido em sua terra, anunciando a lei de Jesus Cristo. Acrescentaram que essa mulher desaparecia de um momento para o outro, sem que se descobrisse o seu paradeiro; que lhes tinha feito conhecer o verdadeiro Deus e lhes havia aconselhado a irem aos missionários, a fim de obterem para toda a nação a graça do sacramento que resgata os pecados e transforma os homens em filhos de Deus. A surpresa dos missionários cresceu ainda mais quando, interrogando os índios sobre os mistérios da fé, encontraram-nos perfeitamente instruídos de tudo o que é necessário para a salvação. Os missionários tomaram todas as informações possíveis sobre essa mulher, mas tudo quanto os índios puderam dizer foi que jamais tinham visto uma pessoa semelhante. Entretanto, alguns detalhes descritivos da roupa levaram os missionários a suspeitar que ela portasse hábitos de religiosa. Um deles, que tinha consigo o retrato da venerável madre Luíza de Carrion, ainda viva, e cuja santidade era conhecida em toda a Espanha, o mostrou aos índios, pensando que eles talvez pudessem reconhecer alguns traços da mulher-apóstolo. Estes, depois de examinarem o retrato, responderam que a mulher que lhes havia pregado a lei de Jesus Cristo na verdade tinha um véu, como esta do retrato, mas que, pelos traços do rosto, era completamente diferente, sendo mais moça e de uma grande beleza.
“Então alguns missionários partiram com os emissários índios, para recolher entre eles tão abundante colheita. Após alguns dias de viagem, chegaram ao meio da tribo, onde foram recebidos com as mais vivas demonstrações de alegria e reconhecimento. Na viagem constataram que em todos os indivíduos daquela raça a instrução cristã era completa.
“O chefe da nação, objeto de especial solicitude da serva de Deus, quis ser o primeiro a receber a graça do batismo com toda a sua família, e em poucos dias a nação inteira seguiu o seu exemplo.
“Não obstante esses grandes acontecimentos, ignorava-se ainda quem era a serva do Senhor que tinha evangelizado esses povos, e tinha-se uma santa curiosidade e piedosa impaciência por conhecê-la. Sobretudo o Padre Alonzo de Benavides, que era o superior dos missionários franciscanos no Novo México, queria romper o véu do mistério que ainda cobria o nome da mulher-apóstolo e aspirava voltar momentaneamente à Espanha para descobrir o retiro dessa religiosa desconhecida, que prodigiosamente havia cooperado para a salvação de tantas almas. Em 1630 pôde, enfim, seguir para a Espanha, e foi diretamente a Madrid, onde se achava então o Geral de sua ordem. Benavides lhe deu a conhecer o objetivo a que se havia proposto ao decidir sua viagem à Europa. O Geral conhecia Maria de Jesus d’Agreda e, conforme o dever de seu cargo, tivera de examinar a fundo o íntimo dessa religiosa. Conhecia, pois, a sua santidade, tão bem quanto a sublimidade dos caminhos em que Deus a havia posto. Veio-lhe logo o pensamento de que essa mulher privilegiada bem podia ser a mulher-apóstolo de que lhe falava o Padre Benavides, e lhe comunicou suas impressões. Deu-lhe cartas, pelas quais o constituía seu comissário, com ordem a Maria d’Agreda para responder com toda simplicidade às perguntas que julgasse conveniente lhe dirigir. Com tais ordens, o comissário partiu para Agreda.
“A humilde irmã se viu, assim, obrigada a revelar ao missionário tudo quanto sabia com referência ao objeto de sua missão junto a ela. Confusa e ao mesmo tempo dócil, ela relatou a Benavides tudo quanto lhe tinha acontecido em seus êxtases, acrescentando, com franqueza, que estava completamente incerta quanto ao modo pelo qual sua ação tinha podido exercer-se a tão grande distância. Benavides também interrogou-a sobre as particularidades dos lugares que tantas vezes deveria ter visitado e verificou que ela estava bem informada sobre tudo o que se relacionava com o Novo México e os seus habitantes. Ela lhe expôs, nos mínimos detalhes, a topografia dessas regiões e as mencionou servindo-se mesmo dos nomes próprios, como teria feito um viajante depois de vários anos passados nessas regiões. Acrescentou mesmo que tinha visto Benavides várias vezes, bem como seus religiosos, indicando os lugares, os dias, as horas, as circunstâncias, e fornecendo detalhes especiais sobre cada um dos missionários.
“Compreende-se facilmente o alívio de Benavides por ter enfim descoberto a alma privilegiada de que Deus se havia servido para exercer sua ação miraculosa sobre os habitantes do Novo México.
“Antes de deixar a cidade de Agreda, Benavides quis redigir um relato de tudo quanto havia constatado, quer na América, quer em Agreda, nas suas conversas com a serva de Deus. Nessa peça exprimiu sua convicção pessoal tocante à maneira por que a ação de Maria de Jesus se tinha feito sentir nos índios. Ele inclinava-se a crer que a ação tinha sido corporal. Sobre o assunto, a humilde religiosa sempre guardou uma grande reserva. A despeito de mil indícios que levavam Benavides a concluir pelo que já havia concluído, antes dele, o confessor da serva de Deus, indícios que pareciam acusar uma mudança corporal de lugar, Maria d’Agreda sempre persistiu na crença de que tudo se passava em Espírito. Na sua humildade, ela era mesmo fortemente tentada a pensar que o fenômeno fosse simples alucinação, posto que, de sua parte, inocente e involuntária. Mas o seu diretor, que conhecia os fundamentos das coisas, pensava que a religiosa fosse transportada corporalmente, em seus êxtases, aos lugares de seus trabalhos evangélicos. Ele apoiava sua opinião na impressão física que a mudança de clima provocara em Maria d’Agreda na longa série de trabalhos entre os índios, e na opinião de várias pessoas doutas que ele entendera dever consultar em grande segredo. Seja como for, o fato permanece sempre como um dos mais maravilhosos de que já se falou nos anais dos santos e é muito próprio para dar uma ideia verdadeira, não só das comunicações divinas que Maria d’Agreda recebia, mas também de sua candura e de sua amável sinceridade.”
Aviso
Lembramos aos leitores que a obra “Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas” está esgotada e será substituída por outra, bem mais completa, sob o título de “O Espiritismo Experimental”, que está no prelo e aparecerá em dezembro próximo.
Lembramos igualmente que a segunda edição da História de Joana d’Arc, ditada por ela mesma à Srta. Ermance Dufaux, está à venda. O seu sucesso não diminuiu. É sempre lida com o mesmo interesse pelas pessoas sérias, partidárias ou não do Espiritismo. Essa História será sempre considerada como uma das mais interessantes e mais completas já publicadas.
Lembramos igualmente que a segunda edição da História de Joana d’Arc, ditada por ela mesma à Srta. Ermance Dufaux, está à venda. O seu sucesso não diminuiu. É sempre lida com o mesmo interesse pelas pessoas sérias, partidárias ou não do Espiritismo. Essa História será sempre considerada como uma das mais interessantes e mais completas já publicadas.