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Capítulo XVII — Predições do Evangelho
Ninguém é profeta em sua terra.
1. Tendo vindo à sua terra natal, instruía-os nas sinagogas, de
sorte que, tomados de espanto, diziam: Donde lhe vieram essa
sabedoria e esses milagres? — Não é o filho daquele carpinteiro?
Não se chama Maria, sua mãe, e seus irmãos Tiago, José, Simão
e Judas? Suas irmãs não se acham todas entre nós? Donde então lhe vêm todas essas coisas? — E assim faziam dele objeto de
escândalo. Mas, Jesus lhes disse: Um profeta só não é honrado em
sua terra e na sua casa. — E não fez lá muitos milagres devido à
incredulidade deles. (S. Mateus, 13:54–58.)
2. Enunciou Jesus dessa forma uma verdade que se tornou
provérbio, que é de todos os tempos e à qual se poderia
dar maior amplitude, dizendo que ninguém é profeta em
vida.
Na linguagem usual, essa máxima se aplica ao crédito de que alguém goza entre os seus e entre aqueles em cujo seio vive, à confiança que lhes inspira pela superioridade do saber e da inteligência. Se ela sofre exceções, são raras estas e, em nenhum caso, absolutas. O princípio de tal verdade reside numa consequência natural da fraqueza humana e pode explicar-se deste modo:
O hábito de se verem desde a infância, em todas as circunstâncias ordinárias da vida, estabelece entre os homens uma espécie de igualdade material que, muitas vezes, faz que a maioria deles se negue a reconhecer superioridade moral num de quem foram companheiros ou comensais, que saiu do mesmo meio que eles e cujas primeiras fraquezas todos testemunharam. Sofre-lhes o orgulho com o terem de reconhecer o ascendente do outro. Quem quer que se eleve acima do nível comum está sempre em luta com o ciúme e a inveja. Os que se sentem incapazes de chegar à altura em que aquele se encontra esforçam-se para rebaixá-lo, por meio da difamação, da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto menores se acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo arruído que promovem. Tal foi e será a história da humanidade, enquanto os homens não houverem compreendido a sua natureza espiritual e alargado seu horizonte moral. Por aí se vê que semelhante preconceito é próprio dos espíritos acanhados e vulgares, que tomam suas personalidades por ponto de aferição de tudo.
Doutro lado, toda gente, em geral, faz dos homens apenas conhecidos pelo espírito um ideal que cresce à medida que os tempos e os lugares se vão distanciando. Eles são como que despojados de todo cunho de humanidade; parece que não devem ter falado, nem sentido como os demais; que a linguagem de que usaram e seus pensamentos hão de ter ressoado constantemente no diapasão da sublimidade, sem se lembrarem, os que tal imaginam, que o espírito não poderia permanecer constantemente em estado de tensão e de perpétua superexcitação. No contacto da vida privada, vê-se por demais que o homem material em nada se distingue do vulgo. O homem corpóreo, que os sentidos humanos percebem, quase que apaga o homem espiritual, do qual somente o espírito se percebe. De longe, apenas se vêem os relâmpagos do gênio; de perto, vêem-se as paradas do espírito.
Depois da morte, nenhuma comparação mais sendo possível, unicamente o homem espiritual subsiste e tanto maior parece, quanto mais longínqua se torna a lembrança do homem corporal. É por isso que aqueles cuja passagem pela Terra se assinalou por obras de real valor são mais apreciados depois de mortos do que quando vivos. São julgados com mais imparcialidade, porque, já tendo desaparecido os invejosos e os ciosos, cessaram os antagonismos pessoais. A posteridade é juiz desinteressado no apreciar a obra do espírito; aceita-a sem entusiasmo cego, se é boa, e a rejeita sem rancor, se é má, abstraindo da individualidade que a produziu.
Tanto menos podia Jesus escapar às conseqüências deste princípio, inerente à natureza humana, quanto pouco esclarecido era o meio em que ele vivia, meio esse constituído de criaturas votadas inteiramente à vida material. Nele, seus compatriotas apenas viam o filho do carpinteiro, o irmão de homens tão ignorantes quanto ele e, assim sendo, não percebiam o que lhe dava superioridade e o investia do direito de os censurar. Verificando então que a sua palavra tinha menos autoridade sobre os seus, que o desprezavam, do que sobre os estranhos, preferiu ir pregar para os que o escutavam e aos quais inspirava simpatia.
Pode-se fazer ideia dos sentimentos que para com ele nutriam os que lhe eram aparentados, pelo fato de que seus próprios irmãos, acompanhados de sua mãe, foram a uma reunião onde ele se encontrava, para dele se apoderarem, dizendo que perdera o juízo. (S. Marcos, 3:20–21 e 31–35. — O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIV.)
Assim, de um lado, os sacerdotes e os fariseus o acusavam de obrar pelo demônio; de outro, era tachado de louco pelos seus parentes mais próximos. Não é o que se dá em nossos dias com relação aos espíritas? E deverão estes queixar-se de que os seus concidadãos não os tratem melhor do que os de Jesus o tratavam? O que há de estranhável é que, no século dezenove e no seio de nações civilizadas, se dê o que, há dois mil anos, nada tinha de espantoso, por parte de um povo ignorante.
Na linguagem usual, essa máxima se aplica ao crédito de que alguém goza entre os seus e entre aqueles em cujo seio vive, à confiança que lhes inspira pela superioridade do saber e da inteligência. Se ela sofre exceções, são raras estas e, em nenhum caso, absolutas. O princípio de tal verdade reside numa consequência natural da fraqueza humana e pode explicar-se deste modo:
O hábito de se verem desde a infância, em todas as circunstâncias ordinárias da vida, estabelece entre os homens uma espécie de igualdade material que, muitas vezes, faz que a maioria deles se negue a reconhecer superioridade moral num de quem foram companheiros ou comensais, que saiu do mesmo meio que eles e cujas primeiras fraquezas todos testemunharam. Sofre-lhes o orgulho com o terem de reconhecer o ascendente do outro. Quem quer que se eleve acima do nível comum está sempre em luta com o ciúme e a inveja. Os que se sentem incapazes de chegar à altura em que aquele se encontra esforçam-se para rebaixá-lo, por meio da difamação, da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto menores se acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo arruído que promovem. Tal foi e será a história da humanidade, enquanto os homens não houverem compreendido a sua natureza espiritual e alargado seu horizonte moral. Por aí se vê que semelhante preconceito é próprio dos espíritos acanhados e vulgares, que tomam suas personalidades por ponto de aferição de tudo.
Doutro lado, toda gente, em geral, faz dos homens apenas conhecidos pelo espírito um ideal que cresce à medida que os tempos e os lugares se vão distanciando. Eles são como que despojados de todo cunho de humanidade; parece que não devem ter falado, nem sentido como os demais; que a linguagem de que usaram e seus pensamentos hão de ter ressoado constantemente no diapasão da sublimidade, sem se lembrarem, os que tal imaginam, que o espírito não poderia permanecer constantemente em estado de tensão e de perpétua superexcitação. No contacto da vida privada, vê-se por demais que o homem material em nada se distingue do vulgo. O homem corpóreo, que os sentidos humanos percebem, quase que apaga o homem espiritual, do qual somente o espírito se percebe. De longe, apenas se vêem os relâmpagos do gênio; de perto, vêem-se as paradas do espírito.
Depois da morte, nenhuma comparação mais sendo possível, unicamente o homem espiritual subsiste e tanto maior parece, quanto mais longínqua se torna a lembrança do homem corporal. É por isso que aqueles cuja passagem pela Terra se assinalou por obras de real valor são mais apreciados depois de mortos do que quando vivos. São julgados com mais imparcialidade, porque, já tendo desaparecido os invejosos e os ciosos, cessaram os antagonismos pessoais. A posteridade é juiz desinteressado no apreciar a obra do espírito; aceita-a sem entusiasmo cego, se é boa, e a rejeita sem rancor, se é má, abstraindo da individualidade que a produziu.
Tanto menos podia Jesus escapar às conseqüências deste princípio, inerente à natureza humana, quanto pouco esclarecido era o meio em que ele vivia, meio esse constituído de criaturas votadas inteiramente à vida material. Nele, seus compatriotas apenas viam o filho do carpinteiro, o irmão de homens tão ignorantes quanto ele e, assim sendo, não percebiam o que lhe dava superioridade e o investia do direito de os censurar. Verificando então que a sua palavra tinha menos autoridade sobre os seus, que o desprezavam, do que sobre os estranhos, preferiu ir pregar para os que o escutavam e aos quais inspirava simpatia.
Pode-se fazer ideia dos sentimentos que para com ele nutriam os que lhe eram aparentados, pelo fato de que seus próprios irmãos, acompanhados de sua mãe, foram a uma reunião onde ele se encontrava, para dele se apoderarem, dizendo que perdera o juízo. (S. Marcos, 3:20–21 e 31–35. — O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIV.)
Assim, de um lado, os sacerdotes e os fariseus o acusavam de obrar pelo demônio; de outro, era tachado de louco pelos seus parentes mais próximos. Não é o que se dá em nossos dias com relação aos espíritas? E deverão estes queixar-se de que os seus concidadãos não os tratem melhor do que os de Jesus o tratavam? O que há de estranhável é que, no século dezenove e no seio de nações civilizadas, se dê o que, há dois mil anos, nada tinha de espantoso, por parte de um povo ignorante.
Morte e paixão de Jesus.
3. (Após a cura do lunático) — Todos ficaram admirados do grande
poder de Deus. E, estando todos presa de admiração pelo que Jesus
fazia, disse ele a seus discípulos: Guardai bem nos vossos
corações o que vos vou dizer. O Filho do homem tem que ser entregue
às mãos dos homens. — Eles, porém, não entendiam essa
linguagem; ela lhes era de tal modo oculta que nada compreendiam
daquilo e temiam mesmo interrogá-lo a respeito. (S. Lucas,
9:44–45.)
4. A partir de então, começou Jesus a revelar a seus discípulos
que tinha de ir a Jerusalém; que aí tinha de sofrer muito da parte
dos senadores, dos escribas e dos príncipes dos sacerdotes; que
tinha de ser morto e de ressuscitar ao terceiro dia. (S. Mateus,
16:21.)
5. Estando na Galileia, disse-lhes Jesus: O Filho do homem tem
que ser entregue às mãos dos homens; — estes lhe darão morte e
ele ressuscitará ao terceiro dia, o que os afligiu extremamente.
(S. Mateus, 17:21–22.)
6. Ora, indo Jesus a Jerusalém, chamou de parte seus doze discípulos
e lhes disse: Vamos para Jerusalém e o Filho do homem
será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, que
o condenarão à morte — e o entregarão aos gentios, a fim de que o
tratem com zombarias, o açoitem e crucifiquem; e ele ressuscitará
ao terceiro dia. (S. Mateus, 20:17–19.)
7. Em seguida, tomando de parte os doze apóstolos, disse-lhes
Jesus: Eis que vamos a Jerusalém e tudo o que os profetas escreveram
acerca do Filho do homem vai cumprir-se — porquanto ele será entregue aos gentios, zombarão dele, açoitá-lo-ão e lhe escarrarão
no rosto. — Depois que o tiverem açoitado, matá-lo-ão e
ele ressuscitará ao terceiro dia.
Mas, eles nada compreenderam de tudo isso; aquela linguagem
lhes era oculta e não entendiam o que ele lhes dizia.
(S. Lucas, 18:31–34.)
8. Ora, tendo concluído todos esses discursos, Jesus disse a seus
discípulos: Sabeis que a Páscoa se fará daqui a dois dias e que o
Filho do homem será entregue para ser crucificado.
Ao mesmo tempo, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos
do povo se reuniram na corte do sumo-sacerdote chamado Caifás
— e entraram a consultar-se mutuamente, à procura de um meio
de se apoderarem habilmente de Jesus e de fazê-lo morrer. —
Diziam: É absolutamente necessário que não seja durante a
festa, para que não se levante qualquer tumulto no seio do povo.
(S. Mateus, 26:1–5.)
9. No mesmo dia, alguns fariseus vieram dizer-lhe: Vai-te, sai
deste lugar, pois Herodes quer dar-te à morte. — Ele respondeu:
Ide dizer a essa raposa: Ainda tenho que expulsar os demônios e
restituir a saúde aos doentes, hoje e amanhã; no terceiro dia,
serei consumado. (S. Lucas, 13:31–32.)
Perseguição aos apóstolos.
10. Guardai-vos dos homens, porquanto eles vos farão comparecer
nas suas assembleias, e vos farão açoitar nas suas sinagogas;
e sereis apresentados, por minha causa, aos governadores e aos
reis, para lhes servir de testemunhas, bem como às nações.
(S. Mateus, 10:17–18.)
11. Eles vos expulsarão das sinagogas e vem o tempo em que
aquele que vos fizer morrer julgará fazer coisa agradável a Deus.
— Tratar-vos-ão desse modo, porque não conhecem nem a meu
Pai, nem a mim. — Ora, digo-vos estas coisas, a fim de que, quando
houver chegado o tempo, vos lembreis de que eu vo-las disse.
(S. João, 16:1–4.)
12. Sereis traídos e entregues aos magistrados por vossos pais e
vossas mães, por vossos irmãos, por vossos parentes, por vossos
amigos e darão morte a muitos de vós. — Sereis odiados de toda
gente, por causa de meu nome. — Entretanto, não se perderá um
só cabelo de vossa cabeça. — Pela vossa paciência é que possuireis
vossas almas. (S. Lucas, 21:16–19.)
13. (Martírio de S. Pedro.) –– Em verdade, em verdade vos digo
que, quando éreis mais moços, vos cingíeis a vós mesmos e íeis
onde queríeis; mas, quando fordes velhos, estendereis as mãos e
outro vos cingirá e conduzirá onde não querereis ir. — Ora,
ele dizia isso para assinalar de que morte Pedro havia de
glorificar a Deus. (S. João, 21:18–19.)
Cidades impenitentes.
14. Começou então a reprochar as cidades onde fizera muitos
milagres, por não terem feito penitência. — Ai de ti, Corozaim, ai de ti Betsaida, porque, se os milagres
que foram feitos dentro de vós tivessem sido feitos em Tiro e em
Sídon, há muito tempo teriam elas feito penitência com saco e
cinzas. — Declaro-vos por isso que, no dia do juízo, Tiro e Sídon
serão tratadas menos rigorosamente do que vós. — E tu, Cafarnaum, elevar-te-ás sempre até ao céu? Serás
abaixada até ao fundo do inferno, porque, se os milagres que
foram feitos dentro de ti houvessem sido feitos em Sodoma, esta
ainda talvez subsistisse hoje. — Declaro-te por isso que, no dia
do julgamento, o país de Sodoma será tratado menos rigorosamente
do que tu. (S. Mateus, 11:20–24.)
Ruína do Templo e de Jerusalém.
15. Quando Jesus saiu do templo para se ir embora, seus discípulos se acercaram dele para lhe fazerem notar a estrutura e a
grandeza daquele edifício. — Ele, porém, lhes disse: Vedes todas
estas construções? Digo-vos, em verdade, que serão de tal maneira
destruídas, que não ficará pedra sobre pedra. (S. Mateus, 24:1–2.)
16. Em seguida, tendo chegado perto de Jerusalém, contemplando
a cidade, ele chorou por ela, dizendo: — Ah! se, ao menos neste
dia que ainda te é concedido, reconhecesses aquele que te pode
proporcionar paz! Mas, agora, tudo isto se acha oculto aos teus
olhos. — Tempo virá, pois, para ti, desgraçada, em que teus inimigos
te cercarão de trincheiras, te encerrarão e apertarão de
todos os lados; — em que te deitarão por terra, a ti e aos teus
filhos que estão dentro de ti, e não te deixarão pedra sobre pedra,
porque não reconheceste o tempo em que Deus te visitou.
(S. Lucas, 19:41–44.)
17. Entretanto, é preciso que eu continue a andar hoje e amanhã
e o dia seguinte, porquanto necessário é que nenhum
profeta sofra morte noutra parte, que não em Jerusalém. — Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os
que te são enviados, quantas vezes hei querido reunir teus filhos, como uma galinha reúne sob as asas seus pintainhos, e não o
quiseste! — Aproxima-se o tempo em que vossa casa ficará deserta.
Ora, eu, em verdade, vos digo que doravante não me tornareis
a ver, até que digais: Bendito seja o que vem em nome do Senhor.
(S. Lucas, 13:33–35.)
18. Quando virdes um exército cercando Jerusalém, sabei que
está próxima a sua destruição. — Fujam para as montanhas os
que estiverem na Judeia, retirem-se os que estiverem dentro dela
e nela não entrem os que estiverem na região circunvizinha. —
Porquanto, esses dias serão os da vingança, a fim de que se cumpra
tudo o que está na Escritura. — Ai das que estiverem grávidas
nesses dias, visto que este país será acabrunhado de males e
a cólera do céu cairá sobre este povo. — Serão passados a fio de
espada; serão levados em cativeiro para todas as nações e
Jerusalém será calcada aos pés pelos gentios, até que se haja
preenchido o tempo das nações. (S. Lucas, 21:20–24.)
19. (Jesus avançando para o suplício.) — Ora, acompanhava-o
grande multidão de povo e de mulheres a bater nos peitos e a
chorar. — Jesus, então, voltando-se, disse: Filhas de Jerusalém,
não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos
filhos — porquanto virá tempo em que se dirá: Ditosas as estéreis,
as entranhas que não geraram filhos e os seios que não amamentaram.
— Todos se porão a dizer às montanhas: Caí sobre nós! e às
colinas: Cobri-nos! — Pois, se tratam deste modo o lenho verde,
como será tratado o lenho seco? (S. Lucas, 23:27–31.)
20. A faculdade de pressentir as coisas porvindouras é um
dos atributos da alma e se explica pela teoria da presciência. Jesus a possuía, como todos os outros, em grau eminente.
Pôde, portanto, prever os acontecimentos que se seguiriam
à sua morte, sem que nesse fato algo haja de sobrenatural,
pois que o vemos reproduzir-se aos nossos olhos,
nas mais vulgares condições. Não é raro que indivíduos
anunciem com precisão o instante em que morrerão; é que
a alma deles, no estado de desprendimento, está como o
homem da montanha (capítulo XVI, n.º 1): abarca a estrada
a ser percorrida e lhe vê o termo.
21. Tanto mais assim havia de dar-se com Jesus, quanto,
tendo consciência da missão que viera desempenhar, sabia
que a morte no suplício forçosamente lhe seria a consequência.
A visão espiritual, permanente nele, assim como a
penetração do pensamento, haviam de mostrar-lhe as circunstâncias
e a época fatal. Pela mesma razão podia prever
a ruína do Templo, a de Jerusalém, as desgraças que se
iam abater sobre seus habitantes e a dispersão dos judeus.
Maldição contra os fariseus.
22. (João Batista.) — Vendo muitos fariseus e saduceus que acorriam
para ser batizados, ele lhes disse: Raça de víboras, quem
vos ensinou a fugir da cólera que há de cair sobre vós? — Produzi
então dignos frutos de penitência; não penseis em dizer de vós
para convosco: Temos Abraão por pai, porquanto eu vos declaro
que Deus pode fazer que destas próprias pedras nasçam filhos a
Abraão. — O machado já está posto à raiz das árvores e toda
árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo.
(S. Mateus, 3:7–10.)
23. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, porque fechais aos
homens o reino dos céus; lá não entrais e ainda vos opondes a
que outros entrem! — Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que, a pretexto das
vossas longas orações, devorais as casas das viúvas; tereis por
isso um julgamento mais rigoroso! — Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que percorreis o
mar e a terra para fazer um prosélito e que, depois de o haverdes
conseguido, o tornais duas vezes mais digno do inferno do que
vós mesmos!
Ai de vós, condutores de cegos, que dizeis: Se um homem
jura pelo templo, isso nada vale; quem quer, porém, que jure pelo
ouro do templo, fica obrigado a cumprir o seu juramento! — Insensatos
e cegos que sois! A qual se deve mais estimar: ao ouro,
ou ao templo que santifica o ouro? — Se um homem, dizeis, jura
pelo altar, isso nada vale; mas, aquele que jurar pelo dom que
esteja sobre o altar fica obrigado a cumprir o seu juramento. —
Cegos que sois! A qual se deve mais estimar, ao dom ou ao altar
que santifica o dom? — Aquele, pois, que jura pelo altar jura não
só pelo altar, como por tudo o que está sobre o altar; — e aquele
que jura pelo templo jura por aquele que o habita; — e aquele que
jura pelo céu jura pelo trono de Deus e por aquele que aí se
assenta. — Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo
da hortelã, do endro e do cominho e que tendes abandonado o
que há de mais importante na lei, a saber: a justiça, a misericórdia
e a fé! Essas as coisas que deveis praticar, sem, contudo,
omitirdes as outras. — Guias cegos, que tendes grande cuidado
em coar o que bebeis, por medo de engolir um mosquito, e que, no
entanto, engolis um camelo! — Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que limpais por fora
o copo e o prato e que estais por dentro cheios de rapina e impureza!
— Fariseus cegos! limpai primeiro o interior do copo e do
prato, a fim de que também o exterior fique limpo.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que vos assemelhais
a sepulcros caiados, que por fora parecem belos aos olhos dos
homens, mas que, por dentro, estão cheios de ossadas de mortos
e de toda espécie de podridão! — Assim, por fora pareceis justos,
enquanto que, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de
iniquidade.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que erigis túmulos
aos profetas e adornais os monumentos dos justos — e que dizeis:
Se existíssemos no tempo de nossos pais, não nos teríamos associado
a eles para derramar o sangue dos profetas! — Acabais,
pois, assim, de encher a medida de vossos pais. — Serpentes, raça
de víboras, como podereis evitar a condenação ao inferno? — Eis
que vou enviar-vos profetas, homens de sabedoria e escribas e matareis
a uns, crucificareis a outros e a outros açoitareis nas vossas
sinagogas e os perseguireis de cidade em cidade — a fim de que
recaia sobre vós todo o sangue inocente que há sido derramado na
Terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o de Zacarias, filho de
Baraquias, que matastes entre o templo e o altar! — Digo-vos,
em verdade, que tudo isso virá recair sobre esta raça que existe
hoje. (S. Mateus, 23:13–36.)
Minhas palavras não passarão.
24. Então, aproximando-se dele, seus discípulos lhe disseram:
Sabes que, ouvindo o que acabaste de dizer, os fariseus se escandalizaram?
— Ele respondeu: Toda planta que meu Pai celestial
não plantou será arrancada. — Deixa-os; são cegos a conduzir cegos; se um cego guia outro cego, cairão ambos no barranco.
(S. Mateus, 15:12–14.)
25. O Céu e a Terra passarão, mas as minhas palavras não
passarão. (S. Mateus, 24:35.)
26. As palavras de Jesus não passarão, porque serão verdadeiras
em todos os tempos. Será eterno o seu código de
moral, porque consagra as condições do bem que conduz o
homem ao seu destino eterno. Mas, terão as suas palavras
chegado até nós puras de toda ganga e de falsas interpretações? Apreenderam-lhes o espírito todas as seitas cristãs?
Nenhuma as terá desviado do verdadeiro sentido, em consequência
dos preconceitos e da ignorância das leis da natureza?
Nenhuma as transformou em instrumento de dominação,
para servir às suas ambições e aos seus interesses
materiais, em degrau, não para se elevar ao céu, mas para
elevar-se na Terra? Terão todas adotado como regra de proceder
a prática das virtudes, prática da qual fez Jesus condição
expressa de salvação? Estarão todas isentas das apóstrofes
que ele dirigiu aos fariseus de seu tempo? Todas,
finalmente, serão, assim em teoria, como na prática,
expressão pura da sua doutrina?
Sendo uma só, e única, a verdade não pode achar-se contida em afirmações contrárias e Jesus não pretendeu imprimir duplo sentido às suas palavras. Se, pois, as diferentes seitas se contradizem; se umas consideram verdadeiro o que outras condenam como heresias, impossível é que todas estejam com a verdade. Se todas houvessem apreendido o sentido verdadeiro do ensino evangélico, todas se teriam encontrado no mesmo terreno e não existiriam seitas.
O que não passará é o verdadeiro sentido das palavras de Jesus; o que passará é o que os homens construíram sobre o sentido falso que deram a essas mesmas palavras.
Tendo por missão transmitir aos homens o pensamento de Deus, somente a sua doutrina, em toda a pureza, pode exprimir esse pensamento. Por isso foi que ele disse: Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada.
Sendo uma só, e única, a verdade não pode achar-se contida em afirmações contrárias e Jesus não pretendeu imprimir duplo sentido às suas palavras. Se, pois, as diferentes seitas se contradizem; se umas consideram verdadeiro o que outras condenam como heresias, impossível é que todas estejam com a verdade. Se todas houvessem apreendido o sentido verdadeiro do ensino evangélico, todas se teriam encontrado no mesmo terreno e não existiriam seitas.
O que não passará é o verdadeiro sentido das palavras de Jesus; o que passará é o que os homens construíram sobre o sentido falso que deram a essas mesmas palavras.
Tendo por missão transmitir aos homens o pensamento de Deus, somente a sua doutrina, em toda a pureza, pode exprimir esse pensamento. Por isso foi que ele disse: Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada.
A pedra angular.
27. Não lestes jamais isto nas Escrituras? — A pedra que os
edificadores rejeitaram se tornou a principal pedra do ângulo.
Foi o que o Senhor fez e nossos olhos o veem com admiração. —
Por isso eu vos declaro que o reino de Deus vos será tirado e será
dado a um povo que dele tirará frutos. — Aquele que se deixar
cair sobre essa pedra se despedaçará e ela esmagará aquele
sobre quem cair. — Tendo ouvido de Jesus essas palavras, os príncipes dos sacerdotes
reconheceram que era deles que o mesmo Jesus falava.
— Quiseram então apoderar-se dele, mas tiveram medo do povo
que o considerava um profeta. (S. Mateus, 21:42–46.)
28. A palavra de Jesus se tornou a pedra angular, isto é, a
pedra de consolidação do novo edifício da fé, erguido sobre
as ruínas do antigo. Havendo os judeus, os príncipes dos
sacerdotes e os fariseus rejeitado essa pedra, ela os esmagou,
do mesmo modo que esmagará os que, depois, a
desconheceram, ou lhe desfiguraram o sentido em prol
de suas ambições.
Parábola dos vinhateiros homicidas.
29. Havia um pai de família que, tendo plantado uma vinha, a
cercou com uma sebe e, cavando a terra, construiu uma torre. Arrendou-a
depois a uns vinhateiros e partiu para um país distante. — Ora, estando próximo o tempo dos frutos, enviou ele seus
servos aos vinhateiros, para recolher o fruto da sua vinha. — Os
vinhateiros, apoderando-se dos servos, deram num, mataram
outro e a outro apedrejaram. Enviou-lhes ele outros servos em
maior número do que os primeiros e eles os trataram da mesma
maneira. — Por fim, enviou-lhes seu próprio filho, dizendo de si
para si: Ao meu filho eles terão algum respeito. — Mas os
vinhateiros, ao verem o filho, disseram entre si: Aqui está o herdeiro;
vinde, matemo-lo e ficaremos donos da sua herança. — E,
com isso, pegaram dele, lançaram-no fora da vinha e o mataram. — Quando o dono da vinha vier, como tratará esses vinhateiros?
— Responderam-lhe: Fará que pereçam miseravelmente esses
malvados e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe
entreguem os frutos na estação própria. (S. Mateus, 21:33–41.)
30. O pai de família é Deus; a vinha que ele plantou é a lei
que estabeleceu; os vinhateiros a quem arrendou a vinha
são os homens que devem ensinar e praticar a lei; os servos
que enviou aos arrendatários são os profetas que estes últimos
massacraram; seu filho, enviado por último, é Jesus,
a quem eles igualmente eliminaram. Como tratará o Senhor
os seus mandatários prevaricadores da lei? Tratá-los-á
como seus enviados foram por eles tratados e chamará outros
arrendatários que lhe prestem melhores contas de sua
propriedade e do proceder do seu rebanho.
Assim aconteceu com os escribas, com os príncipes dos sacerdotes e com os fariseus; assim será, quando ele vier de novo pedir a cada um contas do que fez da sua doutrina; retirará toda a autoridade ao que dela houver abusado, porquanto ele quer que seu campo seja administrado de acordo com a sua vontade.
Ao cabo de dezoito séculos, tendo chegado à idade viril, a humanidade está suficientemente madura para compreender o que o Cristo apenas esflorou, porque então, como ele próprio o disse, não o teriam compreendido. Ora, a que resultado chegaram os que, durante esse longo período, tiveram a seu cargo a educação religiosa da mesma humanidade? Ao de verem que a indiferença sucedeu à fé e que a incredulidade se alçou em doutrina. Em nenhuma outra época, com efeito, o cepticismo e o espírito de negação estiveram mais espalhados em todas as classes da sociedade.
Mas, se algumas das palavras do Cristo se apresentam encobertas pelo véu da alegoria, pelo que concerne à regra de proceder, às relações de homem para homem, aos princípios morais a que ele expressamente condicionou a salvação, seus ensinos são claros, explícitos, sem ambiguidade. ( O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XV.)
Que fizeram das suas máximas de caridade, de amor e de tolerância; das recomendações que fez a seus apóstolos para que convertessem os homens pela brandura e pela persuasão; da simplicidade, da humildade, do desinteresse e de todas as virtudes que ele exemplificou? Em seu nome, os homens se anatematizaram mutuamente e reciprocamente se amaldiçoaram; estrangularam-se em nome daquele que disse: Todos os homens são irmãos. Do Deus infinitamente justo, bom e misericordioso que ele revelou, fizeram um Deus cioso, cruel, vingativo e parcial; àquele Deus, de paz e de verdade, sacrificaram nas fogueiras, pelas torturas e perseguições, muito maior número de vítimas, do que as que em todos os tempos os pagãos sacrificaram aos seus falsos deuses; venderam-se as orações e as graças do céu em nome daquele que expulsou do Templo os vendedores e que disse a seus discípulos: Dai de graça o que de graça recebestes.
Que diria o Cristo, se viesse hoje entre nós? Se visse os que se dizem seus representantes a ambicionar as honras, as riquezas, o poder e o fausto dos príncipes do mundo, ao passo que ele, mais rei do que todos os reis da Terra, fez a sua entrada em Jerusalém montado num jumento? Não teria o direito de dizer-lhes: Que fizestes dos meus ensinos, vós que incensais o bezerro de ouro, que dais a maior parte das vossas preces aos ricos, reservando uma parte insignificante aos pobres, sem embargo de haver eu dito: Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus? Mas, se ele não está carnalmente entre nós, está em Espírito e, como o senhor da parábola, virá pedir contas aos seus vinhateiros do produto da sua vinha, quando chegar o tempo da colheita.
Assim aconteceu com os escribas, com os príncipes dos sacerdotes e com os fariseus; assim será, quando ele vier de novo pedir a cada um contas do que fez da sua doutrina; retirará toda a autoridade ao que dela houver abusado, porquanto ele quer que seu campo seja administrado de acordo com a sua vontade.
Ao cabo de dezoito séculos, tendo chegado à idade viril, a humanidade está suficientemente madura para compreender o que o Cristo apenas esflorou, porque então, como ele próprio o disse, não o teriam compreendido. Ora, a que resultado chegaram os que, durante esse longo período, tiveram a seu cargo a educação religiosa da mesma humanidade? Ao de verem que a indiferença sucedeu à fé e que a incredulidade se alçou em doutrina. Em nenhuma outra época, com efeito, o cepticismo e o espírito de negação estiveram mais espalhados em todas as classes da sociedade.
Mas, se algumas das palavras do Cristo se apresentam encobertas pelo véu da alegoria, pelo que concerne à regra de proceder, às relações de homem para homem, aos princípios morais a que ele expressamente condicionou a salvação, seus ensinos são claros, explícitos, sem ambiguidade. ( O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XV.)
Que fizeram das suas máximas de caridade, de amor e de tolerância; das recomendações que fez a seus apóstolos para que convertessem os homens pela brandura e pela persuasão; da simplicidade, da humildade, do desinteresse e de todas as virtudes que ele exemplificou? Em seu nome, os homens se anatematizaram mutuamente e reciprocamente se amaldiçoaram; estrangularam-se em nome daquele que disse: Todos os homens são irmãos. Do Deus infinitamente justo, bom e misericordioso que ele revelou, fizeram um Deus cioso, cruel, vingativo e parcial; àquele Deus, de paz e de verdade, sacrificaram nas fogueiras, pelas torturas e perseguições, muito maior número de vítimas, do que as que em todos os tempos os pagãos sacrificaram aos seus falsos deuses; venderam-se as orações e as graças do céu em nome daquele que expulsou do Templo os vendedores e que disse a seus discípulos: Dai de graça o que de graça recebestes.
Que diria o Cristo, se viesse hoje entre nós? Se visse os que se dizem seus representantes a ambicionar as honras, as riquezas, o poder e o fausto dos príncipes do mundo, ao passo que ele, mais rei do que todos os reis da Terra, fez a sua entrada em Jerusalém montado num jumento? Não teria o direito de dizer-lhes: Que fizestes dos meus ensinos, vós que incensais o bezerro de ouro, que dais a maior parte das vossas preces aos ricos, reservando uma parte insignificante aos pobres, sem embargo de haver eu dito: Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros no reino dos céus? Mas, se ele não está carnalmente entre nós, está em Espírito e, como o senhor da parábola, virá pedir contas aos seus vinhateiros do produto da sua vinha, quando chegar o tempo da colheita.
Um só rebanho e um só pastor.
31. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; é
preciso que também a essas eu conduza; elas escutarão a minha
voz e haverá um só rebanho e um único pastor. (S. João, 10:16.)
32. Por essas palavras, Jesus claramente anuncia que os
homens um dia se unirão por uma crença única; mas, como
poderá efetuar-se essa união? Difícil parecerá isso,
tendo-se em vista as diferenças que existem entre as religiões,
o antagonismo que elas alimentam entre seus adeptos, a
obstinação que manifestam em se acreditarem na posse
exclusiva da verdade. Todas querem a unidade, mas cada
uma se lisonjeia de que essa unidade se fará em seu proveito
e nenhuma admite a possibilidade de fazer qualquer
concessão, no que respeita às suas crenças.
Entretanto, a unidade se fará em religião, como já tende a fazer-se socialmente, politicamente, comercialmente, pela queda das barreiras que separam os povos, pela assimilação dos costumes, dos usos, da linguagem. Os povos do mundo inteiro já confraternizam, como os das províncias de um mesmo império. Pressente-se essa unidade e todos a desejam. Ela se fará pela força das coisas, porque há de tornar-se uma necessidade, para que se estreitem os laços da fraternidade entre as nações; far-se-á pelo desenvolvimento da razão humana, que se tornará apta a compreender a puerilidade de todas as dissidências; pelo progresso das ciências, a demonstrar cada dia mais os erros materiais sobre que tais dissidências assentam e a destacar pouco a pouco das suas fiadas as pedras estragadas. Demolindo nas religiões o que é obra dos homens e fruto de sua ignorância das leis da natureza, a ciência não poderá destruir, malgrado à opinião de alguns, o que é obra de Deus e eterna verdade. Afastando os acessórios, ela prepara as vias para a unidade.
A fim de chegarem a esta, as religiões terão que encontrar-se num terreno neutro, se bem que comum a todas; para isso, todas terão que fazer concessões e sacrifícios mais ou menos importantes, conformemente à multiplicidade dos seus dogmas particulares. Mas, em virtude do processo de imutabilidade que todas professam, a iniciativa das concessões não poderá partir do campo oficial; em lugar de tomarem no alto o ponto de partida, tomá-lo-ão embaixo por iniciativa individual. Desde algum tempo, um movimento se vem operando de descentralização, tendente a adquirir irresistível força. O princípio da imutabilidade, que as religiões hão sempre considerado uma égide conservadora, tornar-se-á elemento de destruição, dado que, imobilizando-se, ao passo que a sociedade caminha para a frente, os cultos serão ultrapassados e depois absorvidos pela corrente das idéias de progressão.
A imobilidade, em vez de ser uma força, torna-se uma causa de fraqueza e de ruína para quem não acompanha o movimento geral; ela quebra a unidade, porque os que querem avançar se separam dos que se obstinam em permanecer parados.
No estado atual da opinião e dos conhecimentos, a religião, que terá de congregar um dia todos os homens sob o mesmo estandarte, será a que melhor satisfaça à razão e às legítimas aspirações do coração e do espírito; que não seja em nenhum ponto desmentida pela ciência positiva; que, em vez de se imobilizar, acompanhe a humanidade em sua marcha progressiva, sem nunca deixar que a ultrapassem; que não for nem exclusivista, nem intolerante; que for a emancipadora da inteligência, com o não admitir senão a fé racional; aquela cujo código de moral seja o mais puro, o mais lógico, o mais de harmonia com as necessidades sociais, o mais apropriado, enfim, a fundar na Terra o reinado do Bem, pela prática da caridade e da fraternidade universais.
O que alimenta o antagonismo entre as religiões é a ideia, generalizada por todas elas, de que cada uma tem o seu deus particular e a pretensão de que este é o único verdadeiro e o mais poderoso, em luta constante com os deuses dos outros cultos e ocupado em lhes combater a influência. Quando elas se houverem convencido de que só existe um Deus no universo e que, em definitiva, ele é o mesmo que elas adoram sob os nomes de Jeová, Alá ou Deus; quando se puserem de acordo sobre os atributos essenciais da Divindade, compreenderão que, sendo um único o Ser, uma única tem que ser a vontade suprema; estender-se-ão as mãos umas às outras, como os servidores de um mesmo Mestre e os filhos de um mesmo Pai e, assim, grande passo terão dado para a unidade.
Entretanto, a unidade se fará em religião, como já tende a fazer-se socialmente, politicamente, comercialmente, pela queda das barreiras que separam os povos, pela assimilação dos costumes, dos usos, da linguagem. Os povos do mundo inteiro já confraternizam, como os das províncias de um mesmo império. Pressente-se essa unidade e todos a desejam. Ela se fará pela força das coisas, porque há de tornar-se uma necessidade, para que se estreitem os laços da fraternidade entre as nações; far-se-á pelo desenvolvimento da razão humana, que se tornará apta a compreender a puerilidade de todas as dissidências; pelo progresso das ciências, a demonstrar cada dia mais os erros materiais sobre que tais dissidências assentam e a destacar pouco a pouco das suas fiadas as pedras estragadas. Demolindo nas religiões o que é obra dos homens e fruto de sua ignorância das leis da natureza, a ciência não poderá destruir, malgrado à opinião de alguns, o que é obra de Deus e eterna verdade. Afastando os acessórios, ela prepara as vias para a unidade.
A fim de chegarem a esta, as religiões terão que encontrar-se num terreno neutro, se bem que comum a todas; para isso, todas terão que fazer concessões e sacrifícios mais ou menos importantes, conformemente à multiplicidade dos seus dogmas particulares. Mas, em virtude do processo de imutabilidade que todas professam, a iniciativa das concessões não poderá partir do campo oficial; em lugar de tomarem no alto o ponto de partida, tomá-lo-ão embaixo por iniciativa individual. Desde algum tempo, um movimento se vem operando de descentralização, tendente a adquirir irresistível força. O princípio da imutabilidade, que as religiões hão sempre considerado uma égide conservadora, tornar-se-á elemento de destruição, dado que, imobilizando-se, ao passo que a sociedade caminha para a frente, os cultos serão ultrapassados e depois absorvidos pela corrente das idéias de progressão.
A imobilidade, em vez de ser uma força, torna-se uma causa de fraqueza e de ruína para quem não acompanha o movimento geral; ela quebra a unidade, porque os que querem avançar se separam dos que se obstinam em permanecer parados.
No estado atual da opinião e dos conhecimentos, a religião, que terá de congregar um dia todos os homens sob o mesmo estandarte, será a que melhor satisfaça à razão e às legítimas aspirações do coração e do espírito; que não seja em nenhum ponto desmentida pela ciência positiva; que, em vez de se imobilizar, acompanhe a humanidade em sua marcha progressiva, sem nunca deixar que a ultrapassem; que não for nem exclusivista, nem intolerante; que for a emancipadora da inteligência, com o não admitir senão a fé racional; aquela cujo código de moral seja o mais puro, o mais lógico, o mais de harmonia com as necessidades sociais, o mais apropriado, enfim, a fundar na Terra o reinado do Bem, pela prática da caridade e da fraternidade universais.
O que alimenta o antagonismo entre as religiões é a ideia, generalizada por todas elas, de que cada uma tem o seu deus particular e a pretensão de que este é o único verdadeiro e o mais poderoso, em luta constante com os deuses dos outros cultos e ocupado em lhes combater a influência. Quando elas se houverem convencido de que só existe um Deus no universo e que, em definitiva, ele é o mesmo que elas adoram sob os nomes de Jeová, Alá ou Deus; quando se puserem de acordo sobre os atributos essenciais da Divindade, compreenderão que, sendo um único o Ser, uma única tem que ser a vontade suprema; estender-se-ão as mãos umas às outras, como os servidores de um mesmo Mestre e os filhos de um mesmo Pai e, assim, grande passo terão dado para a unidade.
Advento de Elias.
33. Então, seus discípulos lhe perguntaram: Por que, pois, dizem
os escribas ser preciso que, antes, venha Elias? — Jesus
lhes respondeu: É certo que Elias tem de vir e que restabelecerá
todas as coisas. — Mas, eu vos declaro que Elias já veio e eles não o conheceram;
antes o trataram como lhes aprouve. É assim que farão
morrer o Filho do homem. — Então, seus discípulos compreenderam que era de João
Batista que ele lhes falara. (S. Mateus, 17:10–13.)
34. Elias já voltara na pessoa de João Batista. Seu novo
advento é anunciado de modo explícito. Ora, como ele não
pode voltar, senão tomando um novo corpo, aí temos a consagração
formal do princípio da pluralidade das existências.
(
O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IV, n.º 10.)
Anunciação do Consolador.
35. Se me amais, guardai os meus mandamentos — e eu pedirei
a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique
eternamente convosco: — O Espírito de Verdade que o mundo não
pode receber, porque não o vê; vós, porém, o conhecereis, porque
permanecerá convosco e estará em vós. — Mas o Consolador, que
é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará
todas as coisas e fará vos lembreis de tudo o que vos tenho
dito. (S. João, 14:15–17 e 26. —
O Evangelho segundo o Espiritismo,
cap. VI.)
36. Entretanto, digo-vos a verdade: Convém que eu me vá, porquanto,
se eu não me for, o Consolador não vos virá; eu, porém,
me vou e vo-lo enviarei. — E, quando ele vier, convencerá o mundo
no que respeita ao pecado, à justiça e ao juízo: — no que
respeita ao pecado, por não terem acreditado em mim; — no que
respeita à justiça, porque me vou para meu Pai e não mais me
vereis; no que respeita ao juízo, porque já está julgado o príncipe
deste mundo. — Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas presentemente
não as podeis suportar. — Quando vier esse Espírito de Verdade, ele vos ensinará toda a
verdade, porquanto não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que
tenha escutado e vos anunciará as coisas porvindouras.
Ele me glorificará, porque receberá do que está em mim e
vo-lo anunciará. (S. João, 16:7–14.)
37. Esta predição, não há contestar, é uma das mais importantes,
do ponto de vista religioso, porquanto comprova,
sem a possibilidade do menor equívoco, que Jesus não
disse tudo o que tinha a dizer, pela razão de que não o teriam
compreendido nem mesmo seus apóstolos, visto que
a eles é que o Mestre se dirigia. Se lhes houvesse dado instruções
secretas, os Evangelhos fariam referência a tais
instruções. Ora, desde que ele não disse tudo a seus apóstolos,
os sucessores destes não terão podido saber mais do
que eles, com relação ao que foi dito; ter-se-ão possivelmente
enganado, quanto ao sentido das palavras do Senhor,
ou dado interpretação falsa aos seus pensamentos,
muitas vezes velados sob a forma parabólica. As religiões
que se fundaram no Evangelho não podem, pois, dizer-se
possuidoras de toda a verdade, porquanto ele, Jesus, reservou
para si a completação ulterior de seus ensinamentos.
O princípio da imutabilidade, em que elas se firmam,
constitui um desmentido às próprias palavras do Cristo.
Sob o nome de Consolador e de Espírito de Verdade, Jesus anunciou a vinda daquele que havia de ensinar todas as coisas e de lembrar o que ele dissera. Logo, não estava completo o seu ensino. E, ao demais, prevê não só que ficaria esquecido, como também que seria desvirtuado o que por ele fora dito, visto que o Espírito de Verdade viria tudo lembrar e, de combinação com Elias, restabelecer todas as coisas, isto é, pô-las de acordo com o verdadeiro pensamento de seus ensinos.
Sob o nome de Consolador e de Espírito de Verdade, Jesus anunciou a vinda daquele que havia de ensinar todas as coisas e de lembrar o que ele dissera. Logo, não estava completo o seu ensino. E, ao demais, prevê não só que ficaria esquecido, como também que seria desvirtuado o que por ele fora dito, visto que o Espírito de Verdade viria tudo lembrar e, de combinação com Elias, restabelecer todas as coisas, isto é, pô-las de acordo com o verdadeiro pensamento de seus ensinos.
38. Quando terá de vir esse novo revelador? É evidente que
se, na época em que Jesus falava, os homens não se achavam
em estado de compreender as coisas que lhe restavam
a dizer, não seria em alguns anos apenas que poderiam
adquirir as luzes necessárias a entendê-las. Para a inteligência
de certas partes do Evangelho, excluídos os preceitos
morais, faziam-se mister conhecimentos que só o progresso
das ciências facultaria e que tinham de ser obra do
tempo e de muitas gerações. Se, portanto, o novo Messias
tivesse vindo pouco tempo depois do Cristo, houvera encontrado
o terreno ainda nas mesmas condições e não teria
feito mais do que o mesmo Cristo. Ora, desde aquela época
até os nossos dias, nenhuma grande revelação se produziu
que haja completado o Evangelho e elucidado suas partes
obscuras, indício seguro de que o Enviado ainda não
aparecera.
39. Qual deverá ser esse Enviado? Dizendo: “Pedirei a meu
Pai e ele vos enviará outro Consolador”, Jesus claramente
indica que esse Consolador não seria ele, pois, do contrário, dissera: “Voltarei a completar o que vos tenho ensinado.”
Não só tal não disse, como acrescentou: A fim de que
fique eternamente convosco e ele estará em vós. Esta proposição
não poderia referir-se a uma individualidade encarnada,
visto que não poderia ficar eternamente conosco, nem,
ainda menos, estar em nós; compreendemo-la, porém, muito
bem com referência a uma doutrina, a qual, com efeito,
quando a tenhamos assimilado, poderá estar eternamente em nós. O Consolador é, pois, segundo o pensamento de
Jesus, a personificação de uma doutrina soberanamente
consoladora, cujo inspirador há de ser o Espírito de Verdade.
40. O Espiritismo realiza, como ficou demonstrado (cap. I,
n.º 30), todas as condições do Consolador que Jesus prometeu.
Não é uma doutrina individual, nem de concepção
humana; ninguém pode dizer-se seu criador. É fruto do
ensino coletivo dos Espíritos, ensino a que preside o Espírito
de Verdade. Nada suprime do Evangelho: antes o completa
e elucida. Com o auxílio das novas leis que revela,
conjugadas essas leis às que a ciência já descobrira, faz se
compreenda o que era ininteligível e se admita a possibilidade
daquilo que a incredulidade considerava inadmissível. Teve precursores e profetas, que lhe pressentiram a
vinda. Pela sua força moralizadora, ele prepara o reinado
do bem na Terra.
A doutrina de Moisés, incompleta, ficou circunscrita ao povo judeu; a de Jesus, mais completa, se espalhou por toda a Terra, mediante o Cristianismo, mas não converteu a todos; o Espiritismo, ainda mais completo, com raízes em todas as crenças, converterá a humanidade.*
* Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome do seu fundador. Diz-se: o Moisaísmo, o Cristianismo, o Maometismo, o Budismo, o Cartesianismo, o Furrierismo, o São-Simonismo, etc. A palavra Espiritismo, ao contrário, não lembra nenhuma personalidade; encerra uma ideia geral, que ao mesmo tempo indica o caráter e o tronco multíplice da doutrina.
A doutrina de Moisés, incompleta, ficou circunscrita ao povo judeu; a de Jesus, mais completa, se espalhou por toda a Terra, mediante o Cristianismo, mas não converteu a todos; o Espiritismo, ainda mais completo, com raízes em todas as crenças, converterá a humanidade.*
* Todas as doutrinas filosóficas e religiosas trazem o nome do seu fundador. Diz-se: o Moisaísmo, o Cristianismo, o Maometismo, o Budismo, o Cartesianismo, o Furrierismo, o São-Simonismo, etc. A palavra Espiritismo, ao contrário, não lembra nenhuma personalidade; encerra uma ideia geral, que ao mesmo tempo indica o caráter e o tronco multíplice da doutrina.
41. Dizendo a seus apóstolos: “Outro virá mais tarde, que vos
ensinará o que agora não posso ensinar”, proclamava Jesus a necessidade da reencarnação. Como poderiam aqueles
homens aproveitar do ensino mais completo que ulteriormente
seria ministrado; como estariam aptos a compreendê-lo,
se não tivessem de viver novamente? Jesus houvera proferido
uma coisa inconsequente se, de acordo com a doutrina
vulgar, os homens futuros houvessem de ser homens
novos, almas saídas do nada por ocasião do nascimento.
Admita-se, ao contrário, que os apóstolos e os homens do
tempo deles tenham vivido depois; que ainda hoje revivem,
e plenamente justificada estará a promessa de Jesus. Tendo-se
desenvolvido ao contacto do progresso social, a inteligência
deles pode presentemente comportar o que então
não podia. Sem a reencarnação a promessa de Jesus fora
ilusória.
42. Se disserem que essa promessa se cumpriu no dia de
Pentecostes, por meio da descida do Espírito Santo,
poder-se-á responder que o Espírito Santo os inspirou, que
lhes desanuviou a inteligência, que desenvolveu neles as
aptidões mediúnicas destinadas a facilitar-lhes a missão,
porém que nada lhes ensinou além daquilo que Jesus já
ensinara, porquanto, no que deixaram, nenhum vestígio se
encontra de um ensinamento especial. O Espírito Santo,
pois, não realizou o que Jesus anunciara relativamente ao
Consolador; a não ser assim, os apóstolos teriam elucidado
o que, no Evangelho, permaneceu obscuro até ao dia de
hoje e cuja interpretação contraditória deu origem às inúmeras seitas que dividiram o Cristianismo desde os primeiros
séculos.
Segundo advento do Cristo.
43. Disse então Jesus a seus discípulos: Se algum quiser vir nas
minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me;
— porquanto, aquele que quiser salvar a vida a perderá e aquele
que perder a vida por amor de mim a encontrará de novo. — De que serviria a um homem ganhar o mundo inteiro e perder
a alma? Ou por que preço poderá o homem comprar sua alma,
depois de a ter perdido? — Porque, o Filho do homem há de vir na
glória de seu Pai, com seus anjos, e então dará a cada um
segundo as suas obras. — Digo-vos, em verdade, que alguns daqueles que aqui se
encontram não sofrerão a morte, sem que tenham visto vir o
Filho do homem no seu reino. (S. Mateus, 16:24–28.)
44. Então, levantando-se do meio da assembleia, o sumo-sacerdote
interrogou a Jesus desta forma: Nada respondes ao que estes
depõem contra ti? — Mas Jesus se conservava em silêncio e
não respondeu. Interrogou-o de novo o sumo-sacerdote: És o Cristo,
o Filho de Deus para sempre Bendito? — Jesus lhe respondeu:
Eu o sou e vereis um dia o Filho do homem assentado à
direita da majestade de Deus e vindo sobre as nuvens do céu. — Logo o sumo-sacerdote, rasgando as vestes, lhe diz: Que
necessidade temos de mais testemunhos? (S. Marcos, 16:60 a 63.)
45. Jesus anuncia o seu segundo advento, mas não diz que
voltará à Terra com um corpo carnal, nem que personificará
o Consolador. Apresenta-se como tendo de vir em Espírito, na glória de seu Pai, a julgar o mérito e o demérito e
dar a cada um segundo as suas obras, quando os tempos
forem chegados.
Estas palavras: “Alguns há dos que aqui estão que não sofrerão a morte sem terem visto vir o Filho do homem no seu reinado” parecem encerrar uma contradição, pois é incontestável que ele não veio em vida de nenhum daqueles que estavam presentes. Jesus, entretanto, não podia enganar-se numa previsão daquela natureza e, sobretudo, com relação a uma coisa contemporânea e que lhe dizia pessoalmente respeito. Há, primeiro, que indagar se suas palavras foram sempre reproduzidas fielmente. É de duvidar-se, desde que se considere que ele nada escreveu; que elas só foram registradas depois de sua morte; que o mesmo discurso cada evangelista o exarou em termos diferentes, o que constitui prova evidente de que as expressões de que eles se serviram não são textualmente as de que se serviu Jesus. Além disso, é provável que o sentido tenha sofrido alterações ao passar pelas traduções sucessivas.
Por outro lado, é indubitável que, se Jesus houvesse dito tudo o que pudera dizer, ele se teria expressado sobre todas as coisas de modo claro e preciso, sem dar lugar a qualquer equívoco, conforme o fez com relação aos princípios de moral, ao passo que foi obrigado a velar o seu pensamento acerca dos assuntos que não julgou conveniente aprofundar. Persuadidos de que a geração de que faziam parte testemunharia o que ele anunciava, os discípulos foram levados a interpretar o pensamento de Jesus de acordo com aquela idéia. Assim é que redigiram do ponto de vista do presente o que o Mestre dissera, fazendo-o de maneira mais absoluta do que ele próprio o teria feito. Seja como for, o fato é que as coisas não se passaram como eles o supuseram.
Estas palavras: “Alguns há dos que aqui estão que não sofrerão a morte sem terem visto vir o Filho do homem no seu reinado” parecem encerrar uma contradição, pois é incontestável que ele não veio em vida de nenhum daqueles que estavam presentes. Jesus, entretanto, não podia enganar-se numa previsão daquela natureza e, sobretudo, com relação a uma coisa contemporânea e que lhe dizia pessoalmente respeito. Há, primeiro, que indagar se suas palavras foram sempre reproduzidas fielmente. É de duvidar-se, desde que se considere que ele nada escreveu; que elas só foram registradas depois de sua morte; que o mesmo discurso cada evangelista o exarou em termos diferentes, o que constitui prova evidente de que as expressões de que eles se serviram não são textualmente as de que se serviu Jesus. Além disso, é provável que o sentido tenha sofrido alterações ao passar pelas traduções sucessivas.
Por outro lado, é indubitável que, se Jesus houvesse dito tudo o que pudera dizer, ele se teria expressado sobre todas as coisas de modo claro e preciso, sem dar lugar a qualquer equívoco, conforme o fez com relação aos princípios de moral, ao passo que foi obrigado a velar o seu pensamento acerca dos assuntos que não julgou conveniente aprofundar. Persuadidos de que a geração de que faziam parte testemunharia o que ele anunciava, os discípulos foram levados a interpretar o pensamento de Jesus de acordo com aquela idéia. Assim é que redigiram do ponto de vista do presente o que o Mestre dissera, fazendo-o de maneira mais absoluta do que ele próprio o teria feito. Seja como for, o fato é que as coisas não se passaram como eles o supuseram.
46. A grande e importante lei da reencarnação foi um dos
pontos capitais que Jesus não pôde desenvolver, porque os
homens do seu tempo não se achavam suficientemente preparados
para idéias dessa ordem e para as suas consequências.
Contudo, assentou o princípio da referida lei, como
o fez relativamente a tudo mais. Estudada e posta em evidência
nos dias atuais pelo Espiritismo, a lei da reencarnação constitui a chave para o entendimento de muitas passagens
do Evangelho que, sem ela, parecem verdadeiros
contra-sensos.
É por meio dessa lei que se encontra a explicação racional das palavras acima, admitidas que sejam como textuais. Uma vez que elas não podem ser aplicadas às pessoas dos apóstolos, é evidente que se referem ao futuro reinado do Cristo, isto é, ao tempo em que a sua doutrina, mais bem compreendida, for lei universal. Dizendo que alguns dos ali presentes na ocasião veriam o seu advento, ele forçosamente se referia aos que estarão vivos de novo nessa época. Os judeus, porém, imaginavam que lhes seria dado ver tudo o que Jesus anunciava e tomavam ao pé da letra suas frases alegóricas.
Aliás, algumas de suas predições se realizaram no devido tempo, tais como a ruína de Jerusalém, as desgraças que se lhe seguiram e a dispersão dos judeus. Sua visão, porém, se projetava muito mais longe, de sorte que, quando falava do presente, sempre aludia ao futuro.
É por meio dessa lei que se encontra a explicação racional das palavras acima, admitidas que sejam como textuais. Uma vez que elas não podem ser aplicadas às pessoas dos apóstolos, é evidente que se referem ao futuro reinado do Cristo, isto é, ao tempo em que a sua doutrina, mais bem compreendida, for lei universal. Dizendo que alguns dos ali presentes na ocasião veriam o seu advento, ele forçosamente se referia aos que estarão vivos de novo nessa época. Os judeus, porém, imaginavam que lhes seria dado ver tudo o que Jesus anunciava e tomavam ao pé da letra suas frases alegóricas.
Aliás, algumas de suas predições se realizaram no devido tempo, tais como a ruína de Jerusalém, as desgraças que se lhe seguiram e a dispersão dos judeus. Sua visão, porém, se projetava muito mais longe, de sorte que, quando falava do presente, sempre aludia ao futuro.
Sinais precursores.
47. Também ouvireis falar de guerra e de rumores de guerra;
tratai de não vos perturbardes, porquanto é preciso que essas
coisas se deem; mas, ainda não será o fim — pois ver-se-á povo
levantar-se contra povo e reino contra reino; e haverá pestes,
fomes e tremores de terra em diversos lugares — todas essas
coisas serão apenas o começo das dores. (S. Mateus, 24:6–8.)
48. Então, o irmão entregará o irmão para ser morto; os filhos
se levantarão contra seus pais e suas mães e os farão
morrer. — Sereis odiados de toda a gente por causa do meu
nome; mas, aquele que perseverar até ao fim será salvo.
(S. Marcos, 13:12–13.)
49. Quando virdes que a abominação da desolação, que foi predita
pelo profeta Daniel, está no lugar santo (que aquele que lê
entenda bem o que lê); — fujam então para as montanhas os que
estiverem na Judeia*; — não desça aquele que estiver no telhado,
para levar de sua casa qualquer coisa; — e não volte para apanhar
suas roupas aquele que estiver no campo. — Mas, ai das
mulheres que estiverem grávidas ou amamentando nesses dias.
— Pedi a Deus que a vossa fuga não se dê durante o inverno, nem em dia de sábado — porquanto a aflição desse tempo será tão
grande, como ainda não houve igual desde o começo do mundo
até o presente e como nunca mais haverá. — E se esses dias não
fossem abreviados, nenhum homem se salvaria; mas esses dias
serão abreviados em favor dos eleitos. (S. Mateus, 24:15–22.)
* Esta expressão: “a abominação da desolação” não só carece de sentido, como se presta ao ridículo. A tradução de Ostervald diz: “A abominação que causa a desolação”, o que é muito diferente. O sentido então se torna perfeitamente claro, porquanto se compreende que as abominações hajam de acarretar a desolação, como castigo. Quando a abominação, diz Jesus, se instalar no lugar santo, também a desolação para aí virá e isso constituirá um sinal de que estão próximos os tempos.
* Esta expressão: “a abominação da desolação” não só carece de sentido, como se presta ao ridículo. A tradução de Ostervald diz: “A abominação que causa a desolação”, o que é muito diferente. O sentido então se torna perfeitamente claro, porquanto se compreende que as abominações hajam de acarretar a desolação, como castigo. Quando a abominação, diz Jesus, se instalar no lugar santo, também a desolação para aí virá e isso constituirá um sinal de que estão próximos os tempos.
50. Logo depois desses dias de aflição, o Sol se obscurecerá
e a Lua deixará de dar sua luz; as estrelas cairão do céu e as
potestades dos céus serão abaladas. — Então, o sinal do Filho do homem aparecerá no céu e todos
os povos da Terra estarão em prantos e em gemidos e verão o Filho
do homem vindo sobre as nuvens do céu com grande majestade. — Ele enviará seus anjos, que farão ouvir a voz retumbante de
suas trombetas e que reunirão seus eleitos dos quatro cantos do
mundo, de uma extremidade a outra do céu. — Aprendei uma comparação tirada da figueira. Quando seus
ramos já estão tenros e dão folhas, sabeis que está próximo o
estio. — Do mesmo modo quando virdes todas essas coisas, sabei
que vem próximo o Filho do homem, que ele se acha como que à
porta. — Digo-vos, em verdade, que esta raça não passará, sem que
todas essas coisas se tenham cumprido. (S. Mateus, 24:29–34.)
E acontecerá no advento do Filho do homem o que aconteceu ao tempo de Noé — pois, como nos últimos tempos antes do dilúvio, os homens comiam e bebiam, se casavam e casavam seus filhos, até ao dia em que Noé entrou na arca; — e assim como eles não conheceram o momento do dilúvio, senão quando este sobreveio e arrebatou toda a gente, assim também será no advento do Filho do homem. (S. Mateus, 24:37–39.)
E acontecerá no advento do Filho do homem o que aconteceu ao tempo de Noé — pois, como nos últimos tempos antes do dilúvio, os homens comiam e bebiam, se casavam e casavam seus filhos, até ao dia em que Noé entrou na arca; — e assim como eles não conheceram o momento do dilúvio, senão quando este sobreveio e arrebatou toda a gente, assim também será no advento do Filho do homem. (S. Mateus, 24:37–39.)
51. Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém o sabe, nem os
anjos que estão no céu, nem o Filho, mas somente o Pai. (S. Marcos,
13:32.)
52. Em verdade, em verdade vos digo: chorareis e gemereis, e o
mundo se rejubilará; estareis em tristeza, mas a vossa tristeza se
mudará em alegria. — Uma mulher, quando dá à luz, está em dor,
porque é vinda a sua hora; mas depois que ela dá à luz um filho,
não mais se lembra de todos os males que sofreu, pela alegria que
experimenta de haver posto no mundo um homem. — É assim
que agora estais em tristeza; mas, eu vos verei de novo e o vosso
coração rejubilará e ninguém vos arrebatará a vossa alegria.
(S. João, 16:20 a 22.)
53. Levantar-se-ão muitos falsos profetas que seduzirão a muitas
pessoas; — e, porque abundará a iniquidade, a caridade de
muitos esfriará; — mas, aquele que perseverar até o fim será salvo.
— E este Evangelho do reino será pregado em toda a Terra,
para servir de testemunho a todas as nações. É então que o fim
chegará. (S. Mateus, 24:11–14.)
54. É evidentemente alegórico este quadro do fim dos tempos,
como a maioria dos que Jesus compunha. Pelo seu
vigor, as imagens que ele encerra são de natureza a impressionar
inteligências ainda rudes. Para tocar fortemente
aquelas imaginações pouco sutis, eram necessárias pinturas
vigorosas, de cores bem acentuadas. Ele se dirigia
principalmente ao povo, aos homens menos esclarecidos,
incapazes de compreender as abstrações metafísicas e de
apanhar a delicadeza das formas. A fim de atingir o coração, fazia-se-lhe mister falar aos olhos, com o auxílio de sinais materiais, e aos ouvidos, por meio da força da
linguagem.
Como consequência natural daquela disposição de espírito, à suprema potestade, segundo a crença de então, não era possível manifestar-se, a não ser por meio de fatos extraordinários, sobrenaturais. Quanto mais impossíveis fossem esses fatos, tanto mais facilmente aceita era a probabilidade deles.
O Filho do homem, a vir sobre nuvens, com grande majestade, cercado de seus anjos e ao som de trombetas, lhes parecia de muito maior imponência, do que a simples vinda de uma entidade investida apenas de poder moral. Por isso mesmo, os judeus, que esperavam no Messias um rei terreno, mais poderoso do que todos os outros reis, destinado a colocar-lhes a nação à frente de todas as demais e a reerguer o trono de David e de Salomão, não quiseram reconhecê-lo no humilde filho de um carpinteiro, sem autoridade material.
No entanto, aquele pobre proletário da Judeia se tornou o maior entre os grandes; conquistou para a sua soberania maior número de reinos, do que os mais poderosos potentados; exclusivamente com a sua palavra e o concurso de alguns miseráveis pescadores, revolucionou o mundo e a ele é que os judeus virão a dever sua reabilitação. Disse, pois, uma verdade, quando, respondendo a esta pergunta de Pilatos — “És rei?” —, respondeu: “Tu o dizes.”
Como consequência natural daquela disposição de espírito, à suprema potestade, segundo a crença de então, não era possível manifestar-se, a não ser por meio de fatos extraordinários, sobrenaturais. Quanto mais impossíveis fossem esses fatos, tanto mais facilmente aceita era a probabilidade deles.
O Filho do homem, a vir sobre nuvens, com grande majestade, cercado de seus anjos e ao som de trombetas, lhes parecia de muito maior imponência, do que a simples vinda de uma entidade investida apenas de poder moral. Por isso mesmo, os judeus, que esperavam no Messias um rei terreno, mais poderoso do que todos os outros reis, destinado a colocar-lhes a nação à frente de todas as demais e a reerguer o trono de David e de Salomão, não quiseram reconhecê-lo no humilde filho de um carpinteiro, sem autoridade material.
No entanto, aquele pobre proletário da Judeia se tornou o maior entre os grandes; conquistou para a sua soberania maior número de reinos, do que os mais poderosos potentados; exclusivamente com a sua palavra e o concurso de alguns miseráveis pescadores, revolucionou o mundo e a ele é que os judeus virão a dever sua reabilitação. Disse, pois, uma verdade, quando, respondendo a esta pergunta de Pilatos — “És rei?” —, respondeu: “Tu o dizes.”
55. É de notar-se que, entre os antigos, os tremores de
terra e o obscurecimento do Sol eram acessórios forçados
de todos os acontecimentos e de todos os presságios sinistros. Com eles deparamos, por ocasião da morte de
Jesus, da de César e num sem-número de outras circunstâncias
da história do paganismo. Se tais fenômenos se
houvessem produzido tão amiudadas vezes quantas são
relatados, fora de ter-se por impossível que os homens não
houvessem guardado deles lembrança pela tradição. Aqui,
acrescenta-se a queda de estrelas do céu, como que a mostrar
às gerações futuras, mais esclarecidas, que não há nisso
senão uma ficção, pois que agora se sabe que as estrelas
não podem cair.
56. Entretanto, sob essas alegorias, grandes verdades se
ocultam. Há, primeiramente, a predição das calamidades
de todo gênero que assolarão e dizimarão a humanidade,
calamidades decorrentes da luta suprema entre o bem e o
mal, entre a fé e a incredulidade, entre as ideias progressistas
e as ideias retrógradas. Há, em segundo lugar, a da
difusão, por toda a Terra, do Evangelho restaurado na sua
pureza primitiva; depois, a do reinado do bem, que será o
da paz e da fraternidade universais, a derivar do código de
moral evangélica, posto em prática por todos os povos. Será,
verdadeiramente, o reino de Jesus, pois que ele presidirá à
sua implantação, passando os homens a viver sob a égide
da sua lei. Será o reinado da felicidade, porquanto diz ele
que — “depois dos dias de aflição, virão os de alegria.”
57. Quando sucederão tais coisas? “Ninguém o sabe, diz
Jesus, nem mesmo o Filho.” Mas, quando chegar o momento,
os homens serão advertidos por meio de sinais precursores.
Esses indícios, porém, não estarão nem no Sol, nem nas estrelas; mostrar-se-ão no estado social e nos fenômenos
mais de ordem moral do que físicos e que, em parte, se
podem deduzir das suas alusões.
É indubitável que aquela mutação não poderia operar-se em vida dos apóstolos, pois, do contrário, Jesus não lhe desconheceria o momento. Aliás, semelhante transformação não era possível se desse dentro de apenas alguns anos. Contudo, dela lhes fala como se eles a houvessem de presenciar; é que, com efeito, eles poderão estar reencarnados quando a transformação se der e, até, colaborar na sua efetivação. Ele ora fala da sorte próxima de Jerusalém, ora toma esse fato por ponto de referência ao que ocorreria no futuro.
É indubitável que aquela mutação não poderia operar-se em vida dos apóstolos, pois, do contrário, Jesus não lhe desconheceria o momento. Aliás, semelhante transformação não era possível se desse dentro de apenas alguns anos. Contudo, dela lhes fala como se eles a houvessem de presenciar; é que, com efeito, eles poderão estar reencarnados quando a transformação se der e, até, colaborar na sua efetivação. Ele ora fala da sorte próxima de Jerusalém, ora toma esse fato por ponto de referência ao que ocorreria no futuro.
58. Será que, predizendo a sua segunda vinda, era o fim do
mundo o que Jesus anunciava, dizendo: “Quando o Evangelho
for pregado por toda a Terra, então é que virá o fim?”
Não é racional se suponha que Deus destrua o mundo precisamente quando ele entre no caminho do progresso moral, pela prática dos ensinos evangélicos. Nada, aliás, nas palavras do Cristo, indica uma destruição universal que, em tais condições, não se justificaria.
Devendo a prática geral do Evangelho determinar grande melhora no estado moral dos homens, ela, por isso mesmo, trará o reinado do bem e acarretará a queda do mal. É, pois, o fim do mundo velho, do mundo governado pelos preconceitos, pelo orgulho, pelo egoísmo, pelo fanatismo, pela incredulidade, pela cupidez, por todas as paixões pecaminosas, que o Cristo aludia, ao dizer: “Quando o Evangelho for pregado por toda a Terra, então é que virá o fim.” Esse fim, porém, para chegar, ocasionaria uma luta e é dessa luta que advirão os males por ele previstos.
Não é racional se suponha que Deus destrua o mundo precisamente quando ele entre no caminho do progresso moral, pela prática dos ensinos evangélicos. Nada, aliás, nas palavras do Cristo, indica uma destruição universal que, em tais condições, não se justificaria.
Devendo a prática geral do Evangelho determinar grande melhora no estado moral dos homens, ela, por isso mesmo, trará o reinado do bem e acarretará a queda do mal. É, pois, o fim do mundo velho, do mundo governado pelos preconceitos, pelo orgulho, pelo egoísmo, pelo fanatismo, pela incredulidade, pela cupidez, por todas as paixões pecaminosas, que o Cristo aludia, ao dizer: “Quando o Evangelho for pregado por toda a Terra, então é que virá o fim.” Esse fim, porém, para chegar, ocasionaria uma luta e é dessa luta que advirão os males por ele previstos.
Vossos filhos e vossas filhas profetizarão.
59. Nos últimos tempos, diz o Senhor, espalharei do meu espírito
por sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão;
vossos jovens terão visões e vossos velhos terão sonhos. — Nesses
dias, espalharei do meu espírito sobre os meus servidores e
servidoras e eles profetizarão. (Atos, 2:17–18; Joel, 2:28–29.)
60. Se considerarmos o estado atual do mundo físico e do
mundo moral, as tendências, aspirações e pressentimentos
das massas, a decadência das ideias antigas que em
vão se debatem há um século contra as ideias novas, não
poderemos duvidar de que uma nova ordem de coisas se
prepara e que o mundo velho chega a seu termo.
Se, agora, levando em conta a forma alegórica de alguns quadros e perscrutando o sentido profundo das palavras de Jesus, compararmos a situação atual com os tempos por ele descritos, como assinaladores da era da renovação, não poderemos deixar de convir em que muitas das suas predições se estão presentemente realizando; donde a conclusão de que atingimos os tempos anunciados, o que confirmam, em todos os pontos do globo, os Espíritos que se manifestam.
Se, agora, levando em conta a forma alegórica de alguns quadros e perscrutando o sentido profundo das palavras de Jesus, compararmos a situação atual com os tempos por ele descritos, como assinaladores da era da renovação, não poderemos deixar de convir em que muitas das suas predições se estão presentemente realizando; donde a conclusão de que atingimos os tempos anunciados, o que confirmam, em todos os pontos do globo, os Espíritos que se manifestam.
61. Como vimos (cap. I, n.º 32), coincidindo com outras
circunstâncias, o advento do Espiritismo realiza uma das
mais importantes predições de Jesus, pela influência que
ele forçosamente tem de exercer sobre as ideias. Ele se encontra, além disso, anunciado, em os Atos dos Apóstolos:
“Nos últimos tempos, diz o Senhor, derramarei do meu Espírito
sobre toda carne; vossos filhos e filhas profetizarão.”
É a predição inequívoca da vulgarização da mediunidade, que presentemente se revela em indivíduos de todas as idades, de ambos os sexos e de todas as condições; a predição, por conseguinte, da manifestação universal dos Espíritos, pois que sem os Espíritos não haveria médiuns. Isso, conforme está dito, acontecerá nos últimos tempos; ora, visto que não chegamos ao fim do mundo, mas, ao contrário, à época da sua regeneração, devemos entender aquelas palavras como indicativas dos últimos tempos do mundo moral que chega a seu termo. (O Evangelho segundo o Espiritismo , cap. XXI.)
É a predição inequívoca da vulgarização da mediunidade, que presentemente se revela em indivíduos de todas as idades, de ambos os sexos e de todas as condições; a predição, por conseguinte, da manifestação universal dos Espíritos, pois que sem os Espíritos não haveria médiuns. Isso, conforme está dito, acontecerá nos últimos tempos; ora, visto que não chegamos ao fim do mundo, mas, ao contrário, à época da sua regeneração, devemos entender aquelas palavras como indicativas dos últimos tempos do mundo moral que chega a seu termo. (O Evangelho segundo o Espiritismo , cap. XXI.)
Juízo final.
62. Ora, quando o Filho do homem vier em sua majestade, acompanhado
de todos os anjos, assentar-se-á no trono de sua glória;
— e, reunidas à sua frente todas as nações, ele separará uns dos
outros, como um pastor separa dos bodes as ovelhas, e colocará
à sua direita as ovelhas e à sua esquerda os bodes. — Então, dirá
o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai,
etc. (S. Mateus, 25:31–46. —
O Evangelho segundo o Espiritismo,
cap. XV.)
63. Tendo que reinar na Terra o bem, necessário é sejam
dela excluídos os Espíritos endurecidos no mal e que possam
acarretar-lhe perturbações. Deus permitiu que eles aí
permanecessem o tempo de que precisavam para se melhorarem;
mas, chegado o momento em que, pelo progresso moral de seus habitantes, o globo terráqueo tem de ascender
na hierarquia dos mundos, interdito será ele, como
morada, a encarnados e desencarnados que não hajam
aproveitado os ensinamentos que uns e outros se achavam
em condições de aí receber. Serão exilados para mundos
inferiores, como o foram outrora para a Terra os da raça
adâmica, vindo substituí-los Espíritos melhores. Essa separação,
a que Jesus presidirá, é que se acha figurada por
estas palavras sobre o juízo final: “Os bons passarão à minha
direita e os maus à minha esquerda.” (Cap. XI, n.
os 31 e
seguintes.)
64. A doutrina de um juízo final, único e universal, pondo
fim para sempre à humanidade, repugna à razão, por
implicar a inatividade de Deus, durante a eternidade que
precedeu à criação da Terra e durante a eternidade
que se seguirá à sua destruição. Que utilidade teriam então
o Sol, a Lua e as estrelas que, segundo a Gênese, foram
feitos para iluminar o mundo? Causa espanto que tão imensa
obra se haja produzido para tão pouco tempo e a benefício de seres votados de antemão, em sua maioria, aos
suplícios eternos.
65. Materialmente, a ideia de um julgamento único seria,
até certo ponto, admissível para os que não procuram a
razão das coisas, quando se cria que a humanidade toda se
achava concentrada na Terra e que para seus habitantes
fora feito tudo o que o universo contém. É, porém, inadmissível,
desde que se sabe que há milhares de milhares de
mundos semelhantes, que perpetuam as humanidades pela
eternidade em fora e entre os quais a Terra é dos menos
consideráveis, simples ponto imperceptível.
66. Moralmente, um juízo definitivo e sem apelação não se
concilia com a bondade infinita do Criador, que Jesus nos
apresenta de contínuo como um bom Pai, que deixa sempre
aberta uma senda para o arrependimento e que está
pronto sempre a estender os braços ao filho pródigo. Se
Jesus entendesse o juízo naquele sentido, desmentiria suas
próprias palavras.
Ao demais, se o juízo final houvesse de apanhar de improviso os homens, em meio de seus trabalhos ordinários, e grávidas as mulheres, caberia perguntar-se com que fim Deus, que não faz coisa alguma inútil ou injusta, faria nascessem crianças e criaria almas novas naquele momento supremo, no termo fatal da humanidade. Seria para submetê-las a julgamento logo ao saírem do ventre materno, antes de terem consciência de si mesmas, quando, a outros, milhares de anos foram concedidos para se inteirarem do que respeita à própria individualidade? Para que lado, direito ou esquerdo, iriam essas almas, que ainda não são nem boas nem más e para as quais, no entanto, todos os caminhos de ulterior progresso se encontrariam desde então fechados, visto que a humanidade não mais existiria? (Cap. II, n.º 19.)
Conservem-nas os que se contentam com semelhantes crenças; estão no seu direito e ninguém nada tem que dizer a isso; mas, não achem mau que nem toda gente partilhe delas.
Ao demais, se o juízo final houvesse de apanhar de improviso os homens, em meio de seus trabalhos ordinários, e grávidas as mulheres, caberia perguntar-se com que fim Deus, que não faz coisa alguma inútil ou injusta, faria nascessem crianças e criaria almas novas naquele momento supremo, no termo fatal da humanidade. Seria para submetê-las a julgamento logo ao saírem do ventre materno, antes de terem consciência de si mesmas, quando, a outros, milhares de anos foram concedidos para se inteirarem do que respeita à própria individualidade? Para que lado, direito ou esquerdo, iriam essas almas, que ainda não são nem boas nem más e para as quais, no entanto, todos os caminhos de ulterior progresso se encontrariam desde então fechados, visto que a humanidade não mais existiria? (Cap. II, n.º 19.)
Conservem-nas os que se contentam com semelhantes crenças; estão no seu direito e ninguém nada tem que dizer a isso; mas, não achem mau que nem toda gente partilhe delas.
67. O juízo, pelo processo da emigração, conforme ficou
explicado acima (n.º 63), é racional; funda-se na mais rigorosa
justiça, visto que conserva para o Espírito, eternamente,
o seu livre-arbítrio; não constitui privilégio para ninguém;
a todas as suas criaturas, sem exceção alguma, concede
Deus igual liberdade de ação para progredirem; o próprio
aniquilamento de um mundo, acarretando a destruição do
corpo, nenhuma interrupção ocasionará à marcha progressiva
do Espírito. Tais as consequências da pluralidade dos
mundos e da pluralidade das existências.
Segundo essa interpretação, não é exata a qualificação de juízo final, pois que os Espíritos passam por análogas fieiras a cada renovação dos mundos por eles habitados, até que atinjam certo grau de perfeição. Não há, portanto, juízo final propriamente dito, mas juízos gerais em todas as épocas de renovação parcial ou total da população dos mundos, por efeito das quais se operam as grandes emigrações e imigrações de Espíritos.
Segundo essa interpretação, não é exata a qualificação de juízo final, pois que os Espíritos passam por análogas fieiras a cada renovação dos mundos por eles habitados, até que atinjam certo grau de perfeição. Não há, portanto, juízo final propriamente dito, mas juízos gerais em todas as épocas de renovação parcial ou total da população dos mundos, por efeito das quais se operam as grandes emigrações e imigrações de Espíritos.