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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1858 > Dezembro
Dezembro
O fenômeno das aparições apresenta-se hoje sob um aspecto de certo modo novo, e projeta uma viva luz sobre os mistérios da vida de além-túmulo. Antes de abordar os estranhos fatos que vamos relatar, julgamo-nos obrigados a reiterar, completando-as, as explicações dadas anteriormente.
Não se deve perder de vista que durante a vida o Espírito está unido ao corpo por uma substância semimaterial que constitui um primeiro envoltório, o qual designamos como perispírito. Tem, pois, o Espírito, dois envoltórios: um grosseiro, pesado e destrutível ─ o corpo; outro etéreo, vaporoso, indestrutível ─ o perispírito. A morte não é mais que a destruição do envoltório grosseiro; é a roupa usada que abandonamos. O envoltório semimaterial persiste e constitui, por assim dizer, um novo corpo para o Espírito.
Essa matéria eterizada ─ é bom frisar ─ absolutamente não é a alma; não passa de seu primeiro envoltório. A natureza íntima dessa substância ainda não nos é perfeitamente conhecida, mas a observação nos colocou no caminho de algumas de suas propriedades. Sabemos que ele representa um papel capital em todos os fenômenos espíritas; que após a morte ele é o agente intermediário entre o Espírito e a matéria, assim como o corpo durante a vida. Por aí se explicam uma porção de fenômenos até aqui insolúveis. Veremos em artigo subsequente o papel por ele representado nas sensações do Espírito. Além disto, a descoberta, se assim podemos dizer, do perispírito, permitiu que a ciência espírita desse um passo enorme e entrasse numa rota inteiramente nova.
Mas esse perispírito, direis vós, não é uma criação fantástica da imaginação? Não é apenas uma dessas suposições feitas tantas vezes para explicar certos efeitos? Não. Não é obra da imaginação, pois foram os próprios Espíritos que o revelaram. Não é uma ideia fantástica, porque pode ser constatado pelos sentidos; porque pode ser visto e tocado. A coisa existe; nossa é apenas a denominação. Para as coisas novas necessitamos de vocábulos novos. Os próprios Espíritos o adotaram nas comunicações que estabelecemos com eles.
Por sua natureza, e em estado normal, o perispírito é para nós invisível, mas pode sofrer modificações que o tornem perceptível à visão, tanto por uma espécie de condensação como por uma mudança na disposição molecular. É então que nos aparece sob uma forma vaporosa. A condensação (não tomemos este termo ao pé da letra, pois só o empregamos por falta de outro) a condensação, dizíamos nós, pode ser tal que o perispírito adquira as propriedades de um corpo sólido e tangível. Ele pode, entretanto, instantaneamente retomar o seu estado etéreo e invisível. Podemos fazer uma ideia desse efeito pelo do vapor, que pode passar do estado de invisibilidade ao estado brumoso, depois ao líquido e ao sólido e vice-versa. Estes diferentes estados do perispírito são o produto da vontade do Espírito e não de uma causa física exterior. Quando ele nos aparece, é que dá ao seu perispírito a propriedade necessária para torná-lo visível. De acordo com a sua vontade, ele pode estender, restringir e fazer cessar essa propriedade.
Outra propriedade da substância do perispírito é a penetrabilidade. Nenhuma matéria lhe oferece obstáculo. Ele as atravessa todas, como a luz atravessa os corpos transparentes.
O perispírito separado do corpo toma uma forma determinada e limitada e essa forma normal é a do corpo humano, mas não é constante. O Espírito pode dar-lhe, à vontade, as mais variadas aparências, inclusive a de um animal ou de uma chama. Aliás, isto se concebe muito facilmente. Não vemos homens que dão ao rosto as mais diversas expressões, imitando, a ponto de nos enganarem, a voz, assim como a expressão de outras pessoas; parecerem obesos, coxos, etc.? Quem reconheceria na cidade certos atores que só costuma ver caracterizados no palco? Se, pois, assim pode o homem dar ao seu corpo material e rígido aparências tão contrárias, com mais forte razão pode fazê-lo o Espírito com um envoltório eminentemente plástico e flexível e que pode prestar-se a todos os caprichos da vontade.
Os Espíritos, pois, geralmente nos aparecem sob uma forma humana. Em seu estado normal, essa forma nada tem de muito característica, nada que os distinga uns dos outros de maneira muito marcante. Nos bons Espíritos, a forma é, via de regra, bela e regular: longos cabelos flutuam sobre as espáduas e amplas túnicas envolvemlhes o corpo. Mas se quiserem ser identificados, tomam exatamente todos os traços pelos os quais foram conhecidos e até mesmo a aparência da vestimenta, se isso for necessário. Assim, por exemplo, como Espírito, Esopo não é disforme, mas se for evocado como Esopo, posto tivesse tido posteriormente várias existências, aparecerá feio e corcunda, vestindo à maneira tradicional. É talvez a roupagem o que mais intriga; se, entretanto, considerarmos que ela faz parte do envoltório semimaterial, compreenderemos que o Espírito pode dar a esse envoltório a aparência de tal ou qual vestimenta, como a de tal ou qual fisionomia.
Os Espíritos tanto podem aparecer em sonho quanto em vigília. As aparições em estado de vigília nem são raras nem novas; houve-as em todos os tempos e a História as registra em grande número. Sem remontar ao passado, entretanto, elas hoje são muito frequentes e muitas pessoas no primeiro instante tomaram tais visões por alucinações. São frequentes, principalmente nos casos de morte de pessoas ausentes que vêm visitar parentes e amigos. Muitas vezes não têm um objetivo determinado, mas em geral pode-se dizer que os Espíritos que assim nos aparecem são seres para nós atraídos pela simpatia.
Conhecemos uma jovem senhora que muitas vezes via em sua casa, no seu quarto, com ou sem luz, homens que aí entravam e saíam, embora estivessem fechadas as portas. Ela ficava muito espantada e isto a tinha tornado de uma pusilanimidade que tocava as raias do ridículo. Um dia ela viu distintamente o seu irmão, que se achava vivo na Califórnia, prova de que o Espírito dos vivos pode vencer as distâncias e aparecer num lugar, enquanto o corpo se acha em outro.
Depois que essa senhora foi iniciada no Espiritismo, já não tem medo, porque se dá conta das visões e sabe que os Espíritos que vêm visitá-la nenhum mal lhe podem fazer. É provável que, ao lhe aparecer, o seu irmão estivesse adormecido. Se ela se tivesse dado conta de sua presença, poderia ter estabelecido uma conversação com ele, da qual ele poderia ter conservado uma vaga lembrança ao despertar. É provável, ainda, que nesse momento ele tivesse sonhando que se achava junto de sua irmã.
Dissemos que o perispírito pode adquirir tangibilidade. Falamos sobre isto a propósito das manifestações produzidas pelo Sr. Home. Sabe-se que por diversas vezes ele fez aparecerem mãos que podiam ser apalpadas como se fossem vivas, mas que de repente se extinguiam como uma sombra, mas não se tinham visto ainda corpos inteiros sob essa forma tangível. Contudo não é coisa impossível. Numa família do conhecimento íntimo de um dos nossos assinantes, um Espírito ligou-se à filha daquela família, criança de dez a onze anos, sob a forma de um belo rapaz da mesma idade. É-lhe visível como uma pessoa comum e, à vontade, torna-se visível ou invisível às outras pessoas. Presta-lhe toda sorte de bons serviços; traz-lhe brinquedos e bombons; faz o trabalho doméstico; vai comprar aquilo de que necessitam e que é mais dispendioso. Isto não é uma lenda da mística Alemanha, nem uma história medieval. É um fato atual, que se passa neste momento em que escrevemos, numa cidade da França, no seio de uma família muito respeitável. Chegamos a fazer sobre este caso estudos muito interessantes e que nos forneceram as mais originais e imprevistas revelações. Trataremos deste assunto com os nossos leitores de modo mais completo em artigo especial que brevemente publicaremos .
Não se deve perder de vista que durante a vida o Espírito está unido ao corpo por uma substância semimaterial que constitui um primeiro envoltório, o qual designamos como perispírito. Tem, pois, o Espírito, dois envoltórios: um grosseiro, pesado e destrutível ─ o corpo; outro etéreo, vaporoso, indestrutível ─ o perispírito. A morte não é mais que a destruição do envoltório grosseiro; é a roupa usada que abandonamos. O envoltório semimaterial persiste e constitui, por assim dizer, um novo corpo para o Espírito.
Essa matéria eterizada ─ é bom frisar ─ absolutamente não é a alma; não passa de seu primeiro envoltório. A natureza íntima dessa substância ainda não nos é perfeitamente conhecida, mas a observação nos colocou no caminho de algumas de suas propriedades. Sabemos que ele representa um papel capital em todos os fenômenos espíritas; que após a morte ele é o agente intermediário entre o Espírito e a matéria, assim como o corpo durante a vida. Por aí se explicam uma porção de fenômenos até aqui insolúveis. Veremos em artigo subsequente o papel por ele representado nas sensações do Espírito. Além disto, a descoberta, se assim podemos dizer, do perispírito, permitiu que a ciência espírita desse um passo enorme e entrasse numa rota inteiramente nova.
Mas esse perispírito, direis vós, não é uma criação fantástica da imaginação? Não é apenas uma dessas suposições feitas tantas vezes para explicar certos efeitos? Não. Não é obra da imaginação, pois foram os próprios Espíritos que o revelaram. Não é uma ideia fantástica, porque pode ser constatado pelos sentidos; porque pode ser visto e tocado. A coisa existe; nossa é apenas a denominação. Para as coisas novas necessitamos de vocábulos novos. Os próprios Espíritos o adotaram nas comunicações que estabelecemos com eles.
Por sua natureza, e em estado normal, o perispírito é para nós invisível, mas pode sofrer modificações que o tornem perceptível à visão, tanto por uma espécie de condensação como por uma mudança na disposição molecular. É então que nos aparece sob uma forma vaporosa. A condensação (não tomemos este termo ao pé da letra, pois só o empregamos por falta de outro) a condensação, dizíamos nós, pode ser tal que o perispírito adquira as propriedades de um corpo sólido e tangível. Ele pode, entretanto, instantaneamente retomar o seu estado etéreo e invisível. Podemos fazer uma ideia desse efeito pelo do vapor, que pode passar do estado de invisibilidade ao estado brumoso, depois ao líquido e ao sólido e vice-versa. Estes diferentes estados do perispírito são o produto da vontade do Espírito e não de uma causa física exterior. Quando ele nos aparece, é que dá ao seu perispírito a propriedade necessária para torná-lo visível. De acordo com a sua vontade, ele pode estender, restringir e fazer cessar essa propriedade.
Outra propriedade da substância do perispírito é a penetrabilidade. Nenhuma matéria lhe oferece obstáculo. Ele as atravessa todas, como a luz atravessa os corpos transparentes.
O perispírito separado do corpo toma uma forma determinada e limitada e essa forma normal é a do corpo humano, mas não é constante. O Espírito pode dar-lhe, à vontade, as mais variadas aparências, inclusive a de um animal ou de uma chama. Aliás, isto se concebe muito facilmente. Não vemos homens que dão ao rosto as mais diversas expressões, imitando, a ponto de nos enganarem, a voz, assim como a expressão de outras pessoas; parecerem obesos, coxos, etc.? Quem reconheceria na cidade certos atores que só costuma ver caracterizados no palco? Se, pois, assim pode o homem dar ao seu corpo material e rígido aparências tão contrárias, com mais forte razão pode fazê-lo o Espírito com um envoltório eminentemente plástico e flexível e que pode prestar-se a todos os caprichos da vontade.
Os Espíritos, pois, geralmente nos aparecem sob uma forma humana. Em seu estado normal, essa forma nada tem de muito característica, nada que os distinga uns dos outros de maneira muito marcante. Nos bons Espíritos, a forma é, via de regra, bela e regular: longos cabelos flutuam sobre as espáduas e amplas túnicas envolvemlhes o corpo. Mas se quiserem ser identificados, tomam exatamente todos os traços pelos os quais foram conhecidos e até mesmo a aparência da vestimenta, se isso for necessário. Assim, por exemplo, como Espírito, Esopo não é disforme, mas se for evocado como Esopo, posto tivesse tido posteriormente várias existências, aparecerá feio e corcunda, vestindo à maneira tradicional. É talvez a roupagem o que mais intriga; se, entretanto, considerarmos que ela faz parte do envoltório semimaterial, compreenderemos que o Espírito pode dar a esse envoltório a aparência de tal ou qual vestimenta, como a de tal ou qual fisionomia.
Os Espíritos tanto podem aparecer em sonho quanto em vigília. As aparições em estado de vigília nem são raras nem novas; houve-as em todos os tempos e a História as registra em grande número. Sem remontar ao passado, entretanto, elas hoje são muito frequentes e muitas pessoas no primeiro instante tomaram tais visões por alucinações. São frequentes, principalmente nos casos de morte de pessoas ausentes que vêm visitar parentes e amigos. Muitas vezes não têm um objetivo determinado, mas em geral pode-se dizer que os Espíritos que assim nos aparecem são seres para nós atraídos pela simpatia.
Conhecemos uma jovem senhora que muitas vezes via em sua casa, no seu quarto, com ou sem luz, homens que aí entravam e saíam, embora estivessem fechadas as portas. Ela ficava muito espantada e isto a tinha tornado de uma pusilanimidade que tocava as raias do ridículo. Um dia ela viu distintamente o seu irmão, que se achava vivo na Califórnia, prova de que o Espírito dos vivos pode vencer as distâncias e aparecer num lugar, enquanto o corpo se acha em outro.
Depois que essa senhora foi iniciada no Espiritismo, já não tem medo, porque se dá conta das visões e sabe que os Espíritos que vêm visitá-la nenhum mal lhe podem fazer. É provável que, ao lhe aparecer, o seu irmão estivesse adormecido. Se ela se tivesse dado conta de sua presença, poderia ter estabelecido uma conversação com ele, da qual ele poderia ter conservado uma vaga lembrança ao despertar. É provável, ainda, que nesse momento ele tivesse sonhando que se achava junto de sua irmã.
Dissemos que o perispírito pode adquirir tangibilidade. Falamos sobre isto a propósito das manifestações produzidas pelo Sr. Home. Sabe-se que por diversas vezes ele fez aparecerem mãos que podiam ser apalpadas como se fossem vivas, mas que de repente se extinguiam como uma sombra, mas não se tinham visto ainda corpos inteiros sob essa forma tangível. Contudo não é coisa impossível. Numa família do conhecimento íntimo de um dos nossos assinantes, um Espírito ligou-se à filha daquela família, criança de dez a onze anos, sob a forma de um belo rapaz da mesma idade. É-lhe visível como uma pessoa comum e, à vontade, torna-se visível ou invisível às outras pessoas. Presta-lhe toda sorte de bons serviços; traz-lhe brinquedos e bombons; faz o trabalho doméstico; vai comprar aquilo de que necessitam e que é mais dispendioso. Isto não é uma lenda da mística Alemanha, nem uma história medieval. É um fato atual, que se passa neste momento em que escrevemos, numa cidade da França, no seio de uma família muito respeitável. Chegamos a fazer sobre este caso estudos muito interessantes e que nos forneceram as mais originais e imprevistas revelações. Trataremos deste assunto com os nossos leitores de modo mais completo em artigo especial que brevemente publicaremos .
Todo aquele que pode ver os Espíritos sem auxílio de terceiros é, por isto mesmo, médium vidente. Mas, em geral, as aparições são fortuitas e acidentais.
Nós ainda não conhecíamos ninguém apto a ver os Espíritos de maneira permanente e à vontade. É dessa notável faculdade que é dotado o Sr. Adrien, membro da Sociedade de Estudos Espíritas. Ele é, simultaneamente, médium vidente, escrevente, auditivo e sensitivo. Como psicógrafo, escreve o ditado dos Espíritos, mas raramente de modo mecânico, como os médiuns inteiramente passivos, isto é, mesmo escrevendo coisas estranhas ao seu pensamento, ele tem consciência do que escreve. Como médium auditivo escuta as vozes ocultas que lhe falam. Temos na Sociedade dois outros médiuns que gozam desta faculdade no mais alto grau e que, ao mesmo tempo, são ótimos psicógrafos. Enfim, como médium sensitivo, ele sente o contato dos Espíritos e a pressão que sobre si eles exercem. Sente até comoções elétricas muito violentas que afetam as pessoas presentes. Quando magnetiza alguém, pode, à sua vontade, desde que isso seja necessário à saúde, produzir sobre essa pessoa a descarga de uma pilha voltaica.
Uma nova faculdade que nele acaba de revelar-se é a dupla vista. Sem ser sonâmbulo e conquanto inteiramente desperto, vê à vontade, a uma distância ilimitada, mesmo além dos mares, aquilo que se passa numa localidade. Vê as pessoas e aquilo que estão fazendo; descreve os lugares e os fatos com precisão cuja exatidão tem sido confirmada.
Digamos logo que o Sr. Adrien não é um desses homens fracos que se deixam arrastar pela imaginação. Ao contrário, é um homem de caráter frio, muito calmo e que vê tudo isto com o mais absoluto sangue frio, mas não diremos que com indiferença; longe disto, pois que ele leva a sério as suas faculdades e as considera como um dom da Providência que lhe foi concedido para o bem e, assim, dele se serve apenas para coisas úteis e jamais para satisfazer à vã curiosidade. É um moço de família distinta, muito honesto, de um caráter suave e benevolente e cuja educação apurada se revela na linguagem e em todas as suas maneiras. Como marinheiro e como militar já percorreu uma parte da África, da Índia e de nossas colônias.
De todas as suas faculdades como médium, a mais notável e a nosso ver a mais preciosa é a vidência. Os Espíritos lhe aparecem sob a forma descrita em nosso artigo anterior sobre as aparições. Ele os vê com uma precisão da qual podemos fazer uma ideia pelos retratos que damos a seguir, da Viúva do Malabar e da Bela Cordoeira de Lyon.
Perguntarão, entretanto, o que prova que ele vê e que não é vítima de uma ilusão? O que o prova é que quando alguém que ele não conhece, por seu intermédio evoca um parente ou um amigo que ele jamais viu, faz desse amigo um retrato de notável semelhança, como tivemos oportunidade de verificar. Assim, não temos a menor dúvida quanto a essa faculdade que ele manifesta no estado de vigília e não como sonâmbulo.
O que há talvez ainda de mais notável é que ele não vê apenas os Espíritos evocados. Ele vê ao mesmo tempo todos os que se acham presentes, evocados ou não. Ele os vê entrar e sair, ir e vir, escutar o que dizemos, rindo ou tomando-nos a sério, conforme o seu caráter. Uns são graves, outros têm o ar trocista e sardônico; por vezes um deles se aproxima de um dos assistentes e lhe põe a mão sobre o ombro ou se coloca às suas costas, enquanto outros se mantêm a distância.
Numa palavra, em toda reunião há sempre uma assembleia oculta, composta de Espíritos atraídos por sua simpatia às pessoas e pelos assuntos de que se ocupam.
Nas ruas ele vê multidões, pois, além dos Espíritos familiares que acompanham os seus protegidos, há, como entre nós, a massa dos indiferentes e dos desocupados.
Diz-nos ele que em casa jamais se acha só e nunca se aborrece, pois há sempre uma comunidade com a qual se distrai.
Sua faculdade não alcança apenas os Espíritos dos mortos, mas também os dos vivos. Quando vê uma pessoa, pode fazer abstração de seu corpo; então, o Espírito dessa pessoa lhe aparece como se estivesse separado e pode com ele conversar. Assim, por exemplo, numa criança, pode ver o Espírito nela encarnado, apreciar a sua natureza e saber o que era antes de encarnar. Esta faculdade, elevada a tal nível, nos ensina mais do que todas as comunicações escritas sobre a natureza do mundo dos Espíritos; ela no-lo mostra tal qual ele é, e se não o vemos por nossos próprios olhos, a descrição que ele nos faz leva-nos a vê-lo por pensamento.
Os Espíritos deixam de ser seres abstratos e se tornam seres reais, que estão ao nosso lado; que nos acotovelam a cada passo. Como sabemos agora que seu contato pode ser material, compreendemos a causa de uma porção de impressões que sentimos sem delas nos darmos conta.
Assim, colocamos o Sr. Adrien entre os mais notáveis médiuns e na primeira fila daqueles que nos forneceram os mais preciosos elementos para o conhecimento do mundo espírita. Nós o colocamos na primeira linha, sobretudo por suas qualidades pessoais, que são as de um homem de bem por excelência e que o tornam eminentemente simpático aos Espíritos de uma ordem mais elevada, o que nem sempre se dá com os médiuns de influência puramente física. Sem dúvida entre estes últimos há os que farão mais sensação; que melhor cativarão a curiosidade pública, mas, para o observador, para quem queira sondar os mistérios desse mundo maravilhoso, o Sr. Adrien é o mais poderoso auxiliar que já encontramos.
Assim, a sua faculdade e a sua complacência foram postas a serviço de nossa instrução pessoal, quer na intimidade, quer nas sessões da Sociedade, quer, enfim, em visitas a diversos locais de reuniões. Estivemos juntos em teatros, em bailes, em passeios, em hospitais, nos cemitérios e nas igrejas. Assistimos a enterros, a casamentos, a batizados e a sermões. Em toda parte observamos Espíritos que ali se vinham reunir. Com alguns desses estabelecemos conversação, interrogamo-los e aprendemos muitas coisas que tornaremos proveitosas aos nossos leitores, porque nosso objetivo é o de fazê-los penetrar, como nós, num mundo tão novo para nós.
O microscópio revelou-nos o mundo dos infinitamente pequenos, de que nem suspeitávamos, embora estivesse ao alcance de nossas mãos. O telescópio revelounos a infinidade dos mundos celestes de que nem suspeitávamos. O Espiritismo desvenda-nos o mundo dos Espíritos que está por toda parte, tanto ao nosso lado como nos espaços, mundo real que reage sobre nós incessantemente.
Nós ainda não conhecíamos ninguém apto a ver os Espíritos de maneira permanente e à vontade. É dessa notável faculdade que é dotado o Sr. Adrien, membro da Sociedade de Estudos Espíritas. Ele é, simultaneamente, médium vidente, escrevente, auditivo e sensitivo. Como psicógrafo, escreve o ditado dos Espíritos, mas raramente de modo mecânico, como os médiuns inteiramente passivos, isto é, mesmo escrevendo coisas estranhas ao seu pensamento, ele tem consciência do que escreve. Como médium auditivo escuta as vozes ocultas que lhe falam. Temos na Sociedade dois outros médiuns que gozam desta faculdade no mais alto grau e que, ao mesmo tempo, são ótimos psicógrafos. Enfim, como médium sensitivo, ele sente o contato dos Espíritos e a pressão que sobre si eles exercem. Sente até comoções elétricas muito violentas que afetam as pessoas presentes. Quando magnetiza alguém, pode, à sua vontade, desde que isso seja necessário à saúde, produzir sobre essa pessoa a descarga de uma pilha voltaica.
Uma nova faculdade que nele acaba de revelar-se é a dupla vista. Sem ser sonâmbulo e conquanto inteiramente desperto, vê à vontade, a uma distância ilimitada, mesmo além dos mares, aquilo que se passa numa localidade. Vê as pessoas e aquilo que estão fazendo; descreve os lugares e os fatos com precisão cuja exatidão tem sido confirmada.
Digamos logo que o Sr. Adrien não é um desses homens fracos que se deixam arrastar pela imaginação. Ao contrário, é um homem de caráter frio, muito calmo e que vê tudo isto com o mais absoluto sangue frio, mas não diremos que com indiferença; longe disto, pois que ele leva a sério as suas faculdades e as considera como um dom da Providência que lhe foi concedido para o bem e, assim, dele se serve apenas para coisas úteis e jamais para satisfazer à vã curiosidade. É um moço de família distinta, muito honesto, de um caráter suave e benevolente e cuja educação apurada se revela na linguagem e em todas as suas maneiras. Como marinheiro e como militar já percorreu uma parte da África, da Índia e de nossas colônias.
De todas as suas faculdades como médium, a mais notável e a nosso ver a mais preciosa é a vidência. Os Espíritos lhe aparecem sob a forma descrita em nosso artigo anterior sobre as aparições. Ele os vê com uma precisão da qual podemos fazer uma ideia pelos retratos que damos a seguir, da Viúva do Malabar e da Bela Cordoeira de Lyon.
Perguntarão, entretanto, o que prova que ele vê e que não é vítima de uma ilusão? O que o prova é que quando alguém que ele não conhece, por seu intermédio evoca um parente ou um amigo que ele jamais viu, faz desse amigo um retrato de notável semelhança, como tivemos oportunidade de verificar. Assim, não temos a menor dúvida quanto a essa faculdade que ele manifesta no estado de vigília e não como sonâmbulo.
O que há talvez ainda de mais notável é que ele não vê apenas os Espíritos evocados. Ele vê ao mesmo tempo todos os que se acham presentes, evocados ou não. Ele os vê entrar e sair, ir e vir, escutar o que dizemos, rindo ou tomando-nos a sério, conforme o seu caráter. Uns são graves, outros têm o ar trocista e sardônico; por vezes um deles se aproxima de um dos assistentes e lhe põe a mão sobre o ombro ou se coloca às suas costas, enquanto outros se mantêm a distância.
Numa palavra, em toda reunião há sempre uma assembleia oculta, composta de Espíritos atraídos por sua simpatia às pessoas e pelos assuntos de que se ocupam.
Nas ruas ele vê multidões, pois, além dos Espíritos familiares que acompanham os seus protegidos, há, como entre nós, a massa dos indiferentes e dos desocupados.
Diz-nos ele que em casa jamais se acha só e nunca se aborrece, pois há sempre uma comunidade com a qual se distrai.
Sua faculdade não alcança apenas os Espíritos dos mortos, mas também os dos vivos. Quando vê uma pessoa, pode fazer abstração de seu corpo; então, o Espírito dessa pessoa lhe aparece como se estivesse separado e pode com ele conversar. Assim, por exemplo, numa criança, pode ver o Espírito nela encarnado, apreciar a sua natureza e saber o que era antes de encarnar. Esta faculdade, elevada a tal nível, nos ensina mais do que todas as comunicações escritas sobre a natureza do mundo dos Espíritos; ela no-lo mostra tal qual ele é, e se não o vemos por nossos próprios olhos, a descrição que ele nos faz leva-nos a vê-lo por pensamento.
Os Espíritos deixam de ser seres abstratos e se tornam seres reais, que estão ao nosso lado; que nos acotovelam a cada passo. Como sabemos agora que seu contato pode ser material, compreendemos a causa de uma porção de impressões que sentimos sem delas nos darmos conta.
Assim, colocamos o Sr. Adrien entre os mais notáveis médiuns e na primeira fila daqueles que nos forneceram os mais preciosos elementos para o conhecimento do mundo espírita. Nós o colocamos na primeira linha, sobretudo por suas qualidades pessoais, que são as de um homem de bem por excelência e que o tornam eminentemente simpático aos Espíritos de uma ordem mais elevada, o que nem sempre se dá com os médiuns de influência puramente física. Sem dúvida entre estes últimos há os que farão mais sensação; que melhor cativarão a curiosidade pública, mas, para o observador, para quem queira sondar os mistérios desse mundo maravilhoso, o Sr. Adrien é o mais poderoso auxiliar que já encontramos.
Assim, a sua faculdade e a sua complacência foram postas a serviço de nossa instrução pessoal, quer na intimidade, quer nas sessões da Sociedade, quer, enfim, em visitas a diversos locais de reuniões. Estivemos juntos em teatros, em bailes, em passeios, em hospitais, nos cemitérios e nas igrejas. Assistimos a enterros, a casamentos, a batizados e a sermões. Em toda parte observamos Espíritos que ali se vinham reunir. Com alguns desses estabelecemos conversação, interrogamo-los e aprendemos muitas coisas que tornaremos proveitosas aos nossos leitores, porque nosso objetivo é o de fazê-los penetrar, como nós, num mundo tão novo para nós.
O microscópio revelou-nos o mundo dos infinitamente pequenos, de que nem suspeitávamos, embora estivesse ao alcance de nossas mãos. O telescópio revelounos a infinidade dos mundos celestes de que nem suspeitávamos. O Espiritismo desvenda-nos o mundo dos Espíritos que está por toda parte, tanto ao nosso lado como nos espaços, mundo real que reage sobre nós incessantemente.
Os Espíritos sempre nos disseram que a separação da alma e do corpo não se dá instantaneamente. Algumas vezes começa antes da morte real, durante a agonia. Quando se faz notar a última pulsação, o desprendimento ainda não é completo. Ele se opera mais ou menos lentamente, conforme as circunstâncias e até sua completa libertação a alma experimenta uma perturbação, uma confusão que lhe não permitem dar-se conta de sua situação. Ela se encontra no estado de uma pessoa que desperta e cujas ideias são confusas.
Tal estado nada tem de penoso para o homem cuja consciência é pura; sem compreender bem o que vê, está calmo e espera sem temor o completo despertar. Ao contrário, é cheio de angústias e de terrores para aquele que teme o futuro.
A duração dessa perturbação, dizemos nós, é variável. É muito menos longa naquele que durante a vida já elevou seus pensamentos e purificou sua alma; dois ou três dias lhe bastam, enquanto que a outros são precisos, por vezes, oito ou mais dias. Muitas vezes assistimos a esse momento solene e sempre vimos a mesma coisa. Não é, pois, uma teoria, mas o resultado da observação, pois é o Espírito que descreve e pinta a sua própria situação.
Eis um exemplo bem característico e muito interessante para o observador, por não tratar-se de um Espírito invisível que escreve por intermédio de um médium, mas de um Espírito que é visto e ouvido junto ao seu corpo, tanto na câmara ardente quanto na igreja, durante o serviço fúnebre.
O Sr. X... acabava de ser vitimado por um ataque de apoplexia. Algumas horas depois de sua morte, o Sr. Adrien, um de seus amigos, achava-se na câmara mortuária, com a esposa do defunto. Ele viu distintamente o Espírito andar em todas as direções; olhar alternativamente para o seu corpo e para as pessoas presentes e depois sentar-se numa poltrona. Tinha exatamente a mesma aparência de quando vivo. Vestia-se do mesmo jeito: sobrecasaca preta e calças pretas. Estava com as mãos nos bolsos e parecia desconfiado.
Durante esse tempo a esposa procurava um papel na escrivaninha. O marido olhou-a e disse: “Procurarás em vão; nada encontrarás.” Ela nada suspeitava, porque o Sr. X. só era visível para o Sr. Adrien.
No dia seguinte, durante o serviço fúnebre, o Sr. Adrien viu novamente o Espírito de seu amigo vagando ao lado do caixão, mas já não tinha a roupa da véspera: estava envolto numa espécie de túnica. Entre ambos travou-se a seguinte conversa. Notemos, de passagem, que o Sr. Adrien não é sonâmbulo; que nesse momento, como no dia anterior, estava perfeitamente desperto e que o Espírito lhe aparecia como se fora um convidado para o enterro.
─ Diga-me uma coisa, meu caro Espírito: o que sentes agora?
─ Conforto e sofrimento.
─ Não compreendo isto.
─ Sinto que estou vivendo a minha verdadeira vida, entretanto, vejo o meu corpo aqui neste caixão; apalpo-me e não me sinto, contudo sinto que vivo, que existo. Serei então dois seres? Ah! Deixe-me sair desta noite, deste pesadelo.
─ Deverás ficar muito tempo assim?
─ Oh! Não. Graças a Deus, meu amigo, sinto que despertarei em breve. Seria horrível se assim não fosse. Tenho as ideias confusas; tudo é obscuridade; penso na grande divisão que acaba de ser feita... e da qual nada compreendo.
Que efeito lhe produziu a morte?
─ A morte? Eu não estou morto, meu filho! Você se engana. Eu me levantava e de repente fui atingido por uma escuridão que me desceu sobre os olhos; depois me levantei e imagine o meu espanto ao me ver, ao me sentir vivo e ter ao meu lado, sobre o ladrilho, meu outro ego deitado. Minhas ideias estavam confusas. Eu tentava me recompor, mas não conseguia. Vi minha mulher chegar e velar-me, lamentandose, mas eu me perguntava o motivo. Eu a consolava, falava-lhe, mas ela nem me respondia nem me compreendia. É isto que me torturava e deixava meu espírito mais perturbado. Só você me fez bem, porque me escutou e compreende o que eu quero. Você me ajuda a destrinçar minhas ideias e me faz um grande bem. Mas por que os outros não fazem o mesmo? Eis o que me tortura... O cérebro está esmagado por esta dor... Irei vê-la. Talvez agora ela me entenda... Até logo, meu caro amigo. Me chame, que e eu irei vê-lo... Farei uma visita de amigo... Surpreendê-lo-ei... Até logo.
A seguir o Sr. Adrien o viu aproximar-se do filho que chorava. Curvou-se sobre ele, ficou uns momentos nessa posição, depois partiu rapidamente. Não havia sido entendido, mas sem dúvida imaginava ter produzido um som. “Eu estou persuadido, diz o Sr. Adrien, de que o que ele dizia chegava ao coração do filho. Eu vos provarei isso. Eu o vi depois, e ele estava mais calmo.”
OBSERVAÇÃO: Este relato está de acordo com tudo quanto havíamos observado sobre o fenômeno da separação da alma; confirma, em circunstâncias muito especiais, esta verdade: após a morte, o Espírito ainda está presente. Acreditamos ter diante de nós apenas um corpo inerte, ao passo que ele vê e entende tudo quanto se passa ao seu redor; penetra o pensamento dos assistentes e vê que entre si e eles a única diferença é a visibilidade e a invisibilidade. As lágrimas de crocodilo dos ávidos herdeiros não o abalam.
Quantas decepções devem os Espíritos experimentar nesse momento!
Tal estado nada tem de penoso para o homem cuja consciência é pura; sem compreender bem o que vê, está calmo e espera sem temor o completo despertar. Ao contrário, é cheio de angústias e de terrores para aquele que teme o futuro.
A duração dessa perturbação, dizemos nós, é variável. É muito menos longa naquele que durante a vida já elevou seus pensamentos e purificou sua alma; dois ou três dias lhe bastam, enquanto que a outros são precisos, por vezes, oito ou mais dias. Muitas vezes assistimos a esse momento solene e sempre vimos a mesma coisa. Não é, pois, uma teoria, mas o resultado da observação, pois é o Espírito que descreve e pinta a sua própria situação.
Eis um exemplo bem característico e muito interessante para o observador, por não tratar-se de um Espírito invisível que escreve por intermédio de um médium, mas de um Espírito que é visto e ouvido junto ao seu corpo, tanto na câmara ardente quanto na igreja, durante o serviço fúnebre.
O Sr. X... acabava de ser vitimado por um ataque de apoplexia. Algumas horas depois de sua morte, o Sr. Adrien, um de seus amigos, achava-se na câmara mortuária, com a esposa do defunto. Ele viu distintamente o Espírito andar em todas as direções; olhar alternativamente para o seu corpo e para as pessoas presentes e depois sentar-se numa poltrona. Tinha exatamente a mesma aparência de quando vivo. Vestia-se do mesmo jeito: sobrecasaca preta e calças pretas. Estava com as mãos nos bolsos e parecia desconfiado.
Durante esse tempo a esposa procurava um papel na escrivaninha. O marido olhou-a e disse: “Procurarás em vão; nada encontrarás.” Ela nada suspeitava, porque o Sr. X. só era visível para o Sr. Adrien.
No dia seguinte, durante o serviço fúnebre, o Sr. Adrien viu novamente o Espírito de seu amigo vagando ao lado do caixão, mas já não tinha a roupa da véspera: estava envolto numa espécie de túnica. Entre ambos travou-se a seguinte conversa. Notemos, de passagem, que o Sr. Adrien não é sonâmbulo; que nesse momento, como no dia anterior, estava perfeitamente desperto e que o Espírito lhe aparecia como se fora um convidado para o enterro.
─ Diga-me uma coisa, meu caro Espírito: o que sentes agora?
─ Conforto e sofrimento.
─ Não compreendo isto.
─ Sinto que estou vivendo a minha verdadeira vida, entretanto, vejo o meu corpo aqui neste caixão; apalpo-me e não me sinto, contudo sinto que vivo, que existo. Serei então dois seres? Ah! Deixe-me sair desta noite, deste pesadelo.
─ Deverás ficar muito tempo assim?
─ Oh! Não. Graças a Deus, meu amigo, sinto que despertarei em breve. Seria horrível se assim não fosse. Tenho as ideias confusas; tudo é obscuridade; penso na grande divisão que acaba de ser feita... e da qual nada compreendo.
Que efeito lhe produziu a morte?
─ A morte? Eu não estou morto, meu filho! Você se engana. Eu me levantava e de repente fui atingido por uma escuridão que me desceu sobre os olhos; depois me levantei e imagine o meu espanto ao me ver, ao me sentir vivo e ter ao meu lado, sobre o ladrilho, meu outro ego deitado. Minhas ideias estavam confusas. Eu tentava me recompor, mas não conseguia. Vi minha mulher chegar e velar-me, lamentandose, mas eu me perguntava o motivo. Eu a consolava, falava-lhe, mas ela nem me respondia nem me compreendia. É isto que me torturava e deixava meu espírito mais perturbado. Só você me fez bem, porque me escutou e compreende o que eu quero. Você me ajuda a destrinçar minhas ideias e me faz um grande bem. Mas por que os outros não fazem o mesmo? Eis o que me tortura... O cérebro está esmagado por esta dor... Irei vê-la. Talvez agora ela me entenda... Até logo, meu caro amigo. Me chame, que e eu irei vê-lo... Farei uma visita de amigo... Surpreendê-lo-ei... Até logo.
A seguir o Sr. Adrien o viu aproximar-se do filho que chorava. Curvou-se sobre ele, ficou uns momentos nessa posição, depois partiu rapidamente. Não havia sido entendido, mas sem dúvida imaginava ter produzido um som. “Eu estou persuadido, diz o Sr. Adrien, de que o que ele dizia chegava ao coração do filho. Eu vos provarei isso. Eu o vi depois, e ele estava mais calmo.”
OBSERVAÇÃO: Este relato está de acordo com tudo quanto havíamos observado sobre o fenômeno da separação da alma; confirma, em circunstâncias muito especiais, esta verdade: após a morte, o Espírito ainda está presente. Acreditamos ter diante de nós apenas um corpo inerte, ao passo que ele vê e entende tudo quanto se passa ao seu redor; penetra o pensamento dos assistentes e vê que entre si e eles a única diferença é a visibilidade e a invisibilidade. As lágrimas de crocodilo dos ávidos herdeiros não o abalam.
Quantas decepções devem os Espíritos experimentar nesse momento!
Um dos membros da Sociedade envia-nos uma carta de um de seus amigos de Boulogne-sur-Mer, datada de 26 de julho de 1856, onde se lê a passagem seguinte:
Depois que por ordem dos Espíritos magnetizei meu filho, ele se tornou um médium muito raro, conforme a revelação que fez em estado sonambúlico, no qual eu o havia posto, a pedido dele, a 14 de maio último e outras quatro ou cinco vezes.
Para mim é fora de dúvida que desperto meu filho conversa livremente com os Espíritos com quem deseja, por intermédio de seu guia, que chama familiarmente de amigo; que à vontade ele se transporta em Espírito aonde deseja. Vou citar um fato cuja prova escrita tenho em minhas mãos.
Faz hoje exatamente um mês que estávamos ambos na sala de jantar. Eu lia o curso de magnetismo do Sr. Du Potet, quando meu filho tomou o livro e o folheou. Quando chegou a certa passagem, seu guia lhe disse ao ouvido: “Leia isto.” Era a aventura de um doutor da América, cujo Espírito tinha visitado um amigo a 15 ou 20 léguas de distância, enquanto dormia. Depois de ter lido, meu filho disse:
─ Gostaria de fazer uma viagem semelhante.
─ Então! Onde queres ir? perguntou-lhe o guia.
─ A Londres, respondeu meu filho, ver os amigos. E designou aqueles a quem desejava visitar.
Amanhã é domingo. Não és obrigado a te levantares cedo para trabalhar. Dormirás às oito horas e irás passear em Londres até as oito e meia. Sexta-feira próxima receberás uma carta de teus amigos, censurando-te por teres ficado tão pouco tempo com eles.
Efetivamente, no dia seguinte, pela manhã, à hora indicada, ele caiu num sono profundo. Despertei-o às oito e meia. Ele não se lembrava de nada. De minha parte nada lhe disse, esperando os acontecimentos.
Na sexta-feira seguinte eu trabalhava numa das minhas máquinas e como de hábito fumava, por ter acabado de almoçar. Meu filho olhava a fumaça do cachimbo e me disse:
Depois que por ordem dos Espíritos magnetizei meu filho, ele se tornou um médium muito raro, conforme a revelação que fez em estado sonambúlico, no qual eu o havia posto, a pedido dele, a 14 de maio último e outras quatro ou cinco vezes.
Para mim é fora de dúvida que desperto meu filho conversa livremente com os Espíritos com quem deseja, por intermédio de seu guia, que chama familiarmente de amigo; que à vontade ele se transporta em Espírito aonde deseja. Vou citar um fato cuja prova escrita tenho em minhas mãos.
Faz hoje exatamente um mês que estávamos ambos na sala de jantar. Eu lia o curso de magnetismo do Sr. Du Potet, quando meu filho tomou o livro e o folheou. Quando chegou a certa passagem, seu guia lhe disse ao ouvido: “Leia isto.” Era a aventura de um doutor da América, cujo Espírito tinha visitado um amigo a 15 ou 20 léguas de distância, enquanto dormia. Depois de ter lido, meu filho disse:
─ Gostaria de fazer uma viagem semelhante.
─ Então! Onde queres ir? perguntou-lhe o guia.
─ A Londres, respondeu meu filho, ver os amigos. E designou aqueles a quem desejava visitar.
Amanhã é domingo. Não és obrigado a te levantares cedo para trabalhar. Dormirás às oito horas e irás passear em Londres até as oito e meia. Sexta-feira próxima receberás uma carta de teus amigos, censurando-te por teres ficado tão pouco tempo com eles.
Efetivamente, no dia seguinte, pela manhã, à hora indicada, ele caiu num sono profundo. Despertei-o às oito e meia. Ele não se lembrava de nada. De minha parte nada lhe disse, esperando os acontecimentos.
Na sexta-feira seguinte eu trabalhava numa das minhas máquinas e como de hábito fumava, por ter acabado de almoçar. Meu filho olhava a fumaça do cachimbo e me disse:
─ Olha! Há uma carta na fumaça.
─ Como vês uma carta na fumaça?
─ Verás, respondeu ele, pois eis que chega o carteiro.
Realmente, o carteiro veio entregar uma carta de Londres, na qual os amigos de meu filho censuravam-no por ter passado com eles apenas alguns minutos, no domingo anterior, das oito às oito e meia, com uma porção de detalhes que seria longo aqui relatar, entre os quais o fato singular de ter tomado o café da manhã com eles. Possuo a carta, como havia dito, como prova de que não estou inventando.
Tendo sido contado o fato acima, um dos assistentes disse que a História narra diversos casos semelhantes. Citou Santo Afonso de Liguori, que foi canonizado antes do tempo exigido, por se haver mostrado simultaneamente em dois lugares diferentes, o que foi considerado como um milagre.
Santo Antônio de Pádua estava na Espanha e no momento em que pregava, seu pai ia ser supliciado em Pádua, acusado de assassinato. Nesse momento aparece Antônio, demonstra a inocência de seu pai e revela o verdadeiro criminoso, que mais tarde sofreu o castigo. Foi constatado que no mesmo instante Santo Antônio pregava na Espanha.
Santo Afonso de Liguori foi evocado e lhe dirigimos as seguintes perguntas:
1. ─ O fato pelo qual fostes canonizado é real?
─ Sim.
2. ─ Esse fenômeno é excepcional?
─ Não. Ele pode apresentar-se em todos os indivíduos desmaterializados.
3. ─ Era motivo justo para vos canonizarem?
─ Sim, pois que por minha virtude eu me havia elevado para Deus. Sem isso eu não teria podido transportar-me simultaneamente para dois lugares diferentes.
4. ─ Todos os indivíduos com os quais ocorrem esses fenômenos merecem ser canonizados?
─ Não, pois nem todos são igualmente virtuosos.
5. ─ Poderíeis dar-nos uma explicação desse fenômeno?
─ Sim. Quando o homem, por sua virtude, se acha completamente desmaterializado; quando elevou sua alma para Deus, pode aparecer simultaneamente em dois lugares, do seguinte modo: Sentindo vir o sono, o Espírito encarnado pode pedir a Deus para se transportar a um lugar qualquer. Seu Espírito ou sua alma, como queirais chamar, então abandona o seu corpo, seguido de uma parte de seu perispírito e deixa a matéria imunda num estado vizinho ao da morte. Digo vizinho ao da morte porque fica no corpo um laço que liga o perispírito e a alma à matéria, e esse laço não pode ser definido. O corpo então aparece no lugar desejado. Creio que é tudo o que desejais saber.
─ Sim.
2. ─ Esse fenômeno é excepcional?
─ Não. Ele pode apresentar-se em todos os indivíduos desmaterializados.
3. ─ Era motivo justo para vos canonizarem?
─ Sim, pois que por minha virtude eu me havia elevado para Deus. Sem isso eu não teria podido transportar-me simultaneamente para dois lugares diferentes.
4. ─ Todos os indivíduos com os quais ocorrem esses fenômenos merecem ser canonizados?
─ Não, pois nem todos são igualmente virtuosos.
5. ─ Poderíeis dar-nos uma explicação desse fenômeno?
─ Sim. Quando o homem, por sua virtude, se acha completamente desmaterializado; quando elevou sua alma para Deus, pode aparecer simultaneamente em dois lugares, do seguinte modo: Sentindo vir o sono, o Espírito encarnado pode pedir a Deus para se transportar a um lugar qualquer. Seu Espírito ou sua alma, como queirais chamar, então abandona o seu corpo, seguido de uma parte de seu perispírito e deixa a matéria imunda num estado vizinho ao da morte. Digo vizinho ao da morte porque fica no corpo um laço que liga o perispírito e a alma à matéria, e esse laço não pode ser definido. O corpo então aparece no lugar desejado. Creio que é tudo o que desejais saber.
6. ─ Isto não nos dá a explicação da visibilidade e da tangibilidade do perispírito. Achando-se desprendido da matéria, conforme o seu grau de elevação, o Espírito pode tornar a matéria tangível.
7. ─ Entretanto, certas aparições tangíveis de mãos e de outras partes do corpo devem-se evidentemente a Espíritos inferiores. ─ São Espíritos superiores que se servem dos inferiores a fim de provar o fato.
8. ─ O sono do corpo é indispensável para que o Espírito apareça noutros lugares?
─ A alma pode dividir-se quando se sente transportada a um lugar diferente daquele onde se acha o seu corpo.
9. ─ Que aconteceria a um homem mergulhado em sono profundo e cujo Espírito aparecesse alhures, se fosse despertado subitamente?
─ Isto não aconteceria, porque se alguém tivesse o intuito de despertá-lo, o Espírito preveria a intenção e voltaria ao corpo, tendo em vista que o Espírito lê o pensamento.
Um fato análogo é relatado por Tácito:
Durante os meses passados por Vespasiano em Alexandria, à
espera da volta periódica dos ventos de estio e da estação em que o mar fica
favorável, aconteceram vários prodígios, pelos quais se manifestou o favor do
céu e o interesse que os deuses pareciam ter por esse príncipe...
Tais prodígios redobraram em Vespasiano o desejo de visitar a morada sagrada do deus, a fim de consultá-lo sobre assuntos do Império. Ele ordenou que o templo fosse interditado a todos. Tendo entrado no templo, inteiramente compenetrado no que o oráculo diria, percebeu às suas costas um dos principais egípcios, chamado Basílide, que sabia encontrar-se doente há vários dias em Alexandria. Perguntou aos sacerdotes se naquele dia Basílide tinha vindo ao templo; indagou aos transeuntes se o haviam visto na cidade; por fim, mandou homens a cavalo e certificou-se de que naquele mesmo momento ele se achava a oitenta milhas de distância. Então não mais duvidou de que a visão tivesse sido sobrenatural e que Basílide havia tomado o lugar do oráculo. (TÁCITO. Histórias, Livro IV, cap. 81 e 82. Trad. de Burnouf.)
Desde quando este fato nos foi comunicado, vários do mesmo gênero, de fonte segura, nos foram narrados. Em seu número há alguns bem recentes, ocorridos, por assim dizer, em nosso meio, e que se apresentaram nas mais singulares circunstâncias. As explicações que eles permitem alargam sobremaneira o campo das observações psicológicas.
A questão dos homens duplos, outrora relegada aos contos fantásticos, parece, assim, ter um fundo de verdade. Brevemente voltaremos ao assunto.
Tais prodígios redobraram em Vespasiano o desejo de visitar a morada sagrada do deus, a fim de consultá-lo sobre assuntos do Império. Ele ordenou que o templo fosse interditado a todos. Tendo entrado no templo, inteiramente compenetrado no que o oráculo diria, percebeu às suas costas um dos principais egípcios, chamado Basílide, que sabia encontrar-se doente há vários dias em Alexandria. Perguntou aos sacerdotes se naquele dia Basílide tinha vindo ao templo; indagou aos transeuntes se o haviam visto na cidade; por fim, mandou homens a cavalo e certificou-se de que naquele mesmo momento ele se achava a oitenta milhas de distância. Então não mais duvidou de que a visão tivesse sido sobrenatural e que Basílide havia tomado o lugar do oráculo. (TÁCITO. Histórias, Livro IV, cap. 81 e 82. Trad. de Burnouf.)
Desde quando este fato nos foi comunicado, vários do mesmo gênero, de fonte segura, nos foram narrados. Em seu número há alguns bem recentes, ocorridos, por assim dizer, em nosso meio, e que se apresentaram nas mais singulares circunstâncias. As explicações que eles permitem alargam sobremaneira o campo das observações psicológicas.
A questão dos homens duplos, outrora relegada aos contos fantásticos, parece, assim, ter um fundo de verdade. Brevemente voltaremos ao assunto.
Sensações dos Espíritos.
Sofrem os Espíritos? Que sensações experimentam? Tais perguntas nos são naturalmente dirigidas e procuramos respondê-las. Inicialmente devemos dizer que para tanto não nos contentamos com respostas dos Espíritos. De certo modo tivemos que considerar a sensação como um fato, através de numerosas observações.
Numa de nossas reuniões, pouco depois de havermos recebido de São Luís uma bela dissertação sobre a avareza, cuja publicação foi feita em nosso número de fevereiro, um dos nossos associados contou o fato que se segue, a respeito daquela dissertação.
“Numa pequena reunião de amigos, ocupávamo-nos de evocações quando, inopinadamente e sem que o tivéssemos chamado, apresentou-se um Espírito que havíamos conhecido muito bem, e que em vida poderia ter servido de modelo ao retrato do avarento feito por São Luís: um desses homens que vivem miseravelmente no meio da fortuna; que se privam, não pelos outros, mas para acumular sem proveito para ninguém. Foi no inverno e nós estávamos perto do fogo. De repente aquele Espírito trouxe à nossa lembrança o seu nome, no qual estávamos longe de pensar e nos pediu permissão para vir durante três dias aquecer-se à nossa lareira, dizendo que sentia horrivelmente o frio que voluntariamente suportara durante a vida e que, por avareza, obrigara os outros a suportar. Isto seria um alívio, acrescentou ele, se quiserdes conceder-mo.”
Aquele espírito experimentava penosa sensação de frio. Mas como a experimentava? Nisto é que estava a dificuldade.
A esse respeito, dirigimos a São Luís as perguntas que se seguem.
1. ─ Teríeis a bondade de dizer-nos como esse Espírito de avarento, que não tinha mais o corpo material, podia sentir frio e pedir para se aquecer?
─ Podes imaginar os sofrimentos do Espírito pelos sofrimentos morais.
2. ─ Compreendemos os sofrimentos morais, como pesares, remorsos, vergonha, mas o calor, o frio e a dor física não são efeitos morais. Os Espíritos experimentam esta espécie de sensações?
─ Tua alma sente frio? Não, mas tem a consciência da sensação que age sobre o corpo.
3. ─ Parece disso decorrer que esse Espírito de avarento não sentia um frio real, mas que ele tinha a lembrança da sensação do frio que havia suportado, e essa lembrança, que lhe era como uma realidade, tornava-se um suplício.
─ É mais ou menos isto. Fique bem entendido que há uma distinção, que compreendeis perfeitamente, entre a dor física e a dor moral. Não se deve confundir o efeito com a causa.
─ Se bem compreendemos, poder-se-ia, ao que parece, explicar as coisas do seguinte modo: O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primeira, é pelo menos a causa imediata. A alma tem a percepção dessa dor. Essa percepção é o efeito. A lembrança que disso conserva pode ser tão penosa quanto a realidade, mas não pode ter ação física. Realmente, nem frio nem calor intensos podem desorganizar-lhe os tecidos. A alma nem pode ficar gelada nem se queimar. Não vemos diariamente a lembrança ou a apreensão de um mal físico produzir o efeito da realidade? Ocasionar até a morte? Todo mundo sabe que pessoas amputadas sentem dor no membro que não existe mais. Certamente esse membro não é nem a sede, nem mesmo o ponto de partida da dor. O cérebro conservou-lhe a impressão, eis tudo. Pode-se pois crer que existe algo de análogo nos sofrimentos do Espírito após a morte. Estas reflexões estão corretas?
4. ─ Sim. Mais tarde compreendereis ainda melhor. Esperai que outros fatos vos forneçam novos pontos de observação. Então podereis tirar conclusões mais completas.
Isto se passava no começo do ano de 1858. Efetivamente, desde então um estudo mais aprofundado do perispírito, que representa um importante papel em todos os fenômenos espíritas e do qual ainda não se havia tomado conhecimento: as aparições vaporosas ou tangíveis; o estado do Espírito no momento da morte; a ideia, tão frequente no Espírito, de que ainda se acha vivo; o quadro impressionante dos suicidas, dos suplicados, dos que se absorveram nos prazeres materiais e tantos outros fatos vieram lançar uma luz sobre esta questão e deram lugar a explicações cujo resumo fazemos a seguir:
O perispírito é o laço que une o Espírito à matéria do corpo; ele é tirado do meio ambiente, do fluido universal; ele tem, simultaneamente, algo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da matéria: é o princípio da vida orgânica, mas não o é da vida intelectual. A vida intelectual está no Espírito. Ele é, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, essas sensações estão localizadas nos órgãos que lhe servem de canais. Destruído o corpo, as sensações tornam-se gerais. Eis por que o Espírito não diz que sofre mais da cabeça do que dos pés. Além disso, é necessário não confundir as sensações do perispírito, que se tornou independente, com as do corpo. Não podemos tomar estas últimas senão como termo de comparação e não como analogia. Um excesso de calor ou de frio pode desorganizar os tecidos do corpo, entretanto não pode atingir o perispírito. Desprendido do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é o do corpo. Contudo, não é um sofrimento exclusivamente moral, como o remorso, de vez que ele se queixa de frio ou de calor; ele não sofre mais no inverno do que no verão; vimo-los passar através das chamas sem experimentar nenhum sofrimento. Assim, nenhuma impressão sobre eles pode exercer a temperatura. A dor que sentem não é, pois, uma dor física, propriamente dita. É um vago sentimento íntimo, de que o próprio Espírito nem sempre se dá conta com precisão, porque a dor não é localizada e não é produzida por agentes externos. É mais uma lembrança do que uma realidade, posto seja uma lembrança realmente penosa. Há, entretanto, algo mais que uma lembrança, como passaremos a ver.
Ensina-nos a experiência que no momento da morte o perispírito se desprende mais ou menos lentamente do corpo. Durante os primeiros instantes o Espírito não se dá conta da situação; não se julga morto; sente-se vivo; vê seu o corpo ao lado; sabe que é o dele, mas não compreende que do mesmo esteja separado. Esse estado dura enquanto existe uma ligação entre o corpo e o perispírito.
Recordemos a evocação do suicida da casa de banhos da Samaritana, descrita em nosso número de junho. Como todos os outros, ele dizia: “Não, eu não estou morto.” Mas acrescentava: “Entretanto, sinto que os vermes me roem.” Ora, seguramente os vermes não roem o perispírito e, ainda menos o Espírito. Apenas roem o corpo. Como a separação do corpo e do perispírito não era completa, o resultado era uma espécie de repercussão moral que lhe transmitia a sensação do que acontecia no corpo. Repercussão talvez não seja o vocábulo, o qual poderia fazer supor um efeito muito material. Era antes a visão daquilo que se passava em seu corpo, ao qual estava ligado o seu perispírito, que lhe produzia uma ilusão, que ele tomava como realidade. Assim, não é uma lembrança, pois que em vida não tinha sido roído pelos vermes. Era um sentimento atual.
Vemos por aí as deduções que podem ser tiradas dos fatos, quando observados com atenção. Durante a vida, o corpo recebe impressões exteriores e as transmite ao Espírito, por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, aquilo que é chamado fluido nervoso. Morto, o corpo não mais sente, porque nele já não há Espírito nem perispírito. Desprendido do corpo, o perispírito experimenta a sensação. Entretanto, como esta não lhe chega através de um canal limitado, é geral. Ora, como na realidade existe apenas um agente transmissor, desde que é o Espírito que tem a consciência, disto resulta que se pudesse existir um perispírito sem Espírito, este não sentiria mais do que o corpo quando morto. Do mesmo modo, se o Espírito não tivesse perispírito, seria inacessível a qualquer sensação dolorosa. É isto o que acontece com os Espíritos completamente depurados. Sabemos que quanto mais se depuram, tanto mais eterizada se torna a essência do perispírito, de onde se segue que a influência material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o perispírito se torna menos grosseiro.
Dir-se-á, entretanto, que as sensações agradáveis são transmitidas ao Espírito pelo perispírito, assim como as desagradáveis. Ora, se o Espírito puro é inacessível a umas, deve sê-lo igualmente a outras. Sim, sem dúvida, às que provêm unicamente da influência da matéria que conhecemos. O som de nossos instrumentos, o perfume de nossas flores nenhuma impressão lhe causam. Entretanto, há nele sensações íntimas, de um encanto indefinível do qual nenhuma ideia podemos fazer, porque a tal respeito somos como cegos de nascença em relação à luz. Sabemos que isto existe, mas por que meio? Daqui não passam nossos conhecimentos. Sabemos que há percepção, sensação, audição, visão; que essas faculdades são atributos do ser inteiro e não, como no homem, de uma parte do ser. Mas, ainda uma vez, por que meio? Eis o que ignoramos. Os próprios Espíritos não nos podem dar esclarecimentos sobre isso porque nossa linguagem não é apta a exprimir ideias que não possuímos, do mesmo modo que um povo cego não teria palavras para exprimir os efeitos da luz, ou a linguagem dos selvagens, meios para descrever as nossas artes, as nossas ciências e as nossas doutrinas filosóficas.
Dizendo que os Espíritos são inacessíveis às impressões de nossa matéria, queremos referir-nos aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não tem analogia aqui na Terra. Já o mesmo não se dá com aqueles cujo perispírito é mais denso. Esses percebem os nossos sons, os nossos odores, mas não por uma parte limitada do seu ser, como quando vivos. Poder-se-ia dizer que as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o seu ser e assim chegam ao sensorium commune, que é o próprio Espírito, posto que de maneira diferente e talvez mesmo com uma impressão diferente, o que produz uma modificação na percepção. Eles ouvem o som de nossa voz, entretanto nos entendem sem o recurso da palavra, pela simples transmissão do pensamento, o que vem em apoio àquilo que dizíamos, isto é, que tal penetração é tanto mais fácil quanto mais desmaterializado é o Espírito.
Quanto à visão, ela independe da nossa luz. A faculdade de ver é um atributo essencial da alma. Para ela não existe obscuridade. No entanto, ela é mais extensa e penetrante naqueles que são mais depurados. A alma, ou Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Na vida corpórea estas são obliteradas pela grosseria de nossos órgãos. Na vida extracorpórea são cada vez menos obliteradas, à medida que se depura o envoltório semimaterial.
Tirado do meio ambiente, esse envoltório varia segundo a natureza dos mundos. Passando de um mundo a outro, os Espíritos mudam de envoltório como nós mudamos as roupas ao passar do inverno ao verão, ou do polo ao equador. Quando nos vêm visitar, os Espíritos mais elevados revestem-se, pois, de seu perispírito terrestre e a partir de então suas percepções se operam como nos nossos Espíritos comuns. Mas todos, tanto inferiores como superiores, nem ouvem nem sentem senão aquilo que querem ouvir ou sentir. Sem órgãos sensitivos, podem, à vontade, tornar as suas percepções ativas ou anulá-las. Existe apenas uma coisa que são obrigados a ouvir: os conselhos dos bons Espíritos.
A vista é sempre ativa, mas podem tornar-se reciprocamente invisíveis uns para os outros. Segundo a posição que ocupam, podem ocultar-se dos que lhes são inferiores, mas não dos superiores.
Nos primeiros momentos que se seguem à morte, a visão do Espírito é sempre confusa e perturbada. Torna-se clara à medida que se desprende e pode adquirir a mesma clareza que durante a vida, independentemente de sua penetração através dos corpos para nós opacos. Quanto à sua extensão através do espaço infinito, tanto no passado como no futuro, depende do grau de pureza e de elevação do Espírito.
Dirão que toda esta teoria não é nada animadora. Imaginávamos que uma vez desembaraçados do grosseiro envoltório material, instrumento de nossas dores, não mais sofreríamos. Eis que nos ensinais que sofreremos ainda. De uma ou de outra forma, não haverá menos sofrimento. Ai de nós!
Sim, nós podemos continuar sofrendo, e muito, e por muito tempo, mas também podemos deixar de sofrer, até mesmo a partir do momento em que deixamos a vida corpórea.
Os sofrimentos terrenos são por vezes independentes de nós. Muitos, porém, são consequência de nossa vontade. Remontemos à fonte e veremos que a maior parte deles resultam de causas que poderíamos ter evitado. Quantos males, quantas enfermidades não deve o homem aos seus excessos, à sua ambição, numa palavra, às suas paixões?
O homem que tivesse vivido sobriamente; que não tivesse abusado de nada; que sempre tivesse sido simples em seus gostos e modesto nos seus desejos, poupar-se-ia a muitas tribulações.
O mesmo se dá com o Espírito. Os sofrimentos que padece são sempre consequência da maneira como viveu na Terra. Certamente não sofrerá mais de gota ou de reumatismo, mas terá outros sofrimentos que não são menores. Vimos que seus sofrimentos são o resultado dos laços que ainda existem entre ele e a matéria; que quanto mais desvinculado da influência da matéria ou, por outras palavras, quanto mais desmaterializado, menos sensações penosas terá. Ora, dele depende libertar-se de tal influência, já nesta vida. Ele possui o livre-arbítrio e, consequentemente, a escolha entre fazer ou deixar de fazer. Que domine as suas paixões animais; que não tenha ódio, inveja, ciúme e orgulho; que não se deixe dominar pelo egoísmo; que purifique sua alma pelos bons sentimentos; que pratique o bem; que não atribua às coisas deste mundo senão a importância que merecem e então, mesmo que ainda esteja em seu envoltório corporal, já estará depurado e desprendido da matéria. Quando deixar esse envoltório, não sofrerá mais sua influência. Os sofrimentos físicos que houver experimentado não lhe deixarão uma lembrança penosa. Não lhe restará nenhuma impressão desagradável, porque elas terão afetado o corpo, mas não o Espírito; será feliz por ter-se libertado e a calma de consciência o livrará de qualquer sofrimento moral.
Interrogamos milhares de Espíritos que pertenceram a todas as camadas da Sociedade e a todas as posições sociais; estudamo-los em todos os períodos de sua vida espírita, desde o momento em que deixaram o corpo; seguimo-los passo a passo nessa vida de além-túmulo, a fim de observar as mudanças neles operadas, nas suas ideias e nas suas sensações. A esse respeito, não foram as criaturas mais vulgares as que ofereceram material menos interessante para estudo. Ora, nós vimos sempre que os sofrimentos dependem da conduta, cujas consequências eles sofrem, e que essa nova existência é fonte de inefável felicidade para aqueles que seguiram o bom caminho, de onde se segue que os que sofrem, sofrem porque o quiseram e que não devem queixar-se senão de si mesmos, quer neste mundo, quer no outro.
Certos críticos ridicularizaram algumas das nossas evocações, como, por exemplo, a do assassino Lemaire*, achando estranho que nos ocupássemos de seres tão ignóbeis, quando temos tantos Espíritos superiores à nossa disposição. Esquecem que é exatamente por isto que, de certo modo, apuramos a natureza do fato ou, melhor dizendo, em sua ignorância da ciência espírita, não veem nesses diálogos mais que uma conversa mais ou menos divertida, cujo alcance não compreendem.
* Vide Revista Espírita n.º 1.
Lemos algures que um filósofo dizia, depois de haver conversado com um camponês: “Aprendi mais com esse rústico do que com todos os sábios.” É que ele podia ver além da superfície. Para o bom observador nada é perdido. Ele encontra ensinamentos úteis até no criptógamo que cresce nas esterqueiras. Recusa-se o médico a tocar numa ferida horrenda quando se trata de encontrar a causa de um mal?
Ainda uma palavra sobre o assunto. Os sofrimentos de além-túmulo têm um termo. Sabemos que aos mais inferiores Espíritos é permitido elevar-se e purificar-se por novas provas. Isto pode ser demorado, muito demorado, mas dele depende abreviar esse tempo penoso, porque Deus o escuta sempre, desde que se submeta à sua vontade. Quanto mais desmaterializado é o Espírito, mais vastas e lúcidas são as suas percepções; quanto mais se acha sob o império da matéria, o que depende inteiramente do seu gênero de vida terrena, mais limitadas e veladas serão elas. Quanto mais a visão moral de um se estende para o infinito, tanto mais a do outro se restringe.
Assim, pois, os Espíritos inferiores têm apenas uma noção vaga, confusa, incompleta e por vezes nula do futuro. Eles não veem o termo de seus sofrimentos e por isso pensam sofrer eternamente, o que é para eles um castigo. Se a posição de uns é aflitiva, terrível mesmo, não é, entretanto, desesperadora; a dos outros é, porém, eminentemente consoladora. A nós, pois, cabe escolher. Isto é da mais alta moralidade.
Os cépticos duvidam da sorte que nos aguarda após a morte. Nós lhes mostramos exatamente o que acontece, com o que julgamos prestar-lhes um serviço. Assim, vimos mais de um voltar atrás de seu erro ou, pelo menos, começar a refletir sobre aquilo de que antes fazia troça.
Nada como nos darmos conta da possibilidade das coisas. Se sempre tivesse sido assim, não haveria tantos incrédulos, e tanto a religião como a moral pública ganhariam com isso. Para muitos a dúvida religiosa provém da dificuldade de compreenderem certas coisas. São Espíritos positivos não predispostos à fé cega, que só admitem aquilo que para eles tem uma razão de ser. Tornai essas coisas acessíveis à sua inteligência e eles as aceitarão, porque, no fundo, não pedem mais do que isso a fim de crerem e porque a dúvida lhes é uma situação mais penosa do que imaginamos ou do que eles ousam confessar.
Em tudo quanto dissemos não há um sistema ou ideias pessoais. Também não foram alguns Espíritos privilegiados que nos ditaram esta teoria. Ela é resultado de estudos feitos sobre individualidades, corroborados e confirmados por Espíritos cuja linguagem nenhuma dúvida pode deixar quanto à sua superioridade. Julgamo-los por suas palavras e não por seu nome ou pelo nome que podem atribuir-se.
Numa de nossas reuniões, pouco depois de havermos recebido de São Luís uma bela dissertação sobre a avareza, cuja publicação foi feita em nosso número de fevereiro, um dos nossos associados contou o fato que se segue, a respeito daquela dissertação.
“Numa pequena reunião de amigos, ocupávamo-nos de evocações quando, inopinadamente e sem que o tivéssemos chamado, apresentou-se um Espírito que havíamos conhecido muito bem, e que em vida poderia ter servido de modelo ao retrato do avarento feito por São Luís: um desses homens que vivem miseravelmente no meio da fortuna; que se privam, não pelos outros, mas para acumular sem proveito para ninguém. Foi no inverno e nós estávamos perto do fogo. De repente aquele Espírito trouxe à nossa lembrança o seu nome, no qual estávamos longe de pensar e nos pediu permissão para vir durante três dias aquecer-se à nossa lareira, dizendo que sentia horrivelmente o frio que voluntariamente suportara durante a vida e que, por avareza, obrigara os outros a suportar. Isto seria um alívio, acrescentou ele, se quiserdes conceder-mo.”
Aquele espírito experimentava penosa sensação de frio. Mas como a experimentava? Nisto é que estava a dificuldade.
A esse respeito, dirigimos a São Luís as perguntas que se seguem.
1. ─ Teríeis a bondade de dizer-nos como esse Espírito de avarento, que não tinha mais o corpo material, podia sentir frio e pedir para se aquecer?
─ Podes imaginar os sofrimentos do Espírito pelos sofrimentos morais.
2. ─ Compreendemos os sofrimentos morais, como pesares, remorsos, vergonha, mas o calor, o frio e a dor física não são efeitos morais. Os Espíritos experimentam esta espécie de sensações?
─ Tua alma sente frio? Não, mas tem a consciência da sensação que age sobre o corpo.
3. ─ Parece disso decorrer que esse Espírito de avarento não sentia um frio real, mas que ele tinha a lembrança da sensação do frio que havia suportado, e essa lembrança, que lhe era como uma realidade, tornava-se um suplício.
─ É mais ou menos isto. Fique bem entendido que há uma distinção, que compreendeis perfeitamente, entre a dor física e a dor moral. Não se deve confundir o efeito com a causa.
─ Se bem compreendemos, poder-se-ia, ao que parece, explicar as coisas do seguinte modo: O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primeira, é pelo menos a causa imediata. A alma tem a percepção dessa dor. Essa percepção é o efeito. A lembrança que disso conserva pode ser tão penosa quanto a realidade, mas não pode ter ação física. Realmente, nem frio nem calor intensos podem desorganizar-lhe os tecidos. A alma nem pode ficar gelada nem se queimar. Não vemos diariamente a lembrança ou a apreensão de um mal físico produzir o efeito da realidade? Ocasionar até a morte? Todo mundo sabe que pessoas amputadas sentem dor no membro que não existe mais. Certamente esse membro não é nem a sede, nem mesmo o ponto de partida da dor. O cérebro conservou-lhe a impressão, eis tudo. Pode-se pois crer que existe algo de análogo nos sofrimentos do Espírito após a morte. Estas reflexões estão corretas?
4. ─ Sim. Mais tarde compreendereis ainda melhor. Esperai que outros fatos vos forneçam novos pontos de observação. Então podereis tirar conclusões mais completas.
Isto se passava no começo do ano de 1858. Efetivamente, desde então um estudo mais aprofundado do perispírito, que representa um importante papel em todos os fenômenos espíritas e do qual ainda não se havia tomado conhecimento: as aparições vaporosas ou tangíveis; o estado do Espírito no momento da morte; a ideia, tão frequente no Espírito, de que ainda se acha vivo; o quadro impressionante dos suicidas, dos suplicados, dos que se absorveram nos prazeres materiais e tantos outros fatos vieram lançar uma luz sobre esta questão e deram lugar a explicações cujo resumo fazemos a seguir:
O perispírito é o laço que une o Espírito à matéria do corpo; ele é tirado do meio ambiente, do fluido universal; ele tem, simultaneamente, algo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da matéria: é o princípio da vida orgânica, mas não o é da vida intelectual. A vida intelectual está no Espírito. Ele é, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, essas sensações estão localizadas nos órgãos que lhe servem de canais. Destruído o corpo, as sensações tornam-se gerais. Eis por que o Espírito não diz que sofre mais da cabeça do que dos pés. Além disso, é necessário não confundir as sensações do perispírito, que se tornou independente, com as do corpo. Não podemos tomar estas últimas senão como termo de comparação e não como analogia. Um excesso de calor ou de frio pode desorganizar os tecidos do corpo, entretanto não pode atingir o perispírito. Desprendido do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é o do corpo. Contudo, não é um sofrimento exclusivamente moral, como o remorso, de vez que ele se queixa de frio ou de calor; ele não sofre mais no inverno do que no verão; vimo-los passar através das chamas sem experimentar nenhum sofrimento. Assim, nenhuma impressão sobre eles pode exercer a temperatura. A dor que sentem não é, pois, uma dor física, propriamente dita. É um vago sentimento íntimo, de que o próprio Espírito nem sempre se dá conta com precisão, porque a dor não é localizada e não é produzida por agentes externos. É mais uma lembrança do que uma realidade, posto seja uma lembrança realmente penosa. Há, entretanto, algo mais que uma lembrança, como passaremos a ver.
Ensina-nos a experiência que no momento da morte o perispírito se desprende mais ou menos lentamente do corpo. Durante os primeiros instantes o Espírito não se dá conta da situação; não se julga morto; sente-se vivo; vê seu o corpo ao lado; sabe que é o dele, mas não compreende que do mesmo esteja separado. Esse estado dura enquanto existe uma ligação entre o corpo e o perispírito.
Recordemos a evocação do suicida da casa de banhos da Samaritana, descrita em nosso número de junho. Como todos os outros, ele dizia: “Não, eu não estou morto.” Mas acrescentava: “Entretanto, sinto que os vermes me roem.” Ora, seguramente os vermes não roem o perispírito e, ainda menos o Espírito. Apenas roem o corpo. Como a separação do corpo e do perispírito não era completa, o resultado era uma espécie de repercussão moral que lhe transmitia a sensação do que acontecia no corpo. Repercussão talvez não seja o vocábulo, o qual poderia fazer supor um efeito muito material. Era antes a visão daquilo que se passava em seu corpo, ao qual estava ligado o seu perispírito, que lhe produzia uma ilusão, que ele tomava como realidade. Assim, não é uma lembrança, pois que em vida não tinha sido roído pelos vermes. Era um sentimento atual.
Vemos por aí as deduções que podem ser tiradas dos fatos, quando observados com atenção. Durante a vida, o corpo recebe impressões exteriores e as transmite ao Espírito, por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, aquilo que é chamado fluido nervoso. Morto, o corpo não mais sente, porque nele já não há Espírito nem perispírito. Desprendido do corpo, o perispírito experimenta a sensação. Entretanto, como esta não lhe chega através de um canal limitado, é geral. Ora, como na realidade existe apenas um agente transmissor, desde que é o Espírito que tem a consciência, disto resulta que se pudesse existir um perispírito sem Espírito, este não sentiria mais do que o corpo quando morto. Do mesmo modo, se o Espírito não tivesse perispírito, seria inacessível a qualquer sensação dolorosa. É isto o que acontece com os Espíritos completamente depurados. Sabemos que quanto mais se depuram, tanto mais eterizada se torna a essência do perispírito, de onde se segue que a influência material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o perispírito se torna menos grosseiro.
Dir-se-á, entretanto, que as sensações agradáveis são transmitidas ao Espírito pelo perispírito, assim como as desagradáveis. Ora, se o Espírito puro é inacessível a umas, deve sê-lo igualmente a outras. Sim, sem dúvida, às que provêm unicamente da influência da matéria que conhecemos. O som de nossos instrumentos, o perfume de nossas flores nenhuma impressão lhe causam. Entretanto, há nele sensações íntimas, de um encanto indefinível do qual nenhuma ideia podemos fazer, porque a tal respeito somos como cegos de nascença em relação à luz. Sabemos que isto existe, mas por que meio? Daqui não passam nossos conhecimentos. Sabemos que há percepção, sensação, audição, visão; que essas faculdades são atributos do ser inteiro e não, como no homem, de uma parte do ser. Mas, ainda uma vez, por que meio? Eis o que ignoramos. Os próprios Espíritos não nos podem dar esclarecimentos sobre isso porque nossa linguagem não é apta a exprimir ideias que não possuímos, do mesmo modo que um povo cego não teria palavras para exprimir os efeitos da luz, ou a linguagem dos selvagens, meios para descrever as nossas artes, as nossas ciências e as nossas doutrinas filosóficas.
Dizendo que os Espíritos são inacessíveis às impressões de nossa matéria, queremos referir-nos aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não tem analogia aqui na Terra. Já o mesmo não se dá com aqueles cujo perispírito é mais denso. Esses percebem os nossos sons, os nossos odores, mas não por uma parte limitada do seu ser, como quando vivos. Poder-se-ia dizer que as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o seu ser e assim chegam ao sensorium commune, que é o próprio Espírito, posto que de maneira diferente e talvez mesmo com uma impressão diferente, o que produz uma modificação na percepção. Eles ouvem o som de nossa voz, entretanto nos entendem sem o recurso da palavra, pela simples transmissão do pensamento, o que vem em apoio àquilo que dizíamos, isto é, que tal penetração é tanto mais fácil quanto mais desmaterializado é o Espírito.
Quanto à visão, ela independe da nossa luz. A faculdade de ver é um atributo essencial da alma. Para ela não existe obscuridade. No entanto, ela é mais extensa e penetrante naqueles que são mais depurados. A alma, ou Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Na vida corpórea estas são obliteradas pela grosseria de nossos órgãos. Na vida extracorpórea são cada vez menos obliteradas, à medida que se depura o envoltório semimaterial.
Tirado do meio ambiente, esse envoltório varia segundo a natureza dos mundos. Passando de um mundo a outro, os Espíritos mudam de envoltório como nós mudamos as roupas ao passar do inverno ao verão, ou do polo ao equador. Quando nos vêm visitar, os Espíritos mais elevados revestem-se, pois, de seu perispírito terrestre e a partir de então suas percepções se operam como nos nossos Espíritos comuns. Mas todos, tanto inferiores como superiores, nem ouvem nem sentem senão aquilo que querem ouvir ou sentir. Sem órgãos sensitivos, podem, à vontade, tornar as suas percepções ativas ou anulá-las. Existe apenas uma coisa que são obrigados a ouvir: os conselhos dos bons Espíritos.
A vista é sempre ativa, mas podem tornar-se reciprocamente invisíveis uns para os outros. Segundo a posição que ocupam, podem ocultar-se dos que lhes são inferiores, mas não dos superiores.
Nos primeiros momentos que se seguem à morte, a visão do Espírito é sempre confusa e perturbada. Torna-se clara à medida que se desprende e pode adquirir a mesma clareza que durante a vida, independentemente de sua penetração através dos corpos para nós opacos. Quanto à sua extensão através do espaço infinito, tanto no passado como no futuro, depende do grau de pureza e de elevação do Espírito.
Dirão que toda esta teoria não é nada animadora. Imaginávamos que uma vez desembaraçados do grosseiro envoltório material, instrumento de nossas dores, não mais sofreríamos. Eis que nos ensinais que sofreremos ainda. De uma ou de outra forma, não haverá menos sofrimento. Ai de nós!
Sim, nós podemos continuar sofrendo, e muito, e por muito tempo, mas também podemos deixar de sofrer, até mesmo a partir do momento em que deixamos a vida corpórea.
Os sofrimentos terrenos são por vezes independentes de nós. Muitos, porém, são consequência de nossa vontade. Remontemos à fonte e veremos que a maior parte deles resultam de causas que poderíamos ter evitado. Quantos males, quantas enfermidades não deve o homem aos seus excessos, à sua ambição, numa palavra, às suas paixões?
O homem que tivesse vivido sobriamente; que não tivesse abusado de nada; que sempre tivesse sido simples em seus gostos e modesto nos seus desejos, poupar-se-ia a muitas tribulações.
O mesmo se dá com o Espírito. Os sofrimentos que padece são sempre consequência da maneira como viveu na Terra. Certamente não sofrerá mais de gota ou de reumatismo, mas terá outros sofrimentos que não são menores. Vimos que seus sofrimentos são o resultado dos laços que ainda existem entre ele e a matéria; que quanto mais desvinculado da influência da matéria ou, por outras palavras, quanto mais desmaterializado, menos sensações penosas terá. Ora, dele depende libertar-se de tal influência, já nesta vida. Ele possui o livre-arbítrio e, consequentemente, a escolha entre fazer ou deixar de fazer. Que domine as suas paixões animais; que não tenha ódio, inveja, ciúme e orgulho; que não se deixe dominar pelo egoísmo; que purifique sua alma pelos bons sentimentos; que pratique o bem; que não atribua às coisas deste mundo senão a importância que merecem e então, mesmo que ainda esteja em seu envoltório corporal, já estará depurado e desprendido da matéria. Quando deixar esse envoltório, não sofrerá mais sua influência. Os sofrimentos físicos que houver experimentado não lhe deixarão uma lembrança penosa. Não lhe restará nenhuma impressão desagradável, porque elas terão afetado o corpo, mas não o Espírito; será feliz por ter-se libertado e a calma de consciência o livrará de qualquer sofrimento moral.
Interrogamos milhares de Espíritos que pertenceram a todas as camadas da Sociedade e a todas as posições sociais; estudamo-los em todos os períodos de sua vida espírita, desde o momento em que deixaram o corpo; seguimo-los passo a passo nessa vida de além-túmulo, a fim de observar as mudanças neles operadas, nas suas ideias e nas suas sensações. A esse respeito, não foram as criaturas mais vulgares as que ofereceram material menos interessante para estudo. Ora, nós vimos sempre que os sofrimentos dependem da conduta, cujas consequências eles sofrem, e que essa nova existência é fonte de inefável felicidade para aqueles que seguiram o bom caminho, de onde se segue que os que sofrem, sofrem porque o quiseram e que não devem queixar-se senão de si mesmos, quer neste mundo, quer no outro.
Certos críticos ridicularizaram algumas das nossas evocações, como, por exemplo, a do assassino Lemaire*, achando estranho que nos ocupássemos de seres tão ignóbeis, quando temos tantos Espíritos superiores à nossa disposição. Esquecem que é exatamente por isto que, de certo modo, apuramos a natureza do fato ou, melhor dizendo, em sua ignorância da ciência espírita, não veem nesses diálogos mais que uma conversa mais ou menos divertida, cujo alcance não compreendem.
* Vide Revista Espírita n.º 1.
Lemos algures que um filósofo dizia, depois de haver conversado com um camponês: “Aprendi mais com esse rústico do que com todos os sábios.” É que ele podia ver além da superfície. Para o bom observador nada é perdido. Ele encontra ensinamentos úteis até no criptógamo que cresce nas esterqueiras. Recusa-se o médico a tocar numa ferida horrenda quando se trata de encontrar a causa de um mal?
Ainda uma palavra sobre o assunto. Os sofrimentos de além-túmulo têm um termo. Sabemos que aos mais inferiores Espíritos é permitido elevar-se e purificar-se por novas provas. Isto pode ser demorado, muito demorado, mas dele depende abreviar esse tempo penoso, porque Deus o escuta sempre, desde que se submeta à sua vontade. Quanto mais desmaterializado é o Espírito, mais vastas e lúcidas são as suas percepções; quanto mais se acha sob o império da matéria, o que depende inteiramente do seu gênero de vida terrena, mais limitadas e veladas serão elas. Quanto mais a visão moral de um se estende para o infinito, tanto mais a do outro se restringe.
Assim, pois, os Espíritos inferiores têm apenas uma noção vaga, confusa, incompleta e por vezes nula do futuro. Eles não veem o termo de seus sofrimentos e por isso pensam sofrer eternamente, o que é para eles um castigo. Se a posição de uns é aflitiva, terrível mesmo, não é, entretanto, desesperadora; a dos outros é, porém, eminentemente consoladora. A nós, pois, cabe escolher. Isto é da mais alta moralidade.
Os cépticos duvidam da sorte que nos aguarda após a morte. Nós lhes mostramos exatamente o que acontece, com o que julgamos prestar-lhes um serviço. Assim, vimos mais de um voltar atrás de seu erro ou, pelo menos, começar a refletir sobre aquilo de que antes fazia troça.
Nada como nos darmos conta da possibilidade das coisas. Se sempre tivesse sido assim, não haveria tantos incrédulos, e tanto a religião como a moral pública ganhariam com isso. Para muitos a dúvida religiosa provém da dificuldade de compreenderem certas coisas. São Espíritos positivos não predispostos à fé cega, que só admitem aquilo que para eles tem uma razão de ser. Tornai essas coisas acessíveis à sua inteligência e eles as aceitarão, porque, no fundo, não pedem mais do que isso a fim de crerem e porque a dúvida lhes é uma situação mais penosa do que imaginamos ou do que eles ousam confessar.
Em tudo quanto dissemos não há um sistema ou ideias pessoais. Também não foram alguns Espíritos privilegiados que nos ditaram esta teoria. Ela é resultado de estudos feitos sobre individualidades, corroborados e confirmados por Espíritos cuja linguagem nenhuma dúvida pode deixar quanto à sua superioridade. Julgamo-los por suas palavras e não por seu nome ou pelo nome que podem atribuir-se.
Dissertações de além-túmulo
Pobres homens! Como conheceis pouco os mais ordinários fenômenos que
fazem a vossa vida! Tende-vos por muito sábios; pensais possuir uma
vasta erudição e a estas simples perguntas que fazem todas as crianças:
“O que é que fazemos quando dormimos? O que são os sonhos?” ficais sem
resposta. Não tenho a pretensão de vos fazer compreender aquilo que vos
quero explicar, porque há coisas às quais o vosso Espírito ainda não
pode submeter-se, porque admite apenas o que compreende.
O sono liberta inteiramente a alma do corpo. Quando dormimos, ficamos momentaneamente no estado em que, de maneira definitiva, nos encontraremos depois da morte. Os Espíritos que rapidamente se desprenderam da matéria por ocasião da morte, tiveram sono inteligente; esses, quando dormem, reencontram a sociedade de outros seres que lhes são superiores: viajam, conversam e com eles se instruem. Trabalham até em obras que, ao morrer, acham acabadas. Isto, mais uma vez, deve ensinar-nos que não devemos temer a morte, pois que morremos todos dias, conforme disse um santo.
Isto quanto aos Espíritos elevados. No entanto, a maior parte dos homens, que com a morte devem ficar longas horas nessa perturbação, nessa incerteza de que vos falaram, esses vão ou para mundos inferiores à Terra, para onde os chamam antigas afeições, ou ao encontro de prazeres ainda mais baixos do que os que têm aqui. Vão aprender doutrinas ainda mais vis, mais ignóbeis e mais nocivas do que as que professam em vosso meio. O que estabelece a simpatia, na Terra, não é senão o fato de nos sentirmos, ao despertar, atraídos pelo coração para junto daqueles com quem acabamos de passar oito ou nove horas de felicidade ou de prazer. O que também explica as antipatias irresistíveis é que, no fundo do coração, sabemos que essas criaturas têm uma consciência diferente da nossa, pois as conhecemos sem jamais as termos visto com os olhos. É ainda o que explica a indiferença, pois que não buscamos fazer amigos, quando sabemos que temos outros que nos amam e nos querem. Numa palavra, o sono influi mais do que pensais sobre a vossa vida.
Por efeito do sono os Espíritos encarnados estão sempre em contato com o mundo dos Espíritos, o que permite que os Espíritos superiores, sem muita repulsa, consintam em vir encarnar-se em vosso meio. Deus quis que durante o seu contato com o vício eles pudessem vir retemperar-se na fonte do bem, a fim de não falirem, eles que vêm para instruir os outros. O sono é a porta que Deus lhes abriu para os amigos do Céu; é o recreio após o trabalho, a espera da grande libertação, a libertação final que deve reintegrá-los em seu verdadeiro meio.
O sonho é a lembrança daquilo que o vosso Espírito viu durante o sono. Notai, porém, que não sonhais sempre, porque nem sempre vos lembrais daquilo que vistes ou de tudo quanto vistes. Não é a vossa alma em todo o seu desdobramento; muitas vezes não é mais que a lembrança da perturbação que acompanha a vossa partida ou a vossa chegada, a que se junta a lembrança daquilo que fizestes ou que vos preocupa no estado de vigília. Sem isto, como explicar esses sonhos absurdos, tanto dos mais sábios como dos mais simples? Os maus Espíritos também se servem dos sonhos para atormentar as almas fracas e pusilânimes.
Aliás, dentro em pouco vereis desenvolver-se uma nova espécie de sonhos. Ela é tão antiga quanto a que conheceis, mas vós a ignorais. O sonho de Joana, o de Jacob, o dos profetas judeus e o de alguns adivinhos indianos. Esse sonho é a lembrança da alma inteiramente desprendida do corpo; a lembrança dessa segunda vida de que eu vos falava há pouco.
Procurai distinguir bem essas duas espécies de sonhos naqueles de que vos recordais, pois sem isto caireis em contradições e em erros funestos à vossa fé.
OBSERVAÇÃO: Solicitado a declinar o seu nome, o Espírito que ditou esta comunicação respondeu: “Para quê? Pensais que só os Espíritos de vossos grandes homens é que vos vêm dizer boas coisas? Então não valem nada todos aqueles que não conheceis ou que não têm nome na vossa Terra? Sabei que muitos tomam um nome apenas para vos satisfazer.”
O sono liberta inteiramente a alma do corpo. Quando dormimos, ficamos momentaneamente no estado em que, de maneira definitiva, nos encontraremos depois da morte. Os Espíritos que rapidamente se desprenderam da matéria por ocasião da morte, tiveram sono inteligente; esses, quando dormem, reencontram a sociedade de outros seres que lhes são superiores: viajam, conversam e com eles se instruem. Trabalham até em obras que, ao morrer, acham acabadas. Isto, mais uma vez, deve ensinar-nos que não devemos temer a morte, pois que morremos todos dias, conforme disse um santo.
Isto quanto aos Espíritos elevados. No entanto, a maior parte dos homens, que com a morte devem ficar longas horas nessa perturbação, nessa incerteza de que vos falaram, esses vão ou para mundos inferiores à Terra, para onde os chamam antigas afeições, ou ao encontro de prazeres ainda mais baixos do que os que têm aqui. Vão aprender doutrinas ainda mais vis, mais ignóbeis e mais nocivas do que as que professam em vosso meio. O que estabelece a simpatia, na Terra, não é senão o fato de nos sentirmos, ao despertar, atraídos pelo coração para junto daqueles com quem acabamos de passar oito ou nove horas de felicidade ou de prazer. O que também explica as antipatias irresistíveis é que, no fundo do coração, sabemos que essas criaturas têm uma consciência diferente da nossa, pois as conhecemos sem jamais as termos visto com os olhos. É ainda o que explica a indiferença, pois que não buscamos fazer amigos, quando sabemos que temos outros que nos amam e nos querem. Numa palavra, o sono influi mais do que pensais sobre a vossa vida.
Por efeito do sono os Espíritos encarnados estão sempre em contato com o mundo dos Espíritos, o que permite que os Espíritos superiores, sem muita repulsa, consintam em vir encarnar-se em vosso meio. Deus quis que durante o seu contato com o vício eles pudessem vir retemperar-se na fonte do bem, a fim de não falirem, eles que vêm para instruir os outros. O sono é a porta que Deus lhes abriu para os amigos do Céu; é o recreio após o trabalho, a espera da grande libertação, a libertação final que deve reintegrá-los em seu verdadeiro meio.
O sonho é a lembrança daquilo que o vosso Espírito viu durante o sono. Notai, porém, que não sonhais sempre, porque nem sempre vos lembrais daquilo que vistes ou de tudo quanto vistes. Não é a vossa alma em todo o seu desdobramento; muitas vezes não é mais que a lembrança da perturbação que acompanha a vossa partida ou a vossa chegada, a que se junta a lembrança daquilo que fizestes ou que vos preocupa no estado de vigília. Sem isto, como explicar esses sonhos absurdos, tanto dos mais sábios como dos mais simples? Os maus Espíritos também se servem dos sonhos para atormentar as almas fracas e pusilânimes.
Aliás, dentro em pouco vereis desenvolver-se uma nova espécie de sonhos. Ela é tão antiga quanto a que conheceis, mas vós a ignorais. O sonho de Joana, o de Jacob, o dos profetas judeus e o de alguns adivinhos indianos. Esse sonho é a lembrança da alma inteiramente desprendida do corpo; a lembrança dessa segunda vida de que eu vos falava há pouco.
Procurai distinguir bem essas duas espécies de sonhos naqueles de que vos recordais, pois sem isto caireis em contradições e em erros funestos à vossa fé.
OBSERVAÇÃO: Solicitado a declinar o seu nome, o Espírito que ditou esta comunicação respondeu: “Para quê? Pensais que só os Espíritos de vossos grandes homens é que vos vêm dizer boas coisas? Então não valem nada todos aqueles que não conheceis ou que não têm nome na vossa Terra? Sabei que muitos tomam um nome apenas para vos satisfazer.”
OBSERVAÇÃO: Esta comunicação e a
seguinte foram obtidas pelo Sr. F..., o mesmo de quem falamos em nosso
número de outubro, a propósito dos obsedados e subjugados. Por aí se
pode julgar a diferença entre a natureza de suas comunicações atuais e
as de outrora. Sua vontade triunfou completamente da obsessão de que era
vítima, e seu mau Espírito não reapareceu. Estas duas dissertações lhe
foram ditadas por Bernard Palissy.
As flores foram criadas no mundo como símbolos da beleza, da pureza e da esperança.
Como é que o homem que vê as corolas se abrirem todas as primaveras e as flores se fanarem para dar lugar a frutos deliciosos não pensa que assim sua vida murchará, mas para dar frutos eternos? Que vos importam, pois, as tempestades e as torrentes? Essas flores jamais perecerão, como não perece a mais frágil obra do Criador. Coragem, pois, homens que caís pela estrada; levantai-vos como o lírio após a tempestade, mais puros e mais radiosos. Como às flores, os ventos vos açoitam por todos os lados; eles vos derribam e vos arrastam pela lama, mas quando o sol reaparece, reerguei também vossas cabeças, com mais nobreza e mais grandeza.
Amai as flores. Elas são o emblema de vossa vida e não deveis corar por serdes a elas comparados. Tende-as nos vossos jardins, nas vossas casas, mesmo nos vossos templos, pois elas são agradáveis em qualquer lugar. Onde quer que estejam, elas inspiram a poesia e elevam a alma de quem sabe compreendê-las. Não foi nas flores que Deus manifestou todas as suas magnificências? Como conheceríeis as cores suaves com que o Criador alegrou a Natureza se não fossem as flores? Antes que o homem tivesse cavado as entranhas da Terra para achar o rubi e o topázio, ele tinha as flores diante de si, e essa variedade infinita de nuanças já o consolava da monotonia da superfície da Terra. Amai, pois, as flores: sereis mais puros e mais amoráveis; sereis talvez mais crianças, mas sereis os filhos queridos de Deus, e vossas almas simples e sem mácula serão acessíveis a todo o seu amor, a toda a alegria com que ele aquecerá os vossos corações.
As flores querem ser tratadas por mãos esclarecidas. A inteligência é necessária à sua prosperidade. Durante muito tempo estivestes errados na Terra, deixando tal cuidado a mãos inábeis, que as mutilavam, julgando embelezá-las. Nada mais triste que as árvores redondas ou pontiagudas de alguns dos vossos jardins, pirâmides de verdura que fazem o efeito de um monte de feno. Deixai que a natureza se desenvolva sob mil formas diversas. Aí está a graça. Feliz aquele que sabe admirar a beleza de uma haste que se balouça, semeando a poeira fecundante. Feliz aquele que vê em suas cores brilhantes um infinito de graça, de delicadeza, de colorido, de nuanças que fogem e se buscam, se perdem e se reencontram. Feliz aquele que sabe compreender a beleza da gradação dos tons! Desde a raiz escura que se consorcia com a terra, como as cores se fundem até o escarlate da tulipa e da papoula! (Por que esses nomes rudes e bizarros?) Estudai tudo isto e observai as folhas que surgem umas das outras como gerações infinitas, até o seu completo desabrochar sob a abóboda celeste.
Não parece que as flores saem da Terra para lançar-se em direção a outros mundos? Não parece que muitas vezes vergam dolorosamente a cabeça por não poderem elevar-se ainda mais alto? Não julgamos que as flores, por sua beleza, estão mais próximas de Deus? Imitai-as, pois, e tornai-vos cada vez maiores, cada vez mais belos.
Vossa maneira de aprender Botânica também é defeituosa. Não basta saber o nome de uma planta. Recrutar-te-ei, quando tiveres tempo, para trabalhar também numa obra desse gênero. Deixo para mais tarde as lições que hoje desejaria dar-te. Elas serão mais úteis quando tivermos oportunidade de aplicá-las. Então falaremos dos gêneros de culturas; dos lugares que lhes convêm; da adequação do edifício para o arejamento e a salubridade das habitações.
Se publicares isto, corta os últimos parágrafos, para que não sejam tomados como anúncios.
As flores foram criadas no mundo como símbolos da beleza, da pureza e da esperança.
Como é que o homem que vê as corolas se abrirem todas as primaveras e as flores se fanarem para dar lugar a frutos deliciosos não pensa que assim sua vida murchará, mas para dar frutos eternos? Que vos importam, pois, as tempestades e as torrentes? Essas flores jamais perecerão, como não perece a mais frágil obra do Criador. Coragem, pois, homens que caís pela estrada; levantai-vos como o lírio após a tempestade, mais puros e mais radiosos. Como às flores, os ventos vos açoitam por todos os lados; eles vos derribam e vos arrastam pela lama, mas quando o sol reaparece, reerguei também vossas cabeças, com mais nobreza e mais grandeza.
Amai as flores. Elas são o emblema de vossa vida e não deveis corar por serdes a elas comparados. Tende-as nos vossos jardins, nas vossas casas, mesmo nos vossos templos, pois elas são agradáveis em qualquer lugar. Onde quer que estejam, elas inspiram a poesia e elevam a alma de quem sabe compreendê-las. Não foi nas flores que Deus manifestou todas as suas magnificências? Como conheceríeis as cores suaves com que o Criador alegrou a Natureza se não fossem as flores? Antes que o homem tivesse cavado as entranhas da Terra para achar o rubi e o topázio, ele tinha as flores diante de si, e essa variedade infinita de nuanças já o consolava da monotonia da superfície da Terra. Amai, pois, as flores: sereis mais puros e mais amoráveis; sereis talvez mais crianças, mas sereis os filhos queridos de Deus, e vossas almas simples e sem mácula serão acessíveis a todo o seu amor, a toda a alegria com que ele aquecerá os vossos corações.
As flores querem ser tratadas por mãos esclarecidas. A inteligência é necessária à sua prosperidade. Durante muito tempo estivestes errados na Terra, deixando tal cuidado a mãos inábeis, que as mutilavam, julgando embelezá-las. Nada mais triste que as árvores redondas ou pontiagudas de alguns dos vossos jardins, pirâmides de verdura que fazem o efeito de um monte de feno. Deixai que a natureza se desenvolva sob mil formas diversas. Aí está a graça. Feliz aquele que sabe admirar a beleza de uma haste que se balouça, semeando a poeira fecundante. Feliz aquele que vê em suas cores brilhantes um infinito de graça, de delicadeza, de colorido, de nuanças que fogem e se buscam, se perdem e se reencontram. Feliz aquele que sabe compreender a beleza da gradação dos tons! Desde a raiz escura que se consorcia com a terra, como as cores se fundem até o escarlate da tulipa e da papoula! (Por que esses nomes rudes e bizarros?) Estudai tudo isto e observai as folhas que surgem umas das outras como gerações infinitas, até o seu completo desabrochar sob a abóboda celeste.
Não parece que as flores saem da Terra para lançar-se em direção a outros mundos? Não parece que muitas vezes vergam dolorosamente a cabeça por não poderem elevar-se ainda mais alto? Não julgamos que as flores, por sua beleza, estão mais próximas de Deus? Imitai-as, pois, e tornai-vos cada vez maiores, cada vez mais belos.
Vossa maneira de aprender Botânica também é defeituosa. Não basta saber o nome de uma planta. Recrutar-te-ei, quando tiveres tempo, para trabalhar também numa obra desse gênero. Deixo para mais tarde as lições que hoje desejaria dar-te. Elas serão mais úteis quando tivermos oportunidade de aplicá-las. Então falaremos dos gêneros de culturas; dos lugares que lhes convêm; da adequação do edifício para o arejamento e a salubridade das habitações.
Se publicares isto, corta os últimos parágrafos, para que não sejam tomados como anúncios.
A mulher é mais finamente burilada que
o homem, o que indica, naturalmente, uma alma mais delicada. É assim
que em condições semelhantes, em todos os mundos, a mãe será mais bela
que o pai, por ser ela que a criança vê primeiro. É para a figura
angélica de uma jovem senhora que a criança volta incessantemente o
olhar. É pela mãe que a criança enxuga as lágrimas e nela fixa o olhar
ainda fraco e incerto. A criança tem, assim, uma intuição natural do
belo.
A mulher sabe fazer-se notada principalmente pela delicadeza de seus pensamentos, pela graça de seus gestos, pela pureza de suas palavras. Tudo que dela vem deve harmonizar-se com sua pessoa, que Deus fez bela.
Seus longos cabelos que se derramam sobre os ombros, são a imagem da doçura e da facilidade com que sua cabeça se dobra sem se partir sob as provas. Eles refletem a luz do sóis, como a alma da mulher deve refletir a luz mais pura de Deus. Jovens, deixai vossos cabelos flutuarem. Para isso Deus os criou. Tereis a aparência ao mesmo tempo mais natural e mais bela.
A mulher deve ser simples no vestir. Ela saiu suficientemente bela das mãos do Criador para dispensar os atavios. Que o branco e o azul se unam sobre vossas espáduas. Deixai também que flutuem os vossos vestidos. Que se vejam as vossas roupagens estender-se atrás de vós numa longa esteira de gaze, como leve nuvem indicando imediatamente a vossa presença.
Mas o que representam os enfeites, o vestido, a beleza, os cabelos ondulados ou flutuantes, enrolados ou presos, se o sorriso tão doce das mães e das amantes não brilhar nos vossos lábios? Se os vossos olhos não semearem a bondade, a caridade e a esperança nas lágrimas de alegria que eles deixam correr, nos relâmpagos que se abrem desse braseiro de amor desconhecido?
Mulheres! Não temais deslumbrar os homens pela vossa beleza, por vossa graça, por vossa superioridade. Saibam, porém, os homens, que para se tornarem dignos de vós, devem ser tão grandes quanto sois belas, tão sábios quanto sois boas, tão instruídos quanto sois originais e simples. É necessário que saibam que vos devem merecer; que sois o prêmio da virtude e da honra, não dessa honra que se cobria com um capacete e um escudo e que brilhava nas justas e nos torneios, com o pé sobre a fronte de um inimigo derrubado. Não, mas da honra segundo Deus.
Homens! Sede úteis, e quando os pobres abençoarem o vosso nome, as mulheres vos serão iguais. Então formareis um todo: sereis a cabeça e elas o coração; sereis o pensamento benfeitor e elas as mãos liberais. Uni-vos, pois, não só para o amor, mas para o bem que podeis fazer a dois. Que os bons pensamentos e as boas ações realizadas por dois corações amantes sejam os elos dessa cadeia de ouro e diamantes chamada matrimônio. Então, quando os elos forem bastante numerosos, Deus vos chamará para junto dele e continuareis a ajuntar novos elos. Na Terra eles eram de metal pesado e frio. No Céu serão de fogo e de luz.
O DESPERTAR DE UM ESPÍRITO
Que bela é a Natureza e como é doce o ar!
Senhor, graças te dou, de joelho a te louvar! Possa o hino feliz do meu reconhecer Como o incenso subir ao Supremo Poder;
Assim, ante o olhar das irmãs em aflição,
Fizeste sair Lázaro do seu caixão;
De Jairo consternado a filha bem amada Foi no leito de morte por ti reanimada. Também, Deus poderoso, me estendeste a mão; Levanta-te! disseste, e não falaste em vão.
Por que ser, ai de mim, de lama um vil arranjo? Eu queria louvar-te com a voz de um anjo; Tua obra jamais me pareceu tão pulcra!
Para aquele que sai da noite do sepulcro
É que o dia se mostra puro e a luz brilhante, O sol é mais radioso e a vida embriagante. O ar é então mais doce do que o leite e o mel, Cada som é uma voz entre os coros do Céu. A voz mansa dos ventos faz uma harmonia Que se torna infinita e no espaço se amplia.
O que a Alma concebe ou fere os olhos seus,
O que se pode ler sobre o livro dos Céus,
Pela extensão dos mares, nos leitos profundos,
Em todos os oceanos, abismos e mundos, Tudo se curva em esfera e sentimos que dentro
Seus raios convergentes têm Deus como centro. E tu, que o teu olhar planas sobre as estrelas,
Que te ocultas no Céu como um rei, que te velas, Qual é a tua grandeza, se o vasto Universo É aos teus olhos um ponto, e o espaço submerso Dos mares é um espelho da tua esplendência?
Qual, pois, tua grandeza, qual a tua essência?
Que tão vasto palácio construíste, ó Rei!
Os astros não separam a nós de ti, bem sei.
O sol rola a teus pés, poder que não se talha, Como o ônix que um príncipe traz na sandália.
E o que mais admiro em ti, ó Majestade,
Bem menos que a grandeza, é tua imensa bondade Que a tudo se revela, luz que resplandece,
E que a um ser impotente escuta e atende a prece.
JODELLE
NOTA: Estes versos foram escritos espontaneamente, por meio de uma cesta tocada por uma senhora e um menino. Pensamos que muitos poetas honrar-se-iam de sua autoria. Eles nos foram enviados por um dos nossos assinantes.
A mulher sabe fazer-se notada principalmente pela delicadeza de seus pensamentos, pela graça de seus gestos, pela pureza de suas palavras. Tudo que dela vem deve harmonizar-se com sua pessoa, que Deus fez bela.
Seus longos cabelos que se derramam sobre os ombros, são a imagem da doçura e da facilidade com que sua cabeça se dobra sem se partir sob as provas. Eles refletem a luz do sóis, como a alma da mulher deve refletir a luz mais pura de Deus. Jovens, deixai vossos cabelos flutuarem. Para isso Deus os criou. Tereis a aparência ao mesmo tempo mais natural e mais bela.
A mulher deve ser simples no vestir. Ela saiu suficientemente bela das mãos do Criador para dispensar os atavios. Que o branco e o azul se unam sobre vossas espáduas. Deixai também que flutuem os vossos vestidos. Que se vejam as vossas roupagens estender-se atrás de vós numa longa esteira de gaze, como leve nuvem indicando imediatamente a vossa presença.
Mas o que representam os enfeites, o vestido, a beleza, os cabelos ondulados ou flutuantes, enrolados ou presos, se o sorriso tão doce das mães e das amantes não brilhar nos vossos lábios? Se os vossos olhos não semearem a bondade, a caridade e a esperança nas lágrimas de alegria que eles deixam correr, nos relâmpagos que se abrem desse braseiro de amor desconhecido?
Mulheres! Não temais deslumbrar os homens pela vossa beleza, por vossa graça, por vossa superioridade. Saibam, porém, os homens, que para se tornarem dignos de vós, devem ser tão grandes quanto sois belas, tão sábios quanto sois boas, tão instruídos quanto sois originais e simples. É necessário que saibam que vos devem merecer; que sois o prêmio da virtude e da honra, não dessa honra que se cobria com um capacete e um escudo e que brilhava nas justas e nos torneios, com o pé sobre a fronte de um inimigo derrubado. Não, mas da honra segundo Deus.
Homens! Sede úteis, e quando os pobres abençoarem o vosso nome, as mulheres vos serão iguais. Então formareis um todo: sereis a cabeça e elas o coração; sereis o pensamento benfeitor e elas as mãos liberais. Uni-vos, pois, não só para o amor, mas para o bem que podeis fazer a dois. Que os bons pensamentos e as boas ações realizadas por dois corações amantes sejam os elos dessa cadeia de ouro e diamantes chamada matrimônio. Então, quando os elos forem bastante numerosos, Deus vos chamará para junto dele e continuareis a ajuntar novos elos. Na Terra eles eram de metal pesado e frio. No Céu serão de fogo e de luz.
O DESPERTAR DE UM ESPÍRITO
Que bela é a Natureza e como é doce o ar!
Senhor, graças te dou, de joelho a te louvar! Possa o hino feliz do meu reconhecer Como o incenso subir ao Supremo Poder;
Assim, ante o olhar das irmãs em aflição,
Fizeste sair Lázaro do seu caixão;
De Jairo consternado a filha bem amada Foi no leito de morte por ti reanimada. Também, Deus poderoso, me estendeste a mão; Levanta-te! disseste, e não falaste em vão.
Por que ser, ai de mim, de lama um vil arranjo? Eu queria louvar-te com a voz de um anjo; Tua obra jamais me pareceu tão pulcra!
Para aquele que sai da noite do sepulcro
É que o dia se mostra puro e a luz brilhante, O sol é mais radioso e a vida embriagante. O ar é então mais doce do que o leite e o mel, Cada som é uma voz entre os coros do Céu. A voz mansa dos ventos faz uma harmonia Que se torna infinita e no espaço se amplia.
O que a Alma concebe ou fere os olhos seus,
O que se pode ler sobre o livro dos Céus,
Pela extensão dos mares, nos leitos profundos,
Em todos os oceanos, abismos e mundos, Tudo se curva em esfera e sentimos que dentro
Seus raios convergentes têm Deus como centro. E tu, que o teu olhar planas sobre as estrelas,
Que te ocultas no Céu como um rei, que te velas, Qual é a tua grandeza, se o vasto Universo É aos teus olhos um ponto, e o espaço submerso Dos mares é um espelho da tua esplendência?
Qual, pois, tua grandeza, qual a tua essência?
Que tão vasto palácio construíste, ó Rei!
Os astros não separam a nós de ti, bem sei.
O sol rola a teus pés, poder que não se talha, Como o ônix que um príncipe traz na sandália.
E o que mais admiro em ti, ó Majestade,
Bem menos que a grandeza, é tua imensa bondade Que a tudo se revela, luz que resplandece,
E que a um ser impotente escuta e atende a prece.
JODELLE
NOTA: Estes versos foram escritos espontaneamente, por meio de uma cesta tocada por uma senhora e um menino. Pensamos que muitos poetas honrar-se-iam de sua autoria. Eles nos foram enviados por um dos nossos assinantes.
O DESPERTAR DE UM ESPÍRITO
Que bela é a Natureza e como é doce o ar!
Senhor, graças te dou, de joelho a te louvar!
Possa o hino feliz do meu reconhecer
Como o incenso subir ao Supremo Poder;
Assim, ante o olhar das irmãs em aflição,
Fizeste sair Lázaro do seu caixão;
De Jairo consternado a filha bem amada
Foi no leito de morte por ti reanimada.
Também, Deus poderoso, me estendeste a mão;
Levanta-te! disseste, e não falaste em vão.
Por que ser, ai de mim, de lama um vil arranjo?
Eu queria louvar-te com a voz de um anjo;
Tua obra jamais me pareceu tão pulcra!
Para aquele que sai da noite do sepulcro
É que o dia se mostra puro e a luz brilhante,
O sol é mais radioso e a vida embriagante.
O ar é então mais doce do que o leite e o mel,
Cada som é uma voz entre os coros do Céu.
A voz mansa dos ventos faz uma harmonia
Que se torna infinita e no espaço se amplia.
O que a Alma concebe ou fere os olhos seus,
O que se pode ler sobre o livro dos Céus,
Pela extensão dos mares, nos leitos profundos,
Em todos os oceanos, abismos e mundos,
Tudo se curva em esfera e sentimos que dentro
Seus raios convergentes têm Deus como centro.
E tu, que o teu olhar planas sobre as estrelas,
Que te ocultas no Céu como um rei, que te velas,
Qual é a tua grandeza, se o vasto Universo
É aos teus olhos um ponto, e o espaço submerso
Dos mares é um espelho da tua esplendência?
Qual, pois, tua grandeza, qual a tua essência?
Que tão vasto palácio construíste, ó Rei!
Os astros não separam a nós de ti, bem sei.
O sol rola a teus pés, poder que não se talha,
Como o ônix que um príncipe traz na sandália.
E o que mais admiro em ti, ó Majestade,
Bem menos que a grandeza, é tua imensa bondade
Que a tudo se revela, luz que resplandece,
E que a um ser impotente escuta e atende a prece.
JODELLE
NOTA: Estes versos foram escritos espontaneamente, por meio de uma cesta tocada por uma senhora e um menino. Pensamos que muitos poetas honrar-se-iam de sua autoria. Eles nos foram enviados por um dos nossos assinantes.
Palestras familiares de além-túmulo
Desejávamos interrogar uma dessas mulheres da Índia, sujeitas ao costume
de queimar-se sobre o cadáver do marido. Não conhecendo nenhuma,
tínhamos pedido a São Luís que nos enviasse uma em condições de
responder às nossas perguntas de maneira satisfatória. Ele nos respondeu
que de boa vontade o faria oportunamente. Na sessão da Sociedade, no
dia 2 de novembro de 1858, o Sr. Adrien, médium vidente, avistou uma
disposta a falar, e dela nos deu a seguinte descrição:
Olhos negros e grandes, com a esclerótica amarela; rosto arredondado; faces salientes e gordas; pele açafroada e trigueira; cílios longos e supercílios arqueados e negros; nariz um pouco grande, ligeiramente achatado; boca grande e sensual; belos dentes largos e iguais; cabelos lisos, abundantes, negros e empastados de gordura. Corpo bem gordo, grande e atarracado. Roupagem de seda deixando o peito meio descoberto. Pulseiras nos braços e nas pernas.
1. Lembrai-vos mais ou menos em que época vivestes na Índia e onde fostes queimada com o corpo de vosso marido?
Olhos negros e grandes, com a esclerótica amarela; rosto arredondado; faces salientes e gordas; pele açafroada e trigueira; cílios longos e supercílios arqueados e negros; nariz um pouco grande, ligeiramente achatado; boca grande e sensual; belos dentes largos e iguais; cabelos lisos, abundantes, negros e empastados de gordura. Corpo bem gordo, grande e atarracado. Roupagem de seda deixando o peito meio descoberto. Pulseiras nos braços e nas pernas.
1. Lembrai-vos mais ou menos em que época vivestes na Índia e onde fostes queimada com o corpo de vosso marido?
- Ela fez um sinal,
indicando que não se lembrava. S. Luís respondeu, indicando que foi há
cerca de cem anos.
2. ─ Lembrai-vos do nome que tínheis?─ Fátima.
3. ─ Que religião professáveis?
─ A maometana.
4. ─ Mas o Islamismo não proíbe tais sacrifícios?
─ Nasci muçulmana mas meu marido era da religião de Brahma. Tive que me conformar com o costume da região onde eu morava. As mulheres não se pertencem.
5. ─ Que idade tínheis quando fostes morta? ─ Creio que tinha uns vinte anos.
6. ─ Sacrificaste-vos voluntariamente?
─ Eu preferia ter-me casado com outro. Pensai bem e compreendereis que todas pensamos do mesmo modo. Segui o costume, mas no fundo teria preferido não fazêlo. Durante vários dias esperei por outro marido, mas ninguém veio. Então obedeci à lei.
7.
─ Que sentimento pôde ditar essa lei?
─ Ideia supersticiosa. Imaginam que nos queimando agradam à
Divindade; que resgatamos as faltas daquele que perdemos e que vamos ajudá-lo a
viver feliz no outro mundo.
8.
─ Vosso marido ficou satisfeito com o vosso
sacrifício?
─ Nunca procurei rever o meu marido.
9.
─ Há mulheres que assim se sacrificam de boa
vontade?
─ Há poucas: uma em mil. No fundo elas não
desejariam fazê-lo.
10.
─ O que aconteceu convosco, no momento em que se
extinguiu a vida corporal?
─ Perturbação. Senti um escurecimento, depois não sei o que
aconteceu. Minhas ideias não ficaram claras senão muito tempo depois. Eu ia a
toda parte, entretanto, não via bem. Ainda agora não me sinto completamente
lúcida. Terei que passar por muitas encarnações para me elevar, mas não me
queimarei mais... Não vejo necessidade da gente queimar-se, de atirar-se no
meio das chamas a fim de elevar-se..., sobretudo pelas faltas que a gente não
cometeu. Além disso, aquilo jamais me aprouve... Aliás, eu nunca procurei
saber. Teríeis a bondade de orar um pouco por mim? Eu entendo que não há nada
como a prece para nos dar coragem a fim de suportarmos as provas que nos são
enviadas... Ah! Se eu tivesse fé!
11.
─ Pedis que oremos por vós, mas nós somos
cristãos. Como poderiam nossas preces ser-vos agradáveis?
─ Só há um Deus para todos os homens.
OBSERVAÇÃO: Em várias sessões seguidas, a
mesma mulher foi vista entre
os Espíritos que as assistiam. Ela disse que
vinha para instruir-se. Parece que foi sensível ao interesse por ela
demonstrado, porque nos acompanhou em várias outras reuniões e até na rua.
Notícia. ─ Luísa Charly, chamada Labé,
cognominada “A Bela Cordoeira”, nasceu em Lyon, ao tempo de Francisco I.
Era de uma beleza perfeita e teve uma educação esmerada. Sabia grego e
latim, falava espanhol e italiano perfeitamente e fazia nessas línguas
poesias que não desabonavam os escritores nacionais. Afeita a todas as
formas de exercícios físicos, conhecia a equitação, a ginástica e o
manejo das armas. Dotada de um caráter muito enérgico, ao lado do pai
distinguiu-se entre os mais valentes combatentes de 1542, no cerco de
Perpignan, disfarçada sob o nome de Capitão Loys. Fracassado o cerco,
renunciou à carreira das armas e voltou a Lyon com o pai. Casou-se com
um rico fabricante de cordas chamado Ennemond Perrin e em breve só a
conheciam como “A Bela Cordoeira”, nome pelo qual ficou conhecida na rua
em que morava e no local onde ficava a fábrica do marido. Organizou em
sua casa reuniões literárias a que eram convidados os mais brilhantes
espíritos da província. Deixou uma coleção de poesias. Sua reputação de
beleza e de mulher de espírito atraiu-lhe o escol masculino e excitou a
inveja das senhoras lionesas, as quais procuraram vingar-se dela através
de calúnias. Mas a sua conduta foi sempre irrepreensível.
Evocada a 26 de outubro de 1858, na sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, disseram-nos que ainda não podia vir, por motivos que não foram explicados. A 9 de novembro atendeu ao nosso apelo, e eis o retrato que lhe fez o nosso médium vidente, Sr. Adrien:
Cabeça oval; tez pálida mate; olhos negros, belos e vivos; sobrancelhas arqueadas; fronte desenvolvida e inteligente; nariz grego, fino; boca média, lábios indicando bondade de espírito; dentes muitos bonitos, pequenos e bem feitos; cabelos negros de azeviche, ligeiramente crespos. Belo porte de cabeça; talhe grande e esbelto. Vestimenta de panejamentos brancos.
OBSERVAÇÃO: Nada prova, sem dúvida, que este retrato, como o precedente, não sejam fruto da imaginação do médium, de vez que não temos controle. Mas quando ele o faz com detalhes tão precisos de pessoas contemporâneas que jamais viu e que são reconhecidas por parentes e amigos, não podemos duvidar de sua autenticidade. Daí pode-se concluir que se ele incontestavelmente vê alguns, poderá da mesma forma ver outros. Outra circunstância digna de consideração é que ele vê sempre o mesmo Espírito sob a mesma forma e que, mesmo com intervalos de meses, o retrato não varia. Seria preciso supor que ele tivesse uma memória fenomenal para admitir que se recordasse dos mínimos detalhes de todos os Espíritos cuja descrição ele já fez, e que se contam às centenas.
Evocada a 26 de outubro de 1858, na sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, disseram-nos que ainda não podia vir, por motivos que não foram explicados. A 9 de novembro atendeu ao nosso apelo, e eis o retrato que lhe fez o nosso médium vidente, Sr. Adrien:
Cabeça oval; tez pálida mate; olhos negros, belos e vivos; sobrancelhas arqueadas; fronte desenvolvida e inteligente; nariz grego, fino; boca média, lábios indicando bondade de espírito; dentes muitos bonitos, pequenos e bem feitos; cabelos negros de azeviche, ligeiramente crespos. Belo porte de cabeça; talhe grande e esbelto. Vestimenta de panejamentos brancos.
OBSERVAÇÃO: Nada prova, sem dúvida, que este retrato, como o precedente, não sejam fruto da imaginação do médium, de vez que não temos controle. Mas quando ele o faz com detalhes tão precisos de pessoas contemporâneas que jamais viu e que são reconhecidas por parentes e amigos, não podemos duvidar de sua autenticidade. Daí pode-se concluir que se ele incontestavelmente vê alguns, poderá da mesma forma ver outros. Outra circunstância digna de consideração é que ele vê sempre o mesmo Espírito sob a mesma forma e que, mesmo com intervalos de meses, o retrato não varia. Seria preciso supor que ele tivesse uma memória fenomenal para admitir que se recordasse dos mínimos detalhes de todos os Espíritos cuja descrição ele já fez, e que se contam às centenas.
─ Eis-me aqui.
─ Com prazer.
─ Sim.
─ Isto agradava ao meu espírito, ávido de grandes coisas. Mais tarde ele voltouse para outra ordem de ideias mais sérias. As ideias com que nascemos por certo nos vêm de existências anteriores, das quais são reflexo, entretanto, modificam-se muito, quer por novas resoluções, quer pela vontade de Deus.
5. ─ Por que esses vossos gostos militares não persistiram? Como tão prontamente deram lugar aos gostos femininos? ─ Eu vi coisas que não desejo que vejais.
─ Penosas existências e a vontade de Deus!
─ Não poderia ser de outro modo.
─ Sim.
─ Que pergunta! Por mais feliz que se seja na Terra, a felicidade do Céu é coisa muito diferente! Que tesouros e que riquezas conhecereis um dia, e das quais não suspeitais ou ignorais completamente!
─ Entendo por Céu os outros mundos.
─ Habito um mundo que desconheceis, mas a ele estou pouco ligada. A matéria prende-nos pouco.
─ Júpiter é um mundo feliz, mas pensais que entre todos apenas ele seja favorecido por Deus? Eles são tão numerosos quanto os grãos de areia da praia.
─ Ela está aqui. Não posso dizer aquilo que ela não quer dizer. Não vedes que ela é dos mais elevados entre os Espíritos que ordinariamente evocais? Aliás, os Espíritos não podem definir exatamente as distâncias que os separam. São incompreensíveis para vós, mas são imensas!
─ Adrien acaba de me descrever.
─ Me evocastes como poetisa. Eu vim como poetisa.
OBSERVAÇÃO: Sabe-se que os Espíritos não gostam de
submeter-se a provas, e os pedidos dessa natureza têm sempre, mais ou menos,
esse caráter. É sem dúvida por isso que quase nunca aquiescem. Espontaneamente,
e em momento em que menos esperamos, dão-nos por vezes surpreendentes provas
que em vão teríamos solicitado. Mas quase sempre basta que se lhes peça uma
coisa para que se não a obtenha, sobretudo se o pedido encerra um sentimento de
curiosidade. Os Espíritos, e principalmente os Espíritos elevados, querem assim
provar-nos que não se acham às nossas ordens.
No dia seguinte, pelo médium psicógrafo que lhe havia servido
de intérprete, a
Bela Cordoeira escreveu o seguinte:
“Vou ditar o que te prometi. Não são versos, que não os
quero fazer. Aliás não me lembro dos que fiz, e deles não gostaríeis. Isto será
prosa das mais modestas.
“Na Terra exaltei o amor, a doçura e os bons sentimentos; falava um pouco daquilo que não conhecia. Aqui não é do amor que trato, é de uma caridade larga, austera e esclarecida; uma caridade forte e constante, que tem apenas um exemplo na Terra.
“Na Terra exaltei o amor, a doçura e os bons sentimentos; falava um pouco daquilo que não conhecia. Aqui não é do amor que trato, é de uma caridade larga, austera e esclarecida; uma caridade forte e constante, que tem apenas um exemplo na Terra.
“Oh homens! Pensai
que depende de vós ser felizes e fazer de vosso mundo um dos mais avançados do
céu: basta-vos fazer calar os ódios e as inimizades, esquecer rancores e
cóleras, perder o orgulho e a vaidade. Deixai tudo isto como um fardo que cedo
ou tarde é preciso abandonar. Esse fardo vos é um tesouro na Terra, bem o sei,
por isso tereis mérito em abandoná-lo e perdê-lo, mas no Céu ele se torna um
obstáculo à vossa felicidade. Crede-me, pois: acelerai o vosso progresso. A
felicidade que vem de Deus é a verdadeira felicidade. Onde encontrareis
prazeres que valham a alegria que ela dá aos seus eleitos, aos seus anjos?
“Deus ama os homens que buscam progredir em seu caminho.
Contai, pois, com o seu apoio. Não tendes confiança nele? Julgais que seja
perjuro, que não vos deveis entregar a ele inteiramente e sem restrições?
Infelizmente não quereis entender ou poucos entre vós entendem; preferis o dia
de hoje ao de amanhã; vossa visão estreita limita os vossos sentimentos, o
vosso coração e a vossa alma e sofreis para avançar, em vez de avançardes
naturalmente e facilmente pelo caminho do bem, por vossa própria vontade, pois
o sofrimento é o meio que Deus emprega para vos moralizar. Não eviteis esta via
segura, mas terrível para o viandante. Terminarei por exortar-vos a não mais
olhar a morte como um flagelo, mas como a porta da verdadeira vida e da
verdadeira felicidade.” LUÍSA CHARLY
Variedades
A Gazette de Mons publica o seguinte:
“Um indivíduo acometido de monomania religiosa, internado há sete anos no estabelecimento do Sr. Stuart e que até aqui se havia mostrado muito manso, conseguiu enganar a vigilância dos guardas e apoderar-se de uma faca. Como não conseguiram que devolvesse a arma, os guardas comunicaram ao diretor o que se passava.
“O Sr. Stuart imediatamente acercou-se do furioso e, fiado apenas em sua coragem, quis desarmá-lo. Mas apenas tinha avançado alguns passos ao encontro do louco, quando esse precipitou-se com a rapidez do raio e o feriu com golpes repetidos. Foi com muita dificuldade que conseguiram dominar o assassino.
“Das sete facadas com que o Sr. Stuart foi atingido, uma era mortal: a que o atingiu no baixo-ventre. Segunda-feira, às três horas e meia, ele sucumbiu em consequência de uma hemorragia nessa cavidade.”
O que não teriam dito se aquele indivíduo tivesse sido atingido por uma monomania espírita, ou se, em sua loucura, tivesse falado de Espíritos? Entretanto, isto seria possível, considerando-se que há muitas monomanias religiosas e que todas as ciências forneceram seu contingente. O que se poderia racionalmente concluir contra o Espiritismo senão que, em consequência da fragilidade de sua organização, o homem pode exaltar-se, tanto neste ponto como em outros? O meio de prevenir essa exaltação não é combater a ideia, do contrário correríamos o risco de ver renovados os prodígios das Cévennes. Se jamais se organizasse uma cruzada contra o Espiritismo, vê-lo-íamos propagar-se admiravelmente. Como opor-se a um fenômeno que não tem tempo nem lugar prediletos; que pode produzir-se em toda parte, em todas as famílias, na intimidade, no mais absoluto segredo, ainda melhor do que em público? O meio de prevenir os inconvenientes nós o demos em nossa Instrução Prática: Torná-lo de tal modo compreendido que nele apenas se veja um fenômeno natural, mesmo no que apresenta de mais extraordinário.
“Um indivíduo acometido de monomania religiosa, internado há sete anos no estabelecimento do Sr. Stuart e que até aqui se havia mostrado muito manso, conseguiu enganar a vigilância dos guardas e apoderar-se de uma faca. Como não conseguiram que devolvesse a arma, os guardas comunicaram ao diretor o que se passava.
“O Sr. Stuart imediatamente acercou-se do furioso e, fiado apenas em sua coragem, quis desarmá-lo. Mas apenas tinha avançado alguns passos ao encontro do louco, quando esse precipitou-se com a rapidez do raio e o feriu com golpes repetidos. Foi com muita dificuldade que conseguiram dominar o assassino.
“Das sete facadas com que o Sr. Stuart foi atingido, uma era mortal: a que o atingiu no baixo-ventre. Segunda-feira, às três horas e meia, ele sucumbiu em consequência de uma hemorragia nessa cavidade.”
O que não teriam dito se aquele indivíduo tivesse sido atingido por uma monomania espírita, ou se, em sua loucura, tivesse falado de Espíritos? Entretanto, isto seria possível, considerando-se que há muitas monomanias religiosas e que todas as ciências forneceram seu contingente. O que se poderia racionalmente concluir contra o Espiritismo senão que, em consequência da fragilidade de sua organização, o homem pode exaltar-se, tanto neste ponto como em outros? O meio de prevenir essa exaltação não é combater a ideia, do contrário correríamos o risco de ver renovados os prodígios das Cévennes. Se jamais se organizasse uma cruzada contra o Espiritismo, vê-lo-íamos propagar-se admiravelmente. Como opor-se a um fenômeno que não tem tempo nem lugar prediletos; que pode produzir-se em toda parte, em todas as famílias, na intimidade, no mais absoluto segredo, ainda melhor do que em público? O meio de prevenir os inconvenientes nós o demos em nossa Instrução Prática: Torná-lo de tal modo compreendido que nele apenas se veja um fenômeno natural, mesmo no que apresenta de mais extraordinário.
O Sr. Ch. Renard, nosso assinante, de Rambouillet, dirigiu-nos a seguinte carta:
“Senhor e digno confrade no Espiritismo. Leio, ou melhor, devoro com indizível satisfação os números de vossa Revista, à medida que os recebo. Isto não é de admirar de minha parte, de vez que meus familiares eram adivinhos, de geração em geração. Uma de minhas tetravós tinha até sido condenada à fogueira, como contumaz no crime de Vauldrie e frequentadora do sabbat. Ela só evitou a fogueira refugiando-se em casa de uma das irmãs, abadessa de religiosas enclausuradas. Por isto herdei algumas migalhas de ciências ocultas, o que não me impediu de passar pela crença no materialismo, se crença aí existe, e pelo cepticismo. Enfim, fatigado, doente de negativismo, as obras do célebre extático Swedenborg trouxeram-me à verdade e ao bem. Tornando-me também extático, convenci-me ad vivum das verdades que os Espíritos materializados do nosso globo não podem compreender.
Tive comunicações de toda sorte: fenômenos de visibilidade, de tangibilidade, de transporte de objetos perdidos, etc.
Teria o bom irmão a gentileza de publicar a nota que segue num dos seus próximos números? Não é uma questão de amor-próprio, mas de minha condição de francês.”
“Por vezes as pequenas causas produzem grandes efeitos. Por volta de 1840 eu tinha travado relações com o Sr. Cahagnet, torneiro e entalhador, que viera a Rambouillet por motivo de saúde. Esse operário de alta classe pela inteligência foi por mim apreciado e iniciado no magnetismo humano. Um dia eu lhe disse: Tenho quase certeza de que um sonâmbulo lúcido é apto a ver as almas dos mortos e com elas entrar em conversação. Ele ficou admirado. Induzi-o a fazer tal experiência quando contasse com um sonâmbulo lúcido. Ele teve êxito e publicou um primeiro volume de experiências necromânticas, seguido de outros volumes e brochuras que na América foram traduzidos com o título de Telégrafo Celeste. Depois o extático Davis publicou suas visões ou excursões pelo mundo espírita. Sobre os desmaterializados, Franklin fez pesquisas que chegaram a manifestações e a comunicações mais fáceis do que outrora. As primeiras pessoas que ele mediunizou nos Estados Unidos foram a viúva Fox e suas duas filhas. Há uma coincidência muito notável entre este nome e o meu, pois o vocábulo Inglês fox significa raposa[1].
“De há muito que os Espíritos me haviam dito que era possível a comunicação com Espíritos de outros globos, dos quais seriam recebidos desenhos e descrições. Eu expus o assunto ao Sr. Cahagnet, mas ele não foi mais longe do que o nosso satélite.
“Sou, etc.
CH. RENARD.”
OBSERVAÇÃO: O problema de prioridade, em matéria de Espiritismo, é inquestionavelmente secundário. Mas não é menos notável que desde a importação dos fenômenos americanos, uma porção de fatos autênticos, ignorados do público, revelaram a produção de fenômenos semelhantes, tanto na França quanto em outros países da Europa, na mesma época ou em época anterior.
É de nosso conhecimento que muitas pessoas se ocupavam de comunicações espíritas muito antes de se cogitar de mesas girantes, e disso temos provas com data certa. Parece que o Sr. Renard faz parte desse número e, segundo ele, as suas experiências não teriam sido diferentes das que foram feitas na América. Registramos a sua observação como interessante para a história do Espiritismo e para provar mais uma vez que esta ciência tem raízes no mundo inteiro, o que tira aos que lhe queiram opor uma barreira, qualquer possibilidade de êxito. Se o abafam aqui, ele renascerá mais vivo em cem outros lugares, exatamente no momento em que, já não sendo mais possível a dúvida, ele há de conquistar um lugar entre as crenças comuns. Então, de bom grado ou não, seus adversários terão que tomar o seu partido.
“Senhor e digno confrade no Espiritismo. Leio, ou melhor, devoro com indizível satisfação os números de vossa Revista, à medida que os recebo. Isto não é de admirar de minha parte, de vez que meus familiares eram adivinhos, de geração em geração. Uma de minhas tetravós tinha até sido condenada à fogueira, como contumaz no crime de Vauldrie e frequentadora do sabbat. Ela só evitou a fogueira refugiando-se em casa de uma das irmãs, abadessa de religiosas enclausuradas. Por isto herdei algumas migalhas de ciências ocultas, o que não me impediu de passar pela crença no materialismo, se crença aí existe, e pelo cepticismo. Enfim, fatigado, doente de negativismo, as obras do célebre extático Swedenborg trouxeram-me à verdade e ao bem. Tornando-me também extático, convenci-me ad vivum das verdades que os Espíritos materializados do nosso globo não podem compreender.
Tive comunicações de toda sorte: fenômenos de visibilidade, de tangibilidade, de transporte de objetos perdidos, etc.
Teria o bom irmão a gentileza de publicar a nota que segue num dos seus próximos números? Não é uma questão de amor-próprio, mas de minha condição de francês.”
“Por vezes as pequenas causas produzem grandes efeitos. Por volta de 1840 eu tinha travado relações com o Sr. Cahagnet, torneiro e entalhador, que viera a Rambouillet por motivo de saúde. Esse operário de alta classe pela inteligência foi por mim apreciado e iniciado no magnetismo humano. Um dia eu lhe disse: Tenho quase certeza de que um sonâmbulo lúcido é apto a ver as almas dos mortos e com elas entrar em conversação. Ele ficou admirado. Induzi-o a fazer tal experiência quando contasse com um sonâmbulo lúcido. Ele teve êxito e publicou um primeiro volume de experiências necromânticas, seguido de outros volumes e brochuras que na América foram traduzidos com o título de Telégrafo Celeste. Depois o extático Davis publicou suas visões ou excursões pelo mundo espírita. Sobre os desmaterializados, Franklin fez pesquisas que chegaram a manifestações e a comunicações mais fáceis do que outrora. As primeiras pessoas que ele mediunizou nos Estados Unidos foram a viúva Fox e suas duas filhas. Há uma coincidência muito notável entre este nome e o meu, pois o vocábulo Inglês fox significa raposa[1].
“De há muito que os Espíritos me haviam dito que era possível a comunicação com Espíritos de outros globos, dos quais seriam recebidos desenhos e descrições. Eu expus o assunto ao Sr. Cahagnet, mas ele não foi mais longe do que o nosso satélite.
“Sou, etc.
CH. RENARD.”
OBSERVAÇÃO: O problema de prioridade, em matéria de Espiritismo, é inquestionavelmente secundário. Mas não é menos notável que desde a importação dos fenômenos americanos, uma porção de fatos autênticos, ignorados do público, revelaram a produção de fenômenos semelhantes, tanto na França quanto em outros países da Europa, na mesma época ou em época anterior.
É de nosso conhecimento que muitas pessoas se ocupavam de comunicações espíritas muito antes de se cogitar de mesas girantes, e disso temos provas com data certa. Parece que o Sr. Renard faz parte desse número e, segundo ele, as suas experiências não teriam sido diferentes das que foram feitas na América. Registramos a sua observação como interessante para a história do Espiritismo e para provar mais uma vez que esta ciência tem raízes no mundo inteiro, o que tira aos que lhe queiram opor uma barreira, qualquer possibilidade de êxito. Se o abafam aqui, ele renascerá mais vivo em cem outros lugares, exatamente no momento em que, já não sendo mais possível a dúvida, ele há de conquistar um lugar entre as crenças comuns. Então, de bom grado ou não, seus adversários terão que tomar o seu partido.
AOS LEITORES DA REVISTA ESPÍRITA
CONCLUSÃO DO ANO DE 1858
A Revista Espírita acaba de completar o seu primeiro ano e nos sentimos felizes em anunciar que estando doravante sua existência assegurada por um número de assinantes que aumenta dia a dia, sua publicação continuará. Os testemunhos de simpatia que de toda parte recebemos e o sufrágio dos homens mais eminentes pelo saber e pela posição social são para nós um encorajamento na tarefa laboriosa que empreendemos. Recebam aqui, pois, aqueles que nos ajudaram na realização de nossa obra, o testemunho de nossa gratidão.
Se não nos tivéssemos defrontado com críticas nem contradições, estaríamos ante um fato inaudito nos fastos da publicidade, principalmente por se tratar da emissão de ideias tão novas. Se, entretanto, de algo nos devemos admirar é de tê-las encontrado tão poucas, em comparação com os sinais de aprovação que nos têm sido dados. Isto, sem dúvida, se deve muito menos ao mérito do escritor do que aos atrativos do próprio assunto tratado e ao crédito que dia a dia conquista nas mais altas camadas da Sociedade; devemo-lo também ─ e disto estamos convencido ─ à dignidade que sempre temos conservado perante os nossos adversários, deixando que o público julgue entre a moderação, de uma parte, e a inconveniência, de outra.
O Espiritismo avança a passos de gigante pelo mundo inteiro. Diariamente reconquista alguns dissidentes pela força das coisas e se de nossa parte podemos colocar algumas migalhas na balança desse grande movimento que se opera e que marcará a nossa época como uma era nova, não será irritando ou mesmo atacando de frente aqueles mesmos que desejamos atrair, mas será pelo raciocínio e não pelas injúrias que nos faremos escutar.
A tal respeito dão-nos os Espíritos superiores, que nos assistem, o preceito e o exemplo. Seria indigno de uma doutrina que não prega senão o amor e a benevolência, descer à arena do personalismo. Deixamos essa tarefa aos que não a compreendem.
Nada, pois, nos desviará da linha que temos seguido, da calma e do sangue-frio que não deixaremos de manter no exame raciocinado de todas as questões, de vez que sabemos que assim conquistamos mais partidários sérios para o Espiritismo do que pela aspereza e pela acrimônia.
Na introdução com que abrimos o primeiro número traçamos o plano que nos propúnhamos seguir: citar os fatos, mas também analisá-los e submetê-los ao escalpelo da observação; apreciá-los e deduzir-lhes as consequências.
No início, toda a atenção se concentrou nos fenômenos materiais, que então alimentavam a curiosidade pública, mas essa tem o seu tempo; uma vez satisfeita, deixamo-la de lado, assim como a criança que abandona um brinquedo. Então os Espíritos nos disseram: “Este é o primeiro período; em breve passará, para dar lugar a ideias mais elevadas. Novos fatos revelar-se-ão, marcando um novo período, o filosófico, e a doutrina crescerá em pouco tempo, como a criança que deixa o seu berço. Não vos inquieteis com as zombarias, pois zombarão dos próprios zombeteiros e amanhã encontrareis defensores zelosos entre os mais ardorosos adversários de hoje. Deus quer que seja assim e nós somos encarregados de executar a sua vontade. A má vontade de alguns homens não prevalecerá contra ela. O orgulho daqueles que querem saber mais que Deus será abatido.”
Efetivamente, estamos longe das mesas girantes, que já não divertem, porque tudo cansa. Só não nos cansamos daquilo que fala ao nosso entendimento, e o Espiritismo navega a velas pandas em seu segundo período. Todos compreenderam que é toda uma Ciência que se funda, toda uma Filosofia, toda uma nova ordem de ideias. Era preciso acompanhar esse movimento. Mais do que isso, era preciso darlhe nossa contribuição, sob pena de sermos em breve ultrapassados. Eis por que nos esforçamos por nos mantermos à altura, sem nos fecharmos nos estreitos limites de um boletim anedótico.
Elevando-se ao plano de uma doutrina filosófica, o Espiritismo conquistou inúmeros aderentes, mesmo entre aqueles que jamais testemunharam um fato material. É porque o homem aprecia aquilo que lhe fala à razão, aquilo que ele pode compreender. Na filosofia espírita ele encontra alguma coisa diferente de um divertimento, alguma coisa que preenche o vazio pungente da sua incerteza. Penetrando no mundo extracorporal por meio da observação, quisemos nele introduzir os nossos leitores e fazer com que o compreendessem. Cabe-lhes dizer se atingimos o nosso objetivo.
Prosseguiremos em nossa tarefa no ano que se vai iniciar e que, tudo o prenuncia, será fecundo. Novos fatos de uma ordem estranha surgem neste momento e nos revelam novos mistérios. Registrá-los-emos cuidadosamente e neles procuraremos a luz com tanta perseverança quanto no passado, porque tudo pressagia que o Espiritismo vai entrar numa nova fase, mais grandiosa e ainda mais sublime.
ALLAN KARDEC
NOTA: A abundância de matéria obriga-nos a adiar para o próximo número a continuação do nosso artigo sobre a pluralidade das existências e do conto de Frédéric Soulié.
ALLAN KARDEC
Se não nos tivéssemos defrontado com críticas nem contradições, estaríamos ante um fato inaudito nos fastos da publicidade, principalmente por se tratar da emissão de ideias tão novas. Se, entretanto, de algo nos devemos admirar é de tê-las encontrado tão poucas, em comparação com os sinais de aprovação que nos têm sido dados. Isto, sem dúvida, se deve muito menos ao mérito do escritor do que aos atrativos do próprio assunto tratado e ao crédito que dia a dia conquista nas mais altas camadas da Sociedade; devemo-lo também ─ e disto estamos convencido ─ à dignidade que sempre temos conservado perante os nossos adversários, deixando que o público julgue entre a moderação, de uma parte, e a inconveniência, de outra.
O Espiritismo avança a passos de gigante pelo mundo inteiro. Diariamente reconquista alguns dissidentes pela força das coisas e se de nossa parte podemos colocar algumas migalhas na balança desse grande movimento que se opera e que marcará a nossa época como uma era nova, não será irritando ou mesmo atacando de frente aqueles mesmos que desejamos atrair, mas será pelo raciocínio e não pelas injúrias que nos faremos escutar.
A tal respeito dão-nos os Espíritos superiores, que nos assistem, o preceito e o exemplo. Seria indigno de uma doutrina que não prega senão o amor e a benevolência, descer à arena do personalismo. Deixamos essa tarefa aos que não a compreendem.
Nada, pois, nos desviará da linha que temos seguido, da calma e do sangue-frio que não deixaremos de manter no exame raciocinado de todas as questões, de vez que sabemos que assim conquistamos mais partidários sérios para o Espiritismo do que pela aspereza e pela acrimônia.
Na introdução com que abrimos o primeiro número traçamos o plano que nos propúnhamos seguir: citar os fatos, mas também analisá-los e submetê-los ao escalpelo da observação; apreciá-los e deduzir-lhes as consequências.
No início, toda a atenção se concentrou nos fenômenos materiais, que então alimentavam a curiosidade pública, mas essa tem o seu tempo; uma vez satisfeita, deixamo-la de lado, assim como a criança que abandona um brinquedo. Então os Espíritos nos disseram: “Este é o primeiro período; em breve passará, para dar lugar a ideias mais elevadas. Novos fatos revelar-se-ão, marcando um novo período, o filosófico, e a doutrina crescerá em pouco tempo, como a criança que deixa o seu berço. Não vos inquieteis com as zombarias, pois zombarão dos próprios zombeteiros e amanhã encontrareis defensores zelosos entre os mais ardorosos adversários de hoje. Deus quer que seja assim e nós somos encarregados de executar a sua vontade. A má vontade de alguns homens não prevalecerá contra ela. O orgulho daqueles que querem saber mais que Deus será abatido.”
Efetivamente, estamos longe das mesas girantes, que já não divertem, porque tudo cansa. Só não nos cansamos daquilo que fala ao nosso entendimento, e o Espiritismo navega a velas pandas em seu segundo período. Todos compreenderam que é toda uma Ciência que se funda, toda uma Filosofia, toda uma nova ordem de ideias. Era preciso acompanhar esse movimento. Mais do que isso, era preciso darlhe nossa contribuição, sob pena de sermos em breve ultrapassados. Eis por que nos esforçamos por nos mantermos à altura, sem nos fecharmos nos estreitos limites de um boletim anedótico.
Elevando-se ao plano de uma doutrina filosófica, o Espiritismo conquistou inúmeros aderentes, mesmo entre aqueles que jamais testemunharam um fato material. É porque o homem aprecia aquilo que lhe fala à razão, aquilo que ele pode compreender. Na filosofia espírita ele encontra alguma coisa diferente de um divertimento, alguma coisa que preenche o vazio pungente da sua incerteza. Penetrando no mundo extracorporal por meio da observação, quisemos nele introduzir os nossos leitores e fazer com que o compreendessem. Cabe-lhes dizer se atingimos o nosso objetivo.
Prosseguiremos em nossa tarefa no ano que se vai iniciar e que, tudo o prenuncia, será fecundo. Novos fatos de uma ordem estranha surgem neste momento e nos revelam novos mistérios. Registrá-los-emos cuidadosamente e neles procuraremos a luz com tanta perseverança quanto no passado, porque tudo pressagia que o Espiritismo vai entrar numa nova fase, mais grandiosa e ainda mais sublime.
ALLAN KARDEC
NOTA: A abundância de matéria obriga-nos a adiar para o próximo número a continuação do nosso artigo sobre a pluralidade das existências e do conto de Frédéric Soulié.
ALLAN KARDEC