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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1858 > Dezembro > Variedades
Variedades
A Gazette de Mons publica o seguinte:
“Um indivíduo acometido de monomania religiosa, internado há sete anos no estabelecimento do Sr. Stuart e que até aqui se havia mostrado muito manso, conseguiu enganar a vigilância dos guardas e apoderar-se de uma faca. Como não conseguiram que devolvesse a arma, os guardas comunicaram ao diretor o que se passava.
“O Sr. Stuart imediatamente acercou-se do furioso e, fiado apenas em sua coragem, quis desarmá-lo. Mas apenas tinha avançado alguns passos ao encontro do louco, quando esse precipitou-se com a rapidez do raio e o feriu com golpes repetidos. Foi com muita dificuldade que conseguiram dominar o assassino.
“Das sete facadas com que o Sr. Stuart foi atingido, uma era mortal: a que o atingiu no baixo-ventre. Segunda-feira, às três horas e meia, ele sucumbiu em consequência de uma hemorragia nessa cavidade.”
O que não teriam dito se aquele indivíduo tivesse sido atingido por uma monomania espírita, ou se, em sua loucura, tivesse falado de Espíritos? Entretanto, isto seria possível, considerando-se que há muitas monomanias religiosas e que todas as ciências forneceram seu contingente. O que se poderia racionalmente concluir contra o Espiritismo senão que, em consequência da fragilidade de sua organização, o homem pode exaltar-se, tanto neste ponto como em outros? O meio de prevenir essa exaltação não é combater a ideia, do contrário correríamos o risco de ver renovados os prodígios das Cévennes. Se jamais se organizasse uma cruzada contra o Espiritismo, vê-lo-íamos propagar-se admiravelmente. Como opor-se a um fenômeno que não tem tempo nem lugar prediletos; que pode produzir-se em toda parte, em todas as famílias, na intimidade, no mais absoluto segredo, ainda melhor do que em público? O meio de prevenir os inconvenientes nós o demos em nossa Instrução Prática: Torná-lo de tal modo compreendido que nele apenas se veja um fenômeno natural, mesmo no que apresenta de mais extraordinário.
“Um indivíduo acometido de monomania religiosa, internado há sete anos no estabelecimento do Sr. Stuart e que até aqui se havia mostrado muito manso, conseguiu enganar a vigilância dos guardas e apoderar-se de uma faca. Como não conseguiram que devolvesse a arma, os guardas comunicaram ao diretor o que se passava.
“O Sr. Stuart imediatamente acercou-se do furioso e, fiado apenas em sua coragem, quis desarmá-lo. Mas apenas tinha avançado alguns passos ao encontro do louco, quando esse precipitou-se com a rapidez do raio e o feriu com golpes repetidos. Foi com muita dificuldade que conseguiram dominar o assassino.
“Das sete facadas com que o Sr. Stuart foi atingido, uma era mortal: a que o atingiu no baixo-ventre. Segunda-feira, às três horas e meia, ele sucumbiu em consequência de uma hemorragia nessa cavidade.”
O que não teriam dito se aquele indivíduo tivesse sido atingido por uma monomania espírita, ou se, em sua loucura, tivesse falado de Espíritos? Entretanto, isto seria possível, considerando-se que há muitas monomanias religiosas e que todas as ciências forneceram seu contingente. O que se poderia racionalmente concluir contra o Espiritismo senão que, em consequência da fragilidade de sua organização, o homem pode exaltar-se, tanto neste ponto como em outros? O meio de prevenir essa exaltação não é combater a ideia, do contrário correríamos o risco de ver renovados os prodígios das Cévennes. Se jamais se organizasse uma cruzada contra o Espiritismo, vê-lo-íamos propagar-se admiravelmente. Como opor-se a um fenômeno que não tem tempo nem lugar prediletos; que pode produzir-se em toda parte, em todas as famílias, na intimidade, no mais absoluto segredo, ainda melhor do que em público? O meio de prevenir os inconvenientes nós o demos em nossa Instrução Prática: Torná-lo de tal modo compreendido que nele apenas se veja um fenômeno natural, mesmo no que apresenta de mais extraordinário.
O Sr. Ch. Renard, nosso assinante, de Rambouillet, dirigiu-nos a seguinte carta:
“Senhor e digno confrade no Espiritismo. Leio, ou melhor, devoro com indizível satisfação os números de vossa Revista, à medida que os recebo. Isto não é de admirar de minha parte, de vez que meus familiares eram adivinhos, de geração em geração. Uma de minhas tetravós tinha até sido condenada à fogueira, como contumaz no crime de Vauldrie e frequentadora do sabbat. Ela só evitou a fogueira refugiando-se em casa de uma das irmãs, abadessa de religiosas enclausuradas. Por isto herdei algumas migalhas de ciências ocultas, o que não me impediu de passar pela crença no materialismo, se crença aí existe, e pelo cepticismo. Enfim, fatigado, doente de negativismo, as obras do célebre extático Swedenborg trouxeram-me à verdade e ao bem. Tornando-me também extático, convenci-me ad vivum das verdades que os Espíritos materializados do nosso globo não podem compreender.
Tive comunicações de toda sorte: fenômenos de visibilidade, de tangibilidade, de transporte de objetos perdidos, etc.
Teria o bom irmão a gentileza de publicar a nota que segue num dos seus próximos números? Não é uma questão de amor-próprio, mas de minha condição de francês.”
“Por vezes as pequenas causas produzem grandes efeitos. Por volta de 1840 eu tinha travado relações com o Sr. Cahagnet, torneiro e entalhador, que viera a Rambouillet por motivo de saúde. Esse operário de alta classe pela inteligência foi por mim apreciado e iniciado no magnetismo humano. Um dia eu lhe disse: Tenho quase certeza de que um sonâmbulo lúcido é apto a ver as almas dos mortos e com elas entrar em conversação. Ele ficou admirado. Induzi-o a fazer tal experiência quando contasse com um sonâmbulo lúcido. Ele teve êxito e publicou um primeiro volume de experiências necromânticas, seguido de outros volumes e brochuras que na América foram traduzidos com o título de Telégrafo Celeste. Depois o extático Davis publicou suas visões ou excursões pelo mundo espírita. Sobre os desmaterializados, Franklin fez pesquisas que chegaram a manifestações e a comunicações mais fáceis do que outrora. As primeiras pessoas que ele mediunizou nos Estados Unidos foram a viúva Fox e suas duas filhas. Há uma coincidência muito notável entre este nome e o meu, pois o vocábulo Inglês fox significa raposa[1].
“De há muito que os Espíritos me haviam dito que era possível a comunicação com Espíritos de outros globos, dos quais seriam recebidos desenhos e descrições. Eu expus o assunto ao Sr. Cahagnet, mas ele não foi mais longe do que o nosso satélite.
“Sou, etc.
CH. RENARD.”
OBSERVAÇÃO: O problema de prioridade, em matéria de Espiritismo, é inquestionavelmente secundário. Mas não é menos notável que desde a importação dos fenômenos americanos, uma porção de fatos autênticos, ignorados do público, revelaram a produção de fenômenos semelhantes, tanto na França quanto em outros países da Europa, na mesma época ou em época anterior.
É de nosso conhecimento que muitas pessoas se ocupavam de comunicações espíritas muito antes de se cogitar de mesas girantes, e disso temos provas com data certa. Parece que o Sr. Renard faz parte desse número e, segundo ele, as suas experiências não teriam sido diferentes das que foram feitas na América. Registramos a sua observação como interessante para a história do Espiritismo e para provar mais uma vez que esta ciência tem raízes no mundo inteiro, o que tira aos que lhe queiram opor uma barreira, qualquer possibilidade de êxito. Se o abafam aqui, ele renascerá mais vivo em cem outros lugares, exatamente no momento em que, já não sendo mais possível a dúvida, ele há de conquistar um lugar entre as crenças comuns. Então, de bom grado ou não, seus adversários terão que tomar o seu partido.
“Senhor e digno confrade no Espiritismo. Leio, ou melhor, devoro com indizível satisfação os números de vossa Revista, à medida que os recebo. Isto não é de admirar de minha parte, de vez que meus familiares eram adivinhos, de geração em geração. Uma de minhas tetravós tinha até sido condenada à fogueira, como contumaz no crime de Vauldrie e frequentadora do sabbat. Ela só evitou a fogueira refugiando-se em casa de uma das irmãs, abadessa de religiosas enclausuradas. Por isto herdei algumas migalhas de ciências ocultas, o que não me impediu de passar pela crença no materialismo, se crença aí existe, e pelo cepticismo. Enfim, fatigado, doente de negativismo, as obras do célebre extático Swedenborg trouxeram-me à verdade e ao bem. Tornando-me também extático, convenci-me ad vivum das verdades que os Espíritos materializados do nosso globo não podem compreender.
Tive comunicações de toda sorte: fenômenos de visibilidade, de tangibilidade, de transporte de objetos perdidos, etc.
Teria o bom irmão a gentileza de publicar a nota que segue num dos seus próximos números? Não é uma questão de amor-próprio, mas de minha condição de francês.”
“Por vezes as pequenas causas produzem grandes efeitos. Por volta de 1840 eu tinha travado relações com o Sr. Cahagnet, torneiro e entalhador, que viera a Rambouillet por motivo de saúde. Esse operário de alta classe pela inteligência foi por mim apreciado e iniciado no magnetismo humano. Um dia eu lhe disse: Tenho quase certeza de que um sonâmbulo lúcido é apto a ver as almas dos mortos e com elas entrar em conversação. Ele ficou admirado. Induzi-o a fazer tal experiência quando contasse com um sonâmbulo lúcido. Ele teve êxito e publicou um primeiro volume de experiências necromânticas, seguido de outros volumes e brochuras que na América foram traduzidos com o título de Telégrafo Celeste. Depois o extático Davis publicou suas visões ou excursões pelo mundo espírita. Sobre os desmaterializados, Franklin fez pesquisas que chegaram a manifestações e a comunicações mais fáceis do que outrora. As primeiras pessoas que ele mediunizou nos Estados Unidos foram a viúva Fox e suas duas filhas. Há uma coincidência muito notável entre este nome e o meu, pois o vocábulo Inglês fox significa raposa[1].
“De há muito que os Espíritos me haviam dito que era possível a comunicação com Espíritos de outros globos, dos quais seriam recebidos desenhos e descrições. Eu expus o assunto ao Sr. Cahagnet, mas ele não foi mais longe do que o nosso satélite.
“Sou, etc.
CH. RENARD.”
OBSERVAÇÃO: O problema de prioridade, em matéria de Espiritismo, é inquestionavelmente secundário. Mas não é menos notável que desde a importação dos fenômenos americanos, uma porção de fatos autênticos, ignorados do público, revelaram a produção de fenômenos semelhantes, tanto na França quanto em outros países da Europa, na mesma época ou em época anterior.
É de nosso conhecimento que muitas pessoas se ocupavam de comunicações espíritas muito antes de se cogitar de mesas girantes, e disso temos provas com data certa. Parece que o Sr. Renard faz parte desse número e, segundo ele, as suas experiências não teriam sido diferentes das que foram feitas na América. Registramos a sua observação como interessante para a história do Espiritismo e para provar mais uma vez que esta ciência tem raízes no mundo inteiro, o que tira aos que lhe queiram opor uma barreira, qualquer possibilidade de êxito. Se o abafam aqui, ele renascerá mais vivo em cem outros lugares, exatamente no momento em que, já não sendo mais possível a dúvida, ele há de conquistar um lugar entre as crenças comuns. Então, de bom grado ou não, seus adversários terão que tomar o seu partido.