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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1859 > Agosto
Agosto
Mobiliário de além-túmuloExtraímos a passagem seguinte de uma carta que uma correspondente da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas nos enviou do departamento do Jura:
“...Como vos disse, senhor, os Espíritos gostavam da nossa velha habitação. Em outubro último (1858), a senhora Condessa de C..., amiga íntima de minha filha, veio com seu filhinho de 8 anos passar uns dias em nossa mansão. A criança dormia no mesmo quarto que sua mãe, e a porta de comunicação para o quarto de minha filha ficava aberta, a fim de prolongar as horas do dia e da conversa. O menino não dormia e dizia à mãe: ‘Que é que a senhora vai fazer com esse homem que está sentado junto à sua cama? Ele está fumando um grande cachimbo. Veja como enche o quarto de fumaça! Mande-o embora, pois está sacudindo as cortinas.’
“Essa visão durou a noite toda. A mãe não conseguiu que a criança se calasse, e ninguém conseguiu fechar os olhos. Esta circunstância não espantou nem a mim nem à minha filha, pois sabemos que há manifestações espíritas. A mãe, entretanto, acreditava que a criança estivesse sonhando acordada ou se divertindo.
“Eis outro fato que testemunhei pessoalmente e que me aconteceu no mesmo aposento, em maio de 1858. É o caso da aparição do Espírito de uma pessoa viva, que ficou muito admirado por ter vindo visitar-me. Eis as circunstâncias: Eu estava muito doente e há tempos não dormia, quando vi, às dez horas da noite, um amigo de minha família sentado junto à minha cama. Manifestei-lhe minha surpresa por sua visita àquela hora. Ele me disse: “Não faleis, pois venho velar-vos; não faleis, pois é preciso que durmais”, e estendeu a mão sobre minha cabeça. Várias vezes abri os olhos para ver se ainda lá estava, e a cada vez ele me fazia sinal para fechá-los e calar-me. Rodava a tabaqueira entre os dedos, e de vez em quando tomava uma pitada, como era seu costume. Por fim adormeci, e quando despertei a visão tinha desaparecido.
“Diversas circunstâncias comprovam que no momento dessa visita inesperada eu estava perfeitamente desperta, e que aquilo não era um sonho. Quando pela primeira vez me visitou de fato, tive o cuidado de agradecer-lhe. Ele estava com a mesma tabaqueira, e ao escutar-me tinha o mesmo sorriso de bondade que eu havia notado enquanto me velava. Como ele afirmou não ter vindo, o que aliás não me foi difícil aceitar, pois não havia nenhum motivo que o induzisse a vir a tal hora passar a noite junto a mim, compreendi que apenas seu Espírito tinha vindo visitar-me enquanto o corpo repousava tranquilo em sua casa”.
Os fatos de aparição são tão numerosos que impossível seria registrar todos aqueles que são de nosso conhecimento ou de que temos notícia através de fontes perfeitamente autênticas. Aliás, hoje que os fatos estão explicados; que nos demos conta de como exatamente se produzem e de que pertencem às leis da Natureza, sabemos que nada têm de maravilhosos. Já demos a sua teoria completa, por isso apenas a relembraremos em poucas palavras, para a boa compreensão do que vem a seguir.
Sabemos que, além do envoltório corporal exterior, tem o Espírito um outro, semimaterial, a que chamamos perispírito. A morte é apenas a destruição do primeiro corpo. No estado errante, o Espírito conserva o perispírito, que constitui uma espécie de corpo etéreo, invisível para nós em estado normal. Os Espíritos povoam o espaço. Se, em dado momento, o véu que no-los oculta fosse levantado, veríamos uma imensa população agitar-se em volta de nós e percorrer os ares.
Temo-los constantemente ao nosso lado, observando-nos, e muitas vezes se misturando às nossas ocupações e aos nossos prazeres, conforme o seu caráter. A invisibilidade não é propriedade permanente dos Espíritos. Por vezes eles se mostram sob a aparência que tinham em vida, e não são poucas as pessoas que, revolvendo suas lembranças, não tenham conhecimento de algum fato desse gênero. A teoria das aparições é muito simples e se explica por uma comparação muito familiar, qual a do vapor, que sendo rarefeito, é completamente invisível. No primeiro grau de condensação, torna-se nebuloso; condensado mais e mais, passa ao estado líquido e depois ao sólido. Algo de semelhante se opera pela vontade do Espírito na substância do perispírito. Aliás, isto não é, como dissemos, mais que uma comparação, pois não queremos assimilar uma coisa à outra. Servimo-nos do exemplo do vapor para mostrar as mudanças de aspecto que pode sofrer um corpo invisível, mas daí não se infira que há no perispírito uma condensação, no sentido próprio do vocábulo. Opera-se na sua contextura uma modificação molecular, que o torna visível e mesmo tangível, e que lhe pode dar, até certo ponto, as propriedades dos corpos sólidos. Sabemos que corpos perfeitamente transparentes se tornam opacos pela simples mudança na posição das moléculas ou pela adição de outro corpo, igualmente transparente. Não sabemos bem como fazem os Espíritos para tornar visível o seu corpo etéreo. A maior parte deles não chega mesmo a se dar conta disso, mas, pelos exemplos que temos citado, compreendemos a sua possibilidade física, o que é bastante para tirar do fenômeno aquilo que, à primeira vista, poderia parecer sobrenatural. Pode, pois, o Espírito fazê-lo, quer por simples modificação íntima, quer assimilando uma porção de fluido estranho que altera momentaneamente o aspecto de seu perispírito. É, na verdade, esta última hipótese que ressalta das explicações que nos têm sido dadas, e que relatamos ao tratar do assunto (maio, junho e dezembro).
Até aqui nenhuma dificuldade no que concerne à personalidade do Espírito. Sabemos, porém, que se apresentam com roupagens cujo aspecto mudam à vontade; por vezes mesmo têm certos acessórios de toalete, joias, etc. Nas duas aparições citadas no começo, uma tinha um cachimbo e produzia fumaça; a outra, uma tabaqueira e tomava pitadas. Note-se, entretanto, o fato de que este Espírito era de uma pessoa viva e que sua tabaqueira era em tudo semelhante à de que se servia habitualmente, e que tinha ficado em casa. Que significam, então, essa tabaqueira, esse cachimbo, essas roupas e essas joias? Os objetos materiais que existem na Terra teriam uma representação etérea no mundo invisível? A matéria condensada que forma tais objetos teria uma parte quintessenciada, que escapa aos nossos sentidos?
Eis um imenso problema, cuja solução pode dar a chave de uma porção de coisas até aqui não explicadas. Foi essa tabaqueira que nos pôs no caminho, não apenas do fato, mas do fenômeno mais extraordinário do Espiritismo: o fenômeno da pneumatografia ou escrita direta, de que falaremos a seguir.
Se alguns críticos nos censuram pelo fato de estarmos avançando muito na teoria, responderemos que ao encontrar uma oportunidade para avançar, não vemos por que devíamos ficar para trás. Se eles ainda estão olhando as mesas girantes, sem saber por que giram, isto não é motivo para que nos detenhamos no caminho. O Espiritismo é, sem dúvida, uma ciência de observação, mas é, talvez mais ainda, uma ciência de raciocínio, e o raciocínio é o único meio de fazê-lo progredir e triunfar de certas resistências. Este fato só é contestado porque não é compreendido.
A explicação lhe tira todo o caráter maravilhoso, fazendo-o entrar nas leis gerais da Natureza. Eis por que vemos diariamente criaturas que nada viram e creem, apenas porque compreendem, enquanto outras viram e não creem, porque não compreendem.
Fazendo entrar o Espiritismo na trilha do raciocínio, tornamo-lo aceitável para aqueles que querem conhecer o porquê e o como de todas as coisas, e o número deles é grande neste século, por isso a crença cega já está fora de moda. Ora, se tivéssemos apenas indicado a rota, teríamos a consciência de haver contribuído para o progresso desta Ciência nova, objeto de nossos estudos constantes.
Voltemos à nossa tabaqueira.
Todas as teorias que apresentamos, relativas ao Espiritismo, nos foram fornecidas pelos Espíritos, que muitas vezes contraditaram as nossas próprias ideias, como aconteceu no caso presente, provando que as respostas não eram reflexo do nosso pensamento. Mas a maneira de se obter uma solução não é coisa sem importância. Sabemos por experiência própria que não basta pedir bruscamente uma coisa para a obtermos. Nem sempre as respostas são bastante explícitas; é necessário desenvolver o assunto com certas precauções; chegar ao objetivo progressivamente e por um encadeamento de deduções que requerem um trabalho prévio. Em princípio, a maneira de formular as questões, a ordem, o método e a clareza são coisas que não podem ser negligenciadas e que agradam aos Espíritos sérios, porque veem nisso um objetivo sério.
Eis a conversa que tivemos com o Espírito de São Luís, a propósito da tabaqueira, visando a solução do problema da produção de certos objetos no mundo invisível. (Sociedade, 24 de junho de 1859).
1. ─ No relato da senhora R..., trata-se de uma criança que viu perto do leito da mãe um homem fumando um grande cachimbo. Compreende-se que esse Espírito tenha podido tomar a aparência de um fumante; parece, entretanto, que fumava realmente, pois o menino via o quarto cheio de fumaça. O que era essa fumaça?
─ Uma aparência produzida para o menino.
─ Uma aparência produzida para o menino.
2. ─ A senhora R... também cita o caso de uma aparição, vista por ela, do Espírito de uma pessoa viva. Esse Espírito tinha uma tabaqueira e tomava rapé. Poderia ele experimentar a sensação que a gente tem ao tomar uma pitada?
─ Não.
─ Não.
3. ─ Essa tabaqueira tinha a forma daquela que ele usa habitualmente, e que estava em sua casa. O que era essa tabaqueira entre as mãos do Espírito?
─ Sempre aparência. Era para que as circunstâncias fossem notadas, como o foram, e para que a aparição não fosse tomada por uma alucinação produzida pelo estado de saúde da vidente. O Espírito queria que essa senhora acreditasse na realidade de sua presença e tomou todas as aparências da realidade.
─ Sempre aparência. Era para que as circunstâncias fossem notadas, como o foram, e para que a aparição não fosse tomada por uma alucinação produzida pelo estado de saúde da vidente. O Espírito queria que essa senhora acreditasse na realidade de sua presença e tomou todas as aparências da realidade.
4. ─ Dizeis que é uma aparência, mas uma aparência nada tem de real; é como uma ilusão de óptica. Eu gostaria de saber se essa tabaqueira não era senão uma imagem irreal, como, por exemplo, a de um objeto que se reflete num espelho.
(Um dos membros da Sociedade, o Sr. Sanson, faz observar que na imagem reproduzida pelo espelho há qualquer coisa de real. Se a imagem não fica no espelho, é que nada a fixa, mas se for projetada sobre uma chapa do daguerreótipo, deixa uma impressão, prova evidente de que é produzida por uma substância qualquer e que não é apenas uma ilusão de óptica).
─ A observação do Sr. Sanson é perfeitamente justa. Teríeis a bondade de nos dizer se existe alguma analogia com a tabaqueira, isto é, se existe algo de material nessa tabaqueira?
─ Certamente. É com o auxílio desse princípio material que o perispírito toma a aparência de vestimenta semelhante às que o Espírito usava quando vivo. OBSERVAÇÃO: Evidentemente o vocábulo aparência deve aqui ser tomado no sentido de imagem, de imitação. A tabaqueira real lá não estava. A que o Espírito tinha era apenas uma reprodução. Comparada à original, era apenas uma aparência, conquanto formada por um princípio material.
A experiência nos ensina que não devemos tomar ao pé da letra certas expressões usadas pelos Espíritos. Interpretando-as segundo as nossas ideias, expomo-nos a grandes equívocos, por isso devemos aprofundar o sentido de suas palavras, sempre que existe uma ambiguidade mínima. Eis uma recomendação feita constantemente pelos Espíritos. Sem a explicação que provocamos, o vocábulo aparência, repetido continuamente em casos análogos, poderia dar lugar a uma falsa interpretação.
5. ─ Haveria um desdobramento da matéria inerte? Haveria no mundo invisível uma matéria essencial, revestindo a forma dos objetos que vemos? Numa palavra, esses objetos teriam o seu duplo etéreo no mundo invisível, como os homens aí são representados em Espírito?
OBSERVAÇÃO: Eis uma teoria como qualquer outra, e que era pensamento nosso. O Espírito, no entanto, não a levou em consideração, o que absolutamente não nos humilhou, porque sua explicação nos pareceu muito lógica o apoiada em princípio mais geral, do qual encontramos muitas aplicações.
─ Isto não se passa dessa maneira. O Espírito tem sobre os elementos materiais disseminados em todo o espaço, na nossa atmosfera, um poder que estais longe de suspeitar. Ele pode, à vontade, concentrar esses elementos e lhes dar uma forma aparente, adequada a seus projetos.
6. ─ Faço novamente a pergunta de maneira categórica, a fim de evitar qualquer equívoco. As roupas com que se cobrem os Espíritos são alguma coisa?
─ Parece que a minha resposta anterior resolve a questão. Não sabeis que o próprio perispírito é alguma coisa?
─ Parece que a minha resposta anterior resolve a questão. Não sabeis que o próprio perispírito é alguma coisa?
7. ─ Resulta desta explicação que os Espíritos fazem a matéria eterizada sofrer transformações à sua vontade e que, assim, no caso da tabaqueira, o Espírito não a encontrou perfeitamente acabada; ele mesmo a fez no momento em que dela necessitava, e depois a desfez. O mesmo deve acontecer com todos os outros objetos, tais como vestimentas, joias, etc.
─ Mas é evidente.
─ Mas é evidente.
8. ─ Essa tabaqueira foi tão perfeitamente visível para a senhora R... a ponto de iludi-la. Poderia o Espírito tê-la tornado tangível?
─ Poderia.
─ Poderia.
9. ─ Nesse caso, a senhora R... poderia tê-la tomado nas mãos, julgando pegar uma autêntica tabaqueira?
─ Sim.
─ Sim.
10. ─ Se a tivesse aberto teria provavelmente encontrado rapé. Se o tivesse tomado, ele a teria feito espirrar?
─ Sim.
─ Sim.
11. ─ Pode então o Espírito dar não somente a forma, mas até propriedades especiais?
─ Se o quiser; é em virtude deste princípio que respondi afirmativamente às questões precedentes. Tereis provas da poderosa ação que o Espírito exerce sobre a matéria e que, como já vos disse, estais longe de suspeitar.
─ Se o quiser; é em virtude deste princípio que respondi afirmativamente às questões precedentes. Tereis provas da poderosa ação que o Espírito exerce sobre a matéria e que, como já vos disse, estais longe de suspeitar.
12. ─ Suponhamos então que ele tivesse querido fazer uma substância venenosa e que uma pessoa a tivesse tomado. Esta teria sido envenenada?
─ Poderia, mas não teria feito, porque não teria tido permissão para fazê-lo.
─ Poderia, mas não teria feito, porque não teria tido permissão para fazê-lo.
13. ─ Teria podido fazer uma substância salutar e própria para curar, em caso de moléstias? Já houve esse caso?
─ Sim; muitas vezes.
─ Sim; muitas vezes.
OBSERVAÇÃO: Um fato desse gênero será encontrado com uma explicação teórica muito interessante no artigo que damos a seguir sob o título Um Espírito serviçal.
14. ─ Assim também poderia ele fazer uma substância alimentar; suponhamos que tivesse feito um fruto ou um petisco qualquer. Poderia alguém comê-lo e sentirse alimentado?
─ Sim, sim. Mas não procureis tanto para encontrar aquilo que é fácil de compreender. Basta um raio de sol para tornar perceptíveis aos vossos órgãos grosseiros essas partículas materiais que enchem o espaço em cujo meio viveis. Não sabeis que o ar contém vapor d’água? Condensai-o e o levareis ao estado normal.
Privai-o do calor e eis que suas moléculas impalpáveis e invisíveis se tornarão corpo sólido e muito sólido. Outras matérias existem que levarão os químicos a vos apresentar maravilhas ainda mais assombrosas. Só o Espírito possui instrumentos mais perfeitos que os vossos: a sua própria vontade e a permissão de Deus.
OBSERVAÇÃO: A questão da saciedade é aqui muito importante. Como uma substância que tem apenas existência e propriedades temporárias e, de certo modo, convencionais, pode produzir a saciedade? Por seu contato com o estômago, essa substância produz a sensação de saciedade, mas não a saciedade resultante da plenitude. Se tal substância pode agir sobre a economia orgânica e modificar um estado mórbido, também pode agir sobre o estômago e produzir a sensação da saciedade. Contudo, pedimos aos senhores farmacêuticos e donos de restaurantes que não tenham ciúmes, nem pensem que os Espíritos lhes venham fazer concorrência. Esses casos são raros e excepcionais e jamais dependem da vontade. Do contrário, a alimentação e a cura seriam muito baratas.
15. ─ Do mesmo modo poderia o Espírito fabricar moedas?
─ Pela mesma razão.
─ Pela mesma razão.
16. ─ Desde que tornados tangíveis pela vontade do Espírito, poderiam esses objetos ter um caráter de permanência e de estabilidade?
─ Poderiam, mas isto não se faz. Está fora das leis.
─ Poderiam, mas isto não se faz. Está fora das leis.
17. ─ Todos os Espíritos têm esse mesmo grau de poder?
─ Não, não.
─ Não, não.
18. ─ Quais os que têm mais particularmente esse poder?
─ Aqueles a quem Deus o concede, quando isto é útil.
─ Aqueles a quem Deus o concede, quando isto é útil.
19. ─ A elevação de um Espírito influi nesse caso?
─ É certo que quanto mais elevado o Espírito, mais facilmente obtém esse poder. Isto, porém, depende das circunstâncias. Espíritos inferiores também podem obtê-lo.
─ É certo que quanto mais elevado o Espírito, mais facilmente obtém esse poder. Isto, porém, depende das circunstâncias. Espíritos inferiores também podem obtê-lo.
20. ─ A produção dos objetos semimateriais resulta sempre de um ato da vontade do Espírito, ou por vezes ele exerce esse poder malgrado seu?
─ Isso frequentemente acontece malgrado seu.
─ Isso frequentemente acontece malgrado seu.
21. ─ Seria então esse poder um dos atributos, uma das faculdades inerentes à própria natureza do Espírito? Seria, de algum modo, uma das propriedades, como a de ver e ouvir?
─ Certamente. Mas por vezes ele mesmo o ignora. Então outro o exerce por ele, malgrado seu, quando as circunstâncias o exigem. O alfaiate do zuavo era justamente o Espírito de que acabo de falar e ao qual ele fazia alusão na sua linguagem chistosa.
─ Certamente. Mas por vezes ele mesmo o ignora. Então outro o exerce por ele, malgrado seu, quando as circunstâncias o exigem. O alfaiate do zuavo era justamente o Espírito de que acabo de falar e ao qual ele fazia alusão na sua linguagem chistosa.
OBSERVAÇÃO: Encontramos um exemplo dessa faculdade em certos animais, como por exemplo no peixe-elétrico, que irradia eletricidade sem saber o que faz, nem como, e que nem ao menos conhece o mecanismo que a produz. Nós mesmos por vezes não produzimos certos efeitos por atos espontâneos dos quais não nos damos conta? Assim, pois, parece-nos muito natural que o Espírito opere nessa circunstância por uma espécie de instinto. Ele opera por sua vontade, sem saber como, assim como nós andamos sem calcular as forças que colocamos em jogo.
22. ─ Compreendemos que nos dois casos citados pela Senhora R.., um dos Espíritos quisesse ter um cachimbo e o outro uma tabaqueira para impressionar a visão de uma pessoa viva. Pergunto, porém, se caso não tivesse chegado a fazê-laver, poderia o Espírito pensar que tinha esses objetos, criando para si mesmo uma ilusão?
─ Não, se ele tiver uma certa superioridade, porque terá perfeita consciência de sua condição. Já o mesmo não se dá com os Espíritos inferiores.
─ Não, se ele tiver uma certa superioridade, porque terá perfeita consciência de sua condição. Já o mesmo não se dá com os Espíritos inferiores.
OBSERVAÇÃO: Esse era, por exemplo, o caso da rainha de Oude, cuja evocação consta do nosso número de março de 1858, que ainda se julgava coberta de diamantes.
23. ─ Dois Espíritos podem reconhecer-se mutuamente pela aparência material que tinham em vida?
─ Não é por esse meio que eles se reconhecem, pois não tomarão essa aparência um para o outro. Se, porém, em certas circunstâncias, se acham em presença um do outro, revestidos dessa aparência, por que não se haveriam de reconhecer?
─ Não é por esse meio que eles se reconhecem, pois não tomarão essa aparência um para o outro. Se, porém, em certas circunstâncias, se acham em presença um do outro, revestidos dessa aparência, por que não se haveriam de reconhecer?
24. ─ Como podem os Espíritos reconhecer-se no meio da multidão de outros Espíritos, e sobretudo como podem fazê-lo quando um deles vai procurar em lugar distante e muitas vezes em outros mundos, aqueles que chamamos?
─ Isto é uma pergunta cuja resposta levaria muito longe. É necessário esperar.
Não estais suficientemente adiantados. No momento contentai-vos com a certeza de que assim é, pois disso tendes provas suficientes.
─ Isto é uma pergunta cuja resposta levaria muito longe. É necessário esperar.
Não estais suficientemente adiantados. No momento contentai-vos com a certeza de que assim é, pois disso tendes provas suficientes.
25. ─ Se o Espírito pode tirar do elemento universal os materiais para fazer todas essas coisas e dar a elas uma realidade temporária, com suas propriedades, também pode tirar dali o necessário para escrever. Consequentemente, isto nos dá a chave do fenômeno da escrita direta.
─ Finalmente o compreendeis.
─ Finalmente o compreendeis.
26. ─ Se a matéria de que se serve o Espírito não é permanente, como não desaparecem os traços da escrita direta?
─ Não julgueis pelas palavras. Desde o início eu nunca disse jamais. Nos casos estudados, tratava-se de objetos materiais volumosos; aqui se trata de sinais que convém conservar e são conservados.
─ Não julgueis pelas palavras. Desde o início eu nunca disse jamais. Nos casos estudados, tratava-se de objetos materiais volumosos; aqui se trata de sinais que convém conservar e são conservados.
A teoria acima pode resumir-se assim: O Espírito age sobre a matéria; tira da matéria primitiva universal os elementos necessários para, à vontade, formar objetos com a aparência dos diversos corpos existentes na Terra. Também pode operar sobre a matéria elementar, por sua vontade, uma transformação íntima que lhe dá determinadas propriedades. Essa faculdade é inerente à natureza do Espírito, que muitas vezes a exerce, quando necessário, como um ato instintivo, que não chega a perceber. Os objetos formados pelos Espíritos têm uma existência temporária, subordinada à sua vontade ou à necessidade. Ele pode fazê-los e desfazê-los à vontade. Em certos casos, aos olhos das pessoas vivas, esses objetos podem ter todas as aparências da realidade, isto é, tornar-se momentaneamente visíveis e até tangíveis. Há formação, mas não criação, visto que o Espírito nada pode tirar do nada.
Pneumatografia ou escrita direta
A Pneumatografia é a escrita produzida diretamente pelo Espírito, sem qualquer intermediário. Difere da Psicografia, pois esta é a transmissão do pensamento do Espírito por meio da escrita manual do médium. Inserimos esses dois vocábulos no Vocabulário Espírita, no início da nossa Instrução Prática, com a indicação da sua diferença etimológica. Psicografia, do grego, psykhê = borboleta, alma, e graphô = eu escrevo; Pneumatografia, de pneuma = ar, sopro, vento, Espírito.
Num médium escrevente a mão é um instrumento, mas a sua alma, o Espírito nele encarnado, é o intermediário, o agente ou intérprete do Espírito estranho que se comunica. Na Pneumatografia é o próprio Espírito estranho que escreve diretamente, sem intermediário.
O fenômeno da escrita direta é inegavelmente um dos mais extraordinários do Espiritismo. Por anormal que pareça à primeira vista, é hoje um fato verificado e incontestável. Se dele ainda não falamos, é que esperávamos poder explicá-lo depois de fazer pessoalmente todas as observações necessárias para tratar do assunto com conhecimento de causa. Se a teoria é necessária para entendermos a possibilidade dos fenômenos espíritas em geral, é talvez ainda mais necessária neste caso, sem dúvida um dos mais estranhos que já se apresentaram, mas que deixa de parecer sobrenatural quando lhe compreendemos o princípio.
A primeira revelação deste fenômeno provocou o sentimento de dúvida, seguido pela ideia de embuste. Com efeito, todos conhecem a ação das tintas chamadas simpáticas, cujos traços, a princípio completamente invisíveis, aparecem depois de algum tempo. Poderia então parecer que se tivesse abusado da credulidade, e não garantimos que isto nunca tenha sido feito. Estamos mesmo convencidos de que certas pessoas, sem propósito mercenário, mas unicamente por amor próprio e para fazer com que acreditassem em seu poder, houvessem empregado tais subterfúgios.
J. J. Rousseau relata o seguinte fato na terceira das cartas escritas de Montagne:
J. J. Rousseau relata o seguinte fato na terceira das cartas escritas de Montagne:
“Em 1743 vi em Veneza uma nova maneira de ver a sorte, mais estranha que as de Préneste. Quem quisesse consultar entrava numa câmara e, se quisesse, poderia ficar só. Ali, de um livro cheio de folhas brancas, tirava uma, de sua escolha; depois, segurando essa folha, pedia mentalmente, e não em voz alta, a resposta a algo que queria saber. Em seguida dobrava a folha branca, colocava num envelope, lacrava-o e o colocava, assim lacrado, dentro de um livro. Enfim, depois de ter recitado certas fórmulas muito bizarras, sem perder o livro de vista, ia tirar o papel. Examinava o lacre, abria o envelope e encontrava escrita a resposta.
“O mágico que fazia esses sortilégios era o primeiro secretário da Embaixada da França e se chamava J. J. Rousseau”. Duvidamos que Rousseau tivesse conhecido a escrita direta, pois do contrário teria sabido outras coisas relativas às manifestações espíritas, e não teria tratado do assunto assim levianamente. É possível, como ele mesmo reconheceu, quando o interrogamos sobre este fato, que empregasse um processo que aprendera de um charlatão italiano.
Mas pelo fato de podermos imitar uma coisa, seria absurdo concluir que tal coisa não exista. Nestes últimos tempos não se tem encontrado meios de imitar a lucidez sonambúlica a ponto de termos a ilusão da realidade? E porque este processo de saltimbanco percorreu todas as feiras, devemos concluir que não haja verdadeiros sonâmbulos? Pelo fato de certos negociantes venderem vinho falsificado, há razão para não se encontrar vinho puro? Dá-se o mesmo com a escrita direta. As precauções para assegurar a realidade do fato eram, aliás, muito simples e muito fáceis e, graças a elas, já hoje não pode haver qualquer dúvida.
Desde que a possibilidade de escrever sem intermediário é um dos atributos do Espírito e que os Espíritos existiram em todos os tempos, e também em todos os tempos produziram os diversos fenômenos que conhecemos, igualmente produziram a escrita direta na Antiguidade, do mesmo modo que nos nossos dias. É assim que podemos explicar o aparecimento das três palavras na sala do festim de Baltazar. A Idade Média, tão fecunda em prodígios ocultos, mas que foram abafados nas fogueiras, também deve ter conhecido a escrita direta e provavelmente a encontraríamos na teoria das modificações que os Espíritos podem operar na matéria, e que relatamos em nosso artigo precedente, ─ o princípio da transmutação dos metais. É um ponto que abordaremos qualquer dia.
Dizia-nos ultimamente um dos nossos assinantes que um dos seus tios, cônego, que durante muitos anos tinha sido missionário no Paraguai, obtinha, por volta de 1800, a escrita direta, juntamente com seu amigo, o célebre Abade Faria. Seu método, que o assinante não chegou a conhecer bem, tendo-o apenas observado superficialmente, consistia numa série de anéis pendurados, aos quais eram adaptados verticalmente alguns lápis, cujas pontas pousavam sobre folhas de papel.
Esse sistema representa a infância da arte. Daí para cá fizemos progresso. Sejam quais forem os resultados obtidos em diversas épocas, não foi senão depois da vulgarização das manifestações espíritas que a escrita direta foi levada a sério. Parece que quem primeiro a deu a conhecer em Paris, nestes últimos tempos, foi o Barão de Guldenstubbe, que sobre o assunto publicou uma obra muito interessante, contendo grande número de fac-símile das escritas por ele obtidas. * O fenômeno era há algum tempo conhecido na América. A posição social do Barão de Guldenstubbe; sua independência; a consideração que gozava na alta sociedade, incontestavelmente afastam toda suspeita de fraude voluntária, pois que não podia ser movido por motivos interesseiros. Quando muito poderia admitir-se que fosse vítima de uma ilusão, mas a isto responde peremptoriamente um fato: o de serem os fenômenos obtidos por outras pessoas que tomaram todas as precauções para evitar qualquer possibilidade de fraude ou de erro.
Obtém-se a escrita direta, como em geral a maior parte das manifestações espíritas não espontâneas, pelo recolhimento, pela prece e pela evocação.
Muitas vezes foram obtidas nas igrejas, junto aos túmulos, ao pé de estátuas ou das imagens de pessoas que eram chamadas. É, porém, evidente que o lugar não tem outra influência senão a de provocar melhor recolhimento e melhor concentração do pensamento, pois está provado que elas são também obtidas sem esses acessórios e nos lugares mais comuns, como sobre um simples móvel doméstico, desde que nos encontremos nas condições morais requeridas e que gozemos da faculdade mediúnica necessária.
No princípio supunha-se que era preciso colocar um lápis com um papel. Até certo ponto o fato podia ser então explicado. Sabe-se que os Espíritos movem e deslocam os objetos, que os apanham e por vezes os atiram no espaço. Assim também poderiam eles tomar o lápis, servindo-se dele para traçar os caracteres; e porque lhes dão o impulso por meio da mão do médium, de uma prancheta, etc., também poderiam fazê-lo de maneira direta. Mas não tardou a reconhecer-se que a presença do lápis não era necessária e que bastava um simples pedaço de papel, dobrado ou não, sobre o qual, depois de alguns minutos, encontravam-se traçados os caracteres. Aqui o fenômeno muda completamente de aspecto e nos lança numa ordem de coisas inteiramente nova. Os caracteres são traçados com uma substância qualquer. Desde que esta não foi fornecida ao Espírito, então ele a fez, criou-a ele mesmo. De onde a tirou? Eis o problema.
O general russo Conde de B... mostrou-nos uma estrofe de dez versos alemães obtida dessa maneira por intermédio da irmã do Barão de Guldenstubbe, pondo apenas uma folha de papel, arrancada de sua própria caderneta, debaixo do pedestal do relógio da chaminé. Tendo-a retirado ao cabo de alguns minutos, nela encontrou esses versos em caracteres tipográficos alemães muito finos e de uma pureza absoluta. Por meio de um médium escrevente o Espírito lhe disse que queimasse aquele papel; como, porém, hesitasse, lamentando sacrificar um espécime tão precioso, o Espírito acrescentou: “Não receies. Eu te darei um outro”. Com essa certeza, lançou o papel ao fogo, depois colocou uma segunda folha, também tirada de sua carteira, sobre a qual os versos foram reproduzidos, exatamente da mesma maneira. Foi essa segunda edição que vimos e examinamos com o maior cuidado, e ─ coisa estranha ─ os caracteres apresentavam sinais de pressão como se tivessem acabado de sair prelo.
Portanto, não é mais apenas com lápis que os Espíritos podem operar, mas também com tinta e caracteres de imprensa.
Um dos nossos honrados colegas da Sociedade, o senhor Didier, obteve há poucos dias os resultados seguintes, que tivemos oportunidade de constatar, e cuja perfeita autenticidade podemos garantir. Tendo ido à igreja de Nossa Senhora das Vitórias, com a Senhora Huet, que há pouco conseguiu resultados desse gênero, tomou uma folha de papel de carta com o timbre da sua casa comercial, dobrou-a em quatro e a pôs sobre os degraus de um altar, pedindo em nome de Deus que um bom Espírito viesse escrever alguma coisa. Ao cabo de dez minutos de recolhimento, encontrou, na parte interior da folha, numa das dobras a palavra Fé e noutra dobra a palavra Deus. A seguir, tendo pedido ao Espírito o obséquio de dizer quem havia escrito aquilo, colocou novamente o papel e depois de dez minutos encontrou estas palavras: Por Fénelon.
Oito dias mais tarde, a 12 de julho, quis repetir a experiência, para o que foi ao Louvre, à sala Coyzevox, situada sob o pavilhão do relógio. Colocou uma folha de papel de carta, dobrada como a primeira, sobre a base do busto de Bossuet, mas nada obteve. Um menino de cinco anos o acompanhava e ele havia posto o boné do garoto no pedestal da estátua de Luiz XIV, que se encontra a poucos passos da primeira. Julgando falha a experiência, ia se retirar quando, ao pegar o boné, verificou em baixo dele, escritas aparentemente a lápis sobre o mármore, as palavras Amai a Deus, seguidas da letra B. O primeiro pensamento dos assistentes foi de que tais palavras poderiam ter sido escritas anteriormente por mãos estranhas, passando despercebidas. Não obstante, quiseram tentar nova prova e puseram a folha dobrada em cima dessas palavras, cobrindo-as com o boné. Ao cabo de alguns minutos verificaram que a folha continha três letras. Repuseram o papel, pedindo que a frase fosse completada e obtiveram: Amai a Deus, isto é, aquilo que fora escrito no mármore, menos o B. Era assim evidente que as primeiras palavras tinham sido feitas pela escrita direta. Ressaltava, ainda, o fato curioso de terem as letras sido traçadas sucessivamente e não de uma vez, visto que por ocasião da primeira inspeção não houvera tempo de concluir a frase. Saindo do Louvre, o senhor D... foi a Saint-Germain l’Auxerrois onde, pelo mesmo processo, obteve as palavras Sede humildes. Fénelon, escritas de maneira muito clara e muito legível. Essas palavras ainda podem ser vistas no mármore da estátua a que nos referimos.
A substância de que são feitos os caracteres tem toda a aparência do grafite do lápis e é facilmente apagada com a borracha. Examinamo-la ao microscópio, verificando que não é incorporada ao papel, mas simplesmente deposta em sua superfície, de maneira irregular sobre as asperezas, formando arborescências muito semelhantes às de certas cristalizações. A parte apagada pela borracha deixa ver camadas de matéria escura introduzida nas pequenas cavidades da rugosidade do papel. Destacadas e retiradas com cuidado, essas camadas são a própria matéria que se produz durante a operação. Lamentamos que a pequena quantidade de material recolhido não nos tivesse permitido fazer sua análise química. Não perdemos a esperança, entretanto, de consegui-lo um dia.
Se o leitor se reportar ao nosso artigo precedente, encontrará a explicação completa do fenômeno.
Nessa escrita, o Espírito não se serve nem das nossas substâncias, nem dos nossos instrumentos. Ele mesmo cria as substâncias e os instrumentos necessários, tirando seus materiais do elemento primitivo universal que, por ação de sua vontade, sofre as modificações necessárias ao efeito que quer produzir. Ele pode portanto produzir tanto a tinta de impressão e a tinta comum como o grafite do lápis, e mesmo caracteres tipográficos bastante resistentes para dar relevo à impressão.
É esse o resultado a que nos conduziu o fenômeno da tabaqueira relatado em nosso artigo anterior, e sobre o qual nos estendemos bastante porque nele vimos uma oportunidade para sondar uma das mais sérias leis do Espiritismo, cujo conhecimento pode esclarecer diversos enigmas até mesmo do mundo visível. É assim que de um fato aparentemente vulgar pode brotar a luz. De tudo, o mais importante é observar com cuidado, o que todos podem fazer, tanto como nós, que não nos limitamos a ver os efeitos sem procurar as causas. Se nossa fé se firmou de dia para dia, foi porque compreendemos. Fazei então compreender, se quiserdes fazer prosélitos sérios. O conhecimento das causas tem outro resultado: traçar uma linha de demarcação entre a verdade e a superstição.
Se encarássemos a escrita quanto às vantagens que ela pode oferecer, diríamos que até o momento sua principal utilidade foi levar-nos à constatação material de um fato importante: a intervenção de um poder oculto, que nela encontra um novo meio de se manifestar. Mas as comunicações obtidas por esse processo raramente são extensas. Em geral são espontâneas, limitadas a algumas palavras, a sentenças, às vezes a sinais ininteligíveis. Têm sido obtidas em várias línguas, como grego, latim, siríaco, etc., ou em caracteres hieroglíficos, mas ainda não se prestaram a conversações contínuas e rápidas, como permite a psicografia ou escrita manual dos médiuns.
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La realité des Esprits et de leurs manifestations, démontrée par le phenomène
de l`écriture directe
, pelo barão de Guldenstubbé, 1 vol. in-8o, com 15
estampas e 93 fac-símiles. Preço 8 fr. Casa Frank, rua Richelieu.
Encontra-se também nas Casas Dentu e Ledoyen.
Um espírito serviçal
Extraímos os trechos seguintes da carta de um dos nossos correspondentes em Bordéus:
“Eis aqui, meu caro senhor Allan Kardec, um novo relato de fatos extraordinários que submeto à sua apreciação, solicitando a bondade de verificá-los, evocando o Espírito que os produziu.
“Uma jovem senhora, que chamaremos Senhora Mally, é a pessoa que serve de intermediária para as manifestações que constituem o assunto desta carta. Ela mora em Bordéus e tem três filhos.
“Desde tenra idade, com cerca de nove anos, tem visões. Uma noite, ao entrar em casa com a família, vê no canto da escada a forma muito distinta de uma tia falecida há quatro ou cinco anos. Solta uma exclamação: “Ah! minha tia!” e a aparição desaparece. Dois anos mais tarde ouviu que a chamava uma voz que tomou como sendo da tia. O chamado era tão forte que não pôde deixar de dizer: “Entre, minha tia!”. Como a porta não se abriu, foi abri-la ela mesma. Não vendo ninguém, desceu à procura de sua mãe, para perguntar se alguém tinha subido.
“Alguns anos mais tarde encontramos essa senhora sob a influência de um guia, ou Espírito familiar, que parece encarregado de velar sobre sua pessoa e sobre seus filhos, prestando uma porção de pequenos serviços em casa, entre outros o de despertar os doentes à hora certa de tomar o chá, ou as pessoas que precisam sair.
Por outras manifestações ele revela o seu estado moral. Esse Espírito tem um caráter pouco sério, entretanto, ao lado de sinais de leviandade, deu provas de sensibilidade e dedicação.
“Geralmente a Senhora Mally o vê sob a forma de uma centelha ou de uma grande claridade, mas às crianças ele se manifesta sob a forma humana. Uma sonâmbula disse ter-lhe dado esse guia, sobre o qual ela parecia ter influência.
Quando a Senhora Mally ficava algum tempo sem se preocupar com o seu guia, ele tinha o cuidado de se fazer lembrado por meio de algumas visões mais ou menos desagradáveis. Certa vez, por exemplo, quando ela descia as escadas sem luz, percebeu no patamar um cadáver luminoso, coberto com um lençol. Essa senhora tem uma grande força de caráter, como veremos mais tarde. Não obstante, não pôde deixar de sofrer com isso uma penosa impressão. Fechando rapidamente a porta do quarto, refugiou-se junto de sua mãe. De outras vezes sentia que lhe puxavam as roupas ou que alguma pessoa ou algum animal a roçava. Essas traquinagens paravam logo que ela dirigia um pensamento ao seu guia, ou que a sonâmbula, por sua vez, advertia o Espírito e lhe proibia de atormentá-la.
“Em 1856 a terceira filha da Senhora Mally, de quatro anos de idade, caiu doente. Foi em agosto. A criança estava continuamente mergulhada num estado de sonolência, interrompido por crises e convulsões. Durante oito dias eu mesmo vi a criança, que parecia sair do seu abatimento, tomar uma expressão sorridente e feliz, de olhos semicerrados, sem olhar para os que a cercavam; estender a mão em gesto gracioso, como para receber alguma coisa; levá-la a boca e comer; depois agradecer com um sorriso encantador. Durante esses oitos dias a menina foi sustentada por esse alimento invisível e seu corpo readquiriu a aparência de frescura habitual.
Quando pôde falar parecia ter saído de um sono prolongado e narrava visões maravilhosas.
“Durante a convalescença, nessa mesma casa ocorreu, a 25 de agosto, o aparecimento de um agênere. Cerca de dez e meia da noite, a Senhora Mally descia uma escada de serviço, levando a criança pela mão, quando percebeu um indivíduo que subia. A escada estava perfeitamente clara, pois vinha luz da cozinha, de sorte que a senhora Mally pôde distinguir muito bem o indivíduo, que tinha a aparência de uma pessoa de constituição vigorosa. Chegados ao patamar ao mesmo tempo, encontraram-se face a face. Era um jovem de expressão agradável, bem vestido, com um boné à cabeça e tendo na mão um objeto que ela não pôde distinguir.
Surpreendida com esse inesperado encontro, àquela hora e numa escada de serviço, a Senhora Mally o encarou sem dizer palavra, e mesmo sem perguntar o que desejava.
O desconhecido a observou um momento, silencioso, depois girou sobre os calcanhares e desceu a escada, esfregando no corrimão o objeto que tinha na mão e que fazia um ruído semelhante ao de uma varinha. Assim que desapareceu, a Senhora Mally precipitou-se para a sala onde eu me encontrava no momento e gritou que um ladrão estava na casa. Fomos procurá-lo, ajudados por meu cachorro. Todos os recantos foram examinados. Verificamos que a porta da rua estava fechada; que ninguém poderia ter entrado e que não era possível fechá-la sem ruído. Era, pois, pouco provável que um malfeitor tivesse vindo a uma escada iluminada e numa hora em que se arriscava a encontrar, a cada passo, pessoas da casa. Por outro lado, como poderia ter sido encontrado um estranho numa escada que não serve ao público? Em todo o caso, se houvesse lá entrado por engano, teria dirigido a palavra à senhora Mally, no entanto, voltou-lhe as costas e se foi tranquilamente, como alguém que nem tem pressa nem desconhece o seu caminho. Todas essas circunstâncias não nos deixaram a menor dúvida quanto à natureza desse indivíduo.
“Esse Espírito manifesta-se muitas vezes por meio de ruídos semelhantes ao de um tambor; de golpes violentos no fogão; de batidas de pés nas portas, que se abrem sozinhas; ou de ruídos semelhantes ao de seixos que fossem atirados nas vidraças.
Um dia a Senhora Mally estava à porta da cozinha quando viu um móvel fronteiro abrir-se e fechar-se várias vezes por mão invisível. Outras vezes, estando ocupada em acender o fogo, sentiu que lhe puxavam o vestido, ou ainda, ao subir a escada, que lhe pegavam o calcanhar. Várias vezes foram escondidas as tesouras e outros objetos de trabalho, e quando já os havia procurado por muito tempo, eles lhe eram depositados no colo. Um domingo ela estava ocupada colocando dentes de alho num pernil. De repente sentiu que os tiravam de suas mãos. Pensando que os tivesse deixado cair, procurou-os inutilmente. Então, tomando o pernil, encontrou o alho enterrado num buraco triangular cuja pele tinha sido retirada, como se para mostrar que mão estranha ali o havia colocado intencionalmente.
“A filha mais velha da Senhora Mally, aos quatro anos de idade, estava passeando com sua mãe, quando esta percebeu que a criança se entretinha com um ser invisível, que parecia pedir-lhe os bombons. A menina fechava a mão e dizia:
─ Estes são meus. Se você quiser, compre.
─ Estes são meus. Se você quiser, compre.
Admirada, a mãe perguntou com quem ela falava.
─ É este menino que quer que eu lhe dê os meus bombons, respondeu a garota.
─ Que menino é esse? perguntou a mãe.
─ Este menino que está aqui ao meu lado.
─ Mas eu não vejo ninguém.
─ Ah! Ele se foi embora. Estava de vestido branco e todo frisado.
─ É este menino que quer que eu lhe dê os meus bombons, respondeu a garota.
─ Que menino é esse? perguntou a mãe.
─ Este menino que está aqui ao meu lado.
─ Mas eu não vejo ninguém.
─ Ah! Ele se foi embora. Estava de vestido branco e todo frisado.
“De outra vez a pequena doente de quem já falei, divertia-se em fazer passarinhos de papel.
─ Mamãe! Mamãe! Disse ela, faça este menino ter modos. Ele quer tomar o meu papel.
─ Quem? perguntou a mãe.
─ Este menino tomou meu papel. E a criança pôs-se a chorar.
─ Mas onde está ele?
─ Ah! Olha lá. Ele está saindo pela janela. Era um menino malvado.
─ Mamãe! Mamãe! Disse ela, faça este menino ter modos. Ele quer tomar o meu papel.
─ Quem? perguntou a mãe.
─ Este menino tomou meu papel. E a criança pôs-se a chorar.
─ Mas onde está ele?
─ Ah! Olha lá. Ele está saindo pela janela. Era um menino malvado.
“Essa mesma menina um dia pulava na ponta dos pés até perder o fôlego, apesar da proibição da mãe, que temia lhe fizesse mal. De repente parou e exclamou:
“Ah! o guia da mamãe!” Perguntaram-lhe o que isto significava e ela disse que tinha visto um braço segurá-la quando saltava e obrigá-la a ficar quieta. Acrescentou que não tinha medo e que imediatamente havia pensado no guia de sua mãe. Os fatos desse gênero repetem-se constantemente, mas se tornaram familiares às crianças, que não experimentam nenhum medo, porque o pensamento do guia de sua mãe lhes vem espontaneamente.
“A intervenção desse guia manifestou-se em circunstâncias mais sérias. A Senhora Mally tinha alugado uma casa com jardim na comuna de Caudéran. A casa era isolada e rodeada de vastos prados. Ela morava só com as crianças e uma preceptora. A comuna era então infestada de bandidos, que depredavam as propriedades da redondeza e que naturalmente tinham lançado suas vistas sobre uma casa que sabiam habitada apenas por duas mulheres, por isso vinham todas as noites pilhar e tentar forçar as portas e janelas. Durante três anos a Senhora Mally morou nessa casa, em constantes sobressaltos, mas todas as noites se recomendava a Deus.
Depois da prece, seu guia se manifestava sob a forma de uma centelha. Por várias vezes, durante a noite, quando os ladrões tentavam penetrar na casa, um súbito clarão iluminava o quarto e ela escutava uma voz dizer-lhe: “Não temas. Eles não entrarão”. Com efeito, jamais conseguiram penetrar. Não obstante, por excessiva precaução, ela se havia munido de armas de fogo. Uma noite em que os viu rondando a casa, deu-lhes dois tiros de revólver que atingiram um deles, pois ouviu gemidos, mas no dia seguinte haviam desaparecido. O fato foi assim relatado por um jornal de Bordéus:
“Informam-nos de um fato que demonstra certa coragem por parte de uma jovem que mora na comuna de Caudéran.
“Uma senhora que ocupa uma casa isolada nessa comuna tem em sua companhia uma moça encarregada da educação de seus filhos.
“Numa das noites precedentes ao fato que vimos de relatar, essa senhora havia sido vítima de uma tentativa de roubo. No dia seguinte resolveram que montariam guarda e, se necessário, vigiariam durante a noite.
“Fizeram o que havia sido combinado. Assim, quando os ladrões se apresentaram para concluir a obra da véspera, encontraram quem os recebesse.
Apenas tiveram o cuidado de não entrar em conversa com os habitantes da casa cercada. Quando a moça de quem falamos pressentiu a sua presença, abriu a porta e deu um tiro de revólver que deve ter atingido um dos ladrões, pois no dia seguinte encontraram marcas de sangue no jardim.
“Até agora não foram descobertos os autores dessa segunda tentativa”.
“Falarei apenas de memória de outras manifestações ocorridas nessa mesma casa de Caudéran, enquanto lá estiveram aquelas senhoras. Durante a noite ouviamse com frequência estranhos ruídos, semelhantes ao de bolas roladas no soalho ou de lenha atirada no chão. Entretanto, pela manhã tudo estava em perfeita ordem.
“Caso o senhor julgue conveniente, queira evocar o guia da Senhora Mally e interrogá-lo a respeito das manifestações de que vos dei notícia. Queira especialmente lhe perguntar se a sonâmbula que pretende ter dado esse guia tem o poder de retomá-lo, e se ele se retiraria, caso a sonâmbula viesse a morrer”.
O guia da senhora Mally
1. ─ (Evocação do guia da senhora Mally).
─ Aqui estou. Isto é fácil para mim.
─ Aqui estou. Isto é fácil para mim.
2. ─ Com que nome poderemos designá-lo?
─ Como quiserdes; por aquele pelo qual já me conheceis.
─ Como quiserdes; por aquele pelo qual já me conheceis.
3. ─ Qual o motivo que o ligou à senhora Mally e a seus filhos?
─ Em primeiro lugar, antigas relações; depois, uma amizade, uma simpatia que Deus protege sempre.
─ Em primeiro lugar, antigas relações; depois, uma amizade, uma simpatia que Deus protege sempre.
4. ─ Dizem que foi a sonâmbula, senhora Dupuy, que o encaminhou à senhora Mally. É verdade?
─ Foi a sonâmbula que afirmou que eu estava junto à outra.
─ Foi a sonâmbula que afirmou que eu estava junto à outra.
5. ─ Você depende dessa sonâmbula?
─ Não.
─ Não.
6. ─ Ela poderia afastar-vos daquela senhora?
─ Não.
─ Não.
7. ─ Se a sonâmbula viesse a morrer, isto teria sobre você alguma influência?
─ Nenhuma.
─ Nenhuma.
8. ─ Faz muito tempo que seu corpo morreu?
─ Sim, vários anos.
─ Sim, vários anos.
9. ─ O que era você em vida?
─ Um menino falecido aos oito anos.
─ Um menino falecido aos oito anos.
10. ─ Como Espírito você é feliz ou infeliz?
─ Feliz. Não tenho nenhuma preocupação pessoal e não sofro senão pelos outros. É verdade que sofro muito por eles.
─ Feliz. Não tenho nenhuma preocupação pessoal e não sofro senão pelos outros. É verdade que sofro muito por eles.
11. ─ Foi você que apareceu na escada à senhora Mally, sob a forma de um moço que ela supôs fosse um ladrão?
─ Não. Era um companheiro.
─ Não. Era um companheiro.
12. ─ E outra vez, sob a forma de um cadáver? Isso poderia impressioná-la desagradavelmente. Foi uma travessura que demonstra falta de benevolência.
─ Longe disso, em muitos casos, mas neste era para dar ideias mais corajosas à Senhora Mally. Que é que tem um cadáver de apavorante?
─ Longe disso, em muitos casos, mas neste era para dar ideias mais corajosas à Senhora Mally. Que é que tem um cadáver de apavorante?
13. ─ Então você tem o poder de se tornar visível à vontade?
─ Sim, mas eu disse que não era eu.
─ Sim, mas eu disse que não era eu.
14. ─ Você também não tem nada a ver com as outras manifestações materiais produzidas na casa dela?
─ Perdão! Isto sim. Foi o que eu me impus, junto a ela, como trabalho material, mas faço para ela outro trabalho muito mais útil e muito mais sério.
─ Perdão! Isto sim. Foi o que eu me impus, junto a ela, como trabalho material, mas faço para ela outro trabalho muito mais útil e muito mais sério.
15. ─ Você pode tornar-se visível a todos?
─ Sim.
─ Sim.
16. ─ Você poderia tornar-se visível aqui, a um de nós?
─ Sim, se pedirdes a Deus para que isso aconteça. Eu posso, mas não ouso fazê-lo.
─ Sim, se pedirdes a Deus para que isso aconteça. Eu posso, mas não ouso fazê-lo.
17. ─ Se você não quer tornar-se visível, poderia pelo menos dar-nos uma manifestação, como por exemplo trazer qualquer coisa para cima desta mesa?
─ Certamente, mas qual seria a utilidade? Para ela é assim que eu testemunho a minha presença, mas para vós isto seria inútil, pois estamos conversando.
─ Certamente, mas qual seria a utilidade? Para ela é assim que eu testemunho a minha presença, mas para vós isto seria inútil, pois estamos conversando.
18. ─ O obstáculo não seria a falta de um médium, necessário para produzir essas manifestações?
─ Não, isto é um pequeno obstáculo. Não vedes frequentemente aparições súbitas a pessoas sem nenhuma mediunidade?
─ Não, isto é um pequeno obstáculo. Não vedes frequentemente aparições súbitas a pessoas sem nenhuma mediunidade?
19. ─ Então todo mundo é apto a ver aparições espontâneas?
─ Sim, pois todo ser humano é médium.
─ Sim, pois todo ser humano é médium.
20. ─ Entretanto, o Espírito não encontra no organismo de certas pessoas uma facilidade maior para comunicar-se?
─ Sim, mas eu vos disse ─ e vós deveis sabê-lo ─ que os Espíritos têm o poder por si mesmos. O médium nada é. Não tendes a escrita direta? É necessário médium para isso? Não, mas apenas a fé e um ardente desejo. E ainda às vezes isto se produz a despeito dos homens, isto é, sem fé e sem desejo.
─ Sim, mas eu vos disse ─ e vós deveis sabê-lo ─ que os Espíritos têm o poder por si mesmos. O médium nada é. Não tendes a escrita direta? É necessário médium para isso? Não, mas apenas a fé e um ardente desejo. E ainda às vezes isto se produz a despeito dos homens, isto é, sem fé e sem desejo.
21. ─ Você acha que as manifestações, como a escrita direta, por exemplo, se tornarão mais comuns do que são hoje?
─ Certamente. Como compreendeis, então, a vulgarização do Espiritismo?
─ Certamente. Como compreendeis, então, a vulgarização do Espiritismo?
22. ─ Você pode explicar-nos o que é que a filha da senhora Mally pegava na mão e comia quando estava doente?
─ Maná, uma substância criada por nós, que encerra o princípio contido no maná ordinário e a doçura do confeito.
─ Maná, uma substância criada por nós, que encerra o princípio contido no maná ordinário e a doçura do confeito.
23. ─ Essa substância é formada da mesma maneira que as roupas e os outros objetos que os Espíritos produzem por sua vontade e pela ação que exercem sobre a matéria?
─ Sim, mas os elementos são muito diferentes. Os ingredientes que formam o maná não são os mesmos que eu arranjava para criar madeira ou roupa.
─ Sim, mas os elementos são muito diferentes. Os ingredientes que formam o maná não são os mesmos que eu arranjava para criar madeira ou roupa.
24. ─ (A São Luís) Os elementos utilizados pelo Espírito para formar seu maná eram diferentes dos que ele tomava para formar outras coisas? Sempre nos disseram que há um só elemento primitivo universal, do qual os diferentes corpos são simples modificações.
─ Sim. Isto significa que esse elemento primitivo está no espaço, aqui sob uma forma, ali sob outra. É o que ele quer dizer. Ele obtém o seu maná de uma parte desse elemento, que supõe diferente, mas que é sempre o mesmo.
─ Sim. Isto significa que esse elemento primitivo está no espaço, aqui sob uma forma, ali sob outra. É o que ele quer dizer. Ele obtém o seu maná de uma parte desse elemento, que supõe diferente, mas que é sempre o mesmo.
25. ─ A ação magnética pela qual se pode dar propriedades especiais a uma substância, como à da água, por exemplo, tem relação com a do Espírito que cria uma substância?
─ O magnetizador não emprega nada além da sua vontade. É um Espírito que o ajuda, que se encarrega de preparar o remédio.
─ O magnetizador não emprega nada além da sua vontade. É um Espírito que o ajuda, que se encarrega de preparar o remédio.
26. ─ (Ao guia) Há tempos relatamos fatos curiosos de manifestações de um Espírito por nós designado com o nome de Duende de Bayonne. Você conhece esse Espírito?
─ Particularmente, não, mas acompanhei o que fizestes a seu respeito e foi dessa forma que tomei conhecimento dele.
─ Particularmente, não, mas acompanhei o que fizestes a seu respeito e foi dessa forma que tomei conhecimento dele.
27. ─ Ele é um Espírito de ordem inferior?
─ Inferior quer dizer mau? Não. Quer dizer, simplesmente: não inteiramente bom, pouco adiantado? Sim.
─ Inferior quer dizer mau? Não. Quer dizer, simplesmente: não inteiramente bom, pouco adiantado? Sim.
28. ─ Agradecemos pela bondade de ter vindo, e pelas explicações que nos deu.
─ Às vossas ordens.
─ Às vossas ordens.
OBSERVAÇÃO: Oferece-nos esta comunicação um complemento àquilo que dissemos nos dois artigos precedentes sobre a formação de certos corpos pelos Espíritos. A substância dada à criança, durante a doença, evidentemente era preparada por eles e objetivava restaurar a saúde. De onde tiraram os seus princípios? Do elemento universal, transformado para o uso desejado. O fenômeno tão estranho das propriedades transmitidas por ação magnética, problema até aqui inexplicado, e sobre o qual se divertiram os incrédulos, está agora resolvido. Com efeito, sabemos que não são apenas os Espíritos dos mortos que agem, mas que os dos vivos também têm a sua parte de ação no mundo invisível. O homem da tabaqueira dá-nos a prova disso. Que há, pois, de admirável em que a vontade de uma pessoa, agindo para o bem, possa operar uma transformação da matéria primitiva e dar-lhe determinadas propriedades? Em nossa opinião, aí está a chave de muitos efeitos supostamente sobrenaturais, dos quais teremos oportunidade de falar.
É assim que, pela observação, chegamos a perceber as coisas que fazem parte da realidade e do maravilhoso. Mas quem diz que esta teoria é verdadeira? Vá lá! Ela tem pelo menos o mérito de ser racional e de estar perfeitamente em concordância com os fatos observados. Se algum cérebro humano achar outra mais lógica do que esta dada pelos Espíritos, que sejam comparadas. Um dia talvez nos agradeçam por termos aberto o caminho ao estudo racional do Espiritismo.
Certo dia alguém nos dizia: “Eu bem que gostaria de ter um Espírito serviçal às minhas ordens, mesmo que tivesse de suportar algumas travessuras que me fizesse.”
É uma satisfação que a gente desfruta sem o perceber, porque nem todos os Espíritos que nos assistem se manifestam de maneira ostensiva, mas nem por isso deixam de estar ao nosso lado e, pelo fato de ser oculta, sua influência não é menos real.
Palestras familiares de além-túmulo - Voltaire e Frederico
Diálogo obtido através de dois médiuns que serviram
de intérpretes a cada um desses dois Espíritos, em sessão
da Sociedade – 18 de março de 1859.
Questões prévias dirigidas a Voltaire
Questões prévias dirigidas a Voltaire
1. ─ Em que situação vos encontrais como Espírito?
─ Errante, mas arrependido.
─ Errante, mas arrependido.
2. ─ Quais as vossas ocupações como Espírito?
─ Rasgo o véu do erro que em vida supunha ser a luz da verdade.
─ Rasgo o véu do erro que em vida supunha ser a luz da verdade.
3. ─ Que pensais dos vossos escritos em geral?
─ Meu Espírito estava dominado pelo orgulho, pois eu tinha a missão de dar um impulso a um povo na infância. Minhas obras são a consequência disso.
─ Meu Espírito estava dominado pelo orgulho, pois eu tinha a missão de dar um impulso a um povo na infância. Minhas obras são a consequência disso.
4. ─ O que podeis dizer particularmente sobre o vosso Joana d’Arc?
─ É uma diatribe. Fiz coisas piores.
─ É uma diatribe. Fiz coisas piores.
5. ─ Em vida, o que pensáveis do vosso futuro depois da morte?
─ Ora, eu não acreditava senão na matéria, bem o sabeis; e ela morre.
─ Ora, eu não acreditava senão na matéria, bem o sabeis; e ela morre.
6. ─ Éreis ateu no verdadeiro sentido do vocábulo?
─ Eu era orgulhoso; negava a divindade por orgulho, com o que sofri e do que me arrependo.
─ Eu era orgulhoso; negava a divindade por orgulho, com o que sofri e do que me arrependo.
7. ─ Gostaríeis de conversar com Frederico, que teve a gentileza de atender também ao nosso chamado? Essa conversa seria instrutiva para nós.
─ Se Frederico quiser, estou à disposição.
Voltaire ─ Meu caro monarca, vedes que reconheço os meus erros e que estou longe de falar como nas minhas obras. Outrora dávamos o espetáculo das nossas torpezas; agora somos obrigados a dar o do nosso arrependimento e do nosso desejo de conhecer a grande e pura verdade.
Frederico ─ Eu vos supunha menos bom do que realmente sois.
Voltaire ─ Uma potência que somos obrigados a adorar e reconhecer em toda a sua soberania, força nossa alma a proclamar, para aqueles de quem talvez abusamos, uma doutrina inteiramente oposta àquela que professávamos.
Frederico ─ É verdade, meu caro Arouet, mas não finjamos mais. Seria inútil, pois caíram todos os véus.
Voltaire ─ Deixamos tantos desastres atrás de nós que muitas lágrimas nos serão precisas a fim de obtermos o perdão e sermos absolvidos. Nunca estaríamos demasiado unidos, a fim de fazermos esquecer e reparar os males que causamos.
Frederico ─ Convenhamos também que o século que nos admirava foi muito pobre em seu julgamento e que bem pouco é preciso para fascinar os homens. Nada mais que um pouco de audácia.
Voltaire ─ Como não? Fizemos tanto barulho em nosso século! Frederico ─ Foi esse barulho que, caindo de repente num completo silêncio, nos arrojou na reflexão amarga, quase no arrependimento. Eu deploro a minha vida, mas como me aborreço de não ser mais Frederico! E tu, de não seres mais o senhor Voltaire!
Voltaire ─ Falai então por vós, majestade.
Frederico ─ Sim, eu sofro; mas não o repitas mais.
Voltaire ─ Então abdicai! Mais tarde fareis como eu.
Frederico ─ Não posso.
Voltaire ─ Me pedistes que fosse vosso guia e sê-lo-ei ainda. Tratarei somente de não vos transviar no futuro. Se puderdes ler, procurai aqui o que vos possa ser útil. Não são as altezas que vos questionam, mas Espíritos que buscam e que encontram a verdade com a ajuda de Deus.
Frederico ─ Tomai-me então pela mão; traçai-me uma linha de conduta, se puderdes... esperemos... mas será para vós... Quanto a mim estou muito perturbado, e isto já dura há um século.
Voltaire ─ Ainda me excitais o desejo de orgulhar-me de valer mais do que vós. Isso não é generoso. Tornai-vos bom e humilde, para que eu também seja humilde.
Frederico ─ Sim, mas a marca que a minha condição de majestade me deixou no coração impede-me sempre de humilhar-me como tu. Meu coração é duro como um rochedo, árido como um deserto, seco como areia.
Voltaire ─ Seríeis então um poeta? Eu não conheci esse vosso talento, Senhor!
Frederico ─ Tu finges, tu... Só uma coisa eu peço a Deus: o esquecimento do passado... uma encarnação de prova e de trabalho.
Voltaire ─ É melhor. Uno-me também a vós, mas sinto que terei de esperar muito tempo pela minha remissão e pelo meu perdão.
Frederico ─ Bem, meu amigo; então oremos juntos uma vez.
Voltaire ─ Eu o faço sempre, desde que Deus se dignou retirar-me o véu da carne.
Frederico ─ Que pensas destes homens que nos chamam aqui?
Voltaire ─ Eles podem julgar-nos e nós não podemos senão humilhar-nos perante eles.
Frederico ─ A mim eles atrapalham. Suas ideias são muito estranhas.
(Pergunta a Frederico): ─ Que pensais do Espiritismo?
─ Sois mais sábios do que nós. Não viveis um século após o nosso? Embora no céu desde então, apenas acabamos de entrar nele.
─ Agradecemos por terdes querido atender ao nosso apelo, bem como ao vosso amigo Voltaire.
─ Sois mais sábios do que nós. Não viveis um século após o nosso? Embora no céu desde então, apenas acabamos de entrar nele.
─ Agradecemos por terdes querido atender ao nosso apelo, bem como ao vosso amigo Voltaire.
Voltaire ─ Viremos quando quiserdes.
Frederico ─ Não me evoqueis muitas vezes... não sou simpático.
─ Por que não sois simpático?
─ Eu desprezo e me sinto desprezível.
─ Por que não sois simpático?
─ Eu desprezo e me sinto desprezível.
25 DE MARÇO DE 1859
1. ─ (Evocação de Voltaire).
─ Falai.
─ Falai.
2. ─ Que pensais de Frederico, agora que ele não está mais aqui?
─ Ele raciocina muito bem, mas não quis explicar-se. Como vos disse, despreza, e esse desprezo que tem por todos o impede de se abrir, temendo não ser compreendido.
─ Ele raciocina muito bem, mas não quis explicar-se. Como vos disse, despreza, e esse desprezo que tem por todos o impede de se abrir, temendo não ser compreendido.
3. ─ Então teríeis a bondade de suprir isso, dizendo-nos o que ele entende pelas
palavras “desprezo e me sinto desprezível”?
─ Sim. Ele se sente fraco e corrompido, como todos nós; talvez compreenda ainda mais do que nós, por ter abusado, mais que os outros, dos dons de Deus.
palavras “desprezo e me sinto desprezível”?
─ Sim. Ele se sente fraco e corrompido, como todos nós; talvez compreenda ainda mais do que nós, por ter abusado, mais que os outros, dos dons de Deus.
4. ─ Como o considerais como monarca?
─ Hábil.
─ Hábil.
5. ─ Vos o julgais um homem de bem?
─ Não deveríeis fazer essa pergunta. Não conheceis as suas ações?
─ Não deveríeis fazer essa pergunta. Não conheceis as suas ações?
6. ─ Poderíeis dar-nos uma ideia mais precisa do que já nos destes acerca de vossas ocupações como Espírito?
─ Não. A todo instante de minha vida descubro o bem sob um novo ponto de vista e tento praticá-lo, ou pelo menos aprender a praticá-lo. Quando se teve uma existência como foi a minha, há muitos preconceitos a combater, muitos pensamentos a repelir ou mudar completamente, antes de alcançar a verdade.
─ Não. A todo instante de minha vida descubro o bem sob um novo ponto de vista e tento praticá-lo, ou pelo menos aprender a praticá-lo. Quando se teve uma existência como foi a minha, há muitos preconceitos a combater, muitos pensamentos a repelir ou mudar completamente, antes de alcançar a verdade.
7. ─ Desejaríamos que nos fizésseis uma dissertação sobre um assunto de vossa escolha. Poderíeis fazê-lo?
─ Sobre o Cristo, sim, se o quiserdes.
─ Sobre o Cristo, sim, se o quiserdes.
8. ─ Nesta sessão?
─ Mais tarde. Esperai outra sessão.
─ Mais tarde. Esperai outra sessão.
8 DE ABRIL DE 1859
1. ─ (Evocação de Voltaire).
─ Aqui estou.
─ Aqui estou.
2. ─ Teríeis a bondade de nos fazer hoje a dissertação que prometestes?
─ Posso fazer o que prometi, no entanto, serei breve.
─ Posso fazer o que prometi, no entanto, serei breve.
Meus caros amigos! Quando eu estava entre vossos pais, tinha opiniões, e para sustentá-las e fazê-las prevalecer entre os contemporâneos, muitas vezes simulei uma convicção que realmente não possuía. Foi assim que, querendo atacar os defeitos e os vícios em que caía a religião, sustentei uma tese que hoje estou condenado a refutar.
Ataquei muitas coisas puras e santas, que a minha mão profana deveria ter respeitado. Assim, ataquei o próprio Cristo, esse modelo de virtudes sobre-humanas.
Sim, pobres homens! Nós nos assemelharemos talvez um pouco com ao nosso modelo, mas nunca teremos a dedicação e a santidade que ele demonstrou. Ele estará sempre acima de nós, porque ele foi melhor antes de nós. Ainda estávamos mergulhados no vício da corrupção, e ele já estava sentado à direita de Deus. Aqui, diante de vós, eu me retrato de tudo quanto minha pena traçou contra o Cristo, porque o amo, sim, eu o amo. Sentia não ter podido fazê-lo ainda.
Boletim - Da sociedade pariense de estudos espíritas
NOTA: Conforme anunciamos, a partir de hoje publicaremos o Boletim dos trabalhos da Sociedade. Cada número conterá o relato das sessões do mês anterior.
Esses boletins darão apenas um ligeiro resumo dos trabalhos e da ata de cada sessão.
Quanto às próprias comunicações nelas obtidas, bem como as de fonte estranha que forem lidas, sempre as publicamos integralmente, desde que ofereçam algo de útil e instrutivo. Continuaremos a fazê-lo, lembrando, como fizemos até agora, a data das sessões em que foram dadas. A abundância de matérias e a necessidade de classificação por vezes obrigam a inverter a ordem de certos documentos. Isto, porém, não tem importância, porque mais cedo ou mais tarde eles encontrarão o seu lugar.
Sexta-feira, 1o de julho de 1859 [Sessão Particular]
Assuntos administrativos – Admissão do Sr. S..., membro correspondente em Bordeaux.
Adiamento, até mais amplas informações, do ingresso de dois membros titulares apresentados nos dias 10 e 17 de junho.
Designação de três novos comissários para as sessões gerais.
Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.
Comunicações – O Sr. Allan Kardec anuncia que esteve com o Sr. W... Filho, de Boulogne-sur-Mer, citado na Revista de dezembro de 1858 a propósito de um artigo sobre o fenômeno da bicorporeidade, o qual lhe confirmou o fato de sua presença simultânea em Boulogne e em Londres.
Carta do Sr. S..., correspondente em Bordeaux, contendo detalhes minuciosos sobre interessantes manifestações e aparições de seu conhecimento pessoal, por parte de um Espírito familiar. (Carta publicada neste fascículo, bem como a evocação feita sobre o assunto.)
O Dr. Morhéry presenteia a Sociedade com duas cantatas, de cuja letra é autor, intituladas Itália e Veneziana. Embora essas duas produções sejam completamente estranhas aos trabalhos da Sociedade, ela os aceita com reconhecimento e agradece ao autor.
O Sr. Th... observa, a propósito da comunicação de Cristóvão Colombo, obtida na última sessão, que as respostas deste, relativas à sua e à missão dos Espíritos em geral, parecem consagrar a doutrina da fatalidade.
Vários membros contestaram esta conseqüência das respostas de Cristóvão Colombo, considerando-se que a missão não retira a liberdade de fazer ou deixar de fazer. O homem não é fatalmente impelido a fazer tal ou qual coisa. Pode acontecer que, como homem, se comporte mais ou menos cegamente; como Espírito, porém, tem sempre a consciência do que faz e permanece sempre senhor de suas ações. Supondo que o princípio da fatalidade decorresse das respostas de Colombo, não seria a consagração de um princípio que, em todos os tempos, tem sido combatido pelos Espíritos. Em todo caso, seria apenas uma opinião individual. Ora, a Sociedade está longe de aceitar como verdade irrefutável tudo quanto dizem os Espíritos, porque sabe que eles podem enganar-se. Um Espírito poderia dizer muito bem que é o Sol que gira em redor da Terra, e não o contrário, o que não seria mais verdadeiro pelo fato de proceder de um Espírito. Tomamos as respostas pelo que elas valem. Nosso objetivo é estudar as individualidades, seja qual for o seu grau de superioridade ou de inferioridade, e assim adquirimos o conhecimento do estado moral do mundo invisível, não emprestando nossa confiança às doutrinas dos Espíritos senão quando elas tocam a razão e o bom-senso, e quando nelas encontramos a verdadeira luz. Quando uma resposta contém erros evidentes, ou é ilógica, concluímos simplesmente que o Espírito que a deu ainda se encontra atrasado. Quanto às respostas de Colombo, de modo algum implicam a fatalidade.
Estudos – Perguntas sobre as causas do prolongamento da perturbação do Dr. Glower, evocado a dez de junho.
Perguntas sobre as causas da sensação física dolorosa produzida sobre o Sr. W... Filho, de Bolulogne, pelos Espíritos sofredores.
Perguntas sobre a teoria da formação dos objetos materiais no mundo dos Espíritos, tais como vestimentas, jóias, etc.; sobre a transformação da matéria elementar pela vontade do Espírito. Explicação do fenômeno da escrita direta (Ver nosso artigo precedente)
Evocação de um oficial superior falecido em Magenta (2a conversa); Perguntas sobre certas sensações de além-túmulo.
Propõe o Sr. S... que se evoque o Sr. M..., desaparecido há um mês, a fim de saber se está vivo ou morto. Interrogado a respeito, São Luís diz que tal evocação não pode ser feita; que a incerteza reinante sobre a sorte desse homem tem um objetivo de prova e que mais tarde se saberá, pelos meios ordinários, o que de fato aconteceu.
Assuntos administrativos – Admissão do Sr. S..., membro correspondente em Bordeaux.
Adiamento, até mais amplas informações, do ingresso de dois membros titulares apresentados nos dias 10 e 17 de junho.
Designação de três novos comissários para as sessões gerais.
Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.
Comunicações – O Sr. Allan Kardec anuncia que esteve com o Sr. W... Filho, de Boulogne-sur-Mer, citado na Revista de dezembro de 1858 a propósito de um artigo sobre o fenômeno da bicorporeidade, o qual lhe confirmou o fato de sua presença simultânea em Boulogne e em Londres.
Carta do Sr. S..., correspondente em Bordeaux, contendo detalhes minuciosos sobre interessantes manifestações e aparições de seu conhecimento pessoal, por parte de um Espírito familiar. (Carta publicada neste fascículo, bem como a evocação feita sobre o assunto.)
O Dr. Morhéry presenteia a Sociedade com duas cantatas, de cuja letra é autor, intituladas Itália e Veneziana. Embora essas duas produções sejam completamente estranhas aos trabalhos da Sociedade, ela os aceita com reconhecimento e agradece ao autor.
O Sr. Th... observa, a propósito da comunicação de Cristóvão Colombo, obtida na última sessão, que as respostas deste, relativas à sua e à missão dos Espíritos em geral, parecem consagrar a doutrina da fatalidade.
Vários membros contestaram esta conseqüência das respostas de Cristóvão Colombo, considerando-se que a missão não retira a liberdade de fazer ou deixar de fazer. O homem não é fatalmente impelido a fazer tal ou qual coisa. Pode acontecer que, como homem, se comporte mais ou menos cegamente; como Espírito, porém, tem sempre a consciência do que faz e permanece sempre senhor de suas ações. Supondo que o princípio da fatalidade decorresse das respostas de Colombo, não seria a consagração de um princípio que, em todos os tempos, tem sido combatido pelos Espíritos. Em todo caso, seria apenas uma opinião individual. Ora, a Sociedade está longe de aceitar como verdade irrefutável tudo quanto dizem os Espíritos, porque sabe que eles podem enganar-se. Um Espírito poderia dizer muito bem que é o Sol que gira em redor da Terra, e não o contrário, o que não seria mais verdadeiro pelo fato de proceder de um Espírito. Tomamos as respostas pelo que elas valem. Nosso objetivo é estudar as individualidades, seja qual for o seu grau de superioridade ou de inferioridade, e assim adquirimos o conhecimento do estado moral do mundo invisível, não emprestando nossa confiança às doutrinas dos Espíritos senão quando elas tocam a razão e o bom-senso, e quando nelas encontramos a verdadeira luz. Quando uma resposta contém erros evidentes, ou é ilógica, concluímos simplesmente que o Espírito que a deu ainda se encontra atrasado. Quanto às respostas de Colombo, de modo algum implicam a fatalidade.
Estudos – Perguntas sobre as causas do prolongamento da perturbação do Dr. Glower, evocado a dez de junho.
Perguntas sobre as causas da sensação física dolorosa produzida sobre o Sr. W... Filho, de Bolulogne, pelos Espíritos sofredores.
Perguntas sobre a teoria da formação dos objetos materiais no mundo dos Espíritos, tais como vestimentas, jóias, etc.; sobre a transformação da matéria elementar pela vontade do Espírito. Explicação do fenômeno da escrita direta (Ver nosso artigo precedente)
Evocação de um oficial superior falecido em Magenta (2a conversa); Perguntas sobre certas sensações de além-túmulo.
Propõe o Sr. S... que se evoque o Sr. M..., desaparecido há um mês, a fim de saber se está vivo ou morto. Interrogado a respeito, São Luís diz que tal evocação não pode ser feita; que a incerteza reinante sobre a sorte desse homem tem um objetivo de prova e que mais tarde se saberá, pelos meios ordinários, o que de fato aconteceu.
Sexta-feira, 8 de julho de 1859 – [Sessão geral]
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão anterior.
Comunicações – Leitura de duas comunicações espontâneas obtidas pelo Sr. R..., membro titular, sendo uma de São Luís, encerrando conselhos à Sociedade sobre o modo de apreciar as respostas dos Espíritos, e a outra de Lamennais. (Serão publicadas no próximo número.)
Leitura de uma notícia sobre o diácono Pâris e os convulsionários de Saint-Médard, preparada pelo comitê dos trabalhos para servir de objeto de estudo.
O Sr. Didier, membro titular, presta conta das curiosas experiências por ele feitas sobre a escrita direta e os notáveis resultados que obteve.
Estudos – Evocação do guia ou Espírito familiar da Sra. Mally, de Bordeaux, a propósito da notícia transmitida pelo Sr. S..., sobre os fatos de manifestação produzidos na casa dessa senhora e lidos na sessão anterior.
Evocação do Sr. K..., morto a 15 de junho de 1859 no Departamento de Sarthe. O Sr. K..., homem de bem e muito esclarecido, era versado em estudos espíritas e sua evocação, realizada a pedido de parentes e amigos, constatou a influência de tais estudos sobre o estado de desprendimento da alma após a morte. Além disso, revelou espontaneamente o importante fato das visitas espíritas noturnas entre Espíritos de pessoas vivas. Deste fato decorrem graves conseqüências para a solução de certos problemas morais e psicológicos.
Sexta-feira, 15 de julho de 1859 – [Sessão particular]
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão anterior.
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão anterior.
Comunicações – Leitura de duas comunicações espontâneas obtidas pelo Sr. R..., membro titular, sendo uma de São Luís, encerrando conselhos à Sociedade sobre o modo de apreciar as respostas dos Espíritos, e a outra de Lamennais. (Serão publicadas no próximo número.)
Leitura de uma notícia sobre o diácono Pâris e os convulsionários de Saint-Médard, preparada pelo comitê dos trabalhos para servir de objeto de estudo.
O Sr. Didier, membro titular, presta conta das curiosas experiências por ele feitas sobre a escrita direta e os notáveis resultados que obteve.
Estudos – Evocação do guia ou Espírito familiar da Sra. Mally, de Bordeaux, a propósito da notícia transmitida pelo Sr. S..., sobre os fatos de manifestação produzidos na casa dessa senhora e lidos na sessão anterior.
Evocação do Sr. K..., morto a 15 de junho de 1859 no Departamento de Sarthe. O Sr. K..., homem de bem e muito esclarecido, era versado em estudos espíritas e sua evocação, realizada a pedido de parentes e amigos, constatou a influência de tais estudos sobre o estado de desprendimento da alma após a morte. Além disso, revelou espontaneamente o importante fato das visitas espíritas noturnas entre Espíritos de pessoas vivas. Deste fato decorrem graves conseqüências para a solução de certos problemas morais e psicológicos.
Sexta-feira, 15 de julho de 1859 – [Sessão particular]
Leitura da ata e dos trabalhos da sessão anterior.
Assuntos administrativos – A pedido de vários membros,
e considerando que muitas pessoas estão ausentes nesta
temporada, propõe o Presidente que, de acordo com o uso
estabelecido em todas as Sociedades, seja fixado um período de
férias.
A Sociedade decide que suspenderá suas sessões du- rante o mês de agosto e que as retomará sexta-feira, 2 de setembro.
O Sr. C..., secretário-adjunto, escreve para pedir a sua substituição, motivada por novas ocupações que não lhe permitem assistir regularmente ao começo das sessões. Sua substituição será providenciada mais tarde.
Comunicações – Leitura de uma carta do Sr. Jobard, de Bruxelas, presidente honorário da Sociedade, dando conta de vários fatos relativos ao Espiritismo e oferecendo à Sociedade uma canção, intitulada O Canto do Zuavo, que lhe foi inspirada pela evocação do Zuavo de Magenta, referido na Revista do mês de julho; ela já foi cantada num teatro de Bruxelas. O fim dessa canção, na qual sobressai a verve espiritual do autor, é mostrar que as idéias espíritas têm por objetivo destruir as apreensões da morte.
O Sr. D... relata novos fatos de escrita direta, por ele obtidos no Louvre e na igreja de Saint-Germain l’Auxerrois.
Leitura de uma carta endereçada ao sr. presidente, a propósito do temporal de Solferino. O autor assinala vários outros fatos análogos e indaga se não haveria algo de providencial nessa coincidência. Essa questão já foi respondida na segunda conversa com o oficial morto em Magenta; será, aliás, objeto de exame mais aprofundado.
Carta da Sra. L..., relatando uma mistificação de que foi vítima, por parte de um Espírito malévolo, que dizia ser São Vicente de Paulo e que a enganou através de uma linguagem aparentemente edificante e por detalhes minuciosos que revelou a respeito de sua família, para, em seguida, induzi-la a enveredar por caminhos comprometedores. Reconhece a Sociedade, por intermédio da própria carta, que tal Espírito havia revelado sua natureza por certos fatos que não dariam margem a qualquer equívoco.
Estudos – Problemas morais e questões diversas: Sobre o mérito das boas ações, tendo em vista a vida futura; sobre as missões espíritas; sobre a influência do medo ou do desejo de morrer; sobre os médiuns intuitivos.
Perguntas sobre as visitas espíritas entre pessoas vivas.
Evocação do diácono Pâris.
Evocação do falso São Vicente de Paulo, Espírito mistificador da Sra. L...
Sexta-feira, 22 de julho de 1859 – [Sessão geral]
Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.
Comunicações – Leitura de uma comunicação particular do Sr. R..., membro titular, sobre a teoria da loucura, dos sonhos, das alucinações e do sonambulismo, pelos Espíritos de François Arago e São Vicente de Paulo. Essa teoria é um desenvolvimento racional e científico dos princípios já emitidos sobre esta matéria. (Será publicada no próximo número.)
O Sr. R... comunica um fato recente de aparição. No dia 16 de julho, sábado, dia do enterro do Sr. Furne, este apareceu durante a noite à esposa do primeiro com o aspecto que tinha em vida, procurando aproximar-se dela enquanto outro Espírito, cujo semblante não pôde distinguir, o segurava pelo braço e procurava afastá-lo. Sensibilizada por essa aparição, tratou de cobrir os olhos sem que, todavia, deixasse de vê-lo como antes. No dia seguinte essa senhora, que, como o marido, é médium escrevente, pôs-se a traçar convulsivamente caracteres irregulares que pareciam formar o nome de Furne. Interrogado sobre o fato, outro Espírito respondeu que, realmente, o Sr. Furne queria comunicar-se com eles, mas em razão do estado de perturbação em que ainda se achava, mal se reconhecendo, acrescentou ser necessário esperar cerca de oito dias para ser evocado, a fim de que pudesse manifestar-se livremente.
O Dr. V... faz referência a um fato de previsão espírita, realizado em sua presença, e tanto mais notável quando sabemos que a previsão de datas é muito rara por parte dos Espíritos. Há seis semanas aproximadamente, uma senhora de seu conhecimento, excelente médium de psicografia, recebeu uma comunicação do Espírito de seu pai; de repente e sem provocação, este último pôs- se a falar espontaneamente da guerra da Itália. A propósito, perguntaram-lhe se ela acabaria logo. Ele respondeu: “No dia 11 de julho a paz será assinada .” Sem ligar maior importância a essa previsão, o Dr. V... guardou a resposta num envelope lacrado e o remeteu a uma terceira pessoa, com a recomendação de somente abri-lo após o dia 11 de julho. Sabe-se que o acontecimento se realizou como fora anunciado.
É interessante notar que os Espíritos, quando falam de coisas futuras, o fazem espontaneamente, sem dúvida porque julgam de utilidade fazê-lo. Entretanto, jamais o fazem quando a isso são impelidos por um motivo de curiosidade.
Estudos – Problemas morais e questões diversas. Perguntas complementares sobre o mérito das boas ações; sobre as visitas espíritas; sobre a escrita direta.
Questões sobre a intervenção dos Espíritos nos fenômenos da Natureza, como tempestades, e sobre as atribuições de certos Espíritos.
A Sociedade decide que suspenderá suas sessões du- rante o mês de agosto e que as retomará sexta-feira, 2 de setembro.
O Sr. C..., secretário-adjunto, escreve para pedir a sua substituição, motivada por novas ocupações que não lhe permitem assistir regularmente ao começo das sessões. Sua substituição será providenciada mais tarde.
Comunicações – Leitura de uma carta do Sr. Jobard, de Bruxelas, presidente honorário da Sociedade, dando conta de vários fatos relativos ao Espiritismo e oferecendo à Sociedade uma canção, intitulada O Canto do Zuavo, que lhe foi inspirada pela evocação do Zuavo de Magenta, referido na Revista do mês de julho; ela já foi cantada num teatro de Bruxelas. O fim dessa canção, na qual sobressai a verve espiritual do autor, é mostrar que as idéias espíritas têm por objetivo destruir as apreensões da morte.
O Sr. D... relata novos fatos de escrita direta, por ele obtidos no Louvre e na igreja de Saint-Germain l’Auxerrois.
Leitura de uma carta endereçada ao sr. presidente, a propósito do temporal de Solferino. O autor assinala vários outros fatos análogos e indaga se não haveria algo de providencial nessa coincidência. Essa questão já foi respondida na segunda conversa com o oficial morto em Magenta; será, aliás, objeto de exame mais aprofundado.
Carta da Sra. L..., relatando uma mistificação de que foi vítima, por parte de um Espírito malévolo, que dizia ser São Vicente de Paulo e que a enganou através de uma linguagem aparentemente edificante e por detalhes minuciosos que revelou a respeito de sua família, para, em seguida, induzi-la a enveredar por caminhos comprometedores. Reconhece a Sociedade, por intermédio da própria carta, que tal Espírito havia revelado sua natureza por certos fatos que não dariam margem a qualquer equívoco.
Estudos – Problemas morais e questões diversas: Sobre o mérito das boas ações, tendo em vista a vida futura; sobre as missões espíritas; sobre a influência do medo ou do desejo de morrer; sobre os médiuns intuitivos.
Perguntas sobre as visitas espíritas entre pessoas vivas.
Evocação do diácono Pâris.
Evocação do falso São Vicente de Paulo, Espírito mistificador da Sra. L...
Sexta-feira, 22 de julho de 1859 – [Sessão geral]
Leitura da ata e dos trabalhos da última sessão.
Comunicações – Leitura de uma comunicação particular do Sr. R..., membro titular, sobre a teoria da loucura, dos sonhos, das alucinações e do sonambulismo, pelos Espíritos de François Arago e São Vicente de Paulo. Essa teoria é um desenvolvimento racional e científico dos princípios já emitidos sobre esta matéria. (Será publicada no próximo número.)
O Sr. R... comunica um fato recente de aparição. No dia 16 de julho, sábado, dia do enterro do Sr. Furne, este apareceu durante a noite à esposa do primeiro com o aspecto que tinha em vida, procurando aproximar-se dela enquanto outro Espírito, cujo semblante não pôde distinguir, o segurava pelo braço e procurava afastá-lo. Sensibilizada por essa aparição, tratou de cobrir os olhos sem que, todavia, deixasse de vê-lo como antes. No dia seguinte essa senhora, que, como o marido, é médium escrevente, pôs-se a traçar convulsivamente caracteres irregulares que pareciam formar o nome de Furne. Interrogado sobre o fato, outro Espírito respondeu que, realmente, o Sr. Furne queria comunicar-se com eles, mas em razão do estado de perturbação em que ainda se achava, mal se reconhecendo, acrescentou ser necessário esperar cerca de oito dias para ser evocado, a fim de que pudesse manifestar-se livremente.
O Dr. V... faz referência a um fato de previsão espírita, realizado em sua presença, e tanto mais notável quando sabemos que a previsão de datas é muito rara por parte dos Espíritos. Há seis semanas aproximadamente, uma senhora de seu conhecimento, excelente médium de psicografia, recebeu uma comunicação do Espírito de seu pai; de repente e sem provocação, este último pôs- se a falar espontaneamente da guerra da Itália. A propósito, perguntaram-lhe se ela acabaria logo. Ele respondeu: “No dia 11 de julho a paz será assinada .” Sem ligar maior importância a essa previsão, o Dr. V... guardou a resposta num envelope lacrado e o remeteu a uma terceira pessoa, com a recomendação de somente abri-lo após o dia 11 de julho. Sabe-se que o acontecimento se realizou como fora anunciado.
É interessante notar que os Espíritos, quando falam de coisas futuras, o fazem espontaneamente, sem dúvida porque julgam de utilidade fazê-lo. Entretanto, jamais o fazem quando a isso são impelidos por um motivo de curiosidade.
Estudos – Problemas morais e questões diversas. Perguntas complementares sobre o mérito das boas ações; sobre as visitas espíritas; sobre a escrita direta.
Questões sobre a intervenção dos Espíritos nos fenômenos da Natureza, como tempestades, e sobre as atribuições de certos Espíritos.
Perguntas complementares sobre o diácono Pâris e os
convulsionários de Saint-Médard. Evocação do general Hoche.
Ao Sr. L. de Limoges
Pedimos à pessoa que teve o trabalho de nos escrever de Limoges, indicando interessantes documentos relativos ao Espiritismo, a fineza de facilitar nosso contato direto com ela, a fim de podermos responder às perguntas que nos deu a honra de dirigir. A falta de espaço nos impede a publicação de algumas passagens de sua carta.
ALLAN KARDEC