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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861 > Maio
Maio
Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas — Discurso do Sr. Allan KardecSenhores e caros colegas,
No momento em que nossa Sociedade inicia seu quarto ano, creio que devemos um agradecimento especial aos bons Espíritos que se dignaram assistir-nos e, em particular, ao nosso Presidente espiritual, cujos sábios conselhos nos preservaram de vários perigos e cuja proteção permitiu superarmos as dificuldades semeadas em nosso caminho, sem dúvida para submeter à prova a nossa dedicação e a nossa perspicácia. Sua benevolência — devemos reconhecê-lo — jamais nos faltou e, graças ao bom espírito de que agora a Sociedade está animada, triunfou sobre a má vontade de seus inimigos. Permiti-me, a propósito, algumas observações retrospectivas.
A experiência havia-nos demonstrado lacunas lamentáveis na constituição da Sociedade, lacunas essas que abriam a porta a certos abusos. A Sociedade superou-as, e desde então só teve que se felicitar. Realiza ela o ideal da perfeição? Não seríamos espíritas se tivéssemos o orgulho de acreditar nisso. Mas, quando a base é boa e o resto só depende da vontade, é preciso esperar que, com o auxílio dos bons Espíritos, não paremos no caminho.
Entre as mais úteis reformas deve-se colocar em primeiro lugar a instituição dos sócios livres, que dá mais fácil acesso aos candidatos, permitindo que sejam conhecidos a avaliados antes de sua admissão efetiva como membros titulares. Participando dos trabalhos e dos estudos da Sociedade, aproveitam tudo quanto nela se faz, mas como não têm voz na parte administrativa, não podem, em caso algum, comprometer a responsabilidade da Sociedade. Vem a seguir a medida que objetivou restringir o número dos ouvintes e cercar de maiores dificuldades, por uma escolha mais severa, a sua admissão às sessões; depois, a que interdita a leitura de qualquer comunicação recebida fora da Sociedade, antes de seu conhecimento prévio e que a leitura tenha sido autorizada; enfim, as que armam a Sociedade contra quem quer que lhe pudesse trazer perturbação ou tentasse impor-lhe a sua vontade.
Há outras ainda que seria supérfluo lembrar, cuja utilidade não é menor e cujos resultados felizes podemos apreciar diariamente. Mas, se tal estado de coisas é compreendido no seio da Sociedade, o mesmo não se dá fora, onde — desnecessário é dissimular — não temos somente amigos. Criticam-nos em vários pontos e, embora não tenhamos que nos preocupar com isso, pois que a ordem da Sociedade só a nós interessa, talvez não seja inútil lançar um golpe de vista sobre os pontos que nos censuram porque, em definitivo, se essas censuras forem fundadas, deveríamos aproveitá-las.
Certas pessoas criticam a severa restrição à admissão dos ouvintes. Dizem que se quisermos fazer prosélitos é preciso esclarecer o público e, para tanto, abrir-lhe as portas de nossas sessões e autorizar quaisquer perguntas e interpelações; que se não admitirmos senão pessoas crentes, não teremos grande mérito em convencê-las. Tal raciocínio é especioso e se, abrindo nossas portas a qualquer um, fosse alcançado o resultado suposto, certamente erraríamos se não o fizéssemos. Mas como o contrário é o que aconteceria, não o fazemos.
Aliás, seria muito desagradável que a propagação da doutrina se subordinasse à publicidade de nossas sessões. Por mais numeroso que fosse o auditório, seria sempre muito restrito, imperceptível, comparado à massa da população. Por outro lado, sabemos, por experiência, que a verdadeira convicção só se adquire pelo estudo, pela reflexão e por uma observação contínua, e não assistindo a uma ou duas sessões, por mais interessantes que sejam. E isto é tão verdadeiro que o número dos que creem sem nada ter visto, mas porque estudaram e compreenderam, é imenso. Sem dúvida o desejo de ver é muito natural e estamos longe de censurá-lo, mas queremos que vejam em condições aproveitáveis. Eis por que dizemos: Estudai primeiro e vede depois, porque compreendereis melhor.
Se os incrédulos refletissem melhor sobre esta condição, para começar veriam nela a melhor garantia de nossa boa-fé e, a seguir, a força da doutrina. O que mais o charlatanismo teme é ser compreendido; ele fascina os olhos e não é tão tolo para se dirigir à inteligência, que facilmente descobriria a carta escondida. Ao contrário, o Espiritismo não admite a confiança cega; quer ser claro em tudo; quer que compreendam tudo e que se deem conta de tudo. Então, quando recomendamos estudo e meditação, pedimos o concurso do raciocínio, o que prova que a Ciência Espírita não teme o exame, desde que antes de crer sentimos a necessidade de compreender.
Não sendo de demonstração as nossas sessões, sua publicidade não atingiria o objetivo e teria graves inconvenientes. Com um público não selecionado, trazendo mais curiosidade que verdadeiro desejo de instruir-se e, ainda mais, vontade de criticar e troçar, seria impossível ter o indispensável recolhimento para toda manifestação séria. Uma controvérsia mais ou menos malévola e baseada, na maior parte do tempo, na ignorância dos mais elementares princípios da Ciência, determinaria eternos conflitos, nos quais a dignidade poderia ser comprometida. Ora, o que nós queremos é que, ao saírem de nossa casa, se os ouvintes não levarem convicção, que levem da Sociedade a ideia de uma reunião grave, séria, que se respeita e sabe fazer-se respeitar; que discute com calma e moderação; que examina com cuidado; que aprofunda tudo com o olhar do observador consciencioso que procura esclarecer-se, e não com a leviandade do simples curioso. E, senhores, crede-o bem, esta opinião faz mais pela propaganda do que se saíssem com o único pensamento de haverem satisfeito sua curiosidade, porque a impressão dela resultante os leva a refletir, ao passo que, no caso contrário, estariam mais dispostos a rir do que a crer.
Eu disse que as nossas não são sessões de demonstração, mas se as fizéssemos desse gênero, para uso dos neófitos, onde se trataria de instruir e convencer, tudo nela se passaria com tanta seriedade e recolhimento quanto nas nossas sessões ordinárias. A controvérsia estabelecer-se-ia com ordem, de maneira a ser instrutiva e não tumultuada, e quem quer que se permitisse uma palavra fora de propósito seria excluído; então a atenção seria mantida e a própria discussão seria a todos proveitosa. É provavelmente o que faremos um dia. Perguntarão por que não o fizemos mais cedo, no interesse de divulgação da Ciência. A razão é simples: é que quisemos proceder com prudência e não como estouvados, mais impacientes que refletidos. Antes de instruir os outros, quisemos nós próprios nos instruirmos. Queremos apoiar o nosso ensino sobre uma imponente massa de fatos e observações, e não sobre algumas experiências isoladas, observadas leviana e superficialmente. No começo, toda Ciência encontra forçosamente fatos que, a princípio, parecem contraditórios e que só um estudo minucioso e completo pode demonstrar-lhes a conexão. Foi a lei comum desses fatos que quisemos buscar, a fim de apresentar um conjunto tão completo e satisfatório quanto possível e deixando um mínimo de margem à contradição. Com este objetivo recolhemos os fatos, examinamo-los, escrutamo-los no que eles têm de mais íntimo, comentamo-los e discutimo-los friamente, sem entusiasmo. Foi assim que chegamos a descobrir o admirável encadeamento existente em todas as partes dessa vasta Ciência que toca os mais graves interesses da humanidade. Tal foi, senhores, até o presente, o objetivo dos nossos trabalhos, objetivo perfeitamente caracterizado pelo simples título de Sociedade de Estudos Espíritas, que adotamos. Reunimo-nos com o fito de nos esclarecermos, e não de nos distrairmos. Não buscando uma diversão, não queremos divertir aos outros, por isso não queremos senão ter ouvintes sérios, ao invés de curiosos, que julgassem aqui encontrar um espetáculo.
O Espiritismo é uma Ciência e, como qualquer outra Ciência, não se aprende brincando. Além do mais, tomar as almas que se foram como assunto para distração seria faltar ao respeito a que fazem jus; especular sobre sua presença e sua intervenção seria impiedade e profanação.
Estas reflexões respondem à censura que algumas pessoas nos dirigiram, por voltarmos a fatos conhecidos e não procurarmos constantemente novidades. No ponto em que estamos, é difícil que, à medida que avançamos, os fatos que se produzem não girem mais ou menos no mesmo círculo; mas esquecem que fatos tão importantes quanto os que tocam o futuro do homem não podem chegar ao estado de verdade absoluta senão após grande número de observações. Seria leviandade formular uma lei baseada em alguns exemplos. O homem sério e prudente é mais circunspecto; não somente quer ver tudo, mas ver muito e muitas vezes. Eis por que não recuamos ante a monotonia das repetições, pois delas resultam confirmações e, por vezes, nuanças instrutivas, e porque se nelas descobrimos fatos contraditórios, rebuscamos as suas causas. Não temos pressa de nos pronunciarmos sobre os primeiros dados, necessariamente incompletos. Antes de colher, esperamos a maturação. Se temos avançado menos do que alguns desejariam na sua impaciência, marchamos com mais segurança, sem nos perdermos no labirinto dos sistemas. Talvez saibamos menos coisas, mas sabemos melhor, o que é preferível, e podemos afirmar o que sabemos sobre o testemunho da experiência.
Aliás, senhores, não penseis que a opinião dos que criticam a organização da Sociedade seja a dos verdadeiros amigos do Espiritismo; não, é a dos seus inimigos, que estão magoados por ver a Sociedade seguir seu caminho com calma e dignidade, através das ciladas que lhe prepararam e ainda preparam. Eles lamentam que ingressar nela seja difícil, porque ficariam encantados de aqui virem semear a perturbação. É por isso também que a censuram de limitar o círculo de seus trabalhos, e pretendem que só se ocupa de coisas insignificantes e sem alcance, porque ela se abstém de tratar de questões políticas e religiosas. Eles queriam vê-la entrar na controvérsia dogmática. Ora, é isso precisamente o que os denuncia. Prudentemente a Sociedade fechou-se num círculo inatacável pela malevolência. Ferindo o seu amor-próprio, queriam arrastá-la por um caminho perigoso, mas ela não se deixará levar. Ocupando-se exclusivamente das questões de interesse científico, e que não podem prejudicar ninguém, ela se pôs ao abrigo dos ataques, e assim deve ficar. Por sua prudência, moderação e sabedoria, conciliou a estima dos verdadeiros espíritas, e sua influência se estende até países distantes, de onde aspiram à honra de fazer parte dela. Ora, essa homenagem que lhe é prestada por pessoas que só a conhecem pelo nome, por seus trabalhos e pela consideração que ela conquistou, é-lhe cem vezes mais preciosa que o sufrágio dos imprudentes muito apressados, ou dos malévolos que queriam arrastá-la à sua perda e ficariam encantados por vê-la comprometida. Enquanto eu tiver a honra de dirigi-la, todos os meus esforços tenderão a mantê-la nesta via. Se devesse extraviar-se, eu a deixaria na mesma hora, porque a preço algum desejaria assumir essa responsabilidade.
Aliás, senhores, sabeis das vicissitudes que a Sociedade atravessou. Tudo quanto aconteceu antes e depois foi anunciado, e tudo se realizou como fora previsto. Seus inimigos queriam a sua ruína; os Espíritos, que a sabiam útil, queriam a sua conservação, e ela se manteve e manter-se-á enquanto for necessária aos seus objetivos. Se tivésseis observado, como pude fazê-lo, as coisas nos seus detalhes íntimos, não desconheceríeis a intervenção de um poder superior, que para mim é manifesto, e compreenderíeis que tudo foi para o melhor e no interesse de sua própria conservação. Tempo virá em que, tal qual o é atualmente, ela não será mais indispensável. Então veremos o que se há de fazer, porque a marcha está traçada em vista de todas as eventualidades.
Os mais perigosos inimigos da Sociedade não são os de fora, pois podemos fechar-lhes as portas e os ouvidos. Os mais temíveis são os inimigos invisíveis, que aqui poderiam introduzir-se malgrado nosso. Cabe-nos provar-lhes, como já o temos feito, que perderiam seu tempo se tentassem impor-se a nós. Sabemos que a sua tática é procurar semear a desunião, lançar o facho da discórdia, inspirar a inveja, a desconfiança e as suscetibilidades pueris que geram a desafeição. Oponhamo-lhes a barreira da caridade, da mútua benevolência, e seremos invulneráveis, tanto contra sua maligna influência oculta quanto contra as diatribes dos nossos adversários encarnados, que mais se ocupam de nós do que nós deles, pois sem jactância podemos atribuir a nós próprios o mérito de jamais termos aqui pronunciado o seu nome, já por uma questão de decoro, já porque temos de nos ocupar de coisas mais úteis. Não obrigamos ninguém a vir a nós. Acolhemos com prazer e dedicação as pessoas sinceras e de boa vontade, seriamente desejosas de esclarecimento, e estas são suficientes para não perdermos tempo correndo atrás dos que nos voltam as costas por motivos fúteis, de amor-próprio ou de inveja. Estes não podem ser considerados como verdadeiros espíritas, malgrado as aparências; são talvez espíritas crentes nos fatos, mas, sem a menor dúvida, não são espíritas crentes nas consequências morais dos fatos, pois, do contrário, mostrariam mais abnegação, indulgência, moderação e menos presunção de infalibilidade. Procurá-los seria mesmo prestar-lhes um desserviço, porque seria induzi-los a acreditarem na sua importância e que deles não poderíamos prescindir. Com os que nos denigrem, também não nos devemos preocupar. Homens que valiam cem vezes mais do que nós foram denegridos e ridicularizados. Neste particular não poderíamos ser privilegiados; cabe-nos provar por nossos atos que as suas diatribes caem no vazio e as armas de que se servem voltar-se-ão contra eles.
Depois de ter, no começo, agradecido aos Espíritos que nos assistem, não devemos esquecer os seus intérpretes, alguns dos quais nos dão o seu concurso com um zelo e uma complacência jamais desmentidos. Em troca, não lhes podemos oferecer mais que um estéril testemunho de nossa satisfação. Mas o mundo dos Espíritos os espera e lá todos os devotamentos são compensados na medida do desinteresse, da humildade e da abnegação.
Em resumo, senhores, durante o ano que passou nossos trabalhos marcharam com perfeita regularidade e nada os interrompeu. Uma porção de fatos do mais alto interesse foram relatados, explicados e comentados; questões muito importantes foram resolvidas; todos os exemplos que passaram sob nossos olhos pelas evocações, todas as investigações a que nos dedicamos vieram confirmar os princípios da Ciência e fortalecer as nossas crenças; numerosas comunicações de incontestável superioridade foram obtidas por diversos médiuns; a província e o estrangeiro nos remeteram algumas excessivamente admiráveis, e que provam não só quanto o Espiritismo se espalha, mas, também, sob que ponto de vista grave e sério é agora encarado por toda parte. Sem dúvida este é um resultado pelo qual nos devemos sentir felizes, mas há outro não menos satisfatório e que é, aliás, uma consequência do que, desde a origem, havia sido predito: é a unidade que se estabelece na teoria da doutrina, à medida que a estudamos e melhor a compreendemos. Em todas as comunicações que nos chegam de fora encontramos a confirmação dos princípios que nos são ensinados pelos Espíritos, e como as pessoas que as recebem nos são, na maioria, desconhecidas, não se pode dizer que sofrem a nossa influência.
O próprio princípio da reencarnação que de início tinha encontrado muitos contraditores, porque não era compreendido, é hoje aceito pela força da evidência e porque todo homem que pensa reconhece nele a única solução possível do maior número de problemas da filosofia moral e religiosa. Sem a reencarnação, somos detidos a cada passo. Tudo é caos e confusão. Com a reencarnação tudo se esclarece, tudo se explica da mais racional maneira. Se ela ainda encontra alguns adversários mais sistemáticos que lógicos, seu número é muito restrito. Ora, quem a inventou? Sem a menor dúvida não fostes vós, nem eu. Ela nos foi ensinada, e nós a aceitamos. Eis tudo o que fizemos. De todos os sistemas que surgiram no princípio, poucos hoje sobrevivem, e pode-se dizer que os seus raros partidários estão, sobretudo, entre pessoas que julgam ao primeiro impulso e muitas vezes conforme ideias preconcebidas e prevenções. Mas agora é evidente que quem quer que se dê ao trabalho de aprofundar todas as questões e julgue friamente, sem prevenção e sobretudo sem hostilidade sistemática, é invencivelmente arrastado, tanto pelo raciocínio quanto pelos fatos, à teoria fundamental que hoje prevalece, pode-se dizer, em todos os países do mundo.
Certamente, senhores, a Sociedade não fez tudo para a obtenção deste resultado. Mas, sem vaidade, creio que ela pode reivindicar uma pequena parte. Sua influência moral é maior do que se pensa, e isto precisamente porque jamais ela se desviou da linha de moderação que se traçou. Sabe-se que ela se ocupa exclusivamente de seus estudos, sem se deixar desviar pelas paixões mesquinhas que se agitam ao seu redor; que o faz seriamente, como deve fazer toda assembleia científica; que ela persegue o seu objetivo sem se misturar com nenhuma intriga, sem atirar pedras em ninguém, sem mesmo recolher as que lhe atiram. Sem a menor sombra de dúvida, esta é a principal causa do crédito e da consideração que desfruta e dos quais pode sentir-se orgulhosa, e que dá certo peso à sua opinião. Por nossos esforços, senhores, por nossa prudência e pelo exemplo da união que deve existir entre os verdadeiros espíritas, continuemos a mostrar que os princípios que professamos não são para nós letra morta e que tanto pregamos pelo exemplo quanto pela teoria. Se nossas doutrinas encontram tanto eco, é que aparentemente julgam-nas mais racionais que as outras. Duvido que acontecesse o mesmo se tivéssemos professado a doutrina da intervenção exclusiva do diabo e dos demônios nas manifestações espíritas, doutrina hoje completamente ridícula, que excita mais curiosidade do que pavor, a não ser sobre algumas pessoas timoratas que, em breve, elas mesmas reconhecerão a sua futilidade.
Tal qual é hoje professada, a Doutrina Espírita tem uma amplitude que lhe permite abarcar todas as questões de ordem moral. Ela satisfaz a todas as aspirações, e, pode-se dizer, ao mais exigente raciocínio, para quem quer que se dê ao trabalho de estudá-la e não esteja dominado pelos preconceitos. Ela não tem as mesquinhas restrições de certas filosofias; alarga ao infinito o círculo das ideias e ninguém é capaz de elevar mais alto o pensamento e tirar o homem da estreita esfera do egoísmo, na qual tentaram confiná-lo. Enfim, ela se apoia nos imutáveis princípios fundamentais da religião, dos quais é a demonstração patente. Eis, sem dúvida nenhuma, o que lhe conquista tão numerosos partidários entre as pessoas esclarecidas de todos os países, e o que a fará prevalecer, em tempo mais ou menos próximo, e isto malgrado os seus adversários, motivados, em sua maioria, mais pelo interesse do que pela convicção. Sua marcha progressiva tão rápida, desde que entrou na via filosófica séria, é-nos garantia segura do futuro que lhe é reservado e que, como sabeis, está anunciado em todo o mundo. Deixemos, pois, falarem e agirem os seus inimigos. Eles nada podem contra a vontade de Deus, porque nada acontece sem sua permissão e, como dizia há pouco um eclesiástico esclarecido: “Se essas coisas acontecem, é que Deus o permite, para avivar a fé que se extingue nas trevas do materialismo.”
A experiência havia-nos demonstrado lacunas lamentáveis na constituição da Sociedade, lacunas essas que abriam a porta a certos abusos. A Sociedade superou-as, e desde então só teve que se felicitar. Realiza ela o ideal da perfeição? Não seríamos espíritas se tivéssemos o orgulho de acreditar nisso. Mas, quando a base é boa e o resto só depende da vontade, é preciso esperar que, com o auxílio dos bons Espíritos, não paremos no caminho.
Entre as mais úteis reformas deve-se colocar em primeiro lugar a instituição dos sócios livres, que dá mais fácil acesso aos candidatos, permitindo que sejam conhecidos a avaliados antes de sua admissão efetiva como membros titulares. Participando dos trabalhos e dos estudos da Sociedade, aproveitam tudo quanto nela se faz, mas como não têm voz na parte administrativa, não podem, em caso algum, comprometer a responsabilidade da Sociedade. Vem a seguir a medida que objetivou restringir o número dos ouvintes e cercar de maiores dificuldades, por uma escolha mais severa, a sua admissão às sessões; depois, a que interdita a leitura de qualquer comunicação recebida fora da Sociedade, antes de seu conhecimento prévio e que a leitura tenha sido autorizada; enfim, as que armam a Sociedade contra quem quer que lhe pudesse trazer perturbação ou tentasse impor-lhe a sua vontade.
Há outras ainda que seria supérfluo lembrar, cuja utilidade não é menor e cujos resultados felizes podemos apreciar diariamente. Mas, se tal estado de coisas é compreendido no seio da Sociedade, o mesmo não se dá fora, onde — desnecessário é dissimular — não temos somente amigos. Criticam-nos em vários pontos e, embora não tenhamos que nos preocupar com isso, pois que a ordem da Sociedade só a nós interessa, talvez não seja inútil lançar um golpe de vista sobre os pontos que nos censuram porque, em definitivo, se essas censuras forem fundadas, deveríamos aproveitá-las.
Certas pessoas criticam a severa restrição à admissão dos ouvintes. Dizem que se quisermos fazer prosélitos é preciso esclarecer o público e, para tanto, abrir-lhe as portas de nossas sessões e autorizar quaisquer perguntas e interpelações; que se não admitirmos senão pessoas crentes, não teremos grande mérito em convencê-las. Tal raciocínio é especioso e se, abrindo nossas portas a qualquer um, fosse alcançado o resultado suposto, certamente erraríamos se não o fizéssemos. Mas como o contrário é o que aconteceria, não o fazemos.
Aliás, seria muito desagradável que a propagação da doutrina se subordinasse à publicidade de nossas sessões. Por mais numeroso que fosse o auditório, seria sempre muito restrito, imperceptível, comparado à massa da população. Por outro lado, sabemos, por experiência, que a verdadeira convicção só se adquire pelo estudo, pela reflexão e por uma observação contínua, e não assistindo a uma ou duas sessões, por mais interessantes que sejam. E isto é tão verdadeiro que o número dos que creem sem nada ter visto, mas porque estudaram e compreenderam, é imenso. Sem dúvida o desejo de ver é muito natural e estamos longe de censurá-lo, mas queremos que vejam em condições aproveitáveis. Eis por que dizemos: Estudai primeiro e vede depois, porque compreendereis melhor.
Se os incrédulos refletissem melhor sobre esta condição, para começar veriam nela a melhor garantia de nossa boa-fé e, a seguir, a força da doutrina. O que mais o charlatanismo teme é ser compreendido; ele fascina os olhos e não é tão tolo para se dirigir à inteligência, que facilmente descobriria a carta escondida. Ao contrário, o Espiritismo não admite a confiança cega; quer ser claro em tudo; quer que compreendam tudo e que se deem conta de tudo. Então, quando recomendamos estudo e meditação, pedimos o concurso do raciocínio, o que prova que a Ciência Espírita não teme o exame, desde que antes de crer sentimos a necessidade de compreender.
Não sendo de demonstração as nossas sessões, sua publicidade não atingiria o objetivo e teria graves inconvenientes. Com um público não selecionado, trazendo mais curiosidade que verdadeiro desejo de instruir-se e, ainda mais, vontade de criticar e troçar, seria impossível ter o indispensável recolhimento para toda manifestação séria. Uma controvérsia mais ou menos malévola e baseada, na maior parte do tempo, na ignorância dos mais elementares princípios da Ciência, determinaria eternos conflitos, nos quais a dignidade poderia ser comprometida. Ora, o que nós queremos é que, ao saírem de nossa casa, se os ouvintes não levarem convicção, que levem da Sociedade a ideia de uma reunião grave, séria, que se respeita e sabe fazer-se respeitar; que discute com calma e moderação; que examina com cuidado; que aprofunda tudo com o olhar do observador consciencioso que procura esclarecer-se, e não com a leviandade do simples curioso. E, senhores, crede-o bem, esta opinião faz mais pela propaganda do que se saíssem com o único pensamento de haverem satisfeito sua curiosidade, porque a impressão dela resultante os leva a refletir, ao passo que, no caso contrário, estariam mais dispostos a rir do que a crer.
Eu disse que as nossas não são sessões de demonstração, mas se as fizéssemos desse gênero, para uso dos neófitos, onde se trataria de instruir e convencer, tudo nela se passaria com tanta seriedade e recolhimento quanto nas nossas sessões ordinárias. A controvérsia estabelecer-se-ia com ordem, de maneira a ser instrutiva e não tumultuada, e quem quer que se permitisse uma palavra fora de propósito seria excluído; então a atenção seria mantida e a própria discussão seria a todos proveitosa. É provavelmente o que faremos um dia. Perguntarão por que não o fizemos mais cedo, no interesse de divulgação da Ciência. A razão é simples: é que quisemos proceder com prudência e não como estouvados, mais impacientes que refletidos. Antes de instruir os outros, quisemos nós próprios nos instruirmos. Queremos apoiar o nosso ensino sobre uma imponente massa de fatos e observações, e não sobre algumas experiências isoladas, observadas leviana e superficialmente. No começo, toda Ciência encontra forçosamente fatos que, a princípio, parecem contraditórios e que só um estudo minucioso e completo pode demonstrar-lhes a conexão. Foi a lei comum desses fatos que quisemos buscar, a fim de apresentar um conjunto tão completo e satisfatório quanto possível e deixando um mínimo de margem à contradição. Com este objetivo recolhemos os fatos, examinamo-los, escrutamo-los no que eles têm de mais íntimo, comentamo-los e discutimo-los friamente, sem entusiasmo. Foi assim que chegamos a descobrir o admirável encadeamento existente em todas as partes dessa vasta Ciência que toca os mais graves interesses da humanidade. Tal foi, senhores, até o presente, o objetivo dos nossos trabalhos, objetivo perfeitamente caracterizado pelo simples título de Sociedade de Estudos Espíritas, que adotamos. Reunimo-nos com o fito de nos esclarecermos, e não de nos distrairmos. Não buscando uma diversão, não queremos divertir aos outros, por isso não queremos senão ter ouvintes sérios, ao invés de curiosos, que julgassem aqui encontrar um espetáculo.
O Espiritismo é uma Ciência e, como qualquer outra Ciência, não se aprende brincando. Além do mais, tomar as almas que se foram como assunto para distração seria faltar ao respeito a que fazem jus; especular sobre sua presença e sua intervenção seria impiedade e profanação.
Estas reflexões respondem à censura que algumas pessoas nos dirigiram, por voltarmos a fatos conhecidos e não procurarmos constantemente novidades. No ponto em que estamos, é difícil que, à medida que avançamos, os fatos que se produzem não girem mais ou menos no mesmo círculo; mas esquecem que fatos tão importantes quanto os que tocam o futuro do homem não podem chegar ao estado de verdade absoluta senão após grande número de observações. Seria leviandade formular uma lei baseada em alguns exemplos. O homem sério e prudente é mais circunspecto; não somente quer ver tudo, mas ver muito e muitas vezes. Eis por que não recuamos ante a monotonia das repetições, pois delas resultam confirmações e, por vezes, nuanças instrutivas, e porque se nelas descobrimos fatos contraditórios, rebuscamos as suas causas. Não temos pressa de nos pronunciarmos sobre os primeiros dados, necessariamente incompletos. Antes de colher, esperamos a maturação. Se temos avançado menos do que alguns desejariam na sua impaciência, marchamos com mais segurança, sem nos perdermos no labirinto dos sistemas. Talvez saibamos menos coisas, mas sabemos melhor, o que é preferível, e podemos afirmar o que sabemos sobre o testemunho da experiência.
Aliás, senhores, não penseis que a opinião dos que criticam a organização da Sociedade seja a dos verdadeiros amigos do Espiritismo; não, é a dos seus inimigos, que estão magoados por ver a Sociedade seguir seu caminho com calma e dignidade, através das ciladas que lhe prepararam e ainda preparam. Eles lamentam que ingressar nela seja difícil, porque ficariam encantados de aqui virem semear a perturbação. É por isso também que a censuram de limitar o círculo de seus trabalhos, e pretendem que só se ocupa de coisas insignificantes e sem alcance, porque ela se abstém de tratar de questões políticas e religiosas. Eles queriam vê-la entrar na controvérsia dogmática. Ora, é isso precisamente o que os denuncia. Prudentemente a Sociedade fechou-se num círculo inatacável pela malevolência. Ferindo o seu amor-próprio, queriam arrastá-la por um caminho perigoso, mas ela não se deixará levar. Ocupando-se exclusivamente das questões de interesse científico, e que não podem prejudicar ninguém, ela se pôs ao abrigo dos ataques, e assim deve ficar. Por sua prudência, moderação e sabedoria, conciliou a estima dos verdadeiros espíritas, e sua influência se estende até países distantes, de onde aspiram à honra de fazer parte dela. Ora, essa homenagem que lhe é prestada por pessoas que só a conhecem pelo nome, por seus trabalhos e pela consideração que ela conquistou, é-lhe cem vezes mais preciosa que o sufrágio dos imprudentes muito apressados, ou dos malévolos que queriam arrastá-la à sua perda e ficariam encantados por vê-la comprometida. Enquanto eu tiver a honra de dirigi-la, todos os meus esforços tenderão a mantê-la nesta via. Se devesse extraviar-se, eu a deixaria na mesma hora, porque a preço algum desejaria assumir essa responsabilidade.
Aliás, senhores, sabeis das vicissitudes que a Sociedade atravessou. Tudo quanto aconteceu antes e depois foi anunciado, e tudo se realizou como fora previsto. Seus inimigos queriam a sua ruína; os Espíritos, que a sabiam útil, queriam a sua conservação, e ela se manteve e manter-se-á enquanto for necessária aos seus objetivos. Se tivésseis observado, como pude fazê-lo, as coisas nos seus detalhes íntimos, não desconheceríeis a intervenção de um poder superior, que para mim é manifesto, e compreenderíeis que tudo foi para o melhor e no interesse de sua própria conservação. Tempo virá em que, tal qual o é atualmente, ela não será mais indispensável. Então veremos o que se há de fazer, porque a marcha está traçada em vista de todas as eventualidades.
Os mais perigosos inimigos da Sociedade não são os de fora, pois podemos fechar-lhes as portas e os ouvidos. Os mais temíveis são os inimigos invisíveis, que aqui poderiam introduzir-se malgrado nosso. Cabe-nos provar-lhes, como já o temos feito, que perderiam seu tempo se tentassem impor-se a nós. Sabemos que a sua tática é procurar semear a desunião, lançar o facho da discórdia, inspirar a inveja, a desconfiança e as suscetibilidades pueris que geram a desafeição. Oponhamo-lhes a barreira da caridade, da mútua benevolência, e seremos invulneráveis, tanto contra sua maligna influência oculta quanto contra as diatribes dos nossos adversários encarnados, que mais se ocupam de nós do que nós deles, pois sem jactância podemos atribuir a nós próprios o mérito de jamais termos aqui pronunciado o seu nome, já por uma questão de decoro, já porque temos de nos ocupar de coisas mais úteis. Não obrigamos ninguém a vir a nós. Acolhemos com prazer e dedicação as pessoas sinceras e de boa vontade, seriamente desejosas de esclarecimento, e estas são suficientes para não perdermos tempo correndo atrás dos que nos voltam as costas por motivos fúteis, de amor-próprio ou de inveja. Estes não podem ser considerados como verdadeiros espíritas, malgrado as aparências; são talvez espíritas crentes nos fatos, mas, sem a menor dúvida, não são espíritas crentes nas consequências morais dos fatos, pois, do contrário, mostrariam mais abnegação, indulgência, moderação e menos presunção de infalibilidade. Procurá-los seria mesmo prestar-lhes um desserviço, porque seria induzi-los a acreditarem na sua importância e que deles não poderíamos prescindir. Com os que nos denigrem, também não nos devemos preocupar. Homens que valiam cem vezes mais do que nós foram denegridos e ridicularizados. Neste particular não poderíamos ser privilegiados; cabe-nos provar por nossos atos que as suas diatribes caem no vazio e as armas de que se servem voltar-se-ão contra eles.
Depois de ter, no começo, agradecido aos Espíritos que nos assistem, não devemos esquecer os seus intérpretes, alguns dos quais nos dão o seu concurso com um zelo e uma complacência jamais desmentidos. Em troca, não lhes podemos oferecer mais que um estéril testemunho de nossa satisfação. Mas o mundo dos Espíritos os espera e lá todos os devotamentos são compensados na medida do desinteresse, da humildade e da abnegação.
Em resumo, senhores, durante o ano que passou nossos trabalhos marcharam com perfeita regularidade e nada os interrompeu. Uma porção de fatos do mais alto interesse foram relatados, explicados e comentados; questões muito importantes foram resolvidas; todos os exemplos que passaram sob nossos olhos pelas evocações, todas as investigações a que nos dedicamos vieram confirmar os princípios da Ciência e fortalecer as nossas crenças; numerosas comunicações de incontestável superioridade foram obtidas por diversos médiuns; a província e o estrangeiro nos remeteram algumas excessivamente admiráveis, e que provam não só quanto o Espiritismo se espalha, mas, também, sob que ponto de vista grave e sério é agora encarado por toda parte. Sem dúvida este é um resultado pelo qual nos devemos sentir felizes, mas há outro não menos satisfatório e que é, aliás, uma consequência do que, desde a origem, havia sido predito: é a unidade que se estabelece na teoria da doutrina, à medida que a estudamos e melhor a compreendemos. Em todas as comunicações que nos chegam de fora encontramos a confirmação dos princípios que nos são ensinados pelos Espíritos, e como as pessoas que as recebem nos são, na maioria, desconhecidas, não se pode dizer que sofrem a nossa influência.
O próprio princípio da reencarnação que de início tinha encontrado muitos contraditores, porque não era compreendido, é hoje aceito pela força da evidência e porque todo homem que pensa reconhece nele a única solução possível do maior número de problemas da filosofia moral e religiosa. Sem a reencarnação, somos detidos a cada passo. Tudo é caos e confusão. Com a reencarnação tudo se esclarece, tudo se explica da mais racional maneira. Se ela ainda encontra alguns adversários mais sistemáticos que lógicos, seu número é muito restrito. Ora, quem a inventou? Sem a menor dúvida não fostes vós, nem eu. Ela nos foi ensinada, e nós a aceitamos. Eis tudo o que fizemos. De todos os sistemas que surgiram no princípio, poucos hoje sobrevivem, e pode-se dizer que os seus raros partidários estão, sobretudo, entre pessoas que julgam ao primeiro impulso e muitas vezes conforme ideias preconcebidas e prevenções. Mas agora é evidente que quem quer que se dê ao trabalho de aprofundar todas as questões e julgue friamente, sem prevenção e sobretudo sem hostilidade sistemática, é invencivelmente arrastado, tanto pelo raciocínio quanto pelos fatos, à teoria fundamental que hoje prevalece, pode-se dizer, em todos os países do mundo.
Certamente, senhores, a Sociedade não fez tudo para a obtenção deste resultado. Mas, sem vaidade, creio que ela pode reivindicar uma pequena parte. Sua influência moral é maior do que se pensa, e isto precisamente porque jamais ela se desviou da linha de moderação que se traçou. Sabe-se que ela se ocupa exclusivamente de seus estudos, sem se deixar desviar pelas paixões mesquinhas que se agitam ao seu redor; que o faz seriamente, como deve fazer toda assembleia científica; que ela persegue o seu objetivo sem se misturar com nenhuma intriga, sem atirar pedras em ninguém, sem mesmo recolher as que lhe atiram. Sem a menor sombra de dúvida, esta é a principal causa do crédito e da consideração que desfruta e dos quais pode sentir-se orgulhosa, e que dá certo peso à sua opinião. Por nossos esforços, senhores, por nossa prudência e pelo exemplo da união que deve existir entre os verdadeiros espíritas, continuemos a mostrar que os princípios que professamos não são para nós letra morta e que tanto pregamos pelo exemplo quanto pela teoria. Se nossas doutrinas encontram tanto eco, é que aparentemente julgam-nas mais racionais que as outras. Duvido que acontecesse o mesmo se tivéssemos professado a doutrina da intervenção exclusiva do diabo e dos demônios nas manifestações espíritas, doutrina hoje completamente ridícula, que excita mais curiosidade do que pavor, a não ser sobre algumas pessoas timoratas que, em breve, elas mesmas reconhecerão a sua futilidade.
Tal qual é hoje professada, a Doutrina Espírita tem uma amplitude que lhe permite abarcar todas as questões de ordem moral. Ela satisfaz a todas as aspirações, e, pode-se dizer, ao mais exigente raciocínio, para quem quer que se dê ao trabalho de estudá-la e não esteja dominado pelos preconceitos. Ela não tem as mesquinhas restrições de certas filosofias; alarga ao infinito o círculo das ideias e ninguém é capaz de elevar mais alto o pensamento e tirar o homem da estreita esfera do egoísmo, na qual tentaram confiná-lo. Enfim, ela se apoia nos imutáveis princípios fundamentais da religião, dos quais é a demonstração patente. Eis, sem dúvida nenhuma, o que lhe conquista tão numerosos partidários entre as pessoas esclarecidas de todos os países, e o que a fará prevalecer, em tempo mais ou menos próximo, e isto malgrado os seus adversários, motivados, em sua maioria, mais pelo interesse do que pela convicção. Sua marcha progressiva tão rápida, desde que entrou na via filosófica séria, é-nos garantia segura do futuro que lhe é reservado e que, como sabeis, está anunciado em todo o mundo. Deixemos, pois, falarem e agirem os seus inimigos. Eles nada podem contra a vontade de Deus, porque nada acontece sem sua permissão e, como dizia há pouco um eclesiástico esclarecido: “Se essas coisas acontecem, é que Deus o permite, para avivar a fé que se extingue nas trevas do materialismo.”
O anjo da cólera
Um dos nossos correspondentes de Varsóvia escreve-nos o seguinte:
“... Ouso reclamar a vossa atenção para um fato tão extraordinário que seria preciso colocá-lo na categoria do absurdo, se o caráter da pessoa que mo relatou não fosse uma garantia de sua realidade. Todos nós, que do Espiritismo conhecemos tudo quanto foi tratado por vós tão judiciosamente, o que significa que julgamos bem compreendê-lo, não encontramos explicação para este fato. Assim o entrego à vossa apreciação, rogando-vos perdoar-me o tempo que vos faço perder para o ler, se não o julgardes digno de um mais sério exame. Trata-se do seguinte:
“A pessoa de quem falei acima estava, em 1852, em Wilna, cidade da Lituânia, que então era devastada pelo cólera. Sua filha, linda menina de doze anos, era dotada de todas as qualidades que constituem as naturezas superiores. Desde a mais tenra idade, fez-se notar por uma inteligência excepcional, uma bondade de coração e uma candura verdadeiramente angélicas. Em nossa terra, ela foi uma das primeiras a gozar da faculdade mediúnica, e sempre assistida por Espíritos de uma ordem muito elevada. Muitas vezes, e sem ser sonâmbula, tinha o pressentimento do que ia acontecer, e o predizia sempre com justeza. Estas informações não me parecem inúteis para julgar de sua sinceridade. Uma noite, no momento em que as velas acabavam de ser apagadas, a menina, ainda perfeitamente acordada, viu erguer-se em frente ao seu leito uma figura lívida e ensanguentada de uma velha, que a fez estremecer à simples vista. A mulher aproximou-se do leito da menina e lhe disse: “Sou o cólera e venho pedir-te um beijo. Se me beijares, voltarei para os lugares que deixei e a cidade ficará livre de minha presença”. A heroica menina não recuou ante o sacrifício. Aplicou os lábios sobre o rosto gelado e úmido da velha e a visão, se era visão, desapareceu. Espantada, a criança só se acalmou no colo do pai, que nada compreendendo do caso, estava, entretanto, convencido de que a filha havia dito a verdade. Mas não falaram a ninguém. Pelo meio-dia receberam a visita de um médico amigo da família, que disse: “Venho trazer-vos uma boa notícia. Esta noite nenhum doente foi trazido ao hospital dos coléricos, de onde venho”. Com efeito, desde aquele dia o cólera deixou de ceifar. Cerca de três anos mais tarde, essa pessoa e sua família fizeram outra viagem à mesma cidade. Durante sua estada o cólera reapareceu e as vítimas se contavam por centenas, quando uma noite a mesma velha apareceu junto ao leito da mocinha, sempre perfeitamente desperta, e lhe fez o mesmo pedido, acrescentando que, se seu pedido fosse atendido, deixaria a cidade para não mais voltar. Como da primeira vez, a jovem não recuou. Logo viu abrir-se uma sepultura e fechar-se sobre a mulher. O cólera acalmou-se como que por milagre, e não é de meu conhecimento que desde então tenha reaparecido em Wilna. Era uma alucinação ou uma visão real? Ignoro. Tudo quanto posso certificar é que não duvido da sinceridade da moça e de seus pais”.
Com efeito, o fato é muito singular. Os incrédulos não deixarão de dizer que é uma alucinação, mas provavelmente ser-lhes-á muito difícil explicar essa coincidência com um fato material que nada permitia prever. Uma primeira vez isto poderia ser levado à conta do acaso, essa maneira tão cômoda de passar sobre aquilo que não se compreende. Mas em duas ocorrências, em condições idênticas, é mais extraordinário. Admitindo-se o fato da aparição, restava saber o que era essa mulher. Seria realmente o anjo exterminador do cólera? Os flagelos estariam personificados em certos Espíritos encarregados de provocá-los ou apaziguá-los? Poder-se-ia crer, vendo este desaparecer pela vontade dessa mulher. Mas então, por que se dirigia ela àquela menina, estranha à cidade, e como um beijo dessa menina poderia ter tal influência? Embora o Espiritismo já nos tenha dado a chave de muitas coisas, ainda não nos disse a última palavra e, no caso de que se trata, a última hipótese nada tinha de positivamente absurdo. Confessamos que inicialmente nos inclinávamos para esse lado, pois não víamos no fato o caráter da verdadeira alucinação. Mas a palavra dos Espíritos veio derrubar a nossa suposição. Eis a explicação muito simples e lógica dada por São Luís na sessão da Sociedade de 19 de abril de 1861.
─ O fato que acaba de ser relatado parece bastante autêntico. A respeito desejaríamos algumas explicações. Para começar, poderíeis dizer-nos quem é essa mulher que apareceu à mocinha e disse ser o cólera?
─ Não era o cólera. Um flagelo material não reveste a aparência humana. Era o Espírito familiar da mocinha, experimentando sua fé, e que fazia coincidir esta prova com o fim do flagelo. Essa prova era salutar à menina que a experimentava. Idealizando-a, fortalecia as virtudes em germe nesse ser protegido e abençoado. As naturezas de escol que vindo ao mundo trazem a lembrança do bem já adquirido, por vezes recebem tais advertências, que seriam perigosas para uma alma não depurada e não preparada pelas migrações anteriores para as grandes dedicações do amor e da fé.
─ O Espírito familiar dessa jovem tinha bastante poder para prever o futuro e o fim do flagelo?
─ Os Espíritos são instrumentos da vontade divina, e muitas vezes são elevados à altura de mensageiros celestes.
─ Os Espíritos não têm nenhuma ação sobre os flagelos, como agentes produtores?
─ Eles nada têm a ver com isso, do mesmo modo que as árvores não agem sobre o vento, nem os efeitos sobre as causas.
Na previsão de respostas conformes ao nosso primeiro pensamento, tínhamos preparado uma série de perguntas que, em consequência, se tornaram inúteis. Uma vez mais, isto prova que os médiuns não são o reflexo do pensamento de quem interroga. Aliás, devemos dizer que a respeito não tínhamos qualquer opinião prévia. Em falta de melhor, inclinávamo-nos para a que tínhamos emitido, porque não nos parecia impossível. Mas a explicação dada pelo Espírito, mais simples e racional, nós a julgamos infinitamente preferível.
Aliás, pode-se tirar do fato uma outra instrução. O que aconteceu àquela moça deve ter-se produzido em outras circunstâncias, e mesmo na Antiguidade, pois os fenômenos espíritas são de todos os tempos. Não seria uma das causas que levaram os Antigos a personificar tudo e a ver em cada coisa um gênio particular? Não pensamos que se lhe deva buscar a causa apenas no gênio poético, desde que se veem essas ideias em povos menos adiantados.
Suponhamos que um fato semelhante a esse que relatamos se tivesse produzido num povo supersticioso e bárbaro. Não era preciso mais para acreditar na ideia de uma divindade malfazeja, que não se podia apaziguar senão lhe sacrificando vítimas. Como já dissemos, todos os deuses do paganismo não têm outra origem senão nas manifestações espíritas. O Cristianismo veio derrubar os seus altares, mas estava reservado ao Espiritismo dar a conhecer a sua verdadeira natureza e lançar a luz sobre os fenômenos desnaturados pela superstição ou explorados pela cupidez.
“... Ouso reclamar a vossa atenção para um fato tão extraordinário que seria preciso colocá-lo na categoria do absurdo, se o caráter da pessoa que mo relatou não fosse uma garantia de sua realidade. Todos nós, que do Espiritismo conhecemos tudo quanto foi tratado por vós tão judiciosamente, o que significa que julgamos bem compreendê-lo, não encontramos explicação para este fato. Assim o entrego à vossa apreciação, rogando-vos perdoar-me o tempo que vos faço perder para o ler, se não o julgardes digno de um mais sério exame. Trata-se do seguinte:
“A pessoa de quem falei acima estava, em 1852, em Wilna, cidade da Lituânia, que então era devastada pelo cólera. Sua filha, linda menina de doze anos, era dotada de todas as qualidades que constituem as naturezas superiores. Desde a mais tenra idade, fez-se notar por uma inteligência excepcional, uma bondade de coração e uma candura verdadeiramente angélicas. Em nossa terra, ela foi uma das primeiras a gozar da faculdade mediúnica, e sempre assistida por Espíritos de uma ordem muito elevada. Muitas vezes, e sem ser sonâmbula, tinha o pressentimento do que ia acontecer, e o predizia sempre com justeza. Estas informações não me parecem inúteis para julgar de sua sinceridade. Uma noite, no momento em que as velas acabavam de ser apagadas, a menina, ainda perfeitamente acordada, viu erguer-se em frente ao seu leito uma figura lívida e ensanguentada de uma velha, que a fez estremecer à simples vista. A mulher aproximou-se do leito da menina e lhe disse: “Sou o cólera e venho pedir-te um beijo. Se me beijares, voltarei para os lugares que deixei e a cidade ficará livre de minha presença”. A heroica menina não recuou ante o sacrifício. Aplicou os lábios sobre o rosto gelado e úmido da velha e a visão, se era visão, desapareceu. Espantada, a criança só se acalmou no colo do pai, que nada compreendendo do caso, estava, entretanto, convencido de que a filha havia dito a verdade. Mas não falaram a ninguém. Pelo meio-dia receberam a visita de um médico amigo da família, que disse: “Venho trazer-vos uma boa notícia. Esta noite nenhum doente foi trazido ao hospital dos coléricos, de onde venho”. Com efeito, desde aquele dia o cólera deixou de ceifar. Cerca de três anos mais tarde, essa pessoa e sua família fizeram outra viagem à mesma cidade. Durante sua estada o cólera reapareceu e as vítimas se contavam por centenas, quando uma noite a mesma velha apareceu junto ao leito da mocinha, sempre perfeitamente desperta, e lhe fez o mesmo pedido, acrescentando que, se seu pedido fosse atendido, deixaria a cidade para não mais voltar. Como da primeira vez, a jovem não recuou. Logo viu abrir-se uma sepultura e fechar-se sobre a mulher. O cólera acalmou-se como que por milagre, e não é de meu conhecimento que desde então tenha reaparecido em Wilna. Era uma alucinação ou uma visão real? Ignoro. Tudo quanto posso certificar é que não duvido da sinceridade da moça e de seus pais”.
Com efeito, o fato é muito singular. Os incrédulos não deixarão de dizer que é uma alucinação, mas provavelmente ser-lhes-á muito difícil explicar essa coincidência com um fato material que nada permitia prever. Uma primeira vez isto poderia ser levado à conta do acaso, essa maneira tão cômoda de passar sobre aquilo que não se compreende. Mas em duas ocorrências, em condições idênticas, é mais extraordinário. Admitindo-se o fato da aparição, restava saber o que era essa mulher. Seria realmente o anjo exterminador do cólera? Os flagelos estariam personificados em certos Espíritos encarregados de provocá-los ou apaziguá-los? Poder-se-ia crer, vendo este desaparecer pela vontade dessa mulher. Mas então, por que se dirigia ela àquela menina, estranha à cidade, e como um beijo dessa menina poderia ter tal influência? Embora o Espiritismo já nos tenha dado a chave de muitas coisas, ainda não nos disse a última palavra e, no caso de que se trata, a última hipótese nada tinha de positivamente absurdo. Confessamos que inicialmente nos inclinávamos para esse lado, pois não víamos no fato o caráter da verdadeira alucinação. Mas a palavra dos Espíritos veio derrubar a nossa suposição. Eis a explicação muito simples e lógica dada por São Luís na sessão da Sociedade de 19 de abril de 1861.
─ O fato que acaba de ser relatado parece bastante autêntico. A respeito desejaríamos algumas explicações. Para começar, poderíeis dizer-nos quem é essa mulher que apareceu à mocinha e disse ser o cólera?
─ Não era o cólera. Um flagelo material não reveste a aparência humana. Era o Espírito familiar da mocinha, experimentando sua fé, e que fazia coincidir esta prova com o fim do flagelo. Essa prova era salutar à menina que a experimentava. Idealizando-a, fortalecia as virtudes em germe nesse ser protegido e abençoado. As naturezas de escol que vindo ao mundo trazem a lembrança do bem já adquirido, por vezes recebem tais advertências, que seriam perigosas para uma alma não depurada e não preparada pelas migrações anteriores para as grandes dedicações do amor e da fé.
─ O Espírito familiar dessa jovem tinha bastante poder para prever o futuro e o fim do flagelo?
─ Os Espíritos são instrumentos da vontade divina, e muitas vezes são elevados à altura de mensageiros celestes.
─ Os Espíritos não têm nenhuma ação sobre os flagelos, como agentes produtores?
─ Eles nada têm a ver com isso, do mesmo modo que as árvores não agem sobre o vento, nem os efeitos sobre as causas.
Na previsão de respostas conformes ao nosso primeiro pensamento, tínhamos preparado uma série de perguntas que, em consequência, se tornaram inúteis. Uma vez mais, isto prova que os médiuns não são o reflexo do pensamento de quem interroga. Aliás, devemos dizer que a respeito não tínhamos qualquer opinião prévia. Em falta de melhor, inclinávamo-nos para a que tínhamos emitido, porque não nos parecia impossível. Mas a explicação dada pelo Espírito, mais simples e racional, nós a julgamos infinitamente preferível.
Aliás, pode-se tirar do fato uma outra instrução. O que aconteceu àquela moça deve ter-se produzido em outras circunstâncias, e mesmo na Antiguidade, pois os fenômenos espíritas são de todos os tempos. Não seria uma das causas que levaram os Antigos a personificar tudo e a ver em cada coisa um gênio particular? Não pensamos que se lhe deva buscar a causa apenas no gênio poético, desde que se veem essas ideias em povos menos adiantados.
Suponhamos que um fato semelhante a esse que relatamos se tivesse produzido num povo supersticioso e bárbaro. Não era preciso mais para acreditar na ideia de uma divindade malfazeja, que não se podia apaziguar senão lhe sacrificando vítimas. Como já dissemos, todos os deuses do paganismo não têm outra origem senão nas manifestações espíritas. O Cristianismo veio derrubar os seus altares, mas estava reservado ao Espiritismo dar a conhecer a sua verdadeira natureza e lançar a luz sobre os fenômenos desnaturados pela superstição ou explorados pela cupidez.
Fenômenos de transporte
Esse fenômeno é, sem contradita, um dos mais extraordinários entre os apresentados pelas manifestações espíritas, e também um dos mais raros. Consiste no aporte espontâneo de um objeto que não está no lugar onde nos encontramos. Nós há muito tempo o conhecíamos por ouvir dizer, mas como há pouco nos foi dado testemunhá-lo, podemos agora dele falar com conhecimento de causa. Digamos, para começar, que é um dos que mais se prestam à imitação e que, consequentemente, é necessário mantermo-nos em guarda contra a trapaça. Sabe-se até onde pode ir a arte da prestidigitação, no caso de experiências desse gênero; mas, sem ter familiaridade com gente do ofício, poder-se-ia facilmente ser vítima de uma hábil manobra. A melhor de todas as garantias está no caráter, na honorabilidade notória, no desinteresse absoluto da pessoa que obtém semelhantes efeitos. Em segundo lugar, no exame atento de todas as circunstâncias em que se produzem os fatos. Enfim, no conhecimento esclarecido do Espiritismo, único que permite descobrir o que seria suspeito.
Dissemos que o fenômeno é um dos mais raros e talvez menos que os outros se produza à vontade e com hora marcada. Posto que raramente, às vezes pode ser provocado, mas as mais das vezes é espontâneo, de onde resulta que quem quer que se gabasse de obtê-lo à vontade e em momento dado, poderia ser claramente taxado de ignorância e suspeita de fraude, com mais forte razão se nele se misturasse o menor motivo de interesse material. Um médium que tira qualquer proveito de sua faculdade pode realmente ser médium, mas como essa faculdade está sujeita a intermitências, e como os fenômenos dependem exclusivamente da vontade dos Espíritos, que não se submetem ao nosso capricho, resulta que o médium interesseiro, para não falhar ou para produzir mais efeito, conforme as circunstâncias, chama a astúcia em seu auxílio. Para ele, é preciso que o Espírito aja de qualquer maneira, caso contrário é substituído pela astúcia, que por vezes se oculta sob os mais simples disfarces.
Estas reflexões preliminares, tendo por fim pôr em guarda os observadores, levam-nos de volta ao nosso assunto. Mas, antes de falar do que nos concerne, julgamo-nos no dever de publicar a carta seguinte, que nos foi enviada de Orléans, datada a 14 de fevereiro último.
“Senhor,
“É um espírita convicto que vos escreve esta carta. Os fatos que ela relata são raros; devem servir ao bem de todos e já levaram a convicção a várias pessoas que nos rodeiam e que os testemunharam.
“O primeiro fato passou-se a 1.º de janeiro de 1861. Uma de minhas parentas, que possui em supremo grau a faculdade mediúnica, e que o ignorava completamente antes que eu lhe tivesse falado do Espiritismo, algumas vezes via a sua mãe, mas considerava isso como alucinações e tratava de evitá-las. A 1.º de janeiro último, pelas três horas da tarde, viu-a novamente. O sobressalto que ela e seu marido experimentaram, embora este nada visse, impediu-a de se dar conta de seus movimentos. Alguns minutos depois, entrando nessa sala, seu marido viu sobre a mesa um anel que sua mulher reconheceu perfeitamente como o anel de sua mãe, que ela própria lhe havia posto no dedo quando de sua morte. Alguns dias depois, como aquela senhora sofresse de uma sufocação a que era sujeita, aconselhei seu marido a magnetizá-la, o que ele fez. Ao cabo de três minutos, ela adormeceu profundamente e a lucidez foi perfeita. Então ela disse ao marido que sua mãe lhe havia trazido o anel para lhe provar que está com eles e vela por eles. O marido perguntou se ela vê sua filha que faleceu com 2 anos de idade, há 8 anos, e se ela lhe pode trazer uma lembrança. A sonâmbula responde que ela está lá, bem como a mãe de seu marido; que no dia seguinte trará uma rosa que ele encontrará sobre a secretária. O fato realizou-se; a rosa murcha estava, acompanhada de um papel, onde estavam escritas estas palavras: A meu querido pai. Laura. Dois dias depois, sono magnético. O marido pergunta se poderia receber cabelos de sua própria mãe. Seu desejo foi satisfeito imediatamente. Os cabelos estavam sobre a lareira. Depois, duas cartas foram escritas espontaneamente pelas duas mães.
“Chego a fatos que se passaram em minha casa. Após sério estudo de vossas obras sobre o Espiritismo, veio-me a fé, sem que tivesse visto um único fato. O Livro dos Médiuns me havia aconselhado a tentar escrever, mas sem nenhum resultado. Persuadido de que nada obteria sem a presença da pessoa da qual falei acima, pedi-lhe que viesse a Orléans com o marido. Segunda-feira, 11 de fevereiro, às 10 horas da noite, sono magnético e êxtase. Ela vê junto de si e de nós os Espíritos que a acompanham e que tinham prometido vir com ela. Perguntei se eu serei médium escrevente. Ela respondeu: “Sim, em 15 dias”, e acrescentou que no dia seguinte ela escreveria por meio de sua mãe, para convencer a um de meus amigos que ela me pediu que eu convidasse. No dia seguinte, 12, às 8 da manhã, sono. Perguntamos se lhe devíamos dar um lápis. “Não,” disse ela, “minha mãe está perto de ti e escreve. Sua carta está sobre a lareira.” Vou até lá e encontro um papel dobrado, que continha as seguintes palavras: “Crede e orai; estou convosco; isto é para vos convencer.” Disse-me ainda que nessa noite eu poderia tentar escrever com sua mão posta sobre a minha. Eu não ousava esperar tal resultado e, contudo, escrevi estas palavras: “Crede; vou voltar; não esqueçais o magnetismo; não demoreis muito tempo”. Minha parenta devia partir no dia seguinte. À noite escrevemos isto: “A ciência espírita não é uma brincadeira; é verdadeira; o magnetismo pode conduzir a ela. Orai e invocai aqueles que o coração vos disser. Não fiqueis mais muito tempo. Catarina”. Era o nome de sua mãe.
“Por várias vezes me ordenaram que vos escrevesse sobre estes fatos; fui até censurado por não havê-lo feito antes. Ademais, ela me disse que poderíeis ter a prova do que vos digo, e que sua própria mãe iria vos confirmar os fatos, se a chamásseis.
“Recebei, etc.”.
Esta carta relata dois fenômenos notáveis: o dos transportes e o da escrita direta. A respeito, faremos uma observação essencial: é que, quando o marido e a mulher obtiveram os primeiros resultados, estavam sós, preocupados com o que lhes pudesse acontecer, e não tinham nenhum interesse em se enganarem mutuamente. Em segundo lugar o transporte do anel, que havia sido enterrado com a mãe, era um fato positivo, que não podia ser resultado de uma trapaça, pois não se brinca com essas coisas.
Vários fatos da mesma natureza nos foram relatados por pessoas de toda confiança e que se passaram em circunstâncias também autênticas. Mas eis um de que fomos duas vezes testemunha ocular, bem como vários membros da Sociedade.
A Srta. V. B..., jovem de 16 a 17 anos, é ótima médium escrevente e ao mesmo tempo sonâmbula muito clarividente. Durante o sono ela vê sobretudo o Espírito de um de seus primos, que por diversas vezes lhe havia trazido objetos diferentes, entre os quais anéis, bombons em grande quantidade, e flores. É sempre necessário que ela esteja adormecida por cerca de duas horas antes da produção de fenômeno. A primeira vez que assistimos a uma manifestação do gênero, houve o transporte de um anel que lhe foi colocado na mão. Para nós, que conhecemos a jovem e seus pais como pessoas muito honestas, não havia motivos de dúvida. Contudo, confessamos que, para os estranhos, a maneira como isto se passou era pouco concludente. Já na outra sessão foi diferente. Após duas horas de sono prévio, durante as quais a jovem sonâmbula foi ocupada em coisas bem interessantes, mas estranhas ao nosso objetivo, o Espírito lhe apareceu com um ramo de flores, visível apenas para ela. Só depois de ter por muito tempo estimulado sua cobiça e provocado incessantes súplicas, o Espírito fez cair a seus pés um ramo de açaflor. A moça não ficou satisfeita. O Espírito segurava ainda algo que ela queria. Novos pedidos durante cerca de meia hora, depois do que um maço de violetas, rodeadas de musgo, apareceu no soalho. Algum tempo depois um bombom do tamanho de um punho caiu ao seu lado. Pelo gosto foi reconhecido como conserva de abacaxi, que parecia amassada nas mãos.
Tudo isto durou cerca de uma hora e durante esse tempo a sonâmbula esteve sempre isolada dos assistentes; seu próprio magnetizador manteve-se a grande distância. Nós estávamos colocados de maneira a não perder de vista um só movimento e declaramos sinceramente que não houve a menor coisa suspeita. Nessa sessão o Espírito, que se chama Léon, prometeu vir à Sociedade dar as explicações que fossem pedidas.
Evocamo-lo na sessão da Sociedade, de 1.º de março, conjuntamente com o Espírito da Sra. Catherine, que se havia manifestado em Orléans, e eis a conversa que se seguiu:
1. (Evocação da Sra. Catherine) ─ Estou presente e pronta a responder.
Dissemos que o fenômeno é um dos mais raros e talvez menos que os outros se produza à vontade e com hora marcada. Posto que raramente, às vezes pode ser provocado, mas as mais das vezes é espontâneo, de onde resulta que quem quer que se gabasse de obtê-lo à vontade e em momento dado, poderia ser claramente taxado de ignorância e suspeita de fraude, com mais forte razão se nele se misturasse o menor motivo de interesse material. Um médium que tira qualquer proveito de sua faculdade pode realmente ser médium, mas como essa faculdade está sujeita a intermitências, e como os fenômenos dependem exclusivamente da vontade dos Espíritos, que não se submetem ao nosso capricho, resulta que o médium interesseiro, para não falhar ou para produzir mais efeito, conforme as circunstâncias, chama a astúcia em seu auxílio. Para ele, é preciso que o Espírito aja de qualquer maneira, caso contrário é substituído pela astúcia, que por vezes se oculta sob os mais simples disfarces.
Estas reflexões preliminares, tendo por fim pôr em guarda os observadores, levam-nos de volta ao nosso assunto. Mas, antes de falar do que nos concerne, julgamo-nos no dever de publicar a carta seguinte, que nos foi enviada de Orléans, datada a 14 de fevereiro último.
“Senhor,
“É um espírita convicto que vos escreve esta carta. Os fatos que ela relata são raros; devem servir ao bem de todos e já levaram a convicção a várias pessoas que nos rodeiam e que os testemunharam.
“O primeiro fato passou-se a 1.º de janeiro de 1861. Uma de minhas parentas, que possui em supremo grau a faculdade mediúnica, e que o ignorava completamente antes que eu lhe tivesse falado do Espiritismo, algumas vezes via a sua mãe, mas considerava isso como alucinações e tratava de evitá-las. A 1.º de janeiro último, pelas três horas da tarde, viu-a novamente. O sobressalto que ela e seu marido experimentaram, embora este nada visse, impediu-a de se dar conta de seus movimentos. Alguns minutos depois, entrando nessa sala, seu marido viu sobre a mesa um anel que sua mulher reconheceu perfeitamente como o anel de sua mãe, que ela própria lhe havia posto no dedo quando de sua morte. Alguns dias depois, como aquela senhora sofresse de uma sufocação a que era sujeita, aconselhei seu marido a magnetizá-la, o que ele fez. Ao cabo de três minutos, ela adormeceu profundamente e a lucidez foi perfeita. Então ela disse ao marido que sua mãe lhe havia trazido o anel para lhe provar que está com eles e vela por eles. O marido perguntou se ela vê sua filha que faleceu com 2 anos de idade, há 8 anos, e se ela lhe pode trazer uma lembrança. A sonâmbula responde que ela está lá, bem como a mãe de seu marido; que no dia seguinte trará uma rosa que ele encontrará sobre a secretária. O fato realizou-se; a rosa murcha estava, acompanhada de um papel, onde estavam escritas estas palavras: A meu querido pai. Laura. Dois dias depois, sono magnético. O marido pergunta se poderia receber cabelos de sua própria mãe. Seu desejo foi satisfeito imediatamente. Os cabelos estavam sobre a lareira. Depois, duas cartas foram escritas espontaneamente pelas duas mães.
“Chego a fatos que se passaram em minha casa. Após sério estudo de vossas obras sobre o Espiritismo, veio-me a fé, sem que tivesse visto um único fato. O Livro dos Médiuns me havia aconselhado a tentar escrever, mas sem nenhum resultado. Persuadido de que nada obteria sem a presença da pessoa da qual falei acima, pedi-lhe que viesse a Orléans com o marido. Segunda-feira, 11 de fevereiro, às 10 horas da noite, sono magnético e êxtase. Ela vê junto de si e de nós os Espíritos que a acompanham e que tinham prometido vir com ela. Perguntei se eu serei médium escrevente. Ela respondeu: “Sim, em 15 dias”, e acrescentou que no dia seguinte ela escreveria por meio de sua mãe, para convencer a um de meus amigos que ela me pediu que eu convidasse. No dia seguinte, 12, às 8 da manhã, sono. Perguntamos se lhe devíamos dar um lápis. “Não,” disse ela, “minha mãe está perto de ti e escreve. Sua carta está sobre a lareira.” Vou até lá e encontro um papel dobrado, que continha as seguintes palavras: “Crede e orai; estou convosco; isto é para vos convencer.” Disse-me ainda que nessa noite eu poderia tentar escrever com sua mão posta sobre a minha. Eu não ousava esperar tal resultado e, contudo, escrevi estas palavras: “Crede; vou voltar; não esqueçais o magnetismo; não demoreis muito tempo”. Minha parenta devia partir no dia seguinte. À noite escrevemos isto: “A ciência espírita não é uma brincadeira; é verdadeira; o magnetismo pode conduzir a ela. Orai e invocai aqueles que o coração vos disser. Não fiqueis mais muito tempo. Catarina”. Era o nome de sua mãe.
“Por várias vezes me ordenaram que vos escrevesse sobre estes fatos; fui até censurado por não havê-lo feito antes. Ademais, ela me disse que poderíeis ter a prova do que vos digo, e que sua própria mãe iria vos confirmar os fatos, se a chamásseis.
“Recebei, etc.”.
Esta carta relata dois fenômenos notáveis: o dos transportes e o da escrita direta. A respeito, faremos uma observação essencial: é que, quando o marido e a mulher obtiveram os primeiros resultados, estavam sós, preocupados com o que lhes pudesse acontecer, e não tinham nenhum interesse em se enganarem mutuamente. Em segundo lugar o transporte do anel, que havia sido enterrado com a mãe, era um fato positivo, que não podia ser resultado de uma trapaça, pois não se brinca com essas coisas.
Vários fatos da mesma natureza nos foram relatados por pessoas de toda confiança e que se passaram em circunstâncias também autênticas. Mas eis um de que fomos duas vezes testemunha ocular, bem como vários membros da Sociedade.
A Srta. V. B..., jovem de 16 a 17 anos, é ótima médium escrevente e ao mesmo tempo sonâmbula muito clarividente. Durante o sono ela vê sobretudo o Espírito de um de seus primos, que por diversas vezes lhe havia trazido objetos diferentes, entre os quais anéis, bombons em grande quantidade, e flores. É sempre necessário que ela esteja adormecida por cerca de duas horas antes da produção de fenômeno. A primeira vez que assistimos a uma manifestação do gênero, houve o transporte de um anel que lhe foi colocado na mão. Para nós, que conhecemos a jovem e seus pais como pessoas muito honestas, não havia motivos de dúvida. Contudo, confessamos que, para os estranhos, a maneira como isto se passou era pouco concludente. Já na outra sessão foi diferente. Após duas horas de sono prévio, durante as quais a jovem sonâmbula foi ocupada em coisas bem interessantes, mas estranhas ao nosso objetivo, o Espírito lhe apareceu com um ramo de flores, visível apenas para ela. Só depois de ter por muito tempo estimulado sua cobiça e provocado incessantes súplicas, o Espírito fez cair a seus pés um ramo de açaflor. A moça não ficou satisfeita. O Espírito segurava ainda algo que ela queria. Novos pedidos durante cerca de meia hora, depois do que um maço de violetas, rodeadas de musgo, apareceu no soalho. Algum tempo depois um bombom do tamanho de um punho caiu ao seu lado. Pelo gosto foi reconhecido como conserva de abacaxi, que parecia amassada nas mãos.
Tudo isto durou cerca de uma hora e durante esse tempo a sonâmbula esteve sempre isolada dos assistentes; seu próprio magnetizador manteve-se a grande distância. Nós estávamos colocados de maneira a não perder de vista um só movimento e declaramos sinceramente que não houve a menor coisa suspeita. Nessa sessão o Espírito, que se chama Léon, prometeu vir à Sociedade dar as explicações que fossem pedidas.
Evocamo-lo na sessão da Sociedade, de 1.º de março, conjuntamente com o Espírito da Sra. Catherine, que se havia manifestado em Orléans, e eis a conversa que se seguiu:
1. (Evocação da Sra. Catherine) ─ Estou presente e pronta a responder.
2. ─
Dissestes à vossa filha e ao parente de Orléans que viríeis confirmar aqui os
fenômenos que eles testemunharam. Ficaremos encantados se recebermos vossas
explicações a respeito. Para começar, eu perguntaria com que objetivo
insististes tanto para que me escrevessem relatando esses fatos?
─ O que eu disse, estou pronta a fazê-lo, pois a vós
é que mais se deve informar. Eu tinha dito aos meus filhos que vos comunicassem
essas provas visando propagar o Espiritismo.
3. ─
Há poucos dias fui testemunha de fatos análogos e vou pedir ao Espírito que os
produziu o favor de vir. Tendo podido observar todas as fases do fenômeno,
pretendo dirigir-lhe várias perguntas. Peço-vos a bondade de vos unirdes a ele
para completar as respostas, caso necessário.
─ Farei o que me pedis, porque com nós dois juntos,
haverá mais clareza e precisão.
4. (Evocação
de Léon)
─ Eis-me pronto a cumprir a promessa
que vos fiz, senhor.
OBSERVAÇÃO: Muito frequentemente os Espíritos se
dispensam de nossas fórmulas de polidez. Este oferece a particularidade de
servir-se da palavra senhor, toda vez que o evocamos.
5. ─
Poderíeis dizer-nos, por favor, por que esses fenômenos só se produzem no sono
magnético do médium?
─ Isto se deve à natureza do médium. Os fatos que eu
produzo quando o meu está adormecido poderiam também produzir-se em estado de
vigília.
6. ─
Por que fazeis esperar tanto tempo o transporte de objetos e por que excitais a
cobiça do médium, provocando nele o desejo de obter o objeto prometido?
─ Esse tempo me é necessário para preparar os fluidos
que servem para o transporte. Quanto à excitação, por vezes é apenas para
divertir os presentes e a sonâmbula.
7. ─
Eu tinha pensado que a excitação poderia produzir mais abundante emissão de
fluidos da parte do médium e facilitar a combinação necessária.
─ Vós vos enganastes, senhor. Os fluidos que nos são
necessários não pertencem ao médium, mas ao Espírito, e pode-se mesmo, em
certos casos, dispensá-los e o transporte ocorrer imediatamente.
8. ─
A produção do fenômeno é devida à natureza especial do médium e poderia ser
realizada por outros médiuns com mais facilidade e presteza?
─ A produção se deve à natureza do médium e não pode
realizar-se senão com outros de natureza correspondente. Quanto à prontidão, o
hábito que adquirimos comunicando-nos muitas vezes com o mesmo médium, nos é de
grande auxílio.
9. ─
A natureza do médium deve corresponder à natureza do fato ou à do Espírito?
─ É preciso que corresponda à
natureza do fato, e não à do Espírito.
10. ─ A
influência das pessoas presentes serve para alguma coisa?
─ Quando há incredulidade, oposição, pode muito bem
nos prejudicar. Preferimos fazer nossas provas com crentes e pessoas versadas
no Espiritismo. Com isto não quero dizer que a má vontade possa paralisar-nos
completamente.
11. ─
Aqui só há crentes e pessoas muito simpáticas. Há algum empecilho a que o fato
ocorra?
─ Há, pois nem estou preparado nem
disposto.
12. ─
Estaríeis num outro dia? ─ Sim.
13. ─
Poderíeis fixá-lo?
─ Um dia em que nada me pedirdes, virei de improviso
surpreender-vos com um belo ramo de flores.
14. ─
Talvez haja pessoas que preferissem bombons.
─ Se há gastrônomos, também podem ser contentados.
Creio que as senhoras, que não desdenham as flores, gostarão ainda mais dos
bombons.
15. ─ A
Srta. V. B... necessitará estar em sonambulismo? ─ Farei o transporte com ela
desperta.
16. ─
Onde fostes buscar as flores e os bombons transportados? ─ As flores eu as
colho nos jardins, onde me agradam.
17. ─
Mas, os bombons? O negociante não lhes nota a falta?
─ Eu os tomo onde me apraz. O negociante não percebe,
porque ponho outros no lugar.
18. ─
Mas os anéis têm um valor. Onde os buscastes? Isto não prejudica àquele de quem
os tirastes?
─ Tirei-os de lugares de todos desconhecidos, de modo
que ninguém lhes sentiu a falta.
19. ─ É
possível trazer flores de outro planeta? ─ Não. Não me é possível.
20. ─
Outros Espíritos o poderiam?
─ Sim. Há Espíritos mais elevados do que eu que podem
fazê-lo. Quanto a mim, não posso encarregar-me disso. Contentai-vos com o que
vos trouxer.
21. ─
Poderíeis trazer flores de um outro hemisfério, como, por exemplo, dos trópicos?
─ Desde que sejam da Terra, posso.
22. ─
Como introduzistes esses objetos, outro dia, desde que a sala estava fechada?
─ Fi-los entrar comigo, por assim dizer envoltos em
minha substância. Quanto a vos dar mais detalhes, isto não é explicável.
23. (À Sra. Catherine). ─ Desde que o anel
que trouxestes à vossa filha estava enterrado convosco, como o obtivestes?
─ Retirei-o da terra e o trouxe à
minha filha.
24. (A
Léon). ─ Como tornastes visíveis esses objetos que, momentos antes, eram
invisíveis?
─ Tirei a matéria que os envolvia.
25. ─
Poderíeis fazer desaparecerem esses objetos que transportastes e transportá-los
de volta?
─ Assim como os trouxe, posso
levá-los à vontade.
26. ─
Ontem... (o Espírito retifica escrevendo quarta-feira). Está certo, quartafeira o médium vos
viu tomar uma tesoura e cortar flores de laranjeira no ramalhete que está em
seu quarto. Realmente tivestes necessidade de um instrumento cortante?
─ Eu não tinha tesoura nenhuma, mas me fiz ver assim
para que tivessem certeza de que era eu que as tirava.
27. ─
Mas o ramo estava sob um globo de vidro?
─ Oh! Eu bem podia tirar o globo.
28. ─
Tirastes o globo?
─ Não.
29. ─
Não compreendemos como isto pode ser. Credes que um dia chegaremos a
compreender tal fenômeno?
─ Dentro de bem pouco tempo, não
apenas o cremos, mas temos certeza.
30. ─
Quem acaba de responder? Léon ou a Sra. Catherine? ─ Nós ambos.
31. ─ A
produção do fenômeno de transporte vos causa sofrimento ou um embaraço
qualquer?
─ Não nos causa nenhum sofrimento, quando temos
permissão, mas nos causaria, e grandes, se quiséssemos produzir efeitos sem que
estivéssemos autorizados.
32. ─
Quais as dificuldades que encontrais?
─ Nenhuma outra senão as más disposições fluídicas
que nos podem ser contrárias.
33. ─
Como transportais o objeto? Segurais com as mãos?
─ Não. Nós o envolvemos em nós
mesmos.
34. ─
Traríeis com a mesma facilidade um objeto de um peso considerável, como, por
exemplo, de 50 quilos?
─ O peso nada significa para nós. Trazemos flores
porque isto talvez seja mais agradável que um peso volumoso.
35. ─
Por vezes há desaparecimento de objetos cuja causa é ignorada. Seria coisa dos
Espíritos?
─ Isto acontece muitas vezes, com mais frequência do
que imaginais, mas poder-se-ia remediar o problema pedindo ao Espírito que
devolvesse o objeto desaparecido.
36. ─ Há
efeitos que se consideram como fenômenos naturais e que são devidos à ação de
certos Espíritos?
─ Vossos dias estão cheios desses fatos que não
compreendeis porque não pensastes neles, mas que um pouco de reflexão vos faria
ver claramente.
37. ─
Entre os objetos transportados não os há fabricados pelos Espíritos, isto é,
produzidos espontaneamente pelas modificações que os Espíritos podem introduzir
no fluido ou elemento universal?
─ Não por mim, pois não tenho
permissão. Só um Espírito elevado o pode.
38. ─ Um
objeto assim feito poderia ter estabilidade e tornar-se um objeto de uso? Se um
Espírito me fizesse uma tabaqueira, por exemplo, poderia servir-me dela? Poderia ter, se o Espírito o quisesse, mas também poderia existir apenas para ser vista e extinguir-se ao cabo de algumas horas.
OBSERVAÇÃO: Na categoria dos fenômenos de transporte podem-se colocar os que se passaram na Rue des Noyers e que descrevemos na Revista de agosto de 1860. A diferença está em que naquele caso são produzidos por um Espírito malévolo, que apenas deseja causar perturbação, enquanto nestes de que aqui se trata são Espíritos benevolentes que procuram ser agradáveis e demonstrar simpatia.
NOTA: Sobre a teoria da formação espontânea de objetos, ver o Livro dos Médiuns, capítulo intitulado Laboratório do Mundo Invisível
NOTA: Sobre a teoria da formação espontânea de objetos, ver o Livro dos Médiuns, capítulo intitulado Laboratório do Mundo Invisível
Palestras familiares de além-túmulo - O Dr. Glas
Nascido em Lião, morto a 21 de fevereiro de 1861, com 35 e 1/2 anos
O Dr. Glas era um espírita fervoroso. Sucumbiu a uma longa e dolorosa enfermidade, cujos sofrimentos só foram atenuados pela esperança que dá o Espiritismo. Sua vida laboriosa e acidentada por preocupações amargas e um acidente, inicialmente desconhecido, abreviaram-lhe a existência. Foi evocado a pedido de seu pai.
1. (Evocação). ─ Eis-me aqui.
1. (Evocação). ─ Eis-me aqui.
2. ─
Teríamos prazer de nos comunicarmos convosco, inicialmente para condescender ao
desejo do senhor vosso pai e de vossa esposa, e depois porque, à vista do
estado dos vossos conhecimentos, esperamos deles tirar proveito para nós
mesmos.
─ Desejo que esta comunicação seja uma consolação
para os que me lamentam, e para vós, que me evocais, um assunto de estudos
instrutivos.
3. ─
Parece que sucumbistes a uma doença cruel. Poderíeis dar-nos algumas
explicações sobre a sua natureza e causa?
─ Minha doença ─ hoje vejo bem claramente ─ era toda
moral e terminou por constranger dolorosamente meu corpo. Quanto a me alongar
sobre os meus sofrimentos, ainda os tenho bem presentes para não esquecê-los.
Um trabalho persistente, aliado a uma contínua agitação do cérebro, eis a
verdadeira fonte do meu mal.
OBSERVAÇÃO: Esta resposta é confirmada pela seguinte
passagem da carta de seu pai: “Sua vida laboriosa e acidentada por preocupações
amargas e um acidente inicialmente desconhecido, abreviaram-lhe a existência.”
Esta carta não tinha sido lida antes da evocação e nem o médium nem os
assistentes conheciam o fato.
4. ─
Também parece que vossas crenças vos ajudaram a suportar o sofrimento com
coragem, pelo que vos felicitamos.
─ Eu tinha em mim a consciência de
uma vida melhor. Isto diz tudo.
5. ─
Essas crenças contribuíram para apressar o vosso desprendimento?
Infinitamente, porque as ideias
espiritualistas que se pode ter sobre a vida são, por assim dizer, as
indulgências plenárias que afastam de vós, após a morte, toda influência
terrena.
6. ─
Pedimos a fineza de nos descrever o mais exatamente possível a natureza da
perturbação que experimentastes, sua duração e as sensações quando vos
reconhecestes.
─ Eu tinha em mim, assim que morri, o perfeito
conhecimento de mim mesmo e entrevia com calma aquilo que tantos outros temem
com tanto pavor. Meu trespasse foi curto e a consciência de mim mesmo não
mudou. Ignoro quanto tempo durou a perturbação, mas quando despertei, realmente
estava morto.
7. ─
No momento em que vos reconhecestes, achaste-vos isolado?
─ Sim. Aliás, pelo coração eu estava ainda todo na
Terra. Não vi imediatamente Espíritos em volta de mim, mas somente pouco a
pouco.
8. ─
Que pensais dos vossos confrades que buscam, pela Ciência, provar aos homens
que neles não há senão matéria e que somente o nada os aguarda?
─ Orgulho! Quando estiverem perto da morte, talvez os
farão calar-se; é o que lhes almejo. Ah! Como dizia Lamennais há pouco, há duas
Ciências, a do bem e a do mal. Eles têm a Ciência que vem dos homens, a do mal.
OBSERVAÇÃO: O Espírito faz alusão a uma comunicação
que Lamennais acabara de dar momentos antes, prova de que não tinha esperado a
evocação para vir à sessão.
9. ─
Estais frequentemente junto de vossa esposa, de vosso filho e de vosso pai?
─ Quase constantemente.
10. ─ O
sentimento que experimentais vendo-os é diferente do que experimentáveis em
vida quando estáveis junto deles?
─ A morte dá aos sentimentos, como às ideias, uma
visão larga, mas cheia de esperanças que o homem não pode apreender na Terra.
Eu os amo, mas os queria junto a mim. É sobretudo em vista das esperanças
futuras que o Espírito deve ter coragem e sangue-frio.
11. ─
Estando aqui, podeis vê-los em casa sem esforço?
─ Oh! Perfeitamente.
OBSERVAÇÃO: Um Espírito inferior não o poderia.
Apenas os que têm certa elevação podem ver simultaneamente pontos diferentes.
Os outros estão ainda muito no terra-a-terra.
Lendo esta resposta, sem dúvida certas pessoas dirão
que era uma boa ocasião de controle; que se deveria ter perguntado ao Espírito
o que faziam os seus parentes nesse momento e verificar se era exato. Com que
objetivo tê-lo-íamos feito? Para nos assegurarmos de que era realmente um
Espírito que nos falava? Mas se não fosse um Espírito, é que o médium nos
enganava. Ora, há muitos anos esse médium dá o seu concurso à Sociedade e
jamais tivemos ocasião de suspeitar de sua boa-fé.
Se o tivéssemos feito, como prova de identidade, não
nos teria valido grande coisa, porque um Espírito enganador teria podido
sabê-lo, tanto quanto o Espírito verdadeiro. Assim, a questão teria entrado na
categoria das perguntas de curiosidade e de prova, que os Espíritos sérios
desprezam e às quais jamais respondem. Como fato, sabemos por experiência que
isto é possível, mas sabemos também que quando um Espírito quer entrar em
certos detalhes, faz isso espontaneamente, se o julgar útil, e não para
satisfazer a um capricho.
12. ─
Fazeis distinção entre o vosso espírito e o vosso perispírito? Qual a diferença
que estabeleceis entre as duas coisas?
Penso, logo sinto e tenho uma alma, como disse
um filósofo. Não sei mais que ele a respeito. Quanto ao perispírito, é uma
forma, como sabeis, fluídica e natural; mas buscar a alma é querer buscar o
absoluto espiritual.
13. ─
Credes que a faculdade de pensar reside no perispírito? Numa palavra, que a
alma e o perispírito são uma só e mesma coisa?
─ É absolutamente como se perguntásseis se o
pensamento reside no vosso corpo. Um se vê, o outro se sente e se concebe.
14. ─
Assim, não sois um ser vago e indefinido, mas um ser limitado e circunscrito?
─ Limitado, sim; mas rápido como o
pensamento.
15. ─
Teríeis a bondade de precisar o lugar onde estais aqui?
─ À vossa esquerda e à direita do
médium.
NOTA: O Sr. Allan Kardec senta-se no
lugar indicado pelo Espírito.
16. ─
Fostes obrigado a deixar o vosso lugar para mo ceder?
─ Absolutamente; nós passamos através de tudo, como
tudo passa através de nós; é o corpo espiritual.
17. ─
Assim, estou mergulhado em vós? ─ Sim.
18. ─
Por que não vos sinto?
─ Porque os fluidos que compõem o perispírito são
muito etéreos, não suficientemente materiais para vós. Mas pela prece, pela
vontade, numa palavra, pela fé, os fluidos podem tornar-se mais ponderáveis e
materiais, e mesmo afetar o tato, o que acontece nas manifestações físicas e é
a conclusão deste mistério.
OBSERVAÇÃO: Suponhamos um raio luminoso penetrando
num quarto escuro: pode-se atravessá-lo, nele mergulhar, sem lhe alterar a
forma nem a natureza. Embora esse raio seja uma espécie de matéria, é tão sutil
que não constitui obstáculo à passagem da matéria mais compacta. Dá-se o mesmo
com uma coluna de fumaça ou de vapor que igualmente pode-se atravessar sem
dificuldade. Apenas, como o vapor tem mais densidade, produzirá no corpo uma
impressão que a luz não produz.
19. ─
Suponhamos que neste momento vos pudésseis tornar visível aos olhos da
assembleia. Que efeito produziriam nossos dois corpos, assim, um dentro do
outro?
─ O efeito que vós mesmos imaginais, naturalmente.
Todo o vosso lado esquerdo seria menos visível que o lado direito; estaria num
nevoeiro, no vapor do perispírito. O mesmo se daria no lado direito do médium.
20. ─
Suponhamos agora que vos pudésseis tornar não só visível, mas tangível, como
acontece por vezes. Isto seria possível, conservando a situação em que estamos?
─ Forçosamente eu mudaria um pouco de lugar. Eu me
construiria ao vosso lado.
21. ─ Há
pouco, quando falei apenas da visibilidade, dissestes que estaríeis entre mim e
o médium, o que indica teríeis mudado de lugar. Agora, para a tangibilidade,
parece que vos afastaríeis ainda mais. Não seria possível tomardes as duas
aparências conservando nossa primeira posição, eu ficando mergulhado em
vós?
─ Não, absolutamente, pois respondo à pergunta. Eu me
reconstruiria ao lado; não me posso solidificar naquela posição; não posso aí
ficar a não ser que fique fluídico.
OBSERVAÇÃO: Desta explicação ressalta grave
ensinamento. No estado normal, isto é, fluídico e invisível, o perispírito é
perfeitamente penetrável à matéria sólida. No estado de visibilidade, já há um
começo de condensação que o torna menos penetrável. No estado de tangibilidade,
a condensação é completa e a penetrabilidade desaparece.
22. ─
Credes que um dia a Ciência chegue a submeter o perispírito à apreciação dos
instrumentos, como o faz com os outros fluidos?
─ Perfeitamente. Não conheceis ainda senão a
superfície da matéria; mas a finura, a essência da matéria só conhecereis pouco
a pouco. A eletricidade e o magnetismo são caminhos certos.
23. ─
Com que outro fluido conhecido tem analogia o perispírito? ─ A luz, a
eletricidade e o oxigênio.
24. ─ Há
aqui uma pessoa que julga ter sido vosso camarada de colégio. Não a
reconheceis?
─ Não a vejo. Não me lembro.
25. ─ É
o Sr. Lucien B..., de Montbrison, que esteve convosco no colégio de Lyon.
─ Eu jamais pensaria em vos encontrar assim. Fiz
sérios estudos na Terra, mas vos asseguro que meus estudos, como Espírito, são
ainda mais sérios. Obrigado, mil vezes, por vossa boa lembrança.
Questões e problemas diversos
O Sr. Jobard, de Bruxelas, nos envia a carta que segue, bem como as respostas por ele obtidas às diversas perguntas.
“Meu caro Presidente,
“Estando Bruxelas tão longe de Paris quanto a Lua do Sol, os raios do Espiritismo ainda não a aqueceram. Entretanto o Sr. Nicolas B..., tendo-me consagrado dois dias, nos indicou um médium intuitivo escrevente de primeira qualidade, que nos encanta diariamente, tanto que ele mesmo está admirado dos magníficos ditados que lhe são feitos pelo Espírito de Tertuliano, o qual deseja que ele escreva um livro explicativo do quadro da criação dos mundos, a partir do caos até Deus. Eu o li ontem ao grande pintor Wiertz, que o compreendeu e lhe quer consagrar uma página de 100 pés. Não ouso enviar-vos esses sublimes ditados antes que vos tenhais assegurado da identidade do personagem. Junto apenas duas ou três passagens que acabo de extrair dos rascunhos mediúnicos que conservo cuidadosamente.
“Nós chamamos Cabanis, o materialista, que é tão infeliz quanto o vosso ateu e todos os outros quebradores de lápis. Chamai, então, a Henri Mondeux, para saber a longa fieira de matemáticos que ele deve ter habitado. Todo mundo quer que seja descoberto Jud, o assassino do Sr. Poinsot. A reedição de Gaëte nos foi anunciada com oito dias de antecedência. Eu também tenho ordem de escrever um livro, mas não sei por onde começar, não sendo nem podendo me tornar um médium escrevente, sob o pretexto de que não é mais necessário. Vosso discurso de Lyon é admirável. Eu determinei que fosse lido para os humânimais mais adiantados de nossa Lua. Não há muitos aqui. Que pena! Quando poderei ir aquecer-me ao vosso Sol? Adeus, caro Mestre.
JOBARD
1. ─ Os magos, os sábios, os grandes filósofos e os profetas antigos não eram médiuns? ─ Evidentemente, sim. O laço que os unia às inteligências superiores agia sobre eles e lhes inspirava nobres pensamentos, sem falar de sua própria superioridade, que lhes permitia emitissem apreciações mais exatas. Eles transmitiam aos Espíritos encarnados ideias que pareciam profecias, porque as profecias não passam de comunicações vindas dos grandes Espíritos. E como estes possuem uma parte dos atributos divinos, as ideias enunciadas tinham um caráter de adivinhação e forçosamente se realizaram nos tempos e datas indicados.
“Meu caro Presidente,
“Estando Bruxelas tão longe de Paris quanto a Lua do Sol, os raios do Espiritismo ainda não a aqueceram. Entretanto o Sr. Nicolas B..., tendo-me consagrado dois dias, nos indicou um médium intuitivo escrevente de primeira qualidade, que nos encanta diariamente, tanto que ele mesmo está admirado dos magníficos ditados que lhe são feitos pelo Espírito de Tertuliano, o qual deseja que ele escreva um livro explicativo do quadro da criação dos mundos, a partir do caos até Deus. Eu o li ontem ao grande pintor Wiertz, que o compreendeu e lhe quer consagrar uma página de 100 pés. Não ouso enviar-vos esses sublimes ditados antes que vos tenhais assegurado da identidade do personagem. Junto apenas duas ou três passagens que acabo de extrair dos rascunhos mediúnicos que conservo cuidadosamente.
“Nós chamamos Cabanis, o materialista, que é tão infeliz quanto o vosso ateu e todos os outros quebradores de lápis. Chamai, então, a Henri Mondeux, para saber a longa fieira de matemáticos que ele deve ter habitado. Todo mundo quer que seja descoberto Jud, o assassino do Sr. Poinsot. A reedição de Gaëte nos foi anunciada com oito dias de antecedência. Eu também tenho ordem de escrever um livro, mas não sei por onde começar, não sendo nem podendo me tornar um médium escrevente, sob o pretexto de que não é mais necessário. Vosso discurso de Lyon é admirável. Eu determinei que fosse lido para os humânimais mais adiantados de nossa Lua. Não há muitos aqui. Que pena! Quando poderei ir aquecer-me ao vosso Sol? Adeus, caro Mestre.
JOBARD
1. ─ Os magos, os sábios, os grandes filósofos e os profetas antigos não eram médiuns? ─ Evidentemente, sim. O laço que os unia às inteligências superiores agia sobre eles e lhes inspirava nobres pensamentos, sem falar de sua própria superioridade, que lhes permitia emitissem apreciações mais exatas. Eles transmitiam aos Espíritos encarnados ideias que pareciam profecias, porque as profecias não passam de comunicações vindas dos grandes Espíritos. E como estes possuem uma parte dos atributos divinos, as ideias enunciadas tinham um caráter de adivinhação e forçosamente se realizaram nos tempos e datas indicados.
2. ─
A mediunidade é, pois, um favor aos que a possuem?
─ O verdadeiro médium, que não faz profissão desse
dom sublime, evidentemente deve tornar-se melhor. Como não poderia sê-lo,
quando a cada instante pode receber impressões tão favoráveis ao seu progresso
no caminho do bem? As ideias filosóficas que emite, não só por seu próprio
Espírito, mas ainda, e sobretudo, por nós, são retificadas naquilo que a sua
inteligência, muito fraca, pudesse compreender mal e mal enunciar.
OBSERVAÇÃO DO SR. JOBABD: Destas respostas cheias de
justeza seguese que multiplicando-se os bons médiuns, a raça humana,
melhorando-se por eles, num dado tempo acabará por trazer o Reino de Deus para
a Terra.
3. ─
Nas estatísticas da criminalidade nota-se que os operários que trabalham o
ferro figuram raramente. Teria o ferro alguma influência sobre eles?
— Sim, porque nesse trabalho manual de transformação
da matéria existe algo que deve elevar o espírito, ainda o menos dotado. Uma
influência magnética age sobre ele. O ferro é o pai de todos os minerais: é o
mais útil ao homem e representa para ele a vida de todos os dias, ao passo que
os metais que chamais ricos representam
para os espíritos menos evoluídos a fonte da satisfação de todas as paixões
humanas. São os instrumentos do espírito do mal.
4. ─
Os metais podem transformar-se, todos, uns nos outros, como pretendem certos
sábios?
─ Sim. Mas tal transformação só se
fará com o tempo.
5. ─
E o diamante?
─ É carbono desprendido da fonte que o produziu em
estado gasoso e que se cristalizou sob pressões que não podeis apreciar. Mas
chega de perguntas. Não posso respondê-las.
TERTULIANO
OBSERVAÇÃO DO SR. JOBARD: Geralmente os Espíritos se
recusam a responder às perguntas que poderiam fazer a fortuna de um homem sem
trabalho. A este cabe buscar, porque as pesquisas fazem parte das provas que
deve sofrer na penitenciária que
devemos atravessar. É provável que os Espíritos não saibam mais que nós quanto
às descobertas a fazer; podem, entretanto, pressenti-las, como nós; podem
guiar-nos em nossas pesquisas, mas não nos podem evitar o prazer ou o trabalho
de pesquisar. Nem por isso é menos agradável, quando julgamos ter uma solução,
obter a sua aprovação, que podemos considerar como uma confirmação.
NOTA: Sobre o assunto da observação acima, vide o Livro dos Espíritos, nº. 532 e
seguintes; o Livro dos Médiuns, cap.
das Evocações - Perguntas que podem ser
feitas aos Espíritos, nº. 78 e seguintes.
OBSERVAÇÃO DO SR. ALLAN KARDEC: A carta do nosso
honrado confrade é anterior à publicação do número de março da Revista, no qual
inserimos um artigo sobre o Sr. Poinsot. Quanto a Henri Mondeux, várias
explicações foram dadas na Sociedade, mas as circunstâncias não permitiram
ainda completar sua evocação, motivo pelo qual ainda não nos manifestamos.
Quanto ao pedido do Sr. Jobard de nos assegurarmos da identidade do Espírito
que se comunicou sob o nome de Tertuliano, já lhe respondemos em tempo o que a
respeito dissemos em nosso Livro dos
Médiuns. Não poderia haver provas materiais de identidade do Espírito de
personagens antigos. Sobretudo quando se trata de um ensinamento superior, o
mais das vezes o nome é apenas um meio de fixar as ideias, visto que entre os
Espíritos que nos vêm instruir, o número dos desconhecidos na Terra é
incontestavelmente o maior. O nome é mais um sinal de analogia do que de
identidade. Só se deve ligarlhe uma importância secundária. O que há a
considerar, antes de tudo, é a bondade e a racionalidade do ensino. Se em nada
desmentir o caráter do Espírito cujo nome toma, se estiver à sua altura, é o
essencial. Se for inferior, a origem deve ser suspeita, porque um Espírito pode
fazer melhor, mas não pior do que quando vivo, desde que pode ganhar, mas não
perder o que adquiriu. As respostas seguintes, consideradas sob tal ponto de
vista, nos parecem atribuíveis a Tertuliano, de onde concluímos que pode ser
ele, sem poder afirmá-lo, ou um Espírito de seu nível, que tomou esse nome para
indicar a categoria que ocupa.
As perguntas e respostas que se seguem nos foram
enviadas por um de nossos correspondentes em São Petersburgo.
1. ─ Eu queria entender qual pode ser a finalidade da beleza no Universo. Não será um escolho que serve de provação? ─ Crê-se em tudo o que se espera; espera-se tudo o que se ama; ama-se tudo o que é belo. Assim, a beleza contribui para fortalecer a fé. Se muitas vezes ela se torna uma tentação, não é por causa da beleza em si, que é um atributo das obras de Deus, mas por causa das paixões que, semelhantes às Harpias, fanam tudo o que tocam.
1. ─ Eu queria entender qual pode ser a finalidade da beleza no Universo. Não será um escolho que serve de provação? ─ Crê-se em tudo o que se espera; espera-se tudo o que se ama; ama-se tudo o que é belo. Assim, a beleza contribui para fortalecer a fé. Se muitas vezes ela se torna uma tentação, não é por causa da beleza em si, que é um atributo das obras de Deus, mas por causa das paixões que, semelhantes às Harpias, fanam tudo o que tocam.
2. ─
E que dirás do amor?
─ É um bem de Deus, quando germina e se desenvolve
num coração não corrompido, casto e puro; é uma calamidade quando as paixões a
ele se misturam. Tanto eleva e depura no primeiro caso, quanto perturba e agita
no segundo. É sempre a mesma admirável lei do Eterno: beleza, amor, memória de
outra existência, talentos que trazeis ao nascer. Todos os dons do Criador
podem tornar-se venenos ao sopro contaminado das paixões que o livre-arbítrio
pode conter ou desenvolver.
3. ─
Peço a um bom Espírito a bondade de me esclarecer quanto às perguntas que lhe
vou submeter, a propósito dos fatos relatados às páginas 223 e seguintes do Livro dos Médiuns sobre a
transfiguração.
─ Pergunte.
4. ─
Se no aumento do volume e do peso da mocinha dos arredores de SaintÉtienne, o
fenômeno se produzia pelo adensamento de seu perispírito, combinado com o de
seu irmão, como é que os olhos dela, que deviam ter ficado no mesmo lugar,
podiam ver através da espessa camada de um novo corpo, que se formava ante
eles?
─ Como veem os sonâmbulos com as
pálpebras fechadas: pelos olhos da alma.
5. ─
No citado fenômeno o corpo aumentou. No fim do Capítulo VIII está dito que é
provável que se a transfiguração tivesse ocorrido sob o aspecto de uma
criancinha, o peso teria diminuído proporcionalmente. Não posso me dar conta,
de acordo com a teoria da radiação e da transfiguração do perispírito, que ela
pudesse reduzir um corpo sólido. Parece-me que este deveria ultrapassar os dois
perispírito combinados.
─ Como o corpo pode tornar-se invisível pela vontade
de um Espírito superior, o da mocinha se torna invisível por uma força
independente de sua vontade. Ao mesmo tempo, combinando-se com o da criança,
seu perispírito pode formar, e com efeito forma, a imagem dessa criança. A
teoria da mudança do peso específico te é conhecida.
6. ─
Depois de ter dissipado uma a uma as minhas dúvidas e reafirmado minha fé na
sua base, o Espiritismo me deixa uma questão não resolvida. Ei-la. Como os
Espíritos novos, que Deus cria, e que se destinam a um dia tornar-se Espíritos
puros depois de terem passado pela peneira de uma porção de existências e de
provas, saem tão imperfeitos das mãos do Criador, que é a fonte de toda
perfeição e não se melhoram gradativamente senão se afastando de sua origem?
─ Esse mistério é um dos que o Eterno não nos permite
penetrar antes que nós, Espíritos errantes ou encarnados, tenhamos atingido a
perfeição que nos é assinalada graças à bondade divina, perfeição que nos
reaproximará de nossa origem e fechará o círculo da eternidade.
OBSERVAÇÃO: Nosso correspondente não nos diz qual foi
o Espírito que lhe respondeu, mas a sabedoria de suas respostas prova que não é
um Espírito vulgar, eis o essencial, porque, como se sabe, o nome pouco
importa. Nada temos a dizer quanto às suas primeiras respostas, que em todos os
pontos concordam com o que nos foi ensinado, prova de que a teoria que demos
dos fenômenos espíritas não é produto de nossa imaginação, pois que é dada por
outros Espíritos, em tempos e lugares diversos e fora de nossa influência
pessoal. Somente a última resposta não resolve a pergunta feita, por isso vamos
tratar de complementá-la. Digamos para começar que a solução pode ser deduzida
facilmente do que está dito com algum desenvolvimento no Livro dos Espíritos, sobre a progressão
dos Espíritos, n.º 114 e seguintes. Teremos pouco a acrescentar. Os
Espíritos saem das mãos do Criador simples e ignorantes, mas nem são bons, nem
maus, pois do contrário, desde a sua origem, Deus teria votado uns ao bem e à
felicidade, e outros ao mal e à desgraça, o que não estaria em concordância nem
com a sua bondade, nem com a sua justiça. No momento de sua criação, os
Espíritos não são imperfeitos senão do ponto de vista do desenvolvimento
intelectual e moral, como a criança ao nascer; como o germe contido no grão da
árvore. Mas não são maus por natureza. Ao mesmo tempo que neles se desenvolve a
razão, o livre-arbítrio em virtude do qual escolhem uns o bom caminho e outros
o mau, faz que uns cheguem ao objetivo mais cedo que outros. Mas todos, sem
exceção, devem passar pelas vicissitudes da vida corpórea, a fim de adquirir a
experiência e de ter o mérito da luta. Ora, nessa luta uns triunfam e outros
sucumbem, mas os vencidos podem sempre reerguer-se e resgatar as suas derrotas.
Esta questão levanta outra, mais grave, que várias
vezes nos foi apresentada. É a seguinte: Deus, que tudo sabe, o passado, o
presente e o futuro, deve saber que tal Espírito tomará o mau caminho, sucumbirá
e será infeliz. Neste caso, por que o criou?
Sim. Certamente Deus sabe muito bem a linha que
seguirá um Espírito, do contrário não teria a ciência soberana. Se o mau
caminho a que se atira o Espírito devesse fatalmente conduzi-lo a uma eternidade absoluta de penas e
sofrimentos; se, porque tivesse falido, lhe fosse para sempre vedado
reabilitar-se, a objeção acima teria uma força de lógica incontestável e talvez
aí esteja o mais poderoso argumento contra o dogma dos suplícios eternos,
porque, neste caso, impossível é sair do dilema: ou Deus não conhece a sorte
reservada à sua criatura e então não tem a soberana ciência, ou, se a conhece,
Ele a criou para ser eternamente infeliz, e então não tem a soberana bondade.
Com a Doutrina Espírita, tudo concorda perfeitamente, e não há contradição:
Deus sabe que um Espírito toma um mau caminho; conhece todos os perigos de que
está este repleto, mas também sabe que dele sairá e que apenas terá um atraso.
Em sua bondade, e para lhe facilitar, Ele multiplica em sua rota as
advertências salutares, das quais infelizmente o Espírito nem sempre se
aproveita. É a história de dois viajantes que querem chegar a uma bela região
onde viverão felizes. Um sabe evitar os obstáculos, as tentações que o fariam
parar no caminho; o outro, por imprudência, choca-se nos mesmos obstáculos,
leva quedas que o atrasam, mas chegará por sua vez. Se, durante a caminhada,
pessoas caridosas o previnem dos perigos que corre e se, por presunção, não as
escuta, não será senão mais repreensível.
O dogma da eternidade absoluta das penas abre brecha
por todos os lados, não só pelo ensino dos Espíritos, mas pela simples lógica
do bom-senso. Sustentá-lo é desconhecer os atributos mais essenciais da
Divindade; é contradizer-se afirmando de um lado o que se nega do outro; ele
cai e as fileiras de seus partidários se esclarecem dia a dia, de tal sorte
que, se é absolutamente necessário nele crer para ser católico, em breve não
haverá mais verdadeiros católicos, assim como hoje não os haveria se a Igreja
tivesse persistido em fazer artigo de fé o movimento do Sol e os seis dias da
Criação. Persistir numa tese que a razão repele, é desfechar um golpe fatal na
religião e dar armas ao materialismo. Em sentido contrário, o Espiritismo vem
reanimar o sentimento religioso que se dobra aos golpes desferidos pela
incredulidade, dando sobre as questões do futuro uma solução que o mais severo
raciocínio pode admitir. Rejeitá-lo é recusar a tábua de salvação.
Ensinamentos e dissertações espiritas
Sra. de Girardin (Sociedade espírita de Paris, médium: Sra. Costel)NOTA: Tendo sido feitas algumas críticas sobre a comunicação ditada numa sessão anterior pela Sra. de Girardin, esta as respondeu espontaneamente. Ela faz alusão às circunstâncias que acompanharam aquela comunicação.
“Venho agradecer ao associado que teve a bondade de apresentar minha defesa e minha reabilitação moral perante vós. Com efeito, em vida eu amava e respeitava as leis do bom gosto, que são as da delicadeza, diria mais, do coração, para o sexo a que eu pertencia. Depois de minha morte, permitiu Deus que eu fosse bastante elevada para praticar com facilidade e simplicidade os deveres da caridade que nos ligam todos, Espíritos e homens. Dada esta explicação, não insistirei sobre a comunicação assinada com meu nome, pois a crítica e a censura não convêm a meu médium nem a mim. Assim, crede que virei quando for evocada, mas que jamais me interporei nos incidentes fúteis. Eu vos falei das crianças. Deixai-me retomar este assunto, que foi a chaga dolorosa de minha vida. A mulher necessita da dupla coroa do amor e da maternidade para preencher o mandato de abnegação que Deus lhe confiou, ao lançá-la na Terra. Ah! Eu jamais conheci essa doce e suave preocupação que na alma imprimem esses frágeis depósitos. Quantas vezes segui com os olhos rasos de lágrimas amargas as crianças que, brincando, vinham roçar meu vestido. Eu sentia a angústia e a humilhação de minha derrota. Eu tremia, esperava, escutava, e minha vida, cheia dos sucessos do mundo, frutos cheios de cinzas, não me deixou senão um gosto amargo e decepcionante.”
DELPHINE DE GIRARDIN
OBSERVAÇÃO: Há neste trecho uma lição que não pode passar despercebida. Fazendo alusão a certas passagens de sua comunicação precedente, que tinha suscitado algumas objeções, disse a Sra. de Girardin que em vida amava e respeitava as leis do bom gosto, que são as da delicadeza, e que conservou esse sentimento depois da morte. Consequentemente, repudia tudo o que, nas comunicações que levam o seu nome, se afaste do bom gosto. Depois da morte, a alma reflete as qualidades e defeitos que tinha na vida corporal, salvo os progressos que possa ter feito no bem, porque pode ter-se melhorado, mas não se mostra nunca inferior ao que era. Na apreciação das comunicações de um Espírito, pois, há muitas vezes nuanças de extrema delicadeza a observar, para distinguir o que realmente é dele do que poderia ser uma substituição. Os Espíritos realmente elevados não se contradizem nunca e se pode sem temor rejeitar tudo quanto desmentisse o seu caráter. Esta apreciação é tanto mais difícil quanto a uma comunicação perfeitamente autêntica pode misturar-se um reflexo, seja do próprio Espírito do médium, que não expressa exatamente o pensamento, seja de um Espírito estranho, que se interpõe, insinuando seu próprio pensamento no do médium. Assim, deve-se considerar como apócrifas as comunicações que, em todos os pontos, e pelo fundo das ideias, desmintam o caráter do Espírito cujo nome levam. Mas seria injusto condenar-lhes o conjunto por causa de algumas manchas parciais devidas à causa que acabamos de assinalar.
“Venho agradecer ao associado que teve a bondade de apresentar minha defesa e minha reabilitação moral perante vós. Com efeito, em vida eu amava e respeitava as leis do bom gosto, que são as da delicadeza, diria mais, do coração, para o sexo a que eu pertencia. Depois de minha morte, permitiu Deus que eu fosse bastante elevada para praticar com facilidade e simplicidade os deveres da caridade que nos ligam todos, Espíritos e homens. Dada esta explicação, não insistirei sobre a comunicação assinada com meu nome, pois a crítica e a censura não convêm a meu médium nem a mim. Assim, crede que virei quando for evocada, mas que jamais me interporei nos incidentes fúteis. Eu vos falei das crianças. Deixai-me retomar este assunto, que foi a chaga dolorosa de minha vida. A mulher necessita da dupla coroa do amor e da maternidade para preencher o mandato de abnegação que Deus lhe confiou, ao lançá-la na Terra. Ah! Eu jamais conheci essa doce e suave preocupação que na alma imprimem esses frágeis depósitos. Quantas vezes segui com os olhos rasos de lágrimas amargas as crianças que, brincando, vinham roçar meu vestido. Eu sentia a angústia e a humilhação de minha derrota. Eu tremia, esperava, escutava, e minha vida, cheia dos sucessos do mundo, frutos cheios de cinzas, não me deixou senão um gosto amargo e decepcionante.”
DELPHINE DE GIRARDIN
OBSERVAÇÃO: Há neste trecho uma lição que não pode passar despercebida. Fazendo alusão a certas passagens de sua comunicação precedente, que tinha suscitado algumas objeções, disse a Sra. de Girardin que em vida amava e respeitava as leis do bom gosto, que são as da delicadeza, e que conservou esse sentimento depois da morte. Consequentemente, repudia tudo o que, nas comunicações que levam o seu nome, se afaste do bom gosto. Depois da morte, a alma reflete as qualidades e defeitos que tinha na vida corporal, salvo os progressos que possa ter feito no bem, porque pode ter-se melhorado, mas não se mostra nunca inferior ao que era. Na apreciação das comunicações de um Espírito, pois, há muitas vezes nuanças de extrema delicadeza a observar, para distinguir o que realmente é dele do que poderia ser uma substituição. Os Espíritos realmente elevados não se contradizem nunca e se pode sem temor rejeitar tudo quanto desmentisse o seu caráter. Esta apreciação é tanto mais difícil quanto a uma comunicação perfeitamente autêntica pode misturar-se um reflexo, seja do próprio Espírito do médium, que não expressa exatamente o pensamento, seja de um Espírito estranho, que se interpõe, insinuando seu próprio pensamento no do médium. Assim, deve-se considerar como apócrifas as comunicações que, em todos os pontos, e pelo fundo das ideias, desmintam o caráter do Espírito cujo nome levam. Mas seria injusto condenar-lhes o conjunto por causa de algumas manchas parciais devidas à causa que acabamos de assinalar.
A pintura e a música (Sociedade espírita de Paris - Médium: Sr. Alfred Didier)
A Arte foi definida cem mil vezes: é o belo, o verdadeiro, o bem. A música, que é um dos ramos da Arte, está inteiramente no domínio da sensação. Entendamo-nos e procuremos não ser obscuro. A sensação se produz no homem quando este compreende a Arte de duas maneiras distintas, mas estreitamente ligadas: A sensação do pensamento, que tem por conclusão a melancolia ou a filosofia, e depois a sensação que pertence toda ao coração. A música, a meu ver, é a arte que vai mais diretamente ao coração. A sensação ─ compreendei-me ─ está toda no coração. A pintura, a arquitetura, a escultura, a pintura antes de tudo, atingem muito mais a sensação cerebral. Numa palavra, a música vai do coração ao espírito, a pintura do pensamento ao coração. A exaltação religiosa criou o órgão. Na Terra, quando a poesia toca o órgão, os anjos do Céu lhe respondem. Assim, a música séria, religiosa, eleva a alma e os pensamentos. A música leve faz vibrar os nervos, nada mais. Eu bem que gostaria de citar algumas personalidades, mas não tenho o direito: não estou mais na Terra. Amai o Réquiem de Mozart, que o matou. Não desejo, mais do que os Espíritos, a vossa morte pela música, mas a morte viva; aí está o esquecimento de tudo quanto é terreno, pela elevação moral.
LAMENNAIS
LAMENNAIS
Festas dos bons Espíritos - A chegada de um irmão (Enviada pela Sra. Cazemajoux, médium, de Bordéus)
Também temos nossas festas, e isto acontece com frequência, porque os bons Espíritos da Terra, nossos bem-amados irmãos, despojando-se de seu envoltório material, nos estendem os braços e nós vamos, em grupo inumerável, recebê-los à entrada da estância que daí em diante vão habitar conosco. Nessas festas, não se agitam, como nas vossas, as paixões humanas que sob rostos graciosos e frontes coroadas de flores ocultam a inveja, o orgulho, o ciúme, a vaidade, o desejo de agradar e de primar sobre rivais nesses prazeres fictícios. Aqui reinam a alegria, a paz, a concórdia; cada um está contente com a posição que lhe é designada e feliz com a felicidade de seus irmãos. Então, meus amigos! Com esse acordo perfeito que reina entre nós, nossas festas têm um encanto indescritível. Milhões de músicos cantam acompanhados por liras harmoniosas as maravilhas de Deus e da Criação, com timbres mais deslumbrantes que vossas mais suaves melodias. Longas procissões aéreas de Espíritos volitam como zéfiros, lançando sobre os recém-chegados nuvens de flores cujo perfume e variadas nuanças não podeis compreender. Depois vem o banquete fraterno a que são convidados os que com felicidade terminaram suas provas, e que vêm receber a recompensa de seus trabalhos. Oh! meu amigo, tu desejarias saber mais, mas a vossa linguagem é incapaz de descrever essas magnificências. Eu vos disse bastante, a vós que sois meus bem-amados, para vos dar o desejo de aspirá-las, e então, caro Émile, livre da missão que realizo junto a ti, na Terra, eu a continuarei para te conduzir através do espaço, e te fazer desfrutar de todas essas felicidades.
FELÍCIA
(Esposa do evocador e há um ano seu guia protetor)
FELÍCIA
(Esposa do evocador e há um ano seu guia protetor)
Vinde a nós (Enviada pela Sra. Cazemajoux, médium, de Bordéus)
O Espiritismo é a aplicação da moral evangélica pregada pelo Cristo em toda a sua pureza; e os homens que o condenam sem conhecê-lo são pouco prudentes. Com efeito, por que qualificar de superstição, de charlatanice, de sortilégio, de demonomania as coisas que o vulgar bom senso faria aceitar se quisessem estudá-lo? A alma é imortal: é o espírito. A matéria inerte é o corpo perecível a despojar-se de suas formas para se transformar, quando abandonada pelo Espírito, num monte de podridão sem nome. E vós achais lógico, vós que não acreditais no Espiritismo, que esta vida, que para a maioria dentre vós é de amargura, de dores, de decepções, um verdadeiro purgatório, não tenha outro objetivo senão o túmulo! Desenganai-vos. Vinde a nós, pobres deserdados dos bens, das grandezas e dos prazeres terrenos. Vinde a nós e sereis consolados, vendo que vossas dores, vossas privações, vossos sofrimentos devem abrir-vos as portas de mundos felizes e que Deus, justo e bom para todas as criaturas, só nos provou para nosso bem, segundo estas palavras do Cristo: Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. ─ Vinde, pois, incrédulos e materialistas. Colocai-vos sob a bandeira na qual, em letras de ouro, estão escritas estas palavras: Amor e caridade para os homens, que são todos irmãos; bondade e justiça, indulgência de um pai grande e generoso para os Espíritos que criou, e que eleva a si por caminhos seguros, embora vos sejam desconhecidos. A caridade, o progresso moral e o desenvolvimento intelectual vos conduzirão ao autor e senhor de todas as coisas.
Não vos instruímos senão para que, por vossa vez, trabalheis para espalhar essa instrução, mas sobretudo fazei-o sem azedume. Sede pacientes e esperai. Lançai a semente. A reflexão e a ajuda de Deus fá-la-ão frutificar, a princípio para um pequeno número que fará como vós, e aumentando pouco a pouco o número dos trabalhadores, vos fará esperar, após as semeaduras, uma boa e abundante colheita.
FERDINAND,
Filho do médium.
Não vos instruímos senão para que, por vossa vez, trabalheis para espalhar essa instrução, mas sobretudo fazei-o sem azedume. Sede pacientes e esperai. Lançai a semente. A reflexão e a ajuda de Deus fá-la-ão frutificar, a princípio para um pequeno número que fará como vós, e aumentando pouco a pouco o número dos trabalhadores, vos fará esperar, após as semeaduras, uma boa e abundante colheita.
FERDINAND,
Filho do médium.
Progresso intelectual e moral (Enviada pelo Sr. Sabô, de Bordéus)
Venho dizer-vos que o progresso moral é o de mais útil aquisição, porque nos corrige as más inclinações e nos torna bons, caridosos e devotados aos nossos irmãos. Contudo, o progresso intelectual é também útil ao nosso adiantamento, porque eleva a alma e faz-nos julgar mais corretamente as nossas ações, assim facilitando o progresso moral. Inicia-nos aos ensinos que Deus nos proporciona há séculos por intermédio de tantos homens de méritos diversos, que vieram sob todas as formas e em todas as línguas para nos dar a conhecer a verdade, e que não eram senão Espíritos já adiantados, enviados por Deus para o desenvolvimento do entendimento humano. Mas, na época em que viveis, a luz que iluminava apenas um pequeno número vai brilhar para todos. Trabalhai, pois, para compreenderdes a grandeza, o poder, a majestade, a justiça de Deus; para compreenderdes a sublime beleza de suas obras; para compreenderdes as magníficas recompensas concedidas aos bons e os castigos infligidos aos maus; para compreenderdes, enfim, que o único objetivo que deveis aspirar é o de vos aproximardes dele.
GEORGES
(Bispo de Périgueux e de Sarlat, feliz por ser um dos guias do médium)
GEORGES
(Bispo de Périgueux e de Sarlat, feliz por ser um dos guias do médium)
A inundação (Enviada pelo Sr. Casimir H..., de Insbruck, traduzido do alemão)
Numa região outrora estéril, um dia surgiu uma fonte. A princípio era um simples filete d’água que correu na planície, e a que deram pouca importância. Pouco a pouco a linfa engrossou, tornando-se ribeirão; alargou-se e cobriu as terras vizinhas, mas as que ficaram descobertas foram fertilizadas e produziram cem por um. Contudo, um proprietário ribeirinho, descontente por ver seu terreno recuado, tentou barrar a torrente para reconquistar a porção coberta pelas águas, julgando aumentar sua riqueza. Ora, aconteceu que o ribeirão desviado submergiu tudo, terreno e proprietário.
Eis a imagem do progresso: como rio impetuoso, rompe os diques que se lhe opõem e arrasta com ele os imprudentes que ao invés de seguir-lhe o curso, procuram travá-lo. Será o mesmo com o Espiritismo. Deus o envia para fertilizar o terreno moral da Humanidade. Bem-aventurados os que souberem aproveitá-lo e infelizes os que tentarem opor-se aos desígnios de Deus! Não o vedes avançar a passos de gigante pelos quatro pontos cardeais? Por toda parte sua voz se faz ouvir e em breve cobrirá de tal modo a dos inimigos, que estes serão forçados ao silêncio e constrangidos a curvar-se ante a evidência. Homens! Aqueles que tentam deter a marcha irresistível do progresso vos preparam rudes provas. Deus permite que assim seja para castigo de uns e glorificação de outros, mas vos dá no Espiritismo o piloto que deverá conduzir-vos ao porto, levando em suas mãos a bandeira da esperança.
WILHELM
Avô do médium
Eis a imagem do progresso: como rio impetuoso, rompe os diques que se lhe opõem e arrasta com ele os imprudentes que ao invés de seguir-lhe o curso, procuram travá-lo. Será o mesmo com o Espiritismo. Deus o envia para fertilizar o terreno moral da Humanidade. Bem-aventurados os que souberem aproveitá-lo e infelizes os que tentarem opor-se aos desígnios de Deus! Não o vedes avançar a passos de gigante pelos quatro pontos cardeais? Por toda parte sua voz se faz ouvir e em breve cobrirá de tal modo a dos inimigos, que estes serão forçados ao silêncio e constrangidos a curvar-se ante a evidência. Homens! Aqueles que tentam deter a marcha irresistível do progresso vos preparam rudes provas. Deus permite que assim seja para castigo de uns e glorificação de outros, mas vos dá no Espiritismo o piloto que deverá conduzir-vos ao porto, levando em suas mãos a bandeira da esperança.
WILHELM
Avô do médium