Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862

Allan Kardec

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Julho

O ponto de vista

Não há quem não tenha notado o quanto as coisas mudam de aspecto, conforme o ponto de vista sob o qual são consideradas. Não só se modifica o aspecto, mas também a sua própria importância. Coloquemo-nos no centro de qualquer coisa, mesmo pequena, e parecerá grande. Se nos colocarmos fora, será bem diferente. Quem vê algum objeto do alto de um monte o vê insignificante, mas de baixo ele parece gigantesco.

É um efeito de óptica, mas que também se aplica às coisas morais. Um dia inteiro de sofrimento vos parecerá uma eternidade, e à medida que se aproxima o fim da jornada, vos admirais por vos terdes desesperado por tão pouco.

As aflições da infância também têm sua importância relativa. Para a criança elas são tão amargas quanto as da idade madura. Por que, então, nos parecem tão fúteis? Porque não estamos mais mergulhados na infância, ao passo que a criança está inteiramente nela e não vê além do seu pequeno círculo de atividade. Ela as vê do interior. Nós, do exterior.

Suponhamos um ser colocado, em relação a nós, na posição em que estamos em relação à criança. Ele julgará as nossas preocupações do mesmo ponto de vista, e as achará pueris.

Um carreteiro é insultado por outro carreteiro. Eles discutem e brigam. Se um grão-senhor for injuriado por um carreteiro, não se julgará ofendido e não lutará com ele. Por quê? Porque se coloca fora da sua esfera. Julga-se de tal modo superior que a ofensa não o atinge. Mas, se ele descer ao nível do adversário, colocar-se-á por pensamento no mesmo meio e bater-se-á.

O Espiritismo nos mostra uma aplicação desse princípio muito mais importante em suas consequências. Ele nos mostra a vida na Terra pelo que ela é, colocando-nos no ponto de vista da vida futura. Pelas provas materiais que nos fornece; pela intuição clara, precisa e lógica que nos dá; pelos exemplos que põe sob nossos olhos, para lá nos transporta pelo pensamento. A gente a vê e a compreende, não mais com essa noção vaga, incerta, problemática que nos desenhavam do futuro, e que, involuntariamente, deixava dúvidas. Para o espírita, é uma certeza adquirida, uma realidade.

Ele faz ainda mais: Mostra-nos a vida da alma, o ser essencial, porque é o ser pensante, remontando a uma época desconhecida, no passado, e se estendendo indefinidamente pelo futuro, de tal sorte que a vida terrena, mesmo de um século, não passa de um ponto nesse longo percurso. Se a vida inteira é tão pouca coisa comparada com a vida da alma, o que serão, então, os incidentes da vida?

Entretanto, o homem, colocado no centro desta vida, preocupa-se como se ela fosse durar para sempre. Para ele tudo assume proporções colossais, pois a menor pedra que o fere afigura-se-lhe um rochedo; uma decepção o desespera; um revés o abate; uma palavra o enfurece. Com a visão limitada ao presente, àquilo que o afeta imediatamente, ele exagera a importância dos menores acidentes: um negócio que falha lhe tira o apetite; uma questão de precedência é um negócio de Estado; uma injustiça o põe fora de si. Triunfar é a meta de todos os seus esforços, o objetivo de todas as suas combinações.

O que é triunfar, para a maioria? Será criar, por meios honestos, uma existência tranquila, se eles não têm de que viver? Será a nobre emulação de adquirir talento e desenvolver a inteligência? Será o desejo de deixar depois de si um nome honrado e realizar trabalhos úteis para a Humanidade? Não. Triunfar é suplantar seu vizinho, é eclipsá-lo, é afastá-lo ou mesmo derrubá-lo para tomar-lhe o lugar.

Para tão belo triunfo, que talvez a morte não permita aproveitar por vinte e quatro horas, quantas preocupações! Quantas tribulações! Quanto talento por vezes despendido e que poderia ter sido mais bem empregado! Depois, quanta raiva, quanta insônia se não triunfar! Que pungente inveja causa o sucesso de um rival! Então, culpa-se a má estrela, a sorte, a chance fatal, ao passo que a má estrela as mais das vezes é a inabilidade e a incapacidade.

Na verdade, dir-se-ia que o homem assume a tarefa de tornar penosos, na medida de suas possibilidades, os poucos instantes que deve passar na Terra e dos quais não é senhor, pois jamais tem certeza do dia seguinte.

Como tudo isso muda de aspecto quando, pelo pensamento, sai o homem do vale estreito da vida terrena e se eleva na radiosa, esplêndida, incomensurável vida de além-túmulo! Como então deplora os tormentos que prazerosamente criou para si mesmo! Como então lhe parecem mesquinhas e pueris as ambições, a inveja, as suscetibilidades, as vãs satisfações do orgulho! É como, na idade madura, considerar as brincadeiras infantis. É como, do topo da montanha, olhar os homens no vale.

Partindo desse ponto de vista, tornar-se-á voluntariamente joguete de uma ilusão? Não. Ao contrário, estará na realidade, na posse da verdade. Para ele, a ilusão é ver as coisas do ponto de vista terreno.

Com efeito, não há ninguém na Terra que não ligue mais importância àquilo que para ele deve durar muito tempo, do que àquilo que deve durar um dia; que não prefira uma felicidade duradoura a uma efêmera. A gente pouco se inquieta com um aborrecimento passageiro. Acima de tudo, o que interessa é a situação normal.

Se, pois, elevarmos o pensamento de maneira a abarcar a vida da alma, chegaremos forçosamente a ver, como consequência, que a vida terrena é uma estação passageira; que a vida espiritual é a vida real, porque indefinida; que é ilusão tomar a parte pelo todo, isto é, a vida do corpo, apenas transitória, pela vida definitiva.

O homem que apenas considera as coisas do ponto de vista terreno é como aquele que, estando dentro de casa, nem pode julgar da forma, nem da importância da construção. Ele julga sob falsas aparências, porque não vê tudo, ao passo que aquele que a vê de fora julga direito, porque só ele pode avaliar o conjunto.

Dir-se-á que para ver as coisas dessa maneira é necessária uma inteligência fora do comum, um espírito filosófico que não se encontra nas massas, de onde necessário seria concluir que com raras exceções a Humanidade arrastar-se-á sempre no terra a terra. É um erro. Para identificar-se com a vida futura não é preciso uma inteligência excepcional, nem grandes esforços de imaginação, pois cada um traz consigo a intuição e o desejo. Mas a maneira pela qual geralmente a apresentam é muito pouco sedutora, porque oferece como alternativas as chamas eternas ou a contemplação perpétua, o que leva muitos a preferirem o nada. Daí a incredulidade absoluta de uns e a dúvida no maior número.

O que faltou até agora foi a prova irrefutável da vida futura, e essa prova vem dá-la o Espiritismo, não mais por uma vaga teoria, mas por fatos patentes. Mais ainda, ele a mostra tal qual a razão mais severa pode aceitar, porque tudo explica, tudo justifica, resolvendo todas as dificuldades. Porque é claro e lógico, está ao alcance de todos. É por isto que o Espiritismo reconduz à crença tanta gente que a havia perdido.

Diariamente demonstra a experiência quantos simples operários e camponeses sem instrução compreendem sem esforço esse raciocínio. Eles colocam-se tanto mais à vontade nesse novo ponto de vista, quanto mais nele acham, como todas as criaturas infelizes, uma imensa consolação, a única compensação possível em sua existência penosa e laboriosa.

Se se generalizasse essa maneira de encarar as coisas terrenas, não teria ela como consequência destruir a ambição, estimulante dos grandes empreendimentos, dos mais úteis trabalhos, mesmo das obras de gênio?

Se a Humanidade inteira sonhasse apenas com a vida futura, tudo não periclitaria neste mundo? O que fazem os monges nos conventos, senão ocupar-se exclusivamente do Céu? Ora, o que seria da Terra se todos se fizessem monges? Tal estado de coisas seria desastroso e os inconvenientes maiores do que se supõe, porque os homens com isso perderiam na Terra mas nada ganhariam no Céu.

Entretanto, os resultados do princípio que expomos são completamente outros para quem quer que não o compreenda pela metade, conforme vamos explicar.

A vida corpórea é necessária ao Espírito, ou à alma, o que é a mesma coisa, para que possa realizar neste mundo material as funções que lhe são designadas pela Providência. É uma das engrenagens da harmonia universal. A atividade que é forçado a desenvolver nas funções que exerce sem suspeitar, crendo agir por si mesmo, ajuda no desenvolvimento de sua inteligência e lhe facilita o adiantamento.

Sendo a felicidade do Espírito na vida espiritual proporcional ao seu progresso e ao bem que pôde fazer como homem, disso resulta que quanto maior importância adquire a vida espiritual aos olhos do homem, mais ele sente a necessidade de fazer o que for necessário para garantir o melhor lugar possível.

A experiência dos que viveram vem provar que uma vida terrena inútil ou mal empregada não tem proveito para o futuro, e que aqueles que não buscam aqui senão as satisfações materiais pagam muito caro por elas, quer por sofrimentos no mundo dos Espíritos, quer pela obrigação em que se acham de recomeçar sua tarefa em condições mais penosas que as do passado. Este é o caso de muitos daqueles que sofrem na Terra.

Assim, considerando as coisas deste mundo do ponto de vista extracorpóreo, longe de ser estimulado à despreocupação e à ociosidade, o homem compreende melhor a necessidade do trabalho.

Partindo do ponto de vista terreno, essa necessidade é uma injustiça aos seus olhos quando ele se compara aos que podem viver sem nada fazerem. Ele os inveja e deles tem ciúmes.

Partindo do ponto de vista espiritual, essa necessidade tem sua razão de ser, sua utilidade, e ele a aceita sem murmurar, pois compreende que sem o trabalho ficará indefinidamente na inferioridade e privado da felicidade suprema a que aspira e que não poderá alcançar se não se desenvolver intelectual e moralmente.

Sob este ponto de vista, parece que muitos monges compreendem mal o objetivo da vida terrena, e ainda menos as condições da vida futura. Pelo rigoroso isolamento, privam-se dos meios de se tornarem úteis aos seus semelhantes. Muitos dos que hoje se acham no mundo dos Espíritos confessam-nos que se enganaram redondamente e que sofrem as consequências de seu erro.

Este ponto de vista tem para o homem outra enorme consequência imediata. É a de lhe tornar mais suportáveis as tribulações da vida. É muito natural, e ninguém o proíbe de buscar o bem-estar e de passar o mais agradavelmente possível a sua existência na Terra. Mas sabendo que aqui está apenas momentaneamente e que um futuro melhor o aguarda, pouco se atormenta com as decepções que experimenta.

Vendo as coisas do alto, ele recebe os reveses com menor amargor; fica indiferente às embrulhadas de que é vítima por parte dos ciumentos e dos invejosos; reduz a seu justo valor os objetos de sua ambição e coloca-se acima das pequenas suscetibilidades do amor-próprio.

Liberto das preocupações criadas pelo homem que não sai da esfera estreita, pela perspectiva grandiosa que se desdobra aos seus olhos, é, ao contrário, mais livre para se entregar a um trabalho proveitoso para si próprio e para os outros. Os vexames, as diatribes, as maldades de seus inimigos não lhe são mais que nuvens imperceptíveis num imenso horizonte. Não se inquieta por elas mais do que pelas moscas que zumbem aos ouvidos, pois sabe que em breve estará livre disso.

Assim, todas as pequenas misérias que lhe suscitam, deslizam por ele como a água sobre o mármore. Colocado no ponto de vista terreno, irritar-se-ia e talvez se vingasse. Do ponto de vista extraterreno, ele as despreza como os salpicos de lama de um caminhante inadvertido. São os espinhos lançados no caminho e pelos quais passa, mesmo sem se dar ao trabalho de afastá-los, para não moderar a marcha para um objetivo mais sério que se propõe atingir.

Longe de malquerer seus inimigos, ele lhes agradece por lhe fornecerem oportunidades para exercitar a paciência e a moderação em proveito de seu progresso futuro, ao passo que perderia os seus frutos se descesse a represálias. Lamenta essas pessoas por tanto trabalho inútil, e diz para si mesmo que são eles que caminham sobre espinhos, por causa das preocupações que têm de fazer o mal.

Tal é o resultado da diferença do ponto de vista sob o qual se encara a vida: um nos dá fadiga e ansiedade, o outro, calma e serenidade.

Espíritas que experimentais decepções, deixai por um instante a Terra, em pensamento. Subi às regiões do infinito e mirai-as do alto, e vereis o que são elas.

Por vezes dizem: “Vós que sois infelizes, olhai para baixo e não para cima, e vereis criaturas ainda mais infelizes”. Isto é verdade, mas muitos dizem que o mal alheio não os cura. Muitas vezes o remédio só se encontra na comparação, e apenas nela se encontra para aqueles que têm dificuldade de olhar para cima sem dizerem:

“Por que têm esses o que não tenho?”

Ao contrário, se se colocassem no ponto de vista de que falamos, ao qual em breve seremos forçados, ficariam naturalmente muito acima daqueles aos quais poderiam invejar, porque vistos da lá, os maiores pareceriam muito pequenos.

Lembramo-nos de ter assistido, há uns quarenta anos, no Odeon, a uma peça em um ato intitulada Os Efêmeros, não nos lembramos de que autor. Mas, embora ainda jovem, tivemos uma forte impressão. A cena se passava no país dos efêmeros, cujos habitantes vivem apenas vinte e quatro horas. No espaço de vinte e quatro horas, vimo-los passarem do berço à adolescência, à mocidade, à idade madura, à velhice, à decrepitude e à morte. Nesse intervalo realizaram todos os atos da vida: batismo, casamento, negócios civis e governamentais, etc., mas, como o tempo era curto e as horas contadas, era preciso ter pressa. Tudo se fez com prodigiosa rapidez, o que não os impediu de fazerem intrigas e de sofrerem muito para satisfazerem as ambições e suplantar os outros.

Como se vê, a peça encerrava um conteúdo profundamente filosófico e involuntariamente o espectador, que num instante via desenrolar-se uma existência bem cheia em todas as suas fases, raciocinava: Que gente boba! Fazer tanto mal para uma vida tão curta! O que é que lhes resta dessa balbúrdia de uma ambição de algumas horas? Não seria melhor viver em paz?”

Eis aí um perfeito quadro da vida humana, vista do alto. Entretanto, a peça não durou muito mais que seus heróis, pois não foi compreendida. Se o autor ainda vivesse, o que ignoramos, talvez hoje fosse espírita.



Estatística de suicídios

No Siècle de... de maio de 1862, lê-se:

“Na Comédie sociale ou dix-neuvième siècle[1], o novo livro que o Sr. B. Gastineau acaba de publicar na Casa Dentu, encontramos esta curiosa estatística de suicídios:

“Calculou-se que desde o começo do século o número de suicídios na França não se eleva a menos de 300.000, e tal estimativa talvez esteja aquém da verdade, pois a estatística não fornece resultados completos senão a partir de 1836. De 1836 a 1852, isto é, num período de dezessete anos, houve 52.126 suicídios, ou seja, em média 3.066 por ano. Em 1858 contaram-se 3.903 suicídios, dos quais 853 mulheres e 3.050 homens; enfim, segundo a última estatística que vimos no correr do ano de 1859, 3.899 pessoas se mataram, a saber 3.057 homens e 842 mulheres.

“Constatando que o número de suicídios aumenta de ano para ano, o Sr. Gastineau deplora em termos eloquentes a triste monomania que parece haver-se apoderado da espécie humana.”

Eis uma rápida oração fúnebre pelos infelizes suicidas. Entretanto a questão nos parece muito séria e merece um exame atento. Do ponto de vista em que se acham as coisas, o suicídio já não é um fato isolado e acidental. Ele pode, a justo título, ser considerado como um mal social, uma verdadeira calamidade. Ora, um mal que regularmente arrebata de três a quatro mil pessoas anualmente em um país, e que segue uma progressão ascendente, não é devido a uma causa fortuita. Ele deve ter uma causa radical, absolutamente como quando se vê um grande número de pessoas morrerem do mesmo mal, o que deve chamar a atenção da ciência e a solicitude das autoridades. Em semelhante caso limitam-se a verificar o gênero de morte e o modo empregado para consumá-la, enquanto é negligenciado o elemento essencial, o único que poderia nos pôr a caminho do remédio: o motivo determinante de cada suicídio. Assim chegar-se-ia a constatar a causa predominante. Mas, salvo circunstâncias muito bem caracterizadas, acham mais simples e mais cômodo atribuí-los à classe dos monômanos e dos maníacos.

Incontestavelmente há suicídios por monomania, realizados fora do domínio da razão, como, por exemplo, os que ocorrem na loucura, nas febres altas, na embriaguez. Nestes a causa é puramente fisiológica. Mas, ao lado desses está a categoria muito mais numerosa dos suicídios voluntários, executados com premeditação e pleno conhecimento de causa.

Certas pessoas creem que o suicida jamais está no domínio de suas faculdades mentais. É um erro de que partilhávamos outrora, mas que caiu ante uma observação mais atenta. Com efeito, é muito natural pensar que o instinto de conservação esteja em a Natureza; que a destruição voluntária seja contra a Natureza, e que por isso muitas vezes se veja o instinto triunfar no último instante sobre a vontade de morrer, de onde se concluiu que, para realizar esse ato, é preciso ter perdido a cabeça.

Sem dúvida muitos suicidas são nesse momento tomados por uma espécie de vertigem e sucumbem a um primeiro momento de exaltação. Se o instinto de conservação os empolga no último instante, como que despertam e se agarram àvida, mas é muito evidente, também, que muitos se matam a sangue frio e com reflexão. A prova disto está nas preocupações calculadas que tomam; na ordem raciocinada que preside seu ato, o que não é uma característica de loucura.

Faremos notar, de passagem, um traço característico do suicida: é que os atos dessa natureza realizados em lugares completamente isolados e desabitados são excessivamente raros. O homem perdido no deserto ou no mar morrerá de privações, mas não se suicidará, mesmo quando não tenha esperança de socorro. No entanto, aquele que voluntariamente quer deixar a vida aproveita o momento em que está só para não ser obstado em seu desígnio, mas o faz de preferência nos centros populosos, onde seu corpo ao menos tem a chance de ser encontrado. Este pulará do alto de um monumento no centro da cidade, mas não do alto de um precipício, onde não ficaria traço de sua passagem; aquele enforcar-se-á no Bosque de Bolonha, mas não o faria numa floresta onde ninguém passa. O suicida não quer ser impedido, mas deseja que se saiba, mais cedo ou mais tarde, que se suicidou. Afigura-se-lhe que essa lembrança dos homens o liga ao mundo que quis deixar, tanto é certo que a ideia do nada absoluto tem algo de mais apavorante que a própria morte. Eis um curioso exemplo em apoio a teoria:

Por volta de 1815, um inglês rico foi visitar a famosa queda do Reno. Ficou de tal maneira impressionado, que voltou à Inglaterra, pôs ordem nos seus negócios e voltou, meses depois, para precipitar-se na voragem. É incontestavelmente um ato de originalidade, mas duvidamos muito que ele se tivesse atirado na catarata do Niágara, sem que ninguém tivesse vindo a saber. Uma singularidade de caráter causou o ato, mas o pensamento de que iriam falar dele determinou a escolha do lugar e o momento. Se o seu corpo não tivesse que ser encontrado, ao menos sua memória não se apagaria.

Em falta de uma estatística oficial que desse a proporção exata dos diversos motivos de suicídio, não resta dúvida que os casos mais numerosos são determinados pelos reveses da fortuna, as decepções, os pesares de várias naturezas. Nesse caso, o suicídio não é um ato de loucura, mas de desespero.

Ao lado desses motivos, que poderiam ser chamados sérios, uns há que são evidentemente fúteis, sem falar do indefinível desgosto da vida, em meio aos prazeres, como o que acabamos de citar. O que é certo é que todos os que se suicidam só chegam a esse extremo, com ou sem razão, porque não estão contentes.

Sem dúvida a ninguém é dado remediar essa causa primeira, mas o que é preciso deplorar é a facilidade com a qual os homens cedem, há algum tempo, a esse arrastamento fatal. É isto, sobretudo, o que deve chamar a atenção e que, a nosso ver, é perfeitamente remediável.

Muitas vezes pergunta-se se há covardia ou coragem no suicídio. Incontestavelmente há covardia ante as provas da vida, mas há coragem em enfrentar as dores e as angústias da morte. Esses dois pontos, parece, encerram todo o problema do suicídio.

Por mais pungentes que sejam as crises da morte, o homem as afronta, as suporta, se excitado pelo exemplo. É o caso do conscrito que sozinho recuaria diante do fogo, ao passo que fica eletrizado vendo os outros marcharem sem medo. Dá-se o mesmo com o suicida. A visão dos que se libertam por esse meio dos aborrecimentos e dos desgostos da vida leva a crer que esse momento passa rapidamente. Aqueles que tivessem sido retidos pelo medo do sofrimento dizem que se tantas pessoas assim o fazem, também podem fazer o mesmo; que é melhor sofrer por alguns instantes do que durante anos. É somente sob esse aspecto que o suicídio é contagiante.

O contágio não está nos fluidos, nem nas atrações, mas no exemplo, que familiariza com a ideia da morte e com o emprego dos meios para levá-la a efeito. Isto é tão certo que quando se dá um suicídio de uma certa maneira, não é raro sucederem-se outros do mesmo gênero. A história da famosa guarita onde se enforcaram quatorze soldados, num curto período, não tinha outra causa. O meio lá estava, à vista. Parecia cômodo, e desde que tivessem a veleidade de acabar com a vida, aproveitavam-no. A simples visão poderia fazer brotar a ideia. Tendo sido contado o caso a Napoleão, este mandou queimar a guarita fatal. O meio já não estava à vista. Então o mal cessou.

A publicidade dada aos suicídios produz sobre as massas o efeito da guarita. Ela excita, encoraja, familiariza com a ideia e até a provoca. Sob esse ponto de vista consideramos as descrições do gênero que abundam nos jornais como uma das causas excitantes do suicídio: elas dão a coragem de morrer.

Dá-se o mesmo com esses crimes com a ajuda dos quais se excita a curiosidade pública. Eles produzem, pelo exemplo, um verdadeiro contágio moral. Eles jamais detiveram um criminoso. Pelo contrário, criaram mais de um.

Examinemos agora o suicídio de outro ponto de vista. Dissemos que, sejam quais forem os motivos particulares, eles sempre têm o descontentamento como causa. Ora, aquele que está certo de não ser infeliz senão por um dia e de estar melhor nos dias seguintes facilmente adquire paciência. Só se desespera se não vir um termo para os seus sofrimentos. Que é, pois, a vida humana em relação à eternidade, senão menos que um dia? Mas aquele que não acredita na eternidade; que acredita que tudo nele se acaba com o fim da vida, se estiver oprimido pelo pesar e pelo infortúnio, só vê um termo na morte. Nada mais esperando, acha naturalíssimo e mesmo muito lógico abreviar os sofrimentos pelo suicídio.

A incredulidade, a simples dúvida quanto ao futuro, as ideias materialistas, numa palavra, são os maiores excitantes ao suicídio. Elas dão a covardia moral.

Quando se veem homens de ciência apoiarem-se na autoridade de seu saber para se esforçarem por provar aos seus ouvintes ou leitores que nada devem esperar depois da morte, não é conduzi-los à conclusão de que, caso sejam infelizes, nada têm a fazer de melhor do que se matarem?

O que poderiam eles dizer para demovê-los? Que compensação lhes poderiam oferecer? Que esperança lhes poderiam dar? Nada além do nada. Daí temos que concluir que se o nada é um remédio heróico, a única perspectiva, melhor é cair imediatamente do que mais tarde, e assim sofrer por menos tempo.

A propagação das ideias materialistas é, pois, o veneno que inocula em muitos a ideia do suicídio, e os que se tornam seus apóstolos assumem uma terrível responsabilidade.

Contra isso talvez objetem que nem todos os suicidas são materialistas, de vez que há pessoas que se matam visando ir mais depressa para o Céu e outras para unirem-se mais cedo aos que elas amaram. É verdade, mas é, incontestavelmente, o menor número, coisa de que todos se convenceriam se houvesse uma estatística, feita conscienciosamente, das causas íntimas de todos os suicídios.

Seja como for, se as pessoas que cedem a tal pensamento creem na vida futura, é evidente que têm dela uma ideia falsa e a maneira pela qual a apresentam em geral não é bem apropriada para lhes dar uma ideia mais justa.

O Espiritismo não só vem confirmar a teoria da vida futura, mas a prova pelos fatos mais patentes que se possam apresentar: o testemunho daqueles que nela se acham. Faz mais: ele no-la mostra sob cores tão racionais, tão lógicas, que o raciocínio vem em apoio à fé. Já não sendo admissível a dúvida, muda o aspecto da vida. Sua importância diminui em razão da certeza que se adquire de um futuro mais próspero. Para o crente, a vida se prolonga indefinidamente para além do túmulo. Daí a paciência e a resignação que naturalmente desviam a ideia de suicídio; daí, numa palavra, a coragem moral.

Sob esse aspecto tem ainda o Espiritismo outro resultado muito positivo, e talvez mais determinante. Bem diz a religião que o suicídio é um pecado mortal, pelo qual se é punido. Mas como? Pelas chamas eternas, nas quais não mais se acredita. O Espiritismo nos mostra os suicidas em pessoa, vindo dar conta de sua posição infeliz, mas com a diferença que as penas variam conforme as circunstâncias agravantes ou atenuantes, o que é mais conforme à justiça divina; que, em vez de serem uniformes, são a natural consequência da causa que provocou a falta, com o que não se pode deixar de aí ver uma soberana justiça distribuída com equidade. Entre os suicidas uns há cujo sofrimento, embora temporário, em vez de eterno, nem por isso é menos terrível e de natureza a dar a refletir a quem quer que se sinta tentado partir daqui antes da ordem de Deus. Assim, tem o espírita vários motivos como contrapeso à ideia do suicídio: a certeza de uma vida futura, na qual sabe que será tanto mais feliz quanto mais infeliz e resignado tiver sido na Terra; a certeza de que, abreviando a vida, chega a um resultado absolutamente oposto ao que esperava; que ele se liberta de um mal para chegar a outro pior, mais longo e mais terrível; que não poderá rever no outro mundo os objetos de suas afeições aos quais queria unir-se. Daí a consequência que o suicídio é contra os seus próprios interesses.

Assim, o número de suicídios obstados pelo Espiritismo é considerável, de onde se pode concluir que quando todo mundo for espírita, não mais haverá suicídios voluntários, o que acontecerá mais cedo do que se pensa.

Comparando, pois, os resultados das doutrinas materialista e espírita, apenas do ponto de vista do suicídio, verifica-se que a lógica de um a ele conduz, ao passo que a lógica do outro dele desvia, o que é confirmado pela experiência.

Perguntarão se por esse meio se destrói a hipocondria, essa causa de tantos suicídios não motivados, desse inseparável desgosto da vida, que nada parece justificar. Essa causa é eminentemente fisiológica, ao passo que as outras são morais. Ora, se o Espiritismo só curasse estas, já seria muito. A primeira é, a bem da verdade, da alçada da ciência, à qual poderíamos abandoná-la, dizendo: nós curamos aquilo que nos diz respeito. Por que não curais vós o que é da vossa competência? Contudo não hesitamos em responder à questão afirmativamente.

Evidentemente, certas afecções orgânicas são alimentadas e mesmo provocadas pelas disposições morais. O desgosto da vida o mais das vezes é fruto da saciedade. O homem que tudo usou, não vendo nada além, está na situação do bêbado que tendo esvaziado a garrafa e nada mais nela encontrando, a quebra.

Os abusos e os excessos de toda sorte conduzem forçosamente a um enfraquecimento e a uma perturbação das funções vitais. Daí uma porção de doenças cuja fonte é desconhecida, que são julgadas causativas, quando são consecutivas. Daí também uma sensação de langor e de falta de coragem.

O que é que falta ao hipocondríaco para combater as suas ideias melancólicas? Um objetivo na vida, um móvel à sua atividade. Que objetivo pode ter se em nada crê?

O espírita faz mais do que acreditar no futuro. Ele sabe, não pelos olhos da fé, mas pelos exemplos que tem diante de si, que a vida futura, à qual não se subtrai, é feliz ou infeliz conforme o emprego que faça da vida corpórea, e que a felicidade é proporcional ao bem que ele fez.

Ora, com a certeza de viver depois da morte, e de viver muito mais tempo do que na Terra, é muito natural que pense em lá ser o mais feliz possível. Tem certeza, por outro lado, que lá será infeliz se não praticar o bem, ou mesmo se, não fazendo o mal, nada faz. Ele compreende a necessidade de uma ocupação, o melhor preservativo contra a hipocondria. Com a certeza do futuro, ele tem um objetivo. Com a dúvida, não o tem. É tomado pelo aborrecimento e acaba com a vida porque nada mais espera.

Permitam-nos uma comparação talvez trivial, mas à qual não falta analogia. Um homem passou uma hora no teatro. Se pensa que a peça acabou, levanta-se e sai. Mas se souber que ainda vão representar coisa melhor e mais longa do que o que viu, ficará, mesmo que no pior lugar. A espera do melhor nele vencerá a fadiga.

As mesmas causas que conduzem ao suicídio também produzem a loucura. O remédio de um é o remédio da outra, conforme o demonstramos. Infelizmente, enquanto a medicina só levar em conta o elemento material, privar-se-á de todas as luzes que lhe traria o elemento espiritual, que representa um papel muito ativo num grande número de afecções.

Além disso, o Espiritismo nos revela a causa primeira do suicídio, e só ele poderia fazê-lo. As tribulações da vida são ao mesmo tempo expiações de faltas cometidas no passado e provas para o futuro. O próprio Espírito as escolhe, com vistas ao seu adiantamento, mas pode acontecer que durante a execução da obra ache a carga muito pesada e recue antes da sua conclusão. É então que ele recorre ao suicídio, o que o retarda em vez de fazê-lo avançar.

Acontece ainda que um Espírito suicidou-se em precedente encarnação e que, como expiação, é-lhe imposto, na seguinte, lutar contra a tendência ao suicídio. Se for vitorioso, progride. Se sucumbir, terá que recomeçar uma vida talvez mais penosa ainda que a precedente, e assim deverá lutar até que haja triunfado, pois toda recompensa na outra vida é fruto de uma vitória, e quem diz vitória, diz luta.

Assim, na certeza que tem o espírita desse estado de coisas, ele haure uma força de perseverança que nenhuma outra filosofia lhe poderia dar.

A.K.


[1] Comédia social no século dezenove. Nota do Tradutor.

Hereditariedade moral

Um dos nossos assinantes nos escreve de Wiesbaden:

“Senhor, eu estudo o Espiritismo cuidadosamente em todos os vossos livros e, malgrado a clareza decorrente, dois pontos importantes não parecem bem explicados aos olhos de certas pessoas. São eles: l.º ─ as faculdades hereditárias; 2º ─ os sonhos.

“Com efeito, como conciliar o sistema da anterioridade da alma com a existência das faculdades hereditárias? Entretanto elas existem, embora não de maneira absoluta. Diariamente elas nos chocam na vida privada. Também vemos, numa ordem mais elevada, os talentos sucedendo aos talentos, a inteligência à inteligência. O filho de Racine foi poeta. Alexandre Dumas teve como filho um autor ilustre. Na arte dramática, vemos a tradição de talentos numa mesma família e na arte da guerra uma raça, como a dos duques de Brunswick, por exemplo, fornecendo uma série de heróis.

“A inépcia, o vício, o próprio crime também conservam sua tradição. Eugène Sue cita famílias onde várias gerações passaram sucessivamente pelo assassínio e pela guilhotina.

“A criação da alma por indivíduo explicaria ainda menos essas dificuldades, bem o compreendo, mas há que confessar que tanto uma doutrina quanto a outra se prestam aos golpes dos materialistas, que não veem em todas as faculdades mais que uma concentração de forças nervosas.

“Quanto aos sonhos, a Doutrina Espírita não concilia bem o sistema das peregrinações da alma durante o sono com a opinião vulgar que o torna simples reflexo das impressões percebidas durante a vigília. Esta última opinião poderia parecer a verdadeira explicação dos sonhos, ao passo que a peregrinação seria apenas um caso excepcional.”

(Seguem-se vários exemplos em apoio).

“Que fique bem entendido, senhor presidente, que não pretendo fazer aqui nenhuma objeção em meu nome pessoal, mas parece-me útil que a Revista Espírita se ocupe dessas questões, ainda que seja para fornecer os meios de responder aos incrédulos. Quanto a mim, sou crente, e busco apenas a minha instrução.”

A questão dos sonhos será examinada posteriormente, em artigo especial. Hoje só nos ocuparemos da hereditariedade moral, deixando que dela tratem os Espíritos, limitando-nos a algumas observações preliminares.

Diga-se o que se disser a respeito, os materialistas não ficarão convencidos, porque se não admitem o princípio, não lhe admitem as consequências. Antes de tudo seria necessário que se tornassem espiritualistas. Ora, não é por aí que se deve começar. Assim, não nos podemos ocupar com suas objeções.

Tomando como ponto de partida a existência de um princípio inteligente fora da matéria, por outras palavras, a existência da alma, a questão é saber se as almas procedem das almas ou se são independentes.

Cremos já haver demonstrado, em nosso artigo sobre Os Espíritos e o Brasão publicado no mês de março último, a impossibilidade da criação de alma por alma. Realmente, se a alma da criança fosse uma parte da do pai, deveria ter sempre as suas qualidades e imperfeições, em virtude do axioma que a parte é da mesma natureza que o todo.

Ora, a experiência todos os dias prova o contrário. É verdade que se citam exemplos de similitudes morais e intelectuais que parecem devidas à hereditariedade, de onde seria necessário concluir que tivesse havido uma transmissão. Mas, então, por que essa transmissão não se dá sempre? Por que vemos, todos os dias, pais essencialmente bons, ter filhos viciosos e vice-versa? Como é impossível fazer da hereditariedade moral uma regra geral, é necessário explicar, com o sistema da recíproca independência das almas, a causa das similitudes. Isso poderia ser no máximo uma dificuldade, mas que não teria como pressuposto a doutrina da anterioridade da alma e da pluralidade das existências, visto que essa doutrina está provada por centenas de fatos concludentes, e contra os quais é impossível levantar objeções sérias.

Deixemos que falem os Espíritos que tiveram a bondade de tratar do assunto.

Eis as duas comunicações que a respeito obtivemos:


(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, 23 DE MAIO DE l 862 MÉDIUM: SR. D’AMBEL)

Já foi dito muitas vezes que não havia necessidade de erigir um sistema sobre simples aparências. É um sistema dessa natureza o que deduz das semelhanças familiares uma teoria contrária àquela que vos demos da existência das almas anteriormente à sua encarnação terrestre.

É verdade que muitas vezes elas jamais tiveram relações diretas com os meios e com as famílias nas quais se reencarnam. Já vos repetimos muitas vezes que as semelhanças corpóreas são devidas a uma questão material e fisiológica absolutamente independente da ação espiritual e que, quanto às aptidões e gostos semelhantes, estes resultam, não da procriação da alma por outra alma já nascida, mas porque os Espíritos semelhantes se atraem. Daí as famílias de heróis, ou as raças de guerreiros.

Admiti, pois, em princípio, que os bons Espíritos escolham de preferência para sua nova etapa terrena o meio onde o terreno já esteja preparado e a família de Espíritos adiantados, onde têm certeza de encontrar os materiais necessários ao seu progresso futuro. Admiti,

igualmente, que os Espíritos atrasados, ainda propensos aos vícios e aos apetites dos brutos, fujam dos grupos elevados, das famílias moralizadas, e se encarnem, ao contrário, onde esperam encontrar meios para satisfazerem às paixões que ainda os dominam. Assim, pois, em tese geral, as semelhanças espirituais existem porque os semelhantes atraem os semelhantes, ao passo que as semelhanças corpóreas se devem à procriação.

No entanto, é preciso acrescentar o seguinte: Muitas vezes nascem em famílias dignas, em todos os sentidos, do respeito de seus concidadãos, indivíduos viciosos e maus que aí são enviados para servirem de prova àquelas. Por vezes, ainda, eles vêm por vontade própria, na esperança de saírem dos hábitos inveterados onde até então se arrastaram e de se aperfeiçoaram sob a influência desses meios virtuosos e moralizados.

Dá-se o mesmo com Espíritos já adiantados moralmente, e que, a exemplo dessa jovem de Saint-Étienne, de que se falou no ano passado, se reencarnam em famílias obscuras, entre Espíritos atrasados, a fim de mostrar-lhes o caminho do progresso. Não esquecestes, tenho certeza, o anjo das asas brancas em que ela pareceu transfigurar-se aos olhos dos que a tinham amado na Terra, quando estes voltaram por sua vez ao mundo dos Espíritos. (Revista Espírita de junho de 1861 – Conversas familiares de além-túmulo - Sra. Anaïs Gourdon).

ERASTO


(NA MESMA SESSÃO ─ MÉDIUM: SRA. COSTEL)

Venho explicar-vos a importante questão da hereditariedade das virtudes e dos vícios na raça humana. Essa transmissão faz que hesitem aqueles que não compreendem a imensidade do dogma revelado pelo Espiritismo. Os mundos intermediários são povoados por Espíritos à espera da prova da reencarnação ou se preparando de novo, conforme o seu grau de adiantamento. Nesses viveiros da vida eterna, os Espíritos são grupados e divididos em grandes tribos, uns adiantados e outros atrasados em relação ao progresso, e cada um escolhe entre os grupos humanos, aqueles que correspondem simpaticamente às suas faculdades adquiridas, as quais progridem, mas não podem retrogradar.

O Espírito que se reencarna escolhe o pai cujo exemplo fá-lo-á avançar na via preferida e ele absorve, elevando-os ou enfraquecendo-os, os talentos daquele que lhe deu a vida corpórea. Em ambos os casos, a conjunção simpática existe anteriormente ao nascimento e a seguir é desenvolvida nas relações de família, pela imitação e pelo hábito.

Depois da hereditariedade familiar, meus amigos, quero revelar-vos a origem da discordância que separa os indivíduos de uma mesma raça, repentinamente ilustrada ou desonrada por um de seus membros que se tornou estranho ao meio.

O bruto vicioso que se encarnou num centro educado, e o Espírito luminoso que se reencarna entre gente grosseira, obedecem ambos à misteriosa harmonia que aproxima as partes divididas de um todo e faz a concordância entre o infinitamente pequeno e a suprema grandeza.

O Espírito culpado, apoiado nas virtudes adquiridas de seu procriador terreno, espera por essas fortalecer-se. Se sucumbe ainda na prova, adquire pelo exemplo o conhecimento do bem e volta à erraticidade menos carregado de ignorância e melhor preparado para sustentar uma nova luta.

Os Espíritos adiantados entreveem a glória de Jesus e anseiam por esgotar, depois dele, o cálice da ardente caridade. Também como ele, querem guiar a Humanidade para o objetivo sagrado do progresso e nascem nos baixos níveis sociais, onde se debatem, acorrentados uns aos outros, contra a ignorância e o vício, dos quais são alternativamente vencedores ou mártires.

Se esta resposta não soluciona todas as vossas dúvidas, interrogai-me, meus amigos.

SÃO LUÍS


Poesia Espírita (Sociedade espírita de Bordeaux - Médium Sr. Ricardo)

A CRIANÇA E A VISÃO


Mãezinha, é noite fechada,

E eu sinto o sono vir;

Põe-me no leito cor de rosa

Ou em teus braços vou dormir.

Criança, faz a prece a Deus.

Vamos, filha, de joelhos

Rezemos para teu pai

Lá no Céu!... longe de nós.

Lá em cima, não é, mamãe?

Junto a Deus, pois Deus o quis.

Somente os maus têm sua cólera,

Mas paizinho é seu eleito!

Deus te entende, cara filha!

Teu desejo é escutado!

Peçamos para teu pai

Repouso!... felicidade!

Também por ti peço, ó mãe!

Digo a Deus: ó Poderoso,

Vós que levastes meu pai,

Não me leveis a mamãe!

Obrigado, Gabriela.

Tão jovem, que coração!

Do alto teu pai te guia:

Sua alma vejo em teu rosto.

Como o queria, mamãe,

Pois o papai nos escuta,

Que voltasse da outra vida,

A beijar a sua filhinha!

Pede a Deus esse prodígio

Para nós que aqui sofremos!

A alma do morto embala

O berço de sua filhinha!

Mãezinha, é noite fechada

E eu sinto já o sono vir...

Põe-me no leito cor de rosa!..

Boa noite, mãe!... Vou dormir.

Mas não!... Eu vejo... é papai!

Aqui está junto ao meu leito!

Vem aqui, vem, ó mãezinha!

Ele nos olha e sorri...

Na testa sinto o seu beijo;

Sua mão toca os meus cabelos!

Como tu, fecha-me a boca.

E eis que sobe para o Céu!

Mãezinha, é noite fechada,

Tua filha não vai dormir...

Papai ao leito cor de rosa

Prometeu tornar a vir!


Teu Anjo da Guarda
Duplo suicídio por amor e dever - Estudo moral

No Opinion Nationale de 13 de junho lemos o seguinte:

“Terça-feira última, dois enterros entraram juntos na Igreja da Boa Nova. Eram acompanhados por um homem que parecia presa de uma dor profunda e por uma multidão considerável, na qual se notava tristeza e recolhimento. Eis um ligeiro relato dos acontecimentos que determinaram a dupla cerimônia fúnebre.

“A senhorita Palmira, modista, residente com os pais, era dotada de um corpo físico encantador, ao qual se juntava um caráter muito amável. Assim, era muito assediada de propostas de casamento. Entre os aspirantes à sua mão, tinha preferido o Sr. B..., que experimentava por ela uma viva paixão. Posto o amasse muito, ela preferiu, entretanto, por respeito filial, ceder à vontade dos pais, de desposar o Sr. D..., cuja posição social lhes parecia mais vantajosa que a do rival. O casamento foi celebrado há quatro anos.

“Os Srs. B... e D... eram amigos íntimos. Mesmo não tendo nenhum interesse comum, eles não deixaram de se ver. O amor recíproco do Sr. B... e de Palmira, agora Sra. D..., não havia morrido, e como se esforçassem por minimizá-lo, ele aumentava em razão da própria violência com que era enfrentado. Para tentar apagálo, B... decidiu casar-se. Esposou uma moça de excelentes qualidades e fez todo possível para amá-la, mas não tardou a perceber que esse meio heróico era inútil para curá-lo. Não obstante, durante quatro anos, nem B... nem a Sra. D... faltaram aos seus deveres. Não se poderia descrever o que eles sofreram porque D..., que amava verdadeiramente o seu amigo, o atraía sempre para sua casa, e quando ele queria fugir, o obrigava a ficar.

“Enfim, há alguns dias, aproximados por uma circunstância fortuita, os dois amantes não resistiram à paixão que os arrastava um ao outro. Apenas cometida a falta, sentiram o mais terrível remorso. A jovem senhora lançou-se aos pés do marido, assim que ele voltou, e disse-lhe em soluços:

“─ Enxote-me! Mate-me! Agora sou indigna de ti!

“Como ele ficasse mudo de espanto e dor, ela lhe contou suas lutas, seus sofrimentos, tudo quanto lhe tinha sido preciso de coragem para não falir mais cedo. Fê-lo compreender que, dominada por um amor ilegítimo, jamais tinha cessado de ter por ele o respeito, a estima e o apego de que ele era digno.

“Em vez de amaldiçoá-la, o marido chorava. B... chegou em meio a essa cena e fez idêntica confissão. D... os ergueu a ambos e lhes disse:

“─ Sois dois corações leais e bons. Só a fatalidade vos tornou culpados. Li no fundo dos vossos pensamentos e vi sinceridade. Por que vos puniria por um arrastamento ao qual não resistiram todas as vossas forças morais? A punição está no pesar que sentis. Prometei-me que vos deixareis de ver e não tereis perdido nem a minha estima, nem a minha afeição.

“Esses dois desventurados amantes apressaram-se em fazer o juramento pedido. A maneira que sua confissão havia sido recebida pelo Sr. D... aumentou-lhes a dor e o remorso. Tendo o acaso lhes proporcionado um encontro não buscado, comunicaram-se reciprocamente o estado de alma e concordaram em que só a morte seria remédio aos males que experimentavam. Resolveram matar-se juntos e fixaram o dia seguinte para consumação do plano, porque o Sr. D... estaria ausente de casa grande parte do dia.

“Depois de feitos os últimos preparativos, escreveram uma longa carta, na qual diziam, em resumo: ‘Nosso amor é mais forte que todas as promessas. Poderíamos, ainda, apesar de tudo, fraquejar, sucumbir. Não conservaremos uma existência culposa. Para nossa expiação, faremos ver que a falta por nós cometida não deve ser atribuída à nossa vontade, mas ao arrebatamento de uma paixão cuja violência estava acima de nossas forças.’

“Essa carta comovedora terminava por um pedido de perdão, e os dois amantes imploravam como graça serem reunidos no túmulo.

“Quando o Sr. D... chegou em casa, ofereceu-se-lhe à vista um estranho e doloroso espetáculo. No meio do espesso vapor que se exalava de um forno portátil cheio de carvão, os dois amantes, deitados e bem vestidos no leito, estavam estreitamente abraçados. Tinham cessado de viver.

“O Sr. D... respeitou a última vontade dos dois amantes. Quis que juntos participassem das preces na igreja e que não ficassem separados no cemitério.”

O Sr. cura de Boa Nova entendeu que deveria desmentir, num artigo em vários jornais, a admissão dos dois corpos em sua igreja, pela oposição das leis canônicas.

Tendo sido lido esse relato, como assunto de estudo moral, na Sociedade Espírita de Paris, dois Espíritos fizeram a seguinte apreciação:

“Eis aí a obra de vossa Sociedade e dos vossos costumes! Mas o progresso será feito. Mais algum tempo e fatos que tais não mais se repetirão. Certas criaturas são como as plantas que se metem numa redoma. Falta-lhes o ar, sufocam e não podem espalhar o seu perfume. Vossas leis e vossos costumes traçaram limites à expansão de certos sentimentos, o que muitas vezes leva duas almas dotadas das mesmas faculdades, dos mesmos instintos simpáticos, a se encontrarem em posições diferentes e que, não podendo unir-se, se arrebentam em tenazes tentativas de se encontrarem.

“Que fizestes do amor? Vós o reduzistes ao peso de um cilindro de metal. Vós o jogastes numa balança. Em vez de ser rei, ele é escravo. De um laço sagrado, vossos costumes fizeram uma corrente de ferro, cujos elos esmagam e matam aqueles que não nasceram para serem acorrentados.

“Ah! Se vossas sociedades marchassem pela via de Deus, vossos corações não se consumiriam em chamas passageiras e vossos legisladores não teriam sido forçados a submeter as vossas paixões ao controle de leis. Mas o tempo marcha e soará a grande hora na qual podereis todos viver a verdadeira vida, a vida do coração. Quando as batidas do coração não mais forem comprimidas pelos cálculos frios dos interesses materiais, não vereis mais esses suicídios horríveis, que de tempos em tempos vêm lançar um desmentido sobre os vossos preconceitos sociais.

SANTO AGOSTINHO
Médium: Sr. Vézy


Os dois amantes que se suicidaram ainda não vos podem responder. Eu os vejo. Eles estão mergulhados na perturbação e assustados pelo sopro da eternidade. As consequências morais de sua falta

os castigarão durante migrações seguidas nas quais as suas almas desemparelhadas buscar-se-ão incessantemente e sofrerão o duplo suplício do pressentimento e do desejo. Realizada a expiação, serão para sempre reunidas no seio do eterno amor.

GEORGES
Médium: Sr. Costel


Oito dias depois, tendo sido consultado o guia espiritual do médium sobre a responsabilidade da evocação desses dois Espíritos, foi respondido:

“Eu vos disse da última vez que na vossa próxima sessão poderíeis evocá-los. Eles virão ao apelo de meu médium, mas não se verão. Uma noite profunda os ocultará um do outro por muito tempo.”

SANTO AGOSTINHO
Médium: Sr. Vézy


1. Evocação da senhora. ─ Sim, comunicar-me-ei, mas com o auxílio do Espírito que aqui está, que me ajuda e me impõe.

2. ─ Vedes o vosso amado, com o qual vos suicidastes? ─ Nada vejo, nem mesmo os Espíritos que vagam comigo no lugar onde estou. Que noite! Que noite! Que espesso véu sobre o meu rosto!

3. ─ Que sensação experimentastes quando despertastes da morte? ─ Estranha. Eu tinha frio e queimava. Corria gelo em minhas veias e o fogo abrasava o meu rosto! Coisa estranha! Mistura inaudita! Gelo e fogo parecendo extinguir-me! Eu pensava que iria sucumbir uma segunda vez!

4. ─ Sofreis dor física? ─ Todo o meu sofrimento está aqui e aqui!

5. ─ Que quereis dizer por aqui e aqui? Aqui no meu cérebro e aqui no meu coração.

OBSERVAÇÃO: É provável que se se tivesse podido ver o Espírito, ter-se-ia visto levar a mão à fronte e ao coração.

6. ─ Credes que ficareis sempre nessa situação? ─ Oh! Sempre, sempre! Por vezes escuto risos infernais, vozes espantosas que me gritam estas palavras: “Sempre assim!”

7. ─ Ora! Nós vos podemos dizer, com toda a certeza, que não será sempre assim. Arrependendo-vos, obtereis o perdão. ─ Que dissestes? Não compreendo.

8. ─ Repito que os vossos sofrimentos terão um termo, que podeis apressar pelo vosso arrependimento, e nós vos ajudaremos pela prece. ─ Só entendi uma palavra e sons vagos. Essa palavra é graça. É da graça que queríeis falar? Oh! O adultério e o suicídio são dois crimes muito odiosos. Falastes de graça. É sem dúvida para a alma que passa ao meu lado, pobre criança que chora e espera.

OBSERVAÇÃO: Uma senhora da Sociedade disse que acabara de dirigir a Deus uma prece por essa infeliz, e que sem dúvida foi o que a tocou; que na verdade havia mentalmente implorado para ela a graça de Deus.

9. ─ Dizeis que estais nas trevas. Não nos vedes? ─ É-me permitido escutar algumas das palavras que pronunciais, mas só vejo um crepe negro sobre o qual se desenha, em certos momentos, uma cabeça que chora.

10. ─ Se não vedes o vosso amado, não sentis a sua presença perto de vós, sendo que ele aqui está? ─ Ah! Não me faleis dele. Devo esquecê-lo por enquanto, se eu quiser que do crepe se apague a imagem que aí vejo desenhada.

11. ─ Que imagem é essa? ─ A de um homem que sofre e cuja existência moral na Terra eu matei por muito tempo.

OBSERVAÇÃO: Como o demonstram os fatos, frequentemente a escuridão acompanha o castigo dos Espíritos criminosos. Ela segue imediatamente à morte, e sua duração, variável de acordo com as circunstâncias, pode ir de alguns meses a alguns séculos. Compreende-se facilmente o horror de semelhante situação, na qual o culpado não percebe senão aquilo que lhe pode lembrar a falta e, pelo silêncio, aumentar a solidão e a incerteza em que está mergulhado, as ansiedades e o remorso.

Lendo-se esse relato, a princípio nos dispomos a encontrar nele circunstâncias atenuantes; a encarálo até como um ato heróico, porque foi provocado pelo sentimento do dever. Vê-se, porém, que foi julgado diversamente, e que a pena dos culpados será longa e terrível, porque se refugiaram voluntariamente na morte, a fim de fugir à luta. A intenção de não faltar ao dever certamente era honrosa, e mais tarde ser-lhes-á levada em consideração, mas o verdadeiro mérito teria sido vencer o arrastamento, ao passo que eles fizeram como o desertor, que foge no momento do perigo.

A pena dos dois culpados, como se vê, consistirá em se buscarem por muito tempo sem se encontrarem, quer no mundo dos Espíritos, quer em outras encarnações terrenas. Está momentaneamente agravada pela ideia de que o seu estado atual deve durar para sempre. Como tal pensamento faz parte do castigo, não lhes foi permitido ouvir as palavras de esperança que lhes dirigimos. Aos que acham essa pena muito terrível e muito longa, e sobretudo se o seu término só for possível após várias reencarnações, diremos que sua duração não é absoluta e que dependerá da maneira como suportarem as provas futuras, no que poderemos ajudá-los por meio da prece. Como todos os Espíritos culpados, eles serão os árbitros de seu próprio destino. Isso não é melhor do que a danação eterna e sem esperanças a que são irremediavelmente condenados, segundo a doutrina da Igreja, que os considera de tal modo destinados ao Inferno que lhes recusou as últimas preces, certamente como inúteis?

Certos católicos censuram o Espiritismo por não admitir o inferno. De fato, o Espiritismo não admite a existência de um inferno localizado, com as suas chamas, os seus tridentes e as torturas corporais renovadas do Tártaro pagão. No entanto, a posição em que nos mostra os Espíritos infelizes não é muito melhor, apenas com a diferença radical que a natureza das penas nada tem de irracional e que a duração, em vez de irremissível, está subordinada ao arrependimento, à expiação e à reparação, o que é, ao mesmo tempo, mais lógico e mais conforme à doutrina da justiça e da bondade de Deus.

Teria sido o Espiritismo um remédio eficaz, no caso vertente, para prevenir o suicídio? Sem dúvida. Ele teria dado a esses dois seres uma confiança no futuro, que teria mudado completamente sua maneira de encarar a vida terrena e, por conseguinte, lhes teria dado a força moral que lhes faltou. Supondo que tivessem tido fé no futuro, o que ignoramos, e que seu objetivo, matando-se, tivesse sido o de se reunirem mais depressa, teriam sabido, por todos os exemplos análogos, que chegariam a resultados diametralmente opostos e ver-se-iam separados por muito mais tempo do que aqui na Terra, pois Deus não permitiria uma recompensa pela infração de suas leis. Assim, certos de não poderem ver realizados os seus desejos, mas, ao contrário, de caírem numa posição cem vezes pior, seu próprio interesse lhes aconselharia a terem paciência.

Nós os recomendamos às preces de todos os espíritas, a fim de lhes ser dada a força e a resignação que poderão sustentá-los em suas novas provas e assim apressar o término de seu castigo.



Ensinamentos e dissertações

União simpática das Almas

(Bordeaux - 15 de fevereiro de 1862 - Médium: Sra. H...)

P. ─ Já me disseste várias vezes que nos reuniríamos para não mais nos separarmos. Como poderá dar-se isso? As reencarnações, mesmo as que se sucedem às da Terra, não separam sempre por um tempo mais ou menos longo?

R. ─ Eu já te disse: Deus permite aos que se amam sinceramente e que souberam sofrer com resignação para expiar as suas faltas, reunirem-se primeiramente no mundo dos Espíritos, onde progridem juntos, a fim de obterem reencarnações em mundos superiores. Eles podem, pois, se pedirem com fervor, deixar os mundos espíritas na mesma ocasião, reencarnar-se nos mesmos lugares e, por um encadeamento de circunstâncias previamente determinadas, reunir-se pelos laços que mais convierem aos seus corações.

Uns terão pedido para serem pai ou mãe de um Espírito que lhes era simpático e que terão a felicidade de dirigir no bom caminho, cercando-o dos suaves cuidados da família e da amizade. Outros terão pedido a graça de se unirem pelo casamento e de verem decorrer muitos anos de felicidade e de amor. Falo do casamento entendido no sentido da união íntima de dois seres que não querem mais separar-se.

Entretanto, o casamento, tal como é compreendido entre vós, não é conhecido nos mundos superiores. Nesses lugares de felicidade, de liberdade e de alegria, os laços são de flores e de amor. Não penseis que por isso serão menos duráveis. Só os corações falam e guiam nessas uniões tão suaves. Uniões livres e felizes; casamentos de almas perante Deus, eis a lei do amor dos mundos superiores! Os seres privilegiados dessas regiões abençoadas, sentindo-se mais fortemente ligados por semelhantes sentimentos do que o são os homens da Terra, que muitas vezes calcam aos pés os mais sagrados compromissos, não oferecem o pungente espetáculo de uniões perturbadas sem cessar pela influência dos vícios, das paixões inferiores, da inconstância, da inveja, da injustiça, da aversão, de todas essas horríveis inclinações que conduzem ao mal, ao perjúrio e à violação dos juramentos mais solenes. Então! Esses casamentos abençoados por Deus, essas uniões tão suaves, são a recompensa daqueles que tendo-se amado profundamente no sofrimento, pedem ao Senhor justo e bom para continuarem a amar-se em mundos superiores, sem temerem uma próxima e dolorosa separação.

O que é que há nisso que não seja fácil de compreender e admitir? Deus, que ama a todos os seus filhos, não teria podido criar, para aqueles que se tiverem tornado dignos, uma felicidade tão perfeita quanto cruéis tinham sido as provas? O que poderia ele conceder que fosse mais conforme ao sincero desejo de todo coração amoroso? De todas as recompensas prometidas aos homens, algo há semelhante a esse pensamento, a essa esperança, eu poderia dizer a essa certeza de unir-se aos seres adorados por toda a eternidade?

Acredita em mim, filha querida, nossas secretas aspirações, essa necessidade misteriosa mas irresistível de amar, de amar longamente, de amar sempre, só foram colocadas por Deus em nossos corações porque a promessa do futuro nos permite essas doces esperanças. Deus não nos fará experimentar as dores da decepção. Nossos corações querem a felicidade e não pulsam senão pelas afeições puras. A recompensa só poderia ser a perfeita realização de nossos sonhos de amor.

Do mesmo modo que, na condição de pobres Espíritos sofredores destinados à provação, foi-nos preciso pedir e escolher por vezes as mais cruéis expiações, na condição de Espíritos felizes e regenerados escolhemos também, com a nova vida destinada a nos depurar ainda mais, a soma de felicidades concedidas ao Espírito adiantado.

Eis, minha filha bem-amada, um quadro ligeiro das felicidades futuras. Muitas vezes teremos ocasião de voltar a esse assunto agradável. Deves compreender quanto a perspectiva desse futuro me torna feliz e quanto me é doce confiar-te as minhas esperanças!

P. ─ Nós nos reconhecemos nessas novas e felizes existências?

R. ─ Se não nos reconhecêssemos seria completa a felicidade? Sem dúvida seria felicidade, porque nesses mundos privilegiados todos os seres são destinados a serem felizes. Mas seria isso a perfeição da felicidade para os que separados bruscamente na mais bela época da vida, pedem a Deus para se unirem em seu seio? Seria a realização de nossos sonhos e de nossas esperanças? Não. Tu pensas como eu. Se um véu fosse lançado sobre o passado, não haveria a suprema felicidade, a inefável alegria de nos revermos, após as tristezas da ausência e da separação. Não haveria, ou pelo menos ignoraríamos, essa antiguidade de afeição que ainda mais aperta os laços. Assim como em vossa Terra dois amigos de infância gostam de encontrar-se no mundo, na sociedade, e se buscam muito mais do que se suas relações apenas datassem de alguns dias, também os Espíritos que fizeram por merecer o inapreciável favor de se unirem nos mundos superiores são duplamente felizes e reconhecidos a Deus por esse novo encontro, que corresponde aos seus mais caros anseios.

Os mundos colocados acima da Terra na escala da perfeição são cumulados de todos os favores que possam contribuir para a felicidade perfeita dos seres que os habitam. O passado não lhes é oculto, porque a lembrança de seus sofrimentos antigos, de seus erros resgatados à custa de muitos males, e a lembrança, ainda mais viva, de suas afeições sinceras, lhes fazem achar mil vezes mais doce essa nova vida, e os protegem contra faltas a que talvez pudessem ser arrastados por uns restos de fraqueza. Esses mundos são para o homem o paraíso terrestre, destinado a conduzi-los ao paraíso divino.

OBSERVAÇÃO: Enganar-nos-íamos redondamente quanto ao sentido dessa comunicação se nela víssemos uma crítica às leis que regem o casamento e a sanção das uniões efêmeras extra-oficiais. Como leis, as únicas imutáveis são as leis divinas. As leis humanas, no entanto, devendo ser apropriadas aos costumes, aos usos, ao clima, ao grau de civilização, são essencialmente mutáveis, e seria ruim se assim não fosse e se os povos do século dezenove estivessem presos às mesmas regras que regiam os nossos antepassados. Assim, se as leis mudaram deles até nós, como não chegamos à perfeição, elas deverão mudar de nós até os nossos descendentes. No momento em que é feita, toda lei tem sua razão de ser e sua utilidade, mas pode dar-se que sendo boa hoje não o seja amanhã. No estado dos nossos costumes, de nossas exigências sociais, o casamento necessita ser regulado por lei, e a prova que essa lei não é absoluta é que não é a mesma para todos os países civilizados. É, então, permitido pensar que nos mundos superiores, onde não há os mesmos interesses materiais a salvaguardar; onde não existe o mal, isto é, onde os Espíritos maus são excluídos da encarnação; onde, consequentemente, as uniões resultam da simpatia e não do cálculo, as condições devam ser diferentes. Mas aquilo que é bom para eles, poderia ser mau para nós.

Além disso, há que considerar que os Espíritos se desmaterializam à medida que se elevam e se depuram. Só nos planos inferiores a encarnação é material. Para os Espíritos superiores não há mais encarnação material e, consequentemente, não há procriação, pois a procriação é para o corpo e não para o Espírito. Uma afeição pura é, pois, o único objetivo da união, e por isso mesmo, assim como se dá com a amizade na Terra, ela não necessita da sanção dos juízes de paz.


Uma telha

(Sociedade espírita de Paris. Médium: Sra. C.)

Um homem passa pela rua. Uma telha lhe cai aos pés. Ele diz:

“Que sorte! Um passo a mais e eu teria morrido”. Em geral é o único agradecimento que ele envia a Deus. Entretanto esse mesmo homem, pouco tempo depois, adoece e morre na cama. Por que foi preservado da telha, para morrer alguns dias após, como toda gente? Foi o acaso, dirá o incrédulo, como ele próprio disse: “Que sorte!” Para que, então, lhe serviu escapar ao primeiro acidente, se sucumbiu ao segundo? Em todo o caso, se a sorte o favoreceu, o favor não durou muito.

A essa pergunta o espírita responde que a cada instante escapamos de acidentes que, como se costuma dizer, nos deixam a dois dedos da morte. Não vedes nisso um aviso do Céu, para vos provar que a vida está por um fio; que jamais temos certeza de viver amanhã e que, assim, deveis sempre estar preparados para partir?

Mas, que fazeis quando ides empreender uma longa viagem? Tomais vossas providências; colocais em ordem vossos negócios; muni-vos de provisões e de coisas necessárias para o caminho e desembaraçai-vos de tudo quanto possa atrapalhar e retardar a marcha. Se conheceis a terra para onde ides, se lá tendes amigos e conhecidos, partis sem receio, certos de serdes bem recebidos. Caso contrário, estudais o mapa da região e arranjais cartas de recomendação.

Suponde que sejais obrigados a empreender essa viagem da noite para o dia, e que não tendes tempo de fazer preparativos, ao passo que se estivésseis prevenidos com bastante antecedência, teríeis disposto tudo quanto fosse necessário para vossas conveniências e vosso conforto.

Então! Todos os dias estais expostos a empreender a maior, a mais importante das viagens, a que deveis fazer inevitavelmente, contudo não pensais nisso mais do que se tivésseis de viver perpetuamente na Terra! Em sua bondade, Deus cuida de vós, advertindo-vos por numerosos acidentes, aos quais escapais, e só lhe tendes esta expressão: Que sorte!

Espíritas! Sabeis quais os preparativos a fazer para essa grande viagem, que tem para vós consequências muito mais importantes que todas as que empreendeis aqui na Terra, porque da maneira que ela se realizar depende a vossa felicidade futura.

O mapa que vos dará a conhecer o país onde ides entrar é a iniciação nos mistérios da vida futura. Por ela, o país não será desconhecido para vós.

Vossas provisões são as boas ações que tiverdes realizado e que vos servirão de passaporte e de cartas de recomendação.

Quanto aos amigos que lá encontrareis, vós os conheceis.

É dos maus sentimentos que vos devereis desembaraçar, pois infeliz é aquele a quem a morte surpreende com ódio no coração, como alguém que caísse na água com uma pedra atada ao pescoço e que o arrastaria para o fundo.

Os negócios que deveis pôr em ordem são o perdão àqueles que vos ofenderam; são os erros cometidos para com o próximo e que urge reparar, a fim de conquistardes o perdão, pois os erros são dívidas de que o perdão é a quitação. Apressai-vos, pois, que a hora da partida pode soar de um momento para o outro e não vos dar tempo para reflexão.

Em verdade vos digo que a telha que cai aos vossos pés é o sinal a vos advertir para estardes sempre prontos para a partida ao primeiro sinal, a fim de não serdes tomados de surpresa.

O Espírito de Verdade


César, Clóvis e Carlos Magno

(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, 24 DE JANEIRO DE 1862. ASSUNTO PROPOSTO - MÉDIUM: SR. A. DIDIER)


Esta não é apenas uma questão material, mas também muito espiritualista. Antes de abordar o ponto principal, há outro do qual falaremos em primeiro lugar.

O que é a guerra? A guerra, respondemos de saída, é permitida por Deus, pois que existe, existiu e existirá sempre. É erro, na educação da inteligência, não ver em César senão um conquistador; em Clóvis um bárbaro e em Carlos Magno um déspota cujo sonho insensato era fundar um imenso império. Ah! Meu Deus! como geralmente se diz, os conquistadores são, eles próprios, joguetes de Deus. Como sua audácia, seu gênio os fez chegar ao primeiro posto, viram em torno de si não só homens armados, mas ideais, progresso, civilizações que era necessário lançar sobre as outras nações.

Eles partiram, como César, para levar Roma a Lutécia; como Clóvis, para levar os germes de uma solidariedade monárquica; como Carlos Magno para fazer raiar o facho do Cristianismo para os povos cegos, nas nações já corrompidas pelas heresias dos primeiros tempos da Igreja.

Ora, eis o que aconteceu:

César, o mais egoísta desses três grandes gênios, faz servir a tática militar, a disciplina, a lei, numa palavra, para impô-las às Gálias. Na retaguarda do exército, seguia a ideia imortal e as populações vencidas e indomáveis sofriam o jugo de Roma, é certo, mas se tornavam províncias romanas.

A orgulhosa Marselha teria existido sem Roma? Lugdunum, e tantas outras cidades célebres nos anais, tornaram-se centros imensos, focos de luz para as ciências, as letras e as artes.

César é, pois, um grande propagador, um desses homens universais que se servem do homem para civilizar o homem, um desses homens que sacrificam homens em proveito da ideia.

O sonho de Clóvis foi estabelecer uma monarquia, bases, uma regra para o seu povo. Mas, como a graça do Cristianismo não o iluminava ainda, foi um propagador bárbaro. Devemos encará-lo na sua conversão. De imaginação ativa, febril, belicosa, viu na vitória sobre os visigodos um prêmio da proteção de Deus, e daí por diante, certo de estar sempre com ele, fez-se batizar. Eis que o batismo se propaga nas Gálias e o Cristianismo se expande cada vez mais. É o momento de dizer, com Corneille, que Roma não era mais Roma. Os bárbaros invadiam o mundo romano.

Depois do abalo de todas as civilizações esboçadas pelos romanos, eis que um homem sonha espalhar pelo mundo, não mais os mistérios e o prestígio do Capitólio, mas as crenças formidáveis de Aix-la-Chapelle. Eis um homem que está, ou que julga estar com Deus. Um culto odioso, rival do Cristianismo, ainda ocupa os bárbaros. Carlos Magno cai sobre essa gente, e Witikind, depois de lutas e de vitórias alternadas, submete-se, por fim, humildemente, e recebe o batismo.

Eis aí, por certo, um quadro imenso, onde se desenrolam tantos fatos, tantos golpes da Providência, tantas quedas e tantas vitórias. Mas qual a conclusão? A ideia, universalizando-se, propagando-se mais e mais, não esbarrando nem nos desmembramentos das famílias, nem no desânimo dos povos, e tendo por objetivo, por toda parte, a implantação da cruz do Cristo em todos os pontos da Terra, não é um imenso fato espiritualista?

É necessário, pois, encarar esses três homens como grandes propagadores que, por ambição ou por crença, introduziram a luz no Ocidente, quando o Oriente sucumbia na embriagadora preguiça e na inatividade.

Ora, a Terra não é um mundo em que o progresso se faça rapidamente e por via da persuasão e da mansuetude. Não vos admireis, pois, que muitas vezes seja preciso tomar da espada, em vez da cruz.

LAMENNAIS


P. ─ Dissestes que existirá sempre a guerra. Contudo, parece que o progresso moral, destruindo as suas causas, a fará cessar.

R. ─ Ela existirá sempre, no sentido em que sempre haverá lutas. Mas as lutas mudarão de forma. É verdade que o Espiritismo deve espalhar no mundo a paz e a fraternidade. Mas, bem o sabeis, se o bem triunfa, não obstante, sempre haverá luta. Evidentemente o Espiritismo cada vez mais fará compreender a necessidade da paz, mas o mal vela sempre. Ainda será necessário muito tempo, na Terra, lutar pelo bem. Apenas as lutas se irão tornando cada vez mais raras.


(MESMO ASSUNTO - MÉDIUM: SR. LEYMAR)

A influência dos homens de gênio sobre o futuro dos povos é incontestável. Nas mãos da Providência eles são instrumentos para abreviar as grandes reformas que, sem eles, só viriam depois de muito tempo. São eles que semeiam os germes das ideias novas, e muitas vezes eles voltam alguns séculos mais tarde, sob outros nomes, para continuar ou completar a obra que começaram.

César, essa grande figura da Antiguidade, nos representa o gênio da guerra, a lei organizada. As paixões por ele levadas ao extremo abalaram profundamente a sociedade romana. Ela muda de face, e na sua evolução tudo se transforma a seu redor. Os povos sentem mudar a sua antiga constituição. Uma lei implacável, a da força, une o que não devia separar-se, conforme a época em que vivia César.

Sob sua mão triunfante as Gálias se transformam e, após dez anos de combates, constituem uma unidade poderosa. Mas dessa época data a decadência romana. Levada ao excesso, essa potência que fazia tremer o mundo, cometia as faltas do poder extremo.

Tudo quanto cresce além das proporções assinaladas por Deus deve cair também. Esse grande império foi invadido por uma nuvem de povos saídos de regiões então desconhecidas. O renome tinha levado, com as armas de César, as novas ideias aos países do Norte, que se precipitaram sobre ele como sobre uma torrente.

Vede essas tribos bárbaras lançando-se rapaces sobre as províncias onde o sol era melhor, o vinho mais doce, as mulheres mais belas. Elas atravessavam as Gálias, os Alpes, os Pirineus, para ir fundar suas colônias em toda parte e desagregar o grande corpo chamado Império Romano.

Só o gênio de César tinha bastado para levar sua nação ao auge do poder. Dele data a época da renovação, em que todos os povos se confundem, se atritam uns com outros, buscando outras coesões, outros elementos.

Entretanto, durante vários séculos, que ódio entre essa gente! Quantos combates! Quantos crimes! Quanto sangue!

BARBARET


Com sua mão bárbara, Clóvis devia ser o ponto de partida de uma nova era para os povos. Obedecia ao costume e, para formar uma nação, não recuava ante coisa alguma. Formava-a com o punhal e a astúcia. Criava um novo elemento, adotando o batismo, iniciando seus rudes soldados numa nova crença. Entretanto, depois dele, tudo ia à deriva, apesar da ideia, apesar do Cristianismo. Eram necessários Carlos Martel, Pepino e depois Carlos Magno.

Saudemos essa figura poderosa, essa natureza enérgica que sabe, novo César, reunir num feixe todos os povos dispersos, mudar as ideias e dar uma forma a esse caos. Carlos Magno é a grandeza na guerra, na lei, na política, na moralidade nascente, que devia fundir os povos e lhes dar a intuição da conservação, da unidade, da solidariedade.

Dele datam os grandes princípios que formaram a França. Dele datam nossas leis e nossas ciências aplicadas. Transformador, era ele marcado pela Providência para ser o traço de união entre César e o futuro. Também o chamam o Grande porque, se empregou terríveis meios de execução, foi para dar forma e um pensamento único a essa reunião de povos bárbaros que não podiam obedecer senão a quem era poderoso e forte.

BARBARET


NOTA: Como o nome era desconhecido, pediu-se ao Espírito que desse alguns esclarecimentos sobre a sua pessoa.

Eu vivia no tempo de Henrique IV. Era entre todos humilde. Perdido nessa Paris onde tão bem se esquece aquele que se esconde e só busca o estudo, eu gostava de ser só, de ler e comentar à minha maneira. Pobre, eu trabalhava, e o labor diário me dava essa alegria inefável que se chama liberdade. Eu copiava livros e fazia essas maravilhosas vinhetas, prodígios de paciência e de saber que me davam apenas o pão e a água em troca de toda a minha paciência. Mas eu estudava, amava a minha pátria e buscava a verdade na Ciência. Ocupava-me de História e para a minha França bem-amada eu desejava a liberdade. Eu desejava a realização de todas as aspirações sonhadas na minha humildade.

Desde então, estou num mundo melhor, e Deus me recompensou de minha abnegação, dando-me essa tranquilidade de espírito, em que todas as obsessões do corpo estão ausentes, e eu sonho pelo meu país, pelo mundo inteiro, pela nossa Terra, pelo amor e pela liberdade.

Venho muitas vezes para vos ver e vos ouvir. Gosto dos vossos trabalhos e deles participo com todo o meu ser. Desejo-vos perfeitos e satisfeitos no futuro. Que sejais felizes, como eu o desejo. Mas não o sereis completamente senão vos despojardes da roupagem velha que desde muito veste o mundo inteiro. Falo do egoísmo. Estudai o passado, a história do vosso país e aprendereis mais com o sofrimento dos vossos irmãos do que com qualquer outra ciência.

Viver é saber, é amar, é auxiliar-se mutuamente. Ide, pois, e fazei segundo o vosso Espírito. Deus vos vê e vos julga.

BARBARET


Aviso

Foi-nos enviado um manuscrito muito volumoso intitulado O Amor - revelações do Espírito da 3ª ordem da série angélica ao irmão P. Montani. A remessa não veio acompanhada de uma carta, de modo que ignoramos a quem agradecer. Se este número da Revista lhe cair nas mãos, pedimos que se dê a conhecer, a fim de podermos agradecer. Enquanto esperamos, diremos que esse trabalho tem coisas excelentes e é baseado na mais sã moral e sobre os princípios fundamentais do Espiritismo. Mas, ao lado disso, há teorias aventurosas sobre vários pontos e que se prestam a uma crítica séria. De nossa parte, não poderíamos aceitar tudo quanto ele contém e achamos inconveniente publicá-lo sem modificações.

ALLAN KARDEC

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