Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862

Allan Kardec

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Agosto

Conferência do Sr. Trousseau

Professor da faculdade de medicina - Feita na associação politécnica, para ensino gratuito dos operários a 18 e 25 de maio de 1862 (Brochura in - 8º)

Se usaram inutilmente os cornos do diabo para derrubar o Espiritismo, eis um reforço que chega aos adversários: É o Sr. doutor Trousseau, que vem dar o golpe de misericórdia nos Espíritos. Infelizmente, se o Sr. Trousseau não acredita nos Espíritos, também não crê no diabo. Mas pouco importa o auxiliar, se ele derrota o inimigo. Sem dúvida esse novo campeão vai dizer a respeito a última palavra da Ciência. É o mínimo que se há de esperar de um homem tão altamente colocado por seu saber.

Atacando as ideias novas, ele não quererá deixar um argumento sem réplica. Não quererá que possam acusá-lo de falar de uma coisa que desconhece. Sem dúvida vai tomar os fenômenos um por um, pesquisá-los, analisá-los, comentá-los, explicálos, demoli-los, demonstrando por a mais b que são ilusões.

Ah! Espíritas! Fiquemos firmes! Se o Sr. Trousseau não fosse um sábio ou se não passasse de um pseudossábio, bem que poderia esquecer alguma coisa. Mas um verdadeiro sábio não quererá deixar a tarefa pela metade. Em geral hábil, quererá a vitória completa. Escutemos e tremamos!

Depois de uma tirada contra as pessoas que se deixam levar por anúncios, ele assim se exprime:

“É que, na verdade, as pessoas capazes de julgar seja o que for, não são as mais numerosas. O Sr. de Sartines queria mandar para a cadeia um charlatão que vendia suas drogas na Ponte Nova e fazia bons negócios. Mandou chamá-lo e lhe perguntou:

“─ Maroto, o que você faz para atrair tanta gente e ganhar tanto dinheiro?

“O homem respondeu:

“─ Senhor, quantas pessoas pensais que passam diariamente pela Ponte Nova?

“─ Não sei.

“─ Vou dizer-vos: cerca de dez mil. Entre elas, quantas pensais que são espertas?

“─ Oh! Oh! Talvez cem, disse o Sr. Sartines.

“─ É muito, mas vo-las deixo e fico com as outras nove mil e novecentas para mim.

“O charlatão era muito modesto e o Sr. Sartines muito severo para com a população de Paris. Sem a menor dúvida, mais de cem pessoas inteligentes atravessavam a Ponte Nova, e os mais inteligentes talvez parassem diante dos cavaletes do charlatão com tanta confiança quanto a multidão, porque, senhores, direi que as classes elevadas sofrem a influência do charlatanismo.

“Entre as nossas sociedades científicas citarei o Instituto. Citarei a seção da Academia de Ciências que encerra, com certeza, a elite dos cientistas do nosso país. Desses sábios, há uns vinte que procuram charlatães.”

Prova evidente da grande confiança que eles têm no saber de seus confrades, pois que a estes preferem os charlatães.

“São pessoas de grande mérito, é certo, entretanto, pelo fato de serem matemáticos, químicos ou naturalistas eminentes, eles concluem que são muito bons médicos, e então se julgam perfeitamente capazes de julgar as coisas que ignoram completamente.”

Se isso constitui prova de seu saber, não constitui prova de sua modéstia nem de sua opinião. Foram feitas muitas sátiras contra os sábios do Instituto. Não conheço nenhuma mais mordaz. É provável, pois, que juntando o exemplo ao preceito, o professor só fale do que sabe.

“Nós, que somos apenas um médico, por vezes temos essa modéstia, porquanto, se nos apresentam grandes teoremas de Matemática ou de Mecânica, confessamos que não sabemos e declinamos da competência. Mas os verdadeiros sábios jamais declinam de sua competência em coisa alguma, sobretudo no que se refere à Medicina.”

Já que os médicos declinam de sua competência naquilo que não sabem, temos uma garantia de que o Sr. Trousseau não tratará, sobretudo numa lição pública, de questões ligadas à Psicologia, desde que não seja profundamente versado nessas matérias. Esses conhecimentos lhe fornecerão, sem dúvida, argumentos irresistíveis em apoio de seu argumento.

“É triste dizer que os empíricos sempre tiveram muito acesso às criaturas inteligentes. Tive a extrema honra de ser amigo íntimo do ilustre Béranger. “Em 1848 tinha ele uma pequena oftalmia, para a qual o Sr. Bretonneau lhe havia aconselhado um colírio. A oftalmia foi curada. Mas como Béranger lia e trabalhava muito, e como fosse um pouco dartroso, a oftalmia reapareceu. Então ele se dirigiu a um sacerdote polonês que curava moléstias de olhos com um remédio secreto. Nessa época eu era, na faculdade, presidente do júri encarregado do exame de oficiais da saúde. Como o sacerdote polonês tinha contas a ajustar com a polícia, porque tinha inutilizado alguns olhos, quis regularizar-se. Com esse objetivo foi procurar Béranger e lhe perguntar se, por sua influência, poderia conseguir que fosse reconhecido como oficial de saúde, a fim de estar em condições de tratar dos olhos e à vontade vazar os olhos dos clientes.”

Se Béranger tinha sido curado pelo Sr. Bretonneau, por que motivo iria dirigirse a um outro? É natural ter mais confiança naquele que nos curou e que tem mais experiência do nosso temperamento do que um estranho.

Na verdade, o diploma é um salvo-conduto que não só permite aos oficiais de saúde arrancar os olhos dos clientes, mas aos médicos a matá-los sem remorso e sem responsabilidade. É certamente por isso que os seus sábios confrades, como confessa o Sr. Trousseau, são tão arrastados a se dirigirem aos empíricos e charlatães.

“Béranger procurou-me e me disse:

“─ Meu amigo, prestai-me um grande obséquio. Tratai de fazer aprovarem esse pobre diabo. Ele só se ocupa de moléstia dos olhos e, posto o exame para oficiais de saúde abranja todos os ramos da arte de curar, sede indulgente e manso. É um refugiado, e depois, ele me curou, eis a melhor razão.

“Eu lhe respondi:

“─ Mandai-me o vosso homem.

“O sacerdote polonês veio à minha casa.

“─ Vós me fostes recomendado, disse-lhe eu, por um homem a quem particularmente devo obrigações. É o mais caro de meus amigos. Além disso, é Béranger, o que é mais importante. Dois de meus colegas, com quem falei, e eu, estamos decididos a fazer o que for possível; apenas os exames são públicos, e será bom tapar um pouco os ouvidos, mas isto é o de menos. Vejamos. Serei generoso. Tomarei o exame de anatomia, e não vos será difícil saber tanta anatomia quanto eu.

Eu interrogarei sobre o olho.

“Nosso homem pareceu desconcertado. Continuei:

“─ Sabeis o que é o olho?

“─ Muito bem.

“─ Sabeis o que é a pálpebra?

“─ Sim.

“─ Tendes ideia do que é uma córnea?

“Ele hesitou.

“─ A pupila?

“─ Ah! Senhor, a pupila, essa eu conheço bem.

“─ Sabeis o que é o cristalino, o humor vítreo, a retina?

“─ Não, senhor. Para que me serviria isso? Só me ocupo de doença de olhos.

“Digo-lhe:

“─ Isso serve para alguma coisa, e vos garanto que quase seria necessário suspeitar da existência de um cristalino, principalmente se quiserdes, como por vezes o fazeis, segundo me parece, operar cataratas.

“─ Eu não opero.

“─ Mas se vos desse na telha extrair uma...

“Não houve saída. O infeliz queria exercer a arte de oculista sem a menor noção de anatomia do olho.”

É realmente difícil mostrar-se menos exigente para dar a esse infeliz o direito de legalmente vazar os olhos do próximo. Contudo parece que ele não operava ─ embora a fantasia pudesse arrastá-lo a isso ─ e que apenas estava de posse de um remédio para curar as oftalmias, e cuja aplicação absolutamente empírica, não requer conhecimentos especiais, pois isso não é bem o que se chama a arte do oculista.

A nosso ver, o mais importante era assegurar-se de que o remédio nada continha de ofensivo. Ele tinha curado o Sr. Béranger, e isto era um indício favorável. No interesse da Humanidade poderia ser útil permitir seu uso.

Aquele homem poderia ter os conhecimentos de anatomia exigidos para obter seu diploma, o que não tornaria bom o remédio, caso fosse mau. Entretanto, graças ao diploma, teria podido receitá-lo com segurança, por mais perigoso que fosse.

Jesus Cristo, que curava os cegos, os surdos, os mudos e os paralíticos, provavelmente não sabia mais de anatomia do que aquele, e o Sr. Trousseau incontestavelmente ter-lhe-ia recusado o direito de fazer milagres. Quantas multas teria ele que pagar hoje se não pudesse curar sem diploma!

Nada disso tem relação com os Espíritos, mas são as premissas do argumento com os quais ele vai esmagar os seus partidários.

“Procurei Béranger e lhe contei a história. Béranger exclamou:

“─ Coitado!...”

É provável que dissesse, de si para consigo: Entretanto me curou! Longe de fazermos a apologia dos charlatães e dos vendedores de panaceias, queremos apenas dizer que pode haver remédios eficazes, fora das fórmulas do códex; que os selvagens que têm segredos infalíveis nas picadas de cobras, não conhecem a teoria da circulação do sangue nem a diferença entre sangue venoso e sangue arterial. Queríamos saber se o Sr. Trousseau, picado por uma cascavel ou por uma coral recusaria os socorros daqueles, apenas porque não têm diploma.

Num próximo artigo falaremos especialmente das diversas categorias de médiuns curadores, que parecem multiplicar-se de uns tempos para cá.

“Eu lhe disse:

“─ Meu caro Béranger, sou vosso médico há oito anos. Hoje vou cobrar os meus honorários.

“─ E quais são eles?

“─ Ides fazer uma canção dedicada a mim, mas eu vou dar o estribilho.

“─ Ah! Bem! E o estribilho?

“─ Ah! Como a gente sabida é boba!

Ficou acertado entre nós que ele não mais me falaria do seu sacerdote polonês. Não é triste ver um homem como Béranger, a quem eu contava tais coisas, não compreender que o seu protegido podia fazer muito mal e era absolutamente incapaz de fazer fosse o que fosse de útil pelas mais simples doença dos olhos?”

Parece que Béranger não estava muito convencido da infalibilidade dos doutores diplomados e podia repetir o estribilho:

Ah! Como a gente sabida é boba.

“Como vedes, senhores, as pessoas inteligentes são as que caem primeiro. Lembrai-vos do que se passava no fim do século passado. ─ Um empírico alemão emprega a eletricidade, ainda mal conhecida naquela época. Ele submete algumas mulheres vaporosas à ação do fluido, e acontecem pequenos acidentes nervosos, que ele atribui a um fluido emanado de si próprio. Então ele estabelece uma teoria bizarra, na época chamada Mesmerismo. Ele vem e se instala na Praça Vendôme, no centro da grande Paris. Aí as pessoas mais ricas, as pessoas da mais alta aristocracia da capital, vêm reunir-se em torno da varinha de Mesmer. Eu não saberia dizer quantas curas foram atribuídas a Mesmer, que aliás é o inventor e o importador, entre nós, dessa maravilha que se chama sonambulismo, isto é, de uma das mais vergonhosas chagas do empirismo.

“Com efeito, que dizer do sonambulismo? Moças histéricas, geralmente perdidas, juntam-se a qualquer charlatão famélico e simulando o êxtase, a catalepsia, o sono, e ei-los, com a mais truanesca segurança, exibindo mais inépcias do que se poderia imaginar, inépcias bem pagas, bem aceitas, acreditadas com uma fé mais robusta que os conselhos do clínico mais esclarecido.”

De que serve serem inteligentes, se são os que caem primeiro? Que é preciso para não se deixar cair? Ser sábio?

─ Não.

─ Ser membro do Instituto?

─ Não, pois um bom número deles tem a fraqueza de preferir os charlatães aos seus confrades. É o Sr. Trousseau que no-lo diz.

─ Ser médico?

─ Também não, pois um bom número deles se dá ao absurdo do magnetismo.

─ Que é, então, necessário para ter bom senso?

─ Ser o Sr. Trousseau.

Sem dúvida o Sr. Trousseau tem direito a externar a sua opinião; de crer ou não no sonambulismo, mas não é transpor os limites da educação tratar todas as sonâmbulas de moças perdidas unidas a charlatães?

É inevitável que nisso, como em tudo, haja abusos, do que não está isenta a medicina oficial. Sem dúvida há simulacros de sonambulismo, mas pelo fato de haver falsos devotos, pode-se dizer que não haja verdadeira devoção?

O Sr. Trousseau ignora que entre os sonâmbulos profissionais há senhoras casadas muito respeitáveis; que o número das que não se põem em evidência é muito maior; que as há nas famílias mais honradas e mais altamente colocadas; que muitos médicos, devidamente diplomados, de um saber incontestável, são hoje campeões declarados do magnetismo, que empregam com sucesso numa porção de casos rebeldes à medicina comum.

Não tentamos fazer o Sr. Trousseau mudar de opinião, provando a existência do magnetismo e do sonambulismo, pois talvez fosse tempo perdido. Aliás isso nos desviaria do nosso escopo. Diremos, porém, que se o ataque e o sarcasmo são armas pouco dignas da Ciência, é ainda mais indigno que ela arraste na lama uma ciência hoje espalhada no mundo inteiro, reconhecida e praticada pelos mais eminentes homens, e atirar sobre os que a professam os insultos mais grosseiros que se possam encontrar no vocabulário da injúria. Só podemos lamentar por ouvirmos expressões tão triviais, feitas para inspirar desgosto, descendo das cátedras do ensino.

Vós vos admirais que inépcias, como vos apraz chamá-las, sejam acreditadas com uma fé mais robusta que os conselhos de clínico mais esclarecido. A razão disso está na inumerável quantidade de erros cometidos pelos clínicos mais esclarecidos, dos quais citaremos apenas dois exemplos.

Uma senhora do nosso conhecimento tinha um filho de quatro a cinco anos, com um tumor no joelho, em consequência de uma queda. O mal tornara-se tão grave que ela julgou que deveria consultar uma celebridade da Medicina, que declarou ser a amputação indispensável e urgente, para salvar a vida da criança. A mãe era sonâmbula. Não podendo decidir o caso da operação de sucesso duvidoso, resolveu tratá-lo ela própria. Ao cabo de um mês a cura era completa. Um ano depois o menino estava forte e sadio. Ela foi ver o médico e lhe disse: “Eis o menino que, em vossa opinião, deveria morrer se a perna não fosse cortada.” ─ Que quereis? respondeu ele, a Natureza tem recursos imprevistos!

O outro caso é pessoal. Há doze anos fiquei quase cego, a ponto de quase não poder ler nem escrever e não reconhecer as pessoas a quem dava a mão. Consultei as notabilidades da Ciência, entre outras o doutor L..., professor de clínica para as moléstias dos olhos. Depois de um exame muito atento e consciencioso, ele declarou que eu sofria de uma amaurose, e que devia resignar-me.

Fui ver uma sonâmbula, que me disse que não era amaurose, mas uma apoplexia nos olhos, que podia degenerar em amaurose se não fosse cuidada adequadamente. Declarou responder pela cura. Em quinze dias, disse ela, experimentareis uma ligeira melhora; em um mês começareis a ver e em dois ou três meses nada mais tereis. Tudo se passou como ela tinha previsto e hoje minha visão está completamente restabelecida.

O Sr. Trousseau continua:

“Ainda em nossos dias tendes um americano que evoca os Espíritos, fazendo falar Sócrates, Voltaire, Rousseau, Jesus Cristo e quem se queira! Em que lugares? Nas espeluncas de alguns bêbados?”

A escolha de expressões do professor é realmente notável.

“Não, ele os faz falar nos palácios, no senado, nos mais aristocráticos salões de Paris. E há gente decente que diz: ‘Mas eu vi; recebi um toque de mão invisível; a mesa foi até o teto!’ Eles vo-lo dizem e repetem. E durante sete ou oito meses os Espíritos batedores deslumbraram os homens, espantaram as mulheres e lhes deram ataques de nervos. Essa estupidez que não tem nome; essa estupidez que o homem mais grosseiro teria vergonha de aceitar, foi aceita por gente esclarecida, mais ainda, por gente das classes altas de Paris.”

O Sr. Trousseau poderia acrescentar: e do mundo inteiro. Parece que ele ignora que essa estupidez sem nome não durou sete ou oito meses, mas dura ainda e se propaga cada vez mais por toda parte; que a evocação dos Espíritos não é privilégio de um americano, mas de milhares de pessoas de ambos os sexos, de todas as idades e de todos os países.

Até o presente, em boa lógica, a adesão das massas e principalmente das pessoas esclarecidas tinha sido considerada como de certo valor. Parece, porém, que não vale nada, e que a única opinião sensata é a do Sr. Trousseau e dos que pensam como ele.

Quanto aos outros, seja qual for a sua posição social, a sua instrução, morem em palácios e ocupem no Estado as primeiras posições, estão abaixo do homem mais grosseiro, porque o homem mais grosseiro teria vergonha de aceitar suas ideias.

Quando uma opinião se acha tão espalhada quanto a do Espiritismo; quando, em vez de diminuir, progride rapidamente e prodigiosamente, quando é aceita pela elite da Sociedade, se ela é falsa e perigosa, é necessário opor-lhe um dique; é preciso combatê-la com provas contrárias.

Ora! Parece que o Sr. Trousseau só dispõe deste argumento: Ah! Como as pessoas sabidas são tolas!




Necrologia

Morte do Bispo de Barcelona

“Escrevem-nos da Espanha que o bispo de Barcelona, aquele mesmo que mandou queimar trezentos volumes espíritas pela mão do carrasco, a 9 de outubro de 1861[1], morreu no dia 9 deste mês, e foi enterrado com a pompa costumeira para os chefes da Igreja. Apenas nove meses são decorridos, e já esse auto de fé produz os resultados pressentidos por todos, isto é, apressou a propagação do Espiritismo naquele país. Com efeito, a repercussão daquele ato, inqualificável neste século, chamou para esta doutrina a atenção de uma multidão de criaturas que jamais dela tinha ouvido falar, e a imprensa, fosse qual fosse a sua opinião, não pôde silenciar.

O aparato exibido em tal circunstância era de molde a aguçar a curiosidade pela atração do fruto proibido, e principalmente pela importância dada à coisa, porque cada um teria dito, lá com os seus botões, que não se faz assim com uma ninharia ou com um sonho vão.

Muito naturalmente, o pensamento recuou alguns séculos e deve ter-se lembrado que nesse mesmo país não só queimaram livros, mas criaturas. Que poderiam, pois, conter tais livros que merecessem a solenidade da fogueira? Foi o que quiseram saber.

Na Espanha, o resultado foi o mesmo que em toda parte onde o Espiritismo foi atacado. Sem os ataques trocistas ou sérios de que foi objeto, contaria dez vezes menos partidários do que tem. Quanto mais violenta e insistente foi a crítica, tanto mais ele tomou relevo e se desenvolveu. Os ataques anódinos passam em branco, ao passo que o brilho do raio desperta os mais entorpecidos, que querem ver o que se passa. É tudo quanto pedimos, antecipadamente seguros do resultado do exame. Isso é um fato positivo, pois toda vez que, numa localidade, o anátema desce sobre ele do alto da cátedra, temos certeza de ver aumentar o número dos assinantes, ou de vê-los aparecerem, se não os houvesse antes.

A Espanha não podia escapar a essa consequência. Assim, não há um espírita que não se tenha alegrado ao saber do auto-de-fé de Barcelona, pouco depois seguido pelo de Alicante, e mais de um adversário deplorou um ato com o qual a Religião nada tinha a ganhar. Diariamente temos a prova irrecusável da marcha progressiva do Espiritismo nas classes mais esclarecidas daquele país, onde conta com zelosos e fervorosos adeptos.

Um dos nossos correspondentes na Espanha, anunciando a morte do bispo de Barcelona, nos sugeriu a sua evocação. Dispúnhamo-nos a fazê-lo e, assim, tínhamos preparado algumas perguntas, quando ele se manifestou espontaneamente a um dos nossos médiuns, respondendo por antecipação a todas as perguntas que lhe queríamos fazer, antes que as mesmas fossem enunciadas. Sua comunicação, de caráter absolutamente imprevisto, continha, entre outras, a seguinte passagem:

“...Auxiliado por vosso chefe espiritual, pude vir ensinar-vos com o meu exemplo e vos dizer: Não repilais nenhuma das ideias anunciadas porque um dia, um dia que durará e pesará como um século, essas ideias amontoadas gritarão como a voz do anjo: Caim, que fizeste de teu irmão? Que fizeste de nosso poder, que deveria consolar e elevar a Humanidade? O homem que voluntariamente vive cego e surdo de espírito, como outros o são do corpo, sofrerá, expiará e renascerá para recomeçar o labor intelectual que a sua preguiça e o seu orgulho levaram a evitar. Essa voz terrível me disse: Queimaste as ideias e as ideias te queimarão!...

“Orai por mim. Orai, porque é agradável a Deus a prece que lhe é dirigida pelo perseguido em favor do perseguidor.

“Aquele que foi bispo e que não passa de um penitente.”

Esse contraste entre as palavras do Espírito e as do homem nada tem de surpreendente. Todos os dias vemos gente que após a morte pensa diversamente do que pensava em vida, uma vez caída a venda das ilusões, o que é uma prova incontestável de superioridade. Os Espíritos inferiores e vulgares são os únicos que persistem no erro e nos preconceitos da vida terrena.

Quando vivo, o bispo de Barcelona via o Espiritismo através de um prisma particular, que lhe desnaturava as cores ou, melhor dizendo, ele não o conhecia. Agora o vê sob sua verdadeira luz e lhe sonda a profundidade. Caído o véu, já não é para ele uma opinião, uma teoria efêmera que se pode sepultar nas cinzas. É um fato. É a revelação de uma lei da Natureza, lei irresistível como a força da gravitação, lei que deve, pela força das coisas, ser aceita por todos, como tudo quanto é natural. Eis o que ele compreende agora, e o que o constrangeu a dizer que “as ideias que quis queimar o queimarão”, ou, em outras palavras, prevalecerão sobre os preconceitos que o levaram a condená-las.

Não podemos desejar que assim seja, pelo tríplice motivo de que o verdadeiro espírita a ninguém deseja isso; não conserva rancor; esquece as ofensas e, a exemplo do Cristo, perdoa aos inimigos. Em segundo lugar porque, longe de nos prejudicar, ele nos serviu. Enfim, porque ele reclama de nós a prece do perseguido pelo perseguidor, como a mais agradável a Deus, pensamento todo caridade, digno da humildade cristã revelada pelas suas últimas palavras: “Aquele que foi bispo e que não passa de um penitente”. Bela imagem das dignidades terrenas deixadas à borda da sepultura, para se apresentar a Deus tais quais elas são, sem os atavios impostos aos homens.

Espíritas, perdoemos-lhe o mal que nos quis fazer, como quereríamos que as nossas ofensas nos fossem perdoadas, e roguemos por ele no aniversário do auto de fé de 9 de outubro de 1861.



[1] Vide, para detalhes, a Revista Espírita de novembro e dezembro de 1861.





Morte da Sra. Home

Lemos no Nord, de 15 de julho de 1862:

“O famoso Sr. Dunglas Home passou por Paris nestes dias. Pouca gente o viu. Ele acaba de perder sua esposa, irmã da Condessa Kouchelew-Bezborodko. Por mais cruel que fosse, disse ele que essa perda lhe é menos sensível do que para outro homem, não porque a amasse menos, mas porque a morte não o separa daquela que aqui tinha o seu nome na Terra. Eles se veem e conversam tão à vontade como quando habitavam juntos o mesmo planeta.

“O Sr. Home é católico romano, e sua esposa, antes de soltar o último alento, querendo unir-se ao marido numa última comunhão espiritual, abjurou a religião grega em presença do bispo de Périgueux. Isso se passou no Castelo de Laroche, residência do Conde Kouchelew.”

O folhetim ─ pois é num folhetim, ao lado do Pré-Catalan, que se encontra essa nota ─ é assinado Nemo, um dos críticos que não poupou zombarias aos espíritas e às suas pretensões de conversar com os mortos. Senhor, não é engraçado acreditar que aqueles a quem amamos não estejam perdidos para sempre e que os veremos? Não é mesmo ridículo e muito tolo e supersticioso acreditar que estejam ao nosso lado, que nos vejam e nos escutem, se não os vemos, e que possam comunicar-se conosco? O Sr. Home e sua esposa se veem e conversam tão à vontade como se estivessem juntos. Que absurdo! E dizer que em pleno século dezenove, o século das luzes, haja criaturas tão crédulas que acreditem em semelhantes tolices, dignas dos contos de Perrault!

Perguntem a razão disso ao Sr. Trousseau. O nada, falai-me disso! Isso é que é lógico! A gente tem mais liberdade de fazer na vida aquilo que se quer. Ao menos não se teme o futuro. Sim, mas onde a compensação para o infeliz? ─ Nemo, singular pseudônimo para a circunstância!



SOCIEDADE ESPÍRITA DE CONSTANTINA

NOTA: Falamos da sociedade que se formou em Constantina, sob o título de Sociedade Africana de Estados Espíritas, sob os auspícios da Sociedade de Paris. Transcrevemos a seguir a comunicação por ela obtida para a sua instalação:

“Posto os trabalhos até hoje feitos por vossa sociedade não estejam isentos de crítica, não nos queremos deter sobre essas considerações, à vista da boa vontade que vos anima. Levamos mais em conta a intenção que os fatos.

“Antes de mais nada penetrai-vos da grandeza da tarefa que empreendestes e fazei quanto possível para chegardes a bom termo. Só assim podereis esperar ser assistidos pelos Espíritos superiores.

“Entremos na matéria e vejamos se não cometestes algumas faltas. Para começar cometestes o grande equívoco de vos servirdes de todos os vossos médiuns para as comunicações particulares. Que é a evocação geral senão o apelo aos bons Espíritos para se comunicarem convosco? Então, que fazeis? Em vez de esperar, após a evocação geral e de dar aos bons Espíritos tempo para se comunicarem por este ou aquele médium, conforme as simpatias que possam existir, passais imediatamente às evocações particulares. Sabei que esse não é um bom meio de obter comunicações espontâneas, como estas são recebidas em outras sociedades. Assim, esperai um pouco e recolhereis as comunicações gerais, que sempre vos ensinarão algumas verdades necessárias. Em seguida podeis passar às evocações particulares. Mas então, para cada uma não vos sirvais senão de um só médium. Não sabeis que só os Espíritos superiores estão em condições de se manifestarem por vários médiuns? Não façais senão um só médium servir a cada evocação particular; e se tiverdes dúvidas quanto à verdade das respostas obtidas, então, num outro dia, fazei nova evocação, empregando outro médium.

“Estais apenas no começo da ciência espírita e ainda não podeis colher todos os frutos que ela dá aos adeptos experimentados. Mas não desanimeis: ser-vos-ão levados em conta os esforços para vos melhorardes e para proteger a verdade imutável de Deus. Avante, pois, meus amigos; e que o ridículo que encontrais mais uma vez no caminho não vos desvie da linha da crença espírita.

JACQUES


Os espíritas de Constantina nos pediram solicitássemos de Santo Agostinho o seu patrocínio espiritual para a sua sociedade. Ele nos deu a respeito esta comunicação:


(SOCIEDADE DE PARIS, 29 DE JUNHO DE 1862-MÉDIUM: SR. E. VÉZY)


Dirigindo-se, para começar, aos membros da Sociedade de Paris, diz ele:

“Bem andaram os nossos filhos da Nova França ligando-se a vós; fizeram bem em não se separarem do tronco. Ficai sempre unidos e os bons Espíritos estarão convosco.” Continua dirigindo-se aos de Constantina.

Amigos, sinto-me feliz por me haverdes escolhido para vosso guia espiritual. Ligado à Terra por uma grande missão que deve regenerá-la, estou satisfeito por poder encorajar mais especialmente um grupo de Pensadores que se ocupam com a grande idéia e por presidir aos seus trabalhos. Ponde, pois, o meu nome à frente dos vossos, e os Espíritos da minha ordem virão afastar os maus Espíritos que sempre rondam à porta das assembléias onde se discutem as leis da moral e do progresso. Que a fraternidade e a concórdia permaneçam em vosso meio. Lembrai-vos de que todos os homens são irmãos e que o grande objetivo do Espiritismo é reuni-los um dia no mesmo lar e de fazer que se sentem à mesa do Pai Comum: Deus.

Como é bela essa missão! Assim, com que alegria vimos a vós para vos dar a conhecer os desígnios divinos! Para vos revelar as maravilhas do além-túmulo! Mas vós, que sois iniciados nessas sublimes verdades, espalhai a semente em vosso derredor e a recompensa será bela. Gozareis, na Terra, as suas primícias. Que alegria! Marchai sempre na via do ensino, do amor e da caridade!

Pronunciai meu nome com confiança nas horas de temor e de dúvida: logo os vossos corações serão aliviados da amargura e do fel que podem conter. Não esqueçais que estarei em todos os pontos da Terra onde tiverdes de levar o apostolado evangélico. Eu vos encerrarei a todos em minh’alma, para um dia vos depositar numa alma mais vasta e mais forte. Estarei sempre convosco, como aqui estou; minha voz terá para vós a doçura que reconheceis, porque nem gosto dos gritos, nem dos sons agudos. Incessantemente ouvir-me-eis repetir: amai-vos, amai-vos! Poupai-me de me armar do açoite com que se deve ferir o mau. Posto isso por vezes seja necessário, não sejais nunca desse número. Tempo virá em que a humanidade marchará dócil à voz do bom pastor. Sois vós, filhos, que deveis ajudar-nos nessa regeneração e que deveis ouvir soar a primeira hora. Porque eis o rebanho que se reúne e o pastor que chega.


OBSERVAÇÃO: O Espírito alude a uma revelação de subida importância, feita pela primeira vez num grupo espírita de pequena cidade africana, nos confins do deserto, por um médium completamente iletrado. Essa revelação, que nos foi transmitida imediatamente, chegou simultaneamente de diversas paragens da França e do estrangeiro. Desde então numerosos documentos muito característicos e mais minuciosos vieram lhe dar uma espécie de consagração. Dar-lhe-emos publicidade em tempo oportuno.

Trabalhai, pois, e tende coragem. Nas vossas reuniões discutifriamente, sem arroubos; pedi o nosso conselho, a nossa opinião, afim de não cairdes em erro, em heresia. Sobretudo nem formuleisartigos de fé, nem dogmas. Lembrai-vos que a religião de Deus é areligião do coração; que ela tem por base apenas um princípio: acaridade; por desenvolvimento: o amor à humanidade.

Jamais corteis o galho da árvore. Esta é mais verde com todos os seus ramos e estes morrem quando separados do tronco que lhes deu origem. Lembrai-vos que o Cristo compreendeu que a sua igreja se assentasse sobre a própria pedra, a fim de ser sólida, do mesmo modo que ordena não tenha o Espiritismo senão uma raiz, para que esta tenha mais força de penetração em toda a superfície do solo, por mais árida e ressecada que seja.

Um Espírito encarnado foi escolhido para vos dirigir, para vos conduzir. Submetei-vos com respeito, não às suas leis, pois ele não dá ordens, mas aos seus desejos. Por essa submissão provareis aos vossos inimigos que tendes o necessário espírito de disciplina para fazerdes parte da nova cruzada contra o erro e a superstição; o necessário espírito de amor e de obediência para marchardes contra a barbárie. Envolvei-vos na bandeira da civilização moderna: o Espiritismo sob um só chefe e derrubareis essas idéias esquisitas de frontes cornudas e de grandes caudas que devem ser destruídas.

Esse chefe, cujo nome não direi, bem o conheceis. Está na frente: marcha sem temor às dentadas venenosas das serpentes e répteis da inveja e do ciúme que o cercam; ficará de pé, porque ungimos o seu corpo, para que seja sempre sólido e robusto. Segui-o, então. Mas em vossa marcha as tempestades cairão sobre as vossas cabeças e alguns de vós não encontrarão refúgio nem abrigo. Que esses se resignem com coragem, como os mártires cristãos e pensem que a grande obra pela qual tiverem sofrido é a vida, é o despertar das nações adormecidas e que por isso serão largamente compensados um dia, no remo do Pai.

SANTO AGOSTINHO


O trecho que se segue foi extraído de uma carta recente que nos mandou o presidente da Sociedade de Constantina:

“Estamos preocupados todos os residentes europeus e mesmo os indígenas. Em redor de nós formaram-se vários grupos e por toda a parte se ocupam do Espiritismo. Pelo menos a criação de nossa Sociedade terá tido como resultado chamar a atenção para essa ciência nova. Contudo não deixamos de experimentar algum embaraço, mas somos sustentados pelos Espíritos que nos exortam à paciência e dizem que são provas das quais a Sociedade sairá vitoriosa e de certo modo fortalecida. Também temos a oposição externa: o clero de um lado e do outro a gente da mesquita, afirmando em altas vozes que nos encontramos sob a inspiração de Satã e que nossas comunicações vêm do inferno. Temos ainda contra nós os vivedores, entregues ao sensualismo, despreocupados com a própria alma. Materialistas ou céticos que repelem tudo o que se refere a essa outra vida, cuja existência não querem admitir. Fecham os olhos e os ouvidos, chamam-nos de charlatães e procuram abafar-nos pela troça e pelo ridículo. Mas prosseguimos por entre todos os espinhos: não nos faltam os médiuns, os quais surgem diariamente e muito interessantes. Temos comunicações de diversa natureza, e incidentes imprevistos para convencer os mais rebeldes, como uma resposta em italiano por uma pessoa que ignora essa língua; respostas a perguntas sobre a formação do globo terráqueo, por uma senhora médium que não estudou geologia; um outro grupo recebeu mensagens poéticas cheias de encanto.”

OBSERVAÇÃO: Como se vê os sacerdotes muçulmanos também meteram o diabo no jogo. E de notar que os padres de todos os cultos lhe dão tal poder que a gente não sabe qual a parte que reservam a Deus, nem como se deve entender a Sua Onipotência. Se esta é absoluta, o diabo não agirá sem a sua vontade; se é parcial, Deus não é Deus. Felizmente a gente tem mais fé na Sua bondade infinita do que na Sua vingança infinita e o diabo ficou muito desacreditado depois que o levaram para o palco a representar desde a comédia até a ópera. Assim, seu nome quase não produz mais efeito sobre as criaturas do que as imagens horrorosas que os chineses colocavam nas muralhas, a fim de espantar os bárbaros europeus. O progresso incessante do Espiritismo prova que tal meio é ineficaz. Será bom procurar outro.


Carta do Sr. Jean Reynaud ao Journal Débats

(PUBLICADA NESSE JORNAL A 6 DE JULHO DE 1862)

“Ao Sr. Diretor-Gerente.

Neuilly, 2 de julho de 1862.



“Senhor,

“Permiti-me responder a duas acusações consideráveis, que me faz, no vosso jornal de hoje, o Sr. Franck, que me toma por partidário do panteísmo e da metempsicose. Não só repilo tais erros com abundância de coração: as pessoas que me honraram com a leitura de meu livro Terre et Ciel puderam ver que são contrárias a todos os sentimentos expressos no livro.

“Quanto ao panteísmo limito-me a dizer que o princípio da personalidade de Deus é o ponto de partida de todas as minhas idéias e que, sem me inquietar com o que pensam os judeus, estou com os Cristãos que o dogma da Trindade resume toda a teologia sobre o assunto. Assim, à página 226 do citado livro, enuncio que a criação procede da Trindade inteira; melhor ainda, cito textualmente a tese de Santo Agostinho, sob cuja autoridade me coloco, e acrescento: “Se, afastando-me da Idade Média, no que concerne a ancianidade do mundo, corresse o risco de resvalar no abismo dos que confundem Deus e o Universo num caráter comum de eternidade, eu estacaria. Mas pode ter a menor inquietação a respeito?”

“Quanto à segunda acusação, sem me inquietar se penso ou não com o Sr. Salvador, direi apenas que se se entende por metempsicose, no sentido vulgar, a doutrina que expõe o homem, após a morte, a passar pelo corpo de animais, eu a repilo, como filha do panteísmo, como repilo o próprio panteísmo. Creio que o nosso destino futuro se baseia essencialmente na permanência de nossa personalidade. o sentimento dessa personalidade pode eclipsar-se momentaneamente, mas nunca se perde e sua plena posse é o primeiro caráter da vida bem-aventurada a que todos os homens, no curso mais ou menos longo das provas, são chamados continuamente. A personalidade do homem decorre, muito naturalmente, da de Deus. A página 258 daquele livro pergunta-se: “Como não teria Deus criado à Sua imagem o que quis criar na plenitude de seu amor?” E ainda sobre o ponto refiro-me a Santo Agostinho, cujas palavras cito textualmente: “Desde, pois, que fomos criados à imagem do nosso Criador, contemplemos em nós essa imagem e, como a criança perdida do Evangelho, voltemos a Ele, depois de nos termos d’Ele afastado por nossos pecados.”

“Se o livro Terre et Ciel se afasta das idéias aceitas pela Igreja, não é pelas teses substanciais, como quer fazer crer o Sr. Franck, mas apenas, se assim se pode dizer, numa questão de tempo. Ensina-se que a duração da criação é proporcional à sua extensão, de modo que a imensidade rema igualmente nos dois sentidos. E éensinado, também, que a nossa vida atual, em vez de representar a totalidade das provas pelas quais nos capacitamos para participar da plenitude da vida bem-aventurosa, é apenas um termo da série, mais ou menos longa, de existências análogas. Eis, senhor, o que pôde dar a crítica do Sr. Franck, que me pareceu tanto mais temível quanto é bem conhecida a perfeita lealdade de seu caráter.

“Recebei, senhor, etc.

JEAN REYNAUD!”


Vê-se que nem fomos o único, nem o primeiro a proclamar a doutrina da pluralidade das existências, isto é, a reencarnação. A obra Terre et Ciel, do Sr. Jean Reynaud, apareceu antes de O Livro dos Espíritos. Pode-se ver o mesmo principio, exposto em termos explícitos num brilhante opúsculo do Sr. Louis Jourdan, intitulado Les Priêres de Ludovic, cuja primeira edição é de 1849, da Librairie-Nouvelle, Boulevard des Italiens, E que a idéia da reencarnação não é nova: é tão velha quanto o mundo e encontrada em autores antigos e modernos. Aos que alegam ser ela contrária aos dogmas da Igreja, respondemos que uma de duas: ou existe a reencarnação, ou não existe. Não há alternativa. Se existe, é uma lei da natureza. Ora, se um dogma é contrário a uma lei da natureza, é preciso saber com quem está a razão. Quando a Igreja anatematizou e excomungou como culpados de heresia os que acreditavam no movimento da Terra, não impediu que a Terra girasse e que todo o mundo hoje creia nisso. Dar-se-á o mesmo com a reencarnação. Não é, pois, questão de opinião, mas questão de fato. Se o fato existe, tudo quanto poderá dizer-se ou fazer-se não impedirá a sua existência e, mais cedo ou mais tarde, os recalcitrantes aceitá-lo-ão. Deus não indaga de suas conveniências para regular a ordem das coisas e o futuro provará, mais cedo ou mais tarde, quem tem razão.


Pandus e Kurus

A reencarnação na antiguidade

De Nantes escreve um dos nossos assinantes:

“Num livro que trata de obras em sânscrito, encontrei numa passagem do poema Mahabárata uma exposição das crenças daqueles tempos remotos. Grande foi a minha admiração ao encontrar aí a reencarnação, doutrina que então parece ter sido bem compreendida. Eis o fato que permite ao deus Krishna explicar ao chefe dos Pandus a teoria dos brâmanes.

“Tendo rebentado a guerra civil entre os descendentes de Pandu, legítimos herdeiros do trono, e os descendentes de Kuru, que eram usurpadores, vêm os Pandus à frente de um exército comandado pelo herói Arjuna, atacar os usurpadores. A batalha foi longa e a vitória era ainda incerta.

“Um armistício permitiu que os dois exércitos tivessem tempo de recuperar as forças. De repente soaram as trombetas e os dois grupos se movimentam para o combate. Cavalos brancos puxam o carro de Arjuna, junto ao qual se mantém o deus Krishna. De repente o herói para no meio do terreno que separa os contendores e os abarca com o olhar. “Irmãos contra irmãos, diz ele para si mesmo; parentes contra parentes, prestes a se estrangularem sobre os cadáveres de seus irmãos!’ “Uma profunda melancolia e uma dor súbita apodera-se dele e ele exclama:

“─ Krishna! Eis os nossos parentes armados, de pé, prestes a se estrangularem. Vê! Meus membros tremem, meu rosto empalidece, meu sangue gela; um frio de morte circula-me nas veias e meus cabelos se eriçam de horror. Meu arco fiel cai-me da mão, incapaz de sustê-lo; vacilo; nem posso avançar nem recuar, e minh’alma, tomada pela dor, parece querer abandonar-me. Deus de cabelos louros, ah! dize-me, terei felicidade quando tiver assassinado todos os meus? Que representarão a vitória, o poder e a vida, quando aqueles para os quais quero obter e conservar tiveremmorrido no combate? Ó conquistador celeste, quando o mundo tríplice fosse o preço de sua morte, eu não os quereria estrangular por este globo miserável. Não, não o quero, ainda que se preparem para matar-me impiedosamente.”

“─ Esses cuja morte choras, ─ respondeu o deus, ─ não merecem que os chores; quer vivam, quer morram, o sábio não tem lágrimas para a vida nem para a morte. O tempo em que eu não existia, em que tu não existias, em que esses guerreiros não existiam, jamais existiu, e jamais virá a hora da nossa morte. Metida em nossos corpos, a alma atravessa a juventude, a idade madura, a decrepitude, e passando a novos corpos, ela recomeça o seu curso. Indestrutível e eterno, um deus distende com suas mãos o Universo onde estamos. Quem aniquilará a alma que ele criou? Quem destruirá a obra do Indestrutível? Envoltório frágil, o corpo se altera, corrompe-se e morre, mas a alma, a alma eterna que a gente não pode conceber, essa jamais perece. Ao combate, Arjuna! Lança os teus corcéis na peleja. A alma não morre. Tu não destróis a alma; ela não será morta; ela jamais nasce; ela jamais morre. Ela nada sabe do presente, do passado e do futuro. É antiga, eterna, sempre virgem, sempre jovem, imutável, inalterável. Que significa cair no combate, estrangular os inimigos senão deixar uma vestimenta ou tirar a vestimenta de outrem? Vai! Não temas! Despe sem escrúpulos uma veste usada; vê sem terror os teus inimigos e os teus irmãos deixando os corpos perecíveis e suas almas revestindo formas novas. A alma é uma coisa que o gládio não penetra, o fogo não consome, as águas não deterioram e o vento sul não resseca. Para de gemer.”


O planeta Vênus

(Ditado espontâneo - Médium: Sr. Costel)

O planeta Vênus é o ponto intermediário entre Mercúrio e Júpiter. Seus habitantes têm a mesma conformação física que vós. A maior ou menor beleza e idealidade nas formas é a única diferença entre os seres criados. Em Vênus, a sutileza do ar, comparável à das altas montanhas, o torna impróprio aos vossos pulmões. As doenças aí são ignoradas. Seus habitantes só se nutrem de frutas e laticínios. Eles ignoram o bárbaro costume de alimentar-se de cadáveres de animais, ferocidade só existente nos planetas inferiores. Em consequência, as grosseiras necessidades do corpo são aniquiladas e o amor se reveste de todas as paixões e de todas as perfeições apenas sonhadas na Terra.

Como na aurora, em que as formas se revestem indecisas e envoltas no vapor da manhã, a perfeição da alma, quase completa, tem os desconhecimentos e os desejos da infância feliz. A própria Natureza reveste a graça da felicidade velada. Suas formas moles e arredondadas não têm a violência e a agressividade dos sítios terrenos; o mar, profundo e calmo, ignora as tempestades; as árvores jamais se curvam sob a pressão da tempestade e o inverno não as despoja de sua verdura; nada é ruidoso; tudo sorri, tudo é suave. Os costumes, marcados de quietude e ternura, não necessitam de repressão para se manterem puros e fortes.

A forma política reveste a expressão da família. Cada tribo ou aglomeração de indivíduos tem seu chefe, eleito por faixa de idade. A velhice aí é o apogeu da dignidade humana, porque se aproxima do fim desejado. Isenta de doenças e feiúra, é calma e radiante como bela tarde de outono.

A indústria terrena, aplicada à inquieta busca do bem-estar material, é simplificada e quase desaparece nas regiões superiores, onde não tem razão de ser. As artes sublimes a substituem e adquirem um desenvolvimento e uma perfeição que os vossos sentidos grosseiros não podem imaginar.

A vestimenta é uniforme. Grandes túnicas brancas envolvem o corpo com suas pregas harmoniosas, mas não o desnaturam. Tudo é fácil a esses que só desejam a Deus e que, despojados de interesses grosseiros, vivem com simplicidade e são quase luminosos.

GEORGES

PERGUNTAS SOBRE O DITADO PRECEDENTE

SOCIEDADE DE PARIS, 27 DE JUNHO DE 1862 MÉDIUM: SR. COSTEL


l. ─ Por vosso médium predileto fizestes uma descrição de Vênus. Estamos encantados com a sua concordância com o que já nos foi dito, posto que com menor precisão. Rogaríamos que a completásseis, respondendo a algumas perguntas. Para começar, dizei como tendes conhecimento desse mundo. ─ Sou errante, mas inspirado por Espíritos superiores. Fui mandado a Vênus em missão.

2. ─ Os habitantes da Terra podem lá encarnar diretamente, ao saírem daqui? ─ Ao deixar a Terra, os mais adiantados passam por uma erraticidade mais ou menos longa, que os despoja completamente dos laços carnais imperfeitamente rotos pela morte.

OBSERVAÇÃO: A questão não era saber se os habitantes da Terra podem lá encarnar-se imediatamente após a morte, mas diretamente, isto é, sem passar por mundos intermediários. A resposta foi que é possível aos mais adiantados.

3. ─ O estado de adiantamento dos habitantes de Vênus permite que se lembrem de sua estada em mundos inferiores e que se estabeleça uma comparação entre as duas situações? ─ Os homens olham para trás com os olhos do pensamento, que reconstitui de relance o passado extinto. Assim, o Espírito adiantado vê com a mesma rapidez com que se move, rapidez mais fulminante que a da eletricidade, bela descoberta que se liga estreitamente à revelação espírita. Ambas contêm em si o progresso material e intelectual.

OBSERVAÇÃO: Para estabelecer uma comparação, não é absolutamente necessário saber a posição pessoal que se ocupou. Basta conhecer o estado material e moral dos mundos inferiores por onde se passou para lhes notar a diferença. Assim, conforme o que nos dizem de Marte, devemos felicitar-nos por não mais lá estarmos, e, sem sairmos da Terra, basta considerarmos os povos bárbaros e ferozes para sabermos que já devemos ter passado por esse estado, para nos sentirmos mais felizes. Sobre outros mundos, temos apenas informações hipotéticas, mas é possível que nos mais adiantados que nós esse conhecimento tenha um grau de certeza que não nos é dado.

4. ─ Aí a duração da vida é proporcionalmente mais longa ou mais curta que na Terra? ─ Em Vênus a reencarnação é muitíssimo mais longa que a prova terrena. Despojada das violências humanas, expandida e impregnada da vivificante influência que a penetra, a alma experimenta as asas que a transportam a planetas gloriosos como Júpiter e outros semelhantes.

OBSERVAÇÃO: Conforme fizemos já notar, a duração da vida corpórea parece ser proporcional ao progresso dos mundos. Em sua bondade, quis Deus abreviar as provas nos mundos inferiores. A essa razão junta-se uma causa física: quanto mais adiantados os mundos, tanto menos são os corpos devastados pelas paixões e pelas doenças, que são a sua consequência.

5. ─ O caráter dos habitantes de Vênus, conforme a vossa descrição, faz-nos pensar que entre eles não haja guerras, disputas, ódios e inveja. ─ O homem só se torna aquilo que as palavras exprimem, e seu pensamento limitado é privado do infinito. Assim atribuís até aos planetas superiores as vossas paixões e os vossos motivos inferiores, vírus depositados em vossos seres pela grosseria do ponto de partida, dos quais só vos curais lentamente. As divisões, as discórdias e as guerras são desconhecidas em Vênus, tão desconhecidas quanto entre vós a antropofagia.

OBSERVAÇÃO: Com efeito, por seus vários níveis sociais, a Terra nos apresenta uma infinidade de tipos, que nos podem dar uma ideia dos mundos nos quais cada um desses tipos é o estado normal.

6. ─ Qual o estado da Religião nesse planeta? ─ A Religião é a adoração constante e ativa do Ser Supremo. Mas adoração despojada de qualquer erro, isto é, de qualquer culto idólatra.

7. ─ Os seus habitantes estão todos no mesmo nível, ou, como na Terra, uns são mais adiantados que outros? Nesse caso, a quais habitantes da Terra correspondem os menos adiantados? ─ A mesma desigualdade proporcional existe entre os habitantes de Vênus, como entre os seres terrenos. Os menos adiantados são as estrelas do mundo terrestre, isto é, os vossos gênios e os homens virtuosos.

8. ─ Há senhores e servos? ─ A servidão é o primeiro degrau da iniciação. Os escravos da Antiguidade, como os da América moderna, são seres destinados a progredir num meio superior ao que habitavam na última encarnação. Por toda parte os seres inferiores estão subordinados aos superiores, mas em Vênus tal subordinação moral não se compara à subordinação corpórea que existe na Terra, pois os superiores não são senhores, mas pais dos inferiores. Em vez de explorá-los, ajudam-nos a progredir.

9. ─ Vênus chegou gradualmente ao estado em que se encontra? Passou anteriormente pelo estado em que se encontram a Terra e Marte? ─ Reina uma admirável unidade no conjunto da obra divina. Como as criaturas, como tudo o que é criado, animais ou plantas, os planetas progridem, inevitavelmente. Nas suas variadas expressões, a vida é uma perpétua ascensão para o Criador. Numa imensa espiral, ela desenvolve os graus de sua eternidade.

10. ─ Tivemos comunicações concordantes sobre Júpiter, Marte e Vênus. Por que sobre a Lua só temos coisas contraditórias e que não permitem se fixe uma opinião? ─ Essa lacuna será preenchida e em breve tereis sobre a Lua revelações tão claras e precisas quanto as obtidas sobre os planetas. Se ainda não vos foram dadas, mais tarde compreendereis o motivo.

OBSERVAÇÃO: Certamente essa comunicação sobre Vênus não tem os caracteres de autenticidade absoluta, razão por que a damos a título condicional. Contudo, o que já foi dito sobre esse mundo lhe dá, ao menos um certo grau de probabilidade, e, seja como for, não deixa de ser o quadro de um mundo que necessariamente deve existir para quem quer que não tenha a orgulhosa pretensão de que seja a Terra o apogeu da perfeição humana: é um elo na escala dos mundos e um grau acessível aos que não se sentem com forças para atingir diretamente a Júpiter.


Carta ao jornal de Saint-Jean-D'Angely

Encontramos a carta seguinte no jornal de Saint-Jean-d’Angély, de 15 de junho de 1862:

“Ao Sr. Pierre de L..., redator acidental do jornal Le Mellois.

“Numa carta dirigida ao Mellois, de 8 de junho último, lançais um desafio ao que chamais a pequena igreja de Saint-Jean-d’Angély. Chocado por ter sido repelido pelo Sr. Borreau, que não vos quis receber, voltai-vos contra seu colega em Espiritismo, a fim de interrogá-lo. Sem ser o médium notável que indicais, tomo a liberdade de vos apresentar algumas observações.

“Qual teria sido o vosso objetivo ao lançar um desafio, primeiro

ao Sr. Borreau e depois aos espíritas de Saint-Jean-d’Angély, para que evocassem a alma de Jacques Bujault? Uma brincadeira para pôr fim à guerra civil e intestina que parece querer ensanguentar os campos férteis do Poitou? Se assim é, penso que deveis compreender que a dignidade das pessoas sérias e conscienciosas que acreditam firmemente nos princípios estabelecidos sobre os fenômenos cuja certeza reconheceram, lhes impõe não se associem ao vosso jogo.

“Certamente, como os cépticos, tendes liberdade de rir dessas teorias. Vós sabeis, senhor, que na França riem de tudo. Contudo, por melhor que fosse a vossa brincadeira, ela não é nova e, entre outros, certo cronista do jornal ao qual dirijo esta, já a tinha usado em seu começo.

“Se a questão foi levantada com seriedade, permiti vos diga que não tomastes um bom caminho para atingir o objetivo. Não seriam as pilhérias contidas no vosso primeiro artigo que iriam convencer o Sr. Borreau de vossa sinceridade. Ele tinha o direito de duvidar e de não vos dar ocasião para uma discussão sobre a evocação do prior que conheceis. Também não são as vossas sátiras sobre a inutilidade do Espiritismo e sobre as dissidências que dividem os seus adeptos que irão convencer o Sr. C... de vossa boa-fé ao reclamar as suas luzes. Se, pois, tendes verdadeira intenção de resolver tal problema, o melhor meio, o mais simples e o mais conveniente, em minha opinião, é virdes ao cenáculo e aí, despojado de qualquer ideia preconcebida, fazendo tábula rasa de todas as prevenções anteriores, examinar friamente os fenômenos que se operarem em vossa presença e os submeterdes ao critério da certeza. Se uma ou duas vezes suspeitardes ser vítima de alucinação, repeti as vossas experiências. Como o Cristo a Tomé, o Espiritismo vos dirá: “Vide pedes, vide manus, “Noli esse incredulus.

“E se tais experiências conduzem sempre ao mesmo resultado, conforme todas as regras da lógica, devereis ter confiança no testemunho dos vossos sentidos, a não ser que estejais reduzido ao pirronismo, o que estou longe de crer.

“Se, ao contrário, como admiti pouco acima, vossos artigos não passavam de um jogo para divertir a disputa regional suscitada pelo voto desastrado da Sociedade de Agricultura de Niort, continuai vossas piadas divertidas, assaltos brilhantes admirados por nós, espectadores desinteressados. Permitireis apenas que os espíritas conservem a sua fé. Com efeito, nem sempre a troça tem razão. O aforismo: O ridículo mata não tem exatidão perfeita, e poder-se-ia dizer dessa arma tão cruel, principalmente entre nós, o que foi dito a um personagem da comédia:

Todos aqueles que matais passam muito bem.

“A gente riu de todas as grandes coisas e tratou-as como loucura, o que não as impediu de se realizarem. Riram-se da existência de outro continente, e a América foi descoberta; riram-se do vapor e estamos no século das estradas de ferro; riram-se dos piróscafos[1] e de Fulton, seu inventor, e agora eles singram mares e rios; riramse ─ inclinai-vos, senhor, ─ riram-se do Cristo, e sua sublime loucura, a loucura da cruz, conquistou e submeteu o Universo.

“Assim, se no momento o Espiritismo está exposto aos epigramas dos filhos de Voltaire, ele toma o seu partido e segue o seu caminho. O futuro o julgará. Se este sistema está baseado na Verdade, nem piadas nem paixões prevalecerão contra ele; se não passa de um erro, erro muito generoso ─ força é confessar ─ em nosso século de materialismo, ele irá encontrar no nada as mil e uma aberrações do espírito que, sob nomes diversos e esquisitos, desviaram a Humanidade.

“Recebei, senhor, a expressão de minha sincera cortesia.

“Um Adepto”

OBSERVAÇÃO: Não é a primeira vez que um adepto levanta a luva de desafio lançado contra o Espiritismo pelos trocistas, entre os quais alguns puderam convencer-se que enfrentavam a parte mais forte e mais numerosa do que imaginavam. Assim muitos agora compreendem que o melhor que fazem é calar-se. Então é preciso dizer que as idéias espíritas penetraram no próprio campo adversário, onde começam a sentir-se ultrapassados e, assim, esperam. Hoje o Espiritismo não mais é professado em segredo: a gente se diz espírita abertamente, como poderia dizer-se francês ou inglês, católico, judeu ou protestante, partidário desta ou daquela filosofia. Todo receio pueril foi banido. Então que todos os Espíritas tenham a coragem de suas opiniões, que é o meio de calar a boca dos detratores e de os levar à reflexão.

O Espiritismo cresce incessantemente, como uma vaga que sobe, que circunscreve a ilhota, antes grande, e que alguns dias mais estará reduzida a um ponto. Que farão os negadores quando se virem sobre esse ilhéu, cada vez mais reduzido pelo oceano das idéias novas? Vemos crescer a vaga que nos arrasta. Eis por que não nos inquietamos. Um dia, porém, os que estiverem na ilhota, apavorados pelo isolamento, estenderão os braços e nos pedirão socorro.


[1] Pyroscaphe: Nome forjado por Jouffroy d'Abbans para designar o primeiro barco a vapor.



Castigo de um avarento

François Riquier, homem muito simples, era um velho solteirão avarento, falecido em C... há quatro ou cinco anos, deixando aos colaterais uma fortuna considerável. Tinha sido senhorio de uma de nossas amigas, a Sra. F... Essa senhora o havia esquecido completamente. Ultimamente, sua filha, que é sujeita a crises de catalepsia seguidas de sono magnético espontâneo, nesse sono viu o Sr. Riquier, o qual, diz ela, queria aproximar-se de sua mãe.

Dias depois, a moça, aliás boa médium escrevente, tomou do lápis e escreveu a comunicação seguinte, na qual Riquier pôs seu nome e endereço exato. Não sabendo tal endereço, a Sra. F... foi verificá-lo e ficou muito surpreendida, pois a indicação estava correta.

Eis a comunicação, que é um novo exemplo das penas reservadas aos Espíritos culpados. Como ele se manifestou espontaneamente e expressou o desejo de falar à Sra. F..., foi-lhe feita esta pergunta:

─ Que quereis de nós?

─ O meu dinheiro, que aqueles miseráveis tomaram todo, para repartirem entre si. Dilapidaram meu patrimônio, como se não fosse meu. Venderam minhas fazendas, minhas casas, para dividir tudo. Fazei-me justiça, porque eles não me escutam e não quero assistir a tais infâmias. Dizem que eu era usurário e guardam o meu dinheiro! Por que não mo querem entregar, se acham que foi mal adquirido?

─ Mas vós estais morto, pobre homem. Já não precisais de dinheiro. Pedi a Deus uma nova existência pobre, a fim de expiardes a avareza desta.

─ Não. Eu não poderia viver na pobreza. Necessito do meu dinheiro para viver.

Aliás não preciso de outra vida, pois estou vivo agora.

A pergunta que se segue foi feita com o fito de trazê-lo à realidade. ─ Sofreis?

─ Oh! Sim. Sofro piores torturas que a moléstia mais cruel, porque é minh’alma que suporta essas torturas. Tenho sempre presente em meu pensamento a iniquidade de minha vida, que para muitos foi motivo de escândalo. Bem sei que sou um miserável, indigno de piedade, mas sofro tanto que necessito me ajudem a sair deste estado miserável.

─ Oraremos por vós.

─ Obrigado. Rogai para que eu esqueça minhas riquezas terrenas, sem o que jamais poderia arrepender-me. Adeus e obrigado.

FRANÇOIS RIQUIER
Rue de la Charité, nº 14.

OBSERVAÇÃO: Esse exemplo e muitos outros análogos provam que o Espírito pode conservar, durante muitos anos, a idéia de ainda pertencer ao mundo corpóreo. Tal ilusão não é exclusiva dos casos de morte violenta: parece ser conseência da materialidade da vida terrena; e a persistência do sentimento de tal materialidade, que não pode ser vencida, é um suplício para o Espírito. Além disso, aí encontramos a prova que o Espírito é um ser semelhante ao ser corpóreo, embora fluídico, porque, para que ainda se julgue neste mundo, que continue onde pensa continuar, poder-se-ia dizer, entregue aos seus negócios, é preciso que se veja em forma e num corpo como em vida, Se dele só restasse um sopro, um vapor, uma centelha, não se enganaria quanto à situação. E assim que o estudo dos Espíritos, mesmo vulgares, nos esclarece quanto ao estado real do mundo invisível e confirma as mais importantes verdades.


Valor da prece

A mesma pessoa referida no fato precedente recebeu um dia a comunicação que se segue, espontaneamente, mas a princípio não compreendeu a sua origem.

“Vós não me esquecestes e jamais o vosso Espírito teve para mim um sentimento de perdão. É verdade que vos causei muito mal, mas há muito tempo sou castigada. Não parei de sofrer. Vejo-vos cumprindo os vossos deveres com tanta coragem para prover às necessidades de vossa família, e a inveja não cessou de me devorar o coração.

“Vossa... (Aqui paramos para perguntar quem era esse ser. O Espírito acrescentou: ‘Não me interrompais. Darei o nome quando terminar’)

“Vossa resignação, que acompanhei, foi um dos meus maiores sofrimentos. Tende um pouco de piedade de mim, se realmente sois discípula do Cristo. Eu estava muito só na Terra, embora entre os meus, e a inveja foi o meu maior defeito.

“Foi por inveja que dominei vosso marido. Parecia que retomáveis o domínio sobre ele, quando vos conheci, e me coloquei entre vós. Perdoai-me e tende coragem. Deus terá piedade de vós, por sua vez.

“Minha irmã, que oprimi durante minha vida, foi a única a orar por mim, mas são as vossas preces que me faltam. As outras não trazem para mim o selo do perdão.

“Adeus. Perdoai.

ANGÈLE ROUGET”


Acrescenta aquela senhora: “Então lembrei-me perfeitamente daquela criatura, falecida há uns vinte e cinco anos, e na qual não pensava há muitos anos. Perguntome como as preces de sua irmã, criatura suave e virtuosa, dedicada, piedosa e resignada, não seriam mais frutuosas do que as minhas. Diante disso, certamente admitireis que orei e perdoei”.


RESPOSTA:

O próprio Espírito o explica, quando diz: “As preces dos outros não trazem para mim o selo do perdão”.

Com efeito, sendo aquela senhora a principal ofendida e tendo sofrido mais pela conduta da outra, envolvia o perdão em suas preces, o que deveria tocar ainda mais o Espírito culpado. Orando, sua irmã, por assim dizer, apenas cumpria um dever. Por outro lado, aí havia um ato de caridade. A ofendida tinha mais direito e mais mérito para pedir graça; seu perdão, pois, deveria tranquilizar mais o Espírito.

Ora, sabe-se que o principal efeito da prece é agir sobre o moral do Espírito, tanto para acalmá-lo quanto para conduzi-lo ao bem. Trazendo-o ao bem, ela apressa a clemência do Juiz Supremo, que sempre perdoa o pecador arrependido.

Imperfeita como é, em face da justiça divina, a justiça humana com frequência nos oferece exemplos semelhantes. Se um homem for levado ao tribunal, por ofensas a alguém, ninguém o defenderá melhor e lhe conseguirá a absolvição com mais facilidade do que o próprio ofendido, vindo generosamente retirar a queixa.

Tendo sido lida a comunicação acima na Sociedade Parisiense, provocou a seguinte pergunta de um dos sócios:

“Continuamente os Espíritos pedem preces aos mortais. Será que os bons Espíritos não oram pelos sofredores? E, nesse caso, por que as dos homens são mais eficazes?”

A resposta que se segue foi dada na mesma sessão, por Santo Agostinho, através do médium Sr. E. Vézy:

Orai sempre, meus filhos. Eu já vos disse que a prece é um orvalho benéfico que deve tornar menos árida a terra ressequida. Venho repetir mais uma vez e acrescentar algumas palavras em resposta à vossa pergunta.

Perguntais por que os Espíritos sofredores preferem pedir preces a vós do que a nós. As preces dos mortais são mais eficazes que as dos bons Espíritos?

─ Quem vos disse que nossas preces não tinham a virtude de espargir consolação e dar força aos Espíritos fracos que não podem ir a Deus senão com esforço e muitas vezes sem coragem? Se imploram as vossas preces, é porque elas têm o mérito das emanações terrenas, que sobem voluntariamente a Deus. Essas eles sempre apreciam, por virem da vossa caridade e do vosso amor.

Para vós, orar é abnegação; para nós, um dever. O encarnado que ora pelo próximo cumpre a nobre tarefa de puros Espíritos; sem possuir a coragem e a força destes, realiza as suas maravilhas. É peculiar à nossa vida consolar o Espírito que pena e sofre, mas uma de vossas preces é o colar que tirais do pescoço para dar ao indigente; é o pão que retirais de vossa mesa para dá-lo ao que tem fome, por isso vossas preces são agradáveis ao que as escuta. Um pai não atende sempre à prece do filho pródigo? Não chama sempre os servos para matar o vitelo gordo pela volta do filho culpado? Como não faria ainda mais por aquele que de joelhos lhe vem dizer: “Ó meu Pai, sou muito culpado; não vos peço graça, mas perdoai a meu irmão arrependido, mais fraco e menos culpado que eu!” Oh! É então que o Pai se enternece; é então que arranca do peito tudo quanto este encerra em dons e em amor. Ele diz: “Estavas cheio de iniquidades; te disseste criminoso, mas compreendendo a enormidade de tuas faltas. Não me pediste graça para ti; aceitas o sofrimento de meus castigos e, a despeito de tuas torturas, tua voz tem força bastante para pedir por teu irmão!” Então! O Pai não quer ser menos caridoso que o filho e perdoa a ambos, a um e ao outro estende as mãos, para que possam marchar em linha reta no caminho que leva à sua glória.

Meus filhos, eis por que os Espíritos sofredores, que vagam em torno de vós, imploram as vossas preces. Nós devemos orar. Vós podeis orar.

Prece do coração, tu és a alma das almas, se assim me posso exprimir, quintessência sublime que sobe, sempre casta, bela e radiosa, para a alma mais vasta de Deus!

SANTO AGOSTINHO




Dissertações espíritas a conquista do futuro (Grupo de Sainte - Gemme - Tam. Médium: Sr. C.)

A conquista do futuro

(GRUPO DE SAINTE-GEMME - Tarn. MÉDIUM: SR. C.)

A ideia espírita vai crescendo. Em breve cobrirá o solo francês do norte ao sul, do leste ao oeste. As balizas são fincadas de distância em distância. Vós sois essas balizas. A vós caberá a honra de, com os nossos conselhos, haver traçado aos irmãos a rota a ser seguida. Reuni-vos, pois, não só com um pensamento comum, mas com uma ação comum. Já passou a fase de observação e experiências. Agora é a aplicação. Agi, e agi sem medo. Não olheis para trás. Ao contrário, fixai os olhos para a frente e contemplai o objetivo e os obstáculos que dele vos separam. Se vos distrairdes na contagem dos vossos passos, em vez de avançardes rapidamente, fracassareis na missão que vos foi confiada. Tomai, pois, o bordão do viajor, cingi os rins, e tomai o caminho! Mas não partais sós. Que todo o exército espírita, essa vanguarda da doutrina evangélica, se ponha em marcha ao mesmo tempo.

Uni-vos, consultai-vos e voai à conquista do futuro.

HIPPOLYTE FORTOUL


A pentecoste (Grupo de Sainte-gemme - Tam. Médium: Sr. C.)

O Espírito de Deus sopra sobre o mundo, a fim de regenerar os seus filhos. Se, como ao tempo dos apóstolos, não se mostra sob a forma de línguas de fogo, não está menos realmente presente entre vós. Orai, pois, com fervor ao Todo-Poderoso, a fim de que ele se digne fazer-vos tirar proveito de todas as vantagens morais, de todos os dons imperecíveis que ele então houve por bem derramar sobre a cabeça dos apóstolos e do Cristo. Pedi e recebereis, e nada do que pedirdes de bom e útil para o vosso progresso espiritual vos será recusado. Mais uma vez, orai com fervor, mas que seja o vosso coração que fale, e não os lábios; ou se os vossos lábios se agitarem, que digam apenas o que o coração houver pensado. A felicidade que sentireis quando estiverdes animados pelo espírito de Deus será tão grande que não podereis fazer ideia. Depende de vós obtê-la. E, a partir desse momento, considerareis os dias que restam como um pedaço de caminho a percorrer para chegardes ao destino e onde encontrareis, no fim do dia, a vossa ceia e um abrigo para a noite.

Mas que aquela pouca importância relativa que deveis ligar às coisas terrenas não vos impeça de considerar os vossos deveres materiais como muito sérios. Aos olhos de Deus cometeríeis grave falta se não vos entregásseis conscientemente aos vossos deveres cotidianos. Nada se deve desprezar do que saiu das mãos do Criador. Deveis, em certa medida, desfrutar os bens materiais que vos foram concedidos. Vosso dever é não guardá-los exclusivamente para vós, mas fazer deles partilharem os irmãos aos quais eles foram recusados. Uma consciência pura, uma caridade e uma humildade sem limites, eis a melhor das preces para chamar a si o Espírito Santo. É o verdadeiro Veni Creator, não que este cantado nas igrejas não seja uma prece que será exalçada, sempre que feita de bom coração, mas, como já vos foi dito tantas vezes, o fundo é tudo, a forma quase nada.

Então pelos atos pedi que o Espírito Santo venha visitar-vos e derramar em vossa alma essa força que dá a fé para superar as misérias da existência terrena e para estender a mão àqueles dos vossos irmãos a quem a fraqueza de espírito impede de ver a luz, sem a qual só marchareis tateantes, com o risco de vos chocardes com todos os obstáculos semeados no caminho. A verdadeira felicidade, pela qual todos suspirais, lá se acha. Cada um a tem sob a mão. Basta querer para alcançá-la.

Tomai hoje resoluções firmes e boas, e o Espírito de Deus não vos faltará, tende certeza. Amai ao vosso próximo como a vós mesmos, por amor a Deus, e tereis dignamente solenizado o dia em que o Espírito Santo veio visitar os apóstolos do Cristianismo.

HIPPOLYTE FORTOUL


O perdão (Sociedade espírita de Paris - Médium: Sr. A. Didier)

Como se pode achar em si a força para perdoar? A sublimidade do perdão é a morte do Cristo no Gólgota. Ora, eu já vos disse que o Cristo tinha resumido em sua vida todas as angústias e lutas humanas. Todos os que mereciam o nome de cristãos diante de Jesus Cristo morreram com o perdão nos lábios. Os defensores das liberdades oprimidas, os mártires das verdades e das grandes causas de tal modo compreenderam a elevação e a sublimidade de sua vida que não faliram no último instante e perdoaram. Se o perdão de Augusto não é inteiramente sublime historicamente, o Augusto de Corneille, o grande trágico, é senhor de si como do Universo, porque perdoa. Ah! Como são mesquinhos e miseráveis os que possuíam o mundo e não perdoavam! Como é grande aquele que continha, no futuro dos séculos, todas as humanidades espirituais e que perdoou! O perdão é uma inspiração e, por vezes, um conselho dos Espíritos. Infelizes os que fecham o coração a essa voz. Eles serão punidos, como diz a Escritura, porque tinham ouvidos e não escutaram. Então! Se quereis perdoar; se vos sentis fracos diante de vós mesmos, contemplai a morte do Cristo. Quem conhece a si próprio triunfa facilmente de si mesmo. Eis por que o grande príncipe da sabedoria antiga sabia, antes de mais nada, conhecer-se a si próprio. Antes de se lançar à luta ensinava-se aos atletas para os jogos, para as lutas grandiosas, os meios seguros de vencer. Ao lado disso, nos liceus, Sócrates ensinava que havia um Ser Supremo e, algum tempo depois, séculos antes do Cristo, ensinava toda a nação grega a morrer e a perdoar.

O homem vicioso, mesquinho e fraco, não perdoa. O homem habituado às lutas pessoais, às reflexões justas e sãs, perdoa facilmente.

LAMENNAIS


A vingança (Sociedade espírita de Paris - Médium: Sr. de B. M.)

A vingança é agradável ao coração, disse o poeta. Oh! Pobres cegos, que dais livre curso à mais feia das paixões. Credes fazer mal ao próximo quando o golpeais e não notais que ele se volta contra vós. Ela não só é um crime, mas incompreensão absurda. É, como seus irmãos, o rancor, o ódio, o ciúme, filhos do orgulho, o meio de que se servem os Espíritos das trevas para atrair a si aqueles que eles receiam lhes escapem. É o mais infalível instrumento de perdição que poderia ser posto nas mãos dos homens pelos inimigos que se encarniçam na sua derrota moral.

Resisti, filhos da Terra, a esse culposo arrastamento, e tende certeza de que se alguém mereceu vossa cólera, não será no auge do rancor que encontrareis a calma de consciência. Ponde nas mãos do Todo Poderoso o cuidado de se pronunciar quanto aos vossos direitos e à justiça de vossa causa. Na vingança existe algo de ímpio e de degradante para o Espírito.

Não, a vingança não é compatível com a perfeição. Enquanto uma alma conservar tal sentimento, ficará nos porões do mundo dos Espíritos. Mas a vossa não será o eterno joguete dessa paixão infeliz. Posso garantir que a abolição da falsa noção do inferno eterno, ou antes, da danação eterna, que tem servido como pretexto ou pelo menos como escusa para atos de vingança, será a aurora de uma nova era de tolerância e mansuetude que não tardará a estender-se até as regiões privadas da vida moral.

Poderia o homem condenar a vingança se lhe apresentaram Deus como um ser ciumento e vingativo que pessoalmente promove a aplicação de torturas eternas? Cessai, pois, ó homens, de insultar a Divindade emprestando-lhe vossas paixões ignóbeis. Então sereis, ó habitantes da Terra, um povo abençoado por Deus.

Vós que me escutais, procedei de modo que, liberta a vossa alma do vergonhoso motivo para atos contrários à caridade, mereçais serdes admitidos no recinto sagrado cujas portas só a caridade pode abrir.

PIERRE ANGE

Espírito Protetor



Bibliografia

O Espiritismo em Lyon

Comunicações de Além-Túmulo, uma seleção de manifestações da Sociedade Espírita dos Brotteaux, com esta epígrafe: “O Espiritismo não se impõe; vem-se a ele porque dele se necessita”. (ALLAN KARDEC. Revista Espírita, 1861). Brochura in-8º, 32 páginas, acompanhada de quatro gravuras de desenhos mediúnicos. Preço 75 centavos. Nas principais livrarias de Lyon e, em Paris, na livraria Ledoyen.

Essa é a primeira de uma série de brochuras a serem publicadas em épocas indeterminadas. Contém uma seleção de mensagens recebidas no grupo de Brotteaux, dirigido pelo Sr. Déjoud, chefe de ateliê. Todas essas comunicações, em tudo concordes com a doutrina de O Livro dos Espíritos, respiram a mais sã moral e têm o cunho inconteste de Espíritos bons e benevolentes.

O estilo é simples, familiar e perfeitamente adaptado ao meio onde foram dadas e não comportam ideias abstratas. Antes de tudo, os bons Espíritos querem instruir, por isso põem-se à altura do auditório e pouco se preocupam em satisfazer aos que nas mensagens apreciam a pompa do estilo, sem lhes aproveitarem as lições.

O essencial, para eles, é que a instrução seja boa e penetre o coração. Pensamos que, sob tal ponto, a coleção atinge plenamente o seu objetivo.

Sentimo-nos felizes em aproveitar esta ocasião para felicitar o Sr. Déjoud, chefe desse grupo, um dos mais numerosos de Lyon, por seu zelo e perseverança na propagação do Espiritismo entre seus irmãos, os trabalhadores.

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O terceiro volume das Revelações de Além-Túmulo, da Sra. Dozan, aparecerá em breve.

ALLAN KARDEC



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