Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862

Allan Kardec

Você está em: Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862 > Novembro


Novembro

Viagem espírita em 1862

Acabamos de fazer uma visita a diversos centros espíritas da França, lamentando que o tempo não nos tenha permitido ir a toda parte onde nos haviam convidado, nem prolongar nossa visita a cada localidade tanto quanto desejávamos, dada a acolhida simpática e fraterna recebida em toda parte. Durante uma viagem de mais de seis semanas e um percurso total de 693 léguas, estivemos em vinte cidades e assistimos a mais de cinquenta reuniões. O resultado nos deu uma grande satisfação moral, sob o duplo aspecto das observações colhidas e da constatação dos imensos progressos do Espiritismo.

O relato dessa viagem, que compreende principalmente as instruções por nós dadas nos vários grupos, é muito extenso para ser publicado na Revista, pois absorveria quase dois números. Editaremos uma separata, do mesmo formato da Revista, a fim de ser a ela ser anexada, caso seja necessário[1].

Em nosso percurso fomos visitar os possessos de Morzine, na Saboia, e ali também recolhemos importantes observações, muito instrutivas, sobre as causas e o modo da obsessão em todos os graus, corroboradas por casos idênticos e isolados vistos em outras localidades e sobre os meios de combate. Isso será objeto de um artigo especial e extenso que pretendíamos publicar neste número, mas, como o tempo não nos permitiu terminá-lo, adiamo-lo para o próximo número. Aliás ele só terá a ganhar, porque feito com menos precipitação. Além disso, vários fatos recentes vieram esclarecer o assunto, abrindo um horizonte novo à patologia.

O artigo responderá a todos os pedidos de esclarecimentos que frequentemente nos fazem em casos análogos.

Parece-nos indicado aproveitar esta circunstância para retificar uma opinião que se nos afigurou muito generalizada.

Várias pessoas, principalmente na província, tinham pensado que o custo dessas viagens corria por conta da Sociedade de Paris. Tivemos que explicar esse erro, sempre que se apresentou. Aos que pudessem ainda pensar assim, lembramos o que foi dito em outra ocasião (número de junho de 1862), que a Sociedade se limita a cobrir as despesas correntes e não possui reservas. Para que pudesse acumular recursos, ela teria que visar a quantidade. É o que ela não faz, nem quer fazer, pois seu objetivo não é a especulação, e a quantidade não agrega importância aos seus trabalhos. Sua influência reside na moral e no caráter de suas reuniões, que dá aos estranhos a ideia de uma assembleia grave e séria. É esse o seu mais poderoso meio de propaganda. Assim, não poderia ela prover semelhante despesa.

Os gastos de viagem, bem como todos os que são necessários para custeio de nossas relações no Espiritismo, são cobertos por nossos recursos pessoais e nossas economias, acrescidos do produto de nossas obras, sem o que ser-nos-ia impossível enfrentar todos os encargos consequentes da obra que empreendemos. Digo isso sem vaidade, mas unicamente em homenagem à verdade e para esclarecimento dos que imaginam que entesouramos.


[1] Brochura grande in-8º, formato e tipo da Revista. Preço: 1 franco. Porte franco para toda a França. (No prelo).



Aos nossos correspondentes

Ao regressar encontramos tal volume de correspondência que seria preciso um mês inteiro para responder, sem nos ocuparmos de mais nada. Considerando que diariamente vem um novo contingente, sem prejuízo das ocupações correntes e obrigatórias, compreender-se-á a impossibilidade material de nos lançarmos a esse trabalho. Dissemos, e repetimo-lo ainda, estamos longe de nos lastimarmos pelo número de cartas que nos escrevem, pois provam a imensa extensão que toma a doutrina e o ponto de vista moral e filosófico sob a qual é encarada onde quer que penetre. São preciosos arquivos para o Espiritismo. Contudo, mais uma vez somos forçados a pedir indulgência pelo atraso da resposta. Só esse trabalho absorveria o tempo de duas pessoas, e nós somos só. Daí resulta que muitas coisas sofrem e acarretam demora na publicação de várias obras anunciadas.

Temos esperança de que chegará o tempo em que poderemos ter uma colaboração permanente e assídua, a fim de que tudo possa marchar bem. Os Espíritos no-lo prometem. Enquanto esperamos, não há alternativa: é preciso retardar a correspondência, ou os outros trabalhos que aumentam, à medida que cresce a doutrina.


Os mistérios da torre de São Miguel, em Bordeaux

HISTÓRIA DE UMA MÚMIA

Nos subterrâneos da torre de São Miguel, em Bordeaux, há um certo número de cadáveres mumificados que, parece, não remontam a mais de dois ou três séculos e que certamente ficaram naquele estado pela natureza do solo. São uma das curiosidades da cidade, que os estranhos não deixam de visitar. Todos os corpos têm a pele pergaminhada. Na maioria estão conservados de maneira a permitir distinguir os traços do rosto e a expressão fisionômica. Alguns têm as unhas de uma frescura notável, e outros conservam restos das roupas e até rendas finas.

Entre essas múmias, uma em particular chama a atenção. É a de um homem cujas contrações do corpo, do rosto e dos braços, levados à boca, não deixam dúvida quanto ao gênero de morte. É evidente que ele foi enterrado vivo e morreu nas convulsões de terrível agonia.

Um novo jornal de Bordeaux publica um romance-folhetim, sob o título de Mistérios da torre de São Miguel. Só conhecemos a obra de nome e pelos cartazes pregados nos muros da cidade, representando o subterrâneo da torre. Assim, não sabemos com que espírito foi concebido, nem a fonte onde o autor coligiu os fatos que descreve. O que vamos relatar, ao menos tem o mérito de não ser fruto da imaginação humana, pois vem diretamente do além-túmulo, o que talvez faça rir o autor em questão.

Como quer que seja, cremos que o relato não é um episódio dos menos chocantes dos dramas passados naquele lugar. Será lido pelos espíritas com tanto mais interesse quanto encerra um profundo ensinamento.

É a história do homem enterrado vivo e de duas outras pessoas ligadas ao caso, obtida numa série de evocações feitas na Sociedade Espírita de Saint-Jean d’Angély, em agosto último, e que nos contaram quando por lá passamos.

No que concerne à autenticidade dos fatos, falaremos na observação que fecha este artigo

(SAINT-JEAN D’ANGÉLY, 9 DE AGOSTO DE 1862) (MÉDIUM: SR. DEL..., PELA TIPTOLOGIA)

l. Pergunta ao guia protetor: ─ Podemos evocar o Espírito que animou o corpo que se vê no subterrâneo da torre de São Miguel, em Bordeaux, que parece ter sido enterrado vivo? ─ Sim, e que isso vos sirva de ensinamento.

2. Evocação. (O Espírito manifesta a sua presença).

3. ─ Poderíeis dizer o vosso nome, quando animáveis o corpo de que falamos? ─ Guillaume Remone.

4. ─ Vossa morte foi uma expiação ou uma prova escolhida a fim de progredir? ─ Meu Deus! Por que, na tua bondade, seguir a tua sagrada justiça? Sabeis que a expiação é sempre obrigatória, e que quem cometeu um crime não a evita. Eu estava nesse caso, e é tudo o que tenho a dizer. Após muito sofrimento, cheguei a reconhecer meus erros e experimento o arrependimento necessário para me achar em graça ante o Eterno.

5. ─ Podeis dizer qual o vosso crime? ─ Eu havia assassinado minha mulher em seu leito.


(10 DE AGOSTO ─ MÉDIUM: SRA. GUÉRIN, PELA PSICOGRAFIA)

6. ─ Quando, antes da reencarnação, escolhestes o gênero de provas, sabíeis que seríeis enterrado vivo? ─ Não. Apenas sabia que devia cometer um crime odioso, que encheria minha vida de remorsos causticantes e que essa vida terminaria em dores atrozes. Em breve reencarnarei. Deus teve piedade da minha dor e do meu arrependimento. OBSERVAÇÃO: A frase “sabia que devia cometer um crime” é explicada nas perguntas 30 e 31.

7. ─ A justiça perseguiu alguém por ocasião da morte de vossa esposa? ─ Não. Acreditaram numa morte súbita. Eu a tinha sufocado.

8. ─ Que motivo vos levou a esse ato criminoso? ─ O ciúme.

9. ─ Foi por engano que vos enterraram vivo? ─ Sim.

10. ─ Tendes lembrança dos instantes da morte? ─ É algo de horrível, impossível de descrever. Imaginai estar numa cova, com dez pés de terra em cima, querer respirar e faltar o ar, querer gritar: “Estou vivo!” e sentir a voz abafada; ver-se morrer e não poder pedir socorro; sentir-se cheio de vida e riscado do rol dos vivos; ter sede e não poder saciá-la; sentir as dores da fome e não poder pará-la; numa palavra, morrer numa raiva de danado.

11. ─ Naquele momento supremo pensastes que aquele era o começo de vossa punição? ─ Nada pensei. Morri enraivecido, batendo nas paredes do caixão e querendo sair e viver a todo custo. OBSERVAÇÃO: Esta resposta é lógica e se justifica pelas contorções nas quais se observa, examinando-se o cadáver, em que condições o indivíduo deve ter morrido.

12. ─ Ao se desprender, vosso Espírito viu o corpo de Guillaume Remone? ─ Logo depois da morte eu me via ainda na Terra.

13. ─ Quanto tempo ficastes nesse estado, isto é, com o Espírito ligado ao corpo, mas não o animando? ─ Aproximadamente quinze a dezoito dias.

14. ─ Logo que deixastes vosso corpo, em que lugar vos vistes? ─ Vi-me cercado por uma porção de Espíritos, como eu cheios de dor, não ousando levantar para Deus seus corações ainda ligados à Terra e desesperançados de receber o perdão.

OBSERVAÇÃO: Ligado ao próprio corpo e sofrendo ainda as torturas dos últimos instantes, pois se achava entre Espíritos sofredores, sem esperança de perdão, não é o inferno com o choro e ranger de dentes? Será necessário construir um forno com chamas e tridentes? Como é sabido, a crença na perpetuidade dos sofrimentos é um dos castigos infligidos aos Espíritos culpados. Tal estado dura enquanto os Espíritos não se arrependem, e duraria para sempre se nunca se arrependessem, pois Deus só perdoa o pecador arrependido. Desde que o arrependimento lhe entre no coração, um raio de esperança deixar-lhe-á entrever a possibilidade de um termo aos seus males. Mas não basta o simples arrependimento. Deus quer a expiação e a reparação, e é pelas reencarnações sucessivas que Deus dá aos Espíritos imperfeitos a possibilidade de melhora. Na erraticidade eles tomam resoluções que tentam executar na vida corpórea. É assim que, a cada existência, deixando algumas impurezas, gradativamente se aperfeiçoam e dão um passo à frente para a felicidade eterna. Jamais lhes é fechada a porta da felicidade, que atingem num tempo mais ou menos longo, conforme a vontade e o trabalho que fizerem sobre si mesmos para merecêla. Não se pode admitir a onipotência de Deus sem a presciência. Assim sendo, pergunta-se por que Deus, ao criar uma alma, sabendo que deveria falir sem poder erguer-se, tirou-a do nada para votá-la a tormentos eternos? Ele quis, então, criar almas infelizes? Tal proposição é inconciliável com a ideia de bondade infinita, que é um de seus atributos essenciais. De duas uma: ou ele sabia, ou não sabia. Se não sabia, não é onipotente. Se sabia, não é justo nem bom. Ora, tirar uma parcela do infinito de seus atributos é negar a Divindade. Ao contrário, tudo se concilia com a possibilidade de deixar o Espírito reparar suas faltas. Deus sabia que, em virtude de seu livre-arbítrio, o Espírito faliria, mas também sabia que se ergueria. Ele sabia que, tomando o mau caminho, retardaria sua chegada à meta, mas que, mais cedo ou mais tarde, chegaria. É para fazê-lo chegar mais depressa que Deus multiplica os avisos sobre o caminho. Se ele não os escuta, é mais culpado, e merece o prolongamento das provas. Qual a mais racional das duas doutrinas?

A. K.

(11 DE AGOSTO)


15. ─ Nossas perguntas vos seriam desagradáveis? ─ Isso me lembra pungentes recordações, mas agora que entrei em graça, pelo arrependimento, sinto-me feliz por dar minha vida como exemplo, a fim de premunir os irmãos contra as paixões que poderiam arrastá-los, como a mim.

16. ─ Comparado com o de vossa esposa, vosso gênero de morte nos leva a supor vos tenha sido aplicada a pena de Talião, e que em vós se realizaram as palavras do Cristo: “O que fere com a espada morrerá pela espada”. Quereis dizer como sufocastes a vossa vítima? ─ Em seu leito, como disse, entre dois travesseiros, depois de haver aplicado uma mordaça, para que não gritasse.

17. ─ Tínheis boa reputação entre os vizinhos? ─ Sim. Eu era pobre, mas honesto e estimado. Minha mulher também era de uma família honrada. Foi uma noite em que o ciúme me deixara acordado, que vi sair um homem de seu quarto. Louco de raiva, não sabendo o que fazia, tornei-me culpado do crime que vos revelei.

18. ─ Revistes a esposa no mundo espírita? ─ Foi o primeiro Espírito que me apareceu, como que para censurar meu crime. Eu a vi durante muito tempo, também infeliz. Só depois que foi decidida a minha reencarnação é que me livrei de sua presença.

OBSERVAÇÃO: A visão contínua das vítimas é um dos castigos mais comumente infligidos aos Espíritos criminosos. Os que são mergulhados nas trevas, o que é muito frequente, nem sempre podem escapar. Nada veem senão aquilo que lhes lembra o crime.

19. ─ Pedistes perdão a ela? ─ Não. Nós fugíamos continuamente um do outro e nos encontrávamos sempre frente a frente, para nos torturarmos reciprocamente.

20. ─ Contudo, a partir do momento em que vos arrependestes tivestes que lhe pedir perdão? ─ Desde o momento em que me arrependi não a vi mais.

21. ─ Sabeis onde se acha ela agora? ─ Não sei o que lhe aconteceu, mas ser-vos-á fácil vos informardes com São João Batista, vosso guia espiritual.

22. ─ Quais foram os vossos sofrimentos como Espírito? ─ Eu estava rodeado de Espíritos desesperados. Supunha jamais sair desse estado infeliz. Nenhum clarão de esperança brilhava para minha alma endurecida. A visão da vítima coroava o meu martírio.

23. ─ Como fostes conduzido a um estado melhor? ─ Do meio de meus irmãos em desespero, certo dia vislumbrei um fim que eu logo compreendi que só poderia atingir pelo arrependimento.

24. ─ Qual foi aquele fim? ─ Deus, do qual todos têm uma ideia, queiram ou não queiram.

25. ─ Já dissestes duas vezes que iríeis reencarnar logo. Seria indiscrição perguntar que gênero de prova escolhestes? ─ A morte recolherá todos os seres que me serão caros, e eu sofrerei as mais abjetas moléstias.

26. ─ Sois feliz agora? ─ Relativamente sim, pois entrevejo um termo aos sofrimentos. Efetivamente, não.

27. ─ Do momento em que caístes em letargia, até o momento em que despertastes no caixão, vistes ou ouvistes o que se passava em redor? ─ Sim, mas tão vagamente que me parecia um sonho.

28. ─ Em que ano morrestes? ─ Em 1612.

29. (A São João Batista) ─ Certamente G. Remone não foi obrigado, por punição, a confessar o crime em nossa evocação. Isso parece resultar de sua primeira resposta, na qual fala da justiça de Deus. ─ Sim. Ele foi forçado, mas se resignou de boa vontade, pois viu um meio a mais de agradar a Deus, servindo-vos em vossos estudos.

30. ─ Certamente o Espírito enganou-se quando, na sexta resposta, disse: “Eu sabia que devia cometer um crime”. Provavelmente sabia estar exposto a cometer um crime, mas, tendo o livre-arbítrio, bem podia resistir à tentação. ─ Ele explicou-se mal. Deveria ter dito: “Sabia que minha vida estaria cheia de remorsos”. Ele tinha liberdade de escolher o gênero de prova. Ora, para sentir remorsos, é preciso admitir que cometeria uma ação má.

31. ─ Não se poderia admitir que só tivesse tido o livre-arbítrio no estado de erraticidade, escolhendo tal ou qual prova, mas que, uma vez escolhida essa prova, como encarnado, não mais teria liberdade de não cometer a ação, e assim, necessariamente, o crime deveria ser cometido por ele? ─ Ele podia evitá-lo. Ele tinha seu livre-arbítrio como Espírito e como encarnado. Podia, pois, resistir, mas suas paixões o arrastaram.

OBSERVAÇÃO: É evidente que o Espírito não se tinha dado conta de sua exata situação. Ele havia confundido a prova, isto é, a tentação de fazer, com a ação. Como sucumbiu, acreditou numa ação fatal, por si próprio escolhida, o que não seria racional. O livre-arbítrio é o mais belo privilégio do espírito humano e uma prova brilhante da justiça de Deus, que torna o Espírito árbitro de seu destino, pois que de si depende abreviar os sofrimentos, ou prolongá-los pelo endurecimento e pela má vontade. Supor que ele pudesse perder a liberdade moral como encarnado seria tirar-lhe a responsabilidade de seus atos. Pode-se ver, por aí, que se não devem admitir, após maduro exame, certas respostas dos Espíritos, quando não se conformam com a lógica em todos os pontos. A. K.

32. ─ Devemos supor possa um Espírito escolher como prova uma vida de crimes, desde que tenha escolhido o remorso, que não é mais que a consequência da infração da lei divina? ─ Ele pode escolher a prova de expor-se a isso, mas, tendo o livre-arbítrio, também pode não falir. Assim, G. Remone tinha escolhido uma vida cheia de desgostos domésticos, que suscitar-lhe-iam a ideia do crime que devia encher-lhe a vida de remorsos se ele os consumasse. Ele quis, portanto, enfrentar essa prova, para tentar sair dela vitorioso. Vossa linguagem está tão pouco em harmonia com a maneira de se comunicarem os Espíritos que por vezes acontece devam ser retificadas certas frases ditas pelos médiuns, sobretudo quando intuitivos. Pela combinação dos fluidos, nós lhes transmitimos as ideias, que traduzem mais ou menos bem, conforme seja mais ou menos fácil a combinação entre o fluido do nosso perispírito e o fluido animal do médium.

SENHORA REMONE (12 DE AGOSTO)

33. (A São João) ─ Poderíamos evocar o Espírito da esposa de G. Remone? ─ Não. Ela está encarnada.

34. ─ Na Terra? ─ Sim.

35. ─ Se não a podemos evocar como Espírito errante, poderíamos fazê-lo como encarnado? Não poderíeis dizer-nos quando estará dormindo? ─ Podeis fazê-lo neste momento, pois as noites para esse Espírito são os dias para vós.

36. Evocação do Espírito da Sra. Remone (O Espírito se manifesta).

37. ─ Lembrai-vos da existência em que fostes a Sra. Remone? ─ Sim. Oh! Por que fazer-me recordar minha vergonha e minha infelicidade?

38. ─ Se estas perguntas vos fazem sofrer, nós pararemos. ─ Peço que continueis.

39. ─ Nosso objetivo não é vos fazer sofrer. Não vos conhecemos e talvez jamais vos conheçamos. Queremos apenas fazer estudos espíritas. ─ Meu Espírito está tranquilo. Por que agitá-lo com penosas lembranças? Não podeis fazer estudos com Espíritos errantes?

40. (A São João) ─ Devemos cessar as perguntas que parecem despertar nesse Espírito uma lembrança dolorosa? ─ Eu vo-lo aconselho. É ainda uma criança, e a fadiga do seu Espírito teria uma penosa reação sobre o corpo. Aliás, seria mais ou menos a repetição do que disse o seu marido.

41. ─ G. Remone e sua esposa se perdoaram reciprocamente? ─ Não. Para isso é preciso que cheguem a um mais alto grau de perfeição.

42. ─ Se esses dois Espíritos se encontrassem na Terra como encarnados, que sentimentos experimentariam reciprocamente? ─ Apenas antipatia.

43. ─ Se G. Remone revisse, como visitante, o seu corpo na caverna de São Miguel, experimentaria uma sensação desconhecida pelos outros curiosos? ─ Sim, mas tal sensação parecer-lhe-ia muito natural.

44. ─ Ele reviu o seu corpo depois que foi retirado da terra? ─ Sim.

45. ─ Quais foram as suas impressões? ─ Nulas. Sabeis bem que, desprendidos de seu envoltório, os Espíritos veem as coisas daqui debaixo de modo diverso dos encarnados. 46. ─ Poderíamos obter alguns informes sobre a posição atual da Sra. Remone? ─ Perguntai.

47. ─ Qual é hoje o seu sexo? ─ Feminino.

48. ─ Seu país natal? ─ Está nas Antilhas, como filha de um rico negociante.

49. ─ As Antilhas pertencem a várias nações. Qual a sua? ─ Ela mora em Havana.

50. ─ Poderíamos saber o seu nome? ─ Não o pergunteis.

51. ─ Qual a sua idade? ─ Onze anos.

52. ─ Quais serão as suas provas? ─ A perda de sua fortuna e um amor ilegítimo e sem esperanças, aliados à miséria e a duros trabalhos.

53. ─ Dizeis um amor ilegítimo. Amará, talvez, seu pai, o irmão ou um dos seus? ─ Ela amará um homem consagrado a Deus, só e sem esperança de correspondência.

54. ─ Agora que conhecemos as provas desse Espírito, se o evocássemos uma vez ou outra, durante o sono, em seus dias infelizes, não poderíamos dar alguns conselhos para restaurar sua coragem e fazê-la esperar em Deus? Isso influiria sobre as resoluções que ela poderia tomar no estado de vigília? ─ Muito pouco. Essa jovem já tem uma imaginação fértil e a cabeça dura.

55. ─ Dissestes que no país em que ela vive as noites são os dias para nós. Ora, entre Havana e Saint-Jean d’Angély a diferença é de apenas cinco horas e meia. Como no momento da evocação eram duas horas aqui, em Havana deveria ser oito horas e meia da manhã. ─ Ora, ela cochilava ainda quando a evocastes, ao passo que despertastes há bastante tempo. Naquelas regiões dorme-se tarde, quando se é rico e não se tem o que fazer.

OBSERVAÇÃO: Desta evocação ressaltam vários ensinamentos. Se, na vida exterior de relação, o Espírito encarnado não se recorda de seu passado, lembra-se quando desprendido no sono. Não há, pois, solução de continuidade na vida do Espírito que, nos momentos de emancipação, pode lançar um olhar retrospectivo sobre suas existências anteriores e disso trazer uma intuição, que poderá dirigi-lo quando em vigília. Em diversas ocasiões ressaltamos os inconvenientes que, em vigília, apresentaria a lembrança precisa do passado. Essas evocações nos fornecem um exemplo. Foi dito que se G. Remone e sua esposa se encontrassem, experimentariam um recíproco sentimento de antipatia. Que seria se se lembrassem das antigas relações! O ódio recíproco despertaria inevitavelmente. Em vez de dois seres apenas antipáticos ou indiferentes um para com o outro, talvez fossem inimigos mortais. Com sua ignorância, são mais eles mesmos e marcham mais livremente no novo caminho a percorrer. A lembrança do passado os perturbaria, humilhando-os aos seus próprios olhos e aos dos outros. O esquecimento não lhes faz perder o fruto da experiência, porque nascem com aquilo que adquiriram em inteligência e moralidade. São aquilo que se fizeram. Isso lhes é um novo ponto de partida. Se, com as novas provas que G. Remone terá que sofrer, se aliasse à lembrança das torturas da derradeira morte, seria um suplício atroz que Deus quis evitar, lançando um véu sobre o passado.
A. K.

JACQUES NOULIN (15 DE AGOSTO)

56. (A São João) ─ Podemos evocar o cúmplice da Sra. Remone? ─ Sim.

57. Evocação. (O Espírito se manifesta).

58. ─ Jurai em nome de Deus que sois o Espírito do que foi rival de Remone. ─ Jurarei em nome de tudo o que quiserdes. ─ Jurai em nome de Deus. ─ Juro em nome de Deus.

59. ─ Parece que não sois um Espírito muito adiantado. ─ Cuidai dos vossos negócios e deixai que me vá.

OBSERVAÇÃO: Como não há portas fechadas para os Espíritos, se este pede que o deixem ir, é que um poder superior o obriga a ficar, certamente para sua instrução.

60. ─ Ocupamo-nos dos nossos negócios porque queremos saber como, na outra vida, a virtude é recompensada e o vício castigado. ─ Sim, caríssimo, cada um recebe recompensa ou punição, conforme as suas obras. Tratai, pois, de andar direito.

61. ─ Vossas fanfarronadas não nos intimidam. Temos confiança em Deus. Mas pareceis ainda muito atrasado. ─ Como antes, sou sempre o João Grandão.

62. ─ Então não podeis responder seriamente a perguntas sérias? ─ Ó gente séria, por que vos dirigis a mim? Estou sempre mais disposto a rir do que a filosofar. Sempre gostei da boa mesa, das mulheres agradáveis e do bom vinho.

63. (Ao anjo da guarda do médium). ─ Podeis dar-nos alguns informes sobre este Espírito? ─ Ele não é suficientemente adiantado para vos dar boas razões.

64. ─ Haveria perigo em entrar em comunicação com ele? Poderíamos induzilo a melhores sentimentos? ─ Poderia ser mais proveitoso para ele do que para vós. Tentai. Talvez possais convencê-lo a encarar as coisas de outro ponto de vista.

65. (Ao Espírito). ─ Sabeis que o Espírito deve progredir? Que deve, por encarnações sucessivas, chegar até Deus, de que pareceis muito afastado? ─ Jamais havia pensado nisto, por isso estou tão longe dessa meta. Não quero empreender tão longa jornada.

OBSERVAÇÃO: Eis aqui um Espírito que, em razão de sua leviandade e pouco adiantamento, não se preocupa com a reencarnação. Quando lhe chegar o momento de tomar uma nova existência, que escolha poderá fazer? Evidentemente uma escolha em relação com seus hábitos e seu caráter, a fim de gozar e não com vistas a expiar, até que seu Espírito se ache bastante desenvolvido para compreender as consequências disso. É a história do menino inexperiente que se atira esturdiamente a todas as aventuras e que faz experiência às próprias custas. Lembremos aqui que, para os Espíritos atrasados, incapazes de fazer uma escolha com conhecimento de causa, há encarnações obrigatórias. A. K.

66. ─ Conhecestes G. Remone? ─ Sim, na verdade um pobre diabo.

67. ─ Suspeitastes que ele houvesse assassinado a esposa? ─ Eu era um pouco egoísta e me ocupava mais de mim que dos outros. Quando soube de sua morte, chorei sinceramente, mas não procurei a causa.

68. ─ Qual era, então, a vossa posição? ─ Eu era um simples auxiliar de portaria do tribunal; um contínuo, como dizeis hoje.

69. ─ Depois da morte daquela senhora, pensastes nela alguma vez? ─ Mas não me lembreis tudo isso!

70. ─ Nós queremos vo-lo recordar, porque pareceis melhor do que demonstrais. ─ Pensei muito, algumas vezes. Mas como era naturalmente despreocupado, sua lembrança passava como um relâmpago, sem deixar traços.

71. ─ Qual era o vosso nome? ─ Sois muito curiosos. Se eu não fosse forçado, já vos teria deixado na mão com a vossa moral e os vossos sermões.

72. ─ Vivíeis num século religioso. Então nunca orastes por aquela mulher que era por vós amada? ─ É isso mesmo.

73. ─ Revistes G. Remone e sua esposa no mundo dos Espíritos? ─ Fui encontrar a rapaziada como eu, e quando aqueles chorões queriam mostrar-se eu lhes dei as costas. Não gosto de me comover e...

74. ─ Continuai. ─ Não sou tão falador quanto vós. Ficarei nisso, se quiserdes.

75. ─ Sois feliz hoje? ─ Por que não? Divirto-me em pregar peças aos descuidados, que julgam tratar com bons Espíritos. Quando se ocupam conosco nós pregamos boas peças.

76. ─ Isso não é felicidade. A prova de que não sois feliz é que dissestes que fostes forçado a vir. Ora, não há felicidade em fazer aquilo que nos desagrada. ─ A gente não tem sempre superiores? Isso não impede de ser feliz. Cada um busca a sua felicidade onde a encontra.

77. ─ Com algum esforço, sobretudo pela prece, poderíeis atingir a felicidade daqueles que vos comandam. ─ Não pensei nisso. Vós ireis tornar-me ambicioso. Não me enganais? Não ireis inquietar à toa o meu pobre Espírito.

78. ─ Não vos enganamos. Trabalhai pelo vosso avanço. ─ É preciso muito sacrifício, e eu sou preguiçoso.

79. ─ Quando se é preguiçoso, pede-se ajuda a um amigo. Então nós vos ajudaremos, orando por vós. ─ Orai, então, para que eu mesmo me decida a orar.

80. ─ Oraremos, mas orai também. ─ Credes que se eu orasse ganharia ideias no sentido das vossas?

81. ─ Sem dúvida, mas orai do vosso lado. Nós vos evocaremos na quinta-feira, dia 21, para ver o progresso que tiveres feito e vos dar conselhos, caso concordeis. ─ Então, até logo.

82. ─ Agora quereis dizer o vosso nome? ─ Jacques Noulin. No dia seguinte, o Espírito foi evocado novamente e foram feitas perguntas diferentes a respeito da Sra. Remone. Suas respostas foram muito pouco edificantes e do gênero das primeiras. Consultado, São João respondeu: “Enganaste-vos perturbando esse Espírito e nele despertando suas antigas paixões. Teria sido melhor esperar o dia marcado. Ele se achava em nova perturbação. Vossa evocação o havia lançado em ideias de outra ordem, completamente diversas das suas ideias habituais. Ele ainda não tinha podido tomar uma decisão firme, posto se dispusesse a experimentar a prece. Esperai até o dia marcado. Daqui até lá, se ele escutar os bons Espíritos que vos querem ajudar nas boas obras, podereis dele obter alguma coisa”.

(QUINTA-FEIRA, 21)

83. (A São João). ─ Depois da última evocação, Jacques Noulin emendou-se? ─ Ele orou, e a luz se fez para a sua alma. Agora acredita que está destinado a tornar-se melhor e se dispõe a trabalhar.

84. ─ Que caminho devemos tomar em seu interesse? ─ Perguntai-lhe pelo estado atual de sua alma e fazei-o olhar para si mesmo, a fim de que se dê conta da mudança.

85. (A Jacques Noulin). ─ Refletistes, conforme prometestes, e podeis dizer qual é hoje a vossa maneira de encarar as coisas? ─ Antes de tudo quero vos agradecer. Poupastes-me muitos anos de cegueira. Desde alguns dias compreendo que Deus é o meu objetivo; que devo fazer todo o esforço para me tornar digno de a ele chegar. Abre-se para mim uma era nova. As trevas se dissiparam e agora vejo o caminho a seguir. Tenho o coração cheio de esperança e sou sustentado pelos bons Espíritos que vêm em auxílio aos fracos. Vou seguir essa nova via, na qual já encontrei tranquilidade e que me deve levar à felicidade.

86. ─ Éreis realmente feliz, como nos dissestes? ─ Eu era muito infeliz. Vejo-o agora. Mas eu me sentia feliz como todos aqueles que não olham para cima. Eu não pensava no futuro, e andava pela Terra como um ser despreocupado, não me dando ao trabalho de pensar seriamente. Oh! Como deploro a cegueira que me fez perder um tempo precioso! Vós ganhastes um amigo, não o esqueçais. Chamai-me quando quiserdes e, se puder, virei.

87. ─ Que pensam de vossa disposição os Espíritos com os quais vos reuníeis habitualmente? ─ Zombam de mim por ter escutado os bons Espíritos, cuja presença e conselhos todos nós detestávamos.

88. ─ Seria permitido que fôsseis vê-los? ─ Agora só me ocupo do meu progresso. Aliás, os bons anjos que velam por mim e me cercam de cuidados não me permitem mais olhar para trás, senão para me mostrarem o meu aviltamento.

OBSERVAÇÃO: Indubitavelmente não há qualquer meio material de constatar a identidade dos Espíritos que se manifestaram nas evocações acima. Assim, não o afirmaremos de maneira absoluta. Fazemos essa ressalva para os que creem que aceitamos cegamente tudo quanto vem dos Espíritos. Pecamos antes por um excesso de desconfiança. É que nos devemos guardar de dar como verdade absoluta aquilo que não pode ser controlado. Ora, na ausência de provas positivas, devemos limitar-nos a constatar a possibilidade e buscar as provas morais, em falta de provas físicas. Do fato em questão, as respostas têm um caráter evidente de probabilidade, e sobretudo de alta moralidade: Não há contradições; nenhuma dessas faltas de lógica chocam o bom senso e delatam o embuste; tudo se liga e se encadeia perfeitamente; tudo está de acordo com o que a experiência já demonstrou. Pode-se, pois, dizer que a história é ao menos verossímil, o que já é muito. O que é certo é que não se trata de um romance inventado pelos homens, mas de uma obra mediúnica. Se fosse uma fantasia de Espírito, não viria senão de um Espírito leviano, pois os Espíritos sérios não se divertem em fazer contos, e os levianos sempre deixam perceber o seu objetivo. Acrescentamos que a Sociedade Espírita de Saint-Jean d’Angély é um dos centros mais sérios e melhor dirigidos que já vimos, constituída por pessoas tão recomendáveis pelo caráter quanto pelo saber e que, se se pode dizer, levam o escrúpulo ao excesso. Ela pode ser julgada pela sabedoria e pelo método com que as perguntas são apresentadas e formuladas. Assim, todas as comunicações ali obtidas atestam a superioridade dos Espíritos que se manifestam. As evocações acima, portanto, foram feitas em excelentes condições, tanto para o meio quanto para a natureza dos médiuns. Para nós é, pelo menos, uma garantia de sinceridade absoluta. Acrescentamos que a veracidade do relato foi atestada da maneira mais explícita pelos melhores médiuns da Sociedade de Paris. Olhando a coisa apenas do ponto de vista moral, apresenta-se grave questão. Eis dois Espíritos, Remone e Noulin, tirados de sua situação e trazidos a melhores sentimentos pela evocação e pelos conselhos que lhes foram dados. Pode-se perguntar se teriam continuado infelizes caso não tivessem sido evocados, e o que acontece com todos os Espíritos sofredores não evocados? A resposta já foi dada na História de um danado (O Espírito de Castelnaudary), publicada na Revista de 1860. Acrescentaremos que esses dois Espíritos, tendo chegado o momento em que poderiam ser tocados pelo arrependimento e receber luzes, circunstâncias providenciais, posto que aparentemente fortuitas, provocaram sua evocação, seja para o seu bem, seja para nossa instrução. A evocação era um meio, mas, em falta desta, a Deus não faltam recursos para vir em auxílio aos infelizes, e podemos ainda ter a certeza de que todo Espírito que quer progredir, sempre encontra assistência, de uma maneira ou de outra. A. K.


Remédio dado pelos espíritos

Este título vai provocar o riso dos incrédulos. Que importa! Eles riram de muitas outras coisas, o que não impediu fossem reconhecidas como verdades. Os bons Espíritos se interessam pelo sofrimento da Humanidade. Não é, pois, de admirar que nos procurem aliviar, e em muitas ocasiões provaram que o podem, quando bastante elevados para terem os necessários conhecimentos, pois veem o que não veem os olhos do corpo e preveem o que o homem não pode prever.

O remédio de que se trata foi dado nas circunstâncias seguintes, à senhorita Ermance Dufaux[1], a qual nos remeteu a fórmula, autorizando a sua publicação, em favor dos que dela pudessem necessitar. Um de seus parentes, falecido há muito tempo, tinha trazido da América a receita de um unguento ou pomada, de maravilhosa eficácia para toda sorte de chagas ou feridas. Com sua morte, perdeu-se a receita, que não tinha sido dada a ninguém.

A senhorita Dufaux estava afetada de um mal na perna, muito grave e muito antigo, e que havia resistido a todo tratamento. Cansada do emprego inútil de tantos remédios, um dia perguntou a seu Espírito protetor se para ela não haveria cura possível.

─ Sim, ─ respondeu ele. ─ Serve-te da pomada de teu tio.

─ Mas vós sabeis que a receita se perdeu.

─ Eu vou te dar ─ disse o Espírito. Depois ditou o seguinte:

“Açafrão - 20 centigramas

“Cominho - 4 gramas

“Cera amarela - 31 a 32 gramas

“Óleo de amêndoas doces - uma colher

“Derreter a cera e depois juntar o óleo de amêndoas doces; juntar o açafrão e o cominho num saquinho de pano fino e ferver durante dez minutos em fogo brando. Espalhar a pomada num pedaço de pano e cobrir com ele a parte doente. Renovar diariamente o tratamento.

“Antes da aplicação do unguento é preciso lavar a ferida com água de malva ou outra loção refrescante”

Tendo seguido a prescrição, em pouco tempo a perna da senhorita Dufaux estava cicatrizada, a pele restaurada e, desde então, não sobreveio qualquer acidente.

Também sua lavadeira foi, felizmente, curada de mal idêntico.

Um operário se havia ferido com um fragmento de foice, que penetrou profundamente na ferida, produzindo inchação e supuração. Falavam em amputarlhe a perna. Com o emprego daquela pomada, a inchação desapareceu, parou a supuração e o pedaço de ferro saiu da ferida. Em oito dias aquele homem recuperouse e pôde voltar ao trabalho.

Aplicada sobre furúnculos, abscessos, panarícios, ela faz supurar em pouco tempo e cicatrizar. Atua tirando da chaga os princípios mórbidos, saneando-a e provocando, se for o caso, a saída de corpos estranhos, como esquírolas de ossos, de madeira, etc.

Parece que é também eficaz para os dartrosos, e em geral para todas as afecções da pele.

Sua composição, como se vê, é muito simples, fácil e, em todo caso, inofensiva. Pode-se, pois, experimentar sem receio.



[1] Médium que escreveu a história de Joana d’Arc



Poesias Espíritas (Bordeaux - Médium: Sra. E. Collignon) - Meu testamento

MEU TESTAMENTO


Posto que rimado, creio que não será inferior,

Compreendamo-nos.

Nele o que exalto

Não é a rima, que não é boa;

É o espírito que... Ao diabo essa gíria!

O espírito não é também o que me preocupa.

Compreendam bem, por favor:

Só o Espírito vivifica

Assim entendo esse vocábulo.

Eu, que não sou um deles, mas em breve serei

─ Ao menos o espero ─ queria comparecer,

Não como um simples tolo,

Mas como um pobre Espírito, humilde e arrependido,

Pondo no meu Senhor toda a minha esperança

E contando, para chegar ao plano dos eleitos,

Muito com sua bondade, pouco com minha virtude!

Expliquemo-nos mais, pois sempre me equivoco;

A bondade de Deus é tudo o que eu invoco,

Assim, retomando o assunto,

Antes de ir ouvir a sentença,

Que me abate ou justifica,

Quero regular o melhor que puder

Todas as velhas contas de minha vida.

Algumas delas ─ confessarei bem baixinho

─ Estão vivas no coração.

Vejamos como fazer

Para arranjar as coisas do melhor modo possível.

Não há entre nós a menor diferença.

Primeiro, quando o Espírito deixar este meu corpo,

Exijo uma boa prece

Que será meu passaporte

De pobre morto

Que entrega seu pó à terra.

Isto feito, é no meu enterro

Que é preciso pensar, e aposto

Que, sem vos comoverdes,

Será um enterro modesto.

Aliás, quando vivo, fiquei sempre chocado

Ao ver sobre os túmulos o luxo amontoado,

Quando entregamos à massa de argila

O pouco de que fomos formados.

Por que nos ocuparmos de uma fútil glória?

Muitos se perderam por serem adulados.

A prece de Deus provoca a clemência.

Nós o cremos.

Tal é, também, minha esperança.

Mas por que orar mais por uns que por outros?

Pra que servem aprestos exibidos para este?

Por que o infeliz, que morre na miséria,

Não tem, como eu, o concurso da prece?

Por que a exibição desse luxo tão caro,

Que faz brotar a inveja em que não se pensava?

Para enganar os homens ou conquistar o Céu?

Se é para o enganar, anátema à mentira!

Se é para atrair as graças do Senhor,

Orai antes por quem, privado da ventura

Que a riqueza nos dá,

Tendo sofrido muito, faz jus a essa largueza

Que não vos custa um vintém!

Ora, escutai-me bem: mesmo tendo por louco.

O meu Espírito ao deixar a Terra,

Ele quer ir a Deus, levado pela prece

Que sai do coração,

A única ─ escutai ─ que o Senhor escuta.

Levai-me sem despesa, ruído e aparato:

E, ao contrário do usual,

Que vossos olhos sejam radiantes!

Que em vez de choro em vossos cantos

Retina um tom de alegria!

Deixai a tristeza à dúvida.

Graças a Deus somos crentes!

Não penseis, filhos, que é a economia

Que assim me faz falar!

Não me preocupei muito com o dinheiro

Durante a minha vida, Imaginem depois da morte!

Quero deixar iguais

Os pratos da balança,

E desse luxo que se exibe

Para dourar a lama deste corpo,

Reparar as faltas para com os infelizes.

Quero que desse pano, com que se cobre a morte.

Sejam eliminados todos os ornamentos.

É sempre a mesma mão que ceifa os nossos dias.

É a porta do Céu, não a porta do Louvre,

Que o meu arrependimento e humildade

Pede a São Pedro que abra.

Que a muda eloquência de uma cruz de madeira

Desvie a vingança do Senhor ofendido.

Que minh’alma suba em sua simplicidade,

E que esse ouro perdido vá cobrir a nudez

Da criança, do velho, meus irmãos nesta vida,

Meus iguais ante a morte, talvez mais lá no Céu,

Que de joelhos cada um suplique

Aos que chamamos bem-aventurados!

Antes de terminar, um salutar conselho

Talvez aqui encontre o seu lugar:

Que vos ilumine a luz da Caridade;

Ligai pouco à opinião dos tolos.

Do luxo enganador, que exibe o orgulhoso,

Desconfiai sempre.

Ao coração nada iguala

A felicidade do dever cumprido.

Ajudai a fraqueza do oprimido.

Que vossa alma responda ao grito da aflição.

Que haja um eco pronto a repeti-lo.

Que vossa mão, filhos, esteja pronta a aliviar.

Com a ajuda do pouco ouro que entre vós eu partilho

Acumulai tesouros pra fazer a viagem,

Da qual não regressa o Espírito virtuoso!

Semeai benefícios, recolhei virtudes.

Pedi ao Senhor suas luzes mais claras.

Ide buscar irmãos por entre os infelizes,

E que Deus vos conceda, em sua grande bondade,

Seguir apenas a lei do Amor, da Caridade!...




Fábulas e poesias diversas

Por um espírito batedor

Posto que a tiptologia seja um meio muito lento de comunicação, com paciência é possível obter trabalhos de fôlego. O Sr. Jaubert, de Carcassone, remeteu-nos uma coleção de fábulas e de poesias obtidas por ele através daquele processo. Se nem todas são obras-primas, com o que o Sr. Jaubert não ficaria ofendido, pois que não entra no caso, algumas são admiráveis, de lado o interesse pela fonte de onde procedem. Eis uma que, embora não participando da coleção, pode dar uma ideia do espírito daquele Espírito batedor. É dedicada à Sociedade Espírita de Bordeaux, pelo próprio Espírito.


O monólogo do burrico (Fábula)

Um burrico

─ Não façais confusão,

Pois nunca falo mal de gente de condição.

─ Um burro legítimo, que pode ser tosquiado,

Numa palavra, um burro arrelhado,

Na estação olhava a locomotiva,

Com o olhar brilhante e a palavra viva.

“És tu ─ berra ele ─ tu que estás em descanso,“

Se dou fé ao que diz certo carneiro manso.

“Andas sem almocreve, sem cavalo ou jumento,

“E roncas arrastando tamanho acompanhamento

“De caixas que parecem uma aldeia de lenho.

“Um milagre! ─ diriam ─ Qual nada! Por mim tenho

“Que os tempos são outros! Quem me troça não pode

“Ver que sei conhecer pasto e barba de bode, ─

“E que, deixando os cardos, busco ração sadia.

“Com estes pés de ferro não fazes longa via.

“Eu tenho minha regra: confio porque penso.

“Caminhar sem cavalos?

Sem nós?

Que contrassenso!”

O burro ─ bem se vê ─ a razão invocava,

Essa luz ─ bem sabeis ─ que a arrogância apaga.

Com o sábio por vezes ao asno se assemelha!

Negai, doutores, do Espírito a centelha;

Negai o movimento, desprezai o motor.

Do nada faz o sábio a luz que nos aquece?

Toda locomotiva algo exige: o vapor.

Evocam-se os mortos... mas é preciso a prece,

Que vem do coração, entre ondas de Amor.


O médium e o Dr. Imbroglio

Venha! Venha! Caro Dr. Imbroglio;

A prancheta anda só: é patente, tangível. ─ Bobagem! Vou provar, escrevendo um in-fólio Que isso é batota! Isso é impossível.

Faremos uma observação sobre a qualificação dada ao Espírito que ditou as poesias a que nos referimos acima.

Com razão, os Espíritos sérios repelem o qualificativo de batedores, pois esse título convém apenas àqueles que poderiam ser chamados batedores profissionais, Espíritos levianos ou malévolos que se servem de pancadas para divertir ou atormentar, e que não se preocupam com as coisas sérias. Mas a tiptologia é, como qualquer outro, um meio para comunicações inteligentes e dela se servem os Espíritos mais adiantados, em falta de outro meio, posto prefiram a escrita, porque responde melhor à rapidez do pensamento. É certo dizer que nesse caso não são eles que batem. Eles se limitam a transmitir, deixando a execução material a Espíritos subalternos, como um estatuário deixa ao prático o trabalho de talhar o mármore.


A carta seguinte foi dirigida pelo Sr. Jaubert ao Sr. Sab , de Bordeaux. Temos o prazer de publicá-la como prova dos laços que se estabelecem entre os espíritas das várias localidades e para edificação dos timoratos.

Senhor,

Sou sensível à vossa carta. Aceito com satisfação o título que me confere a Sociedade Espírita de Bordeaux. Aceito-o como recompensa por meus fracos trabalhos, por minha profunda convicção e ─ por que não dizê-lo? ─ pelas amarguras passadas.

Ainda hoje a nova fé é muito mal compreendida. Os cientistas se insurgem; os ignorantes os acompanham; o clero grita que é o demônio, e alguns convictos guardam silêncio. Neste século de materialismo, de apetites grosseiros, de guerras fratricidas, de apego cego e imoderado aos reinos deste mundo, Deus intervém: os mortos falam, nos encorajam, nos arrastam. Por isso cada um de nós deve, sem medo, inscrever seu nome na bandeira da causa santa.

Somos sempre os soldados do Cristo. Proclamamos a grandeza, a imortalidade da alma, os laços palpáveis que ligam os vivos aos mortos; pregamos o amor e a caridade. Que temos a temer dos homens? Ser fraco é ser culpado. Eis por que, senhor, na medida de minhas forças, aceitei a tarefa que Deus e minha consciência me impõem. Ainda uma vez, obrigado por me haverdes admitido entre vós. Sede meu intérprete junto a todos os irmãos de Bordeaux e recebei a certeza dos meus mais afetuosos sentimentos.


J. JAOBERT

Vice-Presidente do Tribunal Civil


OBSERVAÇÃO:O Espiritismo conta hoje numerosos adeptos nas fileiras da magistratura e da advocacia, bem como entre funcionários públicos. Mas nem todos ousam enfrentar a opinião pública. Esse medo, aliás, diminui dia a dia e, em pouco tempo, os trocistas ficarão surpreendidos por terem posto no rol dos loucos, sem acanhamento, tantos homens recomendáveis por suas luzes e por sua posição social.





Dissertações e ensinos espíritas

O duelo (Bordeaux, 21 de novembro de 1861 - Médium: Sr. Guipon)

— CONSIDERAÇÕES GERAIS

O homem, ou Espírito encarnado, pode estar em vossa Terra em missão, em progressão, em punição.

Isto posto, é necessário saibais, de uma vez por todas, que o estado de missão, progressão ou punição deve, sob pena de recomeçar a prova, chegar ao termo fixado pelos desígnios da suprema justiça.

Adiantar por si mesmo, ou por provocação, o instante fixado por Deus para a entrada no mundo dos Espíritos é, pois, enorme crime.

O duelo é ainda um crime maior, porque não só é um suicídio, mas, além disso, um assassinato premeditado.

Na verdade, pensais que o provocado e o provocador não se suicidem moralmente ao se exporem voluntariamente aos golpes mortais do adversário? Credes que não sejam ambos assassinos, no momento em que procuram mutuamente tirar a vida por eles escolhida ou imposta por Deus como expiação ou como prova?

Sim, eu te digo, meu amigo, duas vezes criminosos aos olhos de Deus são os duelistas; duas vezes terrível será a punição, porque nenhuma escusa será admitida, porque por eles tudo foi calculado friamente e premeditado.

Leio em teu coração, meu filho, porque também foste um pobre transviado, e eis minha resposta.

Para não sucumbir a essa terrível tentação só necessitais de humildade, sinceridade e caridade para com vosso irmão em Deus. Por outro lado, só sucumbis pelo orgulho e pela ostentação.



2º. ─ CONSEQUÊNCIAS ESPIRITUAIS

Aquele que, por humildade, como o Cristo, tiver suportado o maior ultraje e perdoado de coração, por amor a Deus, além das recompensas celestes da outra vida, terá a paz de coração nesta e uma alegria incompreensível por haver duas vezes respeitado a obra de Deus.

Aquele que, por caridade para com o próximo, lhe houver provado seu amor fraterno, na outra vida terá a santa proteção e o concurso poderoso da gloriosa mãe do Cristo, pois ela ama e abençoa os que cumprem os mandamentos de Deus; os que seguem e praticam os ensinos de seu Filho.

Aquele que, a despeito dos ultrajes, tiver respeitado a existência de seu irmão e a sua própria, ao entrar no mundo etéreo, encontrará milhões de legiões de bons e puros Espíritos que virão, não honrá-lo por sua ação, mas provar-lhe, por seu devotamento em facilitar-lhe os primeiros passos na nova existência, a simpatia que soube atrair, e os verdadeiros amigos que fez entre eles, seus irmãos.

Todos juntos elevarão a Deus sinceras ações de graça por sua misericórdia, que permitiu ao seu irmão resistir à tentação.

Aquele, digo eu, que houver resistido a essas tristes tentações, pode esperar, não a mudança dos desígnios de Deus, que são imutáveis, mas contar com a benevolência sincera e afetuosa do Espírito de Verdade, o Filho de Deus, o qual de maneira incomparável inundará sua alma com a felicidade de compreender o Espírito de justiça perfeita e de bondade infinita e, consequentemente, salvaguardálo de qualquer outra cilada semelhante.

Ao contrário, aqueles que, provocados ou provocadores, tiverem sucumbido, podem estar certos de que experimentarão as maiores torturas morais, pela contínua presença do cadáver de sua vítima e do seu próprio. Durante séculos serão roídos pelo remorso, por haverem desobedecido tão gravemente às leis celestes, e serão perseguidos, até o dia da expiação, pelo espectro horrível da dupla visão de seus cadáveres ensanguentados.

Felizes ainda se eles próprios aliviarem os sofrimentos por um arrependimento sincero e profundo que lhes abra os olhos da alma, porque então, ao menos poderão entrever um fim às suas penas, compreenderão Deus e lhe pedirão forças para não mais provocarem sua justiça terrível.


3º. ─ CONSEQUÊNCIAS HUMANAS

Os vocábulos dever, honra e coragem, por vezes são pelos homens considerados como questões de honra, para justificarem suas ações e seus crimes.

Eles sempre compreendem tais vocábulos? Não são eles o resumo das intenções do Cristo? Por que, então, lhes truncar o sentido? Por que, então, regredir à barbárie?

Infelizmente, na sua generalidade, os homens ainda se acham sob a influência do orgulho e da ostentação. Para se escusarem aos próprios olhos, fazem soar bem alto os vocábulos dever, honra e coragem e não se dão conta de que eles significam: execução dos mandamentos de Deus, sabedoria, caridade e amor. Com essas palavras, entretanto, estrangulam seus irmãos; com elas se suicidam; com elas se perdem.

Como estão cegos! Julgam-se fortes por terem arrastado um infeliz mais fraco do que eles. Estão cegos quando creem que a aprovação de sua conduta por outros cegos como eles próprios lhes acarretará a consideração humana! A própria Sociedade onde vivem os reprova e em breve os amaldiçoará, pois o reino da fraternidade se aproxima. Enquanto isso, deles fogem os homens sensatos, como fogem das feras.

Examinemos alguns casos e veremos se o raciocínio justifica sua interpretação das palavras dever, honra e coragem.

Um homem tem o coração varado de dor e a alma cheia de amargura, porque surpreendeu provas irrecusáveis da má conduta da esposa. Provoca um dos sedutores dessa pobre e infeliz criatura. Tal provocação seria resultado de seus deveres, de sua honra, de sua coragem? Não, porque sua honra não lhe será devolvida. Sua honra pessoal não foi nem pode ter sido atingida. Isto será vingança.

Melhor ainda. Para provar que sua pretensa honra não está em jogo, é que muitas vezes sua infelicidade é mesmo ignorada e ficaria ignorada se não fosse tornada pública por mil vozes provocadas pelo escândalo ocasionado por sua vingança.

Enfim, se sua infelicidade fosse conhecida, ele seria sinceramente lamentado por todos os homens sensatos, resultando numerosas provas de verdadeira simpatia, e ele teria contra si apenas o riso dos corações malévolos e endurecidos, mas desprezíveis.

Num caso como no outro, sua honra não seria devolvida nem retirada.

Só o orgulho é, pois, o guia de quase todos os duelistas, e não a honra.

Credes que por uma palavra; pela falsa interpretação de uma frase; pelo roçar insensível e involuntário de um braço ao passar; enfim, por um sim ou por um não, e até mesmo, eventualmente, por um olhar que lhe não era dirigido, seja o duelista levado por um sentimento de honra a exigir uma pretensa reparação pelo assassinato e pelo suicídio? Oh! Não duvideis. O orgulho e a certeza de sua força são seus únicos móveis, por vezes auxiliados pela ostentação, pois ele quer exibir-se, dar prova de coragem, de saber e às vezes de generosidade.

Ostentação!!!

Ostentação, repito, porque seus conhecimentos em questões de duelo são os únicos verdadeiros; sua coragem e sua generosidade são mentiras.

Quereis pô-lo em prova real, a esse espadachim corajoso? Ponde-o diante de um rival de reputação infernal, superior à sua, no entanto possivelmente de um saber inferior ao seu, e ele empalidecerá e tudo fará para evitar o combate. Ponde-o diante de um muito mais fraco e ignorante dessa ciência duplamente mortal, e vê-lo-eis impiedoso, altivo e arrogante, mesmo quando constrangido a ter piedade.

─ Isso é coragem?

A generosidade! Oh! Falemos dela. Será generoso o homem

que, confiante em sua força, depois de haver provocado a fraqueza, a esta concede a continuação de uma vida humilhada e levada ao ridículo?

Será generoso aquele que, para alcançar uma coisa desejada e ambicionada, provoca seu fraco possuidor para obtê-la, a seguir, como recompensa de sua generosidade?

Será generoso aquele que, usando seus talentos criminosos, poupa a vida de seres fracos que injuriou?

Será, ainda, generoso quando dá semelhante prova de generosidade ao marido ou irmão a quem indignamente ultrajou, e que ele expõe, agora pelo desespero, a um segundo suicídio?

Oh! Meus amigos! Crede todos que o duelo é uma terrível e horrorosa invenção dos Espíritos maus e perversos, invenção digna do estado de barbárie que aflige ao máximo o nosso pai, o Deus tão bom.

Cabe a vós, espíritas, combater e destruir tão triste hábito, esse crime digno dos anjos das trevas.

Cabe a vós, espíritas, dar o nobre exemplo da renúncia, a despeito de tudo, a esse funesto mal.

Cabe a vós, espíritas sinceros, fazer compreendida a sublimidade das palavras dever, honra e coragem, e Deus falará por vossas vozes.

Cabe a vós, enfim, a felicidade de semear entre vossos irmãos os germens tão preciosos e por nós ignorados em nossa existência terrena, os do Espiritismo.



Teu pai, ANTÔNIO

OBSERVAÇÃO: Os duelos tomam-se cada vez mais raros ao menos na França e se vemos ainda, de vez em quando, dolorosos exemplos, seu número já não é comparável aos de outrora. Antigamente um homem não saía de casa sem prever um encontro, em conseqüência do que tomava precauções. Um sinal característico dos costumes da época e da gente estava no porte habitual, ostensivo ou oculto, de armas ofensivas e defensivas. A abolição desse uso testemunha o abrandamento dos costumes; e écurioso seguir-lhe a gradação desde aquela época em que os cavaleiros jamais cavalgaram sem armadura e armados de lança, até o simples porte da espada, mais como ornamento e acessório do brasão, do que arma agressiva. Outro traço dos costumes é que outrora os combates singulares se davam em plena rua, perante a multidão que se afastava para deixar o campo livre, e que hoje são ocultos. Hoje a morte de um homem é um acontecimento comovente. Outrora não se prestava atenção. O Espiritismo apagará esses últimos vestígios da barbárie, inculcando nos homens o espírito de caridade e de fraternidade.




Fundamentos da ordem social (Lyon, 16 de setembro de 1862 - Médium: Sr. Émile V...)

NOTA: Esta comunicação foi obtida numa sessão particular, presidida pelo Sr. Allan Kardec.

Ei-vos reunidos para ver o Espiritismo em sua fonte, a fim de olhar de frente essa ideia e de apreciar as grandes ondas de amor que ela prodigaliza aos que a conhecem.

O Espiritismo é o progresso moral; é a elevação do Espírito na via conducente a Deus. O progresso é a fraternidade em seu nascedouro, porque a fraternidade completa, tal qual pode o Espírito imaginá-la, é a perfeição.

A fraternidade pura é um perfume do alto, uma emanação do infinito, um átomo da inteligência celeste; é a base de todas as instituições morais e o único meio de elevar a uma condição social que possa subsistir e produzir os efeitos dignos da grande causa pela qual combateis.

Sede irmãos, portanto, se quiserdes que o germe lançado entre vós se desenvolva e se torne a árvore que buscais. A união é a força soberana que baixa à Terra, e a fraternidade é a simpatia da união, é a poesia, o encanto, o ideal no positivo.

Precisais ser unidos para serdes fortes e ser fortes para fundardes uma instituição que não repouse senão sobre a verdade, tornada tão tocante e tão admirável, tão simples e tão sublime. As forças divididas aniquilam-se. Reunidas, são cada vez mais fortes.

E se se considerar o progresso de cada criatura, se se refletir no amor e na caridade que brota de cada coração, a diferença será muito maior. Sob o sublime influxo desse sopro inefável, os laços de família se apertam, mas os laços sociais, tão vagamente definidos, se esboçam, se aproximam e acabam formando um único feixe de todos esses pensamentos, de todos esses desejos, de todos esses objetivos de natureza diversa.

O que é que vedes sem a fraternidade? O egoísmo e a ambição. Cada um tem o seu objetivo; cada um o persegue por seu lado; cada um marcha a seu modo, e todos são fatalmente arrastados para o abismo onde mergulham, há séculos, todos os esforços humanos. Com a união há um só objetivo, pois há um só pensamento, um só desejo, um só coração.

Uni-vos, pois, meus amigos, é o que incessantemente vos repete a voz de nosso mundo. Uni-vos e chegareis mais depressa ao vosso objetivo.

É sobretudo nessa reunião inteiramente simpática que deveis tomar a resolução irrevogável de serdes unidos por um pensamento comum a todos os espíritas da Terra, para oferecerdes a homenagem do vosso reconhecimento àquele que vos abriu o caminho do bem supremo; àquele que trouxe a felicidade às vossas cabeças, a alegria aos vossos corações e a fé aos vossos Espíritos.

Vosso reconhecimento é sua recompensa atual. Não lho recuseis, portanto, e fazendo a oferta a uma só voz, dareis o primeiro exemplo de verdadeira fraternidade.

LÉON DE MURIANE, Espírito Protetor

OBSERVAÇÃO: Esse nome é completamente desconhecido, até do médium. Isso prova que para ser um Espírito elevado é desnecessário ter o nome inscrito no calendário ou nos fastos da história e que, entre os que se comunicam, muitos há que têm nomes desconhecidos.


Aqui jazem 18 séculos de luzes (Lyon, 16 de setembro de 1862 - Médium: Sr. Émile V...)

O Sr. Émile, que obteve a comunicação acima e muitas outras igualmente notáveis, é muito jovem. Ele não é apenas um excelente médium escrevente. É médium pintor, posto não tenha aprendido desenho nem pintura. Ele pinta a óleo paisagens e diversos temas, e por isso é levado a escolher, misturar e combinar as cores necessárias.

Do ponto de vista da Arte, seus quadros certamente não são perfeitos, posto em certas exposições sejam vistos muitos que não valem mais. Falta-lhes acabamento e delicadeza, e os tons são duros e muito acentuados. Mas, quando se pensa nas condições em que são feitos, não são menos notáveis. Quem sabe se, com exercícios, não adquirirá ele a habilidade que lhe falta e não se tornará um verdadeiro pintor, como aquele operário de Bordeaux que sabendo apenas assinar o nome, escreve como médium e acabou tendo uma linda letra para uso pessoal, sem outro mestre além dos Espíritos?

Quando vimos o Sr. Émile, ele estava concluindo um quadro alegórico, onde se vê um féretro, sobre o qual estava escrito: Aqui jaz 18 séculos de luzes. Permitimonos criticar tal inscrição do ponto de vista gramatical, e, em primeiro lugar, não compreendemos o sentido dessa alegoria colocando dezoito séculos de luzes num caixão, visto que, dizíamos nós, graças sobretudo ao Cristianismo, a Humanidade está hoje mais esclarecida do que naquela época. Isto aconteceu na sessão do dia 16, na qual ele recebeu a comunicação acima. O Espírito respondeu às nossas observações, acrescentando o seguinte:

“Aqui jaz é posto intencionalmente. O sujeito não é expresso pelo número 18, representando séculos: é um total de séculos, uma ideia coletiva, como se houvesse um lapso de tempo de 18 séculos.

Podereis dizer aos vossos gramáticos que não confundam uma ideia coletiva com uma ideia de separação. Eles próprios não dizem da multidão, que pode ser composta de incalculável número de pessoas, que ELA PODE mover-se? É o bastante sobre o assunto. Assim deve ser, porque essa é a ideia.

“Agora, falemos da alegoria. Dezoito séculos de luzes num caixão! Essa ideia representa todos os esforços feitos pela verdade durante esse tempo, esforços que foram sempre destruídos pelo espírito de partido, pelo egoísmo. Dezoito séculos de luzes em pleno dia, seriam dezoito séculos de felicidade para a Humanidade, dezoito séculos que apenas começam a germinar na Terra e que teriam tido seu desenvolvimento. O Cristo trouxe a verdade à Terra e a colocou ao alcance de todos. O que aconteceu com ela? As paixões terrestres dela se apoderaram e ela foi metida num caixão, de onde acaba de tirá-la o Espiritismo. Eis a alegoria.”

LÉON DE MURIANE


Papel da sociedade de Paris (Sociedade de Paris, 24 de outubro de 1862 - Médium: Sr. Leymarie)

Paris é o ponto de desembarque do mundo. Cada um aí vem buscar uma impressão ou uma ideia.

Quando me achava em vosso meio, por vezes me perguntava por que essa grande cidade, ponto de encontro do mundo inteiro, não possuía uma reunião espírita numerosa, mas tão numerosa quanto os mais vastos anfiteatros pudessem conter.

Por vezes cheguei a pensar que os espíritas parisienses entregavam-se demais aos prazeres. Até pensei que a fé espírita para muitos era um prazer de amador, uma distração entre as muitas que Paris oferece continuamente.

Mas, longe de vós e contudo tão perto, vejo e compreendo melhor. Paris está assentada à margem de Sena, mas Paris está em toda a parte, e todos os dias essa cabeça poderosa revolve o mundo inteiro.

Como ela, a Sociedade central faz jorrar seu pensamento no Universo. Sua força não está no círculo onde se realizam suas sessões, mas em todos os países onde são seguidas as suas dissertações, em toda a parte onde ela faz lei, à vista de seus ensinos inteligentes. É um sol cujos raios benfazejos repercutem ao infinito.

Por isso mesmo, a Sociedade não pode ser um grupo comum. Seus pontos de vista são predestinados, e seu apostolado é maior. Não pode ela restringir-se a um pequeno espaço. O mundo lhe é necessário, por ser ela de natureza invasora. De fato, ela conquista, pacificamente, hoje cidades, amanhã reinos, mais tarde o mundo inteiro.

Quando um estrangeiro vos faz uma visita de cortesia, recebei-o dignamente e afetuosamente, para que leve uma grande ideia do Espiritismo, essa poderosa arma da civilização, que deve aplainar todos os caminhos, vencer todas as resistências e até todas as dúvidas. Dai largamente, para que cada um receba esse alimento do Espírito que tudo transforma em sua passagem misteriosa, porque a crença nova é forte como Deus, grande como ele, caridosa como tudo quanto emana do poder superior, que fere para consolar, dando à Humanidade em trabalho a prece e a dor por antecipação.

Bendita sejas, Sociedade que amo, tu que dás sempre com benevolência, tu que realizas uma tarefa árdua sem olhar as pedras que barram a passagem. Muito mereceste de Deus. Não serás e não poderás ser um centro ordinário, mas, ao contrário ─ repito-o ─ a fonte benfazeja onde o sofrimento virá sempre encontrar o bálsamo reparador.

SANSON

(Antigo Membro da Sociedade de Paris)


Origem da linguagem (Sociedade espírita de Paris - Médium: Sr. D'Ambel)

Meus caros e bem-amados amigos ouvintes, pedis-me hoje que eu dite ao meu médium a história da linguagem. Tentarei satisfazer-vos. Deveis, porém, compreender que me será impossível, nalgumas linhas, tratar inteiramente da importante questão, à qual se liga forçosamente outra mais importante, a da origem das raças humanas.

Que Deus Todo-Poderoso, tão benevolente para com os espíritas, me conceda a lucidez necessária para afastar de minha dissertação toda confusão, toda obscuridade e sobretudo todo erro.

Entro na matéria dizendo-vos que admitamos, inicialmente, como princípio, esta eterna verdade: O Criador deu a todos os seres da mesma raça um modo especial, mas seguro, para se entenderem reciprocamente. Não obstante, esse modo de comunicação, essa linguagem, era tanto mais restrita quanto mais inferiores eram as espécies. É em virtude dessa verdade, dessa lei, que os selvagens e os povos pouco civilizados possuem línguas tão pobres que uma porção de termos usados nas regiões favorecidas pela civilização lá não encontram vocábulos correspondentes, e é em obediência a essa mesma lei que as nações que progridem criam novas expressões para novas descobertas e novas necessidades.

Como eu disse alhures, a Humanidade já atravessou três grandes períodos: a fase bárbara, a fase hebraica e pagã e a fase cristã. A esta última sucederá o grande período espírita, cujos alicerces lançamos entre vós.

Examinemos, pois, a primeira fase e o começo da segunda, e aqui só posso repetir o que eu já disse. A primeira fase humana, que poderemos chamar préhebraica ou bárbara, arrastou-se por muito tempo e lentamente em todos os horrores e convulsões de uma barbárie terrível. Aí o homem é peludo como um animal selvagem e, como as feras, abriga-se em cavernas e nos bosques. Vive de carne crua e se repasta de seu semelhante, como de uma excelente caça. É o mais absoluto reino da antropofagia. Não há sociedade nem família! Alguns grupos dispersos aqui e ali, vivem na mais completa promiscuidade, sempre prontos a se entredevorarem. Tal é o quadro desse período cruel. Nenhum culto, nenhuma tradição, nenhuma ideia religiosa. Apenas as necessidades animais a satisfazer, eis tudo!

Prisioneira de uma matéria estupidificante, a alma fica morna e latente em sua prisão carnal. Ela nada pode contra os muros grosseiros que a encerram, e sua inteligência mal pode mover-se nos compartimentos de um cérebro estreito.

O olho é manso, a pálpebra pesada, o lábio grosso, o crânio achatado, e alguns sons guturais bastam como linguagem.

Nada prenuncia que desse animal bruto sairá o pai das raças hebraicas e pagãs. Contudo, com o tempo, eles sentem a necessidade de se defenderem contra os outros carnívoros, como o leão e o tigre, cujas presas terríveis e garras afiadas facilmente dominavam o homem isolado. Assim realiza-se o primeiro progresso social. Não obstante, o reinado da matéria e da força bruta se manteve durante toda essa fase cruel.

No homem dessa época, não procureis sentimentos nem razão nem linguagem propriamente dita. Ele obedece apenas à sua sensação grosseira, e só tem como objetivo comer, beber e dormir. Nada além disso. Pode-se dizer que o homem inteligente ainda está em germe, mas que não existe ainda.

Contudo, é preciso constatar que entre as raças brutais já aparecem alguns seres superiores, Espíritos encarnados com a tarefa de conduzir a Humanidade ao seu destino e apressar o surgimento das eras hebraica e pagã.

Devo acrescentar que, além desses Espíritos encarnados, o globo terrestre era visitado por esses ministros de Deus cuja memória foi conservada pela tradição sob os nomes de anjos e arcanjos, que quase diariamente se punham em contato com os seres superiores, Espíritos encarnados de que acabo de falar. A missão de alguns desses anjos continuou durante a maior parte da fase humanitária. Devo acrescentar que o rápido quadro que acabo de fazer, dos primeiros tempos da Humanidade, vos ensina um pouco a que leis rigorosas são submetidos os Espíritos que se comprometem a viver em planetas de formação recente.

A linguagem propriamente dita, como a vida social, não começa a ter um caráter certo senão a partir da era hebraica e da pagã, durante a qual o Espírito encarnado, sempre sujeito à matéria, começa a se revoltar e a quebrar alguns elos de sua pesada cadeia. A alma se agita em sua prisão carnal e por esforços reiterados reage energicamente contra as paredes do cérebro, cuja matéria sensibiliza. Ela melhora e aperfeiçoa, por um trabalho constante, o jugo de suas faculdades, assim desenvolvendo os órgãos físicos. Enfim, o pensamento pode ser lido num olhar límpido e claro. Já estamos longe das frontes achatadas! É que a alma se sente, se reconhece, tem consciência de si mesma e começa a compreender que independe do corpo. Desde então luta ela com ardor para se desvencilhar do amplexo de sua robusta rival. O homem se modifica de pouco em pouco e a inteligência se movimenta mais livremente num cérebro mais desenvolvido. Entretanto, constatamos que nessa época o homem ainda é circunscrito e cercado, como gado, o homem escravo do homem. A escravidão é consagrada pelo Deus dos Hebreus, tanto quanto pelos deuses pagãos, e Jeová, assim como Júpiter Olímpico, pede sangue e vítimas vivas.

Essa segunda fase oferece aspectos curiosos do ponto de vista filosófico. Já tracei um quadro rápido, que meu médium vos transmitirá em futuro próximo.

Como quer que seja, e para voltar ao tema em estudo, tende certeza de que não foi senão na época dos grandes períodos pastorais e patriarcais que a linguagem humana tomou um aspecto regular e adotou formas e sons especiais.

Durante essa época primitiva, em que a Humanidade saía dos cueiros e balbuciava na primeira infância, poucas palavras bastavam aos homens, para os quais ainda não tinha nascido a Ciência, cujas necessidades eram mais restritas, e cujas relações sociais paravam à porta das tendas, à soleira das famílias e, mais tarde, nos confins da tribo. Era a época em que o pai, o pastor, o ancião, o patriarca, numa palavra, dominava como senhor absoluto, com direito de vida e morte.

A língua primitiva foi uniforme. Mas, à medida que crescia o número de pastores, estes, deixando por sua vez a tenda paterna, foram constituir novas famílias em zonas desabitadas e, daí, novas tribos. Então a língua por eles usada se diferenciou gradativamente, de geração em geração, da que era usada na tenda paterna. Assim foram criados os vários idiomas.

Aliás, posto não seja meu propósito dar um curso de linguística, não vos passa despercebido que, nas línguas mais distanciadas, encontrais vocábulos cujo radical pouco variou e cuja significação é quase a mesma. Por outro lado, posto tenhais a pretensão de constituirdes um velho mundo, o mesmo motivo que corrompeu a língua primitiva, reina soberano em vossa França tão orgulhosa de sua civilização. Aí vedes as consonâncias, os termos e a significação variarem, já não direi de província a província, mas de comuna a comuna.

Invoco o testemunho dos que viajaram pela Bretanha, como dos que percorreram a Provença e o Languedoc. É uma variedade de idiomas e de dialetos que espanta a quem os quisesse coligir num dicionário único.

Uma vez que os homens primitivos, ajudados pelos missionários do Eterno, emprestaram a certos sons especiais outras tantas ideias especiais, foi criada a língua falada, e as modificações por ela sofridas mais tarde o foram sempre em razão do progresso humano. Consequentemente, conforme a riqueza da língua, pode-se estabelecer facilmente o grau de civilização atingido pelo povo que a fala.

O que posso acrescentar é que a Humanidade marcha para uma língua única, como consequência forçada de uma afinidade de ideias em Moral, em Política, e sobretudo em Religião.

Tal será a obra da filosofia nova, o Espiritismo, que hoje vos ensinamos.


ERASTO



Respostas

Ao Sr. B. G. à La Calle, Argélia.

O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns ainda não foram traduzidos para o italiano.

Ao Sr. Dumas, de Sétif, Argélia.

─ Recebi o Écho de Sétif e li com atenção os dois notáveis artigos científicos sobre o Espiritismo publicados nesse jornal. Deles falarei em detalhes no próximo número. Sinto-me feliz por ver esse estimável jornal considerar a causa da doutrina e tratá-la de modo sério.


TEXTOS RELACIONADOS

Mostrar itens relacionados