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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1862 > Dezembro
Dezembro
Estudo sobre os possessos de MorzineCausas da obsessão e meios de combate
As observações que fizemos sobre a epidemia que se abateu, e que se abate ainda, sobre a comuna de Morzine, na Alta Saboia, não nos deixam nenhuma dúvida quanto à causa. Mas, para apoiar nossa opinião, devemos entrar em explicações preliminares que melhor destacarão a analogia desse mal com os casos idênticos, cuja origem não poderia oferecer dúvidas a quem esteja familiarizado com os fenômenos espíritas e reconheça a ação do mundo invisível sobre a Humanidade.
Para tanto, faz-se mister remontar à fonte do mesmo fenômeno e seguir-lhe a gradação, desde os casos mais simples, e ao mesmo tempo explicar como ele se processa. Daí deduziremos muito melhor o meio de combater o mal. Posto que já tenhamos tratado do assunto no Livro dos Médiuns, no capítulo da obsessão, e em diversos artigos desta Revista, aduziremos algumas considerações novas, que tornarão a coisa mais fácil de entender.
O primeiro ponto acerca do qual é importante compenetrar-se é o da natureza dos Espíritos, do ponto de vista moral. Não sendo os Espíritos senão as almas dos homens, e não sendo bons todos os homens, não é racional admitir-se que o Espírito de um perverso de súbito se transforme. Do contrário seria desnecessário o castigo na vida futura. A experiência confirma essa teoria, ou melhor, a teoria é fruto da experiência. Com efeito, mostram-nos as relações com o mundo invisível, ao lado de Espíritos sublimes de sabedoria e de conhecimento, outros ignóbeis, ainda com todos os vícios e paixões da Humanidade.
Após a morte, a alma de um homem de bem será um bom Espírito, da mesma forma que um bom Espírito, encarnando-se, será um homem de bem. Pela mesma razão, ao morrer, um homem perverso dará um Espírito perverso ao mundo invisível, e um Espírito perverso, encarnando-se, não poderá ser um homem virtuoso, e isso até que o Espírito não se tenha depurado ou experimentado o desejo de se melhorar, porque, a partir do momento em que entrou no caminho do progresso, pouco a pouco ele se despoja de seus maus instintos e gradativamente se eleva na hierarquia dos Espíritos, até atingir a perfeição acessível a todos, pois Deus não pode ter criado seres eternamente votados ao mal e à infelicidade.
Assim, os mundos visível e invisível se penetram alternadamente e incessantemente um no outro, se assim podemos dizer, e alimentam-se mutuamente, ou, melhor dizendo, esses dois mundos na realidade constituem um só, em dois estados diferentes. Essa consideração é muito importante para melhor compreenderse a solidariedade que existe entre eles.
Sendo a Terra um mundo inferior, isto é, pouco adiantado, resulta que a imensa maioria dos Espíritos que a povoam, tanto no estado errante quanto encarnados, deve compor-se de Espíritos imperfeitos, que fazem mais mal que bem. Daí a predominância do mal na Terra. Ora, sendo a Terra, ao mesmo tempo, um mundo de expiação, é o contato do mal que torna os homens infelizes, pois se todos os homens fossem bons, todos seriam felizes. É um estado ainda não alcançado por nosso globo, e é para tal estado que Deus quer conduzi-lo. Todas as tribulações aqui experimentadas pelos homens de bem, quer da parte dos homens, quer da dos Espíritos, são a consequência desse estado de inferioridade. Poder-se-ia dizer que a Terra é a Botany-Bay dos mundos. Aí se encontram a selvageria primitiva e a civilização, a criminalidade e a expiação.
É, pois, necessário imaginar-se o mundo invisível como formando uma população incontável, compacta, por assim dizer, que envolve a Terra e se agita no espaço. É uma espécie de atmosfera moral, da qual os Espíritos encarnados ocupam a parte inferior, onde se agitam como num vaso. Ora, assim como o ar das partes baixas é pesado e malsão, esse ar moral é também malsão, porque corrompido pelas emanações dos Espíritos impuros. Para resistir a isso são necessários temperamentos morais dotados de grande vigor.
Digamos, entre parênteses, que tal estado de coisas é inerente aos mundos inferiores, mas que esses mundos seguem a lei do progresso e, atingindo a idade precisa, Deus os saneia, deles expulsando os Espíritos imperfeitos, que não mais aí se reencarnam e são substituídos por outros mais adiantados, que farão reinar a felicidade, a justiça e a paz. É uma revolução desse gênero que no momento se prepara.
Examinemos, agora, o modo de ação recíproca dos encarnados e desencarnados.
Sabemos que os Espíritos são revestidos de um envoltório vaporoso, que lhes forma um verdadeiro corpo fluídico, ao qual damos o nome de perispírito, e cujos elementos são tirados do fluido universal ou cósmico, princípio de todas as coisas.
Quando o Espírito se une a um corpo, aí vive com seu perispírito, que serve de ligação entre o Espírito, propriamente dito, e a matéria corpórea. Ele é o intermediário das sensações percebidas pelo Espírito. Mas esse perispírito não é confinado no corpo, como numa caixa. Por sua natureza fluídica, ele irradia exteriormente e forma em torno do corpo uma espécie de atmosfera, como o vapor que dele se desprende. Mas o vapor que se desprende de um corpo malsão é igualmente malsão, acre e nauseabundo, o que infecta o ar dos lugares onde se reúnem muitas pessoas perversas. Assim como esse vapor é impregnado das qualidades do corpo, o perispírito é impregnado das qualidades, ou seja, do pensamento do Espírito, e irradia tais qualidades em torno do corpo.
Agora outro parêntese para responder de imediato a uma objeção oposta por alguns à teoria que o Espiritismo dá sobre o estado da alma. Acusam-no de materializar a alma, ao passo que, segundo a religião, a alma é puramente imaterial. Como a maior parte das outras, essa objeção provém de um estudo incompleto e superficial. Jamais o Espiritismo definiu a natureza da alma, que escapa às nossas investigações. Ele não diz que o perispírito constitui a alma. O vocábulo perispírito significa positivamente o contrário, pois especifica um envoltório em torno do espírito.
O que diz a respeito O Livro dos Espíritos? “Há no homem três coisas: a alma, ou espírito, princípio inteligente; o corpo, envoltório material; o perispírito, envoltório fluídico semimaterial, que serve de laço entre o espírito e o Corpo”. Do fato que, com a morte do corpo, a alma conserva o envoltório fluídico, não se pode deduzir que tal envoltório e a alma sejam uma só e mesma coisa, da mesma forma que não são uma só e a mesma coisa o corpo e a roupa ou a alma e o corpo.
A Doutrina Espírita nada tira à imaterialidade da alma. Ela apenas lhe dá dois envoltórios, em vez de um, durante a vida corpórea, e só um após a morte do corpo, o que é, não uma hipótese, mas um resultado da observação, e é com o auxílio desse envoltório que melhor se compreende a sua individualidade e melhor se explica a sua ação sobre a matéria.
Voltemos ao nosso assunto.
O perispírito, por sua natureza fluídica, é essencialmente móvel, elástico, se assim se pode dizer. Como agente direto do Espírito, ele é posto em ação e projeta raios, pela vontade do Espírito. Por esses raios ele serve à transmissão do pensamento, porque, de certa forma, está animado pelo pensamento do Espírito.
Sendo o perispírito o laço que une o Espírito ao corpo, é por seu intermédio que o Espírito transmite aos órgãos, não a vida vegetativa, mas os movimentos que exprimem a sua vontade. É também por seu intermédio que as sensações do corpo são transmitidas ao Espírito. Destruído o corpo sólido pela morte, o Espírito não age mais e não percebe mais senão por seu corpo fluídico, ou perispírito. Por isso age mais facilmente e percebe melhor, considerando-se que o corpo é um entrave. Tudo isso é resultado da observação.
Suponhamos agora duas pessoas próximas uma da outra, cada qual envolvida por sua atmosfera perispiritual, ─ permitam-nos o neologismo. Esses dois fluidos põem-se em contato e se penetram um no outro. Se eles forem de natureza antipática, repelem-se, e os dois indivíduos sentirão uma espécie de mal-estar ao se aproximarem um do outro, sem se darem conta disso. Se, ao contrário, forem movidos por um sentimento bom e benevolente, carregarão consigo um pensamento benevolente que atrai. É por isso que duas pessoas se compreendem e se adivinham sem se falarem. Um certo não sei quê por vezes diz que a pessoa que temos diante de nós deve estar animada por tal ou qual sentimento. Ora, esse não sei quê é a expansão do fluido perispiritual da pessoa em contato com o nosso, espécie de fio elétrico condutor do pensamento. A partir daí compreende-se que os Espíritos, cujo envoltório fluídico é muito mais livre do que no estado de encarnação, não necessitam de sons articulados para se entenderem.
O fluido perispiritual do encarnado é, pois, acionado pelo Espírito. Se, por sua vontade, o Espírito, por assim dizer, dardeja raios sobre outro indivíduo, os raios o penetram. Daí a ação magnética mais ou menos poderosa, conforme a vontade; mais ou menos benfazeja, conforme sejam esses raios de natureza melhor ou pior, mais ou menos vivificante, porque eles podem, por sua ação, penetrar os órgãos e, em certos casos, restabelecer o estado normal. Sabe-se qual é a influência das qualidades morais do magnetizador.
Aquilo que pode fazer um Espírito encarnado, dardejando seu próprio fluido sobre uma pessoa, pode igualmente fazê-lo um desencarnado, porque ele tem o mesmo fluido. Assim, ele pode magnetizar e, de acordo com sua natureza boa ou má, sua ação será benéfica ou malfazeja.
Assim, facilmente nos damos conta da natureza das impressões que recebemos, conforme o meio onde nos encontramos. Se uma reunião for composta de pessoas animadas por maus sentimentos, elas enchem o ar ambiente com fluido impregnado de seus pensamentos. Daí, para as almas boas, um mal-estar moral análogo ao malestar físico causado pelas exalações mefíticas: a alma fica asfixiada. Se, ao contrário, as pessoas tiverem intenções puras, encontramo-nos em sua atmosfera como se num ar vivificante e salubre. Naturalmente, o efeito será o mesmo num ambiente cheio de Espíritos, conforme sejam bons ou maus.
Isso bem compreendido, chegamos sem dificuldade à ação material dos Espíritos errantes sobre os Espíritos encarnados, e daí, à explicação da mediunidade.
Se um Espírito quer agir sobre uma pessoa, dela se aproxima e envolve-a, por assim dizer, com o seu perispírito, como se fosse um manto. Os fluidos se penetram; os dois pensamentos e as duas vontades se confundem, e então o Espírito pode servir-se daquele corpo como se fora o seu próprio; fazê-lo agir à sua vontade, falar, escrever, desenhar, etc. Esses são os médiuns. Se o Espírito for bom, sua ação será suave e benéfica, e ele só provocará boas coisas; se for mau, provocará maldades; se for perverso e maldoso, ele o constrange como numa armadilha; paralisa até mesmo a vontade e a razão, que abafa sob seus fluidos, assim como se apaga o fogo sob um lençol d’água; incita-o a pensar, falar e agir por ele, conduzindo-o, contra sua vontade, a atos extravagantes ou ridículos. Numa palavra, ele magnetiza o indivíduo e o leva a uma espécie de catalepsia moral, transformando-o em instrumento cego de sua vontade. Tal é a causa da obsessão, da fascinação e da subjugação, que se mostram em diversos graus de intensidade.
É ao paroxismo da subjugação que geralmente se dá o nome de possessão. Deve notar-se que, nesse estado, muitas vezes o indivíduo tem consciência do ridículo daquilo que faz, mas é constrangido a fazê-lo, como se um homem mais vigoroso que ele o constrangesse, contra sua vontade, a mover os braços, as pernas, a língua.
Eis um curioso exemplo.
Numa pequena reunião em Bordeaux, em meio a uma evocação, o médium, um jovem de caráter suave e perfeita urbanidade, de repente começa a bater na mesa, levanta-se com olhar ameaçador, mostrando os punhos aos assistentes, proferindo pesadas injúrias e querendo atirar-lhes um tinteiro. A cena, tanto mais chocante quanto inesperada, durou aproximadamente dez minutos, depois do que o moço retomou a calma habitual e desculpou-se do que se havia passado, dizendo que sabia muito bem o que havia dito e feito, mas que não pudera impedir.
Quando tomamos conhecimento do fato, pedimos explicação numa sessão da Sociedade de Paris. Foi-nos respondido que o Espírito que o havia provocado era mais farsista do que mau, e que simplesmente queria divertir-se com o pavor dos assistentes. O que prova a veracidade da explicação é que o fato não se repetiu, e que o médium continuou a receber excelentes comunicações, como antes.
É importante esclarecer o que provavelmente excitou a verve daquele Espírito brincalhão. Um antigo dirigente da orquestra do teatro de Bordeaux, o Sr. Beck, tinha experimentado, durante vários anos antes de morrer, um fenômeno singular. Todas as noites, ao sair do teatro, parecia-lhe que um homem lhe saltava às costas, cavalgando às suas espáduas, até chegar à porta da casa. Aí o suposto indivíduo descia e o Sr. Beck se achava livre.
Nessa reunião, quiseram evocar o Sr. Beck e pedir-lhe uma explicação. Foi então que o Espírito farsista houve por bem substituí-lo e fazer o médium representar uma cena diabólica, pois nele encontrou, sem dúvida, as necessárias disposições fluídicas para secundá-lo.
Aquilo que nesta circunstância não passou de acidental, por vezes toma um caráter de permanência, quando o Espírito é mau, porque para ele o indivíduo se torna verdadeira vítima, à qual ele pode dar a aparência de verdadeira loucura. Dizemos aparência, porque a loucura propriamente dita sempre resulta de uma alteração dos órgãos cerebrais, ao passo que neste caso os órgãos estão tão intactos quanto os do jovem de quem acabamos de falar. Não há, pois, loucura real, mas aparente, contra a qual os remédios da terapêutica são impotentes, como o prova a experiência. Além do mais, eles podem produzir o que não existe. As casas de alienados contam com muitos doentes de tal gênero, para os quais o contato com outros alienados só poderá ser muito prejudicial, porque esse estado denota sempre uma certa fraqueza moral. Ao lado de todas as variedades de loucura patológica, convém, pois, acrescentar a loucura obsessiva, que requer meios especiais. Mas como poderá um médico materialista estabelecer essa diferença, ou mesmo admitila?
Bravo! irão exclamar os nossos adversários. Não se pode demonstrar melhor os perigos do Espiritismo, e nós temos razão em proibi-lo.
Um instante! O que dissemos prova precisamente a sua utilidade.
Credes que os maus Espíritos que pululam entre os seres humanos esperaram ser chamados a fim de exercerem sua influência perniciosa? Como os Espíritos existiram desde o início dos tempos, também desde o início dos tempos representaram o mesmo papel, pois esse papel está em sua natureza. Prova disso está na existência de grande número de pessoas obsedadas, ou possessas, se quiserdes, antes que se cogitasse de Espíritos, ou que, em nossos dias, jamais ouviram falar de Espiritismo e de médiuns. A ação dos Espíritos, bons ou maus, é, pois, espontânea. A dos maus produz uma porção de perturbações na economia moral e mesmo física que, por ignorância da verdadeira causa, são atribuídas a causas errôneas. Os maus Espíritos são inimigos invisíveis, tanto mais perigosos quanto menos se suspeita de sua ação. Pondo-os a descoberto, o Espiritismo vem revelar uma nova causa de certos males da Humanidade. Conhecida a causa, não se buscará mais combater o mal por meios que, sabemos agora, são inúteis, mas procurar-se-ão outros mais eficazes.
Ora, quem levou à descoberta dessa causa? A mediunidade. Foi pela mediunidade que esses inimigos ocultos traíram sua presença. Ela fez para eles o que fez o microscópio para os infinitamente pequenos: revelou todo um mundo.
O Espiritismo não atraiu os maus Espíritos. Ele descobriu-os e forneceu os meios de lhes paralisar a ação e, consequentemente, de afastá-los. Ele não trouxe o mal, pois este sempre existiu. Ao contrário, trouxe o remédio ao mal, mostrando-lhe as causas.
Uma vez reconhecida a ação do mundo invisível, ter-se-á a chave de uma porção de fenômenos incompreendidos e a Ciência, enriquecida com essa nova lei, verá novos horizontes se abrirem à sua frente. Quando lá chegará? Quando não mais professar o materialismo, pois este detém seu avanço e lhe interpõe uma barreira intransponível.
Antes de falar do remédio, expliquemos um fato que embaraça muitos espíritas, sobretudo nos casos de obsessão simples, isto é, naqueles muito frequentes, em que o médium não se pode desvencilhar de um mau Espírito que por ele se manifesta obstinadamente, pela escrita ou pela audição, e naquele, não menos frequente, em que, no meio de uma boa comunicação, vem um Espírito imiscuir-se para dizer coisas más. Pergunta-se, então, se os maus Espíritos são mais poderosos que os bons.
Reportemo-nos ao que dissemos no início, sobre a maneira como age o Espírito, e figuremos um médium envolvido, penetrado pelo fluido perispiritual de um mau Espírito. Para que o fluido de um bom Espírito possa agir sobre o médium, é necessário que ele penetre esse envoltório, e sabe-se que dificilmente a luz penetra um nevoeiro espesso. Conforme o grau da obsessão, o nevoeiro será permanente, tenaz ou intermitente e, consequentemente, mais fácil ou menos fácil de dissipar.
Nosso correspondente em Parma, Sr. Superchi, enviou-nos dois desenhos feitos por um vidente, representando perfeitamente essa situação. Num deles vê-se a mão do médium envolta numa nuvem escura, imagem do fluido perispiritual dos maus Espíritos, atravessada por um raio luminoso que vai clarear a mão. É o bom fluido que a dirige e se opõe à ação do mau. No outro, a mão está na sombra, e a luz está em volta do nevoeiro, que ela não pode penetrar. Aquilo que o desenho limita à mão, deve entender-se em relação ao corpo inteiro do médium.
Resta ainda a questão de saber se o bom Espírito é menos
poderoso que o mau. Não é o bom Espírito que é mais fraco. É o médium que não é bastante forte para livrar-se do manto que sobre si foi lançado; para se desembaraçar dos braços que o apertam, com o que ─ é bom dizer ─ por vezes ele se compraz. Nesse caso, compreende-se que o bom Espírito não possa dominar, pois o outro é preferido.
Admitamos, agora, o desejo de se desembaraçar desse envoltório fluídico de que o seu se acha penetrado, como de uma vestimenta impregnada pela umidade. Não bastará o desejo e nem mesmo a vontade é sempre suficiente. Trata-se de lutar contra um adversário. Ora, quando dois homens lutam corpo a corpo, é o de músculos mais fortes que vencerá o outro. Com um Espírito não se luta corpo a corpo, mas de Espírito a Espírito. É ainda o mais forte que será o vencedor. Aqui, a força está na autoridade que se pode exercer sobre o Espírito e tal autoridade está subordinada à superioridade moral.
A superioridade moral é como o sol, que dissipa o nevoeiro pela força de seus raios. Esforçar-se para ser bom; para tornar-se melhor se já se é bom; purificar-se de suas imperfeições; numa palavra, elevar-se moralmente o mais possível, tal é o meio de adquirir o poder de comandar os Espíritos inferiores, para afastá-los. Do contrário, eles zombarão de vossas injunções. (O Livro dos Médiuns, nº. 252 e 279).
Talvez perguntem por que os Espíritos protetores não lhes forçam a retirada. Sem dúvida o podem, e por vezes o fazem. Mas, permitindo a luta, também deixam o mérito da vitória. Se eles deixam pessoas com algum tipo de mérito se debaterem, é para pôr em prova sua perseverança e fazer com que adquiram mais força no bem. É para elas uma espécie de ginástica moral.
Eis a resposta que demos ao Sr. P..., coronel do estado-maior do exército austríaco, que nos consultava sobre uma afecção que ele atribuía aos maus Espíritos, desculpando-se por nos chamar de amigo, posto só nos conhecesse de nome:
“O Espiritismo é o laço fraterno por excelência, e tendes razão de pensar que os que partilham essa crença, mesmo sem se conhecerem, devam tratar-se como amigos. Agradeço-vos por terdes tido de mim uma boa opinião e me dardes esse título.
“Sinto-me feliz por encontrar em vós um adepto sincero e devotado a esta consoladora doutrina. Mas, pelo próprio fato de ser consoladora, ela deve dar força moral e resignação para suportar as provas da vida que, no mais das vezes, são expiação. Disto a Revista Espírita vos fornece numerosos exemplos.
“No que concerne à moléstia que sofreis, não vejo prova evidente da influência de maus Espíritos que vos obsidiariam. Admitamo-lo, pois, por hipótese. Só haveria uma força moral a opor a outra força moral, e essa não pode vir senão de vós.
“Contra um Espírito é necessário lutar de Espírito a Espírito, e o mais forte vencerá. Em casos semelhantes é preciso esforçar-se por adquirir a maior soma possível de superioridade pela vontade, pela energia e pelas qualidades morais, para ter o direito de lhe dizer: Vade retro! Assim, se estiverdes nesse caso, não será com a espada de coronel que o vencereis, mas com a espada do anjo, isto é, a virtude e a prece.
“A espécie de terror e angústia que experimentais nesses momentos é um sinal de fraqueza, que o Espírito aproveita.
“Dominai o medo, e com a vontade triunfareis. Tomai a iniciativa resolutamente, como o fazeis ante o inimigo, e crede-me vosso muito dedicado e afeiçoado,
“A. K.”
Sem dúvida certas pessoas prefeririam outra receita mais fácil para expulsar os Espíritos: algumas palavras a pronunciar, ou sinais a fazer, por exemplo, o que seria mais cômodo do que corrigir os próprios defeitos. Lamentamos, mas não conhecemos processo mais eficaz para vencer um inimigo do que ser mais forte que ele. Quando estamos doentes, temos que nos resignar a tomar remédios, por mais amargos que sejam. Mas, também, quando se teve a coragem de tomá-los, como a gente se sente bem e como fica forte! Temos que nos persuadir de que, para alcançar tal objetivo, não há palavras sacramentais, nem fórmulas, nem talismãs, nem sinais materiais quaisquer. Os maus Espíritos se riem e, às vezes, gostam de indicar alguns, que dizem infalíveis, para melhor captar a confiança daqueles de quem abusam, porque então esses, confiantes na virtude do processo, entregam-se sem medo.
Antes de esperar dominar o mau Espírito, é preciso dominar-se a si mesmo. De todos os meios para adquirir a força de consegui-lo, o mais eficaz é a vontade secundada pela prece, a prece de coração, entenda-se, e não de palavras, na qual a boca participa mais que o pensamento. É necessário pedir a seu anjo de guarda e aos bons Espíritos que nos assistam na luta. Mas não basta lhes pedir que expulsem o mau Espírito. É necessário lembrar-se da máxima: Ajuda-te, e o Céu te ajudará; e lhes pedir, sobretudo, a força que nos falta para vencer nossas más inclinações, que para nós são piores que os maus Espíritos, pois são essas inclinações que os atraem, como a podridão atrai as aves de rapina. Orar pelo Espírito obsessor é retribuir-lhe o mal com o bem, e mostrar-se melhor que ele, o que já é uma demonstração de superioridade. Com a perseverança, a gente acaba, na maioria dos casos, por conduzi-lo a melhores sentimentos, transformando o obsessor em reconhecido.
Em resumo, a prece fervorosa e os esforços sérios por se melhorar são os únicos meios de afastar os maus Espíritos, que reconhecem seus mestres naqueles que praticam o bem, ao passo que as fórmulas lhes provocam o riso. A cólera e a impaciência os excitam. É preciso cansá-los, mostrando-se mais pacientes do que eles.
Por vezes, entretanto, acontece que a subjugação atinge o ponto de paralisar a vontade do obsedado, e que deste não se pode esperar nenhum concurso valioso. É sobretudo então que a intervenção de terceiros se torna necessária, quer pela prece, quer pela ação magnética. Mas o poder dessa intervenção também depende do ascendente moral que o interventor possa ter sobre os Espíritos, porque, se não valerem mais, sua ação será estéril.
Nesse caso, a ação magnética terá por efeito penetrar o fluido do obsedado por um fluido melhor, e desprender o fluido do Espírito mau. Ao operar, deve o magnetizador ter o duplo objetivo de opor uma força moral a outra força moral e produzir sobre o paciente uma espécie de reação química, para usar uma comparação material, substituindo um fluido por outro fluido. Assim, ele não só opera um desprendimento salutar, mas fortalece os órgãos enfraquecidos por uma longa e por vezes vigorosa dominação.
Aliás, compreende-se que o poder da ação fluídica não só está na razão da força de vontade, mas, sobretudo, da qualidade do fluido introduzido e, conforme dissemos, tal qualidade depende da instrução e das qualidades morais do magnetizador. Daí se segue que um magnetizador comum, que agisse maquinalmente para magnetizar pura e simplesmente, produziria pouco ou nenhum efeito. É de toda necessidade um magnetizador espírita que atue com conhecimento de causa, com a intenção de produzir, não o sonambulismo ou a cura orgânica, mas os efeitos que acabamos de descrever. Além disso, é evidente que uma ação magnética dirigida nesse sentido não deixa de ser útil nos casos de obsessão ordinária, porque então, se o magnetizador for secundado pela vontade do obsedado, o Espírito será combatido por dois adversários, em vez de um.
É preciso dizer ainda que a gente muitas vezes responsabiliza os Espíritos estranhos por maldades pelas quais eles não são responsáveis.
Certos estados mórbidos e certas aberrações que são atribuídas a uma causa oculta, são, por vezes, devidos exclusivamente ao Espírito do indivíduo. As contrariedades frequentemente concentradas em si próprio, os sofrimentos amorosos, principalmente, têm levado ao cometimento de muitos atos excêntricos, que erradamente são levados à conta de obsessão. Muitas vezes a criatura é seu próprio obsessor.
Acrescentemos, finalmente, que certas obsessões tenazes, sobretudo de pessoas de mérito, por vezes fazem parte das provas a que se acham submetidas. “Por vezes, mesmo, acontece que a obsessão, quando simples, é uma tarefa imposta ao obsedado, que deve trabalhar para melhorar o obsessor, como um pai por um filho vicioso.”
Enviamos o leitor, para mais detalhes, a O Livro dos Médiuns.
Resta-nos falar da obsessão coletiva ou epidêmica e, em particular, da de Morzine. Isso, porém, exige considerações de certa amplitude, para mostrar, pelos fatos, sua similitude com as obsessões individuais. A prova disto encontraremos em nossas próprias observações e nas que são descritas nos relatórios dos médicos.
Além disso, resta-nos examinar o efeito dos meios empregados, e depois, a ação do exorcismo e as condições nas quais ele pode ser eficaz ou nulo.
A extensão dessa segunda parte obriga-nos a transformá-la em tema de um artigo especial, no próximo número.
Para tanto, faz-se mister remontar à fonte do mesmo fenômeno e seguir-lhe a gradação, desde os casos mais simples, e ao mesmo tempo explicar como ele se processa. Daí deduziremos muito melhor o meio de combater o mal. Posto que já tenhamos tratado do assunto no Livro dos Médiuns, no capítulo da obsessão, e em diversos artigos desta Revista, aduziremos algumas considerações novas, que tornarão a coisa mais fácil de entender.
O primeiro ponto acerca do qual é importante compenetrar-se é o da natureza dos Espíritos, do ponto de vista moral. Não sendo os Espíritos senão as almas dos homens, e não sendo bons todos os homens, não é racional admitir-se que o Espírito de um perverso de súbito se transforme. Do contrário seria desnecessário o castigo na vida futura. A experiência confirma essa teoria, ou melhor, a teoria é fruto da experiência. Com efeito, mostram-nos as relações com o mundo invisível, ao lado de Espíritos sublimes de sabedoria e de conhecimento, outros ignóbeis, ainda com todos os vícios e paixões da Humanidade.
Após a morte, a alma de um homem de bem será um bom Espírito, da mesma forma que um bom Espírito, encarnando-se, será um homem de bem. Pela mesma razão, ao morrer, um homem perverso dará um Espírito perverso ao mundo invisível, e um Espírito perverso, encarnando-se, não poderá ser um homem virtuoso, e isso até que o Espírito não se tenha depurado ou experimentado o desejo de se melhorar, porque, a partir do momento em que entrou no caminho do progresso, pouco a pouco ele se despoja de seus maus instintos e gradativamente se eleva na hierarquia dos Espíritos, até atingir a perfeição acessível a todos, pois Deus não pode ter criado seres eternamente votados ao mal e à infelicidade.
Assim, os mundos visível e invisível se penetram alternadamente e incessantemente um no outro, se assim podemos dizer, e alimentam-se mutuamente, ou, melhor dizendo, esses dois mundos na realidade constituem um só, em dois estados diferentes. Essa consideração é muito importante para melhor compreenderse a solidariedade que existe entre eles.
Sendo a Terra um mundo inferior, isto é, pouco adiantado, resulta que a imensa maioria dos Espíritos que a povoam, tanto no estado errante quanto encarnados, deve compor-se de Espíritos imperfeitos, que fazem mais mal que bem. Daí a predominância do mal na Terra. Ora, sendo a Terra, ao mesmo tempo, um mundo de expiação, é o contato do mal que torna os homens infelizes, pois se todos os homens fossem bons, todos seriam felizes. É um estado ainda não alcançado por nosso globo, e é para tal estado que Deus quer conduzi-lo. Todas as tribulações aqui experimentadas pelos homens de bem, quer da parte dos homens, quer da dos Espíritos, são a consequência desse estado de inferioridade. Poder-se-ia dizer que a Terra é a Botany-Bay dos mundos. Aí se encontram a selvageria primitiva e a civilização, a criminalidade e a expiação.
É, pois, necessário imaginar-se o mundo invisível como formando uma população incontável, compacta, por assim dizer, que envolve a Terra e se agita no espaço. É uma espécie de atmosfera moral, da qual os Espíritos encarnados ocupam a parte inferior, onde se agitam como num vaso. Ora, assim como o ar das partes baixas é pesado e malsão, esse ar moral é também malsão, porque corrompido pelas emanações dos Espíritos impuros. Para resistir a isso são necessários temperamentos morais dotados de grande vigor.
Digamos, entre parênteses, que tal estado de coisas é inerente aos mundos inferiores, mas que esses mundos seguem a lei do progresso e, atingindo a idade precisa, Deus os saneia, deles expulsando os Espíritos imperfeitos, que não mais aí se reencarnam e são substituídos por outros mais adiantados, que farão reinar a felicidade, a justiça e a paz. É uma revolução desse gênero que no momento se prepara.
Examinemos, agora, o modo de ação recíproca dos encarnados e desencarnados.
Sabemos que os Espíritos são revestidos de um envoltório vaporoso, que lhes forma um verdadeiro corpo fluídico, ao qual damos o nome de perispírito, e cujos elementos são tirados do fluido universal ou cósmico, princípio de todas as coisas.
Quando o Espírito se une a um corpo, aí vive com seu perispírito, que serve de ligação entre o Espírito, propriamente dito, e a matéria corpórea. Ele é o intermediário das sensações percebidas pelo Espírito. Mas esse perispírito não é confinado no corpo, como numa caixa. Por sua natureza fluídica, ele irradia exteriormente e forma em torno do corpo uma espécie de atmosfera, como o vapor que dele se desprende. Mas o vapor que se desprende de um corpo malsão é igualmente malsão, acre e nauseabundo, o que infecta o ar dos lugares onde se reúnem muitas pessoas perversas. Assim como esse vapor é impregnado das qualidades do corpo, o perispírito é impregnado das qualidades, ou seja, do pensamento do Espírito, e irradia tais qualidades em torno do corpo.
Agora outro parêntese para responder de imediato a uma objeção oposta por alguns à teoria que o Espiritismo dá sobre o estado da alma. Acusam-no de materializar a alma, ao passo que, segundo a religião, a alma é puramente imaterial. Como a maior parte das outras, essa objeção provém de um estudo incompleto e superficial. Jamais o Espiritismo definiu a natureza da alma, que escapa às nossas investigações. Ele não diz que o perispírito constitui a alma. O vocábulo perispírito significa positivamente o contrário, pois especifica um envoltório em torno do espírito.
O que diz a respeito O Livro dos Espíritos? “Há no homem três coisas: a alma, ou espírito, princípio inteligente; o corpo, envoltório material; o perispírito, envoltório fluídico semimaterial, que serve de laço entre o espírito e o Corpo”. Do fato que, com a morte do corpo, a alma conserva o envoltório fluídico, não se pode deduzir que tal envoltório e a alma sejam uma só e mesma coisa, da mesma forma que não são uma só e a mesma coisa o corpo e a roupa ou a alma e o corpo.
A Doutrina Espírita nada tira à imaterialidade da alma. Ela apenas lhe dá dois envoltórios, em vez de um, durante a vida corpórea, e só um após a morte do corpo, o que é, não uma hipótese, mas um resultado da observação, e é com o auxílio desse envoltório que melhor se compreende a sua individualidade e melhor se explica a sua ação sobre a matéria.
Voltemos ao nosso assunto.
O perispírito, por sua natureza fluídica, é essencialmente móvel, elástico, se assim se pode dizer. Como agente direto do Espírito, ele é posto em ação e projeta raios, pela vontade do Espírito. Por esses raios ele serve à transmissão do pensamento, porque, de certa forma, está animado pelo pensamento do Espírito.
Sendo o perispírito o laço que une o Espírito ao corpo, é por seu intermédio que o Espírito transmite aos órgãos, não a vida vegetativa, mas os movimentos que exprimem a sua vontade. É também por seu intermédio que as sensações do corpo são transmitidas ao Espírito. Destruído o corpo sólido pela morte, o Espírito não age mais e não percebe mais senão por seu corpo fluídico, ou perispírito. Por isso age mais facilmente e percebe melhor, considerando-se que o corpo é um entrave. Tudo isso é resultado da observação.
Suponhamos agora duas pessoas próximas uma da outra, cada qual envolvida por sua atmosfera perispiritual, ─ permitam-nos o neologismo. Esses dois fluidos põem-se em contato e se penetram um no outro. Se eles forem de natureza antipática, repelem-se, e os dois indivíduos sentirão uma espécie de mal-estar ao se aproximarem um do outro, sem se darem conta disso. Se, ao contrário, forem movidos por um sentimento bom e benevolente, carregarão consigo um pensamento benevolente que atrai. É por isso que duas pessoas se compreendem e se adivinham sem se falarem. Um certo não sei quê por vezes diz que a pessoa que temos diante de nós deve estar animada por tal ou qual sentimento. Ora, esse não sei quê é a expansão do fluido perispiritual da pessoa em contato com o nosso, espécie de fio elétrico condutor do pensamento. A partir daí compreende-se que os Espíritos, cujo envoltório fluídico é muito mais livre do que no estado de encarnação, não necessitam de sons articulados para se entenderem.
O fluido perispiritual do encarnado é, pois, acionado pelo Espírito. Se, por sua vontade, o Espírito, por assim dizer, dardeja raios sobre outro indivíduo, os raios o penetram. Daí a ação magnética mais ou menos poderosa, conforme a vontade; mais ou menos benfazeja, conforme sejam esses raios de natureza melhor ou pior, mais ou menos vivificante, porque eles podem, por sua ação, penetrar os órgãos e, em certos casos, restabelecer o estado normal. Sabe-se qual é a influência das qualidades morais do magnetizador.
Aquilo que pode fazer um Espírito encarnado, dardejando seu próprio fluido sobre uma pessoa, pode igualmente fazê-lo um desencarnado, porque ele tem o mesmo fluido. Assim, ele pode magnetizar e, de acordo com sua natureza boa ou má, sua ação será benéfica ou malfazeja.
Assim, facilmente nos damos conta da natureza das impressões que recebemos, conforme o meio onde nos encontramos. Se uma reunião for composta de pessoas animadas por maus sentimentos, elas enchem o ar ambiente com fluido impregnado de seus pensamentos. Daí, para as almas boas, um mal-estar moral análogo ao malestar físico causado pelas exalações mefíticas: a alma fica asfixiada. Se, ao contrário, as pessoas tiverem intenções puras, encontramo-nos em sua atmosfera como se num ar vivificante e salubre. Naturalmente, o efeito será o mesmo num ambiente cheio de Espíritos, conforme sejam bons ou maus.
Isso bem compreendido, chegamos sem dificuldade à ação material dos Espíritos errantes sobre os Espíritos encarnados, e daí, à explicação da mediunidade.
Se um Espírito quer agir sobre uma pessoa, dela se aproxima e envolve-a, por assim dizer, com o seu perispírito, como se fosse um manto. Os fluidos se penetram; os dois pensamentos e as duas vontades se confundem, e então o Espírito pode servir-se daquele corpo como se fora o seu próprio; fazê-lo agir à sua vontade, falar, escrever, desenhar, etc. Esses são os médiuns. Se o Espírito for bom, sua ação será suave e benéfica, e ele só provocará boas coisas; se for mau, provocará maldades; se for perverso e maldoso, ele o constrange como numa armadilha; paralisa até mesmo a vontade e a razão, que abafa sob seus fluidos, assim como se apaga o fogo sob um lençol d’água; incita-o a pensar, falar e agir por ele, conduzindo-o, contra sua vontade, a atos extravagantes ou ridículos. Numa palavra, ele magnetiza o indivíduo e o leva a uma espécie de catalepsia moral, transformando-o em instrumento cego de sua vontade. Tal é a causa da obsessão, da fascinação e da subjugação, que se mostram em diversos graus de intensidade.
É ao paroxismo da subjugação que geralmente se dá o nome de possessão. Deve notar-se que, nesse estado, muitas vezes o indivíduo tem consciência do ridículo daquilo que faz, mas é constrangido a fazê-lo, como se um homem mais vigoroso que ele o constrangesse, contra sua vontade, a mover os braços, as pernas, a língua.
Eis um curioso exemplo.
Numa pequena reunião em Bordeaux, em meio a uma evocação, o médium, um jovem de caráter suave e perfeita urbanidade, de repente começa a bater na mesa, levanta-se com olhar ameaçador, mostrando os punhos aos assistentes, proferindo pesadas injúrias e querendo atirar-lhes um tinteiro. A cena, tanto mais chocante quanto inesperada, durou aproximadamente dez minutos, depois do que o moço retomou a calma habitual e desculpou-se do que se havia passado, dizendo que sabia muito bem o que havia dito e feito, mas que não pudera impedir.
Quando tomamos conhecimento do fato, pedimos explicação numa sessão da Sociedade de Paris. Foi-nos respondido que o Espírito que o havia provocado era mais farsista do que mau, e que simplesmente queria divertir-se com o pavor dos assistentes. O que prova a veracidade da explicação é que o fato não se repetiu, e que o médium continuou a receber excelentes comunicações, como antes.
É importante esclarecer o que provavelmente excitou a verve daquele Espírito brincalhão. Um antigo dirigente da orquestra do teatro de Bordeaux, o Sr. Beck, tinha experimentado, durante vários anos antes de morrer, um fenômeno singular. Todas as noites, ao sair do teatro, parecia-lhe que um homem lhe saltava às costas, cavalgando às suas espáduas, até chegar à porta da casa. Aí o suposto indivíduo descia e o Sr. Beck se achava livre.
Nessa reunião, quiseram evocar o Sr. Beck e pedir-lhe uma explicação. Foi então que o Espírito farsista houve por bem substituí-lo e fazer o médium representar uma cena diabólica, pois nele encontrou, sem dúvida, as necessárias disposições fluídicas para secundá-lo.
Aquilo que nesta circunstância não passou de acidental, por vezes toma um caráter de permanência, quando o Espírito é mau, porque para ele o indivíduo se torna verdadeira vítima, à qual ele pode dar a aparência de verdadeira loucura. Dizemos aparência, porque a loucura propriamente dita sempre resulta de uma alteração dos órgãos cerebrais, ao passo que neste caso os órgãos estão tão intactos quanto os do jovem de quem acabamos de falar. Não há, pois, loucura real, mas aparente, contra a qual os remédios da terapêutica são impotentes, como o prova a experiência. Além do mais, eles podem produzir o que não existe. As casas de alienados contam com muitos doentes de tal gênero, para os quais o contato com outros alienados só poderá ser muito prejudicial, porque esse estado denota sempre uma certa fraqueza moral. Ao lado de todas as variedades de loucura patológica, convém, pois, acrescentar a loucura obsessiva, que requer meios especiais. Mas como poderá um médico materialista estabelecer essa diferença, ou mesmo admitila?
Bravo! irão exclamar os nossos adversários. Não se pode demonstrar melhor os perigos do Espiritismo, e nós temos razão em proibi-lo.
Um instante! O que dissemos prova precisamente a sua utilidade.
Credes que os maus Espíritos que pululam entre os seres humanos esperaram ser chamados a fim de exercerem sua influência perniciosa? Como os Espíritos existiram desde o início dos tempos, também desde o início dos tempos representaram o mesmo papel, pois esse papel está em sua natureza. Prova disso está na existência de grande número de pessoas obsedadas, ou possessas, se quiserdes, antes que se cogitasse de Espíritos, ou que, em nossos dias, jamais ouviram falar de Espiritismo e de médiuns. A ação dos Espíritos, bons ou maus, é, pois, espontânea. A dos maus produz uma porção de perturbações na economia moral e mesmo física que, por ignorância da verdadeira causa, são atribuídas a causas errôneas. Os maus Espíritos são inimigos invisíveis, tanto mais perigosos quanto menos se suspeita de sua ação. Pondo-os a descoberto, o Espiritismo vem revelar uma nova causa de certos males da Humanidade. Conhecida a causa, não se buscará mais combater o mal por meios que, sabemos agora, são inúteis, mas procurar-se-ão outros mais eficazes.
Ora, quem levou à descoberta dessa causa? A mediunidade. Foi pela mediunidade que esses inimigos ocultos traíram sua presença. Ela fez para eles o que fez o microscópio para os infinitamente pequenos: revelou todo um mundo.
O Espiritismo não atraiu os maus Espíritos. Ele descobriu-os e forneceu os meios de lhes paralisar a ação e, consequentemente, de afastá-los. Ele não trouxe o mal, pois este sempre existiu. Ao contrário, trouxe o remédio ao mal, mostrando-lhe as causas.
Uma vez reconhecida a ação do mundo invisível, ter-se-á a chave de uma porção de fenômenos incompreendidos e a Ciência, enriquecida com essa nova lei, verá novos horizontes se abrirem à sua frente. Quando lá chegará? Quando não mais professar o materialismo, pois este detém seu avanço e lhe interpõe uma barreira intransponível.
Antes de falar do remédio, expliquemos um fato que embaraça muitos espíritas, sobretudo nos casos de obsessão simples, isto é, naqueles muito frequentes, em que o médium não se pode desvencilhar de um mau Espírito que por ele se manifesta obstinadamente, pela escrita ou pela audição, e naquele, não menos frequente, em que, no meio de uma boa comunicação, vem um Espírito imiscuir-se para dizer coisas más. Pergunta-se, então, se os maus Espíritos são mais poderosos que os bons.
Reportemo-nos ao que dissemos no início, sobre a maneira como age o Espírito, e figuremos um médium envolvido, penetrado pelo fluido perispiritual de um mau Espírito. Para que o fluido de um bom Espírito possa agir sobre o médium, é necessário que ele penetre esse envoltório, e sabe-se que dificilmente a luz penetra um nevoeiro espesso. Conforme o grau da obsessão, o nevoeiro será permanente, tenaz ou intermitente e, consequentemente, mais fácil ou menos fácil de dissipar.
Nosso correspondente em Parma, Sr. Superchi, enviou-nos dois desenhos feitos por um vidente, representando perfeitamente essa situação. Num deles vê-se a mão do médium envolta numa nuvem escura, imagem do fluido perispiritual dos maus Espíritos, atravessada por um raio luminoso que vai clarear a mão. É o bom fluido que a dirige e se opõe à ação do mau. No outro, a mão está na sombra, e a luz está em volta do nevoeiro, que ela não pode penetrar. Aquilo que o desenho limita à mão, deve entender-se em relação ao corpo inteiro do médium.
Resta ainda a questão de saber se o bom Espírito é menos
poderoso que o mau. Não é o bom Espírito que é mais fraco. É o médium que não é bastante forte para livrar-se do manto que sobre si foi lançado; para se desembaraçar dos braços que o apertam, com o que ─ é bom dizer ─ por vezes ele se compraz. Nesse caso, compreende-se que o bom Espírito não possa dominar, pois o outro é preferido.
Admitamos, agora, o desejo de se desembaraçar desse envoltório fluídico de que o seu se acha penetrado, como de uma vestimenta impregnada pela umidade. Não bastará o desejo e nem mesmo a vontade é sempre suficiente. Trata-se de lutar contra um adversário. Ora, quando dois homens lutam corpo a corpo, é o de músculos mais fortes que vencerá o outro. Com um Espírito não se luta corpo a corpo, mas de Espírito a Espírito. É ainda o mais forte que será o vencedor. Aqui, a força está na autoridade que se pode exercer sobre o Espírito e tal autoridade está subordinada à superioridade moral.
A superioridade moral é como o sol, que dissipa o nevoeiro pela força de seus raios. Esforçar-se para ser bom; para tornar-se melhor se já se é bom; purificar-se de suas imperfeições; numa palavra, elevar-se moralmente o mais possível, tal é o meio de adquirir o poder de comandar os Espíritos inferiores, para afastá-los. Do contrário, eles zombarão de vossas injunções. (O Livro dos Médiuns, nº. 252 e 279).
Talvez perguntem por que os Espíritos protetores não lhes forçam a retirada. Sem dúvida o podem, e por vezes o fazem. Mas, permitindo a luta, também deixam o mérito da vitória. Se eles deixam pessoas com algum tipo de mérito se debaterem, é para pôr em prova sua perseverança e fazer com que adquiram mais força no bem. É para elas uma espécie de ginástica moral.
Eis a resposta que demos ao Sr. P..., coronel do estado-maior do exército austríaco, que nos consultava sobre uma afecção que ele atribuía aos maus Espíritos, desculpando-se por nos chamar de amigo, posto só nos conhecesse de nome:
“O Espiritismo é o laço fraterno por excelência, e tendes razão de pensar que os que partilham essa crença, mesmo sem se conhecerem, devam tratar-se como amigos. Agradeço-vos por terdes tido de mim uma boa opinião e me dardes esse título.
“Sinto-me feliz por encontrar em vós um adepto sincero e devotado a esta consoladora doutrina. Mas, pelo próprio fato de ser consoladora, ela deve dar força moral e resignação para suportar as provas da vida que, no mais das vezes, são expiação. Disto a Revista Espírita vos fornece numerosos exemplos.
“No que concerne à moléstia que sofreis, não vejo prova evidente da influência de maus Espíritos que vos obsidiariam. Admitamo-lo, pois, por hipótese. Só haveria uma força moral a opor a outra força moral, e essa não pode vir senão de vós.
“Contra um Espírito é necessário lutar de Espírito a Espírito, e o mais forte vencerá. Em casos semelhantes é preciso esforçar-se por adquirir a maior soma possível de superioridade pela vontade, pela energia e pelas qualidades morais, para ter o direito de lhe dizer: Vade retro! Assim, se estiverdes nesse caso, não será com a espada de coronel que o vencereis, mas com a espada do anjo, isto é, a virtude e a prece.
“A espécie de terror e angústia que experimentais nesses momentos é um sinal de fraqueza, que o Espírito aproveita.
“Dominai o medo, e com a vontade triunfareis. Tomai a iniciativa resolutamente, como o fazeis ante o inimigo, e crede-me vosso muito dedicado e afeiçoado,
“A. K.”
Sem dúvida certas pessoas prefeririam outra receita mais fácil para expulsar os Espíritos: algumas palavras a pronunciar, ou sinais a fazer, por exemplo, o que seria mais cômodo do que corrigir os próprios defeitos. Lamentamos, mas não conhecemos processo mais eficaz para vencer um inimigo do que ser mais forte que ele. Quando estamos doentes, temos que nos resignar a tomar remédios, por mais amargos que sejam. Mas, também, quando se teve a coragem de tomá-los, como a gente se sente bem e como fica forte! Temos que nos persuadir de que, para alcançar tal objetivo, não há palavras sacramentais, nem fórmulas, nem talismãs, nem sinais materiais quaisquer. Os maus Espíritos se riem e, às vezes, gostam de indicar alguns, que dizem infalíveis, para melhor captar a confiança daqueles de quem abusam, porque então esses, confiantes na virtude do processo, entregam-se sem medo.
Antes de esperar dominar o mau Espírito, é preciso dominar-se a si mesmo. De todos os meios para adquirir a força de consegui-lo, o mais eficaz é a vontade secundada pela prece, a prece de coração, entenda-se, e não de palavras, na qual a boca participa mais que o pensamento. É necessário pedir a seu anjo de guarda e aos bons Espíritos que nos assistam na luta. Mas não basta lhes pedir que expulsem o mau Espírito. É necessário lembrar-se da máxima: Ajuda-te, e o Céu te ajudará; e lhes pedir, sobretudo, a força que nos falta para vencer nossas más inclinações, que para nós são piores que os maus Espíritos, pois são essas inclinações que os atraem, como a podridão atrai as aves de rapina. Orar pelo Espírito obsessor é retribuir-lhe o mal com o bem, e mostrar-se melhor que ele, o que já é uma demonstração de superioridade. Com a perseverança, a gente acaba, na maioria dos casos, por conduzi-lo a melhores sentimentos, transformando o obsessor em reconhecido.
Em resumo, a prece fervorosa e os esforços sérios por se melhorar são os únicos meios de afastar os maus Espíritos, que reconhecem seus mestres naqueles que praticam o bem, ao passo que as fórmulas lhes provocam o riso. A cólera e a impaciência os excitam. É preciso cansá-los, mostrando-se mais pacientes do que eles.
Por vezes, entretanto, acontece que a subjugação atinge o ponto de paralisar a vontade do obsedado, e que deste não se pode esperar nenhum concurso valioso. É sobretudo então que a intervenção de terceiros se torna necessária, quer pela prece, quer pela ação magnética. Mas o poder dessa intervenção também depende do ascendente moral que o interventor possa ter sobre os Espíritos, porque, se não valerem mais, sua ação será estéril.
Nesse caso, a ação magnética terá por efeito penetrar o fluido do obsedado por um fluido melhor, e desprender o fluido do Espírito mau. Ao operar, deve o magnetizador ter o duplo objetivo de opor uma força moral a outra força moral e produzir sobre o paciente uma espécie de reação química, para usar uma comparação material, substituindo um fluido por outro fluido. Assim, ele não só opera um desprendimento salutar, mas fortalece os órgãos enfraquecidos por uma longa e por vezes vigorosa dominação.
Aliás, compreende-se que o poder da ação fluídica não só está na razão da força de vontade, mas, sobretudo, da qualidade do fluido introduzido e, conforme dissemos, tal qualidade depende da instrução e das qualidades morais do magnetizador. Daí se segue que um magnetizador comum, que agisse maquinalmente para magnetizar pura e simplesmente, produziria pouco ou nenhum efeito. É de toda necessidade um magnetizador espírita que atue com conhecimento de causa, com a intenção de produzir, não o sonambulismo ou a cura orgânica, mas os efeitos que acabamos de descrever. Além disso, é evidente que uma ação magnética dirigida nesse sentido não deixa de ser útil nos casos de obsessão ordinária, porque então, se o magnetizador for secundado pela vontade do obsedado, o Espírito será combatido por dois adversários, em vez de um.
É preciso dizer ainda que a gente muitas vezes responsabiliza os Espíritos estranhos por maldades pelas quais eles não são responsáveis.
Certos estados mórbidos e certas aberrações que são atribuídas a uma causa oculta, são, por vezes, devidos exclusivamente ao Espírito do indivíduo. As contrariedades frequentemente concentradas em si próprio, os sofrimentos amorosos, principalmente, têm levado ao cometimento de muitos atos excêntricos, que erradamente são levados à conta de obsessão. Muitas vezes a criatura é seu próprio obsessor.
Acrescentemos, finalmente, que certas obsessões tenazes, sobretudo de pessoas de mérito, por vezes fazem parte das provas a que se acham submetidas. “Por vezes, mesmo, acontece que a obsessão, quando simples, é uma tarefa imposta ao obsedado, que deve trabalhar para melhorar o obsessor, como um pai por um filho vicioso.”
Enviamos o leitor, para mais detalhes, a O Livro dos Médiuns.
Resta-nos falar da obsessão coletiva ou epidêmica e, em particular, da de Morzine. Isso, porém, exige considerações de certa amplitude, para mostrar, pelos fatos, sua similitude com as obsessões individuais. A prova disto encontraremos em nossas próprias observações e nas que são descritas nos relatórios dos médicos.
Além disso, resta-nos examinar o efeito dos meios empregados, e depois, a ação do exorcismo e as condições nas quais ele pode ser eficaz ou nulo.
A extensão dessa segunda parte obriga-nos a transformá-la em tema de um artigo especial, no próximo número.
O Espiritismo em Rochefort
Espisódio da vida viagem do Sr. Allan Kardec
Rochefort não é ainda um foco de Espiritismo, posto tenha alguns adeptos fervorosos e numerosos simpatizantes das novas ideias. Mas lá, menos que alhures, há coragem de opinião e muitos crentes se mantêm à margem. No dia em que ousarem mostrar-se, ficaremos muito surpreendidos ao vê-los tão numerosos. Como apenas íamos ver algumas pessoas isoladas, esperávamos demorar apenas algumas horas. Mas, um passageiro que se achava no mesmo carro nos reconheceu por um retrato que vira em Marennes, e preveniu os amigos da nossa chegada. Então recebemos um convite insistente e dos mais delicados, da parte de vários espíritas que nos desejavam conhecer e receber instruções. Nossa partida foi adiada para o dia seguinte e tivemos a satisfação de passar a noite numa reunião de espíritas sinceros e dedicados.
Durante a reunião recebemos outro convite, em termos não menos impositivos, da parte de um alto funcionário e de várias notabilidades da cidade, exprimindo o desejo de uma reunião na noite seguinte, o que determinou novo adiamento de nossa partida. Não teríamos mencionado tais detalhes se não fossem necessários à explicação que nos julgamos obrigados a dar a seguir, em relação a um jornal da localidade.
Nessa última reunião fizemos, ao início da sessão, a seguinte alocução:
“Senhores,
“Posto não tivesse a intenção de passar senão algumas horas em Rochefort, o desejo por vós manifestado para esta reunião me era muito lisonjeiro, sobretudo pela maneira que o convite foi feito, para que dele declinasse.
“Ignoro se todas as pessoas que me honram com sua presença nesta reunião são iniciadas na ciência espírita. Suponho que muitos são ainda noviços na matéria, e poderia, até, encontrar alguns que lhe são hostis.
“Ora, por força da falsa ideia que fazem do Espiritismo aqueles que o desconhecem, ou só o conhecem imperfeitamente, o resultado desta reunião poderia causar algumas decepções àqueles que não encontrassem aquilo que esperavam. Então, devo explicar claramente o meu objetivo, para que não haja mal-entendidos.
“Antes de mais nada, devo informar quanto ao objetivo que me proponho em minhas excursões. Vou unicamente visitar centros espíritas e lhes dar as instruções de que possam necessitar. Entretanto, seria erro pensar que vou pregar a doutrina aos incrédulos.
“O Espiritismo é toda uma ciência que exige estudos sérios, como as outras ciências, e, ainda, numerosas observações. Para desenvolvê-la seria necessário um curso em regra, e um curso de Espiritismo não poderia ser feito em uma ou duas aulas, como não o poderia um curso de Física ou de Astronomia. Para os que ignoram as primeiras noções, sou obrigado a enviá-los à fonte, isto é, ao estudo das obras onde se acham todos os ensinamentos necessários e a resposta à maioria das perguntas que poderiam fazer e que, no mais das vezes, se referem aos princípios mais elementares. É por isso que, em minhas visitas, só me dirijo aos que já sabem, que não necessitam do ABC, mas de ensino complementar.
“Jamais vou fazer o que se chama sessões, nem convocar o público para assistir experiências ou demonstrações e, menos ainda, fazer exibição de Espíritos. Os que esperassem aqui ver coisa semelhante estariam redondamente enganados e devo apressar-me em lhes tirar a ilusão.
“A reunião desta noite é, pois, excepcional e fora de meus hábitos. Pelos motivos acima expostos, não posso ter a pretensão de convencer àqueles que impugnassem as bases dos meus princípios. Só uma coisa desejo: é que, em falta de convicção, compreendam que o Espiritismo é uma coisa séria e digna de atenção, pois atrai a atenção dos homens mais esclarecidos de todos os países.
“Que não o aceitem cegamente e sem exame, é compreensível. Mas seria presunção tomar posição falsa contra uma opinião que conta com seus mais numerosos partidários na elite da Sociedade.
“As pessoas sensatas dizem: Há tantas coisas novas que nos vêm surpreender e que há um século pareceriam absurdas; diariamente assistimos à descoberta de leis novas e à revelação de novas forças da Natureza, que seria ilógico admitir que a Natureza houvesse dito a última palavra. Antes de negar é, então, prudente estudar e observar.
“Para julgar uma coisa é preciso conhecê-la. A crítica só é permissível ao que fala do que sabe. Que seria dito de um homem que, ignorando música, criticasse uma ópera; que ignorando as primeiras noções de literatura, criticasse uma obra literária? Ora! O mesmo se dá com a maioria dos detratores do Espiritismo. Eles julgam com dados incompletos, por vezes até por ouvir dizer. Assim, todas as suas objeções denotam ignorância absoluta da coisa. Só se lhes pode responder: Estudai antes de julgar.
“Como tive a honra de vos dizer, senhores, seria materialmente impossível vos desenvolver todos os princípios da ciência. Quanto a satisfazer à curiosidade de quem quer que seja, há entre vós quem me conheça bastante para saber que jamais representei tal papel. Mas, na impossibilidade de vos expor as coisas em detalhes, talvez seja útil dar-vos a conhecer o fim e as tendências. É o que me proponho fazer. Depois julgareis se o objetivo é sério, e se é permitido censurar.
“Então, peço licença para ler algumas passagens do discurso que pronunciei nas grandes reuniões de Lyon e Bordeaux. Para as pessoas que apenas têm do Espiritismo uma ideia incompleta, sem dúvida a ideia principal fica no estado de hipótese, pois me dirijo a adeptos já instruídos. Esperando, porém, que para vós, as circunstâncias tenham transformado tais hipóteses em verdade, podereis ver as suas consequências, bem como a natureza das instruções que dou, e por aí avaliar o caráter das reuniões a que vou assistir.
“Posso, contudo, dizer do Espiritismo, que nele nada é hipotético. De todos os princípios formulados em O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, nenhum é produto de um sistema ou de opinião pessoal. Todos, sem exceção, são fruto da experiência e da observação. Eu não poderia reivindicar um só como produto de minha iniciativa. Aquelas obras contêm o que aprendi e não o que criei. Ora, aquilo que aprendi, outros podem aprender, como eu. Mas como eu, devem trabalhar. Eu apenas lhes poupei o esforço dos primeiros trabalhos e das primeiras pesquisas.”
Depois desse preâmbulo, lemos alguns fragmentos do discurso pronunciado em Lyon e Bordeaux, seguidos de algumas explicações, necessariamente muito sumárias, sobre os princípios fundamentais do Espiritismo, entre outras sobre a natureza dos Espíritos e os meios pelos quais se comunicam, preocupando-nos, sobretudo, em ressaltar a influência moral que resulta das manifestações para a conduta na vida futura, e os efeitos dessa certeza durante a vida presente.
Pelo preâmbulo era impossível estabelecer a situação de modo mais claro e melhor precisar o objetivo a que nos propúnhamos, a fim de evitar qualquer equívoco. Tivemos que tomar tal precaução, pois sabíamos que a audiência estava longe de ser homogênea e inteiramente simpática. Isso naturalmente não satisfez aos que esperavam uma sessão do gênero das do Sr. Home.
Polidamente um dos assistentes declarou que não era bem o que ele esperava. Acreditamo-lo sem esforço porque, em vez de exibir coisas curiosas, vínhamos falar de moral. Ele pediu mesmo com tanta insistência que déssemos provas da existência dos Espíritos, que fomos forçado a dizer-lhe que não os tínhamos no bolso para lhe mostrar. Por pouco não nos disse ele: “Procurai bem!”
Um jornalista que assistia à reunião entendeu dever fazer uma reportagem sob o pseudônimo de Tony, no Spectateur, hebdomadário de teatros, número de 12 de outubro. Ele começa assim:
“Seduzido pelo anúncio de um sarau espírita, apressei-me em ir ouvir um dos hierofantes mais acreditados dessa ciência... assim classificam os adeptos o Espiritismo. O numeroso auditório esperava com certa ansiedade o desenvolvimento das bases dessa ciência... pois há ciência. O Sr. Allan Kardec, autor dos livros dos Espíritos e dos Médiuns, iria iniciar-nos em terríveis segredos! Movido por um sentimento de curiosidade muito compreensível, e que nada tinha de hostil, esperávamos sair da sessão com uma meia convicção, se o professor, homem de inconteste habilidade, se tivesse dado ao trabalho de expor sua doutrina. O Sr. Allan pensou de modo diverso, o que é lamentável. Não lhe pediam que evocasse Espíritos, mas que pelo menos desse explicações claras ou mesmo elementares para facilitar a experimentação dos profanos.”
Esse começo caracteriza bem o pensamento de alguns ouvintes, que se julgavam espectadores. O termo seduzido diz mais que o resto. O que queriam eram explicações claras para facilitar a experimentação dos profanos. Por outras palavras, uma receita para que cada um, ao chegar em casa, pudesse divertir-se evocando Espíritos.
Segue-se uma tirada sobre a base da doutrina: a caridade, e outras máximas que, diz ele, vêm diretamente do Cristianismo e nada ensinam de novo. Se um dia aquele senhor se der ao trabalho de ler, saberá que jamais o Espiritismo pretendeu trazer aos homens outra moral senão a do Cristo, e que não se dirige aos que a PRATICAM na sua pureza. Mas, como há muitos que não creem nem Deus nem na alma ou nos ensinamentos do Cristo, ou, pelo menos, duvidam, e cuja moral se resume no Cada um por si, provando a existência da alma e da vida futura, o Espiritismo vem dar uma sanção prática e uma necessidade a essa moral. Queremos crer que o Sr. Tony dela não precise; que tenha uma fé viva, uma religião sincera, pois toma a defesa do Cristianismo contra o Espiritismo, posto algumas más línguas o acusem de ser um pouco materialista. Queremos crer, dizíamos, que ele pratica a caridade como verdadeiro cristão; que, a exemplo do Cristo, é suave e humilde; que não tem orgulho, nem vaidade, nem ambição; que é bom e indulgente para com todos, mesmo para com os inimigos; numa palavra, que tem todas as virtudes do divino modelo, mas que no mínimo não aborrece os outros.
Continua ele:
“O Espiritismo tem a pretensão de evocar os Espíritos. É verdade que eles não se submetem a caprichos e exigências. Eles podem, se necessário, revestir um corpo reconhecível, inclusive roupas, e só entram em relação com os médiuns sob a condição de serem envoltos numa camada de fluidos da mesma natureza... e porque não de natureza contrária, como na eletricidade? A ciência do Espiritismo não o explica.”
Leia e verá.
“Não sei se os adeptos se retiraram satisfeitos. Mas, sem a menor dúvida, os ignorantes desejosos de instruir-se nada colheram nessa sessão, a não ser que o Espiritismo não se demonstra. É falta do professor, ou o Espiritismo só desvenda os seus arcanos aos fiéis? Não vo-lo diremos... é obvio.”
TONY
CONCLUSÃO: ─ O Espiritismo não se demonstra.
O Sr. Tony deveria ter explicado claramente ─ já que gosta das explicações claras ─ por que ele é demonstrado a milhões de homens que não são tolos nem ignorantes. Que se dê ao trabalho de estudar e saberá se, como diz, está desejoso de instruir-se. Mas, desde que se julgou no dever de fazer um relatório público de uma reunião que nada tinha de pública, como se fora uma reportagem de um espetáculo onde se vai seduzido pelos cartazes, deveria, para ser imparcial, referir-se às palavras que dissemos no início da reunião.
Seja como for, só temos que nos felicitar pela polidez que presidiu à reunião e aproveitamos este ensejo para dirigir ao eminente funcionário, Sr. La Maison, os nossos agradecimentos pela acolhida cheia de benevolência e de cordialidade, e pela iniciativa de pôr sua sala de visitas à nossa disposição. Pareceu-nos útil provar-lhe, como à elite reunida em sua casa, as tendências morais do Espiritismo e a natureza do ensino que damos nos centros que visitamos.
O Sr. Tony ignora se os adeptos ficaram satisfeitos. Em seu ponto de vista, a sessão não deu resultado. Quanto a nós, preferimos ter deixado nalguns assistentes a impressão de um moralista cacete que a de um realizador de espetáculos. Um fato incontestável é que nem todos participaram de sua opinião. Sem falar dos adeptos que lá se encontravam, e dos quais recebemos calorosos testemunhos de simpatia, citaremos dois senhores que, ao fim da sessão, nos perguntaram se as instruções lidas seriam publicadas, acrescentando que faziam do Espiritismo uma ideia inteiramente falsa, mas que agora o viam de outro modo, compreendiam o lado sério e útil e se propunham estudá-lo profundamente. Já estaríamos satisfeito se esse fosse o único resultado. É barato, dirá o Sr. Tony. Seja. Mas ele ignora que dois grãos que frutificam se multiplicam. Aliás, temos certeza que todos os que semeamos nessa circunstância não ficarão perdidos, e que o vento soprado pelo Sr. Tony terá levado alguns para um terreno fértil.
O Sr. Florentin Blanchard, livreiro de Marennes, entendeu que deveria responder ao artigo do Sr. Tony, por uma carta que foi publicada no Tablettes des deux Charentes de 25 de outubro.
Replica o Sr. Tony, assim concluindo:
“O Espiritismo superexcita prejudicialmente os espíritos crédulos; agrava o estado das mulheres dotadas de grande irritabilidade nervosa e as enlouquece ou as mata, se persistirem nas suas aberrações.
“O Espiritismo é uma doença, e como uma doença ele deve ser combatido. Além do mais, entra no quadro das coisas... malsãs estudadas pela higiene pública e a moral.”
Aqui pilhamos o Sr. Tony em flagrante delito de contradição. No primeiro artigo, acima referido, disse que vinha à sessão “movido por um sentimento de curiosidade muito compreensível e que não tinha nada de hostil”. Como compreender que não fosse hostil a uma coisa que diz ser uma doença, uma coisa malsã, etc.?
Mais adiante ele diz que esperava explicações claras ou mesmo elementares para facilitar a experimentação dos profanos. Como podia ele desejar que fossem iniciados, ele e os profanos, à experimentação de uma coisa que, com ele diz, pode enlouquecer e MATAR? Por que veio? Por que não evitou que seus amigos viessem assistir ao ensino de coisa tão perigosa? Por que lamenta não tenha o ensino correspondido à sua expectativa, nem sido tão completo quanto desejava? Porque, em sua opinião, essa coisa é tão perniciosa, em vez de nos censurar por termos sido pouco explícito, ele deveria ter-nos felicitado por isso.
Outra contradição. Se ele veio à reunião para saber o que é, o que quer e o que pode o Espiritismo; se nos censura por não o termos instruído, é que não o conhecia. Ora, se ele não o estudou, como sabe que é tão perigoso? Então, ele o julga sem conhecimento. Assim, na sua autoridade privada, decide que é uma coisa má, malsã e que pode MATAR, logo depois de declarar que não sabe o que ela é. Isso é linguagem de um homem sério?
Há críticas que de tal modo se refutam a si mesmas que basta as assinalar, sendo supérfluo ligar-lhes importância. Em outras circunstâncias, uma alegação como a de matar, poderia ser acusada de calúnia, pois é levantar uma acusação de extrema gravidade contra nós e contra uma classe hoje imensamente numerosa de homens honradíssimos.
Isto não é tudo. O segundo artigo foi seguido de outros, onde ele desenvolve sua tese. Ora, eis o que se lê no Spectateur de 26 de outubro, por ocasião da primeira carta do Sr. Blanchard:
“A redação do Spectateur recebeu de Marennes, sob a assinatura de Florentin Blanchard, uma carta em resposta ao nosso primeiro artigo, de 12, quando este já estava composto. A redação lamenta que a exiguidade de seu formato não lhe permita abrir suas colunas para uma controvérsia sobre o Espiritismo. A pedido expresso do Spectateur, as Tablettes a publicaram in-extenso.
“Abstemo-nos de aqui responder tempestivamente, e decidimos não ceder, como seu autor, às inspirações de um Espírito inconveniente.
TONY”
Depois de uma segunda carta do Sr. Blanchard, desta vez publicada do Spectateur, lê-se:
“Concedemo-vos hospitalidade com prazer, Sr. Florentin Blanchard, mas seria preciso não abusar. Vossa carta de hoje me acusa de não ter estudado o Espiritismo. Como sabeis? Por certo não quereis discutir senão com iluminados e, a esse título, estou fora do páreo. De acordo. Por que não respondeis, senhor, a algumas proposições que terminam minha última carta, em vez de me acusar vagamente? Esta correspondência prolongada e sem interesse haveis de permitir-me que não continue.
“Retomarei proximamente minha série de artigos sobre o Espiritismo, mas só de tempos em tempos, porque as pequenas dimensões do Spectateur não permitem longos estudos sobre esse assunto burlesco.
“Por mais que façais, senhor, não tomaremos os espíritas a sério e não poderemos considerar o Espiritismo como uma ciência.
TONY”
Assim, tudo está claro: O Sr. Tony quer atacar o Espiritismo, arrastá-lo na lama, qualificá-lo de malsão, dizer que mata, sem contudo dizer quantas pessoas matou, mas não quer controvérsia. Seu jornal é bastante grande para os seus ataques, mas muito pequeno para as réplicas. Falar sozinho é mais cômodo. Ele esqueceu que, em razão da natureza e do caráter de seus ataques, a lei poderia obrigá-lo à inserção de uma resposta de dupla extensão, a despeito da exiguidade de seu jornal.
Com referência às particularidades de nossa excursão, quisemos mostrar que não buscamos nem solicitamos aquela reunião e que, consequentemente, não seduzimos ninguém a vir escutar-nos, por isso tivemos o cuidado de dizer com todas as letras, logo de começo, qual a nossa intenção. Os que não gostassem tinham liberdade de se retirar.
Agora nós nos felicitamos pela circunstância fortuita, ou antes, providencial, que nos levou a ficar, pois que provocou uma polêmica que apenas serve à causa do Espiritismo, dando-o a conhecer pelo que ele é: uma coisa moral, e não pelo que não quer ser: um espetáculo para satisfação dos curiosos; e por dar à crítica, mais uma vez, ocasião de mostrar a lógica de seus argumentos.
Agora, Sr. Tony, mais duas palavras, por favor. Para sustentar publicamente coisas como as que escrevestes, é preciso estar bem seguro dos fatos, e deveis ter a coragem de prová-los.
É muito cômodo discutir sozinho, contudo, não pretendo estabelecer convosco qualquer polêmica. Não tenho tempo para isso e, por outro lado, vosso jornal é muito pequeno para comportar a crítica e a refutação. Assim, seja dito sem vos ofender, sua influência não vai muito longe. Ofereço-vos coisa melhor: vinde a Paris, ante a Sociedade que presido, isto é, perante cento e cinquenta pessoas, sustentar e provar o que afirmais. Se tendes certeza de estar com a verdade, nada deveis recear, e eu vos prometo, sob palavra de honra, que, através da Revista Espírita, vossos argumentos e os efeitos por vós produzidos irão da China ao México, passando por todas as capitais da Europa.
Notai, senhor, que vos faço uma bela proposta, porque não é com a esperança de vos converter, ─ coisa que absolutamente não faz parte dos meus propósitos, ─ que vos faço essa proposição, pois ficareis inteiramente à vontade para conservar as vossas convicções. É para oferecer às vossas ideias contra o Espiritismo, ocasião para um grande desenvolvimento.
Para que saibais a quem ireis enfrentar, dir-vos-ei que a Sociedade se compõe de advogados, negociantes, artistas, homens de letras, cientistas, médicos, capitalistas, bons burgueses, oficiais, artesãos, príncipes, etc., tudo isso entremeado de um certo número de senhoras, o que vos garante uma atitude irreprochável quanto à urbanidade; mas todos atingidos até a medula, como os cinco ou seis milhões de adeptos dessa coisa malsã estudada pela higiene pública e a moral, e que ardentemente deveis desejar curar.
Durante a reunião recebemos outro convite, em termos não menos impositivos, da parte de um alto funcionário e de várias notabilidades da cidade, exprimindo o desejo de uma reunião na noite seguinte, o que determinou novo adiamento de nossa partida. Não teríamos mencionado tais detalhes se não fossem necessários à explicação que nos julgamos obrigados a dar a seguir, em relação a um jornal da localidade.
Nessa última reunião fizemos, ao início da sessão, a seguinte alocução:
“Senhores,
“Posto não tivesse a intenção de passar senão algumas horas em Rochefort, o desejo por vós manifestado para esta reunião me era muito lisonjeiro, sobretudo pela maneira que o convite foi feito, para que dele declinasse.
“Ignoro se todas as pessoas que me honram com sua presença nesta reunião são iniciadas na ciência espírita. Suponho que muitos são ainda noviços na matéria, e poderia, até, encontrar alguns que lhe são hostis.
“Ora, por força da falsa ideia que fazem do Espiritismo aqueles que o desconhecem, ou só o conhecem imperfeitamente, o resultado desta reunião poderia causar algumas decepções àqueles que não encontrassem aquilo que esperavam. Então, devo explicar claramente o meu objetivo, para que não haja mal-entendidos.
“Antes de mais nada, devo informar quanto ao objetivo que me proponho em minhas excursões. Vou unicamente visitar centros espíritas e lhes dar as instruções de que possam necessitar. Entretanto, seria erro pensar que vou pregar a doutrina aos incrédulos.
“O Espiritismo é toda uma ciência que exige estudos sérios, como as outras ciências, e, ainda, numerosas observações. Para desenvolvê-la seria necessário um curso em regra, e um curso de Espiritismo não poderia ser feito em uma ou duas aulas, como não o poderia um curso de Física ou de Astronomia. Para os que ignoram as primeiras noções, sou obrigado a enviá-los à fonte, isto é, ao estudo das obras onde se acham todos os ensinamentos necessários e a resposta à maioria das perguntas que poderiam fazer e que, no mais das vezes, se referem aos princípios mais elementares. É por isso que, em minhas visitas, só me dirijo aos que já sabem, que não necessitam do ABC, mas de ensino complementar.
“Jamais vou fazer o que se chama sessões, nem convocar o público para assistir experiências ou demonstrações e, menos ainda, fazer exibição de Espíritos. Os que esperassem aqui ver coisa semelhante estariam redondamente enganados e devo apressar-me em lhes tirar a ilusão.
“A reunião desta noite é, pois, excepcional e fora de meus hábitos. Pelos motivos acima expostos, não posso ter a pretensão de convencer àqueles que impugnassem as bases dos meus princípios. Só uma coisa desejo: é que, em falta de convicção, compreendam que o Espiritismo é uma coisa séria e digna de atenção, pois atrai a atenção dos homens mais esclarecidos de todos os países.
“Que não o aceitem cegamente e sem exame, é compreensível. Mas seria presunção tomar posição falsa contra uma opinião que conta com seus mais numerosos partidários na elite da Sociedade.
“As pessoas sensatas dizem: Há tantas coisas novas que nos vêm surpreender e que há um século pareceriam absurdas; diariamente assistimos à descoberta de leis novas e à revelação de novas forças da Natureza, que seria ilógico admitir que a Natureza houvesse dito a última palavra. Antes de negar é, então, prudente estudar e observar.
“Para julgar uma coisa é preciso conhecê-la. A crítica só é permissível ao que fala do que sabe. Que seria dito de um homem que, ignorando música, criticasse uma ópera; que ignorando as primeiras noções de literatura, criticasse uma obra literária? Ora! O mesmo se dá com a maioria dos detratores do Espiritismo. Eles julgam com dados incompletos, por vezes até por ouvir dizer. Assim, todas as suas objeções denotam ignorância absoluta da coisa. Só se lhes pode responder: Estudai antes de julgar.
“Como tive a honra de vos dizer, senhores, seria materialmente impossível vos desenvolver todos os princípios da ciência. Quanto a satisfazer à curiosidade de quem quer que seja, há entre vós quem me conheça bastante para saber que jamais representei tal papel. Mas, na impossibilidade de vos expor as coisas em detalhes, talvez seja útil dar-vos a conhecer o fim e as tendências. É o que me proponho fazer. Depois julgareis se o objetivo é sério, e se é permitido censurar.
“Então, peço licença para ler algumas passagens do discurso que pronunciei nas grandes reuniões de Lyon e Bordeaux. Para as pessoas que apenas têm do Espiritismo uma ideia incompleta, sem dúvida a ideia principal fica no estado de hipótese, pois me dirijo a adeptos já instruídos. Esperando, porém, que para vós, as circunstâncias tenham transformado tais hipóteses em verdade, podereis ver as suas consequências, bem como a natureza das instruções que dou, e por aí avaliar o caráter das reuniões a que vou assistir.
“Posso, contudo, dizer do Espiritismo, que nele nada é hipotético. De todos os princípios formulados em O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, nenhum é produto de um sistema ou de opinião pessoal. Todos, sem exceção, são fruto da experiência e da observação. Eu não poderia reivindicar um só como produto de minha iniciativa. Aquelas obras contêm o que aprendi e não o que criei. Ora, aquilo que aprendi, outros podem aprender, como eu. Mas como eu, devem trabalhar. Eu apenas lhes poupei o esforço dos primeiros trabalhos e das primeiras pesquisas.”
Depois desse preâmbulo, lemos alguns fragmentos do discurso pronunciado em Lyon e Bordeaux, seguidos de algumas explicações, necessariamente muito sumárias, sobre os princípios fundamentais do Espiritismo, entre outras sobre a natureza dos Espíritos e os meios pelos quais se comunicam, preocupando-nos, sobretudo, em ressaltar a influência moral que resulta das manifestações para a conduta na vida futura, e os efeitos dessa certeza durante a vida presente.
Pelo preâmbulo era impossível estabelecer a situação de modo mais claro e melhor precisar o objetivo a que nos propúnhamos, a fim de evitar qualquer equívoco. Tivemos que tomar tal precaução, pois sabíamos que a audiência estava longe de ser homogênea e inteiramente simpática. Isso naturalmente não satisfez aos que esperavam uma sessão do gênero das do Sr. Home.
Polidamente um dos assistentes declarou que não era bem o que ele esperava. Acreditamo-lo sem esforço porque, em vez de exibir coisas curiosas, vínhamos falar de moral. Ele pediu mesmo com tanta insistência que déssemos provas da existência dos Espíritos, que fomos forçado a dizer-lhe que não os tínhamos no bolso para lhe mostrar. Por pouco não nos disse ele: “Procurai bem!”
Um jornalista que assistia à reunião entendeu dever fazer uma reportagem sob o pseudônimo de Tony, no Spectateur, hebdomadário de teatros, número de 12 de outubro. Ele começa assim:
“Seduzido pelo anúncio de um sarau espírita, apressei-me em ir ouvir um dos hierofantes mais acreditados dessa ciência... assim classificam os adeptos o Espiritismo. O numeroso auditório esperava com certa ansiedade o desenvolvimento das bases dessa ciência... pois há ciência. O Sr. Allan Kardec, autor dos livros dos Espíritos e dos Médiuns, iria iniciar-nos em terríveis segredos! Movido por um sentimento de curiosidade muito compreensível, e que nada tinha de hostil, esperávamos sair da sessão com uma meia convicção, se o professor, homem de inconteste habilidade, se tivesse dado ao trabalho de expor sua doutrina. O Sr. Allan pensou de modo diverso, o que é lamentável. Não lhe pediam que evocasse Espíritos, mas que pelo menos desse explicações claras ou mesmo elementares para facilitar a experimentação dos profanos.”
Esse começo caracteriza bem o pensamento de alguns ouvintes, que se julgavam espectadores. O termo seduzido diz mais que o resto. O que queriam eram explicações claras para facilitar a experimentação dos profanos. Por outras palavras, uma receita para que cada um, ao chegar em casa, pudesse divertir-se evocando Espíritos.
Segue-se uma tirada sobre a base da doutrina: a caridade, e outras máximas que, diz ele, vêm diretamente do Cristianismo e nada ensinam de novo. Se um dia aquele senhor se der ao trabalho de ler, saberá que jamais o Espiritismo pretendeu trazer aos homens outra moral senão a do Cristo, e que não se dirige aos que a PRATICAM na sua pureza. Mas, como há muitos que não creem nem Deus nem na alma ou nos ensinamentos do Cristo, ou, pelo menos, duvidam, e cuja moral se resume no Cada um por si, provando a existência da alma e da vida futura, o Espiritismo vem dar uma sanção prática e uma necessidade a essa moral. Queremos crer que o Sr. Tony dela não precise; que tenha uma fé viva, uma religião sincera, pois toma a defesa do Cristianismo contra o Espiritismo, posto algumas más línguas o acusem de ser um pouco materialista. Queremos crer, dizíamos, que ele pratica a caridade como verdadeiro cristão; que, a exemplo do Cristo, é suave e humilde; que não tem orgulho, nem vaidade, nem ambição; que é bom e indulgente para com todos, mesmo para com os inimigos; numa palavra, que tem todas as virtudes do divino modelo, mas que no mínimo não aborrece os outros.
Continua ele:
“O Espiritismo tem a pretensão de evocar os Espíritos. É verdade que eles não se submetem a caprichos e exigências. Eles podem, se necessário, revestir um corpo reconhecível, inclusive roupas, e só entram em relação com os médiuns sob a condição de serem envoltos numa camada de fluidos da mesma natureza... e porque não de natureza contrária, como na eletricidade? A ciência do Espiritismo não o explica.”
Leia e verá.
“Não sei se os adeptos se retiraram satisfeitos. Mas, sem a menor dúvida, os ignorantes desejosos de instruir-se nada colheram nessa sessão, a não ser que o Espiritismo não se demonstra. É falta do professor, ou o Espiritismo só desvenda os seus arcanos aos fiéis? Não vo-lo diremos... é obvio.”
TONY
CONCLUSÃO: ─ O Espiritismo não se demonstra.
O Sr. Tony deveria ter explicado claramente ─ já que gosta das explicações claras ─ por que ele é demonstrado a milhões de homens que não são tolos nem ignorantes. Que se dê ao trabalho de estudar e saberá se, como diz, está desejoso de instruir-se. Mas, desde que se julgou no dever de fazer um relatório público de uma reunião que nada tinha de pública, como se fora uma reportagem de um espetáculo onde se vai seduzido pelos cartazes, deveria, para ser imparcial, referir-se às palavras que dissemos no início da reunião.
Seja como for, só temos que nos felicitar pela polidez que presidiu à reunião e aproveitamos este ensejo para dirigir ao eminente funcionário, Sr. La Maison, os nossos agradecimentos pela acolhida cheia de benevolência e de cordialidade, e pela iniciativa de pôr sua sala de visitas à nossa disposição. Pareceu-nos útil provar-lhe, como à elite reunida em sua casa, as tendências morais do Espiritismo e a natureza do ensino que damos nos centros que visitamos.
O Sr. Tony ignora se os adeptos ficaram satisfeitos. Em seu ponto de vista, a sessão não deu resultado. Quanto a nós, preferimos ter deixado nalguns assistentes a impressão de um moralista cacete que a de um realizador de espetáculos. Um fato incontestável é que nem todos participaram de sua opinião. Sem falar dos adeptos que lá se encontravam, e dos quais recebemos calorosos testemunhos de simpatia, citaremos dois senhores que, ao fim da sessão, nos perguntaram se as instruções lidas seriam publicadas, acrescentando que faziam do Espiritismo uma ideia inteiramente falsa, mas que agora o viam de outro modo, compreendiam o lado sério e útil e se propunham estudá-lo profundamente. Já estaríamos satisfeito se esse fosse o único resultado. É barato, dirá o Sr. Tony. Seja. Mas ele ignora que dois grãos que frutificam se multiplicam. Aliás, temos certeza que todos os que semeamos nessa circunstância não ficarão perdidos, e que o vento soprado pelo Sr. Tony terá levado alguns para um terreno fértil.
O Sr. Florentin Blanchard, livreiro de Marennes, entendeu que deveria responder ao artigo do Sr. Tony, por uma carta que foi publicada no Tablettes des deux Charentes de 25 de outubro.
Replica o Sr. Tony, assim concluindo:
“O Espiritismo superexcita prejudicialmente os espíritos crédulos; agrava o estado das mulheres dotadas de grande irritabilidade nervosa e as enlouquece ou as mata, se persistirem nas suas aberrações.
“O Espiritismo é uma doença, e como uma doença ele deve ser combatido. Além do mais, entra no quadro das coisas... malsãs estudadas pela higiene pública e a moral.”
Aqui pilhamos o Sr. Tony em flagrante delito de contradição. No primeiro artigo, acima referido, disse que vinha à sessão “movido por um sentimento de curiosidade muito compreensível e que não tinha nada de hostil”. Como compreender que não fosse hostil a uma coisa que diz ser uma doença, uma coisa malsã, etc.?
Mais adiante ele diz que esperava explicações claras ou mesmo elementares para facilitar a experimentação dos profanos. Como podia ele desejar que fossem iniciados, ele e os profanos, à experimentação de uma coisa que, com ele diz, pode enlouquecer e MATAR? Por que veio? Por que não evitou que seus amigos viessem assistir ao ensino de coisa tão perigosa? Por que lamenta não tenha o ensino correspondido à sua expectativa, nem sido tão completo quanto desejava? Porque, em sua opinião, essa coisa é tão perniciosa, em vez de nos censurar por termos sido pouco explícito, ele deveria ter-nos felicitado por isso.
Outra contradição. Se ele veio à reunião para saber o que é, o que quer e o que pode o Espiritismo; se nos censura por não o termos instruído, é que não o conhecia. Ora, se ele não o estudou, como sabe que é tão perigoso? Então, ele o julga sem conhecimento. Assim, na sua autoridade privada, decide que é uma coisa má, malsã e que pode MATAR, logo depois de declarar que não sabe o que ela é. Isso é linguagem de um homem sério?
Há críticas que de tal modo se refutam a si mesmas que basta as assinalar, sendo supérfluo ligar-lhes importância. Em outras circunstâncias, uma alegação como a de matar, poderia ser acusada de calúnia, pois é levantar uma acusação de extrema gravidade contra nós e contra uma classe hoje imensamente numerosa de homens honradíssimos.
Isto não é tudo. O segundo artigo foi seguido de outros, onde ele desenvolve sua tese. Ora, eis o que se lê no Spectateur de 26 de outubro, por ocasião da primeira carta do Sr. Blanchard:
“A redação do Spectateur recebeu de Marennes, sob a assinatura de Florentin Blanchard, uma carta em resposta ao nosso primeiro artigo, de 12, quando este já estava composto. A redação lamenta que a exiguidade de seu formato não lhe permita abrir suas colunas para uma controvérsia sobre o Espiritismo. A pedido expresso do Spectateur, as Tablettes a publicaram in-extenso.
“Abstemo-nos de aqui responder tempestivamente, e decidimos não ceder, como seu autor, às inspirações de um Espírito inconveniente.
TONY”
Depois de uma segunda carta do Sr. Blanchard, desta vez publicada do Spectateur, lê-se:
“Concedemo-vos hospitalidade com prazer, Sr. Florentin Blanchard, mas seria preciso não abusar. Vossa carta de hoje me acusa de não ter estudado o Espiritismo. Como sabeis? Por certo não quereis discutir senão com iluminados e, a esse título, estou fora do páreo. De acordo. Por que não respondeis, senhor, a algumas proposições que terminam minha última carta, em vez de me acusar vagamente? Esta correspondência prolongada e sem interesse haveis de permitir-me que não continue.
“Retomarei proximamente minha série de artigos sobre o Espiritismo, mas só de tempos em tempos, porque as pequenas dimensões do Spectateur não permitem longos estudos sobre esse assunto burlesco.
“Por mais que façais, senhor, não tomaremos os espíritas a sério e não poderemos considerar o Espiritismo como uma ciência.
TONY”
Assim, tudo está claro: O Sr. Tony quer atacar o Espiritismo, arrastá-lo na lama, qualificá-lo de malsão, dizer que mata, sem contudo dizer quantas pessoas matou, mas não quer controvérsia. Seu jornal é bastante grande para os seus ataques, mas muito pequeno para as réplicas. Falar sozinho é mais cômodo. Ele esqueceu que, em razão da natureza e do caráter de seus ataques, a lei poderia obrigá-lo à inserção de uma resposta de dupla extensão, a despeito da exiguidade de seu jornal.
Com referência às particularidades de nossa excursão, quisemos mostrar que não buscamos nem solicitamos aquela reunião e que, consequentemente, não seduzimos ninguém a vir escutar-nos, por isso tivemos o cuidado de dizer com todas as letras, logo de começo, qual a nossa intenção. Os que não gostassem tinham liberdade de se retirar.
Agora nós nos felicitamos pela circunstância fortuita, ou antes, providencial, que nos levou a ficar, pois que provocou uma polêmica que apenas serve à causa do Espiritismo, dando-o a conhecer pelo que ele é: uma coisa moral, e não pelo que não quer ser: um espetáculo para satisfação dos curiosos; e por dar à crítica, mais uma vez, ocasião de mostrar a lógica de seus argumentos.
Agora, Sr. Tony, mais duas palavras, por favor. Para sustentar publicamente coisas como as que escrevestes, é preciso estar bem seguro dos fatos, e deveis ter a coragem de prová-los.
É muito cômodo discutir sozinho, contudo, não pretendo estabelecer convosco qualquer polêmica. Não tenho tempo para isso e, por outro lado, vosso jornal é muito pequeno para comportar a crítica e a refutação. Assim, seja dito sem vos ofender, sua influência não vai muito longe. Ofereço-vos coisa melhor: vinde a Paris, ante a Sociedade que presido, isto é, perante cento e cinquenta pessoas, sustentar e provar o que afirmais. Se tendes certeza de estar com a verdade, nada deveis recear, e eu vos prometo, sob palavra de honra, que, através da Revista Espírita, vossos argumentos e os efeitos por vós produzidos irão da China ao México, passando por todas as capitais da Europa.
Notai, senhor, que vos faço uma bela proposta, porque não é com a esperança de vos converter, ─ coisa que absolutamente não faz parte dos meus propósitos, ─ que vos faço essa proposição, pois ficareis inteiramente à vontade para conservar as vossas convicções. É para oferecer às vossas ideias contra o Espiritismo, ocasião para um grande desenvolvimento.
Para que saibais a quem ireis enfrentar, dir-vos-ei que a Sociedade se compõe de advogados, negociantes, artistas, homens de letras, cientistas, médicos, capitalistas, bons burgueses, oficiais, artesãos, príncipes, etc., tudo isso entremeado de um certo número de senhoras, o que vos garante uma atitude irreprochável quanto à urbanidade; mas todos atingidos até a medula, como os cinco ou seis milhões de adeptos dessa coisa malsã estudada pela higiene pública e a moral, e que ardentemente deveis desejar curar.
É possível o Espiritismo?
(Extraída do Écho de Sétif de 18 de setembro de 1862)
Tal é o título de profundo artigo científico, sob a assinatura de Jalabert, publicado sob a epígrafe de Mens agitat molem, pelo Écho de Sétif, um dos jornais mais acreditados da Argélia. Lamentamos que sua extensão não permita transcrevê-lo na íntegra, de vez que a interrupção sacrificaria o encadeamento dos argumentos pelos quais o autor vai, numa imensa sorites, da criação do corpo e do Espírito por Deus, à ação do Espírito sobre a matéria, e depois à possibilidade das comunicações entre o Espírito livre e o encarnado.
Suas deduções são tão lógicas que, a não ser que se negue Deus e a alma, não se pode deixar de dizer: Não pode ser de outro modo. Citaremos apenas alguns argumentos, e sobretudo a conclusão.
Suas deduções são tão lógicas que, a não ser que se negue Deus e a alma, não se pode deixar de dizer: Não pode ser de outro modo. Citaremos apenas alguns argumentos, e sobretudo a conclusão.
Quando Fulton expôs a Napoleão I o seu sistema de aplicação do vapor à navegação, afirmou e prometeu provar que sendo seu sistema verdadeiro em teoria, não o seria menos na prática.
Que lhe respondeu Napoleão? ─ Que em teoria sua ideia não era realizável e com o objetivo de não aceitá-las a priori, sem levar em conta as experiências já feitas pelo imortal mecânico, nem mesmo aquelas que ele havia encomendado, e que foram feitas, o grande imperador não mais pensou nem Fulton nem em seu sistema, até o dia em que o primeiro navio a vapor lhe apareceu no horizonte de Santa Helena.
Coisa singular, sobretudo num século de observações físicas, de ciências materiais e de positivismo! Mais de uma vez o fato, só por ser extraordinário, inusitado, novo, o fato, se assim se pode dizer, foi descartado por uma simples exceção de direito.
É assim que, para não falar senão das manifestações de Espíritos, que lembram a expressão de Espiritismo, ouvimos homens, aliás sérios e instruídos, exclamarem às gargalhadas, em face do relato consciencioso de certas manifestações vistas ou atestadas por homens inteligentes, convictos e de boa-fé: Deixai o vosso Espiritismo, as vossas manifestações e os vossos médiuns! O que contais não é possível!
─ Não é possível, vá lá! Mas de graça, ó gênios transcendentes! Dignai-vos de vos lembrardes do dito célebre de um Antigo e, antes de nos ferir com vosso supremo desdém, dignai-vos a escutar-nos.
Tende a bondade de ler estas linhas por inteiro ─ seriamente e atentamente ─ e depois, com a mão na consciência e com a sinceridade nos lábios, ousai, ousai negar a possibilidade, a racionalidade do Espiritismo!
─ Não é possível, vá lá! Mas de graça, ó gênios transcendentes! Dignai-vos de vos lembrardes do dito célebre de um Antigo e, antes de nos ferir com vosso supremo desdém, dignai-vos a escutar-nos.
Tende a bondade de ler estas linhas por inteiro ─ seriamente e atentamente ─ e depois, com a mão na consciência e com a sinceridade nos lábios, ousai, ousai negar a possibilidade, a racionalidade do Espiritismo!
Dizeis não compreender esse mistério. Mas para nós, como para vós, o movimento material produzido pelo movimento espiritual; a matéria agitada pelo pensamento; o corpo movido pelo Espírito é o incompreensível! Mas o incompreensível não é o impossível. Negai essa ação; negai essa influência; negai essa comunicação! Nada de criação, de encarnação, de redenção, de distinção entre a alma e o corpo, de variedade na unidade! Nada de Deus, de corpo, de Espírito, de religião, de razão. ─ O caos, o caos ainda e sempre ou, o que é pior, o panteísmo ou o niilismo.
Resumamos.
Filosoficamente, fisiologicamente, religiosamente, o Espiritismo não é irracional nem absurdo.
Então, ele é possível.
O homem age: sobre si mesmo, por seu verbo interior ou sua vontade e por seus sentidos; sobre seus semelhantes, por seu verbo exterior ou sua palavra, e igualmente por seus sentidos.
Por que, então, apenas por seu verbo interior, não se comunicaria com Deus, com o anjo e com os Espíritos, numa palavra, com qualquer outro ser incorpóreo por natureza, ou acidentalmente incorporificado, desprendido dos sentidos?
O Espírito é uma força, uma força que age sobre a matéria, isto é, sobre um ser que consigo nada tem de comum, inerte, ininteligente. Contudo, existem comunicações do Criador com a criação e do anjo com homem, bem como da alma do homem com o corpo do homem e, por ele, com o mundo exterior.
Mas o que é que impediria uma ação, uma comunicação recíproca de Espírito a Espírito? Se o Espírito se comunica com seres de natureza oposta à sua, não seria concebível que não se pudesse comunicar com outros de natureza idêntica.
─ De onde viria o obstáculo? Da distância?
─ Mas entre os Espíritos não há distância. “O ar está cheio deles”, disse São Paulo, para nos dar a compreender que, de certo modo, eles gozam da ubiquidade divina.
─ De uma diferença hierárquica?
─ Mas a hierarquia não entra no caso. Se são Espíritos, sua natureza exige que ajam e se comunicam entre si.
─ De seu repouso momentâneo nos laços do corpo?
─ Mas, salvo, nesse caso, a diferença dos meios de comunicação, ela nem por isso deixa de ocorrer. Meu Espírito se comunica com o vosso e o vosso Espírito, como o meu, habita um corpo. Com mais forte razão comunicar-se-á um Espírito livre ou liberto da matéria, quer se trate de um Espírito de anjo, quer da alma do homem.
Há mais. Longe de qualquer impedimento, tudo, ao contrário, favorece tal comunicação. “Deus é amor” e tudo quanto tem algo de divino participa do amor. Mas o amor vive de comunicações, de comunhões. Deus ama o homem. Então comunica-se com ele: no Éden, pela palavra; no Sinai, pela escrita; no estábulo de Belém e no Calvário, por seu verbo encarnado; no altar, por seu verbo transubstanciado no pão e no vinho eucarísticos.
Tenhamos, pois, como certo, que as comunicações de alma a alma, de Espírito a Espírito são ainda mais possíveis que as de Espírito à matéria.
Agora, qual será o instrumento, o meio de comunicação dos seres entre si?
Entre seres corpóreos, tal comunicação se opera pelo movimento, que é como que o verbo do corpo. Entre os seres puramente espirituais, pelo pensamento ou pela palavra interior, que é como o movimento dos Espíritos. Entre os seres ao mesmo tempo espirituais e corpóreos, por esse mesmo pensamento revestido de um sinal ao mesmo tempo corporal e espiritual, pela palavra exterior. Entre um ser espiritual e corpóreo, de um lado, e do outro um simplesmente espiritual, de ordinário pela palavra interior, manifestando-se exteriormente por um sinal material.
E qual será esse sinal? - Todo objeto material que se move, em dado momento, com movimento antecipadamente convencionado, sob a única influência, direta ou indireta, da vontade ou palavra interior do Espírito com o qual nos queremos comunicar
Recomendamos este artigo ao Sr. Tony, de Rochefort. Eis um de seus confrades que diz tudo ao contrário do que ele diz. Um diz branco, o outro diz preto. Com quem a razão? Há entre ambos uma diferença: um sabe, o outro não sabe. Deixamos ao leitor o encargo de julgar as duas lógicas.
O mesmo jornal publicou vários artigos sobre o mesmo assunto, de outros escritores que, como esse, têm o cunho de uma profunda observação e de um estudo sério. Deles falaremos oportunamente.
Resumamos.
Filosoficamente, fisiologicamente, religiosamente, o Espiritismo não é irracional nem absurdo.
Então, ele é possível.
O homem age: sobre si mesmo, por seu verbo interior ou sua vontade e por seus sentidos; sobre seus semelhantes, por seu verbo exterior ou sua palavra, e igualmente por seus sentidos.
Por que, então, apenas por seu verbo interior, não se comunicaria com Deus, com o anjo e com os Espíritos, numa palavra, com qualquer outro ser incorpóreo por natureza, ou acidentalmente incorporificado, desprendido dos sentidos?
O Espírito é uma força, uma força que age sobre a matéria, isto é, sobre um ser que consigo nada tem de comum, inerte, ininteligente. Contudo, existem comunicações do Criador com a criação e do anjo com homem, bem como da alma do homem com o corpo do homem e, por ele, com o mundo exterior.
Mas o que é que impediria uma ação, uma comunicação recíproca de Espírito a Espírito? Se o Espírito se comunica com seres de natureza oposta à sua, não seria concebível que não se pudesse comunicar com outros de natureza idêntica.
─ De onde viria o obstáculo? Da distância?
─ Mas entre os Espíritos não há distância. “O ar está cheio deles”, disse São Paulo, para nos dar a compreender que, de certo modo, eles gozam da ubiquidade divina.
─ De uma diferença hierárquica?
─ Mas a hierarquia não entra no caso. Se são Espíritos, sua natureza exige que ajam e se comunicam entre si.
─ De seu repouso momentâneo nos laços do corpo?
─ Mas, salvo, nesse caso, a diferença dos meios de comunicação, ela nem por isso deixa de ocorrer. Meu Espírito se comunica com o vosso e o vosso Espírito, como o meu, habita um corpo. Com mais forte razão comunicar-se-á um Espírito livre ou liberto da matéria, quer se trate de um Espírito de anjo, quer da alma do homem.
Há mais. Longe de qualquer impedimento, tudo, ao contrário, favorece tal comunicação. “Deus é amor” e tudo quanto tem algo de divino participa do amor. Mas o amor vive de comunicações, de comunhões. Deus ama o homem. Então comunica-se com ele: no Éden, pela palavra; no Sinai, pela escrita; no estábulo de Belém e no Calvário, por seu verbo encarnado; no altar, por seu verbo transubstanciado no pão e no vinho eucarísticos.
Tenhamos, pois, como certo, que as comunicações de alma a alma, de Espírito a Espírito são ainda mais possíveis que as de Espírito à matéria.
Agora, qual será o instrumento, o meio de comunicação dos seres entre si?
Entre seres corpóreos, tal comunicação se opera pelo movimento, que é como que o verbo do corpo. Entre os seres puramente espirituais, pelo pensamento ou pela palavra interior, que é como o movimento dos Espíritos. Entre os seres ao mesmo tempo espirituais e corpóreos, por esse mesmo pensamento revestido de um sinal ao mesmo tempo corporal e espiritual, pela palavra exterior. Entre um ser espiritual e corpóreo, de um lado, e do outro um simplesmente espiritual, de ordinário pela palavra interior, manifestando-se exteriormente por um sinal material.
E qual será esse sinal? - Todo objeto material que se move, em dado momento, com movimento antecipadamente convencionado, sob a única influência, direta ou indireta, da vontade ou palavra interior do Espírito com o qual nos queremos comunicar
Recomendamos este artigo ao Sr. Tony, de Rochefort. Eis um de seus confrades que diz tudo ao contrário do que ele diz. Um diz branco, o outro diz preto. Com quem a razão? Há entre ambos uma diferença: um sabe, o outro não sabe. Deixamos ao leitor o encargo de julgar as duas lógicas.
O mesmo jornal publicou vários artigos sobre o mesmo assunto, de outros escritores que, como esse, têm o cunho de uma profunda observação e de um estudo sério. Deles falaremos oportunamente.
Charles Fourier, Louis Jourdain e a reencarnação
Extraímos a passagem seguinte de uma carta enviada por um amigo do autor.
“Imagina qual não foi minha surpresa quando, na Doutrina Espírita, da qual não fazia a mínima ideia, reconheci toda a teoria de Fourier sobre a alma, a vida futura, a missão do homem na vida atual e a reencarnação das almas. Julga tu mesmo. Eis, em resumo, a teoria de Fourier:
“O homem está ligado ao planeta. Ele vive sua vida e não a deixa nem mesmo morrendo.
“Ele tem duas existências: a vida atual, que Fourier compara ao sono, e a vida que ele chama de aromal, a outra vida, numa palavra, que é o despertar. Sua alma passa alternativamente de uma vida à outra, e volta periodicamente a se reencarnar na vida atual.
“Na vida atual, a alma não tem o sentimento de suas vidas anteriores, mas o tem na vida aromal e vê todas as existências precedentes.
“As penas na vida aromal são os medos que as almas experimentam de serem condenadas, ao se reencarnarem na vida atual, a animar o corpo de um infeliz. Porque, diz Fourier, veem-se diariamente pessoas vindo pedir caridade à porta dos castelos dos quais foram donas em vida anterior, e acrescenta: “Se os homens estivessem bem convencidos da verdade que exponho ao mundo, todos se esforçariam por trabalhar pela felicidade de todos”.
“Vês, meu caro amigo, por esse curto extrato, quanto se assemelham a doutrina de Fourier e o Espiritismo e que, sendo eu falansteriano, não seria difícil fazer de mim um adepto da Doutrina Espírita.”
É impossível ser mais explícito sobre o capítulo da reencarnação. Não é apenas uma ideia vaga de existências sucessivas através de vários mundos. É neste que o homem renasce para se depurar e expiar.
Tudo aí está: alternância entre a vida espiritual, que ele chama de aromal, e a vida corpórea; esquecimento momentâneo durante esta vida, das existências anteriores, e lembrança do passado durante a primeira; expiação, pelas vicissitudes da vida.
Seu quadro dos infelizes que vêm mendigar à porta dos castelos de que foram donos em existências precedentes, parece calcado nas revelações dos Espíritos.
Por que razão aqueles que tão violentamente atacam hoje a doutrina da reencarnação, nada disseram quando Fourier dela fez uma das pedras angulares de sua teoria? É que, então, ela lhes parecia confinada nos falanstérios, ao passo que hoje percorre o mundo, além de outras razões facilmente compreensíveis, e que não precisamos abordar.
Aliás, ele não foi o único a ter a intuição dessa lei da Natureza. O germe dessa ideia é encontrado numa porção de escritores modernos. O Sr. Louis Jourdan, redator do Siècle, formulou-a de modo inequívoco no seu encantador livrinho Prères de Ludovic, publicado pela primeira vez em 1849, consequentemente antes que se cogitasse do Espiritismo, e é sabido que esse livro não é obra de ficção, mas de convicção.
Entre outras, coisas nele se lê o seguinte:
“Para mim, confesso, creio, mas creio firmemente, creio apaixonadamente, como se cria nas épocas primitivas, que cada
uma e cada um de nós prepara hoje a sua transformação futura, do mesmo modo que nossa existência atual é o produto de existências anteriores.” O livro é inteiramente assentado nessa base.
Agora encaremos a questão de outro ponto de vista, para responder a uma interrogação que a respeito nos foi feita várias vezes.
Algumas pessoas impugnam a doutrina da reencarnação, como contrária aos dogmas da Igreja, e daí concluem que a mesma não existe. O que é que se pode responder?
A resposta é muito simples. A reencarnação não é um sistema que depende dos homens adotá-la ou não, como se faz com um sistema político, econômico ou social. Se existe, é que está em a Natureza; é uma lei inerente à Humanidade, como comer, beber e dormir; uma alternativa da vida da alma, como a vigília e o sono são alternativas da vida do corpo. Se é uma lei da Natureza, não há uma opinião favorável que possa fazê-la prevalecer, nem uma opinião contrária que possa impedi-la de existir.
A Terra não gira em torno do Sol porque a gente acredita que ela gira, mas porque ela obedece a uma lei, e os anátemas que foram lançados contra essa lei não impediram que a Terra girasse. É assim com a reencarnação. Não será a opinião de alguns homens que os impedirá de renascerem, se tiverem que renascer.
Estabelecido que a reencarnação é uma lei da Natureza, suponhamos que ela não possa acomodar-se com um dogma. Trata-se de saber se a razão está com o dogma ou com a lei. Ora, quem é o autor de uma lei da Natureza, senão Deus? No caso, direi que não é a lei que contraria o dogma, mas o dogma que contraria a lei, pois qualquer lei da Natureza é anterior ao dogma, e os homens renasciam antes de ser estabelecido o dogma.
Se houvesse incompatibilidade absoluta entre um dogma e uma lei da Natureza, isso seria prova de que o dogma é obra dos homens, que não conheciam a lei, pois Deus não pode contradizer-se, desfazendo de um lado aquilo que fez do outro. Sustentar essa incompatibilidade é, pois, fazer o processo do dogma. Segue-se que o dogma é falso? Não, mas apenas que é susceptível de uma interpretação, como foi interpretada a Gênese, quando se reconheceu que os seis dias da criação não se acomodavam com a lei da formação do globo. A religião ganhará com isso, pois haverá menos incrédulos.
A questão é saber se existe ou não a lei da reencarnação. Para os espíritas, há milhares de provas contra uma, que é inútil aqui repetir. Direi apenas que o Espiritismo demonstra que a pluralidade de existências não só é possível, mas necessária, indispensável, e ele encontra a sua prova, sem falar da revelação dos Espíritos, numa inumerável multidão de fenômenos de ordem moral, psicológica e antropológica.
Tais fenômenos são efeitos que têm uma causa. Buscando-se a causa, encontramo-la na reencarnação, posta em evidência pela observação daqueles fenômenos, como a presença do Sol, embora oculto pelas nuvens, é posta em evidência pela luz do dia.
Para provar que está errada, ou que essa lei não existe, seria preciso explicar melhor, por outros meios, TUDO o que ela explica, o que ninguém ainda fez.
Antes da descoberta das propriedades da eletricidade, se alguém tivesse anunciado que poderia em cinco minutos corresponder-se a quinhentas léguas, não teriam faltado cientistas que lhe provassem cientificamente, pelas leis da mecânica, que a coisa era materialmente impossível, pois não conheciam outras leis. Para tanto havia necessidade da revelação de uma nova força. Assim com a reencarnação. É uma nova lei, que vem lançar luz sobre uma porção de questões obscuras e que modificará profundamente todas as ideias, quando for reconhecida.
Assim, não é a opinião de alguns homens que prova a existência dessa lei. São os fatos. Se invocamos o seu testemunho, é para demonstrar que ela tinha sido entrevista e suspeitada por outros, antes do Espiritismo, que não é o seu inventor, mas que a desenvolveu e lhe deduziu as consequências.
“Imagina qual não foi minha surpresa quando, na Doutrina Espírita, da qual não fazia a mínima ideia, reconheci toda a teoria de Fourier sobre a alma, a vida futura, a missão do homem na vida atual e a reencarnação das almas. Julga tu mesmo. Eis, em resumo, a teoria de Fourier:
“O homem está ligado ao planeta. Ele vive sua vida e não a deixa nem mesmo morrendo.
“Ele tem duas existências: a vida atual, que Fourier compara ao sono, e a vida que ele chama de aromal, a outra vida, numa palavra, que é o despertar. Sua alma passa alternativamente de uma vida à outra, e volta periodicamente a se reencarnar na vida atual.
“Na vida atual, a alma não tem o sentimento de suas vidas anteriores, mas o tem na vida aromal e vê todas as existências precedentes.
“As penas na vida aromal são os medos que as almas experimentam de serem condenadas, ao se reencarnarem na vida atual, a animar o corpo de um infeliz. Porque, diz Fourier, veem-se diariamente pessoas vindo pedir caridade à porta dos castelos dos quais foram donas em vida anterior, e acrescenta: “Se os homens estivessem bem convencidos da verdade que exponho ao mundo, todos se esforçariam por trabalhar pela felicidade de todos”.
“Vês, meu caro amigo, por esse curto extrato, quanto se assemelham a doutrina de Fourier e o Espiritismo e que, sendo eu falansteriano, não seria difícil fazer de mim um adepto da Doutrina Espírita.”
É impossível ser mais explícito sobre o capítulo da reencarnação. Não é apenas uma ideia vaga de existências sucessivas através de vários mundos. É neste que o homem renasce para se depurar e expiar.
Tudo aí está: alternância entre a vida espiritual, que ele chama de aromal, e a vida corpórea; esquecimento momentâneo durante esta vida, das existências anteriores, e lembrança do passado durante a primeira; expiação, pelas vicissitudes da vida.
Seu quadro dos infelizes que vêm mendigar à porta dos castelos de que foram donos em existências precedentes, parece calcado nas revelações dos Espíritos.
Por que razão aqueles que tão violentamente atacam hoje a doutrina da reencarnação, nada disseram quando Fourier dela fez uma das pedras angulares de sua teoria? É que, então, ela lhes parecia confinada nos falanstérios, ao passo que hoje percorre o mundo, além de outras razões facilmente compreensíveis, e que não precisamos abordar.
Aliás, ele não foi o único a ter a intuição dessa lei da Natureza. O germe dessa ideia é encontrado numa porção de escritores modernos. O Sr. Louis Jourdan, redator do Siècle, formulou-a de modo inequívoco no seu encantador livrinho Prères de Ludovic, publicado pela primeira vez em 1849, consequentemente antes que se cogitasse do Espiritismo, e é sabido que esse livro não é obra de ficção, mas de convicção.
Entre outras, coisas nele se lê o seguinte:
“Para mim, confesso, creio, mas creio firmemente, creio apaixonadamente, como se cria nas épocas primitivas, que cada
uma e cada um de nós prepara hoje a sua transformação futura, do mesmo modo que nossa existência atual é o produto de existências anteriores.” O livro é inteiramente assentado nessa base.
Agora encaremos a questão de outro ponto de vista, para responder a uma interrogação que a respeito nos foi feita várias vezes.
Algumas pessoas impugnam a doutrina da reencarnação, como contrária aos dogmas da Igreja, e daí concluem que a mesma não existe. O que é que se pode responder?
A resposta é muito simples. A reencarnação não é um sistema que depende dos homens adotá-la ou não, como se faz com um sistema político, econômico ou social. Se existe, é que está em a Natureza; é uma lei inerente à Humanidade, como comer, beber e dormir; uma alternativa da vida da alma, como a vigília e o sono são alternativas da vida do corpo. Se é uma lei da Natureza, não há uma opinião favorável que possa fazê-la prevalecer, nem uma opinião contrária que possa impedi-la de existir.
A Terra não gira em torno do Sol porque a gente acredita que ela gira, mas porque ela obedece a uma lei, e os anátemas que foram lançados contra essa lei não impediram que a Terra girasse. É assim com a reencarnação. Não será a opinião de alguns homens que os impedirá de renascerem, se tiverem que renascer.
Estabelecido que a reencarnação é uma lei da Natureza, suponhamos que ela não possa acomodar-se com um dogma. Trata-se de saber se a razão está com o dogma ou com a lei. Ora, quem é o autor de uma lei da Natureza, senão Deus? No caso, direi que não é a lei que contraria o dogma, mas o dogma que contraria a lei, pois qualquer lei da Natureza é anterior ao dogma, e os homens renasciam antes de ser estabelecido o dogma.
Se houvesse incompatibilidade absoluta entre um dogma e uma lei da Natureza, isso seria prova de que o dogma é obra dos homens, que não conheciam a lei, pois Deus não pode contradizer-se, desfazendo de um lado aquilo que fez do outro. Sustentar essa incompatibilidade é, pois, fazer o processo do dogma. Segue-se que o dogma é falso? Não, mas apenas que é susceptível de uma interpretação, como foi interpretada a Gênese, quando se reconheceu que os seis dias da criação não se acomodavam com a lei da formação do globo. A religião ganhará com isso, pois haverá menos incrédulos.
A questão é saber se existe ou não a lei da reencarnação. Para os espíritas, há milhares de provas contra uma, que é inútil aqui repetir. Direi apenas que o Espiritismo demonstra que a pluralidade de existências não só é possível, mas necessária, indispensável, e ele encontra a sua prova, sem falar da revelação dos Espíritos, numa inumerável multidão de fenômenos de ordem moral, psicológica e antropológica.
Tais fenômenos são efeitos que têm uma causa. Buscando-se a causa, encontramo-la na reencarnação, posta em evidência pela observação daqueles fenômenos, como a presença do Sol, embora oculto pelas nuvens, é posta em evidência pela luz do dia.
Para provar que está errada, ou que essa lei não existe, seria preciso explicar melhor, por outros meios, TUDO o que ela explica, o que ninguém ainda fez.
Antes da descoberta das propriedades da eletricidade, se alguém tivesse anunciado que poderia em cinco minutos corresponder-se a quinhentas léguas, não teriam faltado cientistas que lhe provassem cientificamente, pelas leis da mecânica, que a coisa era materialmente impossível, pois não conheciam outras leis. Para tanto havia necessidade da revelação de uma nova força. Assim com a reencarnação. É uma nova lei, que vem lançar luz sobre uma porção de questões obscuras e que modificará profundamente todas as ideias, quando for reconhecida.
Assim, não é a opinião de alguns homens que prova a existência dessa lei. São os fatos. Se invocamos o seu testemunho, é para demonstrar que ela tinha sido entrevista e suspeitada por outros, antes do Espiritismo, que não é o seu inventor, mas que a desenvolveu e lhe deduziu as consequências.
O Tugúrio e o Salão
Estudos de costumes Espíritas
Entre nossa correspondência antiga encontramos esta carta, que vem a propósito do artigo precedente.
Paris, 29 de julho de 1860.
Senhor,
Tomo a liberdade de vos comunicar as reflexões sugeridas por dois fatos por mim observados e que, com boas razões, poderiam ser qualificados de estudos de costumes espíritas. Vereis, por aqui, que os fenômenos morais têm valor para mim. Desde que me entreguei ao estudo do Espiritismo, parece que vejo cem vezes mais coisas que antes. Tal fato, ao qual não teria dado a mínima atenção, leva-me hoje a refletir. Estou ─ poderia dizer ─ ante um espetáculo perpétuo, no qual cada indivíduo tem o seu papel e me oferece um enigma a decifrar. É verdade que uns são tão fáceis, quando se possui a chave do Espiritismo, que se não tem grande mérito. Outros oferecem maior interesse, porque, com o Espiritismo, encontramo-nos como que num país cuja língua desconhecemos. Isso me tornou meditativo e observador, pois agora para mim tudo tem uma causa. Os mil e um fatos que outrora me pareciam produto do acaso e passavam despercebidos, hoje têm sua razão de ser e sua utilidade. Um nada, na ordem moral, atrai minha atenção e me é uma lição. Mas esquecia que é a propósito de uma lição que quero falar.
Sou professor de piano. Há tempos, indo à casa de uma de minhas alunas, de uma família da alta sociedade, entrei na portaria, não me lembro por quê. Uma senhora, com os punhos nos quadris, e que não se desqualificou nem pelo físico nem pelo moral, ocupava um canto. Eu a vi reprovar o comportamento da filha, menina de uns quinze anos, cujas maneiras estavam em chocante contraste com as da mãe.
─ Que fez a senhorita Justina ─ perguntei ─ para assim excitar a vossa cólera?
─ Nem me faleis, senhor, esta sirigaita não se dá conta de seus ares de duquesa! A senhorita não gosta de lavar a louça; acha que isso lhe estraga as mãos, que cheira mal, ela que foi criada com as vacas, na casa da avó. Ela tem medo de sujar as unhas; precisa de perfume para o lenço! Eu te darei perfumes! Eu!...
Então, uma valente bofetada a faz recuar quatro passos.
─ Ah! Vede, meu senhorzinho, é preciso corrigir as crianças quando pequenas. Jamais estraguei as minhas. Todos os meus filhos são bons operários, e é preciso que esta sirigaita perca os ares de grande dama.
Depois de haver dado uns conselhos, de doçura à mãe e de submissão à filha, subi para ter com a minha aluna, sem dar importância à cena de família.
Lá, por singular coincidência, vi a contrapartida. A mãe, mulher da sociedade, de belas maneiras, também repreendia a filha, mas por motivo oposto.
─ Mas tenha modos, Sofia, ─ dizia-lhe ela ─ você tem um verdadeiro aspecto de cozinheira. Não é de admirar. Você tem uma predileção particular pela cozinha, onde se sente melhor que na sala. Garanto que a Justina, a filha da porteira, teria vergonha de você. Dir-se-ia que vocês trocaram de berço.
Eu jamais havia notado essas particularidades. Foi necessária a aproximação das duas cenas para que as notasse. A senhorita Sofia, minha aluna, é uma jovem de dezoito anos, muito bela, mas seus traços têm algo de vulgar; suas maneiras são comuns e sem distinção; sua postura, seus movimentos têm algo de pesado e desajeitado. Eu ignorava sua inclinação pela cozinha. Pus-me, então, a comparar a pequena Justina, de instintos tão aristocráticos, e me perguntei se aí não estaria um exemplo chocante de pendores inatos, porquanto nas duas a educação foi impotente para modificá-los.
Por que uma, educada no seio da opulência e do bom-tom, tem gostos e maneiras vulgares, ao passo que a outra, que desde a infância viveu no meio mais rústico, tem o sentido da distinção e das coisas delicadas, a despeito dos corretivos da mãe para que perca o hábito?
Ó filósofos, que quereis sondar os refolhos do coração humano, explicai esses fenômenos sem as existências anteriores. Para mim, é indubitável que as duas moças têm o instinto daquilo que foram.
Que pensais disto, caro mestre?
Aceitai,
D...
Pensamos que a senhorita Justina, a porteira, bem poderia ser uma variante do que diz Charles Fourier: “Veem-se, todos os dias, pessoas mendigando à porta dos castelos de que foram donas em vidas precedentes.”
Quem sabe se a senhorinha Justina não teria sido a senhora desse palácio, e a senhorinha Sofia, a grande dama, a sua porteira?
Essa ideia é revoltante para certa gente que se não afaz ao pensamento de ter sido menos do que é, ou tornar-se criado de seu criado. Assim, o que se tornam as raças de puro sangue que se teve tanto cuidado de não mesclar?
Consolai-vos. O sangue dos vossos avós pode correr em vossas veias, pois o corpo procede do corpo. Quanto ao Espírito, é outra coisa. Mas que fazer, se assim é? Porque um homem se aborrece com a chuva, não deixará de chover.
Sem dúvida é humilhante pensar que de senhor se possa passar a servo e de rico a mendigo, mas nada é mais fácil do que impedir que assim seja. Basta não ser vão e orgulhoso para não ser rebaixado; ser bom e generoso para não ser reduzido a pedir aquilo que se recusou aos outros. Ser punido por aquilo em que se pecou, não é a mais justa das justiças? Sim, de grande a gente pode tornar-se pequeno, mas quando se foi bom, não se pode voltar a ser mau. Ora, não é melhor ser um proletário honesto que um rico vicioso?
Paris, 29 de julho de 1860.
Senhor,
Tomo a liberdade de vos comunicar as reflexões sugeridas por dois fatos por mim observados e que, com boas razões, poderiam ser qualificados de estudos de costumes espíritas. Vereis, por aqui, que os fenômenos morais têm valor para mim. Desde que me entreguei ao estudo do Espiritismo, parece que vejo cem vezes mais coisas que antes. Tal fato, ao qual não teria dado a mínima atenção, leva-me hoje a refletir. Estou ─ poderia dizer ─ ante um espetáculo perpétuo, no qual cada indivíduo tem o seu papel e me oferece um enigma a decifrar. É verdade que uns são tão fáceis, quando se possui a chave do Espiritismo, que se não tem grande mérito. Outros oferecem maior interesse, porque, com o Espiritismo, encontramo-nos como que num país cuja língua desconhecemos. Isso me tornou meditativo e observador, pois agora para mim tudo tem uma causa. Os mil e um fatos que outrora me pareciam produto do acaso e passavam despercebidos, hoje têm sua razão de ser e sua utilidade. Um nada, na ordem moral, atrai minha atenção e me é uma lição. Mas esquecia que é a propósito de uma lição que quero falar.
Sou professor de piano. Há tempos, indo à casa de uma de minhas alunas, de uma família da alta sociedade, entrei na portaria, não me lembro por quê. Uma senhora, com os punhos nos quadris, e que não se desqualificou nem pelo físico nem pelo moral, ocupava um canto. Eu a vi reprovar o comportamento da filha, menina de uns quinze anos, cujas maneiras estavam em chocante contraste com as da mãe.
─ Que fez a senhorita Justina ─ perguntei ─ para assim excitar a vossa cólera?
─ Nem me faleis, senhor, esta sirigaita não se dá conta de seus ares de duquesa! A senhorita não gosta de lavar a louça; acha que isso lhe estraga as mãos, que cheira mal, ela que foi criada com as vacas, na casa da avó. Ela tem medo de sujar as unhas; precisa de perfume para o lenço! Eu te darei perfumes! Eu!...
Então, uma valente bofetada a faz recuar quatro passos.
─ Ah! Vede, meu senhorzinho, é preciso corrigir as crianças quando pequenas. Jamais estraguei as minhas. Todos os meus filhos são bons operários, e é preciso que esta sirigaita perca os ares de grande dama.
Depois de haver dado uns conselhos, de doçura à mãe e de submissão à filha, subi para ter com a minha aluna, sem dar importância à cena de família.
Lá, por singular coincidência, vi a contrapartida. A mãe, mulher da sociedade, de belas maneiras, também repreendia a filha, mas por motivo oposto.
─ Mas tenha modos, Sofia, ─ dizia-lhe ela ─ você tem um verdadeiro aspecto de cozinheira. Não é de admirar. Você tem uma predileção particular pela cozinha, onde se sente melhor que na sala. Garanto que a Justina, a filha da porteira, teria vergonha de você. Dir-se-ia que vocês trocaram de berço.
Eu jamais havia notado essas particularidades. Foi necessária a aproximação das duas cenas para que as notasse. A senhorita Sofia, minha aluna, é uma jovem de dezoito anos, muito bela, mas seus traços têm algo de vulgar; suas maneiras são comuns e sem distinção; sua postura, seus movimentos têm algo de pesado e desajeitado. Eu ignorava sua inclinação pela cozinha. Pus-me, então, a comparar a pequena Justina, de instintos tão aristocráticos, e me perguntei se aí não estaria um exemplo chocante de pendores inatos, porquanto nas duas a educação foi impotente para modificá-los.
Por que uma, educada no seio da opulência e do bom-tom, tem gostos e maneiras vulgares, ao passo que a outra, que desde a infância viveu no meio mais rústico, tem o sentido da distinção e das coisas delicadas, a despeito dos corretivos da mãe para que perca o hábito?
Ó filósofos, que quereis sondar os refolhos do coração humano, explicai esses fenômenos sem as existências anteriores. Para mim, é indubitável que as duas moças têm o instinto daquilo que foram.
Que pensais disto, caro mestre?
Aceitai,
D...
Pensamos que a senhorita Justina, a porteira, bem poderia ser uma variante do que diz Charles Fourier: “Veem-se, todos os dias, pessoas mendigando à porta dos castelos de que foram donas em vidas precedentes.”
Quem sabe se a senhorinha Justina não teria sido a senhora desse palácio, e a senhorinha Sofia, a grande dama, a sua porteira?
Essa ideia é revoltante para certa gente que se não afaz ao pensamento de ter sido menos do que é, ou tornar-se criado de seu criado. Assim, o que se tornam as raças de puro sangue que se teve tanto cuidado de não mesclar?
Consolai-vos. O sangue dos vossos avós pode correr em vossas veias, pois o corpo procede do corpo. Quanto ao Espírito, é outra coisa. Mas que fazer, se assim é? Porque um homem se aborrece com a chuva, não deixará de chover.
Sem dúvida é humilhante pensar que de senhor se possa passar a servo e de rico a mendigo, mas nada é mais fácil do que impedir que assim seja. Basta não ser vão e orgulhoso para não ser rebaixado; ser bom e generoso para não ser reduzido a pedir aquilo que se recusou aos outros. Ser punido por aquilo em que se pecou, não é a mais justa das justiças? Sim, de grande a gente pode tornar-se pequeno, mas quando se foi bom, não se pode voltar a ser mau. Ora, não é melhor ser um proletário honesto que um rico vicioso?
Dissertações espíritas
Todos os santos
I
(PARIS, 1º DE NOVEMBRO DE 1862)
(MÉDIUM: SR. PERCHET, SARGENTO DO 40º DE LINHA, CASERNA DO PRÍNCIPE EUGÊNIO; MEMBRO DA SOCIEDADE DE PARIS)
Meu caro irmão, neste dia de comemoração dos mortos, sinto-me feliz por poder entreter-me contigo. Não imaginas como é grande o prazer que experimento. Chama-me, pois, com mais frequência, e ambos lucraremos.
Aqui nem sempre posso vir a ti, porque muitas vezes estou junto às minhas irmãs, especialmente junto à minha filhinha, que quase não deixo, pois pedi a missão de ficar junto a ela. Não obstante, posso com frequência responder ao teu chamado e será sempre uma felicidade ajudar-te com meus conselhos.
Falemos da festa de hoje. Nesta solenidade cheia de recolhimento, que aproxima o mundo visível do invisível, há felicidade e tristeza.
Felicidade, porque une em piedoso sentimento os membros dispersos da família. Neste dia a criança vem junto ao seu túmulo encontrar sua terna mãe, que molha a pedra sepulcral com suas lágrimas. O anjinho a abençoa e mistura seus votos aos pensamentos que caem, gota a gota, com as lágrimas da mãe querida. Como são doces ao Senhor essas castas preces, temperadas na fé e na saudade! Assim, subam aos pés do Eterno, como o suave perfume das flores e, do alto do Céu, Deus lance um olhar de misericórdia sobre este pequeno recanto da Terra e envie um de seus bons Espíritos para consolar esta alma sofredora e lhe dizer: “Consolai-vos, boa mãe. Vosso filho querido está na mansão dos bem-aventurados, vos ama e vos espera.”
Eu disse: dia de felicidade, e o repito, porque aqueles a quem a religião da saudade aqui leva a orar pelos que se foram, sabem que não é em vão, e que um dia irão rever os seres amados, dos quais se acham momentaneamente separados. Dia de felicidade, porque os Espíritos veem com alegria e ternura aqueles que lhes são caros merecerem, pela confiança em Deus, vir em breve participar da felicidade de que desfrutam.
Nesse dia de Todos os Santos, os mortos que corajosamente sofreram todas as provas impostas em vida, que se despojaram das coisas mundanas e educaram os filhos na fé e na caridade, esses Espíritos, repito, de boa vontade vêm associar-se às preces dos que deixaram, e lhes inspiram a firme vontade de marchar com perseverança pelo caminho do bem. Crianças, pais ou amigos, ajoelhados junto aos túmulos, experimentam íntima satisfação, porque têm consciência que os restos que lá estão, sob a lápide, não passam de uma lembrança do ser que eles encerraram e que agora se acha liberto das misérias terrenas.
Meu caro irmão, esses são os felizes. Até amanhã.
Aqui nem sempre posso vir a ti, porque muitas vezes estou junto às minhas irmãs, especialmente junto à minha filhinha, que quase não deixo, pois pedi a missão de ficar junto a ela. Não obstante, posso com frequência responder ao teu chamado e será sempre uma felicidade ajudar-te com meus conselhos.
Falemos da festa de hoje. Nesta solenidade cheia de recolhimento, que aproxima o mundo visível do invisível, há felicidade e tristeza.
Felicidade, porque une em piedoso sentimento os membros dispersos da família. Neste dia a criança vem junto ao seu túmulo encontrar sua terna mãe, que molha a pedra sepulcral com suas lágrimas. O anjinho a abençoa e mistura seus votos aos pensamentos que caem, gota a gota, com as lágrimas da mãe querida. Como são doces ao Senhor essas castas preces, temperadas na fé e na saudade! Assim, subam aos pés do Eterno, como o suave perfume das flores e, do alto do Céu, Deus lance um olhar de misericórdia sobre este pequeno recanto da Terra e envie um de seus bons Espíritos para consolar esta alma sofredora e lhe dizer: “Consolai-vos, boa mãe. Vosso filho querido está na mansão dos bem-aventurados, vos ama e vos espera.”
Eu disse: dia de felicidade, e o repito, porque aqueles a quem a religião da saudade aqui leva a orar pelos que se foram, sabem que não é em vão, e que um dia irão rever os seres amados, dos quais se acham momentaneamente separados. Dia de felicidade, porque os Espíritos veem com alegria e ternura aqueles que lhes são caros merecerem, pela confiança em Deus, vir em breve participar da felicidade de que desfrutam.
Nesse dia de Todos os Santos, os mortos que corajosamente sofreram todas as provas impostas em vida, que se despojaram das coisas mundanas e educaram os filhos na fé e na caridade, esses Espíritos, repito, de boa vontade vêm associar-se às preces dos que deixaram, e lhes inspiram a firme vontade de marchar com perseverança pelo caminho do bem. Crianças, pais ou amigos, ajoelhados junto aos túmulos, experimentam íntima satisfação, porque têm consciência que os restos que lá estão, sob a lápide, não passam de uma lembrança do ser que eles encerraram e que agora se acha liberto das misérias terrenas.
Meu caro irmão, esses são os felizes. Até amanhã.
II
Meu caro irmão, fiel à minha promessa, venho a ti. Como havia dito ao deixarte, ontem à noite, fui fazer uma visita ao cemitério. Lá examinei atentamente os vários Espíritos sofredores. Eles causam pena. Esse espetáculo chocante arrancaria lágrimas do mais duro coração.
Contudo, em grande número essas almas são aliviadas pelos vivos e pela assistência dos bons Espíritos, principalmente quando se arrependeram das faltas terrenas e fazem esforços por se despojarem de suas imperfeições, causa única de seus sofrimentos. Agora eles compreendem a sabedoria, a bondade, a grandeza de Deus, e pedem o favor de novas provas para satisfazerem à justiça divina, expiar e reparar suas faltas e conquistar um futuro melhor.
Orai, pois, caros amigos, de todo o vosso coração, por esses Espíritos arrependidos que acabam de ser esclarecidos por uma centelha de luz. Até agora eles não haviam acreditado nas delícias eternas porque, em sua punição, o cúmulo do tormento era não poderem esperar. Julgai sua alegria quando se rompeu o véu das trevas e o anjo do Senhor lhes abriu os olhos feridos de cegueira à luz da fé.
Eles são felizes, entretanto, em geral não têm ilusões quanto ao futuro. Muitos dentre eles sabem que devem sofrer terríveis provas. Assim, reclamam insistentemente as preces dos vivos e a assistência dos bons Espíritos, a fim de poderem suportar com resignação a tarefa difícil que lhes será imposta.
Digo-vos, ainda, e nunca seria demasiado repeti-lo para bem vos convencer desta grande verdade: Orai do fundo do coração por todos os Espíritos que sofrem, sem distinção de casta ou seita, porque todos os homens são irmãos e se devem mútuo auxílio.
Espíritas fervorosos, sobretudo vós, que conheceis a situação dos Espíritos sofredores e sabeis apreciar as fases da vida; vós, que conheceis as dificuldades que eles têm a vencer, vinde em seu auxílio. É uma bela caridade orar pelos pobres irmãos desconhecidos, muitas vezes por todos esquecidos, e cujo reconhecimento não sabeis avaliar, quando se veem assistidos. A prece é para eles o que o orvalho é para a terra calcinada pelo calor.
Figurai um desconhecido, caído em qualquer obscuro desvio de um caminho, em noite escura. Seus pés estão feridos pela longa caminhada. Ele sente o aguilhão da fome e uma sede ardente. Aos sofrimentos físicos juntam-se todas as torturas morais. O desespero está a dois passos. Em vão ele solta gritos dilacerantes aos quatro ventos, mas nenhum eco amigo responde ao apelo desesperado.
Então! Imaginai que no instante em que essa infeliz criatura chegou aos extremos do sofrimento, mão compassiva vem pousar suavemente em seu ombro e lhe trazer o socorro que sua situação reclama. Imaginai, antão, se possível, o contentamento desse homem, e tereis uma pálida ideia da felicidade dada pela prece aos Espíritos infelizes, que suportam a angústia da punição e do isolamento. Eles vos serão eternamente agradecidos porque, tende certeza, no mundo dos Espíritos não há ingratos como na vossa Terra.
Eu disse que Todos os Santos é uma solenidade surgida da tristeza, realmente uma grande tristeza, pois também chama a atenção para a classe desses Espíritos que, na existência terrena, se votaram ao materialismo, ao egoísmo; que não quiseram reconhecer outros deuses senão as miseráveis vaidades de seu mundo ínfimo; que não temeram empregar todos os meios ilícitos para aumentar suas riquezas e muitas vezes jogar gente honesta na miséria. Entre esses se acham os que interromperam a existência por uma morte violenta, bem como aqueles que durante sua vida arrastaram-se na lama da impureza.
Meu caro irmão, que horríveis tormentos para todos esses! É exatamente como diz a Escritura: “Haverá choro e ranger de dentes”. Eles serão mergulhados no abismo profundo das trevas. Esses infelizes são vulgarmente chamados os danados e, posto seja mais exato chamá-los os punidos, nem por isso sofrem menos as terríveis torturas que se atribuem aos danados em meio às chamas. Envoltos nas mais espessas trevas de um abismo que lhes parece insondável, posto não seja circunscrito, como vos ensinam, experimentam sofrimentos morais indescritíveis, até abrirem o coração ao arrependimento.
Alguns, por vezes, ficam durante séculos nesse estado, sem poderem prever o fim de seus tormentos, Assim, eles se dizem condenados por toda a eternidade. Essa opinião errônea, durante muito tempo encontrou guarida entre vós. É um erro grave, porque, mais cedo ou mais tarde, esses Espíritos se abrem ao arrependimento e então, Deus, apiedado de suas desgraças, lhes envia um anjo que lhes dirige palavras consoladoras e lhes abre um caminho tanto mais largo quanto mais tiverem para ele sido feitas preces aos pés do Eterno.
Irmão, vês que as preces são sempre úteis aos culpados, e se elas não alteram os desígnios imutáveis de Deus, nem por isso dão menos alívio aos Espíritos sofredores, trazendo-lhes o suave pensamento de ainda se acharem na lembrança de almas piedosas. Assim, o prisioneiro sente o coração pular de alegria quando, através de suas tristes grades, percebe o rosto de algum parente ou amigo que não esqueceu sua desgraça.
Se o Espírito sofredor for muito endurecido, muito material, para que a prece lhe atinja a alma, um Espírito puro a recolhe como um aroma precioso e a deposita nas ânforas celestes, até o dia em que elas puderem servir ao culpado.
Para que a prece dê frutos, não basta balbuciar as palavras, como faz a maioria das criaturas. A única prece agradável ao Senhor é a que parte do coração, a única que é considerada, e que alivia os Espíritos sofredores.
Contudo, em grande número essas almas são aliviadas pelos vivos e pela assistência dos bons Espíritos, principalmente quando se arrependeram das faltas terrenas e fazem esforços por se despojarem de suas imperfeições, causa única de seus sofrimentos. Agora eles compreendem a sabedoria, a bondade, a grandeza de Deus, e pedem o favor de novas provas para satisfazerem à justiça divina, expiar e reparar suas faltas e conquistar um futuro melhor.
Orai, pois, caros amigos, de todo o vosso coração, por esses Espíritos arrependidos que acabam de ser esclarecidos por uma centelha de luz. Até agora eles não haviam acreditado nas delícias eternas porque, em sua punição, o cúmulo do tormento era não poderem esperar. Julgai sua alegria quando se rompeu o véu das trevas e o anjo do Senhor lhes abriu os olhos feridos de cegueira à luz da fé.
Eles são felizes, entretanto, em geral não têm ilusões quanto ao futuro. Muitos dentre eles sabem que devem sofrer terríveis provas. Assim, reclamam insistentemente as preces dos vivos e a assistência dos bons Espíritos, a fim de poderem suportar com resignação a tarefa difícil que lhes será imposta.
Digo-vos, ainda, e nunca seria demasiado repeti-lo para bem vos convencer desta grande verdade: Orai do fundo do coração por todos os Espíritos que sofrem, sem distinção de casta ou seita, porque todos os homens são irmãos e se devem mútuo auxílio.
Espíritas fervorosos, sobretudo vós, que conheceis a situação dos Espíritos sofredores e sabeis apreciar as fases da vida; vós, que conheceis as dificuldades que eles têm a vencer, vinde em seu auxílio. É uma bela caridade orar pelos pobres irmãos desconhecidos, muitas vezes por todos esquecidos, e cujo reconhecimento não sabeis avaliar, quando se veem assistidos. A prece é para eles o que o orvalho é para a terra calcinada pelo calor.
Figurai um desconhecido, caído em qualquer obscuro desvio de um caminho, em noite escura. Seus pés estão feridos pela longa caminhada. Ele sente o aguilhão da fome e uma sede ardente. Aos sofrimentos físicos juntam-se todas as torturas morais. O desespero está a dois passos. Em vão ele solta gritos dilacerantes aos quatro ventos, mas nenhum eco amigo responde ao apelo desesperado.
Então! Imaginai que no instante em que essa infeliz criatura chegou aos extremos do sofrimento, mão compassiva vem pousar suavemente em seu ombro e lhe trazer o socorro que sua situação reclama. Imaginai, antão, se possível, o contentamento desse homem, e tereis uma pálida ideia da felicidade dada pela prece aos Espíritos infelizes, que suportam a angústia da punição e do isolamento. Eles vos serão eternamente agradecidos porque, tende certeza, no mundo dos Espíritos não há ingratos como na vossa Terra.
Eu disse que Todos os Santos é uma solenidade surgida da tristeza, realmente uma grande tristeza, pois também chama a atenção para a classe desses Espíritos que, na existência terrena, se votaram ao materialismo, ao egoísmo; que não quiseram reconhecer outros deuses senão as miseráveis vaidades de seu mundo ínfimo; que não temeram empregar todos os meios ilícitos para aumentar suas riquezas e muitas vezes jogar gente honesta na miséria. Entre esses se acham os que interromperam a existência por uma morte violenta, bem como aqueles que durante sua vida arrastaram-se na lama da impureza.
Meu caro irmão, que horríveis tormentos para todos esses! É exatamente como diz a Escritura: “Haverá choro e ranger de dentes”. Eles serão mergulhados no abismo profundo das trevas. Esses infelizes são vulgarmente chamados os danados e, posto seja mais exato chamá-los os punidos, nem por isso sofrem menos as terríveis torturas que se atribuem aos danados em meio às chamas. Envoltos nas mais espessas trevas de um abismo que lhes parece insondável, posto não seja circunscrito, como vos ensinam, experimentam sofrimentos morais indescritíveis, até abrirem o coração ao arrependimento.
Alguns, por vezes, ficam durante séculos nesse estado, sem poderem prever o fim de seus tormentos, Assim, eles se dizem condenados por toda a eternidade. Essa opinião errônea, durante muito tempo encontrou guarida entre vós. É um erro grave, porque, mais cedo ou mais tarde, esses Espíritos se abrem ao arrependimento e então, Deus, apiedado de suas desgraças, lhes envia um anjo que lhes dirige palavras consoladoras e lhes abre um caminho tanto mais largo quanto mais tiverem para ele sido feitas preces aos pés do Eterno.
Irmão, vês que as preces são sempre úteis aos culpados, e se elas não alteram os desígnios imutáveis de Deus, nem por isso dão menos alívio aos Espíritos sofredores, trazendo-lhes o suave pensamento de ainda se acharem na lembrança de almas piedosas. Assim, o prisioneiro sente o coração pular de alegria quando, através de suas tristes grades, percebe o rosto de algum parente ou amigo que não esqueceu sua desgraça.
Se o Espírito sofredor for muito endurecido, muito material, para que a prece lhe atinja a alma, um Espírito puro a recolhe como um aroma precioso e a deposita nas ânforas celestes, até o dia em que elas puderem servir ao culpado.
Para que a prece dê frutos, não basta balbuciar as palavras, como faz a maioria das criaturas. A única prece agradável ao Senhor é a que parte do coração, a única que é considerada, e que alivia os Espíritos sofredores.
De tua irmã que te ama,
Marguerite
Pergunta (feita na Sociedade):
Que pensar da seguinte passagem desta comunicação, onde foi dito: “Eu vos asseguro que em nosso mundo não há ingratos como na vossa Terra?” Sendo as almas dos homens Espíritos encarnados, trazem consigo seus vícios e suas virtudes. As imperfeições dos homens vêm das imperfeições do Espírito, como suas qualidades vêm das qualidades adquiridas. Assim, e considerando-se que se encontram nos Espíritos os mais ignóbeis vícios, não se compreenderia que não se pudesse encontrar a ingratidão muitas vezes se encontra na Terra.
Resposta (por intermédio do Sr. Perchet):
Sem dúvida, há ingratos no mundo dos Espíritos, e podeis colocar em primeiro plano os obsessores e os malévolos, que fazem esforços por vos inculcar pensamentos perversos; que fazem tudo o que podem para vos inculcar seus pensamentos perversos, a despeito do bem que lhes façais, orando por eles. Sua ingratidão, entretanto, é apenas momentânea, porque a hora do arrependimento soa para eles, mais cedo ou mais tarde. Então seus olhos se abrem à luz e seus corações também se abrem para sempre ao reconhecimento. Na Terra não é assim, e a cada passo encontrareis homens que, malgrado todo o bem que lhes façais, não pagam, até o fim, senão com a mais notória ingratidão.
A passagem que provocou essa observação só é obscura porque lhe falta extensão. Eu só encarava a questão do ponto de vista dos Espíritos abertos ao arrependimento e, por isso mesmo, aptos a colher imediatamente os frutos da prece. Encaminhados, esses Espíritos, à boa via, e não podendo retrogradar, é claro que neles não poderia extinguir-se o reconhecimento.
Para não haver confusão, redigirei assim a frase que suscitou a observação: “Eles vos serão eternamente reconhecidos porque, tende certeza, entre os Espíritos, aqueles a quem tiverdes levado ao bom caminho não poderiam ser ingratos”.
Resposta (por intermédio do Sr. Perchet):
Sem dúvida, há ingratos no mundo dos Espíritos, e podeis colocar em primeiro plano os obsessores e os malévolos, que fazem esforços por vos inculcar pensamentos perversos; que fazem tudo o que podem para vos inculcar seus pensamentos perversos, a despeito do bem que lhes façais, orando por eles. Sua ingratidão, entretanto, é apenas momentânea, porque a hora do arrependimento soa para eles, mais cedo ou mais tarde. Então seus olhos se abrem à luz e seus corações também se abrem para sempre ao reconhecimento. Na Terra não é assim, e a cada passo encontrareis homens que, malgrado todo o bem que lhes façais, não pagam, até o fim, senão com a mais notória ingratidão.
A passagem que provocou essa observação só é obscura porque lhe falta extensão. Eu só encarava a questão do ponto de vista dos Espíritos abertos ao arrependimento e, por isso mesmo, aptos a colher imediatamente os frutos da prece. Encaminhados, esses Espíritos, à boa via, e não podendo retrogradar, é claro que neles não poderia extinguir-se o reconhecimento.
Para não haver confusão, redigirei assim a frase que suscitou a observação: “Eles vos serão eternamente reconhecidos porque, tende certeza, entre os Espíritos, aqueles a quem tiverdes levado ao bom caminho não poderiam ser ingratos”.
MARGUERITE
OBSERVAÇÃO: Essas comunicações, como muitas outras de moralidade não menos elevada, foram obtidas pelo Sr. Perché em sua caserna, onde conta vários camaradas, que partilham de suas crenças espíritas e a estas conformam sua conduta. Perguntaremos aos detratores do Espiritismo se esses militares receberiam melhores conselhos de moral no cabaré. Se aí está a linguagem de Satã, este se fez eremita. E certo que está muito velho!
Nesta ocasião, perguntaremos ao Sr. Tony, o espirituoso e sobretudo muito lógico jornalista de Rochefort, que acredita que o Espiritismo é um dos males saídos da caixa de Pandora e uma dessas coisas malsãs estudadas pela higiene pública e a moral; nós lhe perguntaremos — íamos dizendo — que e o que há de malsão e de contrário à higiene nessa comunicação e se esses militares perderam a moralidade e a saúde, ao renunciarem aos maus lugares em favor da prece.
Nesta ocasião, perguntaremos ao Sr. Tony, o espirituoso e sobretudo muito lógico jornalista de Rochefort, que acredita que o Espiritismo é um dos males saídos da caixa de Pandora e uma dessas coisas malsãs estudadas pela higiene pública e a moral; nós lhe perguntaremos — íamos dizendo — que e o que há de malsão e de contrário à higiene nessa comunicação e se esses militares perderam a moralidade e a saúde, ao renunciarem aos maus lugares em favor da prece.
Dispensário Magnético
Fundado pelo Sr. Canelle, II, Rue Neuve-Des-Martyrs em Paris
O primeiro artigo deste número ressalta as relações existentes entre o Magnetismo e o Espiritismo e mostra o auxílio que, em numerosos casos, pode o magnetizador obter dos conhecimentos espíritas, casos nos quais a ideia materialista só poderia paralisar a influência salutar. Essas relações destacar-se-ão ainda mais no segundo artigo, que publicaremos no próximo número.
Levando ao conhecimento dos leitores a formação do estabelecimento dirigido pelo Sr. Canelle, que conhecemos pessoalmente e de longa data como magnetizador experimentado, não só espiritualista, mas sinceramente espírita, sentimo-nos feliz ao lhe dar esse testemunho de nossa simpatia.
O tratamento é dirigido por ele e por vários médicos magnetizadores. Sessões especiais são consagradas às magnetizações gratuitas. Para mais amplas informações vejam os prospectos.
Levando ao conhecimento dos leitores a formação do estabelecimento dirigido pelo Sr. Canelle, que conhecemos pessoalmente e de longa data como magnetizador experimentado, não só espiritualista, mas sinceramente espírita, sentimo-nos feliz ao lhe dar esse testemunho de nossa simpatia.
O tratamento é dirigido por ele e por vários médicos magnetizadores. Sessões especiais são consagradas às magnetizações gratuitas. Para mais amplas informações vejam os prospectos.
Resposta a um senhor de Bordeaux
Um senhor de Bordeaux escreveu-nos uma carta, aliás muito polida, mas contendo uma crítica, do ponto de vista religioso, ao artigo do número de novembro sobre a Origem da Linguagem, o qual, diga-se de passagem, encontrou numerosos admiradores. Como a carta não traz assinatura nem endereço, fizemos o que se faz com toda carta anônima: foi para a cesta de lixo.
ERRATUM
No artigo publicado no último número sobre Um remédio dado pelos Espíritos, foi omitido que antes da aplicação do ungüento é preciso lavar a ferida com água de malva ou outra loção refrescante.
ALLAN KARDEC
No artigo publicado no último número sobre Um remédio dado pelos Espíritos, foi omitido que antes da aplicação do ungüento é preciso lavar a ferida com água de malva ou outra loção refrescante.
ALLAN KARDEC