Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1865

Allan Kardec

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Fevereiro

Da apreensão da morte.

O homem, seja qual for o grau da escala social a que pertença, a partir do estado selvageria, tem o sentimento inato do futuro. Diz-lhe a intuição que a morte não é a última palavra da existência e que aqueles que lamentamos não estão perdidos para sempre. A crença no futuro é intuitiva e infinitamente mais geral do que a no nada. Como é, pois, que, entre os que creem na imortalidade da alma, ainda se encontra tanto apego às coisas da Terra, e tão grande temor da morte?

O temor da morte é efeito da sabedoria da Providência, e uma consequência do instinto de conservação comum a todos os seres vivos. Ela é necessária enquanto o homem não for bastante esclarecido quanto às condições da vida futura, como contrapeso ao arrastamento que sem esse freio o levaria a deixar prematuramente a vida terrestre e a negligenciar o trabalho daqui, que deve servir para o seu próprio adiantamento.

É por isto que nos povos primitivos o futuro não é mais que uma vaga intuição, depois uma simples esperança, e mais tarde, enfim, uma certeza, mas ainda contrabalançada por um secreto apego à vida corporal.

À medida que o homem melhor compreende a vida futura, diminui o temor da morte, mas, ao mesmo tempo, melhor compreendendo a sua missão na Terra, ele espera seu fim com mais calma, resignação e sem medo. A certeza da vida futura dá outro curso às suas ideias, outro objetivo a seus trabalhos. Antes de ter essa certeza, ele só trabalha para o presente; com essa certeza ele trabalha em vista do futuro, sem negligenciar o presente, porque sabe que seu futuro depende da direção mais ou menos boa que der ao presente. A certeza de reencontrar os amigos após a morte; de continuar as relações que teve na Terra; de não perder o fruto de nenhum trabalho e de crescer incessantemente em inteligência e em perfeição, lhe dá paciência para esperar e coragem para suportar as momentâneas fadigas da vida terrena. A solidariedade que vê estabelecer-se entre os mortos e os vivos lhe faz compreender a que deve existir entre os vivos, e a partir de então, a fraternidade tem sua razão de ser e a caridade um objetivo no presente e no futuro.

Para libertar-se das apreensões da morte, deve poder encará-la sob seu verdadeiro ponto de vista, isto é, ter penetrado por pensamento no mundo invisível e dele ter feito uma ideia tão exata quanto possível, o que denota no Espírito encarnado um certo desenvolvimento e uma certa aptidão para se desprender da matéria. Naqueles que não são suficientemente avançados, a vida material ainda predomina sobre a vida espiritual. Ligando-se ao exterior, o homem só vê vida no corpo, ao passo que a vida real está na alma. Estando o corpo privado de vida, aos seus olhos tudo está perdido e ele se desespera. Se, em vez de concentrar o pensamento na vestimenta externa, ele a voltasse para a própria fonte da vida, sobre a alma, que é o ser real a tudo sobrevivente, lamentaria menos o corpo, fonte de tantas misérias e dores. Mas para isto é preciso uma força que o Espírito só adquire com a maturidade.

O temor da morte tem sua razão de ser, portanto, na insuficiência das noções sobre a vida futura, mas denota a necessidade de viver, e o medo de que a destruição do corpo seja o fim de tudo. É, assim, provocado pelo secreto desejo da sobrevivência da alma, ainda velada pela incerteza.

O temor enfraquece à medida que cresce a certeza; desaparece quando a certeza é completa.

Eis o lado providencial da questão. Era sábio não perturbar o homem cuja razão ainda não era bastante forte para suportar a perspectiva, muito positiva e muito sedutora, de um futuro que lhe tivesse feito negligenciar o presente necessário ao seu adiantamento material e intelectual.

Esse estado de coisas é alimentado e prolongado por causas puramente humanas, que desaparecerão com o progresso. A primeira é o aspecto sob o qual é apresentada a vida futura, aspecto que podia bastar a inteligências pouco adiantadas, mas que não poderia satisfazer às exigências da razão dos homens que refletissem. Dizem eles que, se lhes apresentam como verdades absolutas princípios contraditados pela lógica e pelos dados positivos da ciência, é que não são verdades. Daí a incredulidade de alguns e, num grande número, uma crença mesclada pela dúvida. A vida futura é para eles uma ideia vaga, antes uma probabilidade que uma certeza absoluta; creem nela, quereriam que assim fosse e, malgrado seu, dizem para si mesmos: “E se não for assim? O presente é uma certeza. Para começar, ocupemo-nos com ele. O futuro virá por acréscimo.”

E depois acrescentam: “Definitivamente, o que é a alma? É um ponto, um átomo, uma centelha, uma chama? Como ela sente? Como ela vê? Como ela percebe?”

Para eles a alma não é uma realidade efetiva. É uma abstração. Os seres que lhe são caros, reduzidos ao estado de átomos, em seu pensamento, estão para eles, por assim dizer, perdidos, e aos seus olhos não mais têm as qualidades que lhes davam a capacidade de amar. Eles não compreendem o amor de uma centelha, nem o que se pudesse ter por ela, e eles próprios ficam satisfeitos por serem transformados em mônadas. Daí a volta ao positivismo da vida terrena, que tem algo de mais substancial. O número daqueles que são dominados por estas ideias é considerável.

Outra razão que liga às coisas terrenas até mesmo aqueles que acreditam mais firmemente na vida futura se deve à impressão, que eles conservam, do ensino que lhes foi dado desde a infância.

O quadro que dela faz a religião, é forçoso convir, não é muito sedutor nem muito consolador. De um lado veem-se as contorções dos danados que expiam nas torturas e nas chamas sem fim os seus erros de um momento. Para esses, séculos se sucedam a séculos, sem esperança de abrandamento nem de piedade, e o que é ainda mais impiedoso, é que para eles o arrependimento é ineficaz. De outro lado, as almas lânguidas e sofredoras do purgatório, esperando sua libertação, que depende da boa vontade dos vivos que orarem, ou mandarem orar por elas, e não de seus esforços para progredir. Estas duas categorias compõem a imensa maioria da população de além-túmulo. Acima, paira a muito restrita categoria dos eleitos, gozando, durante a eternidade, de uma beatitude contemplativa. Essa eterna inutilidade, embora sem dúvida preferível ao nada, não deixa de ser de uma fastidiosa monotonia. Assim, nas pinturas que retratam os bem-aventurados, veem-se figuras que, conquanto angélicas, respiram mais aborrecimento do que a verdadeira felicidade.

Esse estado não satisfaz às aspirações nem à ideia instintiva do progresso, o único que parece compatível com a felicidade absoluta. Tem-se dificuldade de conceber que o selvagem ignorante, obtuso no sentido moral, só porque recebeu o batismo, esteja no mesmo nível daquele que chegou ao mais alto grau do conhecimento e da moralidade prática, após longos anos de trabalho. É ainda menos concebível que o menino falecido em tenra idade, antes de ter consciência de si mesmo e de seus atos, goze dos mesmos privilégios, tão somente por força de uma cerimônia na qual sua vontade não tomou parte.

Esses pensamentos não deixam de agitar os mais fervorosos, por pouco que reflitam. O trabalho progressivo que a gente realiza na Terra nada valendo para a felicidade futura; a facilidade com a qual creem adquirir essa felicidade por meio de algumas práticas exteriores; a própria possibilidade de comprá-la com dinheiro, sem reforma séria do caráter e dos hábitos, deixam aos prazeres do mundo todo o seu valor. Mais de um crente diz, no seu foro íntimo, que, considerando-se que seu futuro está assegurado pela prática de certas fórmulas, ou por dons póstumos que de nada o privam, seria supérfluo impor-se sacrifícios ou um aborrecimento qualquer em proveito de outrem, pois se consegue a salvação cada um trabalhando para si.

Certamente tal não é o pensamento de todos, pois há grandes e belas exceções, mas é incontestável que esse é o pensamento da maioria, sobretudo das massas pouco esclarecidas, e que a ideia feita das condições para ser feliz no outro mundo não tem ligação com os bens deste, o que tem por consequência o egoísmo.

Ajuntemos a isto que tudo, nos costumes, concorre para que a vida terrestre seja lamentada e a passagem da Terra ao Céu seja temida. A morte não é cercada senão de cerimônias lúgubres que mais aterrorizam do que provocam esperanças. Se se representa a morte, é sempre sob um aspecto repelente, e jamais como um sono de transição. Todos os seus símbolos lembram a destruição do corpo e o mostram horrível e descarnado. Nenhum simboliza a alma se desprendendo radiosa de seus laços terrenos. A partida para esse mundo mais feliz não é acompanhada senão pelas lamentações dos sobreviventes, como se acontecesse a maior desgraça aos que se vão. Dizem-lhe um eterno adeus, como se jamais pudessem revê-los. O que lamentam por eles são os gozos daqui de baixo, como se eles não devessem encontrar gozos maiores no além-túmulo. Que desgraça, dizem, morrer quando se é moço, rico, feliz e se tem pela frente um brilhante futuro! A ideia de uma situação mais feliz aflora debilmente ao pensamento, porque não tem raízes. Tudo, pois, concorre para inspirar o pavor da morte em vez de fazer nascer a esperança. O homem sem dúvida levará muito tempo para se desfazer desses preconceitos, mas lá chegará à medida que se firmar a sua fé e que ele fizer uma ideia mais sã da vida espiritual.

A doutrina espírita muda inteiramente a maneira de encarar o futuro. A vida futura não é mais uma hipótese, mas uma realidade; o estado das almas após a morte não é mais um sistema, mas um resultado da observação. O véu está levantado; o mundo invisível nos aparece em toda a sua realidade prática. Não foram os homens que o descobriram pelo esforço de uma concepção engenhosa, mas foram os próprios habitantes desse mundo que nos vieram descrever sua situação. Nós aí os vemos em todos os graus da escala espiritual, em todas as fases da felicidade e da desgraça. Nós assistimos a todas as peripécias da vida de além-túmulo. Aí está para os espíritas a causa da calma com que encaram a morte, da serenidade de seus últimos instantes na Terra. O que os sustenta não é somente a esperança, é a certeza. Eles sabem que a vida futura é apenas a continuação da vida presente em melhores condições, e a esperam com a mesma confiança com que esperam o nascer do Sol após uma noite de tempestade. Os motivos dessa confiança estão nos fatos de que são testemunhas e na concordância desses fatos com a lógica, as aspirações íntimas do homem e a justiça e a bondade de Deus.

Além disso, a crença vulgar coloca as almas em regiões só acessíveis ao pensamento, onde elas se tornam de certo modo estranhas aos sobreviventes. A própria Igreja põe entre elas e estes últimos uma barreira intransponível, pois declara que todas as relações são rompidas e toda comunicação é impossível. Se estiverem no inferno, toda esperança de revê-las está perdida para sempre, a menos que se vá também para lá; se estiverem entre os eleitos, estarão totalmente absorvidas por sua beatitude contemplativa. Tudo isto estabelece entre os mortos e os vivos uma tal distância, que se olha a separação como eterna, por isto ainda preferem tê-las perto de si, sofrendo na Terra, do que vê-las partirem, mesmo para o Céu. Ademais, a alma que está no Céu é realmente feliz ao ver, por exemplo, seu filho, seu pai, sua mãe ou seus amigos queimando eternamente?

Para os espíritas a alma não é mais uma abstração. Ela tem um corpo etéreo que dela faz um ser definido que o pensamento abarca e concebe. Isto já é muito para fixar as ideias sobre sua individualidade, suas aptidões e suas percepções. A lembrança dos que nos são caros repousa sobre algo real. Eles não são mais representados como chamas fugidias que nada lembram ao pensamento, mas sob uma forma concreta, que no-los mostra melhor como seres vivos. Depois, em vez de estarem perdidos nas profundezas do espaço, estão em redor de nós. O mundo visível e o mundo invisível estão em relações perpétuas e se apoiam mutuamente. Não mais sendo permitida a dúvida sobre o futuro, o temor da morte não tem mais razão de ser. Ela é encarada com sangue frio, como uma libertação, como a porta da vida, e não como a porta do nada.

Da perpetuidade do Espiritismo

Num artigo anterior falamos dos incessantes progressos do Espiritismo. Serão esses progressos duráveis ou efêmeros? É um meteoro que brilha com luz passageira, como tantas outras coisas? É o que vamos examinar em poucas palavras.

Se o Espiritismo fosse uma simples teoria, uma escola filosófica fundada numa opinião pessoal, nada garantiria a sua estabilidade, porque ele poderia agradar hoje e não agradar amanhã; num dado tempo poderia não estar mais em harmonia com os costumes e o desenvolvimento intelectual, e então cairia, como todas as coisas superadas que não acompanharam o movimento; enfim poderia ser substituído por algo de melhor. Assim é com todas as concepções humanas, todas as legislações, todas as doutrinas puramente especulativas.

O Espiritismo apresenta-se em condições completamente outras, como tantas vezes temos ressaltado. Ele repousa sobre um fato, o da comunicação entre o mundo visível e o invisível. Ora, um fato não pode ser anulado pelo tempo, como uma opinião. Sem dúvida ainda não é admitido por todos, mas que importam as negações de alguns, quando ele é constatado diariamente por milhões de indivíduos, cujo número cresce incessantemente, e que não são nem mais tolos nem mais cegos que outros? Virá, pois, um momento em que ele não encontrará mais negadores, assim como atualmente não há mais negadores do movimento da Terra.

Quanta oposição não levantou este último fato! Durante muito tempo não faltaram aos incrédulos boas razões aparentes para contestá-lo. “Como crer, diziam eles, na existência dos antípodas, caminhando de cabeça para baixo? E se a Terra gira, como pretendem, como crer que nós próprios estejamos, de vinte e quatro em vinte e quatro horas, nessa posição incômoda sem nos apercebermos? Nesse estado, não mais poderíamos ficar ligados à Terra, a não ser que caminhássemos contra um teto, com os pés no ar, à maneira de moscas. E depois, que aconteceria aos mares? A água não se derrama quando se inclina o vaso? A coisa é simplesmente impossível, portanto é absurda, e Galileu é um louco.”

Entretanto, sendo essa coisa absurda um fato, ela triunfou sobre todas as razões contrárias e sobre todos os anátemas. Que faltava para admitir a sua possibilidade? O conhecimento da lei natural sobre a qual ela repousa. Se Galileu se tivesse contentado em dizer que a Terra gira, ainda agora não acreditariam nele, mas as denegações caíram ante o conhecimento do princípio.

O mesmo se dará com o Espiritismo. Considerando-se que ele repousa sobre um fato material existente em virtude de uma lei explicada e demonstrada que lhe tira todo caráter sobrenatural e maravilhoso, ele é imperecível. Aqueles que negam a possibilidade das manifestações estão no mesmo caso dos que negaram o movimento da Terra. A maioria nega a causa primeira, isto é, a alma, sua sobrevivência e sua individualidade. Então não é de surpreender que neguem o efeito. Eles julgam pelo simples enunciado do fato, e o declaram absurdo, como outrora declaravam absurda a crença nos antípodas. Mas, que pode sua opinião contra um fenômeno constatado pela observação e demonstrado por uma lei da Natureza? Sendo o movimento da Terra um fato puramente científico, sua demonstração não estava ao alcance do vulgo; foi preciso aceitar a autoridade dos argumentos dos cientistas. Mas o Espiritismo tem a mais, em seu favor, poder ser constatado por todo mundo, o que explica sua rápida propagação.

Toda descoberta nova de alguma importância tem consequências mais ou menos graves. A do movimento da Terra e da lei da gravitação, que rege esse movimento as teve, e incalculáveis. A Ciência viu abrir-se à sua frente um novo campo de exploração, e não se poderiam enumerar todas as descobertas, as invenções e as aplicações que foram sua consequência. O progresso da Ciência acarretou o da indústria, e o progresso da indústria mudou a maneira de viver, os hábitos, numa palavra, todas as condições de ser da Humanidade. O conhecimento das relações do mundo visível e do mundo invisível tem consequências ainda mais diretas e mais imediatamente práticas, porque está ao alcance de todas as individualidades e interessa a todos. Devendo cada homem necessariamente morrer, ninguém pode ser indiferente ao que acontecerá com ele após a morte. Pela certeza que o Espiritismo dá do futuro, ele muda a maneira de ver e influi sobre a moralidade. Abafando o egoísmo, ele modificará profundamente as relações sociais de indivíduo a indivíduo e de povo a povo.

Muitos reformadores de pensamento generoso formularam doutrinas mais ou menos sedutoras, mas, em sua maioria, elas apenas tiveram um sucesso de seita, temporário e circunscrito. Foi assim e assim será sempre com as teorias puramente sistemáticas, porque não é dado ao homem, na Terra, conceber algo de completo e perfeito. O Espiritismo, ao contrário, apoiando-se não numa ideia preconcebida, mas em fatos patentes, está ao abrigo dessas flutuações e não poderá senão crescer à medida que os fatos forem vulgarizados, melhor conhecidos e melhor compreendidos. Ora, nenhuma força humana poderia impedir a vulgarização de fatos que todos podem constatar. Constatados os fatos, ninguém poderá impedir as consequências resultantes dos mesmos. Estas consequências são aqui uma revolução completa nas ideias e na maneira de ver as coisas deste mundo e do outro. Antes que este século tenha passado, ela será realizada.

Mas, dirão, ao lado dos fatos tendes uma teoria, uma doutrina; quem vos diz que essa teoria não sofrerá variações; que daqui a alguns anos a de hoje será a mesma?

Sem dúvida ela pode sofrer modificações em seus detalhes, à vista de novas observações, mas, uma vez estabelecido o princípio, ele não pode variar, e menos ainda ser anulado. Eis o essencial. Desde Copérnico e Galileu tem-se calculado melhor o movimento da Terra e dos astros, mas o fato do movimento ficou sendo o princípio.

Dissemos que o Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência de observação. É o que constitui a sua força contra os ataques de que é objeto e dá aos seus adeptos uma fé inquebrantável. Todos os raciocínios que se lhe opõem caem diante dos fatos, e esses raciocínios têm tanto menos valor aos seus olhos quanto mais eles sabem que são fruto do interesse. Em vão se lhes diz que isto não é, ou é outra coisa, pois eles respondem: Não podemos negar a evidência. Se se tratasse de apenas um indivíduo, poder-se-ia julgar que ele fosse vítima de uma ilusão, mas quando milhões de indivíduos veem a mesma coisa, em todos os países, conclui-se logicamente que são os negadores que estão equivocados.

Se os fatos espíritas só tivessem como resultado satisfazer a curiosidade, certamente ocasionariam apenas uma preocupação momentânea, como tudo o que é inútil. No entanto, as consequências que deles decorrem tocam o coração; tornam as pessoas felizes; satisfazem às aspirações; enchem o vazio cavado pela dúvida; lançam a luz sobre a temível questão do futuro; mais ainda, neles se vê uma causa poderosa de moralização para a Sociedade. Elas têm, pois, um grande interesse. Ora, a gente não renuncia facilmente ao que é uma fonte de felicidade. Certamente não é com a perspectiva do nada, nem com a das chamas eternas que arrancarão os espíritas de sua crença.

O Espiritismo não se afastará da verdade e nada terá a temer das opiniões contraditórias, enquanto sua teoria científica e sua doutrina moral forem uma dedução dos fatos escrupulosa e conscientemente observados, sem preconceitos nem sistemas preconcebidos. Foi diante de uma observação mais completa que todas as teorias prematuras e aventurosas surgidas na origem dos fenômenos espíritas modernos caíram e vieram fundir-se na imponente unidade que hoje existe, e contra a qual só se obstinam raras individualidades, que diminuem dia a dia. As lacunas que a teoria atual pode ainda conter encher-se-ão da mesma maneira. O Espiritismo está longe de haver dito sua última palavra, quanto às suas consequências, mas é inamolgável em sua base, porque essa base está assentada nos fatos.

Assim, que os espíritas nada receiem, pois o futuro lhes pertence; que deixem os adversários se debatendo sob a influência da verdade que os ofusca, porque toda denegação é impotente contra a evidência que inevitavelmente triunfa pela força das coisas. É uma questão de tempo, e neste século o tempo marcha a passos de gigante, sob o impulso do progresso.




Espíritos instrutores da infância

Criança afetada de mutismo

Transmite-nos uma senhora o seguinte:

“Uma de minhas filhas tem um menino de três anos que desde o nascimento lhe tem dado as mais vivas inquietudes. Restabelecida sua saúde em fins de agosto último, ele caminhava com dificuldade e dizia papá, mamã, e o resto de sua linguagem era uma mistura de sons inarticulados. Há cerca de um mês, depois de infrutíferas tentativas para que pronunciasse as palavras mais usuais, tentativas sempre renovadas sem sucesso, estando minha filha deitada, muito triste com essa espécie de mutismo, desolada sobretudo porque seu marido, capitão de longo curso, retornando após uma ausência que terá durado mais de um ano, não acharia mudança na maneira de falar de seu filho, quando, às cinco da manhã, foi despertada pela voz da criança, que articulava distintamente as letras A, B, C, D, que jamais tinham tentado fazer que ele pronunciasse. Crendo sonhar, sentou-se na cama e com a cabeça inclinada para o berço, o rosto perto da criança que dormia, ouviu-a repetir em voz alta, por diversas vezes, marcando cada uma por um leve movimento da cabeça, as letras A, B, C, e, após um pequeno intervalo, carregando a pronúncia, D.

“Quando entrei em seu quarto, às seis horas, a criança ainda dormia, mas a mãe, toda feliz ainda e comovida por ter ouvido o filho pronunciar essas letras, não tinha dormido. Quando o menino acordou, e a partir de então, em vão tentamos fazêlo dizer essas letras (que ele jamais tinha ouvido dizer, quando as disse no sono, pelo menos nesta existência), todas as nossas tentativas foram inúteis. Mesmo ainda hoje ele diz A e B, mas tem sido impossível obter para o C e o D mais que dois sons, um da garganta, outro do nariz, que de modo algum lembram as letras que queríamos que ele dissesse.

“Não é a prova de que esse menino já viveu? Paro aqui e não me sinto bastante instruída para ousar concluir. Preciso aprender mais e ler muito tudo quanto trata do Espiritismo, não para me convencer: o Espiritismo responde a tudo, ou, pelo menos, a quase tudo; mas, repito, senhor, não sei o suficiente. Isto virá, pois não me falta o desejo. Deus, que não me abandonou desde que fiquei viúva, há dezessete anos; Deus, que me ajudou a educar os filhos e encaminhá-los; Deus, em quem tenho fé, proverá o que me falta, porque nele espero e lhe peço com todo o coração para que permita aos bons Espíritos que me esclareçam e me guiem para o bem. Orai também por mim, senhor, que estou em comunhão de pensamento convosco, e que acima de tudo desejo trilhar o bom caminho.”

Este fato é, sem sombra de dúvida, resultado de conhecimentos adquiridos anteriormente. Se há uma aptidão inata, é aquela que se revela espontaneamente durante o sono do corpo, quando nenhuma circunstância tinha podido desenvolvê-la no estado de vigília. Se as ideias fossem um produto da matéria, por que uma ideia nova iria surgir quando a matéria estivesse entorpecida, ao passo que não só é nula, mas impossível de exprimir quando os órgãos estão em atividade? A causa primeira não pode, pois, estar na matéria. É assim que a cada passo o materialismo se choca contra os problemas cuja solução ele não pode dar. Para que uma teoria seja verdadeira e completa, é preciso que ela não seja desmentida por nenhum fato. O Espiritismo não formula nenhuma teoria prematuramente, a menos que o faça a título de hipótese, caso em que se furta a dá-la como verdade absoluta, mas que dá apenas como assunto de estudo. É por essa razão que ele marcha com passo firme.

No caso de que se trata, é, pois, evidente que não tendo o Espírito aprendido durante a vigília o que diz durante o sono, é preciso que tenha aprendido algures. Se não foi nesta vida, deve ter sido em outra e, além do mais, numa existência terrena, na qual falava francês, pois pronuncia letras francesas. Como explicarão este fato os que negam a pluralidade das existências ou a reencarnação na Terra?

Mas resta saber como é que o Espírito, desperto, não pode dizer o que articula no sono. Eis a explicação dada por um Espírito à Sociedade de Paris:


(24 de novembro de 1864 – Médium Sra. Cazemajour)


“É uma inteligência que poderá ainda ficar velada por algum tempo, pelo sofrimento material da reencarnação, à qual esse Espírito teve muita dificuldade em submeter-se, e que momentaneamente lhe aniquilou suas faculdades. Mas o seu guia o ajuda com terna solicitude a sair desse estado pelos conselhos, o encorajamento e as lições que lhe dá durante o sono do corpo, lições que não são perdidas e que se acharão vivazes quando essa fase de entorpecimento houver passado, e que será determinada por um choque violento, uma emoção extrema. Para isto é necessária uma crise desse gênero. Há que esperar, mas não temer a idiotia, pois não é o caso.”

Há aqui um ensinamento importante e, até certo ponto, novo: o da primeira educação dada a um Espírito encarnado por um Espírito desencarnado. Sem dúvida certos cientistas desdenhariam esse fato como muito pueril e sem importância, pois nele veriam apenas uma bizarria da Natureza, ou o explicariam por uma superexcitação cerebral que momentaneamente dilata as faculdades, pois é assim que explicam todas as faculdades mediúnicas. Sem dúvida em certos casos poder-seia conceber a exaltação numa pessoa adulta, cuja imaginação aumenta em razão do que ela vê ou ouve, mas não se compreenderia o que pudesse excitar o cérebro de uma criança de três anos, que dorme. Eis, pois, um fato inexplicável por essa teoria, ao passo que ele acha solução natural e lógica pelo Espiritismo. O Espiritismo não desdenha nenhum fato, por insignificante que seja em aparência. Ele os espia, observa-os e os estuda todos. É assim que progride a ciência espírita, à medida que os fatos se apresentam para confirmar ou completar sua teoria. Se eles a contradizem, ele lhes busca outra explicação.

Uma carta de 30 de dezembro de 1864, escrita por um amigo da família, diz o seguinte:

“Disseram os Espíritos que uma crise, determinada por um choque violento, uma emoção extrema livrará a criança do entorpecimento de suas faculdades. Os Espíritos disseram a verdade. A crise ocorreu, por um choque violento, e eis como. A criança deu causa a um tombo terrível de sua avó, no qual ela por pouco não partiu a cabeça, esmagando a criança. Desde esse abalo o menino surpreende os pais a cada instante, pronunciando frases inteiras como, por exemplo, esta: “Cuidado, mamã, para não cair.”

A articulação das letras durante o sono do menino era, muito evidentemente, um efeito mediúnico, pois resultava do exercício que o Espírito fazia com ele. Numa sessão posterior da Sociedade, na qual não se ocupavam do caso em questão, foi dada espontaneamente a dissertação seguinte, que vem confirmar e desenvolver o princípio desse gênero de mediunidade.


Mediunidade na infância


(Sociedade de Paris, 6 de janeiro de 1865 - Médium: Sr. Dellane)


Quando, após ter sido preparado pelo anjo guardião, o Espírito que acaba de se encarnar, isto é, de sofrer novas provações em vista de seu melhoramento, então começam a se estabelecer os laços misteriosos que o unem ao corpo para manifestar sua ação terrestre. Aí está todo um estudo sobre o qual não me estenderei. Falarei apenas do papel e da disposição do Espírito durante o período da infância no berço.

A ação do Espírito sobre a matéria, nesse tempo de vegetação corpórea, é pouco perceptível. Assim, os guias espirituais procuram aproveitar esses instantes, em que a parte carnal não obriga à participação inteligente do Espírito, a fim de preparar este último e encorajá-lo nas boas resoluções de que sua alma está impregnada.

É nesses momentos de desprendimento que o Espírito, saindo da perturbação que teve de passar para sua encarnação presente, compreende e se lembra dos compromissos contraídos para o seu adiantamento moral. É então que os Espíritos protetores vos assistem e ajudam a vos reconhecerdes. Assim, estudai o rosto da criancinha que dorme. Vê-lo-eis, muitas vezes, “sorrindo para os anjos”, como se diz vulgarmente, expressão mais justa do que se pensa. Com efeito, ele sorri para os Espíritos que o cercam e devem guiá-lo.

Vede esse pequeno acordado. Tanto ele olha fixamente, parecendo reconhecer seres amigos, quanto balbucia palavras, e seus gestos alegres parecem dirigir-se a rostos amados. E como Deus jamais abandona as suas criaturas, esses mesmos Espíritos lhe dão, mais tarde, boas e salutares instruções, quer durante o sono, quer por inspiração, no estado de vigília. Daí podeis ver que todos os homens possuem, pelo menos em estado de germe, o dom da mediunidade.

A infância propriamente dita é uma longa série de efeitos mediúnicos, e se crianças de um pouco mais de idade, quando o Espírito adquiriu mais força, por vezes não temessem as imagens das primeiras horas, poderíeis constatar esses efeitos muito melhor.

Continuai a estudar, e a cada dia, como crianças grandes, aumentará a vossa instrução, se não vos obstinardes em fechar os olhos ao que vos cerca.

UM ESPÍRITO PROTETOR


Perguntas e problemas

OBRAS-PRIMAS POR VIA MEDIÚNICA

Por que os Espíritos dos grandes gênios que brilharam na Terra não produzem obras-primas por via mediúnica, como fizeram em vida, considerando-se que sua inteligência nada perdeu?

Esta pergunta é, ao mesmo tempo, uma daquelas cuja solução interessa à ciência espírita, como assunto de estudo, e uma objeção oposta por certos negadores à realidade das manifestações. “Essas obras superiores, dizem estes últimos, seriam uma prova de identidade própria para convencer os mais recalcitrantes, ao passo que os produtos mediúnicos assinados pelos mais ilustres nomes quase não se elevam acima da vulgaridade. Até agora não se cita nenhuma obra capital que possa aproximar-se das dos grandes literatos e dos grandes artistas. “Quando eu vir, acrescentam alguns, o Espírito de Homero dar uma nova Ilíada, o de Virgílio uma nova Eneida, o de Corneille um novo Cid, o de Beethoven uma nova sinfonia em la ou um sábio, como Laplace, resolver um desses problemas inutilmente procurados, como a quadratura do círculo, por exemplo, então poderei crer na realidade dos Espíritos. Mas como quereis que neles creia, quando vejo dar seriamente, sob o nome de Racine, poesias que um aluno de quarto ano corrigiria; atribuir a Béranger versos que não passam de finais mal rimados, sem espírito e sem sal, ou emprestar a Voltaire e Chateaubriand uma linguagem de cozinheira?”

Há nesta objeção um lado sério, é o que contém a última parte, mas que não denota menos a ignorância dos primeiros princípios do Espiritismo. Se os que a fazem não julgassem antes de havê-lo estudado, poupar-se-iam de uma tarefa inútil.

Como se sabe, a identidade dos Espíritos é uma das grandes dificuldades do Espiritismo prático. Ela não pode ser constatada de maneira positiva senão para os Espíritos contemporâneos, cujo caráter e hábitos são conhecidos. Então eles se revelam por uma porção de particularidades, nos fatos e na linguagem, que não podem deixar qualquer dúvida. São esses cuja identidade nos interessa mais, pelos laços que a eles nos unem.

Muitas vezes um sinal, uma palavra é bastante para atestar a sua presença, e essas particularidades são tanto mais significativas quanto mais similitude há na série de conversas familiares que se tem com os Espíritos. Além disto, há que considerar que quanto mais os Espíritos estiverem próximos de nós, pela época de sua morte terrestre, menos estarão despojados do caráter, dos hábitos e das ideias pessoais que no-los tornam conhecidos.

Já é diferente com os Espíritos que, de certo modo, só são conhecidos através da História. Para esses não existe qualquer prova material de identidade; pode haver presunção, mas não certeza absoluta da personalidade. Quanto mais afastados de nós estiverem os Espíritos pela época em que viveram, menor essa certeza, visto que suas ideias e seu caráter podem ter-se modificado com o tempo. Em segundo lugar, os que atingiram uma certa elevação formam famílias similares pelo pensamento e pelo grau de adiantamento, cujos membros todos estão longe de ser nossos conhecidos. Se um deles se manifestar, fá-lo-á sob um nome nosso conhecido, como indício de sua categoria. Se, por exemplo, Platão for evocado, pode ser que ele responda ao apelo, mas se ele não puder, um Espírito da mesma classe responderá por ele. Será o seu pensamento, mas não a sua individualidade. Eis o de que importa bem compenetrar-se.

Aliás, os Espíritos superiores vêm para nos instruir. Sua identidade absoluta é questão secundária. O que eles dizem é bom ou mau, racional ou ilógico, digno ou indigno da assinatura, eis toda a questão. No primeiro caso, aceita-se; no segundo, rejeita-se como apócrifa.

Aqui se apresenta o grande escolho da intromissão dos Espíritos levianos ou ignorantes, que se enfeitam com grandes nomes para fazerem aceitar suas tolices e utopias. Nesse caso, a distinção exige tato, observação e, quase sempre, conhecimentos especiais. Para julgar uma coisa é preciso ter competência. Como aquele que não é versado em literatura e poesia pode apreciar as qualidades e os defeitos das comunicações desse gênero? A ignorância, neste caso, por vezes leva a tomar como belezas sublimes a ênfase, os floreios de linguagem, as palavras sonoras que escondem o vazio das ideias; não pode identificar-se como o gênio particular do escritor, para julgar o que pode e o que não pode ser dele. Assim, muitas vezes veem-se médiuns que se orgulham de receber versos com a assinatura de Racine, Voltaire ou Béranger não sentirem dificuldade em considerá-los autênticos, por mais detestáveis que sejam. Felizes ainda aqueles que não se zangam com as pessoas que se permitem pô-los em dúvida.

Consideramos, pois, perfeitamente justa a crítica que se opõe a semelhantes coisas, porque ela está em concordância com nossa opinião. O erro não está no Espiritismo, mas nos que aceitam mui facilmente o que vem dos Espíritos. Se aqueles que transformam isto em arma contra a doutrina a tivessem estudado, saberiam o que ela admite e não lhe imputariam o que ela recusa, nem os exageros de uma credulidade cega e irrefletida. O erro é ainda maior quando se publicam, sob nomes conhecidos, coisas indignas da origem que lhes é atribuída. É oferecer o flanco à crítica fundada e prejudicar o Espiritismo. É necessário que se saiba que o Espiritismo racional absolutamente não patrocina essas produções, e não assume a responsabilidade pelas publicações feitas com mais entusiasmo do que prudência.

A incerteza quanto à identidade dos Espíritos, em certos casos, e a frequência da intromissão dos Espíritos levianos provam algo contra a realidade das manifestações? De modo algum, porque o fato das manifestações é tão bem provado pelos Espíritos inferiores quanto pelos superiores. A abundância dos primeiros prova a inferioridade moral do nosso globo, e a necessidade de trabalhar pela nossa melhora, para dela sairmos o mais cedo possível.

Resta, agora, a questão principal: Por que os Espíritos dos homens de gênio não produzem obras-primas pela via mediúnica?

Antes de tudo, é preciso ver a utilidade das coisas. Para que serviria isto? Dirão que para convencer os incrédulos. Mas, quando os vemos resistirem à mais palpável evidência, uma obra-prima não lhes provaria melhor a existência dos Espíritos, porque eles a atribuiriam, como todas as produções mediúnicas, à superexcitação cerebral. Um Espírito familiar, um pai, uma mãe, um filho, um amigo, que vêm revelar circunstâncias desconhecidas do médium; que vêm dizer essas palavras que vão ao coração, provam muito mais que uma obra-prima, que poderia sair do próprio cérebro. Um pai, cujo filho que chora vem atestar a sua presença e a sua afeição, não fica mais convencido do que se Homero viesse fazer uma nova Ilíada, ou Racine uma nova Fedra? Por que, então, lhes pedir prodígios de força que mais espantariam do que convenceriam, quando eles se revelam por milhares de fatos íntimos ao alcance de todos? Os Espíritos buscam convencer as massas, e não este ou aquele indivíduo, porque a opinião das massas faz lei, ao passo que os indivíduos são unidades perdidas na multidão. Eis por que eles dão pouco valor aos obstinados que querem levá-los à força. Eles sabem muito bem que mais cedo ou mais tarde terão de curvar-se ante a força da opinião. Os Espíritos não se submetem aos caprichos de ninguém. Para convencer empregam os meios que querem, conforme os indivíduos e as circunstâncias. Tanto pior para os que não se contentam com isto; sua vez chegará mais tarde. Eis por que também dizemos aos adeptos: Ligai-vos aos homens de boafé, porque não falhareis, mas não percais o vosso tempo com os cegos que não querem ver, e os surdos que não querem ouvir. Agir assim é faltar à caridade? Não, pois para estes será apenas um retardamento. Enquanto perdeis tempo com eles, negligenciais dar consolações a uma porção de gente necessitada e que aceitaria com alegria o pão da vida que lhes oferecêsseis. Pensai, ainda, que os refratários, que resistem às vossas palavras e às provas que lhes dais, cederão um dia sob o ascendente da opinião que se formará em volta deles. Seu amor-próprio sofrerá menos com isto.

A questão das obras-primas liga-se ainda ao princípio que rege as relações dos encarnados com os desencarnados. Sua solução depende do conhecimento deste princípio. Eis as respostas dadas a respeito na Sociedade Espírita de Paris.

(6 de janeiro de 1865 – Médium Sr. d’Ambel)

Há médiuns que, por suas aquisições anteriores, por seus estudos particulares, na existência que hoje percorrem, tornaram-se mais aptos, senão mais úteis que outros. Aqui a questão moral nada tem a ver: é uma simples questão de capacidade intelectual. Mas não se deve ignorar que a maior parte desses médiuns não são pródigos e que se recebem da parte dos Espíritos comunicações de uma ordem elevada, só a eles são proveitosas. Mais de uma obra-prima da literatura e das artes é produto de uma mediunidade inconsciente. Sem isto, de onde viria a inspiração? Afirmai ousadamente que as comunicações recebidas por Delphine de Girardin, Auguste Vaquerie e outros estavam à altura do que se tinha o direito de esperar dos Espíritos que se comunicavam por eles. Nessas ocasiões, infelizmente muito raras em Espiritismo, as almas dos que queriam comunicar-se tinham à mão bons, excelentes instrumentos, ou antes, médiuns cuja capacidade cerebral fornecia todos os elementos de palavras e de pensamentos necessários à manifestação dos Espíritos inspiradores. Ora, na maior parte das circunstâncias em que os Espíritos se comunicam, os grandes Espíritos, bem entendido, estão longe de ter sob a mão os elementos suficientes para a emissão de seu pensamento na forma, com a fórmula que eles lhe teriam dado em vida. É isso um motivo para não receber suas instruções? Certamente não, porque se algumas vezes a forma deixa a desejar, o fundo é sempre digno do signatário das comunicações. Além disso, são querelas de palavras. Existe ou não existe a comunicação? Tudo está nisto. Se existe, que importa o Espírito e o nome que este toma! Se não se acredita, importa ainda menos com ela se preocupar. Os Espíritos tratam de convencer; quando não o conseguem, é um inconveniente sem importância; é apenas porque o encarnado ainda não está pronto para ser convencido. Contudo, estou bem à vontade para afirmar aqui que em cem indivíduos de boa-fé que experimentam por si mesmos ou por médiuns que lhes são estranhos, mais de dois terços se tornam partidários sinceros da Doutrina Espírita, porque nesses períodos excepcionais, a ação dos Espíritos não se circunscreve ao ato do médium apenas, mas se manifesta por mil facetas materiais ou espirituais sobre o próprio evocador.

Em suma, nada é absoluto e sempre chegará uma hora mais fecunda, mais produtiva que a hora precedente. Eis em duas palavras minha resposta à pergunta feita por vosso presidente.

ERASTO


(20 de janeiro de 1865 – Médium Srta. M. C.)

Perguntais por que os Espíritos que na Terra brilharam pelo gênio, não dão aos médiuns comunicações à altura de suas produções terrenas, quando deveriam antes as dar superiores, pois o tempo decorrido desde sua morte deve ter aumentado as suas faculdades. Eis a razão:

Para se fazer ouvir, os Espíritos devem agir sobre os instrumentos que estejam ao nível de sua ressonância fluídica. Que pode fazer um bom músico com um instrumento detestável? Nada. Então! Muitos, senão a maioria dos médiuns, são para nós instrumentos muito imperfeitos. Compreendei que em tudo é necessário similitude, tanto nos fluidos espirituais quanto nos fluidos materiais. Para que os Espíritos adiantados possam se vos manifestar, necessitam de médiuns capazes de vibrar com eles em uníssono; do mesmo modo, para as manifestações físicas, é preciso que os encarnados possuam fluidos materiais da mesma natureza que os dos Espíritos errantes, tendo ainda ação sobre a matéria.

Assim, Galileu não poderá manifestar-se realmente senão a um astrônomo capaz de compreendê-lo e transmitir sem erro os seus dados astronômicos; Alfred de Musset e outros poetas terão necessidade de um médium amante e entendedor da poesia; Beethoven, Mozart procurarão músicos dignos de poder transcrever seus pensamentos musicais; os Espíritos instrutores que vos desvendam os segredos da

Natureza, segredos pouco conhecidos ou ainda ignorados, precisam de médiuns que já compreendam certos efeitos magnéticos e que tenham estudado bem a mediunidade.

Compreendei isto, meus amigos; refleti que não encomendais uma roupa ao chapeleiro, nem vossas cabeleiras a um alfaiate. Deveis compreender que necessitamos de bons intérpretes e que alguns de nós, por não encontrar esses intérpretes, se recusem à comunicação. Mas então o lugar é ocupado. Não esqueçais que os Espíritos levianos são um grande número, e que eles se aproveitam das vossas faculdades com tanto mais facilidade quanto muitos dentre vós, envaidecidos pelas assinaturas notáveis, pouco preocupados em se informarem sobre a fonte verdadeira e confrontar o que obtêm com o que deveriam ter obtido. Regra geral: quando quiserdes um calculador, não vos dirijais a um dançarino.

UM ESPÍRITO PROTETOR

OBSERVAÇÃO: Esta comunicação repousa num princípio verdadeiro, que resolve perfeitamente a questão, do ponto de vista científico, mas que não poderia ser tomado num sentido muito absoluto. À primeira vista, o princípio parece contradizer os fatos tão numerosos de médiuns que tratam de assuntos fora de seus conhecimentos e pareceria implicar, para os Espíritos superiores, a possibilidade de só se comunicarem com médiuns à sua altura. Ora, isto só se deve entender quando se trata de trabalhos especiais e de uma importância muito alta. Concebe-se que se Galileu quiser tratar de uma questão científica; se um grande poeta quiser ditar uma obra poética, tenham necessidade de um instrumento que responda ao seu pensamento, mas isto não quer dizer que para outras coisas, uma simples questão de moral, por exemplo, um bom conselho a dar, não poderão fazê-lo por um médium que não seja cientista nem poeta. Quando um médium trata com facilidade e superioridade assuntos que lhe são estranhos, é um indício de que o seu Espírito possui um desenvolvimento inato e faculdades latentes, fora da educação que recebeu.


O Ramanenjana

Os Annales de la propagacion de la foi, de setembro de 1864, nº 216, contêm um relato minucioso dos acontecimentos ocorridos em Tananarive, Madagascar, no correr do ano de 1863, entre outros o da morte do rei Radama II. Aí encontramos a seguinte história:

O mais grave dos fatos ocorridos em Tananarive em 1863 é, sem contradita, a morte de Radama II. Mas, antes de contar o fim trágico desse infeliz príncipe, é necessário lembrar um outro fato que quase teve a mesma repercussão que o primeiro, que teve por testemunho mais de duzentos mil homens, e que pode ser encarado como o prelúdio ou o prólogo do atentado cometido contra a pessoa real do infortunado Radama. Quero falar do Ramanenjana.

O que é o Ramanenjana?

Esta palavra, que significa tensão, exprime uma doença estranha, que a princípio se declarou ao sul de Emirne. Dela se teve conhecimento em Tananarive cerca de um mês antes. A princípio era apenas um vago rumor que circulava entre o povo. Assegurava-se que numerosos bandos de homens e mulheres, atingidos por uma afecção misteriosa, subiam do sul para a capital, para falar ao rei, da parte de sua mãe, a defunta rainha. Dizia-se que esses bandos se encaminhavam em pequenas jornadas, cada noite acampando nas aldeias e engrossando, ao longo do caminho, com todos os recrutas que fazia no seu trajeto.

Mas ninguém teria imaginado que o Ramanenjana estivesse tão perto da cidade real quando, de repente, ele fez sua primeira aparição, alguns dias antes do domingo de Ramos.

Eis o que a respeito nos escrevem:

“No momento em que o julgávamos ainda muito afastado, o Ramanenjana, ou Ramena-bé, como outros também o chamam, veio estourar como uma bomba. Não há rumor na cidade senão de convulsões e convulsionários. Eles estão por todos os lados; seu número é avaliado em mais de dois mil. Acampam neste momento em Machamasina, campo de Marte situado junto da capital. O barulho que fazem é tal que não nos deixa dormir. Julgai como deve ser forte, para que a uma légua de distância chegue até aqui e perturbe o sono!

“Na terça-feira santa havia uma grande revista em Soanerana. Quando os tambores rufaram, eis que mais de mil soldados deixaram bruscamente as fileiras e começaram a dançar o Ramanenjana. Por mais que os chefes gritassem e ameaçassem, tiveram que renunciar a passar revista.”


Caráter do Ramanenjana

Esta doença age especialmente sobre os nervos, sobre os quais exerce tal pressão que logo provoca convulsões e alucinações, das quais apenas se dá conta do ponto de vista da Ciência.

Os que são atingidos, a princípio sentem dores violentas na cabeça, na nuca e depois no estomago. Ao cabo de algum tempo começam os acidentes convulsivos; é então que os vivos entram em comunicação com os mortos: Eles veem a rainha Ranavalona, Radama I, Adrian Ampoïnemerina e outros, que lhes falam e lhes dão incumbências. A maior parte dessas mensagens são dirigidas a Radama II.

Os Ramanenjana parecem especialmente deputados pela velha Ranavalona, para exprimir a Radama que ele deve voltar ao antigo regime, fazer cessar a prece, despedir os brancos, interditar os porcos na cidade santa, etc., etc.; senão, do contrário, grandes males o ameaçam, e que ela o renegará como seu filho.

Um outro efeito dessas alucinações é que a maior parte dos que lhes são vítimas imaginam-se carregando pesados fardos que levam seguindo os mortos; que imaginam ter à cabeça uma caixa de sabão ou um cofre, um colchão, fuzis, chaves, bacias de prata, etc., etc.

É preciso que essas aparições andem muito depressa, porque os infelizes que estão às suas ordens fazem o maior esforço do mundo para segui-las, embora vão sempre em passo de corrida.

Eles não receberam mais cedo sua missão de além-túmulo, porque se põem a sapatear, a gritar, a pedir graça, agitando a cabeça e os braços, sacudindo as extremidades do lambá ou um pedaço de pano que lhes cobre o corpo. Depois, ei-los se atirando, sempre gritando, dançando, saltando e se agitando convulsivamente. Seu grito mais comum é: Ekalá! e este outro: Izahay maikiá! (estamos com pressa). Na maioria das vezes uma multidão os acompanha cantando, batendo palmas e tocando tambores. Dizem que é para excitá-los ainda mais e apressar o fim da crise, como se vê o cavaleiro hábil afrouxar as rédeas de seu cavalo fogoso e, longe de procurar retê-lo, o estimular, ao contrário, com gritos e com as esporas, até que este, tremendo sob a mão que o conduz, resfolgando, coberto de suor, acabe parando por si mesmo, exaurido.

Ainda quando essa doença atinja especialmente os escravos, é certo dizer que não poupa ninguém. É assim que um filho de Radama e de Maria, sua concubina, de repente se viu vítima das alucinações do Ramanenjana, e ei-lo a gritar, a se agitar, a dançar e a correr como os outros. No primeiro momento de terror, o próprio rei se pôs a persegui-lo, mas nessa corrida precipitada, feriu-se ligeiramente na perna, o que o levou a dar ordens para que fosse mantido sempre um cavalo selado, para o caso de novo acidente.

As corridas desses energúmenos nada têm de bem determinado. Uma vez impelidos não sei por que força irresistível, espalham-se no campo, uns para um lado, outros para outro. Antes da Semana Santa, iam aos túmulos, onde dançavam e ofereciam uma moeda.

Mas no próprio dia de Ramos, por singular coincidência, uma nova moda ganhou a preferência deles: ir à parte baixa da cidade, cortar uma cana de açúcar. Eles a carregam triunfalmente ao ombro e vêm depositá-la sobre a pedra sagrada de Mahamasin, em homenagem a Ranavalona. Aí dançam, agitam-se com todas as convulsões e contorções de hábito; depois depõem a cana e uma moeda, e voltam correndo, dançando, saltando, assim como foram.

Alguns levam uma garrafa d’água na cabeça, para beber e se borrifar; e, coisa surpreendente! Malgrado tanta agitação e evoluções convulsivas, a garrafa se mantém equilibrada; dir-se-ia pregada e selada no crânio.

Uma nova fantasia acaba de tomá-los, escrevem-nos ainda, a de exigir que se tire o chapéu quando eles passam. Infelizes aqueles que se recusem a obedecer a essa injunção, por mais absurda que seja!

Disso já resultaram muitas lutas, que o pobre Radama julgou poder coibir impondo multa de 150 francos aos recalcitrantes. Para não infringir esse novo gênero de determinação real, a maioria os brancos decidiram sair sem chapéu. Um dos nossos padres viu-se exposto a uma situação muito mais grave. Tratava-se nada mais nada menos que fazê-lo tirar a batina, pois o Ramanenjana pretendia que a cor preta o ofuscava. Felizmente o padre conseguiu escapar e entrar em casa, sem ser obrigado a ficar em camisa.

Os acessos dos convulsionários não são contínuos. Muitos, depois de haver feito suas piruetas diante da pedra sagrada sobre a qual fazem subir o herdeiro do trono para apresentá-lo ao povo, vão atirar-se à água, depois sobem tranquilamente para ir repousar até nova crise.

Outros por vezes caem esgotados no caminho ou na rua, adormecem e acordam curados. Há os que ficam doentes por dois ou três dias antes de se libertarem completamente. Em muitos casos o mal é mais tenaz e por vezes dura uns quinze dias.

Durante o acesso, o indivíduo atingido pelo Ramanenjana não reconhece ninguém. Quase não responde às perguntas que lhe fazem. Depois do acesso, se se lembra de alguma coisa, é vagamente e como num sonho.

Uma particularidade bastante notável é que, em meio às suas evoluções mais estafantes, as mãos e os pés ficam frios como gelo, ao passo que o resto do corpo sua em bica e a cabeça está em ebulição.

Agora, qual pode ser a causa dessa doença singular? Aqui todos estão de acordo. Vários a atribuem pura e simplesmente ao demônio, que se revelou como antes se havia revelado nas mesas girantes, pensantes, etc. Eis por que, pouco preocupados de saudar essa diabólica majestade, muitos se resignaram a andar sem chapéu.



ESTUDO SOBRE O FENÔMENO DO RAMANENJANA

Teria sido muito de admirar se o nome do Espiritismo não tivesse sido envolvido neste caso. Muito felizes ainda os seus adeptos por não terem sido acusados como seus causadores. Que não teriam dito se esses pobres malgaxes tivessem lido o Livro dos Espíritos! Não teriam deixado de afirmar que ele lhes tinha virado a cabeça. Quem, pois, sem o Espiritismo, lhes ensinou a crer nos Espíritos e na comunicação dos vivos com as almas dos mortos? É que o que está na Natureza se produz tão bem nos selvagens quanto nos homens civilizados; no ignorante quanto no sábio, na aldeia como na cidade. Como há Espíritos por toda parte, por toda parte ocorrem manifestações, com a diferença que nos homens próximos da Natureza, o orgulho do saber ainda não embotou as ideias intuitivas, que aí estão vivazes e em toda a sua ingenuidade, motivo pelo qual neles não se encontra a ingenuidade erigida em sistema. Eles podem julgar mal as coisas, dada a estreiteza de sua inteligência, mas a crença no mundo invisível neles é inata e entretida pelos fatos que testemunham.

Tudo prova, pois, que lá, como em Morzine, esses fenômenos são o resultado de uma obsessão ou possessão coletiva, verdadeira epidemia de maus Espíritos, como se produziu ao tempo do Cristo e em muitas outras épocas. Cada população deve fornecer ao mundo invisível ambiente Espíritos similares que, do espaço, reagem sobre essas mesmas populações, das quais, por força de sua inferioridade, eles conservaram os hábitos, as inclinações e os preconceitos. Os povos selvagens e bárbaros estão, pois, cercados por uma massa de Espíritos ainda selvagens e bárbaros, até que o progresso os tenha levado a se encarnarem num meio mais adiantado. É o que resulta da comunicação abaixo.

O relato acima foi lido numa reunião íntima e um dos guias espirituais da família ditou espontaneamente o que segue.


(Paris, 12 de janeiro de 1865 – Médium, Sra. Delanne)

Esta noite eu vos ouvi ler os fatos de obsessão passados em Madagascar. Se o permitis, emitirei minha opinião sobre esse assunto.

OBSERVAÇÃO: O Espírito não tinha sido evocado. Ele lá estava, pois, em meio à sociedade, escutando o que aí se dizia, sem ser visto. É assim que, sem o suspeitar, incessantemente temos testemunhas invisíveis de nossas ações.

Essas alucinações, como as denomina o correspondente do jornal, não são senão uma obsessão, embora de um caráter diverso daquelas que conheceis. Aqui é uma obsessão coletiva, produzida por uma plêiade de Espíritos atrasados que, tendo conservado suas antigas opiniões políticas, vêm por manifestações tentar perturbar os seus compatriotas, a fim de que, tomados de pavor, eles não ousem apoiar as ideias de civilização que começam a implantar-se nesses países onde o progresso começa a raiar.

Os Espíritos obsessores que impelem essas pobres criaturas a tantas manifestações ridículas, são os dos antigos Malgaxes, que ficam furiosos, repito, por verem os habitantes dessas regiões admitindo as ideias de civilização que alguns adiantados, encarnados, têm a missão de implantar entre eles. Assim, muitas vezes os ouvis dizer: “Nada de preces; abaixo os brancos, etc.” Cabe-vos fazer compreender que eles são antipáticos a tudo quando pode vir dos europeus, isto é, do centro intelectual.

Essas manifestações, à vista de toda a gente, não são uma confirmação dos vossos princípios? Elas são produzidas menos para essa gente meio selvagem do que para sanção dos vossos trabalhos.

As possessões de Morzine têm um caráter mais particular, ou melhor, mais restrito. Pode-se estudar in loco as fases de cada Espírito. Observando os detalhes, cada individualidade oferece um estudo especial, ao passo que as manifestações de Madagascar têm a espontaneidade e o caráter nacional. É toda uma população de antigos Espíritos atrasados que veem com despeito sua pátria sofrer o impulso do progresso. Eles próprios, não tendo progredido, buscam entravar a marcha da Providência.

Os Espíritos de Morzine são comparativamente mais adiantados. Embora brutos, eles julgam melhor que os malgaxes; distinguem o bem do mal, pois sabem reconhecer que a forma da prece nada é, mas o pensamento é tudo. Aliás, mais tarde vereis, pelos estudos que fareis, que eles não são tão atrasados quanto parecem à primeira vista. Aqui, é para mostrar que a Ciência é impotente para curar esses casos por seus meios materiais. Lá, é para atrair a atenção e confirmar o princípio.


UM ESPÍRITO PROTOR
Poesia Espírita

Inspiração de um ex incrédulo a propósito do Livro dos Espíritos pelo Dr. Niéger

27 de dezembro de 1864


Como aquele infeliz, vítima de um naufrágio,

Em meio dos destroços a nado se salvando.

Quebrado de fadiga e perdida a esperança,

Dirigindo à terra que não deve mais ver a última lembrança, orando por su’alma;

Quando, súbito, na vaga aparece o clarão

De uma terra ignota indicando os rebordos,

O pobre semimorto os esforços redobra,

E logo abordando a riba tutelar,

Ao Senhor se apressa em mandar uma prece,

E sentindo, a seguir, renascer sua fé

Promete ao Salvador sua lei respeitar!

Tal eu senti um dia, ao ler a vossa obra,

No peito desolado renascer a coragem.

Sempre preocupado em buscar os segredos

Do humano organismo via só os efeitos,

Mas nada de atingir a ignota causa

Que para sempre, sempre à vista me escapava.

Vosso livro ao me abrir os novos horizontes

De repente ao meu trabalho deu novo objetivo.

Aí me vi, de repente, seguindo errada via,

E a fé no coração a dúvida expulsou.

O homem, ao sair das mãos do Criador,

Não pode ser lançado para sua desgraça,

Pois uma santa lei, dada mesmo por Deus,

De todo o Universo o destino regula!

Seu nome é progresso e é para o impelir

Que os homens entre si devem reunir-se.

Que quadro encantador, que páginas brilhantes

Neste livro que segue o homem nas idades,

Que mostra, de saída, os primeiros humanos,

Buscando o bem-estar no trabalho das mãos!

Só o instinto, dirão, a guiá-lo na vida!

Sim, mas o instinto transforma-se no gênio.

Ele verá nascer em si o fogo sagrado.

O espírito inspira e, melhor inspirado,

Quebrando as cadeias do diabo vencido,

Andará pela arena em passos de gigante.

Lá, em frágil barco, os bravos marinheiros

Do mar enfurecido as ondas desafiam. Atiram-se!...

E a vaga destemida

Ante tal desafio recua espavorida.

Ali, da águia imitando o voo audacioso,

Vê-se o homem tentar o domínio do céu!

Além, sobre um rochedo, com máxima coragem

Do profundo do céu ousa sondar o espaço;

Do imenso Universo a lei já descobriu,

E em breve do mundo, sozinho será o rei!

Aí ainda não para o seu ardor incrível:

Encerrando num tubo o vapor indomável,

Ele avança montando esse dragão de fogo;

O mais duro trabalho se muda num brinquedo;

Marcando em toda parte o traço de seu gênio,

Ou dominando a morte, faz renascer a vida.

Parece que aqui seu avanço termina,

Mas uma eterna lei lhe pede ainda mais,

E logo mais veremos esse dono da Terra

Arrancar o trovão à nuvem inflamada,

Transformando o furor em dócil instrumento

E fazendo do poste humilde servidor!

Limites não há para o saber humano.

Do homem o Universo fez Deus o seu domínio;

Cabe-lhe encontrar, num esforço constante,

Entre o corpo e a alma as belas relações.

E assim abandonando o caminho batido

Separar, finalmente, esta desconhecida,

Que esteve desde sempre aos seus olhos velada.

Ergamos, pois, do progresso o lábaro brilhante,

E sem tardança abordemos a grande e vasta mina

Aberta ao nosso esforço...

O amor e a prece:

As sagradas palavras sobre nossa bandeira!

Por elas protegidos, levemos os trabalhos.

Se um dia for preciso em luta sucumbir,

Nós pedimos, Senhor, que ao menos na queda,

Aos filhos inspirando a coragem e a fé,

Eles, por fim, garantam o reino de tua lei.

Discurso de Victor Hugo ao pé do túmulo de uma jovem

Embora esta tocante oração fúnebre tenha sido publicada por diversos jornais, encontra lugar igualmente nesta Revista, em razão da natureza dos pensamentos que encerra, e cujo alcance todos poderão compreender. O jornal do qual a tiramos dá conta da cerimônia fúnebre nestes termos:

“Uma triste cerimônia reunia, quinta-feira última, uma multidão dolorosamente comovida no cemitério dos independentes, em Guernesey. Inumavam uma jovem que a morte havia surpreendido em meio às alegrias da família, cuja irmã se casara dias antes. Era uma mocinha feliz, a quem um dos filhos do grande poeta, Sr. François Hugo, tinha dedicado o décimo quarto volume de sua tradução de Shakespeare. Ela morreu na véspera do lançamento desse volume.

“Como acabamos de dizer, a assistência era numerosa nesses funerais, numerosa e simpática, e é com viva tristeza, com lágrimas que a amizade fazia correr, que ela ouviu as palavras de adeus, pronunciadas sobre esse túmulo tão prematuramente aberto, pelo ilustre exilado de Guernesey, o próprio Victor Hugo.

“Eis o discurso pronunciado pelo poeta:

“Em algumas semanas ocupamo-nos de duas irmãs. Casamos uma e sepultamos a outra. Eis o perpétuo movimento da vida.

“Inclinemo-nos, meus irmãos, ante o severo destino, mas inclinemo-nos com esperança. Nossos olhos foram feitos para chorar, mas para ver; nosso coração foi feito para sofrer, mas para crer. A fé numa outra existência brota da faculdade de amar. Não esqueçamos que nesta vida inquieta e garantida pelo amor, é o coração que crê. O filho espera encontrar seu pai; a mãe não consente em perder o filho para sempre. Essa recusa do nada é a grandeza do homem.

“O coração não pode errar. A carne é um sonho, porque ela se dissipa. Se esse desaparecimento fosse o fim do homem, tiraria à nossa existência toda sanção. Não nos contentamos com esta fumaça que é a matéria. Necessitamos de uma certeza.

Quem quer que ame, sabe e sente que nenhum dos pontos de apoio do homem está na Terra. Amar é viver além da vida. Sem essa fé, nenhum dom perfeito do coração seria possível. Amar, que é o objetivo do homem, seria o seu suplício. Este paraíso seria o inferno. Não! Digamos bem alto que não, pois a criatura amante exige a criatura imortal. O coração necessita da alma.

“Há um coração neste esquife, e esse coração está vivo. Neste momento ele escuta minhas palavras.

“Emily de Putron era o suave orgulho de uma respeitável família patriarcal. Seus amigos e seus próximos tinham por encantamento sua graça e por festa seu sorriso. Ela era como uma flor de alegria que se derramava pela casa. Desde o berço todas as ternuras a rodeavam; ela cresceu feliz, e recebendo felicidade dava felicidade; amada, amava. Ela acaba de partir.

“Para onde foi? Para a sombra? Não. Nós é que estamos na sombra. Ela? Ela está na aurora. Ela está na glória, na verdade, na realidade, na recompensa. Essas jovens mortas, que nenhum mal fizeram na vida, são bem-vindas do túmulo, e suas cabeças se erguem suavemente fora da sepultura, para uma coroa misteriosa.

“Emily de Putron foi procurar lá em cima a serenidade suprema, complemento das existências inocentes. Ela se foi: mocidade, para a eternidade; beleza, para o ideal; esperança, para a certeza; amor, para o infinito; pérola, para o oceano; Espírito, para Deus.

“Vai, alma!

“O prodígio desta grande partida celeste que chamam morte, é que os que partem não se afastam. Estão num mundo de claridade, mas assistem, como testemunhas enternecidas, ao nosso mundo de trevas. Estão no alto, e muito perto. Ó, quem quer que sejais, que vistes desaparecer no túmulo um ser querido, não vos julgueis abandonados por ele. Ele está sempre aqui. Ele está ao vosso lado mais do que nunca. A beleza da morte é a presença. Presença inexprimível das almas amadas, sorrindo aos nossos olhos em lágrimas. O ser chorado desapareceu, mas não partiu. Não mais percebemos o seu rosto suave... Os mortos são invisíveis, mas não estão ausentes.

“Rendamos justiça à morte. Não sejamos ingratos para com ela. Ela não é, como se diz, um aniquilamento, um embuste. É um erro crer que aqui, nesta obscuridade da fossa aberta, tudo se perde. Aqui tudo se reencontra. A tumba é um lugar de restituição. Aqui a alma retoma o Infinito; aqui ela recobra a sua plenitude; aqui ela entra na posse de sua misteriosa natureza; ela é desligada do corpo, desligada da necessidade, desligada do fardo, desligada da fatalidade. A morte é a maior das liberdades. Ela é, também, o maior dos progressos. A morte é a ascensão de tudo o que viveu em grau superior. Ascensão deslumbrante e sagrada. Cada um recebe o seu aumento. Tudo se transfigura na luz e pela luz. Aquele que foi apenas honesto na Terra torna-se belo; aquele que só foi belo torna-se sublime; aquele que só foi sublime torna-se bom.

“E eu que falo, por que estou aqui? O que é o que eu trago a esta fossa? Com que direito venho dirigir a palavra à morte? Quem sou eu? Nada. Engano-me, sou alguma coisa. Sou um proscrito. Exilado pela força ontem, exilado voluntário hoje. Um proscrito é um vencido, um caluniado, um perseguido, um ferido no destino, um deserdado da pátria. Um proscrito é um inocente sob o peso de uma maldição. Sua bênção deve ser boa. Eu abençoo este túmulo.

“Abençoo o ser nobre e gracioso que está nesta fossa. No deserto encontramos oásis; no exílio encontramos almas. Emily de Putron foi uma dessas encantadoras almas encontradas. Venho pagar-lhe a dívida do exílio consolado. Eu a abençoo na profundeza sombria. Em nome das aflições sobre as quais ela brilhou suavemente; em nome das provações do destino, para ela terminadas, continuadas para nós; em nome de tudo o que ela esperou outrora e de tudo o que obtém hoje, em nome de tudo o que ela amou, eu abençoo esta morta, eu a abençoo na sua beleza, na sua juventude, na sua doçura, na sua vida e na sua morte; eu a abençoo na sua branca túnica sepulcral; na sua casa que ela deixa desolada; no seu caixão, que sua mãe encheu de flores e que Deus vai encher de estrelas!”

A estas palavras notáveis não falta absolutamente nada além da palavra Espiritismo. Não são apenas a expressão de uma crença vaga na alma e na sua sobrevivência; ainda menos o frio nada, sucedendo à atividade da vida, enterrando para sempre, sob seu manto de gelo, o espírito, a graça, a beleza, as qualidades do coração. Também não é a alma abismada nesse oceano do infinito que se chama o todo universal. É efetivamente o ser real, individual, presente em nosso meio, sorrindo aos que lhe são caros, vendo-os, escutando-os, falando-lhes pelo pensamento. Que de mais belo, de mais verdadeiro que estas palavras: “Amar é viver além da vida. Sem esta fé, nenhum dom perfeito do coração seria possível, pois amar, que é o objetivo do homem, seria o seu suplício. Este paraíso seria o inferno. Não. Digamos bem alto que não. A criatura amante exige a criatura imortal. O coração necessita da alma.”

Que ideia da morte é mais justa do que esta: “O prodígio desta grande partida celeste que chamam morte, é que os que partem não se afastam. Eles estão num mundo de claridade, mas assistem, como testemunhas enternecidas, ao nosso mundo de trevas. Estão no alto, e muito perto. Ó, quem quer que sejais, que vistes desaparecer no túmulo um ser querido, não vos julgueis abandonados por ele. Ele está sempre aqui. Ele está ao vosso lado mais do que nunca... É um erro crer que aqui, nesta obscuridade da fossa aberta, tudo se perde. Aqui tudo se reencontra. A tumba é um lugar de restituição. Aqui a alma retoma o Infinito; aqui ela recobra a sua plenitude.”

Não é exatamente o que ensina o Espiritismo? Mas aos que pudessem julgar-se vítimas de uma ilusão, ele vem juntar à teoria a sanção do fato material, pela comunicação dos que partiram com os que ficam. Que há, pois, de desarrazoado em crer que esses mesmos seres que estão ao nosso lado, com um corpo etéreo, possam entrar em relação conosco?

Ó vós, cépticos, que rides de nossas crenças, ride, pois, destas palavras do poeta filósofo cuja alta inteligência conheceis! Direis que é um alucinado? Que é louco quando crê na manifestação dos Espíritos? É louco quem escreve: “Tenhamos compaixão dos castigados. Ah! Quem somos nós mesmos? Quem sou eu, eu que vos falo? Quem sois vós, vós que me escutais? De onde viemos? É certo que nada fizemos antes de nascer? A Terra não deixa de assemelhar-se a uma prisão. Quem sabe se o homem não é um reincidente da justiça divina? Olhai a vida de perto. Ela é feita de tal modo que por toda parte se sente a punição.” (Os Miseráveis, 7º volume, livro VII, capítulo 1º).

Não está aí a preexistência da alma; a reencarnação na Terra; a Terra, mundo de expiação? (Vide A Imitação do Evangelho, nº. 27, 46, 47).

Vós que negais o futuro, que estranha satisfação é a vossa de vos comprazerdes com a ideia do aniquilamento do vosso ser e daqueles a quem amastes? Oh! Tendes razão de temer a morte, pois para vós é o fim de todas as esperanças.

Lido o discurso acima na sessão de 27 de janeiro de 1865, na Sociedade Espírita de Paris, o Espírito da jovem Emily de Putron, que sem dúvida o escutava e partilhava da emoção da assembleia, manifestou-se espontaneamente pela Sra. Costel, e ditou as seguintes palavras:

“As palavras do poeta correram sobre esta assembleia como um sopro sonoro. Elas fizeram vossos espíritos estremecerem; elas evocaram minha alma, que ainda flutua incerta no espaço infinito!

“Ó poeta, revelador da vida, bem conheces a morte, pois não coroas com ciprestes aqueles que tu choras, mas ligas às suas frontes as trêmulas violetas da esperança! Eu passei rápida e ligeira, apenas aflorando as enternecidas alegrias da vida, e ao declinar do dia, fui arrebatada sobre o trêmulo raio que morria no seio das ondas.

“Ó minha mãe, minha irmã, minhas amigas, grande poeta! Não choreis mais, mas ficai atentos! O murmúrio que acaricia os vossos ouvidos é o meu; o perfume da flor inclinada é meu hálito. Misturo-me à grande vida para melhor penetrar o vosso amor. Nós somos eternos! O que não teve começo não pode acabar, e o teu gênio, ó poeta, semelhante ao rio que corre para o mar, encherá a Eternidade com o poder que é força e amor!”

EMILY

Notícias bibliográficas

LA LUCE

JORNAL DO ESPIRITISMO EM BOLONHA (ITÁLIA)

O Espiritismo conta com um novo órgão na Itália. A LUZ, jornal do Espiritismo em Bolonha aparece em edições mensais. (10 francos por ano para a Itália.)

Eis a tradução de seu programa:

“Surgiu a aurora de um grande dia e já resplandece nos céus. O Espiritismo, este fato surpreendente, e para muitos incrível, fez sua aparição em todas as partes do mundo, e marcha com força irresistível. Hoje seus adeptos se contam por milhões, e estão espalhados em toda parte.

“Importantes obras e numerosos jornais especiais, devidos a inteligências de escol, são publicados sobre essa sublime filosofia, principalmente na França, onde numerosas sociedades dela se ocupam. Várias cidades da Itália também fazem reuniões espíritas; sociedades de cientistas existem em Nápoles e em Turim; a desta última cidade publica o excelente jornal Os Anais do Espiritismo em Turim.

“Os que ignoram os princípios desta nova ciência em vão se esforçam em ridicularizá-la e fazer passar seus adeptos por sonhadores e alucinados. As comunicações entre o mundo invisível e o mundo corporal estão na natureza das coisas; elas existiram em todos os tempos. Eis por que se encontram os seus traços em todos os povos e em todas as épocas. Essas comunicações, hoje mais gerais e mais espalhadas, patentes a todos, têm um objetivo: Os Espíritos vêm anunciar que os tempos preditos pela Providência para uma manifestação universal estão chegados; eles têm por missão instruir os homens, abrindo-lhes uma era nova, para a regeneração da Humanidade.

“É em vão que se agitam os fariseus da época e que a incredulidade se arma de um soberbo sorriso, pois eles não deterão a estrela do Espiritismo. Quanto mais ela avança, mais cresce sua força e vem abater o orgulhoso materialismo, que ameaça invadir todas as classes da Sociedade.

“Se, pois, nos centros mais inteligentes, nas maiores cidades, nas capitais, estudam há vários anos com interesse esses fenômenos que, fora das leis da ciência vulgar, se manifestam por todos os lados, é que reconheceram a sua realidade e neles viram a ação de uma vontade livre e inteligente.

“O jornal A Luz foi fundado com o objetivo de propagar esta nova ciência, e apoiando-se nas mais especiais obras instrutivas, entre as quais colocamos em primeira linha as de Allan Kardec, o douto presidente da Sociedade Espírita de Paris, que nos fornecerão a matéria da parte filosófica e a teoria da parte experimental. Estudo e boa vontade são as duas condições necessárias para chegar a experimentar por si mesmo. Na segunda parte, nosso jornal conterá os ditados dos Espíritos, uns sobre a mais consoladora filosofia e a mais pura moral, e os outros, embora familiares, serão escolhidos entre os mais adequados a inspirar a fé, o amor e a esperança. Além disso, passando em revista as obras e jornais espíritas, publicaremos todos os fatos de natureza a interessar os nossos leitores. Nenhuma discussão será entabulada com pessoas que desconheçam os princípios do Espiritismo.

“A fé e a coragem tornarão menos penoso o nosso dever e mais fácil o caminho para chegar à verdade.”


O MUNDO MUSICAL
JORNAL DA LITERATURA E DAS BELAS-ARTES

Publicado sob a direção dos senhores Malibran e Roselli.

Administrador, Sr. Vauchez.

Escritório em Bruxelas, Rua de la Montagne, 51.

Esse jornal, do qual demos notícia no número de dezembro de 1864, acaba de se constituir em sociedade em comandita, com o capital de 60.000 francos, dividido em 2.400 ações de 25 francos. Juros das ações, 6% ao ano; parte do dividendo anual de 40% sobre o lucro. Sai todos os domingos, com o formato dos grandes jornais. Assinatura: Bélgica 4 francos por ano; 10 cêntimos o número. Para a França, 10 francos por ano. Assinaturas em Paris, Rua Ribouté, 8.

As simpatias do jornal pelo Espiritismo o recomendam a todos os adeptos. Cada número contém um ótimo artigo sobre a doutrina. Embora sejamos alheios à sua direção, a administração da Revista encarrega-se, por pura gratidão, de receber assinaturas e subscrição de ações.

Correspondência


Obrigado ao espírita anônimo de São Petersburgo que nos mandou 50 francos para a pobre operária de Lyon, a pedido de Cárita. Se os homens não sabem o seu nome, Deus o sabe.

ALLAN KARDEC

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