Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1865

Allan Kardec

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Maio

Questões e problemas

Manifestação do Espírito dos animais

Escrevem-nos de Dieppe:

“... Caro senhor, parece-me que chegamos a uma época em que devem realizarse coisas incríveis. Não sei o que pensar de um dos mais estranhos fenômenos que acaba de verificar-se em minha casa. Nos tempos de ceticismo em que vivemos, dele não ousaria falar a ninguém, temendo que me tomem por um alucinado. Mas, caro senhor, com o risco de trazer aos vossos lábios o sorriso da dúvida, quero contar-vos o fato. Em aparência fútil, no fundo talvez seja mais sério do que se poderia pensar.

“Meu pobre filho, falecido em Boulogne-sur-Mer, onde continuava seus estudos, tinha um linda galga que tínhamos educado com extremo cuidado. Na sua espécie era a mais adorável criaturinha que se pudesse imaginar. Nós a queríamos como se ama tudo o que é belo e bom. Ela nos compreendia pelo gesto, assim como pelo olhar. A expressão de seus olhos era tal que parecia que fosse responder quando lhe dirigíamos a palavra.

“Depois da morte de seu jovem dono, a pequena Mika ─ tal era o seu nome ─ me foi trazida para Dieppe e, conforme seu hábito, dormia aquecida aos meus pés, em minha cama. No inverno, quando o frio castigava muito, ela se levantava, dava um pequeno gemido de extrema doçura, o que era sua maneira de formular um pedido e, compreendendo o que ela desejava, eu permitia que viesse pôr-se ao meu lado. Então ela se estendia como podia entre dois panos, com o focinho em meu pescoço, que tomava por travesseiro, e dormia, como os felizes da Terra, recebendo meu calor, comunicando-me o seu, o que aliás não me desagradava. Comigo a pobre pequenina passava dias felizes. Mil coisas boas não lhe faltavam, mas, em setembro último, adoeceu e morreu, a despeito dos cuidados do veterinário a quem eu a confiava. Muitas vezes falávamos dela, minha mulher e eu, e a lamentávamos quase como um filho amado, tanto ela havia sabido, pela suavidade, pela inteligência e por seu apego fiel, cativar nossa afeição.

“Há pouco tempo, pelo meio da noite, estando deitado mas sem dormir, ouvi partir dos pés de meu leito aquele pequeno gemido que soltava minha pequena cadelinha quando queria alguma coisa. Fiquei de tal modo chocado que estendi o braço para fora do leito, como para atraí-la a mim, e julguei mesmo que ia sentir suas carícias. Ao me levantar de manhã, contei o caso a minha mulher, que me disse: ‘Ouvi a mesma voz, não uma, mas duas vezes. Parecia vir da porta do meu quarto. Meu primeiro pensamento foi que nossa cadelinha não estava morta, e que, foragida da casa do veterinário, que dela se havia apropriado por causa da sua delicadeza, buscava voltar para nossa casa.’

“Minha pobre filha doente, que tem sua caminha no quarto de sua mãe, afirma também ter ouvido. Apenas lhe pareceu que a voz não partia da porta de entrada, mas do próprio leito de sua mãe, que é juntinho da porta.

“Devo dizer-vos, caro senhor, que o quarto de minha mulher fica acima do meu. Esses sons estranhos viriam da rua, como pensa minha mulher, que não partilha de minhas convicções espíritas? É impossível. Vindos da rua, esses sons tão suaves não teriam chegado ao meu ouvido, pois sou tão surdo que, mesmo no silêncio da noite, não escuto o ruído de uma berlinda que passa. Não escuto nem mesmo a voz do trovão durante uma tempestade. Por outro lado, o som da voz vindo da rua, como explicar a ilusão de minha mulher e de minha filha, que julgaram ouvilo como se viesse de um ponto totalmente oposto, da porta de entrada, por minha mulher, do leito desta por minha filha?

“Confesso, caro senhor, que esses fatos, embora se refiram a um ser privado de razão, me fazem refletir singularmente. Que pensar disto? Nada ouso decidir e não posso me estender muito a respeito. Mas eu me pergunto se o princípio imaterial, que deve sobreviver nos animais como no homem, não adquiriria, em certo grau, a faculdade de comunicação, como a alma humana. Quem sabe! Conhecemos todos os segredos da Natureza? Evidentemente não. Quem explicará a lei das afinidades? Quem explicará as leis da repulsão? Ninguém! Se a afeição, que é do domínio do sentimento, como o sentimento é do domínio da alma, possui em si uma força atrativa, que haveria de admirável se um pobre animalzinho em estado imaterial se sentisse arrastado para onde o leva sua afeição? Mas o som da voz, perguntarão, como admiti-lo; e se se faz ouvir uma, duas vezes, por que não todos os dias? Esta objeção pode parecer séria, contudo, seria desarrazoado pensar que esse som não possa produzir-se fora de certas combinações de fluidos que, reunidos, agem num sentido qualquer, como em química há certas efervescências, certas explosões, por força da mistura de tais ou quais elementos? Se essa hipótese parece fundada ou não, não a discuto. Direi apenas que pode estar nas coisas possíveis e, sem ir mais adiante, acrescentarei que constato um fato apoiado num tríplice testemunho, e que se o fato se produziu é porque pôde produzir-se. Além disto, esperemos que o tempo nos esclareça e talvez não tardemos a ouvir falar de fenômenos da mesma natureza.”

Nosso honrado correspondente faz bem em não considerar definitivamente resolvida a questão. De um fato único, que além disso não passa de uma probabilidade, ele não tira uma conclusão absoluta. Ele constata e observa, esperando que a luz se faça. Assim o quer a prudência. Os fatos deste gênero não são ainda bastante numerosos nem suficientemente comprovados para deles deduzir-se uma teoria afirmativa ou negativa. A questão do princípio e do fim do Espírito dos animais apenas começa a surgir, e o fato de que se trata a ela se liga essencialmente. Se não for uma ilusão, pelo menos constata o elo de afinidade que existe entre o Espírito dos animais, ou melhor, de certos animais e o do homem. Aliás, parece positivamente provado que há animais que veem os Espíritos e com estes se impressionam. Temos relatado vários exemplos na Revista, entre outros o do Espírito e o cãozinho, no número de junho de 1860. Se os animais veem os Espíritos, evidentemente não é pelos olhos do corpo. Então, também eles têm uma espécie de visão espiritual.

Até agora a Ciência apenas constatou as relações fisiológicas entre o homem e os animais. Ela nos mostra, no físico, todos os elos da cadeia de seres sem solução de continuidade. Entretanto, entre o princípio espiritual dos dois Espíritos havia um abismo. Se os fatos psicológicos, melhor observados, vêm lançar uma ponte sobre esse abismo, será um novo passo para a unidade da escala dos seres e da criação.

Não é por meio de sistemas que se poderá resolver esta grave questão, mas pelos fatos. Se deve sê-lo um dia, o Espiritismo, criando a psicologia experimental, é o único que lhe poderá fornecer os meios. Em todo o caso, se existem pontos de contacto entre a alma animal e a alma humana, este não pode ser, no caso da alma animal, senão da parte dos mais adiantados. Um fato importante a constatar é que, entre os seres do mundo espiritual, jamais se fez menção de que existissem Espíritos de animais. Disso pareceria resultar que aqueles não conservam a sua individualidade após a morte e, por outro lado, que a pequena galga, que se teria manifestado, pareceria provar o contrário.

De acordo com isto, vê-se que a questão ainda está pouco adiantada, e não se deve forçar a sua solução. Tendo sido lida a carta acima na Sociedade de Paris, a respeito foi dada a seguinte comunicação.

(Paris, 21 de abril de 1865 ─ Médium, Sr. E. Vézy) Esta noite vou tocar em grave questão, falando-vos das relações que podem existir entre a animalidade e a humanidade. Mas neste recinto, quando, pela primeira vez, minhas instruções vos ensinavam a solidariedade de todas as existências e as afinidades entre elas existentes, elevou-se um murmúrio numa parte desta assembleia, e eu me calei. Deveria fazer o mesmo hoje, a despeito de vossas perguntas? Não, porque enfim eu vos vejo entrar na via que eu vos indicava.

Mas tudo não se limita apenas em crer no progresso incessante do Espírito, embrião na matéria, desenvolvendo-se ao passar pela peneira do mineral, do vegetal, do animal, para chegar à humanimalidade, onde começa a ensaiar-se sozinha a alma que se reencarnará, orgulhosa de sua tarefa, na humanidade. Entre essas diversas fases existem laços importantes, que é necessário conhecer, e que chamarei períodos intermediários ou latentes, porque é aí que se operam as transformações sucessivas. Eu vos falarei mais tarde dos laços que unem o mineral ao vegetal, o vegetal ao animal. Considerando-se que um fenômeno que vos causa admiração nos leva aos laços que ligam o animal ao homem, vou tratar convosco acerca destes últimos.

Entre os animais domésticos e o homem, as afinidades são produzidas pelas cargas fluídicas que vos rodeiam e sobre eles recaem. É um pouco a humanidade que influi sobre a animalidade, sem alterar as cores de uma ou da outra. Daí essa superioridade inteligente do cão sobre o instinto brutal do animal selvagem, e é só a esta causa que poderão ser devidas essas manifestações que vos acabam de ler. Assim, não se enganaram ouvindo um grito alegre do animal reconhecido pelos cuidados de seu dono, vindo, antes de passar ao estado intermediário de um desenvolvimento a outro, trazer-lhe uma lembrança. Assim, a manifestação pode dar-se, mas é passageira, porque o animal, para subir um degrau, necessita de um trabalho latente que aniquile, para todos, qualquer sinal exterior de vida. Esse estado é a crisálida espiritual onde se elabora a alma, perispírito informe, não tendo nenhuma figura reprodutiva de traços, quebrando-se num estado de maturidade, para deixar escapar, nas correntes que a arrastam, os germes de almas que aí eclodem. Assim, ser-nos-ia difícil falar-vos dos Espíritos de animais no espaço, pois não existem, ou antes, sua passagem é tão rápida que é como se fosse nula, e no estado de crisálida eles não poderiam ser descritos.

Já sabeis que nada morre da matéria que sucumbe. Quando um corpo se dissolve, os diversos elementos de que ele é composto reclamam a parte que lhe deram. Oxigênio, hidrogênio, azoto e carbono voltam ao seu foco primitivo para alimentar outros corpos. Dá-se o mesmo com a parte espiritual: Os fluidos organizados espirituais, à passagem, tomam cores, perfumes, instintos, até a constituição definitiva da alma.

Compreendeis-me bem? Sem dúvida eu necessitaria explicar-me melhor, mas, para terminar esta noite e não vos deixar supor o impossível, asseguro-vos que o que é do domínio da inteligência animal não pode reproduzir-se pela inteligência humana, isto é, que o animal, seja qual for, não pode traduzir seu pensamento pela linguagem humana. Suas ideias são apenas rudimentares. Para ter a possibilidade de exprimir-se, como faria o Espírito de um homem, ele necessitaria de ideias, de conhecimentos e de um desenvolvimento que ele não tem nem pode ter. Tende, pois, como certo, que nem o cão, o gato, o burro, o cavalo ou o elefante podem manifestar-se por via mediúnica. Os Espíritos chegados ao grau da humanidade, e só eles, podem fazê-lo, e ainda em razão de seu adiantamento, porque o Espírito de um selvagem não vos poderá falar como o de um homem civilizado.


OBSERVAÇÃO: Estas últimas reflexões do Espírito foram motivadas pela citação, feita na sessão, de pessoas que pretendiam ter recebido comunicações de diversos animais. Como explicação do fato precitado, sua teoria é racional, e no fundo ela está em concordância com a que hoje prevalece nas instruções dadas na maior parte dos centros. Quando tivermos reunido documentos suficientes, resumilos-emos num corpo de doutrina metódico, que será submetido ao controle universal. Até lá são apenas balizas postas no caminho, para clareá-lo.


Considerações sobre os ruídos de Poitiers

Tiradas do Journal de La Vienne, de 22 de novembro de 1864

Conhece-se a lógica dos adversários do Espiritismo. O resumo seguinte, tirado de um artigo com a assinatura de David (de Thiais), fornece-nos uma amostra disso:

“Amigo leitor, como eu, deveis ter no escritório uma pequena brochura do Sr. Boreau, de Niort, com o título de Como e por que me tornei espírita, in-8º, com facsímile de autógrafo da escrita direta de um Espírito familiar.

“É a mais curiosa das histórias, a de um homem sincero, convicto, amante das coisas elevadas, mas que deifica suas ilusões e incessantemente corre atrás de sonhos, crendo apanhar a realidade. Perseguindo com Jeanne, a sonâmbula, um tesouro enterrado num antigo campo de batalha da Vendée, ele encontra, em vez do ouro prometido, Espíritos barulhentos, malévolos, temíveis, que quase matam de terror a sua companheira e o fazem vítima de dolorosas angústias. Súbito ele se torna espírita, como se as aparições que o obsidiam para ele renovassem os milagres da lâmpada maravilhosa e, ao mesmo tempo, lhe prodigalizassem todos os bens do corpo e da alma.

“É preciso que a ficção seja uma das maiores necessidades do gênio humano, para que semelhantes crenças sejam possíveis.

“Há aí gênios farsistas, que zombam; Espíritos cruéis, que ameaçam e batem; Espíritos grosseiros, com a boca cheia de injúrias e a gente se pergunta o que eles vêm fazer aqui em baixo, já que a morte não os depurou em seus cadinhos terríveis.

“Aí também se satisfazem com dísticos e quadrinhas de um bom anjo, que não trouxe do Céu os segredos de sua poesia, demonstrando quão longe uma ideia preconcebida nos leva no caminho das ilusões.

“Em matéria de Espiritismo, o Sr. Boreau tem a fé do carvoeiro; ele chega ao ponto de amar aqueles que nele batem e o molestam. Nada temos a acrescentar quanto a isto, tanto mais que sua brochura contém páginas tão divertidas, e prova que ele pode privar-se facilmente dos Espíritos exteriores, porque o seu lhe deve bastar muito bem.

“Diremos apenas que os fatos que ele relata não datam de ontem.

“Lembramo-nos ainda da emoção que empolgou a cidade de Poitiers, quando a casa da Rua Saint-Paul fez ouvir, no ano passado, sua formidável artilharia. Uma longa procissão de curiosos rondou durante oito dias em volta dessa casa assombrada pelo demônio; a polícia ali estabeleceu o seu quartel-general e cada um espreitou o voo dos Espíritos para ter a sorte de surpreender os segredos do outro mundo, mas só viram fogo. Os Espíritos só se revelam aos crentes, fazendo todo o barulho do mundo. (Revista Espírita de fevereiro, março e maio de 1864).

“Coisa estranha, leitor! Essas paragens parecem ter o monopólio dessa raça barulhenta e zombeteira.

“Gorre, célebre médico alemão falecido em 1836, ensina no Tomo III de sua Mystique, segundo diz Guillaume d’Auvergne, falecido em 1249, bispo de Paris, que, nessa mesma época, um Espírito batedor se havia introduzido numa casa do dito bairro de São Paulo, em Poitiers, e que atirava pedras e quebrava os vidros.

“Pierre Mamoris, professor de teologia em nossa universidade, autor do Flagellum maleficorum, conta o que se passou em 1447 na Rua Saint-Paul, numa casa onde certo Espírito, entregando-se às suas evoluções ordinárias, lançava pedras, arrastava os móveis, quebrava os vidros, até batia nas pessoas, mas de leve, sem que fosse possível descobrir como ele procedia.

“Conta-se que nessa ocasião Jean Delorme, então cura de Saint-Paul, homem de muita instrução e grande probidade, veio, acompanhado de algumas pessoas, visitar o teatro dessas estranhas proezas e, munido de velas bentas e acesas, água benta e água gregoriana, percorreu todos os aposentos da casa, aspergindo-os e exorcizando-os.

“Mas todos os exorcismos foram impotentes. Nenhum diabo se mostrou. Contudo, a partir daquele momento, o maligno Espírito deixou de manifestar-se[1].

“Assim, com alguns séculos de intervalo, os mesmos fenômenos espíritas se repetem três vezes na mesma cidade e no mesmo bairro. Mas, que concluir disto? Absolutamente nada. Com efeito, não há qualquer consequência importante a tirar de um ruído vão, de brincadeiras pueris, de violências lamentáveis que evidentemente não podem ser atribuídas aos Espíritos, corpos imponderáveis que, planando sobre o mundo, devem escapar às enfermidades humanas, aproximando-se incessantemente da luz e da bondade de Deus.

“Aliás, esta questão não está em discussão. Cada um é livre de escolher os seus Espíritos e de adorá-los à sua maneira, de emprestar-lhes uma virtude, um poder, um caráter em conformidade com as suas aspirações. Somente, nós preferimos aos gênios um tanto materiais da escola moderna, as criações nascidas da poesia dos dias antigos e que, marchando fraternalmente com os homens nos limites dos dois mundos, lhes davam tão docemente a mão, para aproximá-los das fontes da vida imortal e da felicidade sem fim.

“Nenhum Espírito batedor valerá para nós essas adoráveis imagens pintadas pelo gênio de Ossian sobre as nuvens vaporosas do Norte, e cujas harpas melancólicas ainda fazem fremir tão bem as mais íntimas fibras do coração. Quando a alma se evola, tem o cuidado de aliviar suas asas e repele tudo quanto possa tornálas pesadas.”

Devemos agradecimentos ao autor deste artigo, por nos haver dado a conhecer esse fato notável, que ignorávamos, do mesmo fenômeno reproduzido há séculos na mesma localidade. Ele não podia melhor servir à nossa causa, sem o suspeitar, porque desta repetição ele pretende tirar um argumento contra as manifestações. Parece-nos que em boa lógica, quando um fato é único e isolado não se pode deduzir consequência absoluta, pois pode ser devido a uma causa acidental, ao passo que, quando se renova em condições idênticas, é que depende de uma causa constante, isto é, de uma lei. Buscar essa lei é dever de todos os observadores sérios, pois ela pode conduzir a importantes descobertas.

Que, malgrado a duração, o caráter especial e as circunstâncias acessórias dos ruídos de Poitiers, algumas pessoas tenham persistido em atribuí-los à malevolência, compreende-se até um certo ponto. Mas, então, se é pela terceira vez que se renovam na mesma rua e com séculos de distância, há, por certo, matéria para reflexão, porque, se há mal-intencionados, é muito improvável que em tão longo intervalo eles tenham escolhido precisamente o mesmo lugar para teatro de suas ações. Entretanto, que concluir disto? Diz o autor: Absolutamente nada. Assim, porque um fato várias vezes repetido emociona toda uma população, não há qualquer consequência a dele tirar! É uma lógica realmente singular! “São ruídos vãos, divertimentos pueris, que evidentemente não podem ser atribuídos aos Espíritos, corpos imponderáveis que, planando sobre o mundo, devem escapar às enfermidades humanas, aproximando-se incessantemente da luz e da bondade de Deus.” Então o Sr. David crê nos Espíritos, pois descreve os seus atributos com tanta precisão. Onde bebeu tais conhecimentos? Quem lhe disse que os Espíritos são tais quais ele os imagina? Ele os estudou para assim resolver a questão? Diz que “devem escapar às enfermidades humanas.” Às enfermidades corporais, sem dúvida, mas às enfermidades morais também? Então ele crê que o homem perverso, o assassino, o bandido, o mais vil dos malfeitores e ele estarão no mesmo nível quando forem Espíritos? De que lhes terá servido serem honestos em vida, se após a morte serão como se não tivessem sido? Considerando-se que os Espíritos se aproximam incessantemente da luz e da bondade de Deus, o que é mais verdadeiro do que talvez creia o autor, então houve um tempo em que eles estavam longe, porque, para se aproximar de um objetivo é preciso ter estado distante. Onde o ponto de partida? Ele não pode ser senão o oposto à perfeição, isto é, a imperfeição. Seguramente não são Espíritos perfeitos que se divertem com semelhantes coisas, mas se há Espíritos imperfeitos, que há de admirável que cometam malícias? Pelo fato de planarem sobre o mundo, segue-se que dele não podem aproximar-se? Seria supérfluo levar mais longe esta refutação. Os argumentos de nossos adversários, todos mais ou menos da mesma força, não nos teriam levado a transcrever este artigo, se não fosse o precioso documento que ele encerra, pelo que novamente agradecemos ao autor.



[1] Vide brochura do Sr. Bonsergent, na Biblioteca Imperial.



Palestras de além-túmulo - O Doutor Vignal

(Sociedade de Paris, 31 de março de 1865 - Médium: Sr. Diesliens)

Sem dúvida os leitores se lembram dos interessantes estudos sobre o Espírito de pessoas vivas, publicado na Revista de janeiro e março de 1860, e aos quais se haviam submetido o Sr. Conde de R... e o Sr. Dr. Vignal. Este último, afastado há vários anos, faleceu a 25 de março último. Na véspera do enterro, perguntamos a um sonâmbulo muito lúcido, que via bem os Espíritos, se o via. Disse ele: “Vejo um cadáver, no qual se opera um trabalho extraordinário. Dir-se-ia uma massa que se agita e como algo que faz esforços para se desprender dela, mas que apenas tem que vencer a resistência. Não distingo forma de Espírito bem determinada.” A 31 de março ele foi evocado na Sociedade de Paris. O mesmo sonâmbulo assistia à sessão, adormecido, durante a evocação. Ele o viu e o descreveu perfeitamente, enquanto se comunicava pelo médium de sua escolha.

Dizemos de sua escolha, porque a experiência demonstra o inconveniente de impor um médium ao Espírito, que pode não encontrar nele as condições necessárias para se comunicar livremente. Quando se faz pela primeira vez a evocação de um Espírito, convém que todos os médiuns presentes se ponham à sua disposição e esperem que ele se manifeste por um deles. Nessa sessão havia onze médiuns.

Pergunta. ─ Caro Sr. Vignal, todos os vossos antigos colegas da Sociedade de Paris conservaram de vós a melhor lembrança, e eu, em particular, a das excelentes relações que não se descontinuaram entre nós. Chamando-vos ao nosso meio, para começar temos por objetivo dar-vos um testemunho de simpatia e ficaremos muito feliz se tiverdes a bondade, ou se puderdes vir comunicar-vos conosco.

Resposta. ─ Caro amigo e digno mestre, vossa boa lembrança e vossos testemunhos de simpatia me são muito gratos. Se hoje posso vir a vós e assistir, livre e desprendido, a esta reunião de todos os nossos bons amigos e irmãos espíritas, é graças ao vosso bom pensamento e à assistência que vossas preces me trouxeram. Como dizia com justeza meu jovem secretário, eu estava muito impaciente para me comunicar. Desde o começo desta noite, empreguei todas as minhas forças espirituais para dominar esse desejo. Vossas conversas e as graves questões que debatestes, interessando-me vivamente, tornaram minha espera menos penosa. Perdoai, caro amigo, mas o meu reconhecimento precisava manifestar-se.

NOTA: Logo que percebeu tratar-se do Sr. Vignal, o médium sentiu, realmente, a influência desse Espírito que desejava por ele comunicar-se.

P. ─ Para começar, tende a bondade de dizer como vos achais no mundo dos Espíritos. Ao mesmo tempo, fazei o favor de descrever o trabalho da separação, vossas sensações nesse momento e dizer ao cabo de quanto tempo vós vos reconhecestes.

R. ─ Estou tão feliz quanto se pode ser, quando se vê confirmarem-se plenamente todos os pensamentos secretos que se pode ter emitido sobre uma doutrina consoladora e reparadora. Sou feliz! Sim, sou, porque agora vejo sem nenhum obstáculo desdobrar-se à minha frente o futuro da ciência e da filosofia espíritas.

Mas afastemos por hoje essas digressões inoportunas. Voltarei a conversar convosco sobre esse assunto, sabendo que minha presença vos dará tanto prazer quanto eu mesmo experimento vos visitando.

O desligamento foi muito rápido, mais rápido do que meu pouco mérito me permitia esperar. Fui ajudado poderosamente por vosso concurso, e vosso sonâmbulo vos deu uma ideia muito clara do fenômeno da separação, para que eu deva insistir sobre ele. Era uma espécie de oscilação descontínua, ou arrastamento em dois sentidos opostos. O Espírito triunfou, pois que aqui estou. Não deixei o corpo completamente senão no momento em que ele foi depositado na terra. Voltei convosco.

P. ─ Que pensais do serviço que foi feito nos vossos funerais? Julguei-me no dever de estar presente. Naquele momento estáveis bastante desprendido para vê-lo, e as preces que eu disse por vós, naturalmente não ostensivas, foram até vós?

R. ─ Sim. Como vos disse, vossa assistência tudo fez parcialmente, e eu vim convosco, abandonando completamente minha velha crisálida. As coisas materiais pouco me tocam, aliás, vós o sabeis. Eu só pensava na alma e em Deus.

P. ─ Lembrai-vos que, a pedido vosso, há cinco anos, em fevereiro de 1860, fizemos um estudo sobre vós, estando ainda vivo? Naquele momento vosso Espírito desprendeu-se para vir conversar conosco. Podeis descrever-nos, tanto quanto possível, a diferença que existe entre o vosso desprendimento atual e o de então?

R. ─ Sim, por certo. Eu me lembro. Mas que diferença entre o meu estado de então e o de hoje! Então a matéria ainda me constringia com seu sistema inflexível; eu queria desprender-me de maneira mais absoluta e não podia. Hoje estou livre. Um vasto campo, o do desconhecido, abre-se à minha frente, e eu espero, com a vossa ajuda e a dos bons Espíritos, aos quais me recomendo, avançar e me penetrar o mais rapidamente possível dos sentimentos que devo experimentar e dos atos que devo realizar para subir o caminho da prova e merecer o mundo das recompensas. Que majestade! Que grandeza! É quase um sentimento de espanto que domina quando, fracos como somos, queremos fixar as sublimes claridades.

P. ─ De outra vez teremos prazer de continuar esta conversa, quando quiserdes voltar até nós.

R. ─ Respondi sucintamente e sem ordem às vossas diversas perguntas. Não espereis ainda muito de vosso fiel discípulo, pois não estou inteiramente livre. Conversar, conversar mais, seria minha felicidade. Meu guia modera meu entusiasmo e já apreciei bastante a sua bondade e sua justiça para me submeter inteiramente à sua decisão, por mais pesar que eu experimente em ser interrompido. Consolo-me pensando que poderei vir muitas vezes assistir incógnito às vossas reuniões. Falar-vos-ei algumas vezes; amo-vos e quero prová-lo. Mas outros Espíritos mais adiantados que eu reclamam a prioridade, e eu deveria apagar-me ante os que tiveram a bondade de permitir ao meu Espírito dar livre curso à torrente de pensamentos que havia acumulado.

Deixo-vos, amigos, e devo agradecer duplamente, não só a vós, espíritas, que me chamastes, mas também a este Espírito que permitiu que eu tomasse o seu lugar e que, em vida, trazia o nome ilustre de Pascal.

Aquele que foi e será sempre o mais dedicado de vossos adeptos.

Dr. Vignal.


NOTA: Com efeito, o Espírito de Pascal deu a seguir a comunicação publicada adiante, sob o título de O progresso intelectual.


Correspondência - Cartas do Sr. Salgues, de Angers

Remetendo seu opúsculo A confusão do império de Satã, anunciado em nosso último número, o Sr. Salgues teve a bondade de juntar a carta seguinte, que temos o prazer de publicar com sua autorização. Como nós, cada um apreciará os sentimentos nela expressos.

Angers, 9 de março de 1865

Senhor e caro irmão em Deus,

É sob a impressão causada pela leitura das comunicações dos Espíritos da Sra. Foulon e do Dr. Demeure (Revista Espírita de março de 1865), que tenho a honra de vos escrever para exprimir todo o prazer que nelas encontrei, e, posso dizer, o muito interesse, que é ordinariamente o produto de vossa pena.

Acabo de remeter-vos uma pequena brochura, que vos peço aceiteis. Será para vós e para todos os meus leitores uma obra muito modesta; mas um velho de oitenta e dois anos, com a vista arruinada por excesso de trabalho e de estudos, e por isto não podendo retocar o que escreve, como desejaria, deve contar com a indulgência do público.

Os adversários católicos da pneumatologia alimentam nos fanáticos apostólicos a opinião que os Espíritos são demônios, que Satã é uma realidade, e assim prejudicam o desenvolvimento das boas doutrinas, como efeito das preciosas lições tão morais, tão consoladoras desses supostos duendes. É em vão que as pessoas razoáveis negam estes últimos por uma simples negação persistente. Convém provar aos demonófobos, por detalhes circunstanciados, que eles estão em erro; que o inferno dos cristãos é um mito. Foi o que me determinou a escrever este opúsculo, sem a pretensão de ocupar o lugar de um escritor.

Como assinante das publicações espíritas de Bordeaux, acabo de enviar um exemplar de meu livro a cada um de seus autores. Deveria ser de outro modo convosco, senhor, cujas produções leio com interesse desde o seu aparecimento? Contudo pensareis que o faça com timidez, porque fui adversário, não dos espíritas, muito honrados, para mim, mas do Espiritismo. Não de maneira absoluta, mas por arrastamento, devendo entretanto repelir na ocasião uma linguagem que me atribuíam por abuso de minha assinatura. Assim, interditei-me toda crítica, querendo ser amigo de todos. Portanto, não quero mais senão observar, aproximar, comparar, esperar, aprender e julgar no silêncio do gabinete. Hoje ainda creio que estamos longe de saber tudo; que em Espiritismo como em espiritualismo haveria lugar para discutir com os Espíritos certas questões de doutrina, mas me reservo. Com paciência todos chegaremos ao mesmo fim, à felicidade absoluta da vida eterna.

Aliás, vejo que por toda parte o Espiritismo faz as pessoas felizes. É vossa obra gloriosa, e eu me aplico em incentivar ao máximo a leitura dos escritos que tanto se espalham hoje, para reafirmar a moralidade e os sentimentos religiosos, conduzidos pelo caminho mais racional. Os homens cultos devem, pois, comigo fazer votos para que Deus vos conceda longos dias em perfeita saúde. Creio que ele também se manifestou a meu respeito, por intermédio de três Espíritos que, sem que eu pensasse nisso, e em diferentes lugares me disseram que eu viveria muito tempo, o que já data de sete ou oito anos. Talvez seja porque sempre fiz propaganda com zelo e sem desânimo, desde 1853, que, a despeito da visão, que sacrifiquei muito, tenho força, energia, leveza física e a vivacidade de um jovem, e que não se adivinha minha idade por meu aspecto.

Tende a bondade de aceitar, senhor e caro irmão, o preito de minha alta consideração e minhas cordiais saudações.

SALGUES

Uma segunda carta do Sr. Salgues, de 11 de abril de 1865, contém a seguinte passagem:

“Um anúncio de meu opúsculo foi feito por um jornal ao qual enviei um exemplar. Tive que censurar o autor por ter-me chamado de adversário IMPLACÁVEL do Espiritismo. Sob a impressão dos dados há pouco fornecidos a Victor Hennequin por um mau Espírito, combati de boa-fé a doutrina das encarnações, mas depois de haver reconhecido um grande número de incoerências espiritualistas, e como notei no Espiritismo certos detalhes que não cativavam minha confiança, acabei por me limitar à observação minuciosa, esperando com paciência o dia em que, com uma natureza mais perfeita, pudesse eu reconhecer a verdade a respeito de nosso destino após a vida na matéria. Por ora me basta, em relação aos fatos e às comunicações dos Espíritos, estar seguro de uma segunda vida no estado espiritual.”


Resposta.

Meu caro senhor,

Recebi a carta que tivestes a gentileza de me escrever, bem como a brochura que a acompanhava, pelo que peço recebais meus sinceros agradecimentos. Ainda não tive tempo de tomar conhecimento da obra, mas não duvido que tenhais dado trabalho aos nossos antagonistas. A questão do demônio é o último cavalo-debatalha em que se agarram, mas esse cavalo está muito entrevado e a corda dessa tábua de salvação está tão gasta que não tardará a romper-se e deixar o barco à deriva.

Fico satisfeito, senhor, pelos excelentes sentimentos que me testemunhais, e por achar em vós uma moderação e uma imparcialidade que marcam a elevação do vosso espírito. Confesso que o contrário é que me admiraria, e é para mim uma grande felicidade ver que eu tinha sido induzido em erro por falsas aparências. Se divergimos nalguns pontos da doutrina, vejo com verdadeira satisfação que um grande princípio nos une, o “Fora da caridade não há salvação.”

Recebei, caro senhor, as fraternais saudações do vosso muito dedicado,

ALLAN KARDEC

Manifestações diversas - curas - chuvas de drágeas

Carta do Sr. Delanne

Em data de 2 de abril último escreve-nos nosso colega Sr. Delanne:

Caríssimo mestre, revi nossos irmãos de Barcelona. Lá, como na França, a doutrina se propaga, os adeptos são zelosos e fervorosos. Num grupo que visitei, vi dignos êmulos desse caro Sr. Dombre, de Marmande. Constatei a cura completa de uma senhora atingida por uma obsessão assustadora que datava de quinze anos, pelo menos, muito antes que tivesse ouvido falar de Espíritos. Médicos, padres, exorcismos, tudo havia sido em pregado inutilmente. Hoje essa mãe de família voltou aos seus, que não cessam de dar graças a Deus por tão miraculosa cura. Dois meses bastaram para obter tal resultado, tanto pela evocação do obsessor quanto pela influência de preces coletivas e simpáticas.

Numa outra sessão foi feita a evocação do Espírito que obsidia, há dezoito anos, um manobrista chamado Joseph, agora em vias de cura. Jamais fiquei tão penosamente emocionado quanto em presença das dores do paciente no momento da evocação. A princípio calmo, ele é tomado, de repente, de sobressaltos, de espasmos e de tremores nervosos; é tomado por seu inimigo invisível, agita-se em convulsões terríveis; o peito se estufa, ele sufoca e depois, retomando a respiração, se torce como uma serpente, rola no chão, ergue-se de um salto e se bate na cabeça. Só pronunciava palavras entrecortadas, sobretudo: Não! Não! A médium, que é uma senhora, estava em prece. Ela toma da pena, e eis que o invisível, deixando sua presa por um instante, apodera-se de sua mão e tê-la-ia maltratado se tivessem deixado.

Há quinze dias evocam esse Espírito da pior espécie, porém, ele nunca quis dizer o motivo de sua vingança. Premido por mim com perguntas, enfim confessou que esse Joseph lhe havia roubado aquela a quem ele ama. Nós lhe fizemos compreender que se quisesse não mais atormentá-lo e dar o menor sinal de arrependimento, Deus lhe permitiria revê-la.

─ Por ela, diz ele, farei tudo.

─ Então dizei: Meu Deus, perdoai minhas faltas.

Depois de hesitar, ele nos disse:

─ Vou tentar, mas ai dele se não me fizerdes vê-la!

E escreveu: “Meu Deus, perdoai os meus erros!”

O momento era crítico. Que iria acontecer? Consultamos os guias que disseram: Fizestes bem em pôr toda a confiança em Deus e em nós. Tendes a chave para reconduzi-lo a vós. Ele verá mais tarde aquela a quem ama. Nada temais. É uma promessa que deveis aproveitar para reconduzi-lo ao bem. Depois desta cena, Joseph, esgotado como um lutador, extenuado de fadiga, se ressente da terrível possessão de seu inimigo invisível. Então, operando enérgicos passes magnéticos, o Sr. B... acabou acalmando-o completamente. Deus queira que esta cura seja tão brilhante quanto a precedente.

Eis a que se aplicam esses caros irmãos. Que energia, que convicção, que coragem não são precisas para fazer semelhantes curas! Apenas a fé, a esperança e sobretudo a caridade podem vencer tão grandes obstáculos e afrontar tão temerariamente um grupo de tão temíveis adversários. Eu saí arrasado!

Alguns dias depois eu assistia em Carcassonne a movimentações de um gênero bem diferente. Fiz uma visita ao Sr. Presidente Jaubert. “Temos inúmeros transportes há algum tempo”, disse-me ele. “Vou levar-vos à senhorita que é objeto de tais manifestações.” Como se de propósito, a senhorita estava indisposta. Seu estômago estava enfartado a ponto de não poder abotoar o vestido. Consultados os guias, a sessão foi adiada para o dia seguinte, às oito da noite. O Sr. C..., capitão reformado, pôs seu salão à nossa disposição. É uma grande peça despida, apenas atapetada, que tem como único ornamento um espelho sobre a lareira, uma cômoda e cadeiras; nem quadros, nem cortinas, nem panos: um verdadeiro apartamento de rapaz. Éramos ao todo nove pessoas, todos adeptos convictos.

Assim que entramos, uma chuva de bombons caiu com estrondo num canto da sala! Seria difícil traduzir-vos minha emoção, porque aqui a honorabilidade dos assistentes, esta sala nua e escolhida, dir-se-ia tudo preparado pelos Espíritos para afastar quaisquer dúvidas. Nada havia que pudesse fazer suspeitar de uma manobra fraudulenta, e, malgrado esse prodígio, eu não parava de olhar, de vasculhar as paredes com o olhar e lhes perguntar se não eram cúmplices de um arranjo qualquer.

A senhorita médium tomou seu lápis e escreveu: “Dize a Delanne que ponha a mão no vazio de teu estômago e essa inflamação desaparecerá. Orai antes.” Eis-nos todos em prece. Eu estava na extremidade da sala quando, em meio ao recolhimento geral, uma nova chuva de bombons se produziu no canto oposto àquele de onde tinha partido na primeira vez. Julgai de nossa alegria. Aproximei-me da doente. A inchação era muito maior que na véspera. Impus a mão e a inchação desapareceu como que por encanto. “Estou curada”, disse ela. Seu vestido, estreito demais, ficou muito largo para ela. Todos constataram o fato. Unimo-nos por pensamento para agradecer aos bons Espíritos tanta bondade. Então houve um terceiro derrame de bombons. Em minha vida não esquecerei esses fatos. Aqueles senhores estavam encantados, mais por mim do que por eles, habituados a essa espécie de manifestações. Cada um deles possui alguns objetos trazidos pelos Espíritos. Afirmou-me o Sr. Jaubert ter visto várias vezes sua mesa se virar e erguer-se sem auxílio de mãos; seu chapéu levado de um a outro canto da sala. Um fato análogo de cura instantânea também se produziu há alguns meses, sob a mão do Sr. Jaubert.

A senhorita médium, que é também sonâmbula muito lúcida, estava adormecida. Então eu lhe disse:

─ Quer acompanhar-me a Paris?

─ Sim.

─ Peço-vos a bondade de ir à minha casa.

─ Vejo vossa senhora, disse ela. Ela me agrada. Está deitada e lê.

Ela descreveu o apartamento com perfeita exatidão. Eis a conversa que teve com minha mulher:

─ Senhora, não sabeis que o vosso marido está conosco?

─ Não, mas dizei a meu marido que me escreva.

─ Vede! Eu não tinha visto vosso filho. Ele é gentil. Vossa esposa me diz que tem outro filho, também muito gentil.

─ Pedi-lhe que ela vos diga a idade dele.

─ Ele tem nove meses.

─ É isto mesmo.

Como eu sabia que havia reunião em vossa casa, pedi-lhe que vos fosse ver. Ela não ousava entrar, tamanha era a quantidade de pessoas e de grandes Espíritos que lá estavam. Ela vos detalhou muito bem, caro presidente, bem como vários de nossos colegas.


OBSERVAÇÃO: Rendamos, de início, um justo tributo de elogios aos nossos irmãos de Barcelona, por seu zelo e devotamento. Como diz o Sr. Delanne, para realizar tais coisas são necessárias coragem e perseverança que só a fé e a caridade podem dar. Que aqui recebam o testemunho da fraterna simpatia da Sociedade de Paris.

Os fatos de Carcassonne farão os incrédulos sorrirem e eles não deixarão de dizer que é representação de uma comédia. Caso contrário, diriam que seriam milagres, mas que o tempo dos milagres já passou. A isto respondemo-lhes que não há nisso o menor milagre, mas simples fenômenos naturais cuja teoria eles compreenderão quando quiserem dar-se ao trabalho de estudá-los. Por isso não nos damos ao trabalho de lhes dar explicações. Quanto à comédia, seria preciso saber em benefício de quem foi representada. Certamente a prestidigitação pode operar coisas igualmente surpreendentes, até mesmo a cura de uma inchação simulada por uma bexiga cheia. Mas, ainda uma vez, em proveito de quem? Sempre se é convincente quando se pode opor a uma acusação de charlatanismo o mais absoluto desinteresse; já não seria o mesmo se estivesse em jogo a mais leve suspeita de interesse material. E depois, quem representaria essa comédia? Uma jovem de boa família, que não participa do espetáculo, que não dá sessões em casa nem na cidade e não tem interesse que falem dela, o que não é próprio dos charlatões; um Vice-Presidente do Tribunal; honrados negociantes; oficiais recomendáveis e recebidos na melhor sociedade. Tal suspeita pode atingi-los? Dirão que é no interesse da doutrina e para fazer adeptos. Mas nem por isso deixa de ser uma fraude, indigna de pessoas que se respeitam. Por outro lado, assentar uma doutrina sobre charlatanice, por meio de gente honesta, seria um meio singular. Mas os nossos contraditores não olham isto tão de perto, em matéria de contradições, porque a lógica é a menor de suas preocupações.

Há, entretanto, uma importante observação a fazer aqui. Quem assistia à sessão descrita pelo Sr. Delanne? Havia incrédulos a quem se queria convencer? Não, nenhum. Todos eram adeptos que já tinham testemunhado esses fatos várias vezes. Então eles teriam feito a escamoteação pelo prazer de enganar a si mesmos. Por mais que faleis, senhores, os Espíritos utilizam de tantas maneiras para atestar sua presença que, em definitivo, os que riem não estarão do vosso lado. Podeis julgar pelo número sempre crescente de seus partidários. Se tivésseis encontrado um só argumento sério, não teríeis esquecido, mas caís precisamente sobre os charlatões e os exploradores, que o Espiritismo desacredita e com os quais declara nada ter de comum. Nisto nos secundais, em vez de prejudicar-nos. Assinalai a fraude onde quer que a encontreis; não pedimos mais. Nunca nos vistes tomar-lhe a defesa, nem sustentar os que, por sua falta, caíram nas mãos da justiça ou se puseram em contravenção com a lei. Todo espírita sincero, que se limita aos deveres que lhe traça a doutrina, se dá à consideração e ao respeito, e nada tem a temer.


Variedades

O fumo e a loucura

Lê-se no Siècle de 15 de abril último:

“Os casos de paralisia e de alienação mental aumentam na França, em razão direta da arrecadação de impostos sobre o tabaco. De 1812 a 1832, os recursos trazidos ao orçamento pelo imposto sobre o fumo chegava a 28 milhões, e os hospícios de alienados contavam 8.000 insanos. Hoje a cifra do imposto atinge 180 milhões e contam-se 44.000 alienados ou paralíticos nos hospitais especiais.

“Essas comparações, fornecidas pelo Sr. Jolly na última sessão da Academia de Ciências, devem fazer refletir os amantes dos vapores nicotinizados. O Sr. Jolly terminou seu estudo por esta frase ameaçadora para a geração atual: “O uso imoderado do tabaco, sobretudo do cachimbo, ocasiona uma debilidade no cérebro e na medula espinhal, de onde resulta a loucura.”

Se ainda fosse preciso refutar, depois de tudo quanto foi dito, as alegações dos que pretendem que o Espiritismo enche as casas de alienados, estas cifras forneceriam um argumento sem réplica, porque não só repousam sobre um fato material e um princípio científico lógico, mas constatam que o crescimento do número de alienados remonta a mais de vinte anos antes que se cogitasse do Espiritismo. Ora, não é lógico admitir que o efeito tenha precedido a causa. Os espíritas não estão ao abrigo das causas materiais que podem afetar o cérebro, como dos acidentes que podem quebrar braços e pernas. Não é, pois, de admirar que haja espíritas entre os loucos. Mas, ao lado das causas materiais, há causas morais. É contra estas que os espíritas têm um poderoso preservativo, em suas crenças. Se, pois, um dia for possível ter uma estatística exata, conscienciosa, feita sem prevenções, dos casos de loucura por causas morais, ver-se-á incontestavelmente o número diminuir com o desenvolvimento do Espiritismo. Ele diminuirá igualmente o número dos casos ocasionados pelos excessos e abuso de bebidas alcoólicas, mas não impedirá a febre ardente acompanhada de delírio e muitas outras causas de distúrbios da razão.

É notório que tais homens de letras de renome morreram loucos em consequência do uso imoderado do absinto, cujos efeitos deletérios sobre o cérebro e a medula espinhal estão hoje demonstrados. Se esses homens se tivessem ocupado do Espiritismo, não deixariam de afirmar que ele teria sido responsável por isso. Quanto a nós, não receamos afirmar que se dele se tivessem ocupado seriamente, teriam sido mais moderados em tudo, e não se teriam exposto a essas tristes consequências da intemperança. Um paralelo semelhante ao que faz o Sr. Jolly poderia, com tanta razão, e talvez mais, ser feito entre a proporção de alienados e o consumo de absinto.

Mas eis outra causa assinalada pelo Siècle de 21 de abril, no fato seguinte. Lê-se no Droit:

“Joséphine-Sophie D..., de dezenove anos, operária polidora, residente com os pais na Rua Bourbon-Villeneuve, dava-se com ardor incrível à leitura de romances que encerram as publicações ditas populares a cinco cêntimos. Os sentimentos exagerados, os caracteres arrebatados, os acontecimentos inverossímeis de que geralmente essas obras estão cheias, tinham influído de maneira prejudicial sobre sua inteligência. Ela se julgava chamada aos mais altos destinos. Seus pais, que, numa posição pouco folgada, tinham feito sacrifícios para lhe dar instrução, aos seus olhos não passavam de pobres criaturas, incapazes de compreendê-la e de elevar-se até a esfera que ela aspirava.

“Há muito tempo Sophie entregava-se a esses pensamentos romanescos. Vendo, enfim, que nenhum ser sobrenatural se ocupava dela e que sua vida devia escoar-se, como a das outras operárias, em meio ao trabalho e aos cuidados da família, ela resolveu pôr fim aos seus dias, sem dúvida esperando que no outro mundo os seus sonhos se realizassem.

“Ontem pela manhã, como se admirassem de não vê-la aparecer à hora em que devia entrar no trabalho, sua jovem irmã foi chamá-la. Abrindo a porta, foi tomada de um tremor nervoso, ao ver Sophie enforcada, pendurada no gancho que sustentava o espaldar de seu leito. Chamou os pais, que correram e se apressaram em cortar a corda, mas todas as tentativas para chamar a filha à vida foram infrutíferas.”

Eis, pois, um caso de loucura e suicídio causado por aqueles mesmos que acusam o Espiritismo de povoar os hospícios. Os romances podem, pois, exaltar a imaginação a tal ponto que a razão fique perturbada? Poder-se-ia citar bom número de casos semelhantes, sem contar os loucos feitos pelo medo do diabo sobre os espíritos fracos. Mas veio o Espiritismo e cada um se apressou em fazer dele o bode expiatório de seus próprios malefícios.




Dissertações espíritas

I - As idéias preconcebidas

Nós vos temos dito muitas vezes que examineis as comunicações que vos são dadas, submetendo-as à análise da razão, e que não tomeis sem exame as inspirações que vêm agitar o vosso espírito, sob a influência de causas por vezes muito difíceis de constatar pelos encarnados, submetidos a distrações sem número.

As ideias puras que, por assim dizer, flutuam no espaço (segundo a ideia platônica), levadas pelos Espíritos, nem sempre podem alojar-se sós e isoladas no cérebro dos vossos médiuns. Muitas vezes elas encontram o lugar ocupado por ideias preconcebidas que se escoam com o jacto de inspiração, que o perturbam e o transformam de maneira inconsciente, é certo, mas algumas vezes de maneira bastante profunda para que a ideia espiritual seja, assim, inteiramente desnaturada.

A inspiração encerra dois elementos: o pensamento e o calor fluídico destinado a aquecer o espírito do médium, dando-lhe o que chamais a verve da composição. Se a inspiração encontrar o lugar ocupado por uma ideia preconcebida, da qual o médium não pode ou não quer desligar-se, nosso pensamento fica sem intérprete, e o calor fluídico se gasta em aquecer um pensamento que não é o nosso. Quantas vezes, em vosso mundo egoísta e apaixonado, vimos trazer o calor e a ideia! Desdenhais a ideia, que vossa consciência deveria fazer-vos reconhecer, e vos apoderais do calor em proveito de vossas paixões terrestres, assim por vezes dilapidando o bem de Deus em proveito do mal. Assim, quantas contas terão que prestar um dia todos os advogados das causas perdidas!

Sem dúvida seria desejável que as boas inspirações pudessem dominar sempre as ideias preconcebidas, mas, então, nós entravaríamos o livre-arbítrio da vontade do homem, e este último escaparia, assim, à responsabilidade que lhe pertence. Mas se somos apenas os conselheiros auxiliares da Humanidade, quantas vezes nos temos que felicitar, quando nossa ideia, batendo à porta de uma consciência reta, triunfa da ideia preconcebida e modifica a convicção do inspirado! Contudo, não se deveria crer que nosso auxílio mal-empregado não traia um pouco o mau uso que dele podem fazer. A convicção sincera encontra acentos que, partidos do coração, chegam ao coração; a convicção simulada pode satisfazer a convicções apaixonadas, vibrando em uníssono com a primeira, mas carrega um frio particular, que deixa a consciência insatisfeita e denota uma origem duvidosa.

Quereis saber de onde vêm os dois elementos da inspiração medianímica? A resposta é fácil: a ideia vem do mundo extraterreno, é a inspiração própria do Espírito. Quanto ao calor fluídico da inspiração, nós o encontramos e o tomamos de vós mesmos; é a parte quintessenciada do fluido vital em emanação. Algumas vezes tomamo-la do próprio inspirado, quando este é dotado de um certo poder fluídico (ou medianímico, como dizeis); o mais das vezes nós o tomamos em seu ambiente, na emanação de benevolência de que ele está mais ou menos rodeado. É por isto que se pode dizer com razão que a simpatia torna eloquente.

Se refletirdes atentamente nestas causas, encontrareis a explicação de muitos fatos que a princípio causam admiração, mas dos quais cada um possui uma certa intuição. Só a ideia não bastaria ao homem, se não lhe dessem a força para exprimila. O calor é para a ideia o que o perispírito é para o Espírito, o que o vosso corpo é para a alma. Sem o corpo a alma seria impotente para agitar a matéria; sem o calor, ideia seria impotente para comover os corações.

A conclusão desta comunicação é que jamais deveis abdicar de vossa razão, no exame das inspirações que vos são submetidas. Quanto mais ideias adquiridas tem o médium, mais é ele susceptível de ideias preconcebidas; também mais deve fazer tábula rasa de seus próprios pensamentos, depositar as influências que o agitam e dar à sua consciência a abnegação necessária a uma boa comunicação.


II - Deus não se vinga

O que precede é apenas um preâmbulo destinado a servir de introdução a outras ideias. Falei de ideias preconcebidas, mas há outras além das que vêm das inclinações do inspirado; há as que são consequência de uma instrução errônea, de uma interpretação acreditada num tempo mais ou menos longo, que tiveram sua razão de ser numa época em que a razão humana estava insuficientemente desenvolvida e que, passadas ao estado crônico, não podem ser modificadas senão por heróicos esforços, sobretudo quando têm por si a autoridade do ensino religioso e de livros reservados. Uma destas ideias é esta: Deus se vinga. Que um homem, ferido em seu orgulho, em sua pessoa ou em seus interesses se vingue, isto se concebe. Essa vingança, embora culposa, está dentro dos limites das imperfeições humanas, mas um pai que se vinga em seus filhos levanta a indignação geral, porque cada um sente que um pai, com a tarefa de formar os seus filhos, pode redirecionálos nos seus erros e corrigir seus defeitos por todos os meios ao seu alcance, mas que a vingança lhe é interdita, sob pena de tornar-se estranho a todos os direitos da paternidade.

Sob o nome de vindita pública, a Sociedade que está desaparecendo vingava-se dos culpados; a punição infligida, muitas vezes cruel, era a vingança que ela tomava do homem perverso. Ela não tinha a menor preocupação com a reabilitação desse homem e deixava a Deus o cuidado de puni-lo ou de perdoá-lo. Bastava-lhe ferir pelo terror, que julgava salutar, os futuros culpados. A Sociedade que vêm não mais pensa assim; se ela ainda não age em vista da emenda do culpado, ao menos compreende o que a vingança encerra de odioso por si mesma; salvaguardar a Sociedade contra os ataque de um criminoso lhe basta, auxiliada pelo medo de um erro judiciário. Em breve a pena capital desaparecerá dos vossos códigos.

Se hoje a Sociedade se sente grande demais diante de um culpado, para se deixar ir à cólera e dele vingar-se, como quereis que Deus, participando de vossas fraquezas, se tome de um sentimento irascível e fira por vingança um pecador chamado ao arrependimento? Crer na cólera de Deus é um orgulho da Humanidade, que imagina ter um grande peso na balança divina. Se a planta do vosso jardim vem mal, se se desvia, ireis encolerizar-vos e vos vingar dela? Não; endireitá-la-eis, se puderdes, dar-lhe-eis um apoio, forçareis, por entraves, as suas más tendências, se necessário a transplantareis, mas não vos vingareis. Assim faz Deus.

Deus vingar-se, que blasfêmia! Que diminuição da grandeza divina! Que ignorância da distância infinita que separa a criação de sua criatura! Que esquecimento de sua bondade e de sua justiça!

Deus viria, numa existência em que não vos resta nenhuma lembrança de vossos erros passados, fazer-vos pagar caro pelas faltas que podeis ter cometido numa época apagada em vosso ser! Não, não! Deus não age assim. Ele entrava o impulso de uma paixão funesta, corrige o orgulho inato por uma humildade forçada, endireita o egoísmo do passado pela urgência de uma necessidade presente que leva a desejar a existência de um sentimento que o homem não conheceu nem experimentou. Como pai, ele corrige, mas, também como pai, Deus não se vinga.

Guardai-vos dessas ideias preconcebidas de vingança celeste, restos dispersos de um erro antigo. Guardai-vos dessas tendências fatalistas, cuja porta está aberta para vossas doutrinas novas, e que vos conduziriam diretamente ao quietismo oriental. A parte de liberdade do homem já não é bastante grande para apequená-la ainda mais por crenças errôneas. Quanto mais sentirdes vossa liberdade, sem dúvida maior será a vossa responsabilidade, e tanto mais os esforços de vossa vontade vos conduzirão à frente, na via do progresso.

Pascal


III - A verdade

A verdade, meu amigo, é uma dessas abstrações para as quais tende o espírito humano incessantemente, sem jamais poder atingi-la. É preciso que ele tenda para ela, pois é uma das condições do progresso, mas sua natureza imperfeita, e é só por isso que ela é imperfeita, não poderia alcançá-la. Seguindo a direção que segue a verdade em sua marcha ascendente, o espírito humano está na rota providencial, mas não lhe é dado ver o seu termo.

Compreender-me-ás melhor quando souberes que a verdade é, como o tempo, dividida em duas partes, pelo momento inapreciável que se chama o presente, a saber: o passado e o futuro. Assim, também há duas verdades, a verdade relativa e a verdade absoluta. A verdade relativa é o que é; a verdade absoluta é o que deveria ser. Ora, como o que deveria ser sobe por graus até a perfeição absoluta, que é Deus, segue-se que, para os seres criados e seguindo a rota ascensional do progresso, só há verdades relativas. Mas por que uma verdade relativa não é imutável, não é menos sagrada para o ser criado.

Vossas leis, vossos costumes, vossas instituições são essencialmente perfectíveis, e por isto mesmo imperfeitas, mas suas imperfeições não vos libertam do respeito que lhes deveis. Não é permitido adiantar-se ao seu tempo e fazer leis fora das leis sociais. A Humanidade é um ser coletivo, que deve marchar, senão em seu conjunto, ao menos por grupos, para o progresso do futuro. Aquele que se destaca da sociedade humana para avançar como criança perdida, para verdades novas, sofre sempre em vossa Terra a pena devida à sua impaciência. Deixai aos iniciadores, inspirados pelo Espírito de Verdade, o cuidado de proclamar as leis do futuro, submetendo-vos às do presente. Deixai a Deus, que mede vosso progresso pelos esforços que houverdes feito para vos tornardes melhores, o cuidado de escolher o momento que ele julga útil para uma nova transição, mas não vos subtraiais nunca a uma lei senão quando ela for derrogada.

Porque o Espiritismo foi revelado entre vós, não creiais num cataclismo das instituições sociais; até este dia ele realizou uma obra subterrânea e inconsciente para aqueles que eram seus instrumentos. Hoje, que ele aflora ao solo e chega à luz, a marcha do progresso não deve deixar de ter uma lenta regularidade. Desconfiai dos Espíritos impacientes, que vos impelem para as vias perigosas do desconhecido. A eternidade que vos é prometida deve levar-vos a ter piedade das ambições tão efêmeras da vida. Sede reservados a ponto de frequentemente suspeitardes da voz dos Espíritos que se manifestam.

Lembrai-vos disto: O Espírito humano se move e se agita sob a influência de três causas, que são: a reflexão, a inspiração e a revelação. A reflexão é a riqueza de vossas lembranças, que agitais voluntariamente. Nela o homem encontra o que lhe é rigorosamente útil para satisfazer às necessidades de uma posição estacionária. A inspiração é a influência dos Espíritos extraterrenos, que se mistura mais ou menos às vossas próprias reflexões, para vos impelir ao progresso, é a ingerência do melhor na insuficiência da passagem; é uma força nova, que se junta a uma força adquirida, para vos levar mais longe que o presente; é a prova irrefutável de uma causa oculta que vos impele para a frente, e sem a qual ficaríeis estacionários, porque é regra física e moral que o efeito não poderia ser maior que a sua causa, e quando isto acontece, como no progresso social, é que uma causa ignorada, não percebida, juntou-se à causa primeira de vosso impulso. A revelação é a mais elevada das forças que agitam o espírito humano, porque ela vem de Deus e só se manifesta por sua vontade expressa; ela é rara, por vezes mesmo inapreciável, algumas vezes evidente para aquele que a experimenta a ponto de sentir-se involuntariamente tomado de santo respeito. Repito, ela é rara e ordinariamente dada como uma recompensa à fé sincera, ao coração devotado, mas não tomeis como revelação tudo quanto vos pode ser dado como tal. O homem exibe a amizade dos grandes; os Espíritos exibem uma permissão especial de Deus, a qual muitas vezes lhes falta. Algumas vezes eles fazem promessas que Deus não ratifica, porque só ele sabe o que é e o que não é preciso.

Eis, meu amigo, tudo quanto te posso dizer sobre a verdade. Humilha-te ante o grande Ser, pelo qual tudo vive e se move na infinidade de mundos que seu poder rege. Pensa que se nele se acha toda a sabedoria, toda a justiça e todo o poder, nele também se acha toda a verdade.

PASCAL



Estudo sobre a mediunidade

(Sociedade de Paris, 7 de abril de 1865 - Médium: Sr. Costel)

Não se devem erigir em sistema os ditados mal concebidos e mal expressos, que desnaturam absolutamente a inspiração medianímica, se é que esta tem existido. Deixo a outros o trabalho de explicar a teoria do progresso, porque é inútil que todos os médiuns tratem do mesmo assunto. Vou ocupar-me da medianimidade, esse tema inesgotável de pesquisas e estudos.

A medianimidade é uma faculdade inerente à natureza do homem. Não é uma exceção nem um favor; faz parte do grande conjunto humano e, como tal, está sujeita às variações físicas e às desigualdades morais; ela sofre o dualismo terrível do instinto e da inteligência. Ela possui seus gênios, sua multidão e seus abortos.

Jamais se devem atribuir aos Espíritos, e refiro-me aos Espíritos elevados, esses ditados sem fundo nem forma que aliam à sua nulidade o ridículo de serem assinados por nomes ilustres. A medianimidade séria só investe em cérebros providos de uma instrução suficiente ou, pelo menos, provados pelas lutas passionais. Os melhores médiuns são os únicos a receber o afluxo espiritual; os outros sofrem apenas o impulso fluídico material que lhes arrasta as mãos, sem fazer produzir a sua inteligência outra coisa senão o que ela continha em estado latente. É preciso encorajá-los a trabalhar, mas não iniciar o público em suas elucubrações.

As manifestações espíritas devem ser feitas com a maior reserva. Se for indispensável, para a dignidade pessoal, acumular todas as provas de uma perfeita boa-fé em torno das experiências físicas, ao menos importa preservar as comunicações espirituais do ridículo que muito facilmente é ligado às ideias e aos sistemas assinados irrisoriamente por nomes célebres, que são e continuarão sempre estranhos a essas produções. Não ponho em causa a lealdade das pessoas que, recebendo o choque elétrico, o confundem com a inspiração medianímica. A Ciência tem os seus pseudossábios, a medianimidade os seus falsos médiuns, na ordem espiritual, bem entendido.

Tento aqui estabelecer a diferença que existe entre os médiuns inspirados pelos fluidos espirituais e os que agem apenas sob o impulso do fluido corporal, isto é, entre os que vibram intelectualmente e aqueles cuja ressonância física só conduz à produção confusa e inconsciente de suas próprias ideias, ou de ideias vulgares e sem elevação.

Existe, pois, uma linha de demarcação perfeitamente traçada entre os médiuns escreventes: uns obedecendo à influência espiritual, que só os faz escrever coisas úteis e elevadas; outros, sofrendo a influência fluídica material que age sobre os seus órgãos cerebrais, como os fluidos físicos agem sobre a matéria inerte. Esta primeira classificação é absoluta, mas admite uma porção de variedades intermediárias. Aqui indico os principais pontos de um estudo importante, que outros Espíritos completarão. Nós somos os pioneiros do progresso terrestre e solidários uns com os outros. Formamos na falange espírita o núcleo do futuro.

Georges

OBSERVAÇÃO: A frase na qual o Espírito diz que deixa a outros o trabalho de explicar a teoria do progresso, foi motivada por diversas perguntas que tinham sido propostas sobre o assunto na sessão. Quando ele diz que a medianimidade é um tema inesgotável de pesquisas e estudos, ele está perfeitamente certo.

Embora o estudo desta parte integrante do Espiritismo esteja longe de ser completa, já estamos longe do tempo em que se acreditava que bastava receber um impulso mecânico para se dizer médium e crer-se apto para receber comunicações de todos os Espíritos. Isto equivaleria a pensar que o primeiro que toque uma pequena ária ao piano deve ser necessariamente um excelente músico. O progresso da ciência espírita, que diariamente se enriquece com novas observações, nos mostra a quantas causas diferentes e influências delicadas das quais não se suspeitava são submetidas as relações inteligentes com o mundo espiritual. Os Espíritos não podiam tudo ensinar de uma vez. Mas, como hábeis professores, à medida que as ideias se desenvolvem, entram em detalhes muito maiores e desdobram os princípios que, dados prematuramente, não teriam sido compreendidos e teriam feito confusão em nosso pensamento.

A medianimidade exige, pois, um estudo sério da parte de quem quer que veja no Espiritismo uma coisa séria. À medida que os verdadeiros mecanismos dessa faculdade forem melhor conhecidos, estaremos menos expostos a decepções, porque se saberá o que ela pode dar e em que condições poderá fazê-lo. E quanto mais pessoas esclarecidas sobre este ponto houver, menos vítimas do charlatanismo haverá.


Progresso intelectual

(SOCIEDADE DE PARIS, 31 DE MARÇO DE 1865 MÉDIUM: SR. DESLIENS)


Nada se perde neste mundo, não só na matéria, onde tudo se renova incessantemente, aperfeiçoando-se segundo as leis imutáveis aplicadas a todas as coisas pelo Criador, mas também no domínio da inteligência. A Humanidade é como um só homem que vivesse eternamente, e que adquirisse incessantemente novos conhecimentos.

Isto não é uma imagem, mas uma realidade, porque o Espírito é imortal. Só o corpo, envoltório ou vestimenta do Espírito, cai quando gasto e é substituído por outro. Essa matéria, ela mesma, sofre modificações. À medida que o Espírito se depura, ele adquire novas riquezas e merece, se assim me posso exprimir, uma vestimenta mais luxuosa, mais agradável, mais cômoda, para empregar vossa linguagem terrena.

A matéria se sublima e torna-se cada vez mais leve, sem jamais desaparecer completamente, pelo menos nas regiões intermediárias; seja como corpo, seja como perispírito, ela acompanha sempre a inteligência e lhe permite, por este ponto de contacto, comunicações com seus inferiores, seus iguais e seus superiores para instruir, meditar e aprender.

Dissemos que nada se perde na Natureza. Acrescentamos que nada é inútil. Tudo, até as mais perigosas criaturas e os mais sutis venenos, tem a sua razão de ser. Quantas coisas que tinham sido julgadas inúteis ou prejudiciais e cujas vantagens foram reconhecidas mais tarde! Assim, umas há que não compreendeis. Sem tratar a questão a fundo, apenas direi que as coisas nocivas vos obrigam à atenção e à vigilância, que exercitam a inteligência, ao passo que se o homem nada tivesse a temer, abandonar-se-ia à preguiça, em prejuízo de seu desenvolvimento. Se a necessidade é a mãe da indústria, a indústria também é filha da inteligência.

Sem dúvida Deus, como objetam alguns, poderia ter-vos poupado provações e dificuldades que vos parecem supérfluas; mas se os obstáculos vos são opostos, é para despertar em vós os recursos adormecidos; é para dar impulso aos tesouros da inteligência que ficariam enterrados no vosso cérebro se uma necessidade, um perigo a evitar, não viessem forçar-vos a velar por vossa conservação.

O instinto nasce; a inteligência o segue; as ideias se encadeiam e está inventado o raciocínio. Se eu raciocino, eu julgo, bem ou mal, é verdade, mas é raciocinando errado que se aprende a reconhecer a verdade. Quando se é enganado várias vezes acaba-se acertando, e essa verdade, essa inteligência, obtidas com tanto trabalho, adquirem um preço infinito e vos fazem considerar a sua posse como um bem inestimável. Temeis ver perdidas as descobertas que fizestes. Que fazeis, então? Instruís vossos filhos, vossos amigos; desenvolveis sua inteligência a fim de nela semear e ali fazer frutificar o que adquiristes a preço de vossos suores intelectuais. É assim que tudo se encadeia, que o progresso é uma lei natural e que os conhecimentos humanos, desenvolvidos pouco a pouco, se transmitem de geração em geração. Depois disto, que vos venham dizer que tudo é matéria! Os materialistas não repelem a espiritualidade, na sua maioria, senão por que, caso contrário, ser-lhes-ia necessário mudar seu gênero vida, atacar os seus erros, renunciar aos seus hábitos. Seria muito penoso, por isso acham mais cômodo tudo negar.

PASCAL


A seriedade nas reuniões

(SOCIEDADE DE PARIS, 17 DE MARCO DE 1865 MÉDIUM: SR. DESLIENS)

Como já tendes provas, a atitude séria dos membros de um grupo choca os estranhos que assistem às sessões com a intenção de expô-las ao ridículo. Ela transforma sua vontade de troçar em respeito involuntário, e do respeito ao estudo sério, e consequentemente à fé, a transição é imperceptível. Aliás, aqueles que não saem convencidos dessas reuniões, delas levam, ao menos, uma impressão favorável, e se eles não se ligam a vós imediatamente, pelo menos deixam de ser vossos encarniçados adversários. Eis uma primeira razão que vos deve persuadir a serdes sérios e recolhidos. Que quereis, com efeito, que pensem os que saem de uma reunião onde os assuntos mais dignos de respeito são tratados com leviandade e inconsequência? Ainda que os espíritas que assim procedem estejam longe de ser mal-intencionados, não são menos prejudiciais, não ao futuro, mas ao rápido desenvolvimento da doutrina. Se tivessem sido realizadas apenas reuniões sérias e conduzidas de maneira conveniente, ela estaria ainda muito mais adiantada, embora já o esteja bastante. Agir assim não é agir como verdadeiros espíritas, nem no interesse da doutrina, porque os adversários disso se aproveitam para ridicularizá-la. É, pois, um dever dos que compreendem a sua importância, não prestar apoio a reuniões dessa natureza.

Não é apenas à doutrina que eles prejudicam, é também a si próprios, porque, se toda boa ação traz consigo a recompensa, toda ação leviana deixa atrás de si uma impressão desagradável, por vezes seguida de uma punição física, cuja menor consequência pode ser a suspensão da mediunidade ou, pelo menos, a impossibilidade de comunicar-se com bons Espíritos.

É preciso ser sério, não apenas com os Espíritos benevolentes e esclarecidos, que vêm dar sábias instruções, e que o vosso pouco recolhimento afastaria, mas também com os Espíritos sofredores ou maus que vêm, uns pedir-vos consolações, outros mistificar-vos. Direi mesmo que é sobretudo com estes últimos que é preciso gravidade, embora temperada pela benevolência. É o melhor meio de a eles impor-se e de mantê-los à distância, obrigando-os ao respeito. Se descerdes até a familiaridade com os que vos são inferiores, do ponto de vista moral e intelectual, não tardareis a dar entrada à sua influência perversa, que se traduz, a princípio, por mistificações e mais tarde por cruéis e tenazes obsessões.

Ficai, pois, em guarda. Alterai vossa linguagem conforme a dos Espíritos que se comunicam em vossos grupos, mas que a seriedade e a benevolência jamais sejam excluídas. Não repilais os que se vos apresentam sob aparências imperfeitas. Talvez prefirais sempre comunicações sábias, sobre as quais não vos seja necessário exercer o vosso sentimento e o vosso julgamento para lhes conhecer o valor, mas pensai que o julgamento só se desenvolve pelo exercício. Todas as comunicações têm sua utilidade para aquele que delas sabe tirar proveito. Uma mistificação reconhecida e provada pode agir com mais eficácia sobre as vossas almas, fazendo-vos perceber melhor os pontos a reforçar, do que instruções que vos contentaríeis em admirar sem pôr em prática.

Trabalhai com coragem e sinceridade, e o Espírito do Senhor estará convosco.

MOKI.


Imigração de Espíritos superiores para a terra

(SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, 7 DE OUTUBRO DE 1864 MÉDIUM SR. DELANNE)

Falar-vos-ei esta noite das imigrações de Espíritos adiantados que vêm encarnar-se em vossa Terra. Já esses novos mensageiros tomaram o bastão de peregrino; eles já se espalham aos milhares em vosso globo; por toda parte são dispostos pelos Espíritos que dirigem o movimento de transformação por grupos, por séries. Já treme a Terra ao sentir em seu seio aqueles que ela outrora viu passar através de sua Humanidade nascente. Ela se rejubila por revê-los, porque pressente que eles vêm para conduzi-la à perfeição, tornando-se guias dos Espíritos ordinários que necessitam ser encorajados por bons exemplos.

Sim, grandes mensageiros estão entre vós. São eles que se tornarão os sustentáculos da geração futura. À medida que o Espiritismo vai crescer e desenvolver-se, Espíritos de uma ordem cada vez mais elevada virão sustentar a obra, em razão das necessidades da causa. Por toda parte Deus espalhou esteios para a doutrina. Eles surgirão no devido tempo e lugar. Assim, sabei esperar com firmeza e confiança, pois tudo o que foi predito acontecerá, como diz o santo livro, até um iota.

Se a transição atual, como acaba de dizer o mestre, levantou as paixões e fez surgir a escória dos Espíritos encarnados e desencarnados, ela também despertou o desejo ardente, numa porção de Espíritos de uma posição superior nos mundos dos turbilhões solares, de virem novamente servir aos desígnios de Deus para esse grande acontecimento.

Eis por que eu dizia há pouco que a imigração de Espíritos superiores se operava em vossa Terra para ativar a marcha ascendente de vossa Humanidade. Assim, redobrai de coragem, de zelo, de fervor pela causa sagrada. Sabei que nada deterá a marcha progressiva do Espiritismo, pois poderosos protetores continuarão vossa obra.

MESMER


Sobre as criações fluídicas

(Sociedade de Paris, 14 de outubro de 1864 - Médium: Sr. Delanne)

Eu disse algumas breves palavras sobre os grandes mensageiros enviados entre vós para realizar sua missão de progresso intelectual e moral em vosso globo.

Se, nessa ordem, o movimento se desenvolve e toma proporções que notais a cada dia, um outro se realiza, não só no mundo dos Espíritos que deixaram a matéria, mas também importante na ordem material. Quero referir-me às leis de depuração fluídica.

O homem não só deve elevar sua alma pela prática da virtude, mas deve também depurar a matéria. Cada indústria fornece seu contingente a esse trabalho, porque cada uma delas produz misturas de toda espécie. Essas espécies liberam fluidos que, mais depurados, vão juntar-se na atmosfera a fluidos similares, que se tornam úteis às manifestações dos Espíritos de que faláveis há pouco.

Sim, os objetos procriados instantaneamente pela vontade, que é o mais rico dom do Espírito, são colhidos nos fluidos semimateriais, análogos à constituição semimaterial do corpo chamado perispírito, dos habitantes da erraticidade. Eis por que, com esses elementos, eles podem criar objetos, conforme o seu desejo.

O mundo dos invisíveis é como o vosso. Em vez de ser material e grosseiro, ele é fluídico, etéreo, da natureza do perispírito, que é o verdadeiro corpo do Espírito, haurido nesses meios moleculares, como o vosso se forma de coisas mais palpáveis, tangíveis, materiais.

O mundo dos Espíritos não é um reflexo do vosso; o vosso é que é uma imagem grosseira e muito imperfeita do reino de além-túmulo.

As relações desses dois mundos sempre existiram, mas hoje é chegado o momento em que todas essas afinidades ser-vos-ão relevadas, demonstradas e tornadas palpáveis.

Quando compreenderdes as leis das relações entre os seres fluídicos e aqueles que conheceis, a lei de Deus estará próxima de ser posta em execução, porque cada encarnado compreenderá sua imortalidade, e a partir de então ele se tornará não só um ardente trabalhador da grande causa, mas ainda um digno servidor de suas obras.

MESMER


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