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Setembro
Da mediunidade curadora
Escrevem-nos de Lyon, a 12 de julho de 1865:
“Caro Senhor Kardec,
“Na qualidade de espírita, venho recorrer à vossa gentileza e pedir alguns conselhos relativamente à prática da mediunidade curadora pela imposição das mãos. Um simples artigo a respeito desse assunto na Revista Espírita, contendo alguns desenvolvimentos, seria acolhido, tenho certeza, com grande interesse, não só por aqueles que como eu se ocupam desta questão com ardor, mas ainda por muitos outros a quem a leitura poderia inspirar o desejo de também dela se ocuparem. Lembro-me sempre destas palavras de uma sonâmbula que eu tinha formado. Eu a mandava, durante seu sono magnético, visitar uma doente à distância, e à minha pergunta acerca de como poderíamos curá-la, disse ela: “Há alguém em sua aldeia que poderia fazê-lo. É fulano de tal. Ele é médium curador, mas não o sabe disso.”
“Não sei até que ponto essa faculdade é especial. Cabe a vós, mais do que a qualquer outro, apreciá-la. Mas se realmente o for, quanto seria desejável que sobre tal ponto chamásseis a atenção dos espíritas. Todos aqueles que, mesmo fora de nossas opiniões, vos lessem, não poderiam sentir qualquer repugnância em experimentar uma faculdade que apenas requer fé em Deus e a prece. Que de mais geral e mais universal? Não é mais questão de Espiritismo, e cada um, no seu terreno, pode conservar suas convicções. Quantas irmãs de caridade, quantos bons curas do campo, quantos milhares de pessoas piedosas, ardentes pela caridade, poderiam ser médiuns curadores! É o que sonho em todas as religiões, em todas as seitas. Aceita por toda parte, essa faculdade, esse presente divino da bondade do Criador, em vez de ficar como apanágio de alguns, cairia, se assim me posso exprimir, no domínio público. Seria um belo dia para os que sofrem; e há tantos!
“Mas para exercer essa faculdade, independentemente de uma fé viva e da prece, podem existir condições a reunir, processos a seguir, para agir o mais eficazmente possível. Qual é a função do médium na imposição das mãos? Qual a dos Espíritos? É necessário empregar a vontade, como nas operações magnéticas, ou limitar-se a orar, deixando a influência oculta agir à vontade? Essa faculdade é, realmente, especial ou acessível a todos? O organismo aí representa um papel? Que papel? Essa faculdade é desenvolvível? Em que sentido?
“É aqui que vossa longa experiência, vossos estudos sobre as influências fluídicas, o ensino dos Espíritos elevados que vos assistem e, enfim, os documentos que recolheis de todos os recantos do mundo vos podem permitir esclarecer-nos e instruir-nos. Ninguém como vós está colocado nessa posição única. Todos os que se ocupam deste assunto desejam vossos conselhos tanto quanto eu, disto tenho certeza, e creio fazer-me o intérprete de todos. Que mina fecunda é a mediunidade curadora! Aliviar-se-á ou curar-se-á o corpo; e pelo alívio ou pela cura achar-se-á o caminho do coração, onde muitas vezes a lógica havia falhado. Que recursos possui o Espiritismo! Como é rico de meios a que está chamado a servir! Não deixemos nenhum improdutivo; que tudo contribua para elevá-lo e difundi-lo. Para tanto, nada negligenciais, caro senhor Kardec, e depois de Deus e dos bons Espíritos, o Espiritismo vos deve o que é. Já tendes uma recompensa neste mundo pela simpatia e pela afeição de milhões de corações que oram por vós, sem contar a verdadeira recompensa que vos espera no mundo melhor.
“Tenho a honra, etc.
“A. D.” O que nos pede o honrado correspondente é nada menos que um tratado sobre a matéria. A questão foi esboçada no Livro dos Médiuns e em muitos artigos da Revista, a propósito dos casos de cura e de obsessões; ela está resumida no Evangelho segundo o Espiritismo, a propósito das preces pelos doentes e dos médiuns curadores. Se um tratado regular e completo ainda não foi feito, isto se deve a duas causas: a primeira é que, a despeito de toda a atividade que desenvolvemos em nossos trabalhos, é-nos impossível fazer tudo ao mesmo tempo; a segunda, que é mais grave, está na insuficiência de noções que possuímos a respeito do assunto. O conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao Espiritismo; mas o Espiritismo, que começa, ainda não pode ter dito tudo; ele não pode, de um só golpe, mostrar-nos todos os fatos que abarca; diariamente ele mostra fatos novos, dos quais decorrem novos princípios, que vêm corroborar ou completar os já conhecidos, mas é necessário tempo material para tudo. A mediunidade curadora deveria ter a sua vez. Embora parte integrante do Espiritismo, ela é por si só toda uma ciência, porque se liga ao Magnetismo, e abarca não só as doenças propriamente ditas, mas todas as variedades de obsessões, tão numerosas e complexas que, também elas, influem no organismo. Não é, pois, nalgumas palavras que se pode desenvolver um assunto tão vasto. Nele trabalhamos, como em todas as outras partes do Espiritismo, mas como aí nada queremos introduzir de pessoal e de hipotético, procedemos somente pelas vias da experiência e da observação. Não nos permitindo os limites deste artigo lhe dar o desenvolvimento que comporta, resumimos alguns dos princípios fundamentais, que a experiência consagrou.
“Caro Senhor Kardec,
“Na qualidade de espírita, venho recorrer à vossa gentileza e pedir alguns conselhos relativamente à prática da mediunidade curadora pela imposição das mãos. Um simples artigo a respeito desse assunto na Revista Espírita, contendo alguns desenvolvimentos, seria acolhido, tenho certeza, com grande interesse, não só por aqueles que como eu se ocupam desta questão com ardor, mas ainda por muitos outros a quem a leitura poderia inspirar o desejo de também dela se ocuparem. Lembro-me sempre destas palavras de uma sonâmbula que eu tinha formado. Eu a mandava, durante seu sono magnético, visitar uma doente à distância, e à minha pergunta acerca de como poderíamos curá-la, disse ela: “Há alguém em sua aldeia que poderia fazê-lo. É fulano de tal. Ele é médium curador, mas não o sabe disso.”
“Não sei até que ponto essa faculdade é especial. Cabe a vós, mais do que a qualquer outro, apreciá-la. Mas se realmente o for, quanto seria desejável que sobre tal ponto chamásseis a atenção dos espíritas. Todos aqueles que, mesmo fora de nossas opiniões, vos lessem, não poderiam sentir qualquer repugnância em experimentar uma faculdade que apenas requer fé em Deus e a prece. Que de mais geral e mais universal? Não é mais questão de Espiritismo, e cada um, no seu terreno, pode conservar suas convicções. Quantas irmãs de caridade, quantos bons curas do campo, quantos milhares de pessoas piedosas, ardentes pela caridade, poderiam ser médiuns curadores! É o que sonho em todas as religiões, em todas as seitas. Aceita por toda parte, essa faculdade, esse presente divino da bondade do Criador, em vez de ficar como apanágio de alguns, cairia, se assim me posso exprimir, no domínio público. Seria um belo dia para os que sofrem; e há tantos!
“Mas para exercer essa faculdade, independentemente de uma fé viva e da prece, podem existir condições a reunir, processos a seguir, para agir o mais eficazmente possível. Qual é a função do médium na imposição das mãos? Qual a dos Espíritos? É necessário empregar a vontade, como nas operações magnéticas, ou limitar-se a orar, deixando a influência oculta agir à vontade? Essa faculdade é, realmente, especial ou acessível a todos? O organismo aí representa um papel? Que papel? Essa faculdade é desenvolvível? Em que sentido?
“É aqui que vossa longa experiência, vossos estudos sobre as influências fluídicas, o ensino dos Espíritos elevados que vos assistem e, enfim, os documentos que recolheis de todos os recantos do mundo vos podem permitir esclarecer-nos e instruir-nos. Ninguém como vós está colocado nessa posição única. Todos os que se ocupam deste assunto desejam vossos conselhos tanto quanto eu, disto tenho certeza, e creio fazer-me o intérprete de todos. Que mina fecunda é a mediunidade curadora! Aliviar-se-á ou curar-se-á o corpo; e pelo alívio ou pela cura achar-se-á o caminho do coração, onde muitas vezes a lógica havia falhado. Que recursos possui o Espiritismo! Como é rico de meios a que está chamado a servir! Não deixemos nenhum improdutivo; que tudo contribua para elevá-lo e difundi-lo. Para tanto, nada negligenciais, caro senhor Kardec, e depois de Deus e dos bons Espíritos, o Espiritismo vos deve o que é. Já tendes uma recompensa neste mundo pela simpatia e pela afeição de milhões de corações que oram por vós, sem contar a verdadeira recompensa que vos espera no mundo melhor.
“Tenho a honra, etc.
“A. D.” O que nos pede o honrado correspondente é nada menos que um tratado sobre a matéria. A questão foi esboçada no Livro dos Médiuns e em muitos artigos da Revista, a propósito dos casos de cura e de obsessões; ela está resumida no Evangelho segundo o Espiritismo, a propósito das preces pelos doentes e dos médiuns curadores. Se um tratado regular e completo ainda não foi feito, isto se deve a duas causas: a primeira é que, a despeito de toda a atividade que desenvolvemos em nossos trabalhos, é-nos impossível fazer tudo ao mesmo tempo; a segunda, que é mais grave, está na insuficiência de noções que possuímos a respeito do assunto. O conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao Espiritismo; mas o Espiritismo, que começa, ainda não pode ter dito tudo; ele não pode, de um só golpe, mostrar-nos todos os fatos que abarca; diariamente ele mostra fatos novos, dos quais decorrem novos princípios, que vêm corroborar ou completar os já conhecidos, mas é necessário tempo material para tudo. A mediunidade curadora deveria ter a sua vez. Embora parte integrante do Espiritismo, ela é por si só toda uma ciência, porque se liga ao Magnetismo, e abarca não só as doenças propriamente ditas, mas todas as variedades de obsessões, tão numerosas e complexas que, também elas, influem no organismo. Não é, pois, nalgumas palavras que se pode desenvolver um assunto tão vasto. Nele trabalhamos, como em todas as outras partes do Espiritismo, mas como aí nada queremos introduzir de pessoal e de hipotético, procedemos somente pelas vias da experiência e da observação. Não nos permitindo os limites deste artigo lhe dar o desenvolvimento que comporta, resumimos alguns dos princípios fundamentais, que a experiência consagrou.
1. ─
Os médiuns que recebem indicações de remédios, da parte dos Espíritos, não são
o que se chama médiuns curadores, pois eles próprios não curam; são simples
médiuns escreventes, que têm uma aptidão mais especial que os outros para esse
gênero de comunicações e que, por isto mesmo, podem ser chamados médiuns consultores, como outros são
médiuns poetas ou desenhistas. A mediunidade curadora é exercida pela ação
direta do médium sobre o doente, com o auxílio de uma espécie de magnetização
de fato, ou pelo pensamento.
2. ─
Quem diz médium diz intermediário. A diferença entre o
magnetizador propriamente dito e o médium curador é que o primeiro magnetiza
com o seu fluido pessoal e o segundo com o fluido dos Espíritos, aos quais
serve de condutor. O magnetismo produzido pelo fluido do homem é o magnetismo humano; o que provém do
fluido dos Espíritos é o magnetismo
espiritua1.
3. ─
O fluido magnético tem, pois, duas fontes bem distintas: os Espíritos
encarnados e os Espíritos desencarnados. Essa diferença de origem produz uma
grande diferença na qualidade do fluido e nos seus efeitos.
O fluido humano está sempre mais ou menos impregnado de
impurezas físicas e morais do
encarnado; o dos bons Espíritos é necessariamente mais puro e, por isto mesmo,
tem propriedades mais ativas, que acarretam uma cura mais rápida. Mas, passando
através do encarnado, pode alterar-se como um pouco de água límpida passando
por um vaso impuro, como todo remédio se altera se permanece muito tempo num
recipiente impróprio e perde, em parte, suas propriedades benéficas. Daí, para
todo verdadeiro médium curador, a necessidade absoluta de trabalhar a sua depuração, isto é, o seu melhoramento
moral, segundo este princípio vulgar: Limpai o vaso antes de dele vos
servirdes, se quiserdes ter algo de bom. Só isto basta para mostrar que o
primeiro que aparecer não poderá ser um médium curador, na verdadeira acepção
da palavra.
4. ─
O fluido espiritual será tanto mais depurado e benfazejo quanto mais o Espírito
que o fornece for puro e desprendido da matéria. Compreende-se que o dos
Espíritos inferiores deve aproximar-se do homem e pode ter propriedades maléficas, se o Espírito for impuro e
animado de más intenções.
Pela mesma razão, as qualidades do fluido humano apresentam
nuanças infinitas, conforme as qualidades físicas
e morais do indivíduo. É evidente que o fluido que emana de um corpo malsão
pode inocular princípios mórbidos no magnetizado. As qualidades morais do
magnetizador, isto é, a pureza de intenção e de sentimento, o desejo ardente e
desinteressado de aliviar o seu semelhante, aliados à saúde do corpo, dão ao
fluido um poder reparador que pode, em certos indivíduos, aproximar-se das
qualidades do fluido espiritual.
Assim, seria um erro considerar o magnetizador como simples
máquina de transmissão de fluidos. Nisto, como em todas as coisas, o produto
está na razão do instrumento e do agente produtor. Por estes motivos, seria
imprudência submeter-se à ação magnética do primeiro desconhecido que se apresente.
Abstração feita dos conhecimentos práticos indispensáveis, o fluido do
magnetizador é como o leite de uma nutriz: salutar ou insalubre.
5. ─
Sendo o fluido humano menos ativo, exige uma magnetização continuada e um
verdadeiro tratamento, por vezes muito longo. Gastando o seu próprio fluido, o
magnetizador se esgota e se afadiga, pois dá de seu próprio elemento vital, por
isso ele deve, de vez em quando, recuperar suas forças. O fluido espiritual,
mais poderoso em razão de sua pureza, produz efeitos mais rápidos e por vezes
quase instantâneos. Não sendo esse fluido do magnetizador, disso resulta que a
fadiga é quase nula.
6. ─
O Espírito pode agir diretamente, sem intermediário, sobre um indivíduo, como
foi constatado em muitas ocasiões, quer para aliviá-lo, para curá-lo, se
possível, quer para produzir o sono sonambúlico. Quando ele age por um
intermediário, trata-se de mediunidade
curadora.
7. ─
O médium curador recebe o influxo fluídico do Espírito, ao passo que o
magnetizador tudo tira de si mesmo. Mas os médiuns curadores, na estrita
acepção da palavra, isto é, aqueles cuja personalidade se apaga completamente
ante a ação espiritual, são extremamente raros, porque essa faculdade, elevada
ao mais alto grau, requer um conjunto de qualidades morais raramente
encontradas na Terra; só esses podem obter, pela imposição das mãos, essas
curas instantâneas que nos parecem prodigiosas. Muito poucas pessoas podem
pretender esse favor. Sendo o orgulho e o egoísmo as principais fontes das
imperfeições humanas, daí resulta que os que se gabam de possuir esse dom, que
vão a toda parte contando as curas maravilhosas que fizeram ou que dizem ter
feito; que buscam a glória, a reputação ou o proveito, estão nas piores
condições para obtê-lo, porque essa faculdade é privilégio exclusivo da modéstia, da humildade, do devotamento e do desinteresse. Jesus
dizia àqueles que ele havia curado: Ide dar graças a Deus e não o digais a
ninguém.
8. ─
Sendo, pois, a mediunidade curadora uma exceção aqui na Terra, disso resulta
que há quase sempre ação simultânea do fluido espiritual e do fluido humano;
quer dizer que os médiuns curadores são todos mais ou menos magnetizadores,
razão pela qual agem conforme os processos magnéticos. A diferença está na
predominância de um ou do outro fluido e na cura mais ou menos rápida. Todo
magnetizador pode tornar-se médium curador, se souber fazer-se assistir por bons Espíritos. Neste caso os
Espíritos vêm em seu auxílio, derramando sobre ele seu próprio fluido, que pode
decuplicar ou centuplicar a ação do fluido puramente humano.
9. ─
Os Espíritos vêm aos que eles querem; nenhuma vontade pode constrangêlos; eles
se rendem à prece, se for fervorosa, sincera, mas nunca à injunção. Disto
resulta que a vontade não pode dar a mediunidade curadora e que ninguém pode
ser médium curador com desígnio premeditado. Reconhece-se o médium curador
pelos resultados que obtém e não por sua
pretensão de o ser.
10. ─
Mas se a vontade for ineficaz quanto ao concurso dos Espíritos, é onipotente
para imprimir ao fluido, espiritual ou humano, uma boa direção e uma energia
maior. No homem apático e distraído, a
corrente é débil e a emissão é fraca; o fluido espiritual pára nele, mas sem
proveito para ele; no homem de vontade enérgica, a corrente produz o efeito de uma ducha. Não se deve
confundir vontade enérgica com teimosia, porque a teimosia é sempre resultado
do orgulho ou do egoísmo, ao passo que o mais humilde pode ter a vontade do devotamento.
A vontade é ainda onipotente para dar aos fluidos as
qualidades especiais apropriadas à qualidade do mal. Este ponto, que é capital,
se liga a um princípio ainda pouco conhecido, mas que está em estudo, o das
criações fluídicas e das modificações que o pensamento pode produzir na
matéria. O pensamento, que provoca uma emissão fluídica, pode operar certas
transformações moleculares e atômicas, como vemos se produzirem sob a
influência da eletricidade, da luz ou do calor.
11. ─ A
prece, que é um pensamento, quando fervorosa, ardente, feita com fé, produz o
efeito de uma magnetização, não só chamando o concurso dos bons Espíritos, mas
dirigindo ao doente uma salutar corrente fluídica. A respeito disto chamamos a
atenção para as preces contidas no Evangelho
segundo o Espiritismo, pelos
doentes ou pelos obsedados.
12. ─ Se
a mediunidade curadora pura é privilégio das almas de escol, a possibilidade de
suavizar certos sofrimentos, mesmo de curar, ainda que não instantaneamente,
certas moléstias, a todos é dada, sem que haja necessidade de ser magnetizador.
O conhecimento dos processos magnéticos é útil em casos complicados, mas não indispensável.
Como a todos é dado apelar aos bons Espíritos, orar e querer o bem, muitas vezes basta impor as mãos sobre uma dor para
acalmála; é o que pode fazer qualquer indivíduo, se ele estiver dotado de fé,
fervor, vontade e confiança em Deus. É de notar que a maior parte dos médiuns
curadores inconscientes, aqueles que não se dão conta de sua faculdade, e que
por vezes são encontrados nas mais humildes posições e em gente privada de
qualquer instrução, recomendam a prece e orando se ajudam mutuamente. Apenas
sua ignorância lhes faz crer na influência desta ou daquela fórmula. Às vezes,
mesmo, a isto misturam práticas evidentemente supersticiosas, às quais devemos
atribuir o valor que elas merecem.
13. ─
Mas, pelo simples fato de se ter obtido resultados satisfatórios uma ou mais
vezes, seria temerário considerar-se médium curador e daí concluir que se pode
vencer toda espécie de mal. A experiência prova que, na acepção restrita da
palavra, entre os melhor dotados não há médiuns curadores universais. Este terá
restituído a saúde a um doente e nada fará sobre outro; aquele terá curado um
mal numa pessoa mas não curará o mesmo mal outra vez, no mesmo doente ou em
outro; aquele outro, enfim, terá a faculdade hoje e não terá amanhã, e poderá
recuperá-la mais tarde, conforme as afinidades ou as condições fluídicas em que
se encontre.
14. ─ A
mediunidade curadora é uma aptidão
inerente ao indivíduo, como todos os
gêneros de mediunidade, entretanto, o resultado efetivo dessa aptidão independe
de sua vontade. Incontestavelmente, ela se desenvolve pelo exercício, sobretudo
pela prática do bem e da caridade; mas, como não poderia ter a constância nem a
regularidade de um talento adquirido pelo estudo, e do qual se é sempre senhor,
ela não poderia tornar-se uma profissão. Seria, pois, abusivo alguém
apresentar-se ao público como médium curador. Estas reflexões não se aplicam
aos magnetizadores, porque a força está neles e eles têm a liberdade de dela
dispor.
15. ─ É
um erro crer que aqueles que não partilham de nossas ideias não terão a menor
repugnância em experimentar essa faculdade. A mediunidade curadora racional está intimamente ligada ao
Espiritismo, porque repousa essencialmente no concurso dos Espíritos. Ora,
aqueles que não creem nos Espíritos nem em sua própria alma, e ainda menos na
eficácia da prece, não saberiam colocar-se nas condições requeridas, pois isto
não é coisa que se possa experimentar maquinalmente. Entre os que acreditam na
alma e na sua imortalidade, quantos ainda hoje não recuariam de medo ante um
apelo aos bons Espíritos, por receio de atrair o demônio, e que ainda julgam de
boa-fé que todas as curas são obra do diabo? O fanatismo é cego; não raciocina.
Certamente não será sempre assim, mas ainda passará muito tempo antes que a luz
penetre em certos cérebros. Enquanto se espera, façamos o maior bem possível,
com o auxílio do Espiritismo; façamo-lo mesmo aos nossos inimigos, ainda que tivéssemos
de ser pagos com a ingratidão. É o melhor meio de vencer certas resistências e
de provar que o Espiritismo não é tão negro como alguns pretendem.
Cura de uma fratura - Pela magnetização espiritual
Sem dúvida os leitores se lembram do caso de uma cura quase instantânea de um entorse, operada pelo Espírito do Dr. Demeure poucos dias após a sua morte e que relatamos na Revista de março último, assim como a descrição da cena tocante ocorrida na ocasião. Esse excelente Espírito vem ainda assinalar a sua boa vontade, por uma cura ainda mais maravilhosa, na mesma pessoa. Eis o que nos escrevem de Montauban, a 14 de julho de 1865:
O Espírito do Dr. Demeure acaba de dar-nos mais uma prova de sua solicitude e de seu profundo saber. Eis em que ocasião.
Na manhã de 26 de maio último, a Sra. Maurel, nossa médium vidente e escrevente mecânica, sofreu uma queda desastrosa e quebrou o antebraço, um pouco abaixo do cotovelo.
Essa fratura, complicada por distensões no punho e no cotovelo, estava bem caracterizada pela crepitação dos ossos e inchação, que são os sinais mais comuns.
Sob a impressão da primeira emoção produzida pelo acontecimento, os pais da Sra. Maurel iam procurar o primeiro médico que aparecesse quando ela, retendo-os, tomou de um lápis e escreveu mediunicamente, com a mão esquerda: “Não procureis um médico; eu me encarrego disto. Demeure.” Então esperaram com confiança.
Conforme as indicações do Espírito, faixas e um aparelho foram imediatamente confeccionados e colocados. Em seguida foi feita uma magnetização espiritual praticada pelos bons Espíritos que, provisoriamente, ordenaram repouso.
Na noite do mesmo dia, alguns adeptos convocados pelos Espíritos reuniram-se em casa da Sra. Maurel que, adormecida por um médium magnetizador, não demorou a entrar em estado sonambúlico. Então o Dr. Demeure continuou o tratamento que havia iniciado pela manhã, agindo mecanicamente sobre o braço fraturado. Imediatamente, sem outro recurso aparente além de sua mão esquerda, nossa doente rapidamente havia tirado o primeiro aparelho, deixando apenas as faixas, quando vimos insensivelmente, sob a influência da atração magnética espiritual, o membro tomar diversas posições, próprias para facilitar a redução da fratura. Parecia, então, ser objeto de toques inteligentes, sobretudo no ponto onde devia operar-se a soldadura dos ossos; depois se alongava, sob a ação de trações longitudinais.
Após alguns instantes dessa magnetização espiritual, a Sra. Maurel procedeu sozinha à fixação das faixas e a uma nova aplicação do aparelho, que consistia em duas tabuinhas ligadas entre si e ao braço por meio de uma correia. Tudo, pois, se havia passado como se um hábil cirurgião tivesse, ele próprio, operado visivelmente; e, coisa curiosa, ouvia-se durante o trabalho estas palavras que, sob a constrição de sua dor, escapavam da boca da paciente: “Não aperte tanto!... Vós me maltratais!...” Ela via o Espírito do doutor e era a ele que se dirigia, suplicando poupar sua sensibilidade. Era, pois, um ser invisível para todos, exceto para ela, que lhe fazia apertar o braço, servindo-se inconscientemente de sua própria mão esquerda.
Qual o papel do médium magnetizador durante esse trabalho? Aos nossos olhos ele parecia inativo, entretanto, com sua mão direita apoiada na espádua da sonâmbula, contribuía com sua parte para o fenômeno, pela emissão de fluidos necessários à sua realização.
Na noite de 27 para 28, tendo a Sra. Maurel desarranjado o braço, em consequência de uma posição falsa tomada durante o sono, declarou-se uma febre alta, pela primeira vez. Era urgente remediar esse estado de coisas. Assim reuniramse novamente no dia 28 e, uma vez estabelecido o sonambulismo, foi formada a cadeia magnética, a pedido dos bons Espíritos. Após diversos passes e manipulações, em tudo semelhantes às acima descritas, o braço foi recolocado em bom estado, não sem ter a pobre senhora experimentado dores muito cruéis. Apesar do novo incidente, o membro já se ressentia do efeito salutar produzido pelas magnetizações anteriores.O que se segue, aliás, o prova. Momentaneamente desembaraçado das tabuinhas, o braço repousava sobre almofadas, quando de repente se levantou alguns centímetros em posição horizontal e foi movimentado suavemente para a esquerda e para a direita; depois baixou obliquamente e foi submetido a uma nova tração. A seguir os Espíritos se puseram a girá-lo e tornar a girar em todos os sentidos, de vez em quando, fazendo trabalhar corretamente as articulações do cotovelo e do punho. Tais movimentos automáticos imprimidos a um braço fraturado, inerte, contrários a todas as leis conhecidas da gravidade e da mecânica, só podiam ser atribuídos à ação fluídica. Se não tivesse havido a certeza da existência dessa fratura, bem como os gritos dilacerantes dessa pobre senhora, confesso que teria tido muita dificuldade em admitir o fato, um dos mais curiosos que a ciência poderia registrar. Assim, posso dizer, com toda a sinceridade, que me sinto feliz por ter testemunhado semelhante fenômeno.
Nos dias 29, 30, 31 e seguintes, as magnetizações espirituais sucessivas, acompanhadas de manipulações variadas de mil maneiras, trouxeram uma sensível melhora no estado geral de nossa doente. Diariamente o braço adquiria novas forças. Sobretudo o dia 31 deve ser assinalado, marcando o primeiro passo para a convalescença. Naquela noite dois Espíritos, que se faziam notar pelo brilho de sua radiação, assistiam ao nosso amigo Demeure. Pareciam dar-lhe conselhos, que este se apressava em pôr em prática. Um deles, até, de vez em quando se punha à obra e, por sua suave influência, produzia sempre um alívio instantâneo. Pelo fim da noite as tabuinhas foram definitivamente abandonadas e ficaram só as faixas, para sustentar o braço e mantê-lo em determinada posição. Devo acrescentar que, além disso, um aparelho de suspensão vinha aumentar a solidez do enfaixamento. Assim, no sexto dia após o acidente, e malgrado a recaída sobrevinda a 27, a fratura estava em tal via de cura, que o emprego dos meios usados pelos médicos durante trinta ou quarenta dias tinha se tornado inútil. A 4 de junho, dia fixado pelos bons Espíritos para a redução da fratura complicada por distensões, reunimo-nos à noite. A Sra. Maurel, tão logo entrou em sonambulismo, pôs-se a desenrolar as faixas que ainda envolviam seu braço, imprimindo-lhe um movimento de rotação tão rápido que o olho seguia com dificuldade a curva descrita. A partir desse momento, ela se serviu do braço, como habitualmente. Estava curada.
No fim da sessão houve uma cena tocante, que merece ser aqui relatada. Os bons Espíritos, em número de trinta, no começo formavam uma cadeia magnética paralela à que nós próprios formávamos. A Sra. Maurel, tendo-se colocado, pela mão direita, em comunicação direta, sucessivamente, com cada dupla de Espíritos, colocada, como ela estava, no interior das duas cadeias, recebia a ação benéfica de uma dupla corrente fluídica energética. Radiante de satisfação, ela aproveitava a ocasião para agradecer com efusão o poderoso concurso que eles tinham prestado à sua cura. Por sua vez, ela recebia encorajamento a fim de perseverar no bem. Terminado isto, ela experimentou suas forças de mil modos: apresentando o braço aos assistentes, fazia-os tocar nas cicatrizes da soldadura dos ossos; apertava-lhes a mão com força, anunciando-lhes com alegria a cura operada pelos bons Espíritos. Ao despertar, vendo-se livre em todos os movimentos, desfaleceu, dominada por profunda emoção!...
Quando testemunhamos tais fatos, não podemos deixar de proclamá-los alto e bom som, pois merecem atrair a atenção das pessoas sérias. Por que, então, no mundo inteligente se encontra tanta resistência em admitir a influência do Espírito sobre a matéria? Porque se encontram pessoas que creem na existência e na individualidade do Espírito, mas lhes recusam a possibilidade de se manifestarem. É porque elas não se dão conta das faculdades físicas do Espírito, que se lhes afigura imaterial de maneira absoluta. Ao contrário, a experiência demonstra que, por sua própria natureza, ele age diretamente sobre os fluidos imponderáveis e, por conseguinte, sobre os fluidos ponderáveis, e mesmo sobre os corpos tangíveis.
Como procede um magnetizador ordinário? Suponhamos que ele queira agir, por exemplo, sobre um braço. Ele concentra sua atenção sobre esse membro e, por um simples movimento de seus dedos, executados à distância e em todos os sentidos, agindo absolutamente como se o contacto da mão fosse real, dirige uma corrente fluídica sobre o ponto desejado. O Espírito não age diversamente. Sua ação fluídica se transmite de perispírito a perispírito, e deste ao corpo material. O estado de sonambulismo facilita consideravelmente essa ação, graças ao desprendimento do perispírito, que melhor se identifica com a natureza fluídica do Espírito, e sofre, então, a influência magnética espiritual, elevada ao seu maior poder.
Toda a cidade ocupou-se dessa cura, obtida sem auxílio da ciência oficial, e cada um deu o seu palpite. Uns pretenderam que o braço não se tinha quebrado, mas a fratura tinha sido bem e devidamente constatada por numerosas testemunhas oculares, entre outras o Dr. D..., que visitou a doente durante o tratamento. Outros disseram: “É muito surpreendente!” e pararam nisto. Inútil acrescentar que alguns afirmavam que a Sra. Maurel tinha sido curada pelo diabo. Se ela não estivesse entre mãos profanas, nisso teriam visto um milagre. Para os espíritas, que se dão conta do fenômeno, aí veem muito simplesmente a ação de uma força natural até agora desconhecida, e que o Espiritismo veio revelar aos homens.
OBSERVAÇÕES: Se há fatos espíritas que até certo ponto poderíamos atribuir à imaginação, como, por exemplo, os das visões, neste já não seria o mesmo. A Sra. Maurel não sonhou que havia quebrado o braço, como não sonharam diversas pessoas que acompanharam o tratamento; as dores que sentia não eram alucinação; sua cura em oito dias não é uma ilusão, pois se serve de seu braço. O fato brutal aí está, diante do qual devemos necessariamente inclinar-nos. Ele confunde a Ciência, é verdade, porque no estado atual dos conhecimentos, parece impossível, mas não foi assim todas as vezes que novas leis foram reveladas? É a rapidez da cura que vos espanta? Mas a Medicina não descobriu inúmeros agentes mais ativos do que os que conhecia para apressar certas curas? Nos últimos tempos não foram achados meios de cicatrizar certas feridas quase que instantaneamente? Não foram encontrados meios de ativar a vegetação e a frutificação? Por que não se poderia ter um meio para ativar a soldagem dos ossos? Então conheceis todos os agentes da Natureza? Deus não tem mais segredos para vós? Não há mais lógica em negar hoje a possibilidade de uma cura rápida do que havia, no século passado, de negar a possibilidade de fazermos em algumas horas o caminho que levávamos dez dias para percorrer. Direis que este meio não está no códex; é verdade; mas antes que a vacina nele fosse inscrita, seu inventor não foi tratado como louco? Os remédios homeopáticos também lá não se acham, o que não impede que os médicos homeopatas se encontrem em toda parte e curem. Aliás, como aqui não se trata de uma preparação farmacêutica, é mais provável que esse meio de cura não figure por muito tempo na ciência oficial.
Mas, dirão, se os médicos vêm exercer sua arte depois de mortos, eles vêm fazer concorrência aos médicos vivos; é bem possível; entretanto, que estes últimos fiquem tranquilos; se eles lhes arrebatam algumas práticas, não é para suplantá-las, mas para lhes provar que eles não estão absolutamente mortos, e oferecer o concurso desinteressado aos que quiserem aceitá-lo. Para melhor fazê-los compreender, mostram-lhes que, em certas circunstâncias, pode-se passar sem eles. Sempre houve médicos e os haverá sempre; apenas os que aproveitarem as novidades que lhes trouxerem os desencarnados terão uma grande vantagem sobre os que ficarem para trás. Os Espíritos vêm ajudar o desenvolvimento da Ciência humana, e não suprimila.
Na cura da Sra. Maurel, um fato que surpreenderá, talvez, ainda mais que a rápida soldadura dos ossos, é o movimento do braço fraturado, que parece contrário a todas as leis conhecidas da dinâmica e da gravidade. Contrário ou não, o fato aí está; se ele existe, tem uma causa; se ele se repete, está submetido a uma lei. Ora, é essa lei que o Espiritismo nos vem dar a conhecer pelas propriedades dos fluidos perispirituais. Aquele braço que, submetido apenas às leis da gravidade, não podia erguer-se, suponde-o mergulhado num líquido de uma densidade muito maior que a do ar, fraturado como está, uma vez sustido por esse líquido que lhe diminui o peso, poderá aí mover-se sem esforço, e até ser erguido sem o menor esforço. É assim que num banho, o braço que parece muito pesado fora da água, parece muito leve dentro da água. Substituí o líquido por um fluido que goze das mesmas propriedades e tereis o que se passa no caso presente, fenômeno que repousa no mesmo princípio que o das mesas e das pessoas que se mantêm no espaço sem ponto de apoio. Esse é o fluido perispiritual, que o Espírito dirige à vontade, e cujas propriedades modifica pela simples ação da vontade. Na circunstância presente, deve-se, pois, imaginar o braço da Sra. Maurel mergulhado num meio fluídico que produz o efeito do ar sobre os balões.
Alguém perguntava, a respeito, se na cura dessa fratura o Espírito do Dr. Demeure teria agido com ou sem concurso da eletricidade e do calor.
A isto respondemos que a cura foi produzida, no caso, como em todos os casos de cura pela magnetização espiritual, pela ação do fluido emanado do Espírito; que esse fluido, embora etéreo, não deixa de ser matéria; que pela corrente que lhe imprime, o Espírito pode com ele impregnar e saturar todas as moléculas da parte doente; que ele pode modificar suas propriedades, como o magnetizador modifica as da água, dando-lhe uma virtude curativa adequada às necessidades; que a energia da corrente está na razão do número, da qualidade e da homogeneidade dos elementos que constituem a corrente das pessoas chamadas a fornecer seu contingente fluídico. Essa corrente provavelmente ativa a secreção que deve produzir a soldadura dos ossos e assim produz uma cura mais rápida do que quando entregue a si mesma.
Agora, a eletricidade e o calor representam um papel no fenômeno? Isto é tanto mais provável se levarmos em consideração que o Espírito não curou por milagre, mas por uma aplicação mais judiciosa das leis da Natureza, em razão de sua clarividência. Se, como a Ciência é levada a admitir, a eletricidade e o calor não são fluidos especiais, mas modificações ou propriedades de um fluido elementar universal, eles devem fazer parte dos elementos constitutivos do fluido perispiritual. Sua ação, no caso vertente, está implicitamente compreendida, absolutamente como quando se bebe vinho necessariamente se bebe água e álcool.
O Espírito do Dr. Demeure acaba de dar-nos mais uma prova de sua solicitude e de seu profundo saber. Eis em que ocasião.
Na manhã de 26 de maio último, a Sra. Maurel, nossa médium vidente e escrevente mecânica, sofreu uma queda desastrosa e quebrou o antebraço, um pouco abaixo do cotovelo.
Essa fratura, complicada por distensões no punho e no cotovelo, estava bem caracterizada pela crepitação dos ossos e inchação, que são os sinais mais comuns.
Sob a impressão da primeira emoção produzida pelo acontecimento, os pais da Sra. Maurel iam procurar o primeiro médico que aparecesse quando ela, retendo-os, tomou de um lápis e escreveu mediunicamente, com a mão esquerda: “Não procureis um médico; eu me encarrego disto. Demeure.” Então esperaram com confiança.
Conforme as indicações do Espírito, faixas e um aparelho foram imediatamente confeccionados e colocados. Em seguida foi feita uma magnetização espiritual praticada pelos bons Espíritos que, provisoriamente, ordenaram repouso.
Na noite do mesmo dia, alguns adeptos convocados pelos Espíritos reuniram-se em casa da Sra. Maurel que, adormecida por um médium magnetizador, não demorou a entrar em estado sonambúlico. Então o Dr. Demeure continuou o tratamento que havia iniciado pela manhã, agindo mecanicamente sobre o braço fraturado. Imediatamente, sem outro recurso aparente além de sua mão esquerda, nossa doente rapidamente havia tirado o primeiro aparelho, deixando apenas as faixas, quando vimos insensivelmente, sob a influência da atração magnética espiritual, o membro tomar diversas posições, próprias para facilitar a redução da fratura. Parecia, então, ser objeto de toques inteligentes, sobretudo no ponto onde devia operar-se a soldadura dos ossos; depois se alongava, sob a ação de trações longitudinais.
Após alguns instantes dessa magnetização espiritual, a Sra. Maurel procedeu sozinha à fixação das faixas e a uma nova aplicação do aparelho, que consistia em duas tabuinhas ligadas entre si e ao braço por meio de uma correia. Tudo, pois, se havia passado como se um hábil cirurgião tivesse, ele próprio, operado visivelmente; e, coisa curiosa, ouvia-se durante o trabalho estas palavras que, sob a constrição de sua dor, escapavam da boca da paciente: “Não aperte tanto!... Vós me maltratais!...” Ela via o Espírito do doutor e era a ele que se dirigia, suplicando poupar sua sensibilidade. Era, pois, um ser invisível para todos, exceto para ela, que lhe fazia apertar o braço, servindo-se inconscientemente de sua própria mão esquerda.
Qual o papel do médium magnetizador durante esse trabalho? Aos nossos olhos ele parecia inativo, entretanto, com sua mão direita apoiada na espádua da sonâmbula, contribuía com sua parte para o fenômeno, pela emissão de fluidos necessários à sua realização.
Na noite de 27 para 28, tendo a Sra. Maurel desarranjado o braço, em consequência de uma posição falsa tomada durante o sono, declarou-se uma febre alta, pela primeira vez. Era urgente remediar esse estado de coisas. Assim reuniramse novamente no dia 28 e, uma vez estabelecido o sonambulismo, foi formada a cadeia magnética, a pedido dos bons Espíritos. Após diversos passes e manipulações, em tudo semelhantes às acima descritas, o braço foi recolocado em bom estado, não sem ter a pobre senhora experimentado dores muito cruéis. Apesar do novo incidente, o membro já se ressentia do efeito salutar produzido pelas magnetizações anteriores.O que se segue, aliás, o prova. Momentaneamente desembaraçado das tabuinhas, o braço repousava sobre almofadas, quando de repente se levantou alguns centímetros em posição horizontal e foi movimentado suavemente para a esquerda e para a direita; depois baixou obliquamente e foi submetido a uma nova tração. A seguir os Espíritos se puseram a girá-lo e tornar a girar em todos os sentidos, de vez em quando, fazendo trabalhar corretamente as articulações do cotovelo e do punho. Tais movimentos automáticos imprimidos a um braço fraturado, inerte, contrários a todas as leis conhecidas da gravidade e da mecânica, só podiam ser atribuídos à ação fluídica. Se não tivesse havido a certeza da existência dessa fratura, bem como os gritos dilacerantes dessa pobre senhora, confesso que teria tido muita dificuldade em admitir o fato, um dos mais curiosos que a ciência poderia registrar. Assim, posso dizer, com toda a sinceridade, que me sinto feliz por ter testemunhado semelhante fenômeno.
Nos dias 29, 30, 31 e seguintes, as magnetizações espirituais sucessivas, acompanhadas de manipulações variadas de mil maneiras, trouxeram uma sensível melhora no estado geral de nossa doente. Diariamente o braço adquiria novas forças. Sobretudo o dia 31 deve ser assinalado, marcando o primeiro passo para a convalescença. Naquela noite dois Espíritos, que se faziam notar pelo brilho de sua radiação, assistiam ao nosso amigo Demeure. Pareciam dar-lhe conselhos, que este se apressava em pôr em prática. Um deles, até, de vez em quando se punha à obra e, por sua suave influência, produzia sempre um alívio instantâneo. Pelo fim da noite as tabuinhas foram definitivamente abandonadas e ficaram só as faixas, para sustentar o braço e mantê-lo em determinada posição. Devo acrescentar que, além disso, um aparelho de suspensão vinha aumentar a solidez do enfaixamento. Assim, no sexto dia após o acidente, e malgrado a recaída sobrevinda a 27, a fratura estava em tal via de cura, que o emprego dos meios usados pelos médicos durante trinta ou quarenta dias tinha se tornado inútil. A 4 de junho, dia fixado pelos bons Espíritos para a redução da fratura complicada por distensões, reunimo-nos à noite. A Sra. Maurel, tão logo entrou em sonambulismo, pôs-se a desenrolar as faixas que ainda envolviam seu braço, imprimindo-lhe um movimento de rotação tão rápido que o olho seguia com dificuldade a curva descrita. A partir desse momento, ela se serviu do braço, como habitualmente. Estava curada.
No fim da sessão houve uma cena tocante, que merece ser aqui relatada. Os bons Espíritos, em número de trinta, no começo formavam uma cadeia magnética paralela à que nós próprios formávamos. A Sra. Maurel, tendo-se colocado, pela mão direita, em comunicação direta, sucessivamente, com cada dupla de Espíritos, colocada, como ela estava, no interior das duas cadeias, recebia a ação benéfica de uma dupla corrente fluídica energética. Radiante de satisfação, ela aproveitava a ocasião para agradecer com efusão o poderoso concurso que eles tinham prestado à sua cura. Por sua vez, ela recebia encorajamento a fim de perseverar no bem. Terminado isto, ela experimentou suas forças de mil modos: apresentando o braço aos assistentes, fazia-os tocar nas cicatrizes da soldadura dos ossos; apertava-lhes a mão com força, anunciando-lhes com alegria a cura operada pelos bons Espíritos. Ao despertar, vendo-se livre em todos os movimentos, desfaleceu, dominada por profunda emoção!...
Quando testemunhamos tais fatos, não podemos deixar de proclamá-los alto e bom som, pois merecem atrair a atenção das pessoas sérias. Por que, então, no mundo inteligente se encontra tanta resistência em admitir a influência do Espírito sobre a matéria? Porque se encontram pessoas que creem na existência e na individualidade do Espírito, mas lhes recusam a possibilidade de se manifestarem. É porque elas não se dão conta das faculdades físicas do Espírito, que se lhes afigura imaterial de maneira absoluta. Ao contrário, a experiência demonstra que, por sua própria natureza, ele age diretamente sobre os fluidos imponderáveis e, por conseguinte, sobre os fluidos ponderáveis, e mesmo sobre os corpos tangíveis.
Como procede um magnetizador ordinário? Suponhamos que ele queira agir, por exemplo, sobre um braço. Ele concentra sua atenção sobre esse membro e, por um simples movimento de seus dedos, executados à distância e em todos os sentidos, agindo absolutamente como se o contacto da mão fosse real, dirige uma corrente fluídica sobre o ponto desejado. O Espírito não age diversamente. Sua ação fluídica se transmite de perispírito a perispírito, e deste ao corpo material. O estado de sonambulismo facilita consideravelmente essa ação, graças ao desprendimento do perispírito, que melhor se identifica com a natureza fluídica do Espírito, e sofre, então, a influência magnética espiritual, elevada ao seu maior poder.
Toda a cidade ocupou-se dessa cura, obtida sem auxílio da ciência oficial, e cada um deu o seu palpite. Uns pretenderam que o braço não se tinha quebrado, mas a fratura tinha sido bem e devidamente constatada por numerosas testemunhas oculares, entre outras o Dr. D..., que visitou a doente durante o tratamento. Outros disseram: “É muito surpreendente!” e pararam nisto. Inútil acrescentar que alguns afirmavam que a Sra. Maurel tinha sido curada pelo diabo. Se ela não estivesse entre mãos profanas, nisso teriam visto um milagre. Para os espíritas, que se dão conta do fenômeno, aí veem muito simplesmente a ação de uma força natural até agora desconhecida, e que o Espiritismo veio revelar aos homens.
OBSERVAÇÕES: Se há fatos espíritas que até certo ponto poderíamos atribuir à imaginação, como, por exemplo, os das visões, neste já não seria o mesmo. A Sra. Maurel não sonhou que havia quebrado o braço, como não sonharam diversas pessoas que acompanharam o tratamento; as dores que sentia não eram alucinação; sua cura em oito dias não é uma ilusão, pois se serve de seu braço. O fato brutal aí está, diante do qual devemos necessariamente inclinar-nos. Ele confunde a Ciência, é verdade, porque no estado atual dos conhecimentos, parece impossível, mas não foi assim todas as vezes que novas leis foram reveladas? É a rapidez da cura que vos espanta? Mas a Medicina não descobriu inúmeros agentes mais ativos do que os que conhecia para apressar certas curas? Nos últimos tempos não foram achados meios de cicatrizar certas feridas quase que instantaneamente? Não foram encontrados meios de ativar a vegetação e a frutificação? Por que não se poderia ter um meio para ativar a soldagem dos ossos? Então conheceis todos os agentes da Natureza? Deus não tem mais segredos para vós? Não há mais lógica em negar hoje a possibilidade de uma cura rápida do que havia, no século passado, de negar a possibilidade de fazermos em algumas horas o caminho que levávamos dez dias para percorrer. Direis que este meio não está no códex; é verdade; mas antes que a vacina nele fosse inscrita, seu inventor não foi tratado como louco? Os remédios homeopáticos também lá não se acham, o que não impede que os médicos homeopatas se encontrem em toda parte e curem. Aliás, como aqui não se trata de uma preparação farmacêutica, é mais provável que esse meio de cura não figure por muito tempo na ciência oficial.
Mas, dirão, se os médicos vêm exercer sua arte depois de mortos, eles vêm fazer concorrência aos médicos vivos; é bem possível; entretanto, que estes últimos fiquem tranquilos; se eles lhes arrebatam algumas práticas, não é para suplantá-las, mas para lhes provar que eles não estão absolutamente mortos, e oferecer o concurso desinteressado aos que quiserem aceitá-lo. Para melhor fazê-los compreender, mostram-lhes que, em certas circunstâncias, pode-se passar sem eles. Sempre houve médicos e os haverá sempre; apenas os que aproveitarem as novidades que lhes trouxerem os desencarnados terão uma grande vantagem sobre os que ficarem para trás. Os Espíritos vêm ajudar o desenvolvimento da Ciência humana, e não suprimila.
Na cura da Sra. Maurel, um fato que surpreenderá, talvez, ainda mais que a rápida soldadura dos ossos, é o movimento do braço fraturado, que parece contrário a todas as leis conhecidas da dinâmica e da gravidade. Contrário ou não, o fato aí está; se ele existe, tem uma causa; se ele se repete, está submetido a uma lei. Ora, é essa lei que o Espiritismo nos vem dar a conhecer pelas propriedades dos fluidos perispirituais. Aquele braço que, submetido apenas às leis da gravidade, não podia erguer-se, suponde-o mergulhado num líquido de uma densidade muito maior que a do ar, fraturado como está, uma vez sustido por esse líquido que lhe diminui o peso, poderá aí mover-se sem esforço, e até ser erguido sem o menor esforço. É assim que num banho, o braço que parece muito pesado fora da água, parece muito leve dentro da água. Substituí o líquido por um fluido que goze das mesmas propriedades e tereis o que se passa no caso presente, fenômeno que repousa no mesmo princípio que o das mesas e das pessoas que se mantêm no espaço sem ponto de apoio. Esse é o fluido perispiritual, que o Espírito dirige à vontade, e cujas propriedades modifica pela simples ação da vontade. Na circunstância presente, deve-se, pois, imaginar o braço da Sra. Maurel mergulhado num meio fluídico que produz o efeito do ar sobre os balões.
Alguém perguntava, a respeito, se na cura dessa fratura o Espírito do Dr. Demeure teria agido com ou sem concurso da eletricidade e do calor.
A isto respondemos que a cura foi produzida, no caso, como em todos os casos de cura pela magnetização espiritual, pela ação do fluido emanado do Espírito; que esse fluido, embora etéreo, não deixa de ser matéria; que pela corrente que lhe imprime, o Espírito pode com ele impregnar e saturar todas as moléculas da parte doente; que ele pode modificar suas propriedades, como o magnetizador modifica as da água, dando-lhe uma virtude curativa adequada às necessidades; que a energia da corrente está na razão do número, da qualidade e da homogeneidade dos elementos que constituem a corrente das pessoas chamadas a fornecer seu contingente fluídico. Essa corrente provavelmente ativa a secreção que deve produzir a soldadura dos ossos e assim produz uma cura mais rápida do que quando entregue a si mesma.
Agora, a eletricidade e o calor representam um papel no fenômeno? Isto é tanto mais provável se levarmos em consideração que o Espírito não curou por milagre, mas por uma aplicação mais judiciosa das leis da Natureza, em razão de sua clarividência. Se, como a Ciência é levada a admitir, a eletricidade e o calor não são fluidos especiais, mas modificações ou propriedades de um fluido elementar universal, eles devem fazer parte dos elementos constitutivos do fluido perispiritual. Sua ação, no caso vertente, está implicitamente compreendida, absolutamente como quando se bebe vinho necessariamente se bebe água e álcool.
Alucinação dos animais - nos sintomas da raiva
Um dos nossos colegas transmitiu à Sociedade o resumo seguinte de um relatório lido na Academia de Medicina pelo Sr. Dr. H. Bouley, sobre os sintomas da raiva no cão.
“No período inicial da raiva e quando a doença está completamente declarada, nas intermitências dos acessos, há no cão uma espécie de delírio que poderia chamar-se delírio rábico, do qual o primeiro a falar foi Youatt, que o descreveu perfeitamente.
“Esse delírio se caracteriza por movimentos estranhos, que denotam que o animal doente vê objetos e ouve ruídos que só existem naquilo que se tem pleno direito de chamar a sua imaginação. Com efeito, ora o animal se mantém imóvel, atento, como se estivesse de emboscada; depois, de repente, atira-se e morde no ar, como faz, no estado de saúde, o cão que quer apanhar uma mosca no voo. Outras vezes atira-se, furioso e uivando, contra a parede, como se tivesse ouvido, do outro lado, ruídos ameaçadores.
“Raciocinando por analogia, somos autorizados a admitir que são sinais de verdadeira alucinação. Contudo, quem não estivesse prevenido não ligaria importância a esses sintomas, que são muito fugazes e, para que desapareçam, basta que se faça ouvir a voz do dono. Então vem um momento de repouso; os olhos se fecham lentamente, a cabeça pende, os membros dianteiros parecem desaparecer sob o corpo e o animal está prestes a cair. Mas de repente se ergue, e novamente fantasmas vêm cercá-lo; ele olha em torno de si com uma expressão selvagem, abocanha, como para pegar um objeto ao alcance dos dentes, e se lança até a extremidade da sua corrente, ao encontro de um inimigo que só existe em sua imaginação.”
Esse fenômeno, minuciosamente observado pelo autor da memória, como se vê, parece denotar que nesse momento o cão é atormentado pela visão de algo invisível para nós. É uma visão real ou uma criação fantástica de sua imaginação, por outras palavras, uma alucinação? Se for uma alucinação, certamente não é pelos olhos do corpo que ele vê, pois não são objetos reais; se forem seres fluídicos ou Espíritos, como não produzem, também, nenhuma impressão sobre os sentidos da visão, é, pois, por uma espécie de visão espiritual que ele os percebe. Num caso como no outro, ele gozaria de uma faculdade, até certo ponto análoga à que possui o homem. A Ciência ainda não se tinha aventurado a dar uma imaginação aos animais. Ora, da imaginação a um princípio independente da matéria a distância não é grande, a menos que se admita que a matéria bruta ─ a madeira, a pedra, etc., possa ter imaginação.
Todos os fenômenos de visões são atribuídos pela Ciência à imaginação superexcitada. Contudo, por vezes têm-se visto crianças em tenra idade, que ainda não falam, correr atrás de um ser invisível, sorrir-lhe, estender-lhe os braços e querer apanhá-lo. Em analogia com a raiva, este fato não tem uma grande semelhança com o do cão acima citado? O menino ainda não pode dizer o que vê, mas os que começam a falar dizem, positivamente, ver seres invisíveis para os assistentes. Nós os vimos descreverem seus avós mortos, que eles não conheceram. Compreende-se a superexcitação numa pessoa preocupada com uma ideia, mas certamente não é o caso de uma criancinha. A imaginação superexcitada poderá reavivar uma lembrança; o medo, a afeição, o entusiasmo, poderão criar imagens fantásticas, concordamos; sob o império de certas crenças, uma pessoa exaltada imaginará ver aparecer um ser que lhe é caro, a virgem ou os santos, ainda concordamos; mas como explicar, só por estas causas, o fato de uma criança de três a quatro anos descrever sua avó, que ela nunca viu? Certamente não pode ser o produto de uma lembrança, nem da preocupação, nem de uma crença qualquer.
Digamos, de passagem, e como corolário ao que precede, que a mediunidade vidente parece ser frequente, e mesmo geral, nas criancinhas. Nossos anjos de guarda viriam, assim, conduzir-nos, como que pela mão, até o limiar da vida, para facilitar-nos a entrada e mostrar-nos sua ligação com a vida espiritual, a fim de que a transição de uma à outra não seja muito brusca. À medida que a criança cresce e pode fazer uso de suas próprias forças, o anjo de guarda se vela à sua vista, para deixá-la ao seu livre-arbítrio. Parece dizer-lhe: “Vim acompanhar-te até o navio que te vai transportar pelo mar do mundo; agora, parte; voa com tuas próprias asas; mas, do alto do céu, velarei por ti; pensa em mim, e quando voltares lá estarei para receber-te.” Feliz aquele que, durante a travessia, não esquece seu anjo de guarda!
Voltemos ao assunto principal que nos conduziu a esta digressão. Desde que admitamos uma imaginação no cão, poderíamos dizer que a doença da raiva o superexcita a ponto de lhe produzir alucinações. Mas numerosos exemplos tendem a provar que o fenômeno das visões ocorre em certos animais, no estado mais normal, sobretudo no cão e no cavalo. Pelo menos é nestes que temos podido observar mais. Raciocinando por analogia, podemos supor que assim seja com o elefante e com animais que, por sua inteligência, mais se aproximam do homem. É certo que o cão sonha; nós o vemos, por vezes, durante o sono, fazer movimentos que simulam a corrida; gemer ou manifestar contentamento. Seu pensamento está, pois, ativo, livre e independente do instinto propriamente dito. O que faz ele? O que vê? Em que pensa nos seus sonhos? É o que, infelizmente, não nos pode dizer; mas o fato aí está.
Até agora nós nos tínhamos pouco preocupado com o princípio inteligente dos animais, e ainda menos com sua afinidade com a espécie humana, a não ser do ponto de vista exclusivo do organismo material. Hoje procura-se conciliar seu estado e seu destino com a justiça de Deus; mas a esse respeito apenas foram construídos sistemas mais ou menos lógicos, que nem sempre estão de acordo com os fatos. Se a questão ficou tanto tempo indefinida, é que nos faltavam, como para muitas outras, elementos necessários à sua compreensão. O Espiritismo, que dá a chave de tantos fenômenos não compreendidos, mal observados ou despercebidos, não pode deixar de facilitar a solução desse grave problema, ao qual não dedicamos toda a atenção que ele merece, porque é uma solução de continuidade nos anéis da cadeia que liga todos os seres e no conjunto harmonioso da criação.
Por que, pois, o Espiritismo não solucionou imediatamente a questão? Seria o mesmo que perguntar a um professor de Física por que ele não ensina aos alunos, desde a primeira lição, as leis da eletricidade e da óptica. Ele começa pelos princípios fundamentais da Ciência, pelos que devem servir de base para a compreensão dos outros princípios, e reserva para mais tarde a explicação das leis subsequentes. Assim procedem os grandes Espíritos que dirigem o Movimento Espírita; em boa lógica, eles começam pelo começo e esperam que estejamos instruídos num ponto, antes de abordar outro. Ora, qual devia ser o ponto de partida de seu ensino? A alma humana. Cabe-nos convencer de sua existência e de sua imortalidade. Cabe a nós dar a conhecer seus verdadeiros atributos e o destino que, de saída, era preciso a ela ligar. Numa palavra, precisávamos compreender nossa alma, antes de procurar compreender a dos animais. O Espiritismo já nos ensinou bastante sobre a alma e suas faculdades; cada dia mais nos ensina e lança luz sobre algum ponto novo. Mas quanto ainda resta a explorar!
À medida que o homem avança no conhecimento de seu estado espiritual, sua atenção é despertada para todas as questões que a ele se ligam, de perto ou de longe, e a dos animais não é das que menos interessam. Ele apreende melhor as analogias e as diferenças; busca compreender o que vê; tira consequências; ensaia teorias, uma após outra desmentidas ou confirmadas por novas observações. É assim que, pelos esforços de sua própria inteligência, ele pouco a pouco se aproxima do objetivo. Nisto, como em todas as coisas, os Espíritos não nos vêm libertar do trabalho das pesquisas, porque o homem deve usar suas faculdades: eles o ajudam, dirigem-no, o que já é muito, mas não lhe dão a ciência acabada. Desde que esteja no caminho da verdade, então lha vêm revelar claramente, para fazer calar as incertezas e aniquilar os falsos sistemas. Mas, enquanto espera, seu espírito foi preparado para melhor compreendê-la e aceitá-la, e quando ela se mostra, não o surpreende, pois já estava no fundo do pensamento.
Vede o caminho que o Espiritismo trilhou. Veio ele colher os homens de improviso? Certamente não, sem falar nos fatos que se produziram em todas as épocas, porque ele está em a Natureza. Como a eletricidade, do ponto de vista do princípio, há um século ele havia preparado seu aparecimento; Swedenborg, SaintMartin, os teósofos, Charles Fourier, Jean Reynaud e tantos outros, sem esquecer Mesmer, que deu a conhecer a força fluídica, de Puységur, o primeiro a observar o sonambulismo, todos levantaram uma ponta do véu da vida espiritual; todos giraram em torno da verdadeira luz e dela se aproximaram mais ou menos; todosprepararam os caminhos e dispuseram os espíritos, de sorte que, por assim dizer, o Espiritismo apenas teve que completar o que havia sido esboçado. Eis por que ele conquistou quase que instantaneamente tão numerosas simpatias. Não falamos das outras causas múltiplas que lhe vieram em auxílio, provando que certas ideias não mais estavam no nível do progresso humano, e fizeram pressentir o surgimento de uma nova ordem de coisas, porque a Humanidade não pode ficar estacionária. Dá-se o mesmo a em todas as grandes ideias que mudaram a face do mundo. Nenhuma veio deslumbrá-lo, como um relâmpago. Cinco séculos antes do Cristo, Sócrates e Platão já não haviam lançado a semente das ideias cristãs?
Um outro motivo tinha feito adiar a solução relativa aos animais. Essa questão toca em preconceitos longamente arraigados, e que teria sido imprudente atacar de frente, razão pela qual os Espíritos não o fizeram. A questão é hoje abordada; agitase em diversos pontos, mesmo fora do Espiritismo; os desencarnados nela tomam parte, cada um de acordo com suas ideias pessoais; essas várias teorias são discutidas, examinadas; uma porção de fatos, como, por exemplo, o de que trata este artigo, e que outrora teriam passado despercebidos, hoje chamam a atenção, em razão mesmo dos estudos preliminares que têm sido feitos. Sem adotar esta ou aquela opinião, a gente se familiariza com a ideia de um ponto de contacto entre a animalidade e a humanidade, e quando vier a solução definitiva, seja qual for o sentido em que vier, ela deverá apoiar-se em argumentos peremptórios, que não darão lugar a qualquer dúvida. Se a ideia for verdadeira, terá sido pressentida; se for falsa, é que teremos encontrado algo de mais lógico para substituí-la.
Tudo se liga, tudo se encadeia, tudo se harmoniza em a Natureza. O Espiritismo veio dar uma idéia-mãe, e pode ver-se quão fecunda é essa ideia. Antes da luz que ele lançou sobre a Psicologia, teríamos dificuldade em crer que tantas considerações pudessem surgir a propósito de um cão raivoso.
Lido na Sociedade de Paris o resumo acima do relatório do Sr. Bouley, um Espírito deu a respeito a seguinte comunicação.
“No período inicial da raiva e quando a doença está completamente declarada, nas intermitências dos acessos, há no cão uma espécie de delírio que poderia chamar-se delírio rábico, do qual o primeiro a falar foi Youatt, que o descreveu perfeitamente.
“Esse delírio se caracteriza por movimentos estranhos, que denotam que o animal doente vê objetos e ouve ruídos que só existem naquilo que se tem pleno direito de chamar a sua imaginação. Com efeito, ora o animal se mantém imóvel, atento, como se estivesse de emboscada; depois, de repente, atira-se e morde no ar, como faz, no estado de saúde, o cão que quer apanhar uma mosca no voo. Outras vezes atira-se, furioso e uivando, contra a parede, como se tivesse ouvido, do outro lado, ruídos ameaçadores.
“Raciocinando por analogia, somos autorizados a admitir que são sinais de verdadeira alucinação. Contudo, quem não estivesse prevenido não ligaria importância a esses sintomas, que são muito fugazes e, para que desapareçam, basta que se faça ouvir a voz do dono. Então vem um momento de repouso; os olhos se fecham lentamente, a cabeça pende, os membros dianteiros parecem desaparecer sob o corpo e o animal está prestes a cair. Mas de repente se ergue, e novamente fantasmas vêm cercá-lo; ele olha em torno de si com uma expressão selvagem, abocanha, como para pegar um objeto ao alcance dos dentes, e se lança até a extremidade da sua corrente, ao encontro de um inimigo que só existe em sua imaginação.”
Esse fenômeno, minuciosamente observado pelo autor da memória, como se vê, parece denotar que nesse momento o cão é atormentado pela visão de algo invisível para nós. É uma visão real ou uma criação fantástica de sua imaginação, por outras palavras, uma alucinação? Se for uma alucinação, certamente não é pelos olhos do corpo que ele vê, pois não são objetos reais; se forem seres fluídicos ou Espíritos, como não produzem, também, nenhuma impressão sobre os sentidos da visão, é, pois, por uma espécie de visão espiritual que ele os percebe. Num caso como no outro, ele gozaria de uma faculdade, até certo ponto análoga à que possui o homem. A Ciência ainda não se tinha aventurado a dar uma imaginação aos animais. Ora, da imaginação a um princípio independente da matéria a distância não é grande, a menos que se admita que a matéria bruta ─ a madeira, a pedra, etc., possa ter imaginação.
Todos os fenômenos de visões são atribuídos pela Ciência à imaginação superexcitada. Contudo, por vezes têm-se visto crianças em tenra idade, que ainda não falam, correr atrás de um ser invisível, sorrir-lhe, estender-lhe os braços e querer apanhá-lo. Em analogia com a raiva, este fato não tem uma grande semelhança com o do cão acima citado? O menino ainda não pode dizer o que vê, mas os que começam a falar dizem, positivamente, ver seres invisíveis para os assistentes. Nós os vimos descreverem seus avós mortos, que eles não conheceram. Compreende-se a superexcitação numa pessoa preocupada com uma ideia, mas certamente não é o caso de uma criancinha. A imaginação superexcitada poderá reavivar uma lembrança; o medo, a afeição, o entusiasmo, poderão criar imagens fantásticas, concordamos; sob o império de certas crenças, uma pessoa exaltada imaginará ver aparecer um ser que lhe é caro, a virgem ou os santos, ainda concordamos; mas como explicar, só por estas causas, o fato de uma criança de três a quatro anos descrever sua avó, que ela nunca viu? Certamente não pode ser o produto de uma lembrança, nem da preocupação, nem de uma crença qualquer.
Digamos, de passagem, e como corolário ao que precede, que a mediunidade vidente parece ser frequente, e mesmo geral, nas criancinhas. Nossos anjos de guarda viriam, assim, conduzir-nos, como que pela mão, até o limiar da vida, para facilitar-nos a entrada e mostrar-nos sua ligação com a vida espiritual, a fim de que a transição de uma à outra não seja muito brusca. À medida que a criança cresce e pode fazer uso de suas próprias forças, o anjo de guarda se vela à sua vista, para deixá-la ao seu livre-arbítrio. Parece dizer-lhe: “Vim acompanhar-te até o navio que te vai transportar pelo mar do mundo; agora, parte; voa com tuas próprias asas; mas, do alto do céu, velarei por ti; pensa em mim, e quando voltares lá estarei para receber-te.” Feliz aquele que, durante a travessia, não esquece seu anjo de guarda!
Voltemos ao assunto principal que nos conduziu a esta digressão. Desde que admitamos uma imaginação no cão, poderíamos dizer que a doença da raiva o superexcita a ponto de lhe produzir alucinações. Mas numerosos exemplos tendem a provar que o fenômeno das visões ocorre em certos animais, no estado mais normal, sobretudo no cão e no cavalo. Pelo menos é nestes que temos podido observar mais. Raciocinando por analogia, podemos supor que assim seja com o elefante e com animais que, por sua inteligência, mais se aproximam do homem. É certo que o cão sonha; nós o vemos, por vezes, durante o sono, fazer movimentos que simulam a corrida; gemer ou manifestar contentamento. Seu pensamento está, pois, ativo, livre e independente do instinto propriamente dito. O que faz ele? O que vê? Em que pensa nos seus sonhos? É o que, infelizmente, não nos pode dizer; mas o fato aí está.
Até agora nós nos tínhamos pouco preocupado com o princípio inteligente dos animais, e ainda menos com sua afinidade com a espécie humana, a não ser do ponto de vista exclusivo do organismo material. Hoje procura-se conciliar seu estado e seu destino com a justiça de Deus; mas a esse respeito apenas foram construídos sistemas mais ou menos lógicos, que nem sempre estão de acordo com os fatos. Se a questão ficou tanto tempo indefinida, é que nos faltavam, como para muitas outras, elementos necessários à sua compreensão. O Espiritismo, que dá a chave de tantos fenômenos não compreendidos, mal observados ou despercebidos, não pode deixar de facilitar a solução desse grave problema, ao qual não dedicamos toda a atenção que ele merece, porque é uma solução de continuidade nos anéis da cadeia que liga todos os seres e no conjunto harmonioso da criação.
Por que, pois, o Espiritismo não solucionou imediatamente a questão? Seria o mesmo que perguntar a um professor de Física por que ele não ensina aos alunos, desde a primeira lição, as leis da eletricidade e da óptica. Ele começa pelos princípios fundamentais da Ciência, pelos que devem servir de base para a compreensão dos outros princípios, e reserva para mais tarde a explicação das leis subsequentes. Assim procedem os grandes Espíritos que dirigem o Movimento Espírita; em boa lógica, eles começam pelo começo e esperam que estejamos instruídos num ponto, antes de abordar outro. Ora, qual devia ser o ponto de partida de seu ensino? A alma humana. Cabe-nos convencer de sua existência e de sua imortalidade. Cabe a nós dar a conhecer seus verdadeiros atributos e o destino que, de saída, era preciso a ela ligar. Numa palavra, precisávamos compreender nossa alma, antes de procurar compreender a dos animais. O Espiritismo já nos ensinou bastante sobre a alma e suas faculdades; cada dia mais nos ensina e lança luz sobre algum ponto novo. Mas quanto ainda resta a explorar!
À medida que o homem avança no conhecimento de seu estado espiritual, sua atenção é despertada para todas as questões que a ele se ligam, de perto ou de longe, e a dos animais não é das que menos interessam. Ele apreende melhor as analogias e as diferenças; busca compreender o que vê; tira consequências; ensaia teorias, uma após outra desmentidas ou confirmadas por novas observações. É assim que, pelos esforços de sua própria inteligência, ele pouco a pouco se aproxima do objetivo. Nisto, como em todas as coisas, os Espíritos não nos vêm libertar do trabalho das pesquisas, porque o homem deve usar suas faculdades: eles o ajudam, dirigem-no, o que já é muito, mas não lhe dão a ciência acabada. Desde que esteja no caminho da verdade, então lha vêm revelar claramente, para fazer calar as incertezas e aniquilar os falsos sistemas. Mas, enquanto espera, seu espírito foi preparado para melhor compreendê-la e aceitá-la, e quando ela se mostra, não o surpreende, pois já estava no fundo do pensamento.
Vede o caminho que o Espiritismo trilhou. Veio ele colher os homens de improviso? Certamente não, sem falar nos fatos que se produziram em todas as épocas, porque ele está em a Natureza. Como a eletricidade, do ponto de vista do princípio, há um século ele havia preparado seu aparecimento; Swedenborg, SaintMartin, os teósofos, Charles Fourier, Jean Reynaud e tantos outros, sem esquecer Mesmer, que deu a conhecer a força fluídica, de Puységur, o primeiro a observar o sonambulismo, todos levantaram uma ponta do véu da vida espiritual; todos giraram em torno da verdadeira luz e dela se aproximaram mais ou menos; todosprepararam os caminhos e dispuseram os espíritos, de sorte que, por assim dizer, o Espiritismo apenas teve que completar o que havia sido esboçado. Eis por que ele conquistou quase que instantaneamente tão numerosas simpatias. Não falamos das outras causas múltiplas que lhe vieram em auxílio, provando que certas ideias não mais estavam no nível do progresso humano, e fizeram pressentir o surgimento de uma nova ordem de coisas, porque a Humanidade não pode ficar estacionária. Dá-se o mesmo a em todas as grandes ideias que mudaram a face do mundo. Nenhuma veio deslumbrá-lo, como um relâmpago. Cinco séculos antes do Cristo, Sócrates e Platão já não haviam lançado a semente das ideias cristãs?
Um outro motivo tinha feito adiar a solução relativa aos animais. Essa questão toca em preconceitos longamente arraigados, e que teria sido imprudente atacar de frente, razão pela qual os Espíritos não o fizeram. A questão é hoje abordada; agitase em diversos pontos, mesmo fora do Espiritismo; os desencarnados nela tomam parte, cada um de acordo com suas ideias pessoais; essas várias teorias são discutidas, examinadas; uma porção de fatos, como, por exemplo, o de que trata este artigo, e que outrora teriam passado despercebidos, hoje chamam a atenção, em razão mesmo dos estudos preliminares que têm sido feitos. Sem adotar esta ou aquela opinião, a gente se familiariza com a ideia de um ponto de contacto entre a animalidade e a humanidade, e quando vier a solução definitiva, seja qual for o sentido em que vier, ela deverá apoiar-se em argumentos peremptórios, que não darão lugar a qualquer dúvida. Se a ideia for verdadeira, terá sido pressentida; se for falsa, é que teremos encontrado algo de mais lógico para substituí-la.
Tudo se liga, tudo se encadeia, tudo se harmoniza em a Natureza. O Espiritismo veio dar uma idéia-mãe, e pode ver-se quão fecunda é essa ideia. Antes da luz que ele lançou sobre a Psicologia, teríamos dificuldade em crer que tantas considerações pudessem surgir a propósito de um cão raivoso.
Lido na Sociedade de Paris o resumo acima do relatório do Sr. Bouley, um Espírito deu a respeito a seguinte comunicação.
(Sociedade Espírita de Paris, 30 de junho de 1865 – Médium: Sr. Desliens)
Existe a visão no cão e nalguns outros animais, nos quais fenômenos semelhantes aos descritos pelo Sr. Bouley podem produzir-se? Para mim, não há sombra de dúvida sobre a questão. Sim, o cão e o cavalo veem ou sentem os Espíritos. Nunca testemunhastes a repugnância que manifestam, por vezes, esses animais, de passar por um lugar onde ignoravam que um corpo humano tivesse sido enterrado? Certamente direis que seus sentidos podem ser despertados pelo odor particular dos corpos em putrefação. Então por que passam indiferentes ao lado do cadáver enterrado de outro animal? Por que se diz que o cão sente a morte? Jamais ouvistes cães uivando sob à janela de uma pessoa agonizante, quando esta lhe era desconhecida? Não vedes, também, fora da superexcitação da raiva, diversos animais se recusarem a obedecer à voz do dono, recuar com medo ante um obstáculo invisível, que parece barrar-lhes a passagem, e se encolerizarem, e depois passarem tranquilamente pelo mesmo lugar que lhes inspirava tão grande terror, como se o obstáculo tivesse desaparecido? Têm-se visto animais salvarem seus donos de um perigo iminente, recusando percorrer o caminho onde estes poderiam ter sucumbido.
Os fatos de visões nos animais se encontram na Antiguidade e na Idade Média, assim como em nossos dias.
Assim, sem dúvida os animais veem os Espíritos. Aliás, dizer que eles têm imaginação não é conceder-lhes um ponto de semelhança com o espírito humano, e o instinto não é neles a inteligência rudimentar apropriada às suas necessidades, antes que tenha passado pelos cadinhos modificadores que devem transformá-la e lhe dar novas faculdades? O homem também tem instintos que o fazem agir de maneira inconsciente, no interesse de sua conservação. Mas, à medida que nele se desenvolvem a inteligência e o livre-arbítrio, o instinto se enfraquece, para dar lugar à razão, porque o guia cego lhe é menos necessário.
O instinto, que tem toda a sua força no animal, perpetuando-se no homem, onde se perde pouco a pouco, certamente é um traço de união entre as duas espécies. A sutileza dos sentidos no animal, como no selvagem e no homem primitivo, substituindo nuns e noutros a ausência ou insuficiência do senso moral, é outro ponto de contacto. Enfim, a visão espiritual, que muito evidentemente lhes é comum, embora em graus muito diferentes, também vem diminuir a distância que parecia erguer uma barreira intransponível. Contudo, nada concluais de modo absoluto, mas observai atentamente os fatos, porque somente dessa observação um dia surgirá para vós a verdade.
MOKI
Os fatos de visões nos animais se encontram na Antiguidade e na Idade Média, assim como em nossos dias.
Assim, sem dúvida os animais veem os Espíritos. Aliás, dizer que eles têm imaginação não é conceder-lhes um ponto de semelhança com o espírito humano, e o instinto não é neles a inteligência rudimentar apropriada às suas necessidades, antes que tenha passado pelos cadinhos modificadores que devem transformá-la e lhe dar novas faculdades? O homem também tem instintos que o fazem agir de maneira inconsciente, no interesse de sua conservação. Mas, à medida que nele se desenvolvem a inteligência e o livre-arbítrio, o instinto se enfraquece, para dar lugar à razão, porque o guia cego lhe é menos necessário.
O instinto, que tem toda a sua força no animal, perpetuando-se no homem, onde se perde pouco a pouco, certamente é um traço de união entre as duas espécies. A sutileza dos sentidos no animal, como no selvagem e no homem primitivo, substituindo nuns e noutros a ausência ou insuficiência do senso moral, é outro ponto de contacto. Enfim, a visão espiritual, que muito evidentemente lhes é comum, embora em graus muito diferentes, também vem diminuir a distância que parecia erguer uma barreira intransponível. Contudo, nada concluais de modo absoluto, mas observai atentamente os fatos, porque somente dessa observação um dia surgirá para vós a verdade.
MOKI
OBSERVAÇÃO: Este conselho é muito sábio, pois evidentemente apenas nos fatos é que se pode assentar uma teoria sólida. Fora disto só haverá opiniões e sistemas. Os fatos são argumentos sem réplica, cujas consequências, mais cedo ou mais tarde, quando constatadas, terão que ser aceitas. Foi este princípio que serviu de base à Doutrina Espírita, o que nos leva a dizer que ela é uma ciência de observação.
Uma explicação - A propósito da revelação do Sr. Bach
Sob o título de Carta de um desconhecido, assinada por Bertelius, o Grand Journal de 18 de junho de 1865 traz a seguinte explicação do fato relatado na Revista Espírita de julho de 1865, relativa à ária do rei Henrique III, revelada em sonho ao Sr. Bach. O autor se apoia exclusivamente no sonambulismo, e parece fazer abstração completa da intervenção dos Espíritos. Embora, sob esse ponto, difiramos de sua maneira de ver, sua explicação não é menos sabiamente raciocinada; e se não é, em nossa opinião, exata em todos os pontos, contém pontos de vista incontestavelmente verdadeiros e dignos de atenção.
Contrariamente a certos magnetizadores ditos fluidistas, que não veem em todos os efeitos magnéticos senão a ação de um fluido material, sem levar a alma em conta, o Sr. Bertelius faz esta representar o papel capital. Ele a apresenta no seu estado de emancipação e de desprendimento da matéria, gozando de faculdades que não possui em estado de vigília. É, pois, uma explicação de um ponto de vista completamente espiritualista, se não completamente espírita, o que já é alguma coisa para a afirmação da possibilidade do fato por outras vias que não a da materialidade pura, e isto num jornal importante.
É de notar que neste momento se produz, entre os negadores do Espiritismo, uma espécie de reação, ou antes, forma-se uma terceira opinião, que pode ser considerada como uma transição. Hoje muitos reconhecem a impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria, mas não podem ainda resolver-se a admitir a intervenção dos Espíritos. Eles procuram a sua causa na ação exclusiva da alma encarnada, agindo independentemente dos órgãos materiais. Incontestavelmente é um passo que se deve considerar como uma primeira vitória sobre o materialismo. Da ação independente e isolada da alma durante a vida, a esta mesma ação após a morte, não é grande a distância. Eles serão conduzidos a isso pela evidência dos fatos e pela impossibilidade de tudo explicar apenas com o auxílio do Espírito encarnado.
Eis o artigo do Grand Journal.
“Contando, no penúltimo número do Grand Journal, o caso singular ocorrido com o Sr. G. Bach, fazeis as seguintes perguntas: “A espineta pertenceu a Baltazzarini? ─ Foi o Espírito de Baltazzarini que escreveu a romança e a sarabanda?Eis um mistério que não ousamos aprofundar.”
“Explicai-me, por favor, por que um homem, que me apraz crer livre de preconceitos, recua ante a busca da verdade? Mistério, dizeis vós. ─ Não, senhor, não há mistério. Há uma simples faculdade com que Deus dotou certos homens, como dotou outros com uma bela voz, com o gênio poético, com o espírito de cálculo, com uma rara perspicácia, faculdades que a educação pode despertar, desenvolver, melhorar. Por outro lado, existe uma infinidade de outras faculdades conferidas ao homem, e que a civilização, o progresso, a educação aniquilam, em vez de favorecer o seu desenvolvimento.
“Não é verdade, por exemplo, que os povos selvagens têm uma sensibilidade auditiva que não possuímos? Que aplicando o ouvido no chão, distinguem o passo de um homem ou de vários homens, de um cavalo ou de vários cavalos ou de uma fera a uma grande distância?
“Também não é certo que eles medem o tempo com precisão, sem pêndulo e sem relógio? Que orientam com segurança sua caminhada através de florestas virgens, ou suas canoas nos rios e no mar, olhando as estrelas, sem o concurso da bússola e sem noções de Astronomia? Enfim, não é verdade que curam suas doenças sem médicos; as picadas dos mais venenosos animais com ervas simples, que distinguem em meio a tantas outras, e encontram aos seus pés? Não se sabe que curam as mais perigosas feridas com argila? E não podem, como me dizia tão judiciosamente, nos confins dos Estados Unidos, um chefe pele-vermelha, que o Grande Ser sempre pôs o remédio ao lado do mal?
“Estas verdades tornaram-se banais por força da repetição, mas uns delas se servem para disfarçar sua ignorância, e outros, que constituem a maioria, para aí colher assuntos para controvérsias. É tão fácil tomar atitudes de espírito forte negando tudo! É tão difícil explicar a obra de Deus, cujo segredo procuramos nos livros, quando encontraríamos sua solução na Natureza! Eis o grande livro aberto a todas as inteligências; mas nem todas são feitas para decifrar esses mistérios, porque ali uns leem através de suas prevenções ou seus preconceitos, e outros através de sua insuficiência ou de seu orgulho de sábio.
“Servi-vos dos meios mais simples para aprofundar os mistérios da Natureza, e encontrareis a solução, até os limites impostos à inteligência humana por uma inteligência superior.
“Dissestes que o Sr. Bach não é sonâmbulo. Que sabeis disso, e o que sabe ele próprio? ─ Afirmo, sem jamais ter tido a honra de encontrá-lo e sem conhecê-lo, que o Sr. Bach é sonâmbulo. Nele o sonambulismo ficou em estado latente; foi necessário um acontecimento excepcional, uma sensação muito viva e muito persistente, uma emoção que compreenderão todos os que têm amor à curiosidade e à coleção, para revelar a si mesmo uma faculdade da qual ele deve ter tido muitos exemplos, conservados desapercebidos em sua vida, mas dos quais hoje sem dúvida lembrar-se-á, se quiser interrogar o seu passado e refletir.
“Segundo o que nos informastes, o Sr. Bach empregou uma parte do dia na contemplação de sua preciosa espineta; descobriu a idade do instrumento (abril de 1564). ‘Ao deitar-se pensava nela; quando o sono lhe veio fechar as pálpebras, ainda nela pensava.’
“O sonâmbulo age por etapas. ─ Quando quiserdes que ele veja o que se passa em Londres, por exemplo, deveis dizer-lhe que o embarcais numa carruagem, que ele toma a estrada de ferro, que o trem avança, que ele embarca em um navio, atravessa o mar (aí, por vezes, ele sente enjoo), que desembarca, retoma a estrada de ferro e finalmente chega ao termo de sua viagem.
“O Sr. Bach seguiu o caminho habitual dos sonâmbulos. Tinha virado, revirado, desmontado, examinado a sua espineta; estava tomado por essa ideia e mentalmente, sem nisso pensar, deve ter dito para si mesmo: ‘A quem pode ter pertencido este instrumento?’ A corrente magnética ─ e os espíritos fortes não negarão tal corrente ─ estabeleceu-se entre ele o instrumento. Ele adormeceu e caiu no sono natural e, a seguir, passou naturalmente ao estado de sonambulismo. Então procurou, escavou o passado e se pôs em comunicação mais íntima com a espineta; deve tê-la virado, mexido, posto a mão onde o antigo proprietário do instrumento havia posto há três séculos. E, interrogando o passado ─ o que é infinitamente mais fácil do que ver o futuro ─ achou-se em contacto com esse ser que não mais existe. Ele o viu vestido com suas roupas, e executou a ária que tantas vezes o instrumento havia reproduzido; ouviu as palavras tantas vezes acompanhadas; e, arrastado por essa força magnética que se chama eletricidade, o Sr. Bach escreveu aquela ária de próprio punho, tão bem quanto hoje pode ser transmitida a Lyon uma mensagem escrita por vossa mão e com a vossa letra. O Sr. Bach a escreveu no estado de sonambulismo, repito-o, essa música e essa letra que jamais ouvira. E, superexcitado por uma emoção muito viva, despertou banhado em lágrimas.
“Ides gritar que é impossível. ─ Pois bem! Escutai este fato: ─ Eu mesmo mandei uma sonâmbula à Inglaterra; ela realizou a viagem, não no sono sonambúlico, mas numa condição que não era o estado inteiramente natural, nem o de sonambulismo completo. ─ Apenas lhe ordenei que todas as noites dormisse o tempo necessário em sono natural e escrevesse o que deveria alcançar em sua viagem. ─ Ela não sabia uma palavra de inglês. Não conhecia ninguém. O encargo que a preocupava era sério... Ela realizou sua viagem, escreveu todas as noites relatos do que devia fazer, as pessoas que devia ver, os endereços onde devia encontrá-las. Seguiu textualmente e ao pé da letra as indicações que recebera. Foi à casa de pessoas que ela não conhecia e das quais jamais ouvira falar e que eram justamente as que tudo podiam... Tão bem que ao cabo de oito dias, uma missão que teria exigido anos, sem esperança de chegar ao fim, foi terminada, para sua completa satisfação, e minha sonâmbula voltou depois ele ter realizado maravilhas. ─ No estado natural essa mulher extraordinária é apenas uma criatura muito comum.
“Notai este fato: Sua letra, no sono, é inteiramente diferente da escrita habitual. Palavras foram escritas em inglês, que ela desconhece. Ela conversa comigo em italiano e, em vigília, não seria capaz de dizer duas palavras nessa língua.
“O próprio Sr. Bach escreveu e anotou, de próprio punho, a ária de Henrique III, embora talvez não reconheça a sua letra. E o que é mais notável é que deve duvidar de suas faculdades magnéticas, como a minha sonâmbula que é, a esse respeito, de uma incredulidade tão radical que não se pode falar de magnetismo em sua presença, sem que se apresse em declarar que é absurdo acreditar nisso.
“E talvez ainda, embora não digais, o Sr. Bach não tinha papel nem tinta. Minha sonâmbula, em Londres, encontrou sobre sua mesa as indicações necessárias escritas a lápis. Ela não tinha lápis!... Estou certo de que ela foi procurar no hotel, encontrou o lápis de que precisava e o trouxe ao seu quarto, com essa exatidão, essas precauções, essa ligeireza vaporosa, quase sobrenatural, comum nos sonâmbulos.
“Eu vos poderia citar fatos mais surpreendentes que o do Sr. Bach. Mas chega por hoje. Hesito mesmo em vos enviar estas notas, escritas ao correr da pena.
“Há vinte anos que magnetizo e escondi, mesmo dos melhores amigos, o resultado de minhas descobertas. É tão fácil taxar um homem de loucura! Há tanta gente preocupada em pôr a luz sob o velador! E, sobretudo, é preciso dizê-lo, há tantos charlatães que abusaram do magnetismo, que seria necessária uma coragem sobre-humana para a pessoa declarar que dele se ocupa. Seria melhor confessar que se assassinou pai e mãe do que confessar que nele se acredita.
“Regra geral, entretanto: Não creiais nunca, jamais, em experiências públicas, em sonâmbulos aos quais se fazem consultas pagas, que dão oráculos como as sibilas antigas, que agem e falam à menor ordem e com hora marcada, diante de numeroso público, como um autômato habilmente fabricado. Isto é charlatanismo! Nada é mais imprevisível, voluntarioso, instável, desconfiado, odiento que um sonâmbulo. Um nada lhe paralisa as faculdades de segunda vista; um nada o faz mentir por malícia; um nada o perturba e o desvia, e isto se compreende. Há alguma coisa mais susceptível que uma corrente elétrica?
“Eu me separei de um ilustre cientista, o Dr. E..., muito conhecido em Londres, com o qual iniciei minhas experiências magnéticas, justamente porque sempre considerei como falta grave o abuso do magnetismo. Arrastado pelos miraculosos resultados que obtínhamos, um dia ele quis enxertar o sistema frenológico no magnetismo. Ele afirmava que tocando certas bossas da cabeça, o sonâmbulo experimentava a sensação da qual aquela bossa era sede. Tocando a presumível bossa do canto, o paciente cantava; a da gulodice, ele mastigava no vácuo, dizendo que tal comida tinha este ou aquele gosto, e assim por diante.
“Considerei que seria levar a experiência até o abuso e, sobre um fato real, o sonambulismo, assentar uma ciência problemática, a frenologia. Eu queria ampliar o domínio das descobertas magnéticas, mas não abusar delas, como geralmente se faz.
“Tive a irreverência de declarar ao meu professor que ele se desviava, e eu sustentava que era dever de todos quantos conhecem os fenômenos magnéticos erguer-se contra todas essas experiências, cujo único objetivo é satisfazer uma curiosidade ignorante, explorar algumas fraquezas humanas e não o de buscar um resultado prático para a Humanidade e útil a todos.
“Mas é mais difícil do que se pensa manter-se nesses limites honestos quando se chegou a resultados maravilhosos. Os mais fortes magnetizadores se deixam arrastar e, fenômeno ainda mais maravilhoso, quando se chega ao ponto de sempre exigir experiências públicas de seu paciente, ele parece desequilibrar-se, não tem mais esse imprevisto, essa lucidez, essa clarividência que o distinguiam; torna-se uma máquina automática, que responde sobre um tema dado e cujas faculdades empobrecem a ponto de desaparecerem.
“Infelizmente, pessoas que não tentariam uma simples experiência de física recreativa, que se confessam incapazes de fazer o menor passe de prestidigitação, jamais hesitam, sem preparação, sem o menor estudo prévio, em fazer experiências magnéticas.
“Ah! se eu não temesse adormecer os leitores do vosso Grand Journal num sono menos interessante, porém mais barulhento que o dos meus sonâmbulos, eu vos entreteria em breve com fatos eminentemente curiosos... Mas antes é preciso saber que acolhimento dareis a esta primeira carta, e é o que saberei sábado, virando as páginas do meu exemplar.
“BERTELLIUS.”
Contrariamente a certos magnetizadores ditos fluidistas, que não veem em todos os efeitos magnéticos senão a ação de um fluido material, sem levar a alma em conta, o Sr. Bertelius faz esta representar o papel capital. Ele a apresenta no seu estado de emancipação e de desprendimento da matéria, gozando de faculdades que não possui em estado de vigília. É, pois, uma explicação de um ponto de vista completamente espiritualista, se não completamente espírita, o que já é alguma coisa para a afirmação da possibilidade do fato por outras vias que não a da materialidade pura, e isto num jornal importante.
É de notar que neste momento se produz, entre os negadores do Espiritismo, uma espécie de reação, ou antes, forma-se uma terceira opinião, que pode ser considerada como uma transição. Hoje muitos reconhecem a impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria, mas não podem ainda resolver-se a admitir a intervenção dos Espíritos. Eles procuram a sua causa na ação exclusiva da alma encarnada, agindo independentemente dos órgãos materiais. Incontestavelmente é um passo que se deve considerar como uma primeira vitória sobre o materialismo. Da ação independente e isolada da alma durante a vida, a esta mesma ação após a morte, não é grande a distância. Eles serão conduzidos a isso pela evidência dos fatos e pela impossibilidade de tudo explicar apenas com o auxílio do Espírito encarnado.
Eis o artigo do Grand Journal.
“Contando, no penúltimo número do Grand Journal, o caso singular ocorrido com o Sr. G. Bach, fazeis as seguintes perguntas: “A espineta pertenceu a Baltazzarini? ─ Foi o Espírito de Baltazzarini que escreveu a romança e a sarabanda?Eis um mistério que não ousamos aprofundar.”
“Explicai-me, por favor, por que um homem, que me apraz crer livre de preconceitos, recua ante a busca da verdade? Mistério, dizeis vós. ─ Não, senhor, não há mistério. Há uma simples faculdade com que Deus dotou certos homens, como dotou outros com uma bela voz, com o gênio poético, com o espírito de cálculo, com uma rara perspicácia, faculdades que a educação pode despertar, desenvolver, melhorar. Por outro lado, existe uma infinidade de outras faculdades conferidas ao homem, e que a civilização, o progresso, a educação aniquilam, em vez de favorecer o seu desenvolvimento.
“Não é verdade, por exemplo, que os povos selvagens têm uma sensibilidade auditiva que não possuímos? Que aplicando o ouvido no chão, distinguem o passo de um homem ou de vários homens, de um cavalo ou de vários cavalos ou de uma fera a uma grande distância?
“Também não é certo que eles medem o tempo com precisão, sem pêndulo e sem relógio? Que orientam com segurança sua caminhada através de florestas virgens, ou suas canoas nos rios e no mar, olhando as estrelas, sem o concurso da bússola e sem noções de Astronomia? Enfim, não é verdade que curam suas doenças sem médicos; as picadas dos mais venenosos animais com ervas simples, que distinguem em meio a tantas outras, e encontram aos seus pés? Não se sabe que curam as mais perigosas feridas com argila? E não podem, como me dizia tão judiciosamente, nos confins dos Estados Unidos, um chefe pele-vermelha, que o Grande Ser sempre pôs o remédio ao lado do mal?
“Estas verdades tornaram-se banais por força da repetição, mas uns delas se servem para disfarçar sua ignorância, e outros, que constituem a maioria, para aí colher assuntos para controvérsias. É tão fácil tomar atitudes de espírito forte negando tudo! É tão difícil explicar a obra de Deus, cujo segredo procuramos nos livros, quando encontraríamos sua solução na Natureza! Eis o grande livro aberto a todas as inteligências; mas nem todas são feitas para decifrar esses mistérios, porque ali uns leem através de suas prevenções ou seus preconceitos, e outros através de sua insuficiência ou de seu orgulho de sábio.
“Servi-vos dos meios mais simples para aprofundar os mistérios da Natureza, e encontrareis a solução, até os limites impostos à inteligência humana por uma inteligência superior.
“Dissestes que o Sr. Bach não é sonâmbulo. Que sabeis disso, e o que sabe ele próprio? ─ Afirmo, sem jamais ter tido a honra de encontrá-lo e sem conhecê-lo, que o Sr. Bach é sonâmbulo. Nele o sonambulismo ficou em estado latente; foi necessário um acontecimento excepcional, uma sensação muito viva e muito persistente, uma emoção que compreenderão todos os que têm amor à curiosidade e à coleção, para revelar a si mesmo uma faculdade da qual ele deve ter tido muitos exemplos, conservados desapercebidos em sua vida, mas dos quais hoje sem dúvida lembrar-se-á, se quiser interrogar o seu passado e refletir.
“Segundo o que nos informastes, o Sr. Bach empregou uma parte do dia na contemplação de sua preciosa espineta; descobriu a idade do instrumento (abril de 1564). ‘Ao deitar-se pensava nela; quando o sono lhe veio fechar as pálpebras, ainda nela pensava.’
“O sonâmbulo age por etapas. ─ Quando quiserdes que ele veja o que se passa em Londres, por exemplo, deveis dizer-lhe que o embarcais numa carruagem, que ele toma a estrada de ferro, que o trem avança, que ele embarca em um navio, atravessa o mar (aí, por vezes, ele sente enjoo), que desembarca, retoma a estrada de ferro e finalmente chega ao termo de sua viagem.
“O Sr. Bach seguiu o caminho habitual dos sonâmbulos. Tinha virado, revirado, desmontado, examinado a sua espineta; estava tomado por essa ideia e mentalmente, sem nisso pensar, deve ter dito para si mesmo: ‘A quem pode ter pertencido este instrumento?’ A corrente magnética ─ e os espíritos fortes não negarão tal corrente ─ estabeleceu-se entre ele o instrumento. Ele adormeceu e caiu no sono natural e, a seguir, passou naturalmente ao estado de sonambulismo. Então procurou, escavou o passado e se pôs em comunicação mais íntima com a espineta; deve tê-la virado, mexido, posto a mão onde o antigo proprietário do instrumento havia posto há três séculos. E, interrogando o passado ─ o que é infinitamente mais fácil do que ver o futuro ─ achou-se em contacto com esse ser que não mais existe. Ele o viu vestido com suas roupas, e executou a ária que tantas vezes o instrumento havia reproduzido; ouviu as palavras tantas vezes acompanhadas; e, arrastado por essa força magnética que se chama eletricidade, o Sr. Bach escreveu aquela ária de próprio punho, tão bem quanto hoje pode ser transmitida a Lyon uma mensagem escrita por vossa mão e com a vossa letra. O Sr. Bach a escreveu no estado de sonambulismo, repito-o, essa música e essa letra que jamais ouvira. E, superexcitado por uma emoção muito viva, despertou banhado em lágrimas.
“Ides gritar que é impossível. ─ Pois bem! Escutai este fato: ─ Eu mesmo mandei uma sonâmbula à Inglaterra; ela realizou a viagem, não no sono sonambúlico, mas numa condição que não era o estado inteiramente natural, nem o de sonambulismo completo. ─ Apenas lhe ordenei que todas as noites dormisse o tempo necessário em sono natural e escrevesse o que deveria alcançar em sua viagem. ─ Ela não sabia uma palavra de inglês. Não conhecia ninguém. O encargo que a preocupava era sério... Ela realizou sua viagem, escreveu todas as noites relatos do que devia fazer, as pessoas que devia ver, os endereços onde devia encontrá-las. Seguiu textualmente e ao pé da letra as indicações que recebera. Foi à casa de pessoas que ela não conhecia e das quais jamais ouvira falar e que eram justamente as que tudo podiam... Tão bem que ao cabo de oito dias, uma missão que teria exigido anos, sem esperança de chegar ao fim, foi terminada, para sua completa satisfação, e minha sonâmbula voltou depois ele ter realizado maravilhas. ─ No estado natural essa mulher extraordinária é apenas uma criatura muito comum.
“Notai este fato: Sua letra, no sono, é inteiramente diferente da escrita habitual. Palavras foram escritas em inglês, que ela desconhece. Ela conversa comigo em italiano e, em vigília, não seria capaz de dizer duas palavras nessa língua.
“O próprio Sr. Bach escreveu e anotou, de próprio punho, a ária de Henrique III, embora talvez não reconheça a sua letra. E o que é mais notável é que deve duvidar de suas faculdades magnéticas, como a minha sonâmbula que é, a esse respeito, de uma incredulidade tão radical que não se pode falar de magnetismo em sua presença, sem que se apresse em declarar que é absurdo acreditar nisso.
“E talvez ainda, embora não digais, o Sr. Bach não tinha papel nem tinta. Minha sonâmbula, em Londres, encontrou sobre sua mesa as indicações necessárias escritas a lápis. Ela não tinha lápis!... Estou certo de que ela foi procurar no hotel, encontrou o lápis de que precisava e o trouxe ao seu quarto, com essa exatidão, essas precauções, essa ligeireza vaporosa, quase sobrenatural, comum nos sonâmbulos.
“Eu vos poderia citar fatos mais surpreendentes que o do Sr. Bach. Mas chega por hoje. Hesito mesmo em vos enviar estas notas, escritas ao correr da pena.
“Há vinte anos que magnetizo e escondi, mesmo dos melhores amigos, o resultado de minhas descobertas. É tão fácil taxar um homem de loucura! Há tanta gente preocupada em pôr a luz sob o velador! E, sobretudo, é preciso dizê-lo, há tantos charlatães que abusaram do magnetismo, que seria necessária uma coragem sobre-humana para a pessoa declarar que dele se ocupa. Seria melhor confessar que se assassinou pai e mãe do que confessar que nele se acredita.
“Regra geral, entretanto: Não creiais nunca, jamais, em experiências públicas, em sonâmbulos aos quais se fazem consultas pagas, que dão oráculos como as sibilas antigas, que agem e falam à menor ordem e com hora marcada, diante de numeroso público, como um autômato habilmente fabricado. Isto é charlatanismo! Nada é mais imprevisível, voluntarioso, instável, desconfiado, odiento que um sonâmbulo. Um nada lhe paralisa as faculdades de segunda vista; um nada o faz mentir por malícia; um nada o perturba e o desvia, e isto se compreende. Há alguma coisa mais susceptível que uma corrente elétrica?
“Eu me separei de um ilustre cientista, o Dr. E..., muito conhecido em Londres, com o qual iniciei minhas experiências magnéticas, justamente porque sempre considerei como falta grave o abuso do magnetismo. Arrastado pelos miraculosos resultados que obtínhamos, um dia ele quis enxertar o sistema frenológico no magnetismo. Ele afirmava que tocando certas bossas da cabeça, o sonâmbulo experimentava a sensação da qual aquela bossa era sede. Tocando a presumível bossa do canto, o paciente cantava; a da gulodice, ele mastigava no vácuo, dizendo que tal comida tinha este ou aquele gosto, e assim por diante.
“Considerei que seria levar a experiência até o abuso e, sobre um fato real, o sonambulismo, assentar uma ciência problemática, a frenologia. Eu queria ampliar o domínio das descobertas magnéticas, mas não abusar delas, como geralmente se faz.
“Tive a irreverência de declarar ao meu professor que ele se desviava, e eu sustentava que era dever de todos quantos conhecem os fenômenos magnéticos erguer-se contra todas essas experiências, cujo único objetivo é satisfazer uma curiosidade ignorante, explorar algumas fraquezas humanas e não o de buscar um resultado prático para a Humanidade e útil a todos.
“Mas é mais difícil do que se pensa manter-se nesses limites honestos quando se chegou a resultados maravilhosos. Os mais fortes magnetizadores se deixam arrastar e, fenômeno ainda mais maravilhoso, quando se chega ao ponto de sempre exigir experiências públicas de seu paciente, ele parece desequilibrar-se, não tem mais esse imprevisto, essa lucidez, essa clarividência que o distinguiam; torna-se uma máquina automática, que responde sobre um tema dado e cujas faculdades empobrecem a ponto de desaparecerem.
“Infelizmente, pessoas que não tentariam uma simples experiência de física recreativa, que se confessam incapazes de fazer o menor passe de prestidigitação, jamais hesitam, sem preparação, sem o menor estudo prévio, em fazer experiências magnéticas.
“Ah! se eu não temesse adormecer os leitores do vosso Grand Journal num sono menos interessante, porém mais barulhento que o dos meus sonâmbulos, eu vos entreteria em breve com fatos eminentemente curiosos... Mas antes é preciso saber que acolhimento dareis a esta primeira carta, e é o que saberei sábado, virando as páginas do meu exemplar.
“BERTELLIUS.”
Um egoísta
Estudo espírita moral
Em data de 10 de janeiro de 1865, um dos nossos correspondentes de Lyon nos transmite o seguinte relato.
Numa localidade vizinha, conhecíamos um indivíduo cujo nome não declaramos para não sermos maledicente e porque o nome nada tem a ver com o fato. Ele era espírita, e sob o domínio dessa crença se havia melhorado, no entanto não havia dela tirado todo o proveito que poderia, levando-se em consideração a sua inteligência. Vivia com uma velha tia, que o amava como a um filho, e que não poupava trabalhos nem sacrifícios por seu caro sobrinho. Por economia, ela tomava conta da casa. Até aí tudo muito natural. O que era menos natural é que o sobrinho, jovem e saudável, a deixava fazer trabalhos acima de suas forças, sem que jamais tivesse a ideia de poupar-lhe esforços penosos para a sua idade, tais como o transporte de fardos e coisas semelhantes. Ele não arredava um móvel em casa, como se tivesse criados às suas ordens. Se previsse algum penoso serviço excepcional, arranjava um pretexto para ausentar-se, temeroso que lhe pedissem uma ajuda que não poderia recusar. Entretanto, a esse respeito ele tinha recebido muitas lições, poderia dizer-se afrontas, capazes de fazer refletir um homem de coração, mas ele era insensível a elas. Um dia em que a tia se extenuava rachando lenha, lá estava ele sentado, fumando tranquilamente o seu cachimbo. Entrou um vizinho e, vendo isto, lançou um olhar de desprezo ao jovem e disse: “Isto é trabalho para homem, e não para mulher.” Depois, tomando o machado, começou a rachar a lenha, enquanto o outro olhava. Ele era considerado um homem direito e de boa conduta, mas seu caráter não tinha amenidade nem perseverança, por isso não era estimado, e a maioria dos amigos se haviam afastado. Nós, espíritas, nos afligíamos por essa falta de sentimento e dizíamos que um dia ele pagaria muito caro.
A previsão realizou-se recentemente. Devemos dizer que, devido aos esforços que fazia, a velha senhora foi acometida por uma hérnia muito grave, que a fazia sofrer muito, mas ela tinha a coragem de não se lamentar. Durante estes últimos períodos de frio, querendo esquivar-se de um trabalho pesado, o sobrinho saiu cedo, mas não voltou. Ao atravessar uma ponte, foi atingido por uma viatura que deslizou por uma encosta escorregadia, e morreu duas horas depois.
Quando fomos informados do fato, quisemos evocá-lo e eis o que foi respondido por um dos nossos bons guias:
“Aquele a quem quereis chamar não poderá comunicar-se antes de algum tempo. Venho responder por ele e vos dizer o que quereis saber. Mais tarde ele vo-lo confirmará. Neste momento ele está muito perturbado pelos pensamentos que o agitam. Ele vê sua tia e a doença que ela contraiu em consequência das fadigas corporais e da qual morrerá. Eis o que o atormenta, pois se considera o seu assassino. E ele é, de fato, pois poderia ter-lhe poupado o trabalho que será a causa de sua morte. É para ele um remorso pungente que o perseguirá por muito tempo, até que tenha reparado a sua falta. Ele queria fazê-lo neste momento; não deixa a sua tia, mas seus esforços são improfícuos, e então ele se desespera. Para seu castigo, deve vê-la morrer em consequência de sua indiferença egoísta, pois sua conduta é uma espécie de egoísmo. Orai por ele, a fim de sustentar seu arrependimento, que mais tarde o salvará.”
Pergunta. ─ Nosso caro guia poderia dizer-nos se não lhe serão levados em conta outros defeitos de que se corrigiu por força do Espiritismo e se sua situação não se abrandou?
Resposta. ─ Sem nenhuma dúvida, essa melhora lhe é levada em conta, pois nada escapa ao olhar perscrutador da divina providência. Mas eis de que maneira cada boa ou má ação tem suas consequências naturais, inevitáveis, segundo estas palavras do Cristo: A cada um segundo as suas obras. Aquele que se corrigiu de algumas falhas se poupa da punição que as mesmas teriam acarretado, e recebe, ao contrário, o prêmio das qualidades que as substituíram, mas não pode escapar às consequências dos defeitos que persistem. Assim, ele não é punido senão na proporção e segundo a gravidade destes últimos. Quanto menos defeitos tiver, melhor sua posição. Uma qualidade não resgata um defeito; ela diminui o número destes e, por conseguinte, a soma das punições.
Aqueles que são corrigidos logo de início são os mais fáceis de extirpar e o mais difícil de desfazer-se é o egoísmo. As pessoas julgam ter feito muito porque moderaram a violência do caráter, se resignaram à sua sorte ou se desfizeram de alguns maus hábitos. Sem dúvida é algo que lhes beneficia, mas não impede de pagarem o tributo de depuração pelo resto.
Meus amigos, o egoísmo é o que melhor se vê nos outros, porque a gente sente o seu contragolpe e porque o egoísta nos fere, mas o egoísta encontra em si mesmo sua satisfação, razão por que dele não se apercebe. O egoísmo é sempre uma prova de secura do coração; ele estiola a sensibilidade para os sofrimentos alheios. O homem de coração, ao contrário, ressente esse sofrimento e se emociona; é por isto que ele se dedica a não impô-lo ou minimizá-lo em relação aos outros, porque quereria que os outros fizessem o mesmo por ele. Assim, é feliz quando poupa um esforço ou um sofrimento a alguém. Tendo-se identificado com o mal de seu semelhante, ele experimenta um alívio real quando não mais existe o mal. Contai com o seu reconhecimento se lhe prestardes serviço.
Entretanto, do egoísta não espereis senão a ingratidão. O reconhecimento em palavras nada lhe custa, mas a ação o fatigaria e perturbaria o seu repouso. Ele só age por outro quando forçado, nunca espontaneamente. Seu devotamento está na razão do bem que espera das pessoas, e isto algumas vezes malgrado seu.
O moço de quem falamos certamente gostava da tia e ter-se-ia revoltado se lhe tivessem dito o contrário, contudo, sua afeição não chegava ao ponto de fatigar-se por ela. De sua parte, não era um desígnio premeditado, mas uma repulsa instintiva, consequente de seu egoísmo inato. A luz que ele não soube encontrar em vida, hoje lhe aparece, e ele lamenta não ter aproveitado melhor os ensinamentos que recebeu. Orai por ele.
O egoísmo é o verme roedor da Sociedade, é mais ou menos o de cada um de vós. Em breve eu farei uma dissertação na qual ele será encarado sob suas múltiplas nuanças; será um espelho: olhai-o com cuidado, para ver se não percebeis num canto qualquer um reflexo de vossa personalidade.
VOSSO GUIA ESPIRITUAL
Numa localidade vizinha, conhecíamos um indivíduo cujo nome não declaramos para não sermos maledicente e porque o nome nada tem a ver com o fato. Ele era espírita, e sob o domínio dessa crença se havia melhorado, no entanto não havia dela tirado todo o proveito que poderia, levando-se em consideração a sua inteligência. Vivia com uma velha tia, que o amava como a um filho, e que não poupava trabalhos nem sacrifícios por seu caro sobrinho. Por economia, ela tomava conta da casa. Até aí tudo muito natural. O que era menos natural é que o sobrinho, jovem e saudável, a deixava fazer trabalhos acima de suas forças, sem que jamais tivesse a ideia de poupar-lhe esforços penosos para a sua idade, tais como o transporte de fardos e coisas semelhantes. Ele não arredava um móvel em casa, como se tivesse criados às suas ordens. Se previsse algum penoso serviço excepcional, arranjava um pretexto para ausentar-se, temeroso que lhe pedissem uma ajuda que não poderia recusar. Entretanto, a esse respeito ele tinha recebido muitas lições, poderia dizer-se afrontas, capazes de fazer refletir um homem de coração, mas ele era insensível a elas. Um dia em que a tia se extenuava rachando lenha, lá estava ele sentado, fumando tranquilamente o seu cachimbo. Entrou um vizinho e, vendo isto, lançou um olhar de desprezo ao jovem e disse: “Isto é trabalho para homem, e não para mulher.” Depois, tomando o machado, começou a rachar a lenha, enquanto o outro olhava. Ele era considerado um homem direito e de boa conduta, mas seu caráter não tinha amenidade nem perseverança, por isso não era estimado, e a maioria dos amigos se haviam afastado. Nós, espíritas, nos afligíamos por essa falta de sentimento e dizíamos que um dia ele pagaria muito caro.
A previsão realizou-se recentemente. Devemos dizer que, devido aos esforços que fazia, a velha senhora foi acometida por uma hérnia muito grave, que a fazia sofrer muito, mas ela tinha a coragem de não se lamentar. Durante estes últimos períodos de frio, querendo esquivar-se de um trabalho pesado, o sobrinho saiu cedo, mas não voltou. Ao atravessar uma ponte, foi atingido por uma viatura que deslizou por uma encosta escorregadia, e morreu duas horas depois.
Quando fomos informados do fato, quisemos evocá-lo e eis o que foi respondido por um dos nossos bons guias:
“Aquele a quem quereis chamar não poderá comunicar-se antes de algum tempo. Venho responder por ele e vos dizer o que quereis saber. Mais tarde ele vo-lo confirmará. Neste momento ele está muito perturbado pelos pensamentos que o agitam. Ele vê sua tia e a doença que ela contraiu em consequência das fadigas corporais e da qual morrerá. Eis o que o atormenta, pois se considera o seu assassino. E ele é, de fato, pois poderia ter-lhe poupado o trabalho que será a causa de sua morte. É para ele um remorso pungente que o perseguirá por muito tempo, até que tenha reparado a sua falta. Ele queria fazê-lo neste momento; não deixa a sua tia, mas seus esforços são improfícuos, e então ele se desespera. Para seu castigo, deve vê-la morrer em consequência de sua indiferença egoísta, pois sua conduta é uma espécie de egoísmo. Orai por ele, a fim de sustentar seu arrependimento, que mais tarde o salvará.”
Pergunta. ─ Nosso caro guia poderia dizer-nos se não lhe serão levados em conta outros defeitos de que se corrigiu por força do Espiritismo e se sua situação não se abrandou?
Resposta. ─ Sem nenhuma dúvida, essa melhora lhe é levada em conta, pois nada escapa ao olhar perscrutador da divina providência. Mas eis de que maneira cada boa ou má ação tem suas consequências naturais, inevitáveis, segundo estas palavras do Cristo: A cada um segundo as suas obras. Aquele que se corrigiu de algumas falhas se poupa da punição que as mesmas teriam acarretado, e recebe, ao contrário, o prêmio das qualidades que as substituíram, mas não pode escapar às consequências dos defeitos que persistem. Assim, ele não é punido senão na proporção e segundo a gravidade destes últimos. Quanto menos defeitos tiver, melhor sua posição. Uma qualidade não resgata um defeito; ela diminui o número destes e, por conseguinte, a soma das punições.
Aqueles que são corrigidos logo de início são os mais fáceis de extirpar e o mais difícil de desfazer-se é o egoísmo. As pessoas julgam ter feito muito porque moderaram a violência do caráter, se resignaram à sua sorte ou se desfizeram de alguns maus hábitos. Sem dúvida é algo que lhes beneficia, mas não impede de pagarem o tributo de depuração pelo resto.
Meus amigos, o egoísmo é o que melhor se vê nos outros, porque a gente sente o seu contragolpe e porque o egoísta nos fere, mas o egoísta encontra em si mesmo sua satisfação, razão por que dele não se apercebe. O egoísmo é sempre uma prova de secura do coração; ele estiola a sensibilidade para os sofrimentos alheios. O homem de coração, ao contrário, ressente esse sofrimento e se emociona; é por isto que ele se dedica a não impô-lo ou minimizá-lo em relação aos outros, porque quereria que os outros fizessem o mesmo por ele. Assim, é feliz quando poupa um esforço ou um sofrimento a alguém. Tendo-se identificado com o mal de seu semelhante, ele experimenta um alívio real quando não mais existe o mal. Contai com o seu reconhecimento se lhe prestardes serviço.
Entretanto, do egoísta não espereis senão a ingratidão. O reconhecimento em palavras nada lhe custa, mas a ação o fatigaria e perturbaria o seu repouso. Ele só age por outro quando forçado, nunca espontaneamente. Seu devotamento está na razão do bem que espera das pessoas, e isto algumas vezes malgrado seu.
O moço de quem falamos certamente gostava da tia e ter-se-ia revoltado se lhe tivessem dito o contrário, contudo, sua afeição não chegava ao ponto de fatigar-se por ela. De sua parte, não era um desígnio premeditado, mas uma repulsa instintiva, consequente de seu egoísmo inato. A luz que ele não soube encontrar em vida, hoje lhe aparece, e ele lamenta não ter aproveitado melhor os ensinamentos que recebeu. Orai por ele.
O egoísmo é o verme roedor da Sociedade, é mais ou menos o de cada um de vós. Em breve eu farei uma dissertação na qual ele será encarado sob suas múltiplas nuanças; será um espelho: olhai-o com cuidado, para ver se não percebeis num canto qualquer um reflexo de vossa personalidade.
VOSSO GUIA ESPIRITUAL
Notícias bibliográficas
O CÉU E O INFERNO, OU A JUSTIÇA DIVINA SEGUNDO O ESPIRITISMO
Conteúdo: Exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual, as penas e recompensas futuras, os anjos e os demônios, as penas eternas, etc., seguido de numerosos exemplos sobre a situação real da alma durante e após a morte.
Por ALLAN KARDEC
Como não nos cabe fazer nem o elogio nem a crítica desta obra, limitamo-nos a dar a conhecer o seu objetivo, reproduzindo um resumo do prefácio.
“O título desta obra indica claramente o seu objetivo. Aí reunimos todos os elementos próprios para esclarecer o homem sobre o seu destino. Como nos nossos outros escritos sobre a Doutrina Espírita, aí nada introduzimos que seja produto de um sistema preconcebido ou de uma concepção pessoal que não teria nenhuma autoridade. Tudo ali é deduzido da observação e da concordância dos fatos.
“O Livro dos Espíritos contém as bases fundamentais do Espiritismo; é a pedra angular do edifício; todos os princípios da doutrina aí são apresentados, até os que devem constituir o seu coroamento; mas era necessário dar-lhe os desenvolvimentos, deduzir-lhe todas as consequências e todas as aplicações, à medida que se desenrolavam pelo ensino complementar dos Espíritos e por novas observações. Foi o que fizemos no Livro dos Médiuns e no Evangelho segundo o Espiritismo, sob pontos de vista especiais; é o que fazemos nesta obra sob um outro ponto de vista, e é o que faremos sucessivamente nas que nos resta publicar, e que virão a seu tempo.
“As ideias novas só frutificam quando o terreno está preparado para recebê-las. Ora, por este terreno preparado devem entender-se algumas inteligências precoces, que só dariam frutos isolados, mas um certo conjunto na predisposição geral, a fim de que, não só dê frutos mais abundantes, mas que a ideia, encontrando maior número de pontos de apoio, encontre menos oposição e seja mais forte, para resistir aos seus antagonistas. O Evangelho segundo o Espiritismo já era um passo à frente; O Céu e o Inferno é um passo a mais, cujo alcance será mais facilmente compreendido, porque trata vivamente certas questões; mas não devia vir mais cedo.
“Se considerarmos a época em que veio o Espiritismo, reconheceremos sem esforço que ele veio em tempo oportuno, nem muito cedo nem muito tarde. Mais cedo, teria abortado, porque, não sendo numerosas as simpatias, teria sucumbido aos golpes dos adversários; mais tarde, teria perdido a ocasião favorável de se produzir; as ideias poderiam ter tomado outro curso, do qual teria sido difícil desviá-las. Era necessário deixar às velhas ideias o tempo de se gastarem e provar sua insuficiência, antes de apresentar outras novas.
“As ideias prematuras abortam porque não se está maduro para compreendê-las e ainda não se faz sentir a necessidade de uma mudança de posição. Hoje é para todos evidente que se manifesta um imenso movimento de opinião; uma formidável reação se opera, no sentido progressivo, contra o espírito estacionário ou retrógrado da rotina; os satisfeitos da véspera são os impacientes do dia seguinte. A Humanidade está no trabalho de parto; há qualquer coisa no ar, uma força irresistível que a impele para a frente; ela está como um jovem saído da adolescência, que entrevê novos horizontes sem defini-los, e sacode os cueiros da infância. Vemos algo de melhor, alimento mais sólido para a razão. Mas esse melhor ainda está no vazio; nós o buscamos; todos trabalham nisto, do crente ao incrédulo, do operário ao cientista. O Universo é um vasto canteiro; uns destroem, outros reconstroem; cada um talha uma pedra para o novo edifício, do qual só o grande arquiteto possui o plano definitivo, e cuja economia só será compreendida quando suas formas começarem a se desenhar acima da superfície do solo. Foi este momento que a soberana sabedoria escolheu para o advento do Espiritismo.
“Os Espíritos que presidem ao grande movimento regenerador agem, pois, com mais sabedoria e previdência do que podem fazê-lo os homens, porque abarcam a marcha geral dos acontecimentos, ao passo que nós só vemos o círculo limitado do nosso horizonte. Estando chegados os tempos da renovação, conforme os desígnios divinos, era preciso que, em meio às ruínas do velho edifício e para não perder a coragem, o homem entrevisse as fiadas da nova ordem de coisas; era preciso que o marinheiro percebesse a estrela polar, que deve guiá-lo ao porto.
“A sabedoria dos Espíritos, que se mostrou no surgimento do Espiritismo, revelada quase que instantaneamente em toda a Terra na época mais propícia, não é menos evidente na ordem e na gradação lógica das revelações complementares sucessivas. Não cabe a ninguém constranger a vontade deles a tal respeito, porque eles não medem seus ensinos ao sabor da impaciência dos homens. Não nos basta dizer: “Gostaríamos de ter tal coisa” para que ela nos seja dada. Ainda menos nos convém dizer a Deus: “Julgamos chegado o momento para nos dardes tal coisa; nós nos julgamos bastante adiantados para recebê-la”, porque isto significaria dizer-lhe: “Sabemos melhor que vós o que convém fazer.” Aos impacientes, os Espíritos respondem: “Começai por bem saber, bem compreender e sobretudo bem praticar o que sabeis, a fim de que Deus vos julgue dignos de aprender mais; depois, quando chegar o momento, saberemos agir e escolher nossos instrumentos.”
“A primeira parte desta obra, intitulada Doutrina, contém o exame comparado das diversas crenças sobre o céu e o inferno, os anjos e os demônios, as penas e recompensas futuras; o dogma das penas eternas aí é encarado de maneira especial e refutado por argumentos tirados das próprias leis da Natureza e que lhes demonstram não só o lado ilógico, já centenas de vezes demonstrado, mas a sua impossibilidade material. Com as penas eternas, caem, naturalmente, as consequências que tinham acreditado delas poder tirar.
“A segunda parte encerra numerosos exemplos em apoio à teoria, ou melhor, que serviram ao estabelecimento da teoria. Eles fundamentam sua autoridade na diversidade dos tempos e lugares onde foram obtidos, porque se emanassem de uma única fonte, poderiam ser considerados como produto de uma mesma influência. Além disso, tiram-na da sua concordância com o que diariamente se obtém por toda parte onde se ocupam das manifestações espíritas de um ponto de vista sério e filosófico. Esses exemplos poderiam ter sido multiplicados ao infinito, porque não há Centro Espírita que não os possa fornecer em notável contingente. Para evitar repetições fastidiosas, tivemos que fazer uma escolha entre os mais instrutivos. Cada um desses exemplos é um estudo em que todas as palavras têm o seu alcance para quem quer que as medite com atenção, porque de cada ponto jorra uma luz sobre a situação da alma após a morte, e sobre a passagem, até então tão obscura e tão temida, da vida corporal à vida espiritual. É o guia do viajor, antes de entrar num país novo. A vida de além-túmulo aí se desenrola sob todos os seus aspectos, como um vasto panorama; cada um aí colherá novos motivos de esperança e de consolação e novos suportes para firmar sua fé no futuro e na justiça de Deus.
“Nesses exemplos, em sua maioria tomados de fatos contemporâneos, dissimulamos os nomes próprios, sempre que o julgamos útil, por motivos de conveniência fáceis de apreciar. Aqueles a quem tais exemplos podem interessar reconhecê-los-ão facilmente. Para o público, nomes mais ou menos conhecidos e por vezes muito obscuros, nada teriam acrescentado à instrução que dos mesmos se pode colher.
Eis os títulos dos capítulos:
PRIMEIRA PARTE. Doutrina. I O porvir e o nada. ─ II Da apreensão da morte. ─ III O céu. ─ IV O inferno. ─ V Quadro comparativo do inferno pagão e do inferno cristão. ─ VI O purgatório. ─ VII Da doutrina das penas eternas. ─ VIII Das penas futuras, segundo o Espiritismo. ─ IX Os anjos. ─ X Os demônios. ─ XI Intervenção dos demônios nas manifestações modernas. ─ XII Da proibição de evocar os mortos.
SEGUNDA PARTE. Exemplos. I A passagem. ─ II Espíritos felizes. ─ III Espíritos em condição média. ─ IV Espíritos sofredores. ─ V Suicidas. ─ VI Criminosos arrependidos. ─ VII Espíritos endurecidos. ─ VIII Expiações terrestres
Conteúdo: Exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual, as penas e recompensas futuras, os anjos e os demônios, as penas eternas, etc., seguido de numerosos exemplos sobre a situação real da alma durante e após a morte.
Por ALLAN KARDEC
Como não nos cabe fazer nem o elogio nem a crítica desta obra, limitamo-nos a dar a conhecer o seu objetivo, reproduzindo um resumo do prefácio.
“O título desta obra indica claramente o seu objetivo. Aí reunimos todos os elementos próprios para esclarecer o homem sobre o seu destino. Como nos nossos outros escritos sobre a Doutrina Espírita, aí nada introduzimos que seja produto de um sistema preconcebido ou de uma concepção pessoal que não teria nenhuma autoridade. Tudo ali é deduzido da observação e da concordância dos fatos.
“O Livro dos Espíritos contém as bases fundamentais do Espiritismo; é a pedra angular do edifício; todos os princípios da doutrina aí são apresentados, até os que devem constituir o seu coroamento; mas era necessário dar-lhe os desenvolvimentos, deduzir-lhe todas as consequências e todas as aplicações, à medida que se desenrolavam pelo ensino complementar dos Espíritos e por novas observações. Foi o que fizemos no Livro dos Médiuns e no Evangelho segundo o Espiritismo, sob pontos de vista especiais; é o que fazemos nesta obra sob um outro ponto de vista, e é o que faremos sucessivamente nas que nos resta publicar, e que virão a seu tempo.
“As ideias novas só frutificam quando o terreno está preparado para recebê-las. Ora, por este terreno preparado devem entender-se algumas inteligências precoces, que só dariam frutos isolados, mas um certo conjunto na predisposição geral, a fim de que, não só dê frutos mais abundantes, mas que a ideia, encontrando maior número de pontos de apoio, encontre menos oposição e seja mais forte, para resistir aos seus antagonistas. O Evangelho segundo o Espiritismo já era um passo à frente; O Céu e o Inferno é um passo a mais, cujo alcance será mais facilmente compreendido, porque trata vivamente certas questões; mas não devia vir mais cedo.
“Se considerarmos a época em que veio o Espiritismo, reconheceremos sem esforço que ele veio em tempo oportuno, nem muito cedo nem muito tarde. Mais cedo, teria abortado, porque, não sendo numerosas as simpatias, teria sucumbido aos golpes dos adversários; mais tarde, teria perdido a ocasião favorável de se produzir; as ideias poderiam ter tomado outro curso, do qual teria sido difícil desviá-las. Era necessário deixar às velhas ideias o tempo de se gastarem e provar sua insuficiência, antes de apresentar outras novas.
“As ideias prematuras abortam porque não se está maduro para compreendê-las e ainda não se faz sentir a necessidade de uma mudança de posição. Hoje é para todos evidente que se manifesta um imenso movimento de opinião; uma formidável reação se opera, no sentido progressivo, contra o espírito estacionário ou retrógrado da rotina; os satisfeitos da véspera são os impacientes do dia seguinte. A Humanidade está no trabalho de parto; há qualquer coisa no ar, uma força irresistível que a impele para a frente; ela está como um jovem saído da adolescência, que entrevê novos horizontes sem defini-los, e sacode os cueiros da infância. Vemos algo de melhor, alimento mais sólido para a razão. Mas esse melhor ainda está no vazio; nós o buscamos; todos trabalham nisto, do crente ao incrédulo, do operário ao cientista. O Universo é um vasto canteiro; uns destroem, outros reconstroem; cada um talha uma pedra para o novo edifício, do qual só o grande arquiteto possui o plano definitivo, e cuja economia só será compreendida quando suas formas começarem a se desenhar acima da superfície do solo. Foi este momento que a soberana sabedoria escolheu para o advento do Espiritismo.
“Os Espíritos que presidem ao grande movimento regenerador agem, pois, com mais sabedoria e previdência do que podem fazê-lo os homens, porque abarcam a marcha geral dos acontecimentos, ao passo que nós só vemos o círculo limitado do nosso horizonte. Estando chegados os tempos da renovação, conforme os desígnios divinos, era preciso que, em meio às ruínas do velho edifício e para não perder a coragem, o homem entrevisse as fiadas da nova ordem de coisas; era preciso que o marinheiro percebesse a estrela polar, que deve guiá-lo ao porto.
“A sabedoria dos Espíritos, que se mostrou no surgimento do Espiritismo, revelada quase que instantaneamente em toda a Terra na época mais propícia, não é menos evidente na ordem e na gradação lógica das revelações complementares sucessivas. Não cabe a ninguém constranger a vontade deles a tal respeito, porque eles não medem seus ensinos ao sabor da impaciência dos homens. Não nos basta dizer: “Gostaríamos de ter tal coisa” para que ela nos seja dada. Ainda menos nos convém dizer a Deus: “Julgamos chegado o momento para nos dardes tal coisa; nós nos julgamos bastante adiantados para recebê-la”, porque isto significaria dizer-lhe: “Sabemos melhor que vós o que convém fazer.” Aos impacientes, os Espíritos respondem: “Começai por bem saber, bem compreender e sobretudo bem praticar o que sabeis, a fim de que Deus vos julgue dignos de aprender mais; depois, quando chegar o momento, saberemos agir e escolher nossos instrumentos.”
“A primeira parte desta obra, intitulada Doutrina, contém o exame comparado das diversas crenças sobre o céu e o inferno, os anjos e os demônios, as penas e recompensas futuras; o dogma das penas eternas aí é encarado de maneira especial e refutado por argumentos tirados das próprias leis da Natureza e que lhes demonstram não só o lado ilógico, já centenas de vezes demonstrado, mas a sua impossibilidade material. Com as penas eternas, caem, naturalmente, as consequências que tinham acreditado delas poder tirar.
“A segunda parte encerra numerosos exemplos em apoio à teoria, ou melhor, que serviram ao estabelecimento da teoria. Eles fundamentam sua autoridade na diversidade dos tempos e lugares onde foram obtidos, porque se emanassem de uma única fonte, poderiam ser considerados como produto de uma mesma influência. Além disso, tiram-na da sua concordância com o que diariamente se obtém por toda parte onde se ocupam das manifestações espíritas de um ponto de vista sério e filosófico. Esses exemplos poderiam ter sido multiplicados ao infinito, porque não há Centro Espírita que não os possa fornecer em notável contingente. Para evitar repetições fastidiosas, tivemos que fazer uma escolha entre os mais instrutivos. Cada um desses exemplos é um estudo em que todas as palavras têm o seu alcance para quem quer que as medite com atenção, porque de cada ponto jorra uma luz sobre a situação da alma após a morte, e sobre a passagem, até então tão obscura e tão temida, da vida corporal à vida espiritual. É o guia do viajor, antes de entrar num país novo. A vida de além-túmulo aí se desenrola sob todos os seus aspectos, como um vasto panorama; cada um aí colherá novos motivos de esperança e de consolação e novos suportes para firmar sua fé no futuro e na justiça de Deus.
“Nesses exemplos, em sua maioria tomados de fatos contemporâneos, dissimulamos os nomes próprios, sempre que o julgamos útil, por motivos de conveniência fáceis de apreciar. Aqueles a quem tais exemplos podem interessar reconhecê-los-ão facilmente. Para o público, nomes mais ou menos conhecidos e por vezes muito obscuros, nada teriam acrescentado à instrução que dos mesmos se pode colher.
Eis os títulos dos capítulos:
PRIMEIRA PARTE. Doutrina. I O porvir e o nada. ─ II Da apreensão da morte. ─ III O céu. ─ IV O inferno. ─ V Quadro comparativo do inferno pagão e do inferno cristão. ─ VI O purgatório. ─ VII Da doutrina das penas eternas. ─ VIII Das penas futuras, segundo o Espiritismo. ─ IX Os anjos. ─ X Os demônios. ─ XI Intervenção dos demônios nas manifestações modernas. ─ XII Da proibição de evocar os mortos.
SEGUNDA PARTE. Exemplos. I A passagem. ─ II Espíritos felizes. ─ III Espíritos em condição média. ─ IV Espíritos sofredores. ─ V Suicidas. ─ VI Criminosos arrependidos. ─ VII Espíritos endurecidos. ─ VIII Expiações terrestres
Palestras familiares sobre o Espiritismo - Pela Sra. Émilie Collignon (De Bordeaux)
Conversas Familiares sobre o Espiritismo:
Pela Sra. Émilie Collignon (de Bordeaux)
Temos a satisfação e cumprimos o dever de chamar a atenção dos nossos leitores para esta brochura, que apenas anunciamos no último número, e que inscrevemos com prazer entre os livros recomendados. É uma exposição completa, embora sumária, dos princípios verdadeiros da doutrina, em linguagem familiar, ao alcance de todos, e sob uma forma atraente. Fazer a análise desta produção seria fazer a do Livro dos Espíritos e do Livro dos Médiuns. Não é, pois, como contendo ideias novas, que recomendamos esse opúsculo, mas como um meio de propagar a doutrina.
ALLAN KARDEC
ALLAN KARDEC