Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1866

Allan Kardec

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Janeiro

As mulheres têm alma?

As mulheres têm alma? Sabe-se que a coisa nem sempre foi tida como certa, pois, ao que se diz, foi posta em deliberação num concílio. A negação ainda é um princípio de fé em certos povos. Sabe-se a que grau de aviltamento essa crença as reduziu na maior parte das regiões do Oriente. Mesmo que hoje, nos povos civilizados, a questão seja resolvida em seu favor, o preconceito de sua inferioridade moral perpetuou-se a tal ponto que um escritor do século passado, cujo nome me foge, assim definia a mulher: “Instrumento de prazeres do homem”, definição mais muçulmana que cristã. Desse preconceito nasceu sua inferioridade legal, ainda não apagada de nossos códigos. Por muito tempo elas aceitaram essa escravização como uma coisa natural, tão poderosa é a força do hábito. É assim que acontece com aqueles que são submetidos à servidão de pai para filho, que acabam por se julgarem de natureza diversa da dos seus senhores.

Contudo, o progresso das luzes elevou o conceito da mulher. Muitas vezes ela se afirmou pela inteligência e pelo gênio, e a lei, conquanto ainda a considere inferior, pouco a pouco afrouxou os laços da tutela. Pode-se considerá-la como emancipada moralmente, se não o é legalmente. É a este último resultado que ela chegará um dia, pela força das coisas.

Há pouco tempo lia-se nos jornais que uma jovem de vinte anos acabara de defender o bacharelado com pleno sucesso perante a faculdade de Montpellier. Dizia-se que era o quarto diploma de bacharel concedido a uma mulher. Não faz muito tempo foi aventada a questão de saber se o grau de bacharel podia ser conferido a uma mulher. Ainda que para alguns isto parecesse uma anomalia monstruosa, reconheceu-se que os regulamentos sobre a matéria não mencionavam as mulheres, portanto, elas não se achavam legalmente excluídas. Depois de terem reconhecido que elas têm alma, reconheceram-lhes o direito à conquista de graus da ciência, o que já é alguma coisa. Mas a sua libertação parcial é apenas resultado do desenvolvimento da urbanidade, do abrandamento dos costumes ou, se quiserem, de um senso mais apurado da justiça. É uma espécie de concessão que lhes fazem, e é preciso dizer que regateiam o máximo possível.

Pôr em dúvida hoje a alma da mulher seria ridículo, mas outra questão muito séria, sob outro aspecto, aqui se apresenta, e cuja solução só será estabelecida se a igualdade de posição social entre o homem e a mulher for definida como um direito natural ou como uma concessão feita pelo homem. Notemos, de passagem, que se esta igualdade não for senão uma concessão do homem por condescendência, aquilo que ele dá hoje pode retirar amanhã, e que tendo ele a força física, salvo algumas exceções individuais, no conjunto ele sempre levará vantagem, ao passo que se essa igualdade estiver na natureza, seu reconhecimento será resultado do progresso e, uma vez reconhecida, será imprescritível.

Criou Deus as almas masculinas e femininas, e fez estas inferiores àquelas? Eis toda a questão. Se assim é, a inferioridade da mulher está nos desígnios divinos, e nenhuma lei humana poderia nisso interferir. Se, ao contrário, ele as criou iguais e semelhantes, as desigualdades baseadas na ignorância e na força bruta desaparecerão com o progresso e o reinado da justiça.

Entregue a si mesmo, o homem não podia estabelecer a respeito senão hipóteses mais ou menos racionais, mas sempre controvertidas. Nada no mundo visível poderia dar-lhe a prova material do erro ou do acerto de suas opiniões. Para se esclarecer, seria preciso remontar à fonte, escavar os arcanos do mundo extracorporal que ele não conhecia. Estava reservado ao Espiritismo resolver a questão, não mais pelo raciocínio, mas pelos fatos, quer pelas revelações de além-túmulo, quer pelo estudo que diariamente deve fazer sobre o estado das almas após a morte. E, coisa fundamental, esses estudos não são a criação de um só homem, nem as revelações de um só Espírito, mas o produto de inúmeras observações idênticas, feitas diariamente por milhares de pessoas, em todos os países, e que assim receberam a sanção poderosa do controle universal, sobre o qual se apoiam todas as doutrinas da ciência espírita.

Ora, eis o que resulta destas observações:

As almas ou Espíritos não têm sexo. As afeições que os unem nada têm de carnal e, por isto mesmo, são mais duráveis, porque são fundadas numa simpatia real e não são subordinadas às vicissitudes da matéria.

As almas se encarnam, isto é, revestem temporariamente um envoltório carnal, para elas semelhante a uma pesada vestimenta, de que a morte as desembaraça. Pondo-as esse envoltório material em contato com o mundo material, nesse estado elas concorrem ao progresso material do mundo que habitam; a atividade que são obrigadas a desenvolver, quer para a conservação da vida, quer à procura do bem-estar, auxilia-lhes o avanço intelectual e moral. A cada encarnação a alma chega mais desenvolvida; traz novas ideias e os conhecimentos adquiridos nas existências anteriores. Assim se efetua o progresso dos povos. Os homens civilizados de hoje são os mesmos que viveram na Idade Média e nos tempos de barbárie, e que progrediram; os que viverão os séculos futuros são os que vivem hoje, porém ainda mais adiantados intelectual e moralmente.

Os órgãos sexuais só existem no organismo. Eles são necessários à reprodução dos seres materiais. Mas os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão pela qual os órgãos sexuais seriam inúteis no mundo espiritual.

Os Espíritos progridem pelos trabalhos que realizam e pelas provas que têm a suportar, como o operário se aperfeiçoa em sua arte pelo trabalho que faz. Essas provas e esses trabalhos variam conforme a sua posição social. Devendo os Espíritos progredir em tudo e adquirir todos os conhecimentos, cada um é chamado a concorrer aos diversos trabalhos e a passar por diferentes gêneros de provas. É por isso que eles renascem alternativamente ricos ou pobres, senhores ou servos, profissionais do pensamento ou da matéria.

Assim se acha fundado, sobre as próprias leis da natureza, o princípio da igualdade, pois o grande da véspera pode ser o pequeno do dia seguinte, e vice-vera. Desse princípio decorre o da fraternidade, porquanto, nas relações sociais, encontramos antigos conhecidos, e no infeliz que nos estende a mão pode encontrar-se um parente ou um amigo.

É com o mesmo objetivo que os Espíritos se encarnam nos diferentes sexos. Aquele que foi homem poderá renascer mulher, e aquele que foi mulher poderá renascer homem, a fim de realizar os deveres de cada uma dessas posições, e de submeter-se às provas respectivas.

A natureza fez o sexo feminino mais fraco que o outro, porque os deveres que lhe incumbem não exigem uma igual força muscular e seriam até incompatíveis com a rudeza masculina. Nele a delicadeza das formas e das sensações são admiravelmente apropriadas aos cuidados da maternidade. Aos homens e às mulheres são, assim, atribuídos deveres especiais igualmente importantes na ordem das coisas; são dois elementos que se completam um pelo outro.

Sofrendo o Espírito encarnado a influência do organismo, seu caráter se modifica conforme as circunstâncias e se dobra às necessidades e às exigências impostas por esse mesmo organismo. Essa influência não se apaga imediatamente após a destruição do envoltório material, da mesma forma que ele não perde instantaneamente os gostos e hábitos terrenos. Depois, pode acontecer que o Espírito percorra uma série de existências no mesmo sexo, o que faz com que durante muito tempo ele possa conservar, na condição de Espírito, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa. Somente quando chegado a um certo grau de adiantamento e de desmaterialização é que a influência da matéria se apaga completamente e, com ela, o caráter dos sexos. Os que se nos apresentam como homens ou como mulheres assim o fazem para nos lembrarmos da existência em que os conhecemos.

Se essa influência da vida corporal repercute na vida espiritual, o mesmo se dá quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Numa nova encarnação, ele trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito; se ele for avançado, será um homem avançado; se for atrasado, será um homem atrasado. Mudando de sexo ele poderá, portanto, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as inclinações e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes, notadas no caráter de certos homens e de certas mulheres.

Portanto, só existe diferença entre o homem e a mulher em relação ao organismo material, que se aniquila com a morte do corpo. Mas, quanto ao Espírito, à alma, ao ser essencial, imperecível, ela não existe, porque não há duas espécies de almas. Assim quis Deus, em sua justiça para com todas as suas criaturas. Dando a todas um mesmo princípio, estabeleceu a verdadeira igualdade. A desigualdade só existe temporariamente, no grau de adiantamento; mas todos têm direito ao mesmo destino, ao qual cada um chega por seu trabalho, porque Deus não favoreceu ninguém às custas dos outros.

A doutrina materialista coloca a mulher numa inferioridade natural, da qual só é elevada pela boa vontade do homem. Com efeito, segundo essa doutrina, a alma não existe ou, se existe, extingue-se com a vida ou se perde no todo universal, o que dá no mesmo. Assim, só resta à mulher a sua fraqueza corporal, que a coloca sob a dependência do mais forte. A superioridade de algumas é simples exceção, uma bizarria da natureza, um jogo dos órgãos e não faria lei. A doutrina espiritualista vulgar reconhece a existência da alma individual e imortal, mas é impotente para provar que não há diferença entre a do homem e a da mulher, e, portanto, uma superioridade natural de uma sobre a outra.

Com a doutrina espírita, a igualdade da mulher não é mais uma simples teoria especulativa; não é mais uma concessão da força à fraqueza, mas é um direito alicerçado nas próprias leis da natureza. Dando a conhecer estas leis, o Espiritismo abre a era da emancipação legal da mulher, assim como abre a da igualdade e da fraternidade.

Considerações sobre a prece no Espiritismo

Cada um é livre de encarar as coisas à sua maneira, e nós, que reclamamos essa liberdade para nós, não podemos recusá-la aos outros. Mas, porque uma opinião é livre, não se segue que não se possa discuti-la, examinar o seu lado forte e o fraco, pesar suas vantagens e inconvenientes.

Dizemos isto a propósito da negação da utilidade da prece, que algumas pessoas gostariam de erigir em sistema, para transformá-lo em bandeira de uma escola dissidente. Essa opinião pode assim resumir-se:

“Deus estabeleceu leis eternas, às quais todos os seres estão submetidos; nada podemos pedir-lhe e não temos que lhe agradecer nenhum favor especial, portanto, é inútil orar.

“A sorte dos Espíritos está traçada, portanto, é inútil orar por eles. Eles não podem mudar a ordem imutável das coisas, portanto, é inútil pedir-lhes.

“O Espiritismo é uma ciência puramente filosófica; não só não é uma religião, mas não deve ter qualquer caráter religioso. Toda prece dita nas reuniões tende a manter a superstição e a beatice.”

A questão da prece foi suficientemente discutida, motivo pelo qual consideramos inútil repetir aqui o que já se sabe a respeito. Se o Espiritismo proclama a sua utilidade, não é por espírito de sistema, mas porque a observação permitiu constatar a sua eficácia e seu modo de ação. Desde que, pelas leis dos fluidos, compreendemos o poder do pensamento, também compreendemos o da prece, que é, também ela, um pensamento dirigido para um fim determinado.

Para algumas pessoas, a palavra prece só desperta a ideia de pedido. É um grave erro. Em relação à Divindade, a prece é um ato de adoração, de humildade e de submissão que não se pode refutar sem subestimar o poder e a bondade do Criador. Negar a prece a Deus é reconhecer Deus como um fato, mas é recusar-se a prestar-lhe homenagem; é, ainda, uma revolta do orgulho humano.

A respeito dos Espíritos, que não passam de almas dos nossos irmãos, a prece é uma identificação de pensamentos, um testemunho de simpatia. Repeli-la é repelir a lembrança dos seres que nos são caros, porque essa lembrança simpática e benevolente é, por si mesma, uma prece. Aliás, sabemos que aqueles que sofrem a reclamam com insistência, como um alívio às suas penas. Se eles a pedem, é porque dela necessitam. Recusá-la é recusar um copo d’água ao infeliz que tem sede.

Além da ação puramente moral, o Espiritismo nos mostra, na prece, um efeito de certo modo material, resultante da transmissão fluídica. Em certas moléstias, sua eficácia é constatada pela experiência, como demonstrado pela teoria. Rejeitar a prece é, pois, privar-se de poderoso auxiliar para alívio dos males corporais.

Vejamos agora qual seria o resultado dessa doutrina, e se ela tem alguma chance de prevalecer.

Todos os povos oram, do selvagem ao civilizado. Eles são levados a isso pelo instinto, e é isso que os distingue dos animais. Sem dúvida eles oram de maneira mais ou menos racional, mas, enfim, oram. Aqueles que, por ignorância ou presunção, não praticam a prece, formam, no mundo, insignificante minoria.

A prece é, pois, uma necessidade universal, independente das seitas e das nacionalidades. Depois da prece, se a pessoa é fraca, sente-se mais forte; se está triste, sente-se consolada. Tirar a prece é privar o homem de seu mais poderoso suporte moral na adversidade. Pela prece ele eleva sua alma, entra em comunhão com Deus, identifica-se com o mundo espiritual, desmaterializa-se, condição essencial de sua felicidade futura. Sem a prece, seus pensamentos permanecem na Terra e se ligam cada vez mais às coisas materiais. Daí um atraso no seu adiantamento.

Contestando um dogma, a gente não se põe em oposição senão com a seita que o professa. Negando a eficácia da prece, fere-se o sentimento íntimo da quase unanimidade dos homens. O Espiritismo deve as numerosas simpatias que encontra às aspirações do coração, nas quais as consolações obtidas na prece têm grande participação. Uma seita que se fundasse na negação da prece, privar-se-ia do principal elemento de sucesso, a simpatia geral, porque em vez de aquecer a alma, ela rebaixá-la-ia. Se o Espiritismo deve ganhar em influência, é aumentando a soma de satisfações morais que proporciona. Que aqueles que a todo custo querem novidades no Espiritismo para ligar o seu nome a uma bandeira, se esforcem para dar mais do que ele. Mas não é dando menos que o suplantarão. A árvore despojada de seus frutos saborosos e nutritivos será sempre menos atraente do que a que deles está carregada. É em virtude do mesmo princípio que sempre temos dito aos adversários do Espiritismo: O único meio de matá-lo é dar algo de melhor, mais consolador, que explique mais e mais satisfaça. É o que ninguém ainda fez.

Podemos, portanto, considerar a rejeição da prece por parte de alguns crentes nas manifestações espíritas como uma opinião isolada que pode atrair algumas individualidades, mas que jamais reunirá a maioria. Seria erro imputar tal doutrina ao Espiritismo, porquanto ele ensina positivamente o contrário.

Nas reuniões espíritas a prece predispõe ao recolhimento, à seriedade, condição indispensável, como se sabe, para as comunicações sérias. É dizer que devam ser transformadas em assembleias religiosas? De modo algum. O sentimento religioso não é sinônimo de profissionalismo religioso; deve-se mesmo evitar o que poderia dar às reuniões este último caráter. É com este último objetivo que temos desaprovado constantemente as preces e os símbolos litúrgicos de um culto qualquer. Não se deve esquecer que o Espiritismo deve tender à aproximação das diversas comunhões; já não é raro ver nessas reuniões se confraternizarem representantes de diferentes cultos, razão pela qual ninguém deve arrogar-se a supremacia. Que cada um em particular ore como entender, é um direito de consciência; mas em uma assembleia fundada sobre o princípio da caridade, devemos abster-nos de tudo o que poderia ferir suscetibilidades e tendesse a manter um antagonismo que, ao contrário, devemos esforçar-nos por fazer desaparecer. Preces especiais no Espiritismo não constituem um culto distinto, porque elas não são impostas, e porque cada um é livre para fazer as que lhe convêm, mas elas têm a vantagem de servir para todos e de não chocar ninguém.

O próprio princípio de tolerância e respeito pelas convicções alheias nos leva a dizer que toda pessoa razoável que uma circunstância leva ao templo de um culto de cujas crenças não partilha, deve abster-se de qualquer sinal exterior que possa escandalizar os assistentes; que ela deve, se necessário, renunciar aos usos de pura forma, que em nada podem comprometer a sua consciência. Que Deus seja adorado em um templo de uma maneira mais ou menos lógica, não é motivo para chocar os que não acham boa essa maneira.

Dando o Espiritismo ao homem uma certa soma de satisfações e provando um certo número de verdades, dissemos que ele não poderia ser substituído senão por qualquer coisa que desse mais e provasse mais que ele. Vejamos se isto é possível.

O que faz a principal autoridade da Doutrina é que não há um só de seus princípios que seja produto de uma ideia preconcebida ou de uma opinião pessoal; todos, sem exceção, são resultado da observação dos fatos; só pelos fatos é que o Espiritismo chegou a conhecer a situação e as atribuições dos Espíritos, assim como as leis, ou melhor, uma parte das leis que regem as suas relações com o mundo visível. Isto é um ponto capital. Continuando a apoiar-nos na observação, fazemos filosofia experimental e não especulativa. Para combater as teorias do Espiritismo, não basta, pois, dizer que são falsas: é preciso opor-lhes fatos cuja solução elas são impotentes para dar. E mesmo nesse caso ele manter-se-á sempre à altura, porque seria contrário à sua essência obstinar-se numa falsa idéia, e esforçar-se-á sempre por preencher as lacunas que possam apresentar-se, pois não tem a pretensão de ter chegado ao apogeu da verdade absoluta. Esta maneira de encarar o Espiritismo não é nova; pode-se vê-la em todos os tempos, formulada em nossas obras. Considerando-se que o Espiritismo não se declara estacionário nem imutável, ele assimilará todas as verdades que forem demonstradas, venham de onde vierem, ainda que de seus antagonistas, e jamais ficará na retaguarda do progresso real. Assimilará essas verdades, dizemos nós, mas apenas quando forem claramente demonstradas, e não porque agradaria a alguém apresentá-las como seus desejos pessoais ou o produto de sua imaginação. Estabelecido este ponto, o Espiritismo não poderia perder, a não ser que se deixasse ultrapassar por uma doutrina que desse mais do que ele. Nada tem a temer das que dessem menos e subtraíssem o que constitui a sua força e a sua principal atração.

Se o Espiritismo ainda não disse tudo, há, entretanto, uma certa soma de verdades constatadas pela observação e que constituem a opinião da maioria imensa dos seus adeptos; e se essas verdades hoje conquistaram o status de artigos de fé, para nos servirmos de uma expressão por alguns empregada ironicamente, não foi nem por nós nem por ninguém, nem mesmo por nossos Espíritos instrutores que elas assim foram postas, e menos ainda impostas, mas pela adesão de todo mundo, porquanto todos podem constatá-las.

Se, pois, se formasse uma seita em oposição às ideias consagradas pela experiência, e geralmente admitidas em princípio, ela não poderia conquistar simpatias da maioria, cujas convicções ela chocaria. Sua existência efêmera extinguir-se-ia com seu fundador, talvez mesmo antes, ou, pelo menos, com os poucos adeptos que tivesse conseguido reunir. Suponhamos o Espiritismo dividido em dez ou vinte seitas. A que terá a supremacia e mais vitalidade será naturalmente a que der maior soma a de satisfações morais; a que encher o maior número de vazios da alma; a que se basear nas provas mais positivas, e que melhor se posicionar em uníssono com a opinião geral.

Ora, tomando como ponto de partida de todos esses princípios a observação dos fatos, o Espiritismo não pode ser derrubado por uma a teoria; mantendo-se constantemente no nível das ideias progressistas, ele não poderá ser superado; apoiando-se no sentimento da maioria, ele satisfaz às aspirações da maioria; fundado sobre essas bases, ele é imperecível, porque aí está a sua força.

Também aí está a causa do insucesso das tentativas feitas para obstaculizá-lo. No caso do Espiritismo, há ideias profundamente antipáticas à opinião geral, e que ela rechaça instintivamente. Construir sobre tais ideias, como ponto de apoio, um edifício ou esperanças quaisquer, é pendurar-se desastradamente em galhos podres. Eis a que estão reduzidos aqueles que, não tendo podido derrubar o Espiritismo pela força, tentam derrubá-lo por ele mesmo.


Necrologia

Morte do Sr. Didier, livreto - editor

O Espiritismo acaba de perder um de seus adeptos mais sinceros e dedicados, na pessoa do Sr. Didier, falecido sábado, 2 de dezembro de 1865. Ele era membro da Sociedade Espírita de Paris desde a sua fundação, em 1858 e, como se sabe, editor de nossas obras sobre a Doutrina. Na véspera, assistia à sessão da Sociedade e, no dia seguinte, às seis da tarde, morria subitamente numa estação de ônibus, a alguns passos de sua residência, onde, felizmente, se achava um de seus amigos, que fez transportá-lo para casa. Suas exéquias foram feitas terça-feira, 5 de dezembro.

O Petit Journal, ao anunciar a sua morte, acrescentou: “Nestes últimos tempos o Sr. Didier tinha editado o Sr. Allan Kardec e tinha se tornado, por polidez de editor, ou por convicção, um adepto do Espiritismo.”

Não pensamos que a mais esquisita polidez obrigue um editor a esposar as opiniões de seus clientes nem que deve tornar-se judeu, por exemplo, porque edita as obras de um rabino. Tais restrições não são dignas de um escritor sério. O Espiritismo é uma crença, como qualquer outra, que conta com mais de um livreiro em suas fileiras. Por que seria mais estranho que um livreiro fosse espírita do que ser católico, protestante, judeu, sansimonista, fourierista ou materialista? Quando, pois, os senhores livres pensadores admitirão a liberdade de consciência para todo mundo? Por acaso teriam eles a singular pretensão de explorar a intolerância em proveito próprio, depois de havê-la combatido nos outros? As opiniões espíritas do Sr. Didier eram conhecidas e ele jamais delas fez mistério, pois muitas vezes discutia com os incrédulos. Sua convicção era profunda e antiga, e não, como supõe o autor do artigo, uma questão de circunstância ou uma polidez de editor. Mas é tão difícil a esses senhores para quem a Doutrina Espírita está inteirinha no armário dos irmãos Davenport, conceber que um homem de notório valor intelectual creia nos Espíritos! Entretanto, será preciso que se acostumem a essa ideia, pois há mais do que eles pensam, do que não tardarão a ter a prova.

O Grand Journal o registra nestes termos:

“Falecido também o Sr. Didier, editor que lançou muitos livros bonitos e bons, na sua modesta loja do Quai des Grands-Augustins. Nestes últimos tempos o Sr. Didier era adepto ─ e o que mais vale ainda ─ um fervoroso editor dos livros espíritas. O pobre homem deve saber agora a que se ater sobre as doutrinas do Sr. Allan Kardec.”

É triste ver que nem mesmo a morte é respeitada pelos senhores incrédulos e que eles perseguem com suas troças os mais honrados adeptos, até no além-túmulo. O que, em vida, pensava o Sr. Didier da Doutrina? Um fato lhe provava a impotência dos ataques de que ela é objeto: é que no momento de sua morte ele imprimia a 14ª edição do Livro dos Espíritos. O que pensa ele agora? É que haverá grandes desapontamentos e mais de uma defecção entre os seus antagonistas!

O que poderíamos dizer nesta circunstância está resumido na alocução seguinte, pronunciada na Sociedade de Paris, em sua sessão de 8 de dezembro.

Senhores e caros colegas,

Mais um dos nossos acaba de partir para a Pátria celeste! Nosso colega, o Sr. Didier, deixou na Terra seus despojos mortais para revestir o envoltório dos Espíritos.

Embora há muito tempo sua saúde vacilante por diversas vezes tenha colocado sua vida em perigo, e conquanto a ideia da morte para nós, espíritas, nada tinha de apavorante, seu fim, que chegou tão inopinadamente no dia imediato ao em que assistia à nossa sessão, causou entre todos nós uma profunda emoção.

Há, nesta morte, por assim dizer fulminante, um grande ensinamento, ou melhor, uma grande advertência: é que nossa vida se mantém por um fio que pode romper-se quando menos esperamos, porque muitas vezes a morte vem sem aviso. Assim ela adverte os sobreviventes para que estejamos sempre preparados para respondermos ao chamado do Senhor, para darmos conta do emprego da vida que ele nos deu.

Embora o Sr. Didier pessoalmente não tomasse parte muito ativa nos trabalhos da Sociedade, onde raramente tomava a palavra, não deixava de ser um dos membros mais considerados por sua ancianidade como membro fundador, por sua assiduidade e sobretudo por sua posição, sua influência e os incontestáveis serviços prestados à causa do Espiritismo, como propagador e como editor. As relações que com ele tive durante sete anos permitiram-me apreciar a sua correção, a sua lealdade e as suas capacidades especiais. Sem dúvida, como cada um de nós, ele tinha suas pequenas particularidades que não agradavam a todos, por vezes mesmo um gesto brusco, com o qual era preciso familiarizar-se, mas que nada tirava de suas eminentes qualidades; e o mais belo elogio que lhe poderiam fazer é dizer que se podia fazer negócios com ele de olhos fechados.

Comerciante, ele deveria encarar as coisas comercialmente, mas não o fazia com mesquinhez e parcimônia. Ele era grande, generoso, sem mesquinharia nas suas operações; a atração do ganho não o teria levado a empreender uma publicação que não lhe conviesse, por mais vantajosa que fosse. Numa palavra, o Sr. Didier não era o negociante de livros que calculava seu lucro vintém a vintém, mas o editor inteligente, justo apreciador, consciencioso e prudente, como era preciso para fundar uma casa séria como a sua. Suas relações com o mundo culto, pelo qual era amado e estimado, haviam desenvolvido suas ideias e contribuído para dar à sua livraria acadêmica o caráter sério que dela fez uma casa de primeira ordem, menos pela cifra dos negócios do que pela especialidade das obras que ela explorava e a consideração comercial de que, a justo título, desfrutava há longos anos.

No que me concerne, felicito-me por tê-lo encontrado em meu caminho, o que devo, sem dúvida, à assistência dos bons Espíritos, e é com toda a sinceridade que digo que nele o Espiritismo perde um apoio e eu um editor tanto mais precioso quanto, entrando perfeitamente no espírito da doutrina, tinha verdadeira satisfação em propagá-la.

Algumas pessoas se surpreenderam que eu não tivesse tomado a palavra em seu enterro. Os motivos de minha abstenção são muito simples.

Para começar, direi que não tendo sua família manifestado o desejo, eu não sabia se isto lhe seria ou não agradável. O Espiritismo, que censura aos outros impor-se, não deve incorrer na mesma censura. Ele jamais se impõe; espera que venham a ele.

Ademais, eu previa que a assistência seria numerosa e que entre essas pessoas encontrar-se-iam muitas pouco simpáticas ou mesmo hostis às nossas crenças. Além de que poderia ter sido pouco conveniente vir nesse momento solene chocar publicamente convicções contrárias, isso poderia fornecer aos nossos adversários um pretexto para novas agressões. Neste tempo de controvérsias, talvez tivesse sido uma ocasião de dar a conhecer o que é a Doutrina, mas não teria sido esquecer o piedoso motivo que nos reunia, e faltar ao respeito devido à memória daquele que acabávamos de saudar à sua partida? Era sobre um túmulo aberto que convinha contraditar aqueles que nos desafiam? Concordareis, senhores, que o momento teria sido mal escolhido. O Espiritismo ganhará sempre mais com a estrita observação das conveniências do que perderá em deixar escapar uma ocasião de se mostrar. Ele sabe que não precisa de violência; visa ao coração: seus meios de sedução são a doçura, a consolação e a esperança; é por isto que encontra cúmplices até nas fileiras inimigas. Sua moderação e seu espírito conciliador nos põem em relevo pelo contraste. Não percamos essa preciosa vantagem. Procuremos os corações aflitos, as almas atormentadas pela dúvida, cujo número é grande. Aí teremos nossos mais úteis auxiliares; com eles faremos mais prosélitos do que com propaganda ou exibição.

Sem dúvida eu poderia ter-me limitado a generalidades, abstração feita do Espiritismo, mas tal reticência de minha parte poderia ter sido interpretada como medo ou uma espécie de negação dos nossos princípios. Em semelhante circunstância só posso falar abertamente ou calar-me. Foi este último partido que tomei. Se se tivesse tratado de um discurso comum e sobre um assunto banal, a coisa teria sido outra. Mas aqui o que eu poderia ter dito deveria ter um caráter especial.

Eu poderia ainda ter-me limitado à prece que se acha em O Evangelho segundo o Espiritismo pelos que acabam de deixar a Terra e que, em semelhantes casos, produz sempre uma impressão profunda. Mas aqui se apresentava outro inconveniente. O eclesiástico que acompanhou o corpo ao cemitério ficou até o fim da cerimônia, contrariando os hábitos ordinários; escutou com atenção firme o discurso do Sr. Flammarion e talvez esperasse, em razão das opiniões muito conhecidas do Sr. Didier e de suas relações com os espíritas, por alguma manifestação mais explícita. Depois das preces que ele acabava de dizer e que, em sua alma e consciência são suficientes, vir em sua presença dizer outras que são toda uma profissão de fé, um resumo de princípios que não são os seus, teria parecido uma bravata que não está no espírito do Espiritismo. Talvez algumas pessoas não tivessem ficado zangadas vendo o efeito do conflito tácito que poderia daí resultar. É o que as simples conveniências mandavam evitar. As preces que cada um de nós disse em particular, e que podemos dizer entre nós, serão tão proveitosas ao Sr. Didier, se ele as necessitar, quanto se tivessem sido feitas com ostentação.

Acreditai, senhores, que eu tenho no coração, tanto quanto qualquer outro, os interesses da Doutrina e que, quando faço ou não faço uma coisa, é com madura reflexão e depois de ter bem pesado suas consequências.

Nossa colega, Sra. R..., veio, da parte de alguns assistentes, solicitar-me tomasse a palavra. Pessoas que ela não conhecia, acrescentou, acabavam de dizer-lhe que de propósito tinham vindo ao cemitério na esperança de me ouvir. Sem dúvida isto era lisonjeiro para mim, mas, da parte dessas pessoas, era enganar-se redondamente quanto ao meu caráter pensar que um estimulante do amor-próprio pudesse excitar-me a falar para satisfazer a curiosidade dos que tinham vindo por outro motivo que não o de render homenagem à memória do Sr. Didier. Essas pessoas ignoram, sem dúvida, que se me repugna impor-me, também não gosto de me exibir. É o que a Sra. R... lhes poderia ter respondido, acrescentando que me conhecia e me estimava bastante para estar certa de que o desejo de me pôr em evidência nenhuma influência teria sobre mim.

Em outras circunstâncias, senhores, eu o teria considerado um dever, teria ficado feliz ao prestar ao nosso colega um público testemunho de afeição em nome da Sociedade, representada nas exéquias por um grande número de seus membros. Mas, como os sentimentos estão mais no coração que na demonstração, sem dúvida cada um de nós já lho havia prestado do foro íntimo. Neste momento em que estamos reunidos, paguemos-lhe entre nós o tributo da saudade, da estima e da simpatia que ele merece, e esperemos que ele queira voltar para o nosso meio, como no passado, e continuar, como Espírito, a tarefa espírita que havia empreendido como homem.


Correspondência

Carta do Sr. Jaubert

“Rogo-vos, meu caro Sr. Kardec, inserir a carta seguinte no mais próximo número da vossa Revista. Certamente sou pouca coisa, mas, enfim, tenho a minha apreciação e a imponho à vossa modéstia. Por outro lado, quando se trava a batalha, quero provar que estou sempre na ativa, com minhas dragonas de lã.”

JAUBERT.

Sem a obrigação que nos é imposta, em termos tão precisos, compreender-se-ão os motivos que nos teriam impedido de publicar esta carta. Nós nos teríamos contentado em conservá-la como um honroso e precioso documento e juntá-la às numerosas causas de satisfação moral que nos vêm sustentar e encorajar em nosso rude labor e compensar as tribulações inseparáveis de nossa tarefa. Mas, por outro lado, deixando de lado a questão pessoal, neste tempo de violências contra o Espiritismo, os exemplos de coragem de opinião são tanto mais influentes quanto de mais alto eles partem. E útil que a voz dos homens de coração, daqueles que, por seu caráter, suas luzes e sua posição impõem o respeito e a confiança, se faça ouvir; e se ela não puder dominar os clamores, tais protestos não ficarão perdidos nem no presente, nem no futuro.

Carcassone, 12 de dezembro de 1865.

Senhor e caro mestre,

Não quero deixar morrer o ano de 1865 sem lhe dar graça por todo o bem que ele fez ao Espiritismo. Nós lhe devemos a Pluralidade das Existências da Alma, por André Pezzani; a Pluralidade dos Mundos Habitados, por Camille Flammarion, dois gêmeos que apenas nascem e marcham em passos tão grandes no mundo filosófico.

Nós lhe devemos um livro, pequeno em páginas, grande nos pensamentos; a simplicidade nervosa de seu estilo disputa com a severidade de sua lógica. Ele contém em germe a teologia do futuro; tem a calma da força e a força da verdade. Eu queria que o volume com o título O Céu e Inferno fosse editado aos milhões de exemplares. Perdoai-me este elogio: eu vivi muito para ser entusiasta e aborreço a adulação.

O ano de 1865 nos dá Espírita, novela fantástica. A literatura se decide a fazer uma invasão em nosso domínio. O autor não tirou do Espiritismo todos os ensinamentos que ele encerra. Põe em destaque a ideia capital, essencial: a demonstração da alma imortal pelos fenômenos. Os quadros do pintor me pareceram deslumbrantes. Não posso resistir ao prazer de uma citação.

“Espírita, a amante ignorada, na Terra, de Guy de Malivert, acaba de morrer. Ela mesma descreve suas primeiras sensações.

“O instinto da Natureza ainda lutava contra a destruição, logo, porém, cessou essa luta inútil, e, num fraco suspiro, minha alma exalou-se de meus lábios.

“Palavras humanas não podem descrever a sensação de uma alma que, liberta de sua prisão corporal, passa desta vida à outra, do tempo à eternidade e do finito ao infinito. Meu corpo imóvel e já revestido dessa brancura sem brilho, entregue à morte, pairava sobre seu caixão fúnebre, cercado de religiosas em prece, e dele eu estava tão destacada quanto pode estar a borboleta da crisálida, casca vazia, despojo informe, para abrir suas jovens asas à luz desconhecida e subitamente revelada. A uma intermitência de sombra profunda havia sucedido um deslumbramento de esplendor, um alargamento de horizonte, um desaparecimento de todo limite e de todo obstáculo, que me embriagava de um júbilo indizível. Explosões de sentidos novos me faziam compreender os mistérios impenetráveis ao pensamento e aos órgãos terrenos. Desembaraçada dessa argila submetida às leis da gravidade, que me tornavam pesada pouco antes, eu me lançava com uma celeridade louca no éter insondável. As distâncias não existiam mais para mim e meu simples desejo me tornava presente onde eu queria estar. Eu traçava grandes círculos, num voo mais rápido que a luz, através do azul vago do espaço, como para tomar posse da imensidade, cruzando-me com enxames de almas e de Espíritos.”

E a tela se desenrola sempre mais esplêndida. Ignoro se, no fundo da alma, o Sr. Théophile Gautier é espírita; mas, com certeza, ele serve aos materialistas, aos descrentes, a bebida salutar em taças de ouro magnificamente cinzeladas.

Eu bendigo ainda o ano de 1865 pelas grossas cóleras que ele encerrava em seus flancos. Ninguém se engane com isto: Os Irmãos Davenport são menos causa do que pretexto para a cruzada. Soldados todos uniformes contra nós apontaram os seus canhões raiados. Então o que provaram? A força e a resistência da cidade sitiada. Conheço um jornal do Sul, muito difundido, muito estimado, e a justo título, que há muito tempo enterra pobremente o Espiritismo uma vez por mês. Consequentemente, o Espiritismo ressuscita pelo menos doze vezes por ano. Vereis que eles o tornarão imortal à força de matálo.

Agora não tenho mais senão os meus augúrios de ano novo. Meus primeiros votos são para vós, senhor e caro mestre, pela vossa felicidade, pela vossa obra tão valentemente empreendida e tão dignamente continuada.

Faço votos pela união íntima de todos os espíritas. Vi, com pesar, algumas nuvens leves caindo em nosso horizonte. Quem nos amará se não nos sabemos amar? Como dizeis muito bem no último número de vossa Revista: “Quem quer que creia na existência e na sobrevivência das almas, ou na possibilidade de relações entre os homens e o mundo espiritual, é espírita.” Que esta definição fique, e sobre este terreno sólido estaremos sempre de acordo. E agora, se detalhes da doutrina, mesmo importantes, por vezes nos dividem, discutamo-los, não como fratricidas, mas como homens que só têm um objetivo: o triunfo da razão e, pela razão, a busca do verdadeiro e do belo, o progresso da ciência, a felicidade da Humanidade.

Ficam os meus mais ardentes votos, os mais sinceros. Eu os dirijo a todos aqueles que se dizem nossos inimigos: Que Deus os ilumine!

Adeus, senhor. Recebei, para vós e para todos os nossos irmãos de Paris, a renovada certeza de meus sentimentos afetuosos e de minha distinta consideração.

T. JAUBERT, Vice-Presidente do Tribunal.



Qualquer comentário sobre esta carta seria supérfluo. Acrescentaremos apenas uma palavra, é que homens como o Sr. Jaubert honram a bandeira que carregam. Sua apreciação tão judiciosa sobre a obra do Sr. Théophile Gautier nos dispensa do relato que nos propúnhamos dela fazer este mês. Voltaremos a falar sobre ela no próximo número.


A jovem cataléptica da Suábia

Estudo psicológico

Sob o título de Segunda vista, vários jornais reproduziram o seguinte fato, entre outros la Patrie, de 26 e l‘Evénement, de 28 de novembro.

“Espera-se em Paris a chegada próxima de uma jovem, originária da Suábia, cujo estado mental apresenta fenômenos que deixam muito longe as charlatanices dos Irmãos Davenport e outros espíritas.

“Com dezesseis anos e meio, Luísa B... mora com seus pais, proprietários plantadores no lugar chamado le Bondru (Seine-et-Marne), onde se estabeleceram depois de haver deixado a Alemanha.

“Em consequência de violento pesar, causado pela morte de sua irmã, Luísa caiu num sono letárgico que durou cinquenta e seis horas. Após esse lapso de tempo despertou, não para a vida real e normal, mas para uma existência estranha que se resume nos fenômenos seguintes:

“Luísa perdeu subitamente sua vivacidade e sua alegria, sem contudo sofrer, mas caindo numa espécie de beatitude que se alia à mais profunda calma. Durante o dia inteiro ela fica imóvel em uma cadeira e só responde por monossílabos às perguntas que lhe fazem. Chegada a noite, cai num estado cataléptico, caracterizado pela rigidez dos membros e pela fixidez do olhar.

“Nesse momento, as faculdades e os sentidos da jovem adquirem uma sensibilidade e um alcance que ultrapassam os limites assinalados ao poder humano. Ela possui não só o dom da segunda vista, mas ainda o da segunda audição, isto é, ouve palavras proferidas perto de si, bem como as proferidas num ponto mais ou menos afastado, para o qual concentra sua atenção.

“Nas mãos da cataléptica, cada objeto toma, para ela, uma imagem dupla. Como todo mundo, ela tem sentimento da forma e da aparência exterior desse objeto; além disso, vê distintamente a representação de seu interior, isto é, o conjunto das propriedades que ele possui e os usos a que se destina na ordem da criação.

“Numa porção de plantas, de amostras metálicas e mineralógicas submetidas à sua inconsciente apreciação, ela assinalou virtudes latentes e inexploradas que transportam o pensamento às descobertas dos alquimistas da Idade Média.

“Luísa experimenta um efeito análogo em relação ao aspecto das pessoas com quem entra em comunicação pelo contato das mãos. Ela os vê, ao mesmo tempo, tais quais são e tais quais foram numa idade menos avançada. As devastações do tempo e da doença desaparecem aos seus olhos, e se a pessoa perdeu algum membro, para ela ele ainda subsiste.

“A jovem camponesa afirma que, ao abrigo de todas as modificações da ação vital exterior, a forma corporal continua integralmente reproduzida pelo fluido nervoso.

“Transportada a lugares onde há túmulos, Luísa vê e descreve da maneira que acabamos de referir, as pessoas cujos despojos foram confiados à terra. Então sofre espasmos e crises nervosas, do mesmo modo que quando se aproxima dos lugares onde, não importa a que profundidade, existe água e metais.

“Quando a jovem Luísa passa da vida ordinária a esse modo de vida que se pode chamar superior, parece-lhe que um véu espesso lhe cai dos olhos.

“A criação, explicada por ela de uma nova maneira, constitui-lhe objeto de perene admiração e, apesar de iletrada, ela encontra, para exprimir seu entusiasmo, comparações e imagens verdadeiramente poéticas.

“Nenhuma preocupação religiosa se mistura a essas impressões. Os pais, longe de ver nesses fenômenos insólitos um assunto de especulação, ocultam-nos com o maior cuidado. Se se decidem a trazer, sem alarde, a jovem a Paris, é porque essa superexcitação constante do sistema nervoso exerce sobre os órgãos uma influência destrutiva, e porque ela deperece a olhos vistos. Os médicos que dela cuidam recomendaram levá-la à capital, tanto para pedir o auxílio dos mestres na arte de curar quanto para submeter à Ciência esses fatos que transcendem o círculo ordinário das investigações, e cuja explicação ainda não foi encontrada.”

Os fenômenos apresentados por essa jovem, diz o autor do artigo, deixam muito longe as charlatanices dos irmãos Davenport de outros espíritas. Se esses fenômenos são reais, que relação podem ter com passes de mágicas? Por que essa comparação entre coisas dessemelhantes, e dizer que uma ultrapassa a outra? Com a intenção de lançar uma pequena maldade contra o Espiritismo, o autor anuncia, sem querer, uma grande verdade em apoio do que quer denegrir. Ele proclama um fato essencialmente espírita, que o Espiritismo reconhece e aceita como tal, ao passo que jamais tomou os Srs. Davenport sob seu patrocínio, e ainda menos os apresentou como adeptos e apóstolos. É isto que os senhores jornalistas saberiam se tivessem levado em conta os inúmeros protestes que lhes chegaram de todos os lados contra a assimilação que pretenderam estabelecer entre uma doutrina essencialmente moral e filosófica e exibições teatrais.

Diz-se que a explicação desses fenômenos ainda não foi dada. Pela ciência oficial, é certo, mas para a ciência espírita há muito tempo isso não é mais um mistério. Entretanto, não são os meios de esclarecerse que faltam. Os casos de catalepsia, de dupla vista, de sonambulismo natural, com as estranhas faculdades que se desenvolvem nesses diversos estados, não são raros. Por que a Ciência ainda está à procura de sua explicação? É que a Ciência se obstina em buscá-la onde ela não está, onde jamais a encontrará: nas propriedades da matéria.

Eis um homem que vive: ele pensa, raciocina; um segundo depois, ele morre e não dá mais nenhum sinal de inteligência. Então havia nele, quando pensava, algo que não existe mais, porquanto ele não mais pensa. O que pensava, nesse homem? Dizeis que era a matéria. Mas a matéria continua lá, intacta, sem uma parcela a menos. Por que, então, ela pensava há poucos instantes e já não pensa mais? ─ É porque está desorganizada; sem dúvida as moléculas se desagregaram; talvez se tenha rompido uma fibra; um nada desarranjou-se e o movimento intelectual parou. ─ Assim, eis o gênio, as maiores concepções humanas à mercê de uma fibra, de um átomo imperceptível, e os esforços de toda uma vida de labor estão perdidos! De toda essa bagagem intelectual adquirida com grande esforço, nada resta; a mais vasta inteligência não passa de um relógio bem montado que, uma vez deslocado, só serve como ferro velho! É pouco lógico e pouco encorajador. Com tal perspectiva, sem dúvida seria melhor só cuidar de comer e beber. Mas, enfim, é um sistema.

Segundo vós, a alma não passa de uma hipótese. Mas essa hipótese não se torna realidade em casos análogos ao da jovem em questão? Aqui a alma se mostra a descoberto; não a vedes, mas a vedes pensar e agir isoladamente do envoltório material. Ela se transporta para longe. Ela vê e ouve a despeito do estado de insensibilidade dos órgãos. Podem explicar-se apenas pelos órgãos, fenômenos que se passam fora da sua esfera de atividades, e isto não é uma prova de que a alma é independente deles? Como, pois, não a reconhecem por esses sinais tão evidentes? É que preciso, para tanto, admitir a intervenção da alma nos fenômenos patológicos e fisiológicos, que assim deixariam de ser exclusivamente materiais. Ora, como reconhecer um elemento espiritual nos fenômenos da vida, quando constantemente se tem dito o contrário? É isto que não podem decidir, pois teriam que concordar que estavam enganados, e é duro, para certos amores-próprios, receber um desmentido da própria alma que eles negaram. Assim, considerando-se que ela se mostra em qualquer parte com muita evidência, logo se apressam em cobri-la com um alqueire, e não se ouve mais falar. Assim foi com o hipnotismo e tantas outras coisas. Deus quer que assim não seja com Luísa B... Para cortar cerce, dizem que esses fenômenos são ilusões, e que seus promotores são loucos ou charlatões.

Tais são as razões que fizeram negligenciar o estudo tão interessante e tão fecundo em resultados morais dos fenômenos psicológicos; tal é, também, a causa da repulsa do materialismo pelo Espiritismo, que repousa inteiramente nas manifestações ostensivas da alma, durante a vida e após a morte.

Mas, dirão, o partido religioso, batido pelo materialismo, deve acolher com interesse os fenômenos que vêm derrubar a incredulidade pela evidência. Por que, pois, em vez de transformá-los em arma, ele os repele? É que a alma é uma indiscreta que vem apresentar-se em condições muito diversas do estado em que no-la mostram, e sobre o qual construíram todo um sistema; seria necessário voltar a crenças que dizem imutáveis; depois ela vê bem claro; então, seria preciso interditar-lhe a palavra. Mas não contaram com essa sutileza; não a encerram como um pássaro na gaiola; se lhe fecham uma porta, ela abre mil outras. Hoje ela se faz ouvir por toda parte, para dizer de um a outro extremo do mundo: eis o que somos. Muito hábeis serão os que a impedirem.

Voltemos ao nosso assunto. A jovem em questão oferece o fenômeno, muito comum em casos semelhantes, da extensão das faculdades. Essa extensão, diz o artigo, atinge uma dimensão que ultrapassa os limites assinalados ao poder humano. Há que distinguir aqui duas ordens de faculdades: as faculdades perceptivas, isto é, a visão e a audição, e as faculdades intelectuais. As primeiras são postas em atividade pelos agentes exteriores, cuja ação repercute no interior; as últimas constituem o pensamento que irradia do interior para o exterior. Falemos inicialmente das primeiras.

No estado normal, a alma percebe por meio dos sentidos. Aqui, a jovem percebe o que está fora do alcance da vista e do ouvido. Ela vê no interior das coisas, penetra os corpos opacos, descreve o que se passa longe, portanto, ela vê diferentemente do que veria pelos olhos e ouve diferentemente do que ouviria pelos ouvidos, e isto num estado em que o organismo é atingido pela insensibilidade. Se se tratasse de um fato único, excepcional, poder-se-ia atribuí-lo a uma originalidade da Natureza, a uma espécie de monstruosidade, mas ele é muito comum; mostra-se de maneira idêntica, embora em graus diferentes, na maioria dos casos de catalepsia, na letargia, no sonambulismo natural e artificial, e mesmo em numerosos indivíduos que têm todas as aparências do estado normal. Produz-se, pois, em virtude de uma lei. Como a Ciência, que leva suas investigações sobre o movimento de atração do menor grão de areia, negligenciou um fato tão importante?

O desenvolvimento das faculdades intelectuais é ainda mais extraordinário. Eis uma jovem, uma camponesa iletrada que não só se exprimiu com elegância, com poesia, mas em quem se revelam conhecimentos científicos sobre coisas que não aprendeu e, circunstância não menos singular, isto ocorre num estado particular, ao sair do qual tudo é esquecido: ela volta a ser tão ignorante quanto era antes. Entretanto, no estado extático, a lembrança lhe volta com as mesmas faculdades e os mesmos conhecimentos. São para ela duas existências distintas.

Se, conforme a escola materialista, as faculdades são produto direto dos órgãos; se, para nos servirmos da expressão dessa escola, “o cérebro secreta o pensamento, como o fígado secreta a bile”, então ele secreta conhecimentos acabados, sem o concurso de um professor. É uma propriedade que não se conhecia ainda nesse órgão. Nessa mesma hipótese, como explicar esse desenvolvimento intelectual extraordinário, essas faculdades transcendentais possuídas alternativamente, perdidas e recuperadas quase que instantaneamente, quando o cérebro é sempre o mesmo? Não é a prova patente da dualidade do homem, da separação do princípio material e do princípio espiritual?

Aí, nada ainda de excepcional: esse fenômeno é tão comum quanto o da extensão da visão e da audição. Como este último, ele depende, pois, de uma lei. São essas leis que o Espiritismo procurou e que a observação lhe deu a conhecer.

A alma é o ser inteligente; nela está a sede de todas as percepções e de todas as sensações; ela sente e pensa por si mesma; é individual, distinta, perfectível, preexistente e sobrevivente ao corpo. O corpo é o seu envoltório material, é o instrumento de suas relações com o mundo visível. Durante a sua união com o corpo, ela percebe por meio dos sentidos, transmite o pensamento com a ajuda do cérebro. Separada do corpo, ela percebe diretamente e pensa mais livremente. Tendo os sentidos um alcance circunscrito, as percepções recebidas por seu intermédio são limitadas e de certo modo amortecidas; recebidas sem intermediário, elas são indefinidas e de uma admirável sutileza, porque ultrapassam, não a força humana, mas todos os produtos de nossos meios materiais. Pela mesma razão, o pensamento, transmitido pelo cérebro é peneirado, por assim dizer, através desse órgão. A grosseria e os defeitos do instrumento paralisam-no e em parte o abafam, como certos corpos transparentes absorvem uma parte da luz que os atravessa. Obrigada a servir-se do cérebro, a alma é como um músico muito bom, diante de um instrumento imperfeito. Livre desse auxiliar penoso, desdobra todas as suas faculdades.

Tal é a alma durante a vida e após a morte. Há, para ela, portanto, dois estados, o de encarnação ou constrangimento e o de desencarnação ou liberdade. Em outras palavras, o da vida corporal e o da vida espiritual. A vida espiritual é a vida normal, permanente, da alma; a vida corporal é transitória e passageira.

Durante a vida corporal, a alma não sofre constantemente o constrangimento do corpo e aí está a chave desses fenômenos físicos que parecem tão estranhos, porque nos transportam para fora da esfera habitual de nossas observações. Qualificaram-nos de sobrenaturais, embora, na realidade, estejam submetidos a leis perfeitamente naturais, mas porque essas leis nos eram desconhecidas. Hoje, graças ao Espiritismo, que deu a conhecer essas leis, desapareceu o maravilhoso.

Durante a vida exterior de relação, o corpo necessita de sua alma ou Espírito por guia, a fim de dirigi-lo no mundo, mas nos momentos de inatividade do corpo, a presença da alma não é mais necessária; dele se desprende, sem contudo deixar de prender-se a ele por um laço fluídico que a ele a chama se a sua presença se fizer necessária. Nesses momentos ela recobra parcialmente a liberdade de agir e de pensar, de que não gozará completamente senão depois da morte do corpo, quando deste estará completamente separada. Essa situação foi espiritualmente e muito veridicamente descrita pelo Espírito de uma pessoa viva, que se comparava a um balão cativo, e por outra, o Espírito de um idiota vivo, que dizia ser como um pássaro amarrado pela pata (Revista Espírita, junho de 1860).

Esse estado, que chamamos emancipação da alma, ocorre normalmente e periodicamente durante o sono. Só o corpo repousa para recuperar as perdas materiais; o Espírito, que nada perdeu, aproveita esse período para se transportar para onde quiser. Além disto, a emancipação ocorre, excepcionalmente, todas as vezes que uma causa patológica, ou simplesmente fisiológica, produz a inatividade total ou parcial dos órgãos da sensação ou da locomoção. É o que acontece na catalepsia, na letargia, no sonambulismo. O desprendimento ou, se quiserem, a liberdade da alma, é tanto maior quanto mais absoluta for a inércia do corpo. É por esta razão que o fenômeno adquire seu maior desenvolvimento na catalepsia e na letargia. Nesse estado, a alma não mais percebe pelos sentidos materiais, mas, se assim nos podemos exprimir, pelo sentido psíquico; eis por que suas percepções ultrapassam os limites ordinários. Seu pensamento age sem a intermediação do cérebro, e por essa razão ela manifesta faculdades mais transcendentes que no estado normal. Tal é a situação da jovem B...; assim, diz ela com razão que “quando passa da vida ordinária a esse modo de vida superior, parece que um véu espesso lhe cai dos os olhos.” Tal é, também, a causa do fenômeno da segunda vista, que não é senão a visão direta pela alma; da visão à distância, que resulta do transporte da alma ao lugar que ela descreve; da lucidez sonambúlica, etc.

“Quando Luísa B... vê pessoas vivas, desaparecem as devastações do tempo, e se a pessoa perdeu algum membro, para ela ele ainda subsiste; a forma corpórea permanece integralmente reproduzida pelo fluido nervoso. Se ela visse simplesmente o corpo, vê-lo-ia tal qual é; o que ela vê é o envoltório fluídico. O corpo material pode ser amputado; o perispírito não. O que aqui se designa por fluido nervoso não é senão o fluido perispiritual.

Ela vê também os que estão mortos. Deles resta, portanto, alguma coisa. O que vê ela? Não pode ser o corpo, que não mais existe; contudo, ela os vê com uma forma humana, a forma que eles tinham em vida. O que ela vê é a alma revestida de seu corpo fluídico ou perispírito. Assim, as almas sobrevivem ao corpo; elas não são, portanto, seres abstratos, centelhas, chamas, sopros perdidos na imensidade do reservatório comum, mas seres reais, distintos, circunscritos, individuais. Se ela vê os mortos como os vivos, então é que os vivos, como os mortos, têm o mesmo corpo fluídico imperecível, ao passo que o grosseiro envoltório material se dissolve com a morte. Ela não vê almas perdidas nas infinitas profundezas do espaço, mas em meio a nós, o que prova a existência do mundo invisível que nos cerca, e em cujo meio vivemos sem o suspeitar.

Tais revelações não levam a refletir seriamente? Quem pôde dar tais ideias a essa moça? A leitura de obras espíritas? Mas ela não sabe ler. ─ A convivência com os espíritas? Ela não ouviu falar deles. É, pois, espontaneamente que ela descreve todas essas coisas. É produto de sua imaginação? Mas ela não é a única. Milhares de videntes disseram e dizem a mesma coisa todos os dias, e a Ciência não se dá conta disso. Ora, é desse concurso universal de observações que o Espiritismo deduziu a sua teoria.

Em vão a Ciência procurará a solução desses fenômenos, enquanto fizer abstração do elemento espiritual, pois nele está a chave de todos esses supostos mistérios. Que ela o admita, ainda que a título de hipótese, e tudo se explicará sem dificuldade.

Observações desta natureza, sobre pacientes como Luísa B..., exigem muito tato e prudência. É preciso não perder de vista que, nesse estado de excessiva susceptibilidade, a menor comoção pode ser funesta; a alma, feliz por estar desprendida do corpo, a este se liga por um fio, que um nada pode romper irremediavelmente. Em casos semelhantes, experiências feitas sem cuidado podem matar.


Poesias espíritas

Alfred de Musset

O Sr. Timothée Trimm publicou, no Petit Journal de 23 de outubro de 1865, estrofes que um de seus amigos lhe havia dado, como tendo sido ditadas mediunicamente por Alfred de Musset a uma senhora de seu conhecimento, porque a loucura do Espiritismo ganha até os amigos desses senhores, que não ousam publicamente mandá-los para o hospício, sobretudo quando esses amigos são, como no caso, homens de notória inteligência, postos à testa da alta indústria artística. Sem dúvida, em consideração a esse amigo, ele não tripudiou muito sobre a procedência desses versos; ele contentou-se em enquadrá-los num ambiente de fantasia meio-burlesca. Ele dizia, entre outras coisas:

“Nada invento, constato. Em um castelo dos arredores de Paris mandaram vir o autor de Rolla e de A Taça e os Lábios... a uma mesa. Pediram versos!!!... inéditos. Um secretário espírita sentou-se na carteira encantada; ele disse que escreveu o ditado de um imortal... e eis o que mostrou à assistência.”

A verdade é que os versos não foram obtidos em um castelo nos arredores de Paris, nem por uma mesa, mas pela escrita comum, e que não haviam chamado Alfred de Musset. Aos olhos do escritor, a ideia de chamar o poeta a uma mesa é, sem dúvida, alguma coisa muito trivial, em se tratando do Espiritismo. Eis como as coisas se passaram:

A Sra. X... é uma dama da Sociedade, instruída como todas as que receberam educação, mas absolutamente não é poetisa. Ela é dotada de uma poderosa faculdade mediúnica psicográfica e vidente, e em muitas ocasiões deu provas irrefutáveis da identidade dos Espíritos que se manifestam por seu intermédio. Tendo ido passar a bela estação com o marido, como ela fervoroso espírita, num chalezinho entre as dunas do departamento do Nord, uma noite se achava em sua varanda, sob magnífico luar, contemplando a abóbada azulada e a vasta extensão das dunas, num solene silêncio que só era interrompido pelos uivos do cão de guarda, circunstâncias que devem ser levadas em consideração, porque dão aos versos um cunho de atualidade. De repente sentiu-se agitada e como que envolvida por um fluido e, sem desígnio premeditado, foi levada a tomar de uma pena; escreveu de um jato, sem rasura nem hesitação, em alguns minutos, os versos em questão, com a assinatura de Alfred de Musset, em quem absolutamente não pensava. Nós os reproduzimos na íntegra. Foi a 1º de setembro de 1865.


Assim, eis-te aí, pobre Espírito,

Contemplando o dia e a noite,

A triste duna,

Sem ter, para te distraíres,

Senão o cão que vem uivar,

Ao clarão da lua.

Quando te vejo, só e perturbada,

Erguer para a abóbada estrelada

O olhar úmido

Recordo-me dos tristes dias

Em que sempre maldizia A terra árida.

Outro tanto quanto tu, eu sofria,

Ao sentir neste grande deserto

Meu coração em fogo;

Como pérola no fundo do mar

Procurei em todo o mundo Um grito da alma.

Para acalmar o cérebro em fogo,

Viajei sob o céu azul

Da Itália;

Florença e Veneza me viram,

Entre moças de colo nu,

A arrastar a vida.

Por vezes o pescador indolente

Me viu chorar, qual uma criança,

Junto à praia,

Parando, cheio de piedade,

Deixar as redes que à metade

O mar arrasta.

Pobrezinho, vem pra junto de nós;

Como se embala aos joelhos

O bebê que chora,

Nós te levaremos em um giro

Às terras cheias de amor

Onde eu moro.

Se nestes versos, para ti escritos,

Ainda dei, malgrado meu,

Esta feitura,

Foi para afirmar aos sábios

Que zombam dos que voltam,

Minha assinatura.


A. DE MUSSET



Publicando estes versos, o Petit Journal fez várias alterações, que desnaturam o sentido e se prestam ao ridículo.

Na primeira estrofe, 6º verso, em vez de Au clair de lune, pôs: Au clair de la lune, o que estropia o verso, tornando-o grosseiro.

A segunda estrofe foi suprimida, o que rompe o encadeamento da ideia.

Na terceira estrofe, 2º verso, em vez de ce grand désert, que pinta a localidade, ele pôs: Le grand désert.

Na sexta, 5º verso, em vez de Dans les terres pleines d’amour, que tem sentido, pôs: Dans les serres pleines d’amour, que não o tem.

Tendo sido pedidas essas retificações ao Petit Journal, é lamentável que se tenha recusado a inserilas. Contudo, o autor do artigo disse: “Nada invento; constato.”

A propósito do romance do Sr. Théophile Gautier, intitulado Espírita, o mesmo Espírito ditou ao médium as estrofes seguintes, a 2 de dezembro de 1865:


Eis-me de volta.

Embora eu tivesse, Senhora,

Jurado aos grandes deuses, que jamais rimaria.

É tristíssimo ofício o de mandar imprimir

As obras de um autor reduzido ao estado de alma.

Tinha ido pra longe de vós, mas um Espírito encantador,

Falando de nós se arrisca a excitar o sorriso.

Penso que ele sabe mais do que deixa supor

E que algures tenha encontrado sua alma que volta.

Uma aparição! Realmente, isto parece estranho;

Disso eu mesmo ri, quando aqui me achava;

Mas quando afirmava não acreditar,

Como um salvador tinha acolhido o meu anjo.

Como teria gostado quando, de fronte pálida,

Apoiada na mão, à noite, na janela,

O Espírito, a chorar, sondava o grande-talvez,

Percorrendo de longe os campos do infinito!

Amigos, que esperais de um século sem crença?

Quando tiverdes espremido vosso mais belo fruto,

O homem estrebuchará sempre sob um túmulo

Se, para o sustentar, não tem mais esperança.

Mas estes versos, dirão, não podem ser dele.

Que me importa, afinal, a crítica do vulgo!

Quando eu era vivo, dela não me ocupava;

Com mais forte razão disso hoje eu riria.


A. DE MUSSET



Eis a opinião sobre estes versos, de um dos redatores do Monde Illustré, Sr. Junior, que não é espírita. (Monde Illustré de 16 de dezembro de 1865).

“O Sr. T. Gautier recebeu de uma senhora uma poesia assinada por Alfred de Musset, que poderia ter como título: A uma dama espírita que me havia pedido versos para o seu álbum. Fica entendido, desde que se trata do Espiritismo, que a dama pretende ter sido intermediária, o médium obediente cuja mão traçou os versos ditados por Alfred de Musset, falecido já há alguns anos.

“Até aí, nada mais simples, porque, desde que se cava no Infinito, todos os que acreditam no Espiritismo se voltam para vós e vos inundam de comunicações mais ou menos interessantes. Mas os versos assinados por Musset são tais, que aquele ou aquela que os traçou é um poeta ou poetisa de primeira ordem. É o estilo de Musset, sua linguagem encantadora, sua desenvoltura de cavalheiro, seu encanto e sua graciosa atitude. Não é excessivo como o pastiche, não é pretensioso nem forçado, e a gente pensa que se um mestre como T. Gautier se engana, é preciso que o quadro seja admiravelmente imitado. O lado curioso é que o honrado Sr. Charpentier, editor das obras completas de Musset, para o qual leram esses versos encantadores, que espero em breve vos dar a conhecer, pôs-se a gritar: ‘Pega o ladrão!’

“Supondes com acerto que não acredito numa só palavra do que contam os Allan Kardec e os Delaage, mas isto me perturba e me agasta, pois devo supor que estes versos são inéditos e que pertencem ao poeta de Noites, ─ o que é perfeitamente admissível, por que, enfim, sob que pretexto a senhora em questão teria estes versos em sua gaveta? ─ Ou então um autêntico poeta teria inventado essa mistificação, e os poetas não perdem assim as suas cópias. Qual é, pois, a solução possível? ─ Ouço daqui um homem prático dizer-me: ‘Meu caro senhor, quereis uma solução? Ela está em vossa imaginação, que exagera a importância e a excelência desses versos; eles são delicados e nada mais, e o primeiro médium um pouco sabichão, que sabe um pouco o seu Musset, fará outro tanto.’

“Senhor homem prático, tendes razão. Isto acontece noventa e nove vezes em cem. Mas se soubésseis a que ponto tenho o sangue-frio! Eu li esses versos, que não tenho ainda o direito de vos mostrar, eu os li, reli ainda, e sustento que o próprio Gautier, o grande linguista, o grande cinzelador do Poema da Mulher, não fará melhor Musset do que este.”

OBSERVAÇÃO: Há uma circunstância que o autor não leva em conta, e que tira toda a possibilidade de que esses versos tenham sido feitos por Musset em vida: são as atualidades e as alusões às coisas presentes. Quanto à médium, ela não é nem poetisa nem sabichona, isto é certo, e, além disso, sua posição na Sociedade afasta qualquer suspeita de embuste.


O Espiritismo toma posição na filosofia e nos conhecimentos usuais

Neste momento publica-se importante obra que interessa à Doutrina Espírita no mais alto grau, e que só nos é dado fazê-la melhor conhecida pela análise do prospecto.

Novo Dicionário Universal, panteão literário e enciclopédia ilustrada, por Maurice Lachâtre com o concurso de cientistas, artistas e homens de letras, conforme os trabalhos de: Allan Kardec, Ampère, Andral, Arago, Audouin, Balbi, Becquerel, Berzelius, Biot, Brongnard, Burnouf, Chateubriand, Cuvier, Flourens, Gay-Lussac, Guizot, Humboldt, Lamartine, Lamennais, Laplace, Magendie, Michelet, Ch. Nodier, Orfila, Payen, Raspail, de Sacy, J. B. Say, Thiers, etc., etc.

“Dois magníficos volumes in-4º grande, de três colunas, ilustrados com vinte mil figuras gravadas em madeira, intercaladas no texto. Dois fascículos semanais de 10 centavos cada. Cada fascículo contém 95.768 letras, isto é, metade da matéria de um volume in-8º. A obra contém 200 fascículos por volume e não custará mais que 40 francos. Essa obra, o mais gigantesco dos empreendimentos literários de nossa época, encerra a análise de mais de 400.000 obras, e pode ser considerada, sem sombra de dúvida, como o mais vasto repertório de conhecimentos humanos. O Novo Dicionário Universal é o mais exato, o mais completo e o mais progressista de todos os dicionários, o único que abarca em seus desenvolvimentos todos os dicionários especiais da língua usual, da linguagem poética, dos sinônimos, da linguagem antiga, das dificuldades gramaticais, da Teologia, das religiões, seitas e heresias, das festas e cerimônias de todos os povos, da Mitologia, do magnetismo, do Espiritismo, das doutrinas filosóficas e sociais, da História, das biografias, das ciências, da Física, da Química, da História Natural, da Astronomia, das invenções, da Medicina, da Geografia, da marinha, da jurisprudência, da Economia Política, da franco maçonaria, da agricultura, do comércio, da economia doméstica, do dia a dia, etc., etc. ─ Docks de la librairie, Boulevard Sébastopol, 38 - Paris.”

Esta obra conta no momento com vinte mil assinantes.

Devemos, em primeiro lugar, fazer notar que se o nosso nome se acha em primeiro lugar na lista dos autores cujas obras foram consultadas, foi a ordem alfabética que assim o quis, e não a preeminência.

Todos os termos especiais do vocabulário espírita se acham nesse vasto repertório, não com uma simples definição, mas com todos os desenvolvimentos que comportam, de sorte que seu conjunto formará um verdadeiro tratado do Espiritismo. Além disso, todas as vezes que uma palavra pode dar lugar a uma dedução filosófica, a ideia espírita é posta em paralelo, como ponto de comparação. Concebida num espírito de imparcialidade, a obra não apresenta menos a ideia espírita do que qualquer outra como a verdade absoluta. Deixa o leitor livre para aceitá-la ou rejeitá-la, mas dá a este os meios de apreciá-la, apresentando-a com escrupulosa exatidão e não truncada, alterada ou prejulgada. Limita-se a dizer: sobre tal ponto, uns pensam assim; o Espiritismo o explica de tal outro modo.

Um dicionário não é um tratado especial sobre uma matéria, no qual o autor desenvolve sua opinião pessoal; é uma obra de pesquisas, destinada a ser consultada, e que se dirige a todas as opiniões. Se aí se procura uma palavra, é para saber o que realmente significa e não para ter a apreciação do redator, que pode ser justa ou falsa. Um judeu, um muçulmano, devem nele encontrar a ideia hebraica ou muçulmana reproduzida exatamente, o que não obriga a esposar essa ideia. O dicionário não tem que decidir se ela é boa ou má, absurda ou racional, porque o que é aprovado por uns, pode ser condenado por outros; apresentando-a na sua integridade, não lhe assume a responsabilidade. Se se tratar de uma questão científica que divide os sábios, da homeopatia e da alopatia, por exemplo, ele tem por missão dar a conhecer os dois sistemas, mas não preconizar um em detrimento do outro. Tal deve ser o caráter de um dicionário enciclopédico; só nesta condição pode ser consultado com proveito, em todos os tempos e por qualquer pessoa. Com a universalidade ele adquire a perpetuidade.

Este é, e este deveria ser o sentimento que presidiu a parte que concerne ao Espiritismo. Que os críticos emitam sua opinião em obras especiais, nada de melhor, é seu direito. Mas um dicionário é um terreno neutro, onde cada coisa deve ser apresentada sob suas verdadeiras cores, e onde se deve poder colher toda espécie de ensinamentos, com certeza de aí encontrar a verdade.

Em tais condições, o Espiritismo, tendo achado lugar numa obra tão importante e tão popular quanto o Novo Dicionário Universal, tomou posição entre as doutrinas filosóficas e os conhecimentos usuais; seu vocabulário, já aceito pelo uso, recebeu sua consagração, e, de agora em diante, nenhuma obra do mesmo gênero poderá omiti-lo sem ser incompleta. Aí está mais uma das produções do ano de 1865, que o Sr. Vice-Presidente Jaubert deixou de mencionar na lista dos resultados deste ano.

Em apoio às observações acima, e como amostra da maneira pela qual as questões espíritas são tratadas nessa obra, citaremos a explicação que se acha no verbete alma. Depois de haver longa e imparcialmente desenvolvido as diversas teorias da alma segundo Aristóteles, Platão, Leibnitz, Descartes e outros filósofos, que não podemos reproduzir devido à sua extensão, o artigo termina assim:

“SEGUNDO A DOUTRINA ESPÍRITA, a alma é o princípio inteligente que anima os seres da criação e lhes dá o pensamento, a vontade e a liberdade de agir. Ela é imaterial, individual e imortal, mas a sua essência íntima é desconhecida; não podemos concebê-la isolada absolutamente da matéria, senão como uma abstração. Unida ao envoltório fluídico etéreo ou perispírito, ela constitui o ser espiritual concreto, definido e circunscrito chamado Espírito (Vide ESPÍRITO, PERISPÍRITO). Por metonímia, muitas vezes são empregadas as palavras alma e espírito uma pela outra; diz-se: as almas sofredoras e os espíritos sofredores; as almas felizes e os espíritos felizes; evocar a alma ou o espírito de alguém; mas a palavra alma desperta antes a ideia de um princípio, de uma coisa abstrata, e a palavra espírito a de uma individualidade.

“Unido ao corpo material pela encarnação, o espírito constitui o homem, de sorte que no homem há três coisas: a alma propriamente dita, ou princípio inteligente; o perispírito, ou envoltório fluídico da alma; o corpo, ou envoltório material. Assim, a alma é um ser simples; o espírito um ser duplo, composto da alma e do perispírito; o homem, um ser triplo, composto da alma, do perispírito e do corpo. O corpo, separado do espírito, é uma matéria inerte; o perispírito, separado da alma, é uma matéria fluídica, sem vida e sem inteligência. A alma é o princípio da vida e da inteligência; é pois um erro das pessoas que pretenderam que, dando à alma um envoltório fluídico semimaterial, o Espiritismo dela faz um ser material.

“A origem primeira da alma é desconhecida, porque o princípio das coisas está nos segredos de Deus, e porque ao homem não é dado, no seu atual estado de inferioridade, tudo compreender. Sobre este ponto, só se podem formular sistemas. Segundo uns, a alma é uma criação espontânea da Divindade; segundo outros, é uma emanação, uma porção, uma centelha do fluido divino. Eis um problema sobre o qual só se podem estabelecer hipóteses, porque há razões pró e contra. À segunda opinião opõe-se, entretanto, uma objeção fundada: Sendo Deus perfeito, se as almas são porções da Divindade, deveriam ser perfeitas, em virtude do axioma que a parte é da mesma natureza que o todo. Assim, não se compreenderia que as almas fossem imperfeitas e tivessem necessidade de se aperfeiçoar. Sem se deter nos diversos sistemas tocantes à natureza íntima e à origem da alma, o Espiritismo a considera na espécie humana; ele constata, pelo fato de seu isolamento e de sua ação independente da matéria, durante a vida e após a morte, a sua existência, os seus atributos, a sua sobrevivência e a sua individualidade. Sua individualidade ressalta da diversidade existente entre as ideias e as qualidades de cada uma nos fenômenos das manifestações, diversidade que para cada uma acusa uma existência própria.

“Um fato não menos capital ressalta igualmente da observação: é que a alma é essencialmente progressiva e progride incessantemente, em saber e em moralidade, pois que isso se observa em todos os graus de desenvolvimento. Segundo o ensino unânime dos Espíritos, ela é criada simples e ignorante, isto é, sem conhecimentos, sem consciência do bem e do mal, com igual aptidão para um e para o outro e para tudo adquirir. Sendo a criação incessante e para toda a eternidade, há almas chegadas ao topo da escada, enquanto outras surgem para a vida. Mas, tendo todas o mesmo ponto de partida, Deus não cria umas melhor dotadas que outras, o que está em conformidade com a soberana justiça. Como uma perfeita igualdade preside à sua formação, elas progridem mais ou menos rapidamente, em virtude de seu livre-arbítrio e conforme o seu trabalho. Assim, Deus deixa a cada uma o mérito ou o demérito de seus atos, e a responsabilidade cresce à medida que se desenvolve o senso moral, de sorte que de duas almas criadas ao mesmo tempo, uma pode chegar ao objetivo mais depressa que a outra se trabalhar mais ativamente o seu melhoramento. Mas, as que ficaram na retaguarda chegarão igualmente, embora mais tarde e através de rudes provas, porque Deus não veda o futuro a nenhum de seus filhos.

“A encarnação da alma num corpo material é necessária ao seu aperfeiçoamento; pelo trabalho necessário à existência corporal, desenvolve-se a inteligência. Não podendo adquirir, numa única existência, todas as qualidades morais e intelectuais que devem conduzi-la ao objetivo, ela o atinge passando por uma série ilimitada de existências, quer na Terra, quer em outros mundos, em cada uma das quais dá um passo na via do progresso e se despoja de algumas imperfeições. Em cada existência traz a alma o que adquiriu em existências precedentes. Assim se explica a diferença que existe nas aptidões inatas e no grau de adiantamento das raças e dos povos. (Vide ESPÍRITO, REENCARNAÇÃO).”


ALLAN KARDEC


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