Tolerância e caridade
Carta do novo arcebispo de Argel
A Vérité de Lyon, de 17 de fevereiro, publica a seguinte carta, que o Monsenhor Lavigerie, bispo de Nancy, nomeado arcebispo de Argel, escreveu ao Sr. Prefeito de Argel, em data de 15 de janeiro último:
“Senhor Prefeito,
“Acabo de ter pelo Moniteur a notícia oficial de minha promoção a arcebispo de Argel e, embora não possa exercer nenhum ato de meu ministério na diocese, sem ter recebido inicialmente a missão e a instituição da Santa-Sé, contudo não posso ficar insensível aos acentos dolorosos que repercutem em toda a França e que nos chegam do pé do Atlas. A administração municipal de Argel tomou a generosa iniciativa de uma subscrição pública para as vítimas do último terremoto. Permitime lhe enviar meu óbolo por vosso intermédio. Encontrareis anexa a soma de mil francos: é tudo o que minha pobreza me permite fazer, mas esse pouco pelo menos o faço com todo o coração.
“Desejo que esta soma seja distribuída igualmente e sem distinção de raças nem de cultos, entre todos os que foram feridos pelo flagelo. Se, mais tarde, nem todos me devem reconhecer como seu pai, eu reclamo o privilégio de amá-los igualmente como meus filhos. Tomei por divisa de minhas armas episcopais uma só palavra: caridade! e a caridade não conhece gregos nem bárbaros, nem infiéis, nem israelitas; assim como fala o apóstolo São Paulo, ela não vê em todos os homens senão a imagem viva de Deus! Possa eu, se ele me chamar em breve ao vosso meio, dar a todos, por meus atos e palavras, o exemplo e o amor desta virtude que prepara todas as outras.
“Dignai-vos aceitar, Senhor Prefeito, a expressão dos sentimentos de respeitoso devotamento com os quais tenho a honra de ser vosso humilde e obediente servo.
“CHARLES,
“Bispo de Nancy, nomeado arcebispo de Argel.”
O novo arcebispo de Argel se anuncia por um ato de beneficência que é uma digna introdução. Mas o que ainda vale mais, o que sobretudo será apreciado, são os princípios de tolerância pelos quais inaugura sua administração. Em vez do anátema, é a caridade que confunde todos os homens num mesmo sentimento de amor, sem distinção de crença, porque todos são a viva imagem de Deus. Eis verdadeiras palavras evangélicas. Ele não fala dos espíritas, contra os quais o seu predecessor tinha lançado todos os raios da maldição. (Ver a Revista de novembro de 1863). Mas é provável que se sua tolerância se estende aos judeus e aos infiéis, não pode fazer exceção para os que, de conformidade com as palavras do Cristo, inscrevem em sua bandeira: Fora da Caridade não há salvação.