Reflexo da preexistência
(Por Jean Raynaud)
Eis um homem que chega ao fim da carreira. Em algumas horas não será mais deste mundo. Neste momento supremo, tem ele consciência do resultado, do produto líquido da vida? Vê ele o seu resumo como num espelho? Pode ele fazer uma ideia disso? Não, sem dúvida. Entretanto, esse produto líquido, esse resumo existe algures. Ele está na alma, de uma maneira latente, sem que ela possa discerni-lo. Discerni-lo-á um dia. Então o resumo de todo o passado, adquirindo vida de uma vez, será reconhecido realmente. Aqui em baixo só nos conhecemos por parcelas; a luz de um dia é apagada pelas trevas de outro dia; a alma reúne e guarda em seu tesouro uma porção de impressões, de percepções, de desejos que esquecemos.
Nossa memória está bem longe de ser proporcional à capacidade de nossa alma; e muitas coisas que agiram sobre a nossa alma, das quais perdemos a lembrança, são para nós como se jamais tivessem existido. Contudo, elas tiveram seu efeito, e seu efeito permanece; a alma guarda a sua impressão, que se revela no resumo final, que será a nossa vida futura. (Extraído de Pensées genevoises, por François Roget. Magasin pittoresque, 1861, pág. 222.)