O Iman, grande esmoler do Sultão
"Sábado, 6 de julho, diz o La Presse, o iman ou grande esmoler do sultão, Hairoulah-Effendi, visitou o Monsenhor Chigi, núncio apostólico, e o Monsenhor Arcebispo de Paris."
A viagem do sultão a Paris é mais que um acontecimento político. É um sinal dos tempos, o prelúdio do desaparecimento dos preconceitos religiosos que por tanto tempo ergueram uma barreira entre os povos e ensanguentaram o mundo. Vindo o sucessor de Maomé, de sua plena vontade, visitar um país cristão, fraternizando com um soberano cristão, teria sido, de sua parte, e não há muito tempo, um ato audacioso. Hoje o fato parece muito natural. O que é ainda mais significativo é a visita do Iman, seu grande esmoler, aos chefes da Igreja. A iniciativa que ele tomou nessa circunstância, porque a etiqueta a isto não obrigava, é uma prova do progresso das ideias. Os ódios religiosos são anomalias no século em que estamos, e é de bom augúrio para o futuro ver um dos príncipes da religião muçulmana dar o exemplo de tolerância e abjurar as prevenções seculares.
Uma das consequências do progresso moral será certamente um dia a unificação das crenças: ela ocorrerá quando os diferentes cultos reconhecerem que há um só Deus para todos os homens, e que é absurdo e indigno dele lançarmos anátemas porque não o adoramos da mesma maneira.