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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1863 > Outubro > Dissertações espíritas
Dissertações espíritas
Tendo Moisés proibido evocar os mortos, é permitido fazê-lo?
(Bordeaux - Médium: Sra. Collignon)
(Bordeaux - Médium: Sra. Collignon)
NOTA: Esta comunicação foi dada num grupo espírita de Bordeaux, em resposta à pergunta acima. Antes de a conhecer, tínhamos escrito o artigo precedente, sobre o mesmo assunto. Apesar disto nós a publicamos, precisamente por causa da concordância das ideias. Muitas outras, em vários lugares, foram obtidas no mesmo sentido, o que prova o acordo dos Espíritos a este respeito. Esta objeção não sendo mais sustentável do que todas as que opõem às relações com os Espíritos, cairá por si.
Então, o homem é tão perfeito que julga inútil medir suas forças? E sua inteligência é tão desenvolvida que possa suportar toda a luz?
Então, o homem é tão perfeito que julga inútil medir suas forças? E sua inteligência é tão desenvolvida que possa suportar toda a luz?
Quando Moisés trouxe aos hebreus uma lei que pudesse tirá-los do estado de escravização em que viviam e reavivar neles a lembrança de seu Deus, que haviam esquecido, foi obrigado a dosar a luz à capacidade de visão e a ciência à capacidade de entendimento deles.
Por que também não perguntais: Por que Jesus se permitiu refazer a lei?
Por que disse ele: “Moisés vos disse: Dente por dente, olho por olho, e eu vos digo: Fazei o bem aos que vos querem mal; bendizei aos que vos amaldiçoam; perdoai aos que vos perseguem.”
Por que disse Jesus: “Moisés disse: Aquele que quiser deixar sua mulher lhe dê carta de divórcio, mas eu vos digo: Não separeis o que Deus uniu.”
Por que? É que Jesus falava a Espíritos mais adiantados do que na encarnação em que estavam ao tempo de Moisés. É que é preciso adequar a lição à capacidade de compreensão do aluno. É que vós, que perguntais, que duvidais, ainda não chegastes ao ponto em que deveis estar e ainda não sabeis o que sabereis um dia.
Por quê? Mas, então, perguntai a Deus por que ele criou a erva do campo, da qual o homem civilizado chegou a fazer seu alimento; por que fez árvores que só deveriam crescer em certos climas, em certas latitudes, e que o homem conseguiu aclimatar por toda parte.
Moisés disse aos Hebreus: “Não evoqueis os mortos!” como se diz às crianças: “Não toqueis no fogo!”
Não foi a evocação que, pouco a pouco, tinha degenerado em idolatria entre os egípcios, os caldeus, os moabitas e todos os povos da Antiguidade? Eles não tinham tido a força de suportar a ciência, tinham-se queimado, e o Senhor tinha querido preservar alguns homens, a fim de que pudessem servir e perpetuar seu nome e sua fé.
Os homens eram pervertidos e dispostos a evocações perigosas. Moisés preveniu o mal. O progresso deveria ser feito entre os Espíritos, como entre os homens, mas a evocação ficou conhecida e praticada pelos príncipes da Igreja. A vaidade, o orgulho são tão velhos quanto a Humanidade, assim, os chefes da sinagoga usavam a evocação, e frequentemente usavam-na mal, por isso muitas vezes sobre eles abateu-se a cólera do Senhor.
Eis por que disse Moisés: “Não evoqueis os mortos.” Mas a própria proibição prova que a evocação era usual entre o povo, e foi ao povo que ele a proibiu.
Deixai, pois, que falem os que perguntam por quê. Abri-lhes a história do globo, que eles cobrem com seus passos miúdos, e perguntai-lhes por que, após tantos séculos acumulados, eles marcam passos para avançar tão pouco? É que sua inteligência não está bastante desenvolvida; é que a rotina os constringe; é que eles querem fechar os olhos malgrado os esforços feitos para lhos abrir.
Perguntai-lhes: Por que Deus é Deus? Por que o Sol os ilumina?
Que estudem, que busquem, e na história da Antiguidade verão por que Deus quis que tal conhecimento em parte desaparecesse, para reviver com mais brilho, quando os Espíritos encarregados de trazê-lo tivessem mais força e não vergassem ao seu peso.
Não vos inquieteis, meus amigos, com as perguntas ociosas, com as objeções sem nexo que vos fazem. Fazei sempre o que acabais de fazer: perguntai, e nós vos responderemos com prazer. A ciência é de quem a busca; então, ela vem se mostrar. A luz ilumina os que abrem os olhos, mas as trevas se adensam para os que querem fechá-los. Não é aos que perguntam que se há de recusar, mas aos que fazem objeções com o fito único de extinguir a luz ou que não ousam fitá-la.
Coragem, meus amigos! Estamos prontos para vos responder todas as vezes que forem necessárias.
SIMEÃO, por MATEUS
(Reunião particular, 10 de março de 1863, Sra. Costel)
Minha lembrança acaba de ser evocada por meu retrato e meus versos; duas vezes tocada, na vaidade feminina e em meu amor-próprio de poetisa, venho reconhecer vossa benevolência, esboçando em largos traços a silhueta dos falsos devotos, que são para a religião o que é para a Sociedade a mulher falsamente honesta. O assunto entra no quadro de meus estudos literários, cuja nuança Lady Tartufe exprimia.
Os falsos devotos sacrificam à aparência e traem o verdadeiro; eles têm o coração seco e os olhos úmidos, a bolsa fechada e a mão aberta; falam de boa vontade do próximo, criticando-lhe as ações de uma maneira adocicada que exagera o mal e apequena o mérito. Muito ardentes para a conquista dos bens materiais e mundanos, agarram-se a tesouros imaginários que a morte dispersa, e negligenciam os verdadeiros bens, que servem aos objetivos do homem e são a riqueza da eternidade.
Os hipócritas da devoção são os répteis da natureza moral. Vis, baixos, eles evitam as faltas castigadas pela vindita pública, e na sombra cometem atos sinistros. Quantas famílias desunidas e espoliadas! Quanta confiança traída! Quantas lágrimas e, até, quanto sangue!...
A comédia é o inverso da tragédia. Atrás do celerado marcha o bufão, e os falsos devotos têm por acólitos seres ineptos, que só agem por imitação: à maneira dos espelhos, eles refletem a fisionomia dos vizinhos. Tomam-se a sério; enganamse a si próprios; ridicularizam, por timidez, aquilo em que acreditam; exaltam o de que duvidam; comungam com ostentação e acendem às escondidas pequenas velas, às quais atribuem muito mais virtude do que à santa hóstia.
Os falsos devotos são os verdadeiros ateus da virtude, da esperança, da Natureza e de Deus. Eles negam o verdadeiro e afirmam o falso. Contudo, a morte os levará besuntados de arrebiques e cobertos com os ouropéis que os disfarçavam, e os lançará ofegantes em plena luz.
DELPHINE DE GIRARDIN
Os falsos devotos sacrificam à aparência e traem o verdadeiro; eles têm o coração seco e os olhos úmidos, a bolsa fechada e a mão aberta; falam de boa vontade do próximo, criticando-lhe as ações de uma maneira adocicada que exagera o mal e apequena o mérito. Muito ardentes para a conquista dos bens materiais e mundanos, agarram-se a tesouros imaginários que a morte dispersa, e negligenciam os verdadeiros bens, que servem aos objetivos do homem e são a riqueza da eternidade.
Os hipócritas da devoção são os répteis da natureza moral. Vis, baixos, eles evitam as faltas castigadas pela vindita pública, e na sombra cometem atos sinistros. Quantas famílias desunidas e espoliadas! Quanta confiança traída! Quantas lágrimas e, até, quanto sangue!...
A comédia é o inverso da tragédia. Atrás do celerado marcha o bufão, e os falsos devotos têm por acólitos seres ineptos, que só agem por imitação: à maneira dos espelhos, eles refletem a fisionomia dos vizinhos. Tomam-se a sério; enganamse a si próprios; ridicularizam, por timidez, aquilo em que acreditam; exaltam o de que duvidam; comungam com ostentação e acendem às escondidas pequenas velas, às quais atribuem muito mais virtude do que à santa hóstia.
Os falsos devotos são os verdadeiros ateus da virtude, da esperança, da Natureza e de Deus. Eles negam o verdadeiro e afirmam o falso. Contudo, a morte os levará besuntados de arrebiques e cobertos com os ouropéis que os disfarçavam, e os lançará ofegantes em plena luz.
DELPHINE DE GIRARDIN
(Sociedade Espírita de Paris, 11 de julho de 1863 - Médium: Sr. A. Didier)
Que vos importa a idade dos patriarcas em geral, e a de Matusalém em particular? A Natureza, sabei-o bem, jamais tem tido contrassensos e irregularidades, e se a máquina humana alguma vez variou, jamais repeliu por tanto tempo a destruição material: a morte.
Como já vos disse, a Bíblia é um magnífico poema oriental, onde as paixões humanas são divinizadas, como as paixões que os gregos idealizavam, como as grandes colônias da Ásia Menor.
Não há razão para casar a concisão com a ênfase, a clareza com a difusão, a frieza do raciocínio e da lógica moderna com a exaltação oriental. Os querubins da Bíblia tinham seis asas, como sabeis: quase monstros! O Deus dos judeus banhavase em sangue; sabeis e quereis que vossos anjos sejam os mesmos anjos e que o vosso Deus, soberanamente bom e soberanamente justo, seja o mesmo Deus? Não alieis, pois, vossa análise poética moderna com a poesia mentirosa dos antigos judeus ou pagãos. A idade dos patriarcas é uma figura moral e não uma realidade. A autoridade, a lembrança desses grandes nomes, desses verdadeiros pastores de povos, enriquecidas de mistérios e de lendas que fizeram irradiar em torno deles, existiam entre esses nômades supersticiosos e idólatras das lembranças. É provável que Matusalém tenha vivido muito tempo no coração de seus descendentes.
Notai que na poesia oriental toda ideia moral é incorporada, encarnada, revestida de uma forma brilhante, radiante, esplêndida, contrariamente à poesia moderna que desencarna, que quebra o envoltório para deixar escapar a ideia até o céu. A poesia moderna não só é expressa pelo brilho e a cor da imagem, mas também pelo desenho firme e correto da lógica, numa palavra, pela ideia.
Como quereis aliar esses dois grandes princípios tão contrários? Quando ledes a Bíblia aos raios do Oriente, em meio às imagens douradas, nos horizontes intermináveis e difusos dos desertos, das estepes, fazei correr a eletricidade, que atravessa todos os abismos, todas as trevas, isto é, servi-vos da razão e julgai sempre a diferença do tempo, das formas e das compreensões.
LAMENNAIS
Como já vos disse, a Bíblia é um magnífico poema oriental, onde as paixões humanas são divinizadas, como as paixões que os gregos idealizavam, como as grandes colônias da Ásia Menor.
Não há razão para casar a concisão com a ênfase, a clareza com a difusão, a frieza do raciocínio e da lógica moderna com a exaltação oriental. Os querubins da Bíblia tinham seis asas, como sabeis: quase monstros! O Deus dos judeus banhavase em sangue; sabeis e quereis que vossos anjos sejam os mesmos anjos e que o vosso Deus, soberanamente bom e soberanamente justo, seja o mesmo Deus? Não alieis, pois, vossa análise poética moderna com a poesia mentirosa dos antigos judeus ou pagãos. A idade dos patriarcas é uma figura moral e não uma realidade. A autoridade, a lembrança desses grandes nomes, desses verdadeiros pastores de povos, enriquecidas de mistérios e de lendas que fizeram irradiar em torno deles, existiam entre esses nômades supersticiosos e idólatras das lembranças. É provável que Matusalém tenha vivido muito tempo no coração de seus descendentes.
Notai que na poesia oriental toda ideia moral é incorporada, encarnada, revestida de uma forma brilhante, radiante, esplêndida, contrariamente à poesia moderna que desencarna, que quebra o envoltório para deixar escapar a ideia até o céu. A poesia moderna não só é expressa pelo brilho e a cor da imagem, mas também pelo desenho firme e correto da lógica, numa palavra, pela ideia.
Como quereis aliar esses dois grandes princípios tão contrários? Quando ledes a Bíblia aos raios do Oriente, em meio às imagens douradas, nos horizontes intermináveis e difusos dos desertos, das estepes, fazei correr a eletricidade, que atravessa todos os abismos, todas as trevas, isto é, servi-vos da razão e julgai sempre a diferença do tempo, das formas e das compreensões.
LAMENNAIS
(Sociedade Espírita de Paris, 11 de Julho de 1862 - Médium: Sr. Flammarion)
Escutastes o ruído confuso do mar, retumbando quando o aquilão enche as vagas ou quando quebra, rugindo suas ondas argênteas sobre a praia?
Escutastes o estalo sonoro do raio nas nuvens sombrias ou o murmúrio da floresta ao sopro do vento da tarde?
Escutastes do fundo da alma essa múltipla harmonia, que não fala aos sentidos senão para atravessá-los e chegar até o ser pensante e amante?
Se, pois, não escutastes e entendestes estas mudas palavras, não sois filhos da revelação e ainda não credes.
A esses direi: “Saí da cidade à hora silenciosa em que os raios estrelados descem do céu, e colhendo em vós mesmos os pensamentos íntimos, contemplai o espetáculo que vos cerca e chegareis antes da aurora a partilhar a fé dos vossos irmãos”.
Aos que já creem na grande voz da Natureza eu direi: “Filhos da nova aliança, é a voz do Criador e do conservador dos seres que fala no tumulto das ondas e no ribombar do trovão; é a voz de Deus que fala no sopro do vento. Amigos, escutai de novo, escutai várias vezes, escutai muito tempo, escutai sempre, e o Senhor vos receberá de braços abertos”.
Ó vós que já escutastes sua voz potente aqui embaixo, vós a compreendereis melhor no outro mundo.
GALILEU
Escutastes o estalo sonoro do raio nas nuvens sombrias ou o murmúrio da floresta ao sopro do vento da tarde?
Escutastes do fundo da alma essa múltipla harmonia, que não fala aos sentidos senão para atravessá-los e chegar até o ser pensante e amante?
Se, pois, não escutastes e entendestes estas mudas palavras, não sois filhos da revelação e ainda não credes.
A esses direi: “Saí da cidade à hora silenciosa em que os raios estrelados descem do céu, e colhendo em vós mesmos os pensamentos íntimos, contemplai o espetáculo que vos cerca e chegareis antes da aurora a partilhar a fé dos vossos irmãos”.
Aos que já creem na grande voz da Natureza eu direi: “Filhos da nova aliança, é a voz do Criador e do conservador dos seres que fala no tumulto das ondas e no ribombar do trovão; é a voz de Deus que fala no sopro do vento. Amigos, escutai de novo, escutai várias vezes, escutai muito tempo, escutai sempre, e o Senhor vos receberá de braços abertos”.
Ó vós que já escutastes sua voz potente aqui embaixo, vós a compreendereis melhor no outro mundo.
GALILEU
(Thionville, 5 de janeiro de 1863 - Médium: Dr. R...)
Há uma grande lei que domina tudo no Universo: a lei do progresso. É em virtude dessa lei que o homem, criatura essencialmente imperfeita, deve, como tudo quanto existe em nosso globo, percorrer todas as fases que o separam da perfeição. Sem dúvida Deus sabe quanto tempo cada um levará para chegar ao fim. Porém, como todo progresso deve resultar de um esforço tentado para realizá-lo, não haveria nenhum mérito se o homem não tivesse a liberdade de tomar este ou aquele caminho. Com efeito, o verdadeiro mérito não pode resultar senão de um trabalho operado pelo Espírito para vencer uma resistência mais ou menos considerável.
Como cada um ignora o número de existências que consagrou ao seu adiantamento moral, ninguém pode prejulgar nesta grande questão, e é sobretudo aí que brilha de maneira admirável a infinita bondade de nosso Pai Celeste que, ao lado do livre-arbítrio que nos conferiu, nada obstante semeou em nosso caminho marcos indicadores que iluminam os desvios. É, pois, por um resto de predomínio da matéria que muitos homens se obstinam em ficar surdos às advertências que lhes chegam de todos os lados, e preferem gastar em prazeres enganadores e efêmeros uma vida que lhe havia sido concedida para o avanço de seu Espírito.
Não se poderia afirmar sem blasfêmia que Deus tenha querido a infelicidade de suas criaturas, pois os infelizes expiam sempre, tanto uma vida anterior mal empregada quanto sua recusa a seguir o bom caminho, quando este lhe era mostrado claramente.
Assim, depende de cada um abreviar a prova que deve sofrer. Por isso, guias seguros bastante numerosos lhe são concedidos para que seja inteiramente responsável por sua recusa de seguir seus conselhos, e ainda, neste caso, existe um meio certo de abrandar uma punição merecida, dando sinais de sincero arrependimento e recorrendo à prece, que jamais deixa de ser atendida, quando feita com fervor. O livre-arbítrio existe, pois, efetivamente, no homem, mas com um guia: a consciência.
Vós todos que tendes acesso ao grande foco da nova ciência, não negligencieis de vos penetrar das eloquentes verdades que ela vos revela, e dos admiráveis princípios que são a sua consequência. Segui-os fielmente, pois é aí, sobretudo, que brilha o vosso livre-arbítrio.
Pensai, por um lado, nas consequências fatais que para vós arrastaria a recusa de seguir o bom caminho, como nas magníficas recompensas que vos aguardam caso obedeçais às instruções dos bons Espíritos. É aí que brilhará, por sua vez, a presciência divina.
Em vão se esforçam os homens em busca da verdade por todos os meios que julgam ter na Ciência. Esta verdade, que lhes parece escapar, segue sempre ao seu lado, e os cegos não a percebem.
Espíritos sábios de todos os países, aos quais é dado levantar uma ponta do véu, não negligencieis os meios que vos são oferecidos pela Providência! Provocai nossas manifestações; fazei que delas aproveitem todos os vossos irmãos menos bem aquinhoados que vós; inculcai em todos os preceitos que vos chegam do mundo espírita, e tereis bem merecido, porque tereis contribuído em larga parte para a realização dos desígnios da Providência.
ESPÍRITO FAMILIAR
Como cada um ignora o número de existências que consagrou ao seu adiantamento moral, ninguém pode prejulgar nesta grande questão, e é sobretudo aí que brilha de maneira admirável a infinita bondade de nosso Pai Celeste que, ao lado do livre-arbítrio que nos conferiu, nada obstante semeou em nosso caminho marcos indicadores que iluminam os desvios. É, pois, por um resto de predomínio da matéria que muitos homens se obstinam em ficar surdos às advertências que lhes chegam de todos os lados, e preferem gastar em prazeres enganadores e efêmeros uma vida que lhe havia sido concedida para o avanço de seu Espírito.
Não se poderia afirmar sem blasfêmia que Deus tenha querido a infelicidade de suas criaturas, pois os infelizes expiam sempre, tanto uma vida anterior mal empregada quanto sua recusa a seguir o bom caminho, quando este lhe era mostrado claramente.
Assim, depende de cada um abreviar a prova que deve sofrer. Por isso, guias seguros bastante numerosos lhe são concedidos para que seja inteiramente responsável por sua recusa de seguir seus conselhos, e ainda, neste caso, existe um meio certo de abrandar uma punição merecida, dando sinais de sincero arrependimento e recorrendo à prece, que jamais deixa de ser atendida, quando feita com fervor. O livre-arbítrio existe, pois, efetivamente, no homem, mas com um guia: a consciência.
Vós todos que tendes acesso ao grande foco da nova ciência, não negligencieis de vos penetrar das eloquentes verdades que ela vos revela, e dos admiráveis princípios que são a sua consequência. Segui-os fielmente, pois é aí, sobretudo, que brilha o vosso livre-arbítrio.
Pensai, por um lado, nas consequências fatais que para vós arrastaria a recusa de seguir o bom caminho, como nas magníficas recompensas que vos aguardam caso obedeçais às instruções dos bons Espíritos. É aí que brilhará, por sua vez, a presciência divina.
Em vão se esforçam os homens em busca da verdade por todos os meios que julgam ter na Ciência. Esta verdade, que lhes parece escapar, segue sempre ao seu lado, e os cegos não a percebem.
Espíritos sábios de todos os países, aos quais é dado levantar uma ponta do véu, não negligencieis os meios que vos são oferecidos pela Providência! Provocai nossas manifestações; fazei que delas aproveitem todos os vossos irmãos menos bem aquinhoados que vós; inculcai em todos os preceitos que vos chegam do mundo espírita, e tereis bem merecido, porque tereis contribuído em larga parte para a realização dos desígnios da Providência.
ESPÍRITO FAMILIAR
(Sociedade Espírita de Paris - Médium: Sra. Costel)
O panteísmo, ou a encarnação do Espírito na matéria, da ideia na forma, é o primeiro passo do paganismo para a lei do amor, que foi revelada e pregada por Jesus.
Ávida de prazeres, empolgada pela beleza exterior, a Antiguidade quase não olhava além do que via. Sensual e ardente, ela ignorava as melancolias que nascem da dúvida inquieta e das ternuras recalcadas. Ela temia os deuses, cuja imagem suavizada colocava na sala de estar de suas residências. A escravidão e a guerra a roíam por dentro e a esgotavam por fora. Em vão a Natureza sonora e magnífica convidava os homens a compreender o seu esplendor, mas eles a temiam ou a adoravam, como aos deuses. Os bosques sagrados participavam do terror dos oráculos, e nenhum mortal separava os benefícios de sua solidão das ideias religiosas que faziam palpitar a árvore e fremir a pedra.
O panteísmo tem duas faces, sob as quais convém estudá-lo. Primeiro, a separação infinita da natureza divina, dividida em todas as partes da criação e se reencontrando nos mais ínfimos detalhes, assim como na sua magnificência, isto é, uma confusão flagrante entre a obra e o obreiro. Em segundo lugar, a assimilação da Humanidade, ou antes, sua absorção na matéria. O panteísmo antigo encarnava as divindades; o moderno panteísmo assimila o homem ao reino animal e faz surgirem as moléculas criadoras do forno ardente onde se elabora a vegetação, confundindo os resultados com o princípio.
Deus é a ordem, que a confusão humana não poderia perturbar. Tudo vem a propósito: a seiva para as árvores e o pensamento para os cérebros. Nenhuma ideia, filha do tempo, é abandonada ao acaso. Ela tem a sua fieira, um estreito parentesco que lhe dá a razão de ser, a liga ao passado e a convida ao futuro. A história das crenças religiosas é a prova dessa verdade absoluta, pois não houve nenhuma idolatria, nenhum sistema, nenhum fanatismo que não tivesse tido sua poderosa e imperiosa razão de existir. Todos avançavam para a luz, todos convergiam para o mesmo objetivo e todos virão confundir-se, como as águas dos rios longínquos, no vasto e profundo mar da unidade espírita.
Assim, o panteísmo, precursor do Catolicismo, levava em si o germe da universalidade de Deus. Ele inspirava aos homens a fraternidade para com a Natureza, essa fraternidade que Jesus lhes devia ensinar a praticar uns para com os outros, fraternidade sagrada, reforçada hoje pelo Espiritismo, que vitoriosamente religa os seres terrenos ao mundo espiritual.
Em verdade eu vo-lo digo, a lei de amor desenrola lentamente, e de maneira contínua, suas espirais infinitas. É ela que, nos ritos misteriosos das religiões da Índia, diviniza o animal, sagrando-o por sua fraqueza e por seus serviços humildes. É ela que povoava de deuses familiares os lares purificados. É ela que, em cada uma das crenças diversas, faz com que as gerações soletrem uma palavra do alfabeto divino.
Mas estava reservado a Jesus proclamar a ideia universal que as resume todas. O Salvador anunciou o amor e o tornou mais forte que a morte. Ele disse aos homens: “Amai-vos uns aos outros; amai-vos na dor, na alegria, no opróbrio; amai a Natureza, vossa primeira iniciadora; amai os animais, vossos humildes companheiros; amai o que começa, amai o que acaba.”
O Verbo do Eterno chama-se amor e abraça, numa inextinguível ternura, a Terra onde passais e os Céus onde entrareis, purificados e triunfantes.
LÁZARO
Ávida de prazeres, empolgada pela beleza exterior, a Antiguidade quase não olhava além do que via. Sensual e ardente, ela ignorava as melancolias que nascem da dúvida inquieta e das ternuras recalcadas. Ela temia os deuses, cuja imagem suavizada colocava na sala de estar de suas residências. A escravidão e a guerra a roíam por dentro e a esgotavam por fora. Em vão a Natureza sonora e magnífica convidava os homens a compreender o seu esplendor, mas eles a temiam ou a adoravam, como aos deuses. Os bosques sagrados participavam do terror dos oráculos, e nenhum mortal separava os benefícios de sua solidão das ideias religiosas que faziam palpitar a árvore e fremir a pedra.
O panteísmo tem duas faces, sob as quais convém estudá-lo. Primeiro, a separação infinita da natureza divina, dividida em todas as partes da criação e se reencontrando nos mais ínfimos detalhes, assim como na sua magnificência, isto é, uma confusão flagrante entre a obra e o obreiro. Em segundo lugar, a assimilação da Humanidade, ou antes, sua absorção na matéria. O panteísmo antigo encarnava as divindades; o moderno panteísmo assimila o homem ao reino animal e faz surgirem as moléculas criadoras do forno ardente onde se elabora a vegetação, confundindo os resultados com o princípio.
Deus é a ordem, que a confusão humana não poderia perturbar. Tudo vem a propósito: a seiva para as árvores e o pensamento para os cérebros. Nenhuma ideia, filha do tempo, é abandonada ao acaso. Ela tem a sua fieira, um estreito parentesco que lhe dá a razão de ser, a liga ao passado e a convida ao futuro. A história das crenças religiosas é a prova dessa verdade absoluta, pois não houve nenhuma idolatria, nenhum sistema, nenhum fanatismo que não tivesse tido sua poderosa e imperiosa razão de existir. Todos avançavam para a luz, todos convergiam para o mesmo objetivo e todos virão confundir-se, como as águas dos rios longínquos, no vasto e profundo mar da unidade espírita.
Assim, o panteísmo, precursor do Catolicismo, levava em si o germe da universalidade de Deus. Ele inspirava aos homens a fraternidade para com a Natureza, essa fraternidade que Jesus lhes devia ensinar a praticar uns para com os outros, fraternidade sagrada, reforçada hoje pelo Espiritismo, que vitoriosamente religa os seres terrenos ao mundo espiritual.
Em verdade eu vo-lo digo, a lei de amor desenrola lentamente, e de maneira contínua, suas espirais infinitas. É ela que, nos ritos misteriosos das religiões da Índia, diviniza o animal, sagrando-o por sua fraqueza e por seus serviços humildes. É ela que povoava de deuses familiares os lares purificados. É ela que, em cada uma das crenças diversas, faz com que as gerações soletrem uma palavra do alfabeto divino.
Mas estava reservado a Jesus proclamar a ideia universal que as resume todas. O Salvador anunciou o amor e o tornou mais forte que a morte. Ele disse aos homens: “Amai-vos uns aos outros; amai-vos na dor, na alegria, no opróbrio; amai a Natureza, vossa primeira iniciadora; amai os animais, vossos humildes companheiros; amai o que começa, amai o que acaba.”
O Verbo do Eterno chama-se amor e abraça, numa inextinguível ternura, a Terra onde passais e os Céus onde entrareis, purificados e triunfantes.
LÁZARO