Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867

Allan Kardec

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Junho

Emancipação da mulher nos Estados Unidos

“Informam de Nova Iorque que entre as petições recentemente dirigidas ao presidente dos Estados Unidos, encontra-se uma que levantou a questão da admissibilidade das mulheres nos empregos públicos. A senhorinha Françoise Lord, de Nova Iorque, pediu para ser enviada como cônsul ao estrangeiro. O presidente levou seu pedido em consideração, e ela espera que o Senado lhe seja favorável. O sentimento público não se mostra tão hostil a essa inovação quanto se poderia supor, e vários jornais defendem a pretensão da senhorita Lord.”



(Siècle, 5 de abril de 1867)

“No distrito comandado pelo General Sheridan, formado pelos estados de Louisiana e do Texas, as listas eleitorais foram abertas, e a população branca ou de cor começou a se inscrever, sem levantar objeções ao assunto da ingerência da autoridade militar em todo esse caso. Malgrado os esforços dos legisladores de Washington, a população do norte guarda uma grande parte de seus preconceitos a respeito dos negros. Com a maioria de 35 votos contra, a câmara dos deputados de Nova Jersey lhes recusou o gozo dos direitos políticos, e o senado do Estado associou-se a esse voto, que é o objeto dos mais vivos ataques em toda a imprensa republicana. Em contrapartida, um dos estados do Oeste, o Wisconsin, deu o direito de sufrágio às mulheres de mais de vinte e um anos. Este princípio novo faz seu caminho nos Estados Unidos, e não faltam jornalistas para aprovar a galanteria política dos senadores do Wisconsin. Fazendo alusão a um romance célebre, um orador de um meeting perguntou: “Como recusaríamos a capacidade política à Senhora Beecher Stowe, quando a reconhecemos como um Pai Tomás?”

(Grande Moniteur, 9 de maio de 1867)

A Câmara dos Comuns da Inglaterra também se ocupou desta questão na sessão de 20 de maio último, sobre a proposição de um de seus membros. Lê-se no relato de Morning Post:

“Sobre a cláusula 4, o Sr. Mill pede que se retire a palavra homem e que insira a expressão pessoa.

“Meu objetivo é, diz ele, admitir à franquia eleitoral uma parte muito grande da população que é agora excluída do seio da constituição, isto é, as mulheres. Não vejo por que as senhoras não casadas, maiores, e as viúvas não teriam voz na eleição dos membros do Parlamento.

“Talvez digam que as mulheres já tem bastante poder, mas sustento que se elas obtivessem os direitos civis que proponho se lhes conceda, assim elevaríamos a sua condição e as desembaraçaríamos de um obstáculo que hoje impede a expansão de suas faculdades.

“Confesso que as mulheres já possuem um grande poder social, mas elas não o têm o bastante, e não são crianças mimadas, como geralmente se supõe. Aliás, seja qual for o seu poder, quero que seja responsável, e eu lhes darei o meio de fazer conhecer suas necessidades e seus sentimentos.

“O Sr. Lang. ─ A proposição é, segundo ele, insustentável, e ele está persuadido que a grande maioria das próprias mulheres a rejeitaria.

“Sir John Bowyer pensa de outro modo. As mulheres agora podem ser vigilantes diretoras dos pobres, e ele não vê por que não votariam para os membros do Parlamento. O ilustre baronete cita o caso de Miss Burdetts Coutts, para mostrar que a propriedade das mulheres, conquanto reconhecida como a dos homens, não é absolutamente representada.

“Procedeu-se à votação. A emenda foi rejeitada por 196 votos contra 73, e foi ordenado que a palavra homem fará parte da cláusula.”

O jornal La Liberté, de 24 de maio, continua o relato por estas judiciosas reflexões:

“Será que as mulheres já não são admitidas a sentar-se e votar nas assembleias de acionistas, da mesma forma que os homens?

“Se fosse certo, como pretendeu o ilustre Sr. Laing, que as mulheres não quisessem o direito que o Sr. Stuart Mill propõe se lhes reconheça, não seria uma razão para que ele não lhes fosse atribuído, porquanto já lhes pertence legitimamente. As que tivessem repugnância de exercê-lo estariam livres de votar, salvo, mais tarde, o direito de reconsiderar, quando o uso as tivesse feito mudar de opinião.

“Os Laing, cujos olhos estão vendados pela faixa da rotina, acham monstruoso que as mulheres votem e consideram muito natural e perfeitamente simples que uma mulher reine!

“Ó inconsequência humana! Ó contradição social!

“A. FAGNAN.”

Tratamos da questão da emancipação da mulher no artigo intitulado: As mulheres têm alma? publicado na Revista de janeiro de 1866, e ao qual remetemos o leitor, para não nos repetirmos aqui. As considerações que seguem servirão para complementá-lo.

Não é de duvidar que numa época em que os privilégios, restos de outra época e de outros costumes, caem diante do princípio da igualdade de direitos de toda criatura humana, os da mulher não poderiam tardar a ser reconhecidos, e que, em futuro próximo, a lei não a tratará mais como menor. Até o presente, o reconhecimento desses direitos é considerado como uma concessão da força à fraqueza, razão pela qual é regateado com tanta parcimônia. Ora, como tudo quanto é concedido benevolamente pode ser retirado, esse reconhecimento não será definitivo e imprescritível senão quando não for mais subordinado ao capricho do mais forte, mas fundado num princípio que ninguém possa contestar.

Os privilégios de raças têm sua origem na abstração que os homens geralmente fazem do princípio espiritual, para considerar apenas o ser material exterior. Da força ou da fraqueza constitucional de uns, de uma diferença de cor em outros, do nascimento na opulência ou na miséria, da filiação consanguínea nobre ou plebeia, eles concluíram por uma superioridade ou uma inferioridade natural. Foi sobre este dado que estabeleceram suas leis sociais e os privilégios de raças. Desse ponto de vista circunscrito, eles são consequentes consigo mesmos, porque, não levando em conta senão a vida material, certas classes parecem pertencer, e com efeito pertencem, a raças diferentes.

Mas se considerarmos seu ponto de vista do ser espiritual, do ser essencial e progressivo, numa palavra, do Espírito preexistente e sobrevivente a tudo, cujo corpo é simples envoltório temporário, variando, como a roupa, de forma e de cor; se, além disso, do estudo dos seres espirituais ressalta a prova que esses seres são de uma natureza e de uma origem idênticas; que seu destino é o mesmo; que, partindo todos de um mesmo ponto, tendem ao mesmo fim; que a vida corporal é apenas um acidente, uma das fases da vida do Espírito, necessária ao seu avanço intelectual e moral; que em vista desse avanço o Espírito pode sucessivamente revestir envoltórios diversos, nascer em posições diferentes, chega-se à consequência capital da igualdade da natureza e da igualdade dos direitos sociais de todas as criaturas humanas e à abolição dos privilégios de raça. Eis o que ensina o Espiritismo.

Vós que negais a existência do Espírito para considerar apenas o homem corporal; a perpetuidade do ser inteligente para só encarar a vida presente, repudiais o único princípio sobre o qual está fundada com razão a igualdade de direitos que reclamais para vós próprios e para os vossos semelhantes.

Aplicando este princípio à posição social da mulher, diremos que, de todas as doutrinas filosóficas e religiosas, o Espiritismo é a única que estabelece seus direitos sobre a própria Natureza, provando a identidade do ser espiritual nos dois sexos. Considerando-se que a mulher não pertence a uma criação distinta; que o Espírito pode nascer homem ou mulher, à vontade, conforme o gênero de provas a que vem submeter-se para seu adiantamento; que a diferença não está senão no envoltório exterior, que modifica suas aptidões, na identidade na natureza do ser, necessariamente devemos concluir pela igualdade dos direitos. Isto decorre, não de simples teoria, mas da observação dos fatos e do conhecimento das leis que regem o mundo espiritual. Encontrando os direitos da mulher, na Doutrina Espírita, uma consagração fundada nas leis da Natureza, daí resulta que a propagação dessa doutrina apressará a sua emancipação, e lhe dará, de maneira estável, a posição social que lhe pertence. Se todas as mulheres compreendessem as consequências do Espiritismo, todas seriam espíritas, porque aí encontrariam o mais poderoso argumento que poderiam invocar.

O pensamento da emancipação da mulher neste momento germina num grande número de cérebros, porque estamos numa época em que fermentam as ideias de renovação social em que as mulheres, tanto quanto os homens, estão sujeitos ao hausto progressivo que agita o mundo. Depois de se haverem muito ocupado de si mesmos, os homens começam a compreender que seria justo fazer algo por elas, de afrouxar um pouco os laços da tutela sob os quais as mantêm. Devemos felicitar os Estados Unidos pela iniciativa que tomam a este respeito pelo fato de eles terem ido mais longe, concedendo uma posição legal e de direito comum a toda uma raça da Humanidade.

Mas da igualdade dos direitos seria abusivo concluir pela igualdade de atribuições. Deus dotou cada ser de um organismo apropriado ao papel que ele deve desempenhar na Natureza. O da mulher é traçado por sua organização, e isto não é o menos importante. Há, pois, atribuições bem caracterizadas, atribuídas a cada sexo pela própria Natureza, e essas atribuições implicam deveres especiais que os sexos não poderiam cumprir eficazmente saindo de seu papel. Há atribuições em cada sexo, como de um sexo em relação ao outro: a constituição física determina as aptidões especiais; seja qual for sua constituição, todos os homens certamente têm os mesmos direitos, mas é evidente, por exemplo, que aquele que não está organizado para o canto não poderia ser um cantor. Ninguém pode tirar-lhe o direito de cantar, mas tal direito não lhe pode dar qualidades que lhe faltam. Se, pois, a Natureza deu à mulher músculos mais fracos do que ao homem, é que ela não foi chamada aos mesmos exercícios; se sua voz tem um outro timbre, é que não está destinada a produzir as mesmas impressões.

Ora, é lícito temer, e é o que ocorrerá, que na febre de emancipação que a atormenta, a mulher não se acredite apta a preencher todas a atribuições do homem e que, caindo num excesso contrário, depois de haver tido muito pouco, não pretenda ter demais. Esse resultado é inevitável, mas não devemos espantar-nos nenhum pouco. Se as mulheres têm direitos incontestáveis, a Natureza tem os seus, que não perde nunca. Em breve elas se cansarão dos papéis que não são os seus. Deixai-as, pois, reconhecer pela experiência sua insuficiência nas coisas às quais a Providência não as chamou. Tentativas infrutíferos reconduzi-las-ão forçosamente ao caminho que lhes é traçado, caminho que pode e deve ser alargado, mas que não pode ser desviado sem prejuízo para elas próprias, trazendo a possibilidade da influência toda especial que elas devem exercer. Elas reconhecerão que só terão a perder na troca, porque a mulher de atitudes muito viris jamais terá a graça e o encanto que constituem a força daquela que sabe manter a condição de mulher. Uma mulher que se faz homem abdica de sua verdadeira realeza: olham-na como um fenômeno.

Tendo sido lidos na Sociedade de Paris os dois artigos acima, a seguinte questão foi apresentada aos Espíritos, como objeto de estudo:

Que influência deve ter o Espiritismo sobre a condição da mulher?

Como todas as comunicações obtidas concluíram no mesmo sentido, só transcrevemos a seguinte, por ser a mais desenvolvida.

(Sociedade de Paris, 10 de maio de 1867) (Médium, Sr. Morin, em sonambulismo espontâneo; dissertação verbal)

“Em todos os tempos os homens têm sido orgulhosos. É um vício constitucional, inerente à sua natureza. O homem ─ falo do sexo ─ o homem, forte pelo desenvolvimento de seus músculos, pelas concepções um pouco ousadas de seus pensamentos, não levou em consideração a fraqueza a que se faz alusão nas santas Escrituras, fraqueza que faz a desgraça de toda a sua descendência. Ele se julgou forte e serviu-se da mulher, não como de uma companheira, de uma família; dela se serviu do ponto de vista puramente bestial; dela fez um animal bastante agradável e a acostumou a manter-se a uma respeitosa distância do senhor. Mas como Deus não quis que metade da Humanidade fosse dependente da outra, não fez duas criações distintas, uma para estar constantemente ao serviço da outra. Ele quis que todas as suas criaturas pudessem participar do banquete da vida e do infinito na mesma proporção.

“Nesses cérebros que por tanto tempo mantivemos afastados de toda ciência, como impróprios a receber os benefícios da instrução, Deus fez nascer, como contrapeso, astúcias que põem em cheque as forças do homem. A mulher é fraca, o homem é forte, é sábio, mas a mulher é astuciosa e a ciência contra a astúcia nem sempre leva a melhor. Se fosse a verdadeira ciência, ela a venceria, mas é uma ciência falsa e incompleta, e a mulher facilmente encontra o ponto fraco. Provocada pela posição que lhe era dada, a mulher desenvolveu o germe que sentia em si; a necessidade de sair de seu rebaixamento lhe deu o desejo de romper suas cadeias. Segui a sua marcha; tomai-a a partir do início da era cristã e observai-a: vê-la-eis cada vez mais dominante, mas ela não gastou toda a sua força; ela conservou-a para tempos mais oportunos, e aproxima-se a época em que vai desenvolvê-la por sua vez. Ademais, a geração que se ergue traz em seus flancos a mudança que nos é anunciada há muito tempo, e a mulher atual quer ter, na Sociedade, um lugar igual ao do homem.

“Observai bem; olhai no íntimo, e vede quanto a mulher tende a libertar-se do jugo; ela reina como senhora, por vez como déspota. Vós a tivestes muito tempo vergada, mas ela se reergue, como uma mola comprimida que se distende, porque começa a compreender que é chegada a sua hora.

“Pobres homens! Se vos désseis conta que os Espíritos não tem sexo; que o que hoje é homem pode ser mulher amanhã; que eles escolhem indiferentemente, e por vezes de preferência, o sexo feminino, deveríeis regozijar-vos em vez de vos afligirdes com a emancipação da mulher, e admiti-la no banquete da inteligência, abrindo-lhe todas as grandes portas da ciência, porque ela tem concepções mais finas, mais suaves, contactos mais delicados que os do homem. Por que a mulher não seria médica? Ela não é chamada naturalmente a dar cuidados aos doentes, e não os daria com mais inteligência se tivesse os conhecimentos necessários? Não há casos em que, quando se trata de pessoas de seu sexo, seria preferível uma médica? Inúmeras mulheres não têm dado provas de sua aptidão para certas ciências; da finura de seu tino em certos negócios? Por que, então, os homens reservariam para si o monopólio, senão por medo de vê-las ganhar superioridade? Sem falar das profissões especiais, a primeira profissão da mulher não é a de mãe de família? Ora, a mãe instruída é mais adequada para dirigir a instrução e a educação de seus filhos. Ao mesmo tempo em que alimenta o corpo, ela pode desenvolver o coração e o espírito. Sendo a primeira infância necessariamente confiada aos cuidados da mulher, se ela for instruída, a regeneração social terá dado um passo imenso, e é isto que será feito.

“A igualdade do homem e da mulher teria ainda outro resultado. Ser senhor, ser forte é muito bom, mas é também assumir uma grande responsabilidade. Partilhando o fardo dos negócios da família com uma companheira capaz, esclarecida, naturalmente devotada aos interesses comuns, o homem alivia a sua carga e diminui sua responsabilidade, ao passo que a mulher, estando sob tutela, e por isto mesmo num estado de submissão forçada, não tem voz no capítulo senão quando o homem condescender em lha dar.

“Diz-se que as mulheres são muito faladoras e frívolas. Mas de quem é a falta senão dos homens, que lhes não permitem a reflexão? Dai-lhes o alimento do espírito, e elas falarão menos; elas meditarão e refletirão. Vós as acusais de frivolidade? Mas o que é que elas têm a fazer? ─ Falo aqui sobretudo da mulher do mundo. ─ Nada, absolutamente nada. Em que pode ela ocupar-se? Se ela refletir e transcrever seus pensamentos, tratam-na ironicamente de sabichona. Se cultivar as Ciências ou as Artes, seus trabalhos não são considerados, salvo raríssimas exceções, entretanto, como o homem, ela necessita de estímulo. Lisonjear um artista é dar-lhe tom e coragem, mas para a mulher, isto realmente não vale a pena! Então lhes resta o domínio da frivolidade, no qual podem estimular-se reciprocamente.

“Que o homem destrua as barreiras que seu amor-próprio opõe à emancipação da mulher, e em breve vê-la-á tomar o seu voo, com grande vantagem para a Sociedade. A mulher, sabei-o, tem a centelha divina absolutamente como vós, porque a mulher é vós, como vós sois a mulher.”


A homeopatia nas moléstias morais
(Vide o nº de março de 1867, pág. 65)


O artigo que publicamos no número de março sobre a ação da Homeopatia nas moléstias morais nos valeu, de um dos mais ardentes partidários desse sistema e ao mesmo tempo um dos mais fervorosos adeptos do Espiritismo, o doutor Charles Grégory, a seguinte carta que temos o dever de publicar, em razão da luz que a discussão pode trazer à questão:

“Caro e venerado mestre,

“Vou tentar explicar-vos como compreendo a ação da Homeopatia sobre o desenvolvimento das faculdades morais.

“Como eu, admitis que todo homem com saúde possui rudimentos de todas as faculdades e de todos os órgãos cerebrais necessários à sua manifestação. Admitis, também, que certas faculdades vão se desenvolvendo sempre, ao passo que outras, as que indubitavelmente são rudimentares, depois de apenas terem emitido alguns lampejos, parecem extinguir-se completamente. No primeiro caso, em vossa opinião, os órgãos cerebrais que correspondem às faculdades em pleno desenvolvimento teriam sua livre manifestação, ao passo que os rudimentares, que o mais das vezes também se relacionam com aptidões rudimentares, se atrofiariam completamente, com o avançar da idade, por falta de atividade vital.

“Se, pois, por meio de medicamentos apropriados, eu agir sobre os órgãos imperfeitos; se aí desenvolver um acréscimo de atividade vital, se para aí indico uma nutrição mais poderosa, é evidente que aumentando o volume eles permitirão que a faculdade rudimentar melhor se manifeste, e que pela transmissão das ideias e dos sentimentos que tiverem colhido, pelos sentidos, no mundo exterior, eles imprimirão à faculdade correspondente uma influência salutar, e por sua vez a desenvolverão, porque tudo se liga e se mantém no homem; a alma influi sobre o físico, como o corpo influi sobre a alma. Então já observamos, por conseguinte, a primeira influência dos medicamentos, pelo do aumento dos órgãos sobre as faculdades correspondentes da alma, a possibilidade, portanto, do homem crescer em potencialidades e aptidões, por meio de forças tiradas do mundo material.

“Agora, para mim não está absolutamente provado que nossas pequenas doses, chegadas a um estado de sublimação e de sutileza que ultrapassam todos os limites, não tenham em si algo de espiritual, de certo modo, que por sua vez age sobre o Espírito. Nossos medicamentos, dados no estado de divisão a que a arte os submete, não são mais substâncias materiais, mas necessariamente são forças, ao menos em minha opinião, que devem agir sobre as faculdades da alma, que, também elas, são forças.

“E depois, como creio que o Espírito do homem, antes de se encarnar na Humanidade, sobe todos os degraus da escala e passa pelo mineral, pela planta e pelo animal e na maior parte dos tipos de cada espécie, onde preludia para seu completo desenvolvimento como ser humano, quem me diz que dando medicalmente o que não é mais nem mineral, nem planta, nem animal, mas o que se poderia chamar sua essência e de certo modo seu espírito, não agimos sobre a alma humana composta dos mesmos elementos? Porque, digam o que disserem, o Espírito certamente é alguma coisa, e porque ele se desenvolveu e se desenvolve incessantemente, deve ter haurido seus elementos nalguma parte.

“Tudo quanto posso dizer é que não agimos sobre a alma com as nossas 200ª e 600ª diluições, materialmente, mas virtualmente e de certo modo espiritualmente.

“Agora, aí estão os fatos, fatos numerosos, bem observados, e que bem poderiam demonstrar que não estou inteiramente errado. Para citar a mim mesmo, embora não goste muito de questões pessoais, direi que, experimentando em mim, há trinta anos, remédios homeopáticos, de certo modo criei novas faculdades, sem dúvida rudimentares, mas que na minha mais luxuriante mocidade jamais tinha conhecido, pois ignorava a Homeopatia, que hoje, aos cinquenta e dois anos, encontro bem desenvolvidas: a percepção da cor e das formas.

“Acrescentarei ainda que, sob a influência de nossos meios, vi caracteres mudarem completamente; à leviandade sucederam a reflexão e a solidez do raciocínio; à lubricidade, a continência; à maldade, a benevolência; ao ódio, a bondade e o perdão das injúrias. Evidentemente não é coisa para alguns dias; são necessários alguns anos de cuidados, mas se chega a esses belos resultados por meios tão cômodos, que não há nenhuma dificuldade em identificar os clientes que vos são devotados, e um médico os tem sempre. Eu mesmo observei que os resultados obtidos por nossos meios eram adquiridos para sempre, ao passo que os dados pela educação, os bons conselhos, as exortações seguidas, os livros de moral quase não resistiam ante a possibilidade de satisfazer uma paixão ardente, e as tentações em relação com nossas fraquezas, antes adormecidas e entorpecidas do que curadas. Se neste último caso o sucesso se manifestava, não era sem lutas violentas, que não era bom prolongar por muito tempo.

“Eis, caro mestre, as observações que desejava submeter-vos sobre esta tão grave questão da influência da Homeopatia sobre o moral humano.

“Para concluir: Quer seja pelo cérebro que o medicamento aja sobre as faculdades, quer aja ao mesmo tempo sobre a fibra cerebral e sobre sua faculdade correspondente, não está menos demonstrado para mim, por centenas de fatos, que a ação sutil e profunda de nossas doses sobre o moral humano é muito real. Além disso, é-me demonstrado que a Homeopatia deprime certas faculdades, certos sentimentos ou certas paixões muito exaltadas, para ativar outras muito reduzidas, e como que paralisadas e, por isto mesmo, conduz ao equilíbrio e à harmonia, de onde resulta a melhora real e o progresso do homem em todas as suas aptidões, e facilidade de vencer-se a si mesmo.

“Não julgueis que tal resultado anule a responsabilidade humana, e que se chegue a esse progresso tão desejado sem sofrimentos e sem lutas. Não basta tomar um medicamento e se dizer: “Vou triunfar de minha inclinação para a cólera, para o ciúme e para a luxúria.” Oh! não! O remédio apropriado, uma vez introduzido no organismo, não traz uma modificação profunda senão ao preço de violentos sofrimentos morais e físicos, e muitas vezes, de longa, de muita longa duração, sofrimentos que devem ser repetidos várias vezes, variando os medicamentos e as doses, e isto durante meses e às vezes anos, se quisermos chegar a resultados concludentes. Aí está o preço a pagar por seu melhoramento moral; aí a prova e a expiação pelas quais tudo se paga neste mundo inferior, e vos confesso que não é coisa fácil de se corrigir, mesmo pela Homeopatia. Não sei se, pelas angústias interiores que se sofre, não se paga mais caro esse progresso do que pela modificação mais lenta, é certo, mas sem dúvida mais suave e suportável da ação puramente moral de todos os dias, pela observação de si mesmo e o ardente desejo de vencer-se.

“Termino aqui. Mais tarde vos contarei inúmeros fatos que bem poderão convencer-vos.

“Recebei, etc.”

Esta carta em nada modifica a opinião que emitimos sobre a ação da Homeopatia no tratamento das moléstias morais, que vêm confirmar, ao contrário, os próprios argumentos do Sr. Dr. Grégory. Portanto, persistimos em dizer que se os medicamentos homeopáticos podem ter uma ação sobre o moral, é agindo sobre os órgãos de sua manifestação, o que pode ter sua utilidade em certos casos, mas não sobre o Espírito; que as qualidades boas ou más e as aptidões são inerentes ao grau de adiantamento e de inferioridade do Espírito, e que não é com um medicamento qualquer que se pode fazê-lo avançar mais depressa, nem lhe dar as qualidades que não pode adquirir senão sucessivamente e pelo trabalho; que uma tal doutrina, fazendo depender as disposições morais do organismo, tira do homem toda responsabilidade, a despeito do que diz o Sr. Grégory, e o dispensa de todo trabalho sobre si mesmo para se melhorar, pois poderíamos torná-lo bom, malgrado seu, administrando-lhe tal ou qual remédio; que se, com a ajuda de meios materiais, podem ser modificados os órgãos das manifestações, o que admitimos perfeitamente, esses meios não podem mudar as tendências instintivas do Espírito, assim como, cortando a língua de um falador, não se lhe tira a vontade de falar. Um uso do Oriente vem confirmar nossa asserção por um fato material bem conhecido.

Certamente o estado patológico influi sobre o moral a certos pontos de vista, mas as disposições que tem essa fonte são acidentais e não constituem o fundo do caráter do Espírito. São essas, sobretudo, que uma medicação apropriada pode modificar. Há pessoas que só são benevolentes depois de haver jantado bem e às quais nada se deve pedir quando estão em jejum. Deve-se concluir que um bom jantar é um remédio contra o egoísmo? Não, porque essa benevolência, provocada pela plenitude da satisfação sensual, é um efeito do próprio egoísmo; é apenas uma benevolência aparente, um produto desse pensamento: “Agora que não mais preciso de nada, posso ocupar-me um pouco com os outros.”

Em resumo, não contestamos senão que certas medicações, e a Homeopatia mais que qualquer outra, produzem alguns efeitos indicados, mas contestamos mais do que nunca os resultados permanentes, e sobretudo tão universais, como alguns pretendem. Um caso em que a Homeopatia sobretudo nos pareceria particularmente aplicável com sucesso, é o da loucura patológica, porque aqui a desordem moral é a consequência da desordem física, e que agora é constatado, pela observação dos fenômenos espíritas, que o Espírito não é louco. Não há que modificá-lo, mas lhe dar os meios de se manifestar livremente. A ação da Homeopatia pode ser aqui muito eficaz porquanto age principalmente, pela natureza espiritualizada de seus medicamentos, sobre o perispírito, que representa papel preponderante nessa afecção.

Teríamos mais objeções a fazer sobre algumas das proposições contidas nesta carta, mas isto nos levaria muito longe. Contentamo-nos, pois, em considerar as duas opiniões. Como em tudo, os fatos são mais concludentes que as teorias, e são eles, em definitivo, que confirmam ou derrocam as últimas. Desejamos ardentemente que o Sr. Dr. Grégory publique um tratado especial prático de Homeopatia aplicada ao tratamento das moléstias morais, para que a experiência possa generalizar-se e decidir a questão. Mais que qualquer outro, ele nos parece capaz de fazer esse trabalho ex-professo.


O sentido Espiritual

Uma segunda carta do doutor Grégory contém o seguinte: “Numa comunicação, Erasto enunciou uma ideia que me chocou e me pôs a refletir. O homem, diz ele, tem sete sentidos: os sentidos bem conhecidos da audição, do olfato, da visão, do paladar e do tato e, além desses, o sentido sonambúlico e o sentido mediúnico.

“Acrescento a estas palavras que estes dois últimos não existem senão por exceção bastante desenvolvidos nalgumas naturezas privilegiadas, admitindo-se que existam em estado rudimentar em todos os homens. Ora, tenho uma convicção adquirida através de muita observação e de uma experiência bastante longa dos poderes homeopáticos, que nossos medicamentos bem escolhidos, tomados por longo tempo, podem desenvolver essas duas admiráveis faculdades.”

Em nossa opinião, seria errôneo considerar o sonambulismo e a mediunidade como o produto de dois sentidos diferentes, tendo em vista que não passam de dois efeitos resultantes de uma mesma causa. Essa dupla faculdade é um dos atributos da alma, e tem por órgão o perispírito, cuja radiação transporta a percepção para além dos limites da ação e dos sentidos materiais. A bem dizer é o sexto sentido, que é designado sob o nome de sentido espiritual.

O sonambulismo e a mediunidade são duas variantes da atividade desse sentido que, como se sabe, apresentam inúmeras nuanças, e constituem aptidões especiais. Fora dessas duas faculdades, mais admiráveis porque são mais aparentes, seria errôneo crer que o sentido espiritual não exista senão em estado rudimentar. Como os outros sentidos, ele é mais ou menos desenvolvido, mais ou menos sutil, conforme os indivíduos, mas todo mundo o possui, e não é ele o que presta menos serviços, pela natureza toda especial das percepções das quais é a fonte. Longe de ser a regra, sua atrofia é a exceção, e pode ser considerada como uma enfermidade, assim como a ausência da visão e da audição. É através desse sentido que recebemos os eflúvios fluídicos dos Espíritos; que nos inspiramos, malgrado nosso, em seus pensamentos; que nos são dadas as advertências íntimas da consciência; que temos o pressentimento e a intuição das coisas futuras ou ausentes; que se exercem a fascinação, a ação magnética inconsciente e involuntária, a penetração do pensamento, etc. Essas percepções são dadas ao homem pela Providência, assim como a visão, o olfato, a audição, o paladar e o tato, para a sua conservação; são fenômenos muito vulgares que ele só dificilmente constata pelo hábito que tem de experimentá-los, e dos quais não se deu conta até hoje, devido à sua ignorância das leis do princípio espiritual e da própria negação, por alguns deles, da existência desse princípio. Mas, o que quer que leve sua atenção para os efeitos que acabamos de citar, e sobre muitos outros da mesma natureza, reconhecerá quanto eles são frequentes e como são completamente independentes das sensações percebidas pelos órgãos do corpo.

A visão espiritual, vulgarmente chamada dupla vista ou segunda vista, é um fenômeno menos raro do que se pensa; muitas pessoas têm esta faculdade sem darse conta; apenas ela é mais ou menos acentuada, e é fácil certificar-se de que ela não se deve aos órgãos da visão, porquanto se exerce sem o concurso desses órgãos, tanto que até mesmo os cegos a possuem. Ela existe em certas pessoas no mais perfeito estado normal, sem o menor traço aparente de sono nem de estado extático. Conhecemos em Paris uma senhora na qual ela é permanente, e tão natural quanto a visão ordinária; ela vê sem esforço e sem concentração o caráter, os hábitos, os antecedentes de quem quer que dela se aproxime; ela descreve as doenças e prescreve tratamentos eficazes com mais facilidade que muitos sonâmbulos ordinários; basta pensar em uma pessoa ausente para que ela a veja e a designe. Um dia estávamos em casa dela e vimos passar na rua alguém com quem temos relações, e que ela jamais tinha visto. Sem ser para isso provocada por qualquer pergunta, ela fez o mais exato retrato moral dele, e nos deu a seu respeito conselhos muito prudentes.

Entretanto, essa senhora não é sonâmbula. Ela fala do que vê, como falaria de qualquer outra coisa, sem desviar-se das suas ocupações. É médium? Ela mesma nada sabe a respeito, porque até há pouco nem mesmo conhecia de nome o Espiritismo. Assim, nela essa faculdade é tão natural e tão espontânea quanto possível. Como percebe ela, senão pelo sentido espiritual?

Devemos acrescentar que essa senhora tem fé nos sinais da mão. Assim, ela a examina quando a interrogam. Ela diz que vê nas mãos o indício das doenças. Como vê certo, e é evidente que muitas das coisas que diz não podem ter nenhuma relação fisiológica com a mão, estamos persuadidos de que para ela é simplesmente um meio de se pôr em relação e de desenvolver sua vista, fixando-a num ponto determinado. A mão faz o papel de espelho mágico ou psíquico; ela aí vê como outros veem num vaso, numa garrafa de cristal ou noutro objeto. Sua faculdade tem muita relação com a do Vidente da floresta de Zimmerwald, mas ela lhe é superior em certos aspectos. Aliás, como não tira disto nenhum proveito, esta consideração afasta toda suspeita de charlatanismo, e visto que dela não se serve senão para prestar serviço, deve ser assistida por bons Espíritos. (Vide na Revista de outubro de 1864: O sexto sentido e a visão espiritual; outubro de 1865: Novos estudos sobre os espelhos psíquicos. O vidente da floresta de Zimmerwald).


Grupo curador de Marmande

Intervenção dos Parentes nas curas

“Marmande, 12 de maio de 1867.

“Caro senhor Kardec,

“Há algum tempo vos entretive com o resultado de nossos trabalhos espíritas que continuamos com perseverança, e sinto-me feliz em dizê-lo, com sucessos satisfatórios. Os obsedados e os doentes são sempre objeto de nossos cuidados exclusivos. A moralização e os fluidos são os principais meios indicados por nossos guias.

“Nossos bons Espíritos, que se votaram à propagação do Espiritismo, tomaram também a tarefa de vulgarizar o magnetismo. Em quase todas as consultas, para os diversos casos de moléstias, eles pedem o concurso dos parentes: um pai, uma mãe, um irmão ou uma irmã, um vizinho, um amigo, são chamados para dar passes. Essas bravas criaturas ficam surpresas de parar crises, acalmar dores. Parece-me que este meio é engenhoso e seguro para fazer adeptos; assim a confiança se estende cada vez mais em nossa região.

Os grupos que se ocupam de curas talvez fizessem bem em dar os mesmos conselhos; os felizes resultados obtidos provariam de maneira evidente a verdade do magnetismo, e dariam a certeza que a faculdade de curar ou aliviar o seu semelhante não é privilégio exclusivo de algumas pessoas; que para isto não é preciso senão boa vontade e confiança em Deus. Não falo de uma boa saúde, que é condição indispensável, compreende-se. Reconhecendo que temos tal poder em nós, adquirimos a certeza de que não há políticas nem sortilégios, nem pacto com o diabo. É, pois, um meio de destruir as ideias supersticiosas.

“Eis alguns exemplos de curas obtidas:

“Uma menina de 6 a 7 anos estava acamada, com uma dor de cabeça contínua, febre, tosse frequente com expectoração e dor viva do lado esquerdo; dor também nos olhos, que de vez em quando se cobriam de uma substância leitosa, formando uma espécie de belida. Sob os cabelos, a pele do crânio estava coberta de películas brancas; urina espessa e turva. Deprimida e abatida, a menina não comia nem dormia. O médico tinha acabado suspendendo suas visitas. A mãe, pobre, em presença da criança doente e abandonada, veio me procurar. Consultados, nossos guias prescreveram como único remédio a imposição das mãos, os passes fluídicos por parte da mãe, recomendando-me que fosse, durante alguns dias, fazer-lhe ver como deveria se conduzir. Comecei por mandar suspender os vesicatórios e secá-los. Depois de três dias de passes e de imposição das mãos sobre a cabeça, os rins e o peito, executados a título de lições, mas feitos com alma, a criança pediu para se levantar; a febre tinha passado e todos os acidentes descritos acima desapareceram ao cabo de dez dias.

“Esta cura, que a mãe qualificava de miraculosa, fez que me chamassem, dois dias depois, junto a uma outra menina de 3 a 4 anos, que tinha febre. Depois dos passes e da imposição de mãos, a febre cessou, desde o primeiro dia.

“As curas de algumas obsessões não nos dão menos satisfação e confiança. Maria B..., jovem de 21 anos, de Samazan, perto de Marmande, punha-se nua como um bicho, corria pelos campos e ia deitar-se ao lado do cachorro num buraco de palheiro. A moralização do obsessor, por nosso intermédio, e os passes fluídicos feitos pelo marido, conforme as nossas instruções, em breve a libertaram. Toda a comuna de Samazan foi testemunha da insuficiência da medicina para curá-la, e da eficácia do meio simples empregado para reconduzi-la ao estado normal.

“A Sra. D.., de 22 anos, da comuna de Sainte-Marthe, não longe de Marmande, caía em crises extraordinárias e violentas; rugia, mordia, rolava, sentia golpes terríveis no estômago, desfalecia e às vezes ficava quatro ou cinco horas inconsciente; uma vez passou oito horas sem recobrar a lucidez. Em vão o Dr. T... lhe havia prestado cuidados. O marido, depois de correr para profissionais, sacerdotes da região reputados como curadores e exorcistas, de adivinhos ─ pois confessou havê-los consultado ─ dirigiu-se a nós, pedindo que nos ocupássemos de sua mulher se, como lhe haviam contado, estivesse em nós o poder de curá-la. Prometemos escrever-lhe, para indicar o que ele deveria fazer.

“Consultados, nossos guias disseram: Cessem qualquer tratamento médico, pois os remédios seriam inúteis; que o marido eleve sua alma a Deus, imponha as mãos sobre a fronte da esposa e lhe faça passes fluídicos com amor e confiança; que observe pontualmente as recomendações que lhe vamos fazer, seja qual for a contrariedade que ele possa experimentar (seguem as recomendações, absolutamente pessoais), e se ele se compenetrar da ideia que elas são necessárias e em proveito de sua pobre aflita, em breve terá sua recompensa.

“Também nos disseram que chamássemos e moralizássemos o Espírito obsessor, sob o nome de Lucie Cédar. Esse Espírito revelou a causa que o levava a atormentar a Sra. D...Essa causa se ligava precisamente às recomendações feitas o marido. Tendo-se conformado a tudo, ele teve a satisfação de ver sua mulher completamente livre no espaço de dez dias. Ele me disse: Levando em conta que os Espíritos se comunicam, não me admiro que vos tenham dito o que só era conhecido por mim, mas estou muito mais admirado que nenhum remédio tenha podido curar minha mulher. Se eu me tivesse dirigido a vós desde o começo, teria 150 francos no bolso, que aí já não estão, pois gastei em medicamentos.

“Aperto a vossa mão muito cordialmente.

“DOMBRE.”

Estes casos de cura nada têm de mais extraordinários do que aqueles temos citado, provindos do mesmo centro, mas eles provam, pela persistência do sucesso há vários anos, quanto se pode obter pela perseverança e pela dedicação, pois assim a assistência dos bons Espíritos jamais falta. Eles só abandonam os que deixam o bom caminho, o que é fácil de reconhecer pelo declínio do sucesso, ao passo que sustentam, até o último momento, mesmo contra os ataques da malevolência, aqueles cujo zelo, sinceridade, abnegação e humanidade são à prova das vicissitudes da vida. Eles elevam o que se humilha e humilham o que se eleva. Isto se aplica a todos os gêneros de mediunidade.

Nada desencorajou o Sr. Dombre. Ele lutou energicamente contra todos os entraves que lhe foram suscitados e deles triunfou; desprezou as injúrias e as ameaças dos nossos adversários comuns e os forçou ao silêncio por sua firmeza; não poupou seu tempo nem seu esforço ou sacrifícios materiais; jamais procurou prevalecer-se do que faz para adquirir relevo ou criar um degrau qualquer; seu desinteresse moral iguala o seu desinteresse material; se fica feliz por triunfar, é porque cada sucesso o é para a doutrina. Eis os títulos sérios em reconhecimento a todos os espíritas atuais e futuros, títulos aos quais há que associar os membros do grupo que o secundam com tanto zelo e abnegação, e cujos nomes lamentamos não podermos citar.

O fato mais característico assinalado na carta é o da interferência dos parentes e amigos dos doentes nas curas. É uma ideia nova, cuja importância não escapará a ninguém, porque sua propagação não pode deixar de ter resultados consideráveis. É a vulgarização anunciada da mediunidade curadora. Os espíritas notarão quanto os Espíritos são engenhosos nos meios tão variados que empregam para fazer penetrar a ideia nas massas. Como isto não aconteceria, se lhes abrimos incessantemente novos canais, e lhes damos os meios de bater em todas as portas?

Portanto, esta prática jamais seria demasiadamente encorajada. Contudo, há que não perder de vista que os resultados estarão na razão da boa direção dada à coisa pelos chefes dos grupos curadores e do impulso que souberem imprimir por sua energia, seu devotamento e seu próprio exemplo.


Nova sociedade espírita de Bordeaux

Desde junho de 1866, uma nova Sociedade Espírita, já numerosa, formou-se em Bordéus, em bases que atestam o zelo e a boa vontade de seus membros e uma perfeita interpretação dos verdadeiros princípios da Doutrina. Extraímos do relatório anual publicado pelo Presidente, algumas passagens que darão a conhecer o seu caráter.

Depois de haver falado das vicissitudes que o Espiritismo tem experimentado nessa cidade, circunstâncias que levaram à formação da nova sociedade e de sua organização que “permite àqueles de seus membros que sentem a sua força, desenvolver por palestras, no começo de cada sessão, os grandes princípios da Doutrina, princípios que muitos não combatem senão porque os não conhecem,” acrescenta:

“São essas conversas que até aqui atraíram numerosos ouvintes estranhos à Sociedade. Certamente não tenho a pretensão de crer que todos os nossos ouvintes vêm à nossa casa para instruir-se. Sem dúvida muitos aqui vêm esperando pegar-nos em falta. É a sua tarefa. A nossa é espalhar o Espiritismo nas massas, e a experiência nos provou que o melhor meio, depois de posta em prática a sublime moral que dele decorre, e as comunicações dos Espíritos, é fazê-lo pela palavra.

“Desde que nos constituímos, temos duas sessões semanais. Essa dupla tarefa nos foi imposta pela necessidade de consagrar uma sessão particular (a de quinta-feira) aos Espíritos obsessores e ao tratamento das doenças que eles ocasionam, e reservar uma outra sessão (a de sábado) aos estudos científicos. Acrescentarei, para justificar nossas sessões de quinta-feira, que temos a felicidade de possuir entre nós um médium curador de faculdades bem desenvolvidas, conhecido por sua caridade, sua modéstia e seu desinteresse. Ele é tão conhecido fora quanto no seio de nossa sociedade, de sorte que os doentes não lhe faltam.

“Além disto, há em Bordéus muitos casos de obsessão, e uma sessão por semana especialmente consagrada à evocação e à moralização dos obsessores está longe de ser suficiente, porquanto o médium curador, acompanhado de um médium escrevente, de um evocador e eventualmente por alguns de nossos irmãos, vai ao domicílio dos doentes, a fim de fazer contacto com os obsessores e chegar mais facilmente ao resultado.

“Ao médium curador veio juntar-se um dos nossos irmãos, magnetizador de grande força e de um devotamento a toda prova que, também ajudado pelos bons Espíritos, auxilia o primeiro, de tal sorte que podemos dizer que a Sociedade possui dois médiuns curadores, embora em graus diferentes.”

Segue o relato de várias curas, entre as quais citaremos a seguinte:

A senhorita A..., de doze anos, menina órfã, ao cargo de parentes muito pobres, nos foi apresentada num estado lamentável. Todo o seu corpo era presa de movimentos convulsivos; seu rosto incessantemente contraído fazia caretas horríveis; seus braços e pernas eram constantemente agitados, a ponto de gastar as roupas da cama no espaço de oito dias. Suas mãos, que não podiam segurar nenhum objeto, giravam incessantemente em torno dos punhos. Enfim, em consequência da doença, sua língua se havia tornado de uma espessura extrema, com o que se seguiu o mais completo mutismo.

À primeira vista compreendemos que aí havia uma obsessão, e tendo os nossos guias confirmado, agimos em consequência.

Na opinião de um médico que se achava incógnito em casa da doente enquanto lhe aplicávamos um tratamento fluídico, a doença devia traduzir-se, em três dias, na dança de São Guido e, considerando-se o estado de fraqueza em que se achava a doente, levá-la impiedosamente no máximo em oito dias.

Não detalharei aqui os inúmeros acidentes a que deu lugar esta cura. Não vos falarei dos obstáculos de toda sorte amontoados aos nossos passos, por influências contrárias que tivemos de superar. Direi apenas que dois meses após nossa entrevista com o médico, a menina falava como vós e eu, servia-se das mãos, ia à escola e estava perfeitamente curada.

Eis, acrescenta o Sr. Peyranne, os principais ensinamentos que obtivemos nas sessões consagradas aos Espíritos obsessores:

“Para agir eficazmente sobre um obsessor, é preciso que os que o moralizam e o combatem pelos fluidos, valham mais do que ele. Isto se compreende muito melhor quando nos damos conta que o poder dos fluidos está em relação direta com o adiantamento moral daquele que o emite. Um Espírito impuro chamado a uma reunião de homens morais aí não se sente à vontade; compreende a sua inferioridade, e se tentar enfrentar o evocador, como por vezes acontece, ficai persuadidos de que logo abandonará esse papel, sobretudo se as pessoas componentes do grupo onde ele se comunica se unem ao evocador pela vontade e pela fé.

“Creio que ainda não compreendemos bem tudo quanto podemos sobre os Espíritos impuros, ou melhor, que ainda não sabemos servir-nos dos tesouros que Deus nos pôs nas mãos.

“Sabemos ainda que uma descarga fluídica feita sobre um obsedado por vários espíritas, por meio da cadeia magnética, pode romper o laço fluídico que o liga ao obsessor e tornar-se para este último um remédio moral muito eficaz, provando-lhe a sua impotência.

“Sabemos igualmente que todo encarnado, animado pelo desejo de aliviar o seu semelhante, agindo com fé, pode, por meio de passes fluídicos, senão curar, pelo menos aliviar sensivelmente um doente.

“Termino com as sessões de quinta-feira fazendo notar que nenhum Espírito obsessor continuou rebelde. Todos aqueles de que nos ocupamos terminaram reconhecendo os seus erros, abandonaram as suas vítimas e entraram em melhor caminho.”

A respeito das sessões de sábado, diz ele:

“Essas sessões são abertas, como bem sabeis, por uma palestra feita por um membro da Sociedade, sobre um assunto espírita, e terminadas por um ligeiro resumo feito pelo Presidente.

“Na palestra é deixada ao orador toda a liberdade de linguagem, desde que não saia do quadro traçado por nosso regulamento. Ele encara os diversos assuntos de que trata do seu ponto de vista pessoal; desenvolve-os como bem entende e tira as consequências que julga convenientes, mas nunca poderá com isso atribuir a responsabilidade à Sociedade.

“No fim da sessão, o Presidente resume os trabalhos, e se não estiver de acordo com o orador, contesta-o, fazendo notar ao auditório que, do mesmo modo que o primeiro, não empenha outra responsabilidade além da sua, deixando a cada um o uso do livre-arbítrio e o trabalho de julgar e decidir em sua consciência de que lado está a verdade ou, pelo menos, quem dela mais se aproxima, porque, para mim, a verdade é Deus. Quanto mais dele nos aproximarmos (o que não podemos fazer senão nos depurando e trabalhando pelo nosso progresso) mais próximos estaremos da verdade.”

Chamamos ainda a atenção para o parágrafo seguinte:

“Embora tenhamos excelentes instrumentos para os nossos estudos, compreendemos que seu número se havia tornado insuficiente, sobretudo em face da extensão sempre crescente da Sociedade. A falta de médiuns muitas vezes veio trazer obstáculos à marcha regular dos nossos trabalhos, e compreendemos que era necessário, tanto quanto possível, desenvolver as faculdades latentes na organização de muitos de nossos irmãos. É por isto que acabamos de decidir que uma sessão especial de experiências mediúnicas seria feita aos domingos, às duas da tarde, em nossa sala de reuniões. Julguei que deveria para elas convidar não só nossos irmãos em crença, mas ainda os estranhos que quisessem tornar-se úteis. Essas sessões já deram resultados que ultrapassaram a nossa expectativa. Aí fazemos escrita, tiptologia e magnetismo. Várias faculdades muito diversas foram ali descobertas e dali saíram dois sonâmbulos que parecem ser muito lúcidos.”

Não podemos senão aplaudir o programa da Sociedade de Bordéus e felicitá-la por seu devotamento e pela inteligente direção de seus trabalhos. Um dos nossos colegas, de passagem por aquela cidade, assistiu ultimamente a algumas sessões e trouxe a mais favorável impressão. Perseverando nesse caminho, ela só pode obter resultados cada vez mais satisfatórios, e jamais faltarão elementos para a sua atividade. A maneira pela qual procede para o tratamento das obsessões é ao mesmo tempo notável e instrutiva, e a melhor prova que essa maneira é boa, é que dá resultado. Nós voltaremos a isto ulteriormente, em artigo especial.

Seria supérfluo pôr em destaque a utilidade das instruções verbais que ela designa sob o simples nome de palestras. Além da vantagem de exercitar no manejo da palavra, elas têm outra, não menor, de provocar um estudo mais completo e mais sério dos princípios da Doutrina; de facilitar a sua compreensão; de ressaltar a sua importância e de trazer, pela discussão, a luz sobre pontos controvertidos. É o primeiro passo para conferências regulares que não podem deixar de ter lugar mais cedo ou mais tarde e que, vulgarizando a doutrina, contribuirão poderosamente para modificar a opinião pública, falseada pela crítica malévola ou ignorante daquilo que ela é.

Refutar as objeções e discutir os sistemas divergentes são pontos essenciais que importa não negligenciar, e que podem fornecer matéria para instruções úteis. Não é apenas um meio de dissipar os erros que poderiam ser propagados, mas é fortalecer-se pessoalmente para as discussões particulares que se pode ter que sustentar. Nessas instruções orais, sem dúvida muitos serão assistidos pelos Espíritos, e daí não podem deixar de sair médiuns falantes. Aqueles que se contêm por medo de falar em público, devem lembrar-se que Jesus dizia aos seus apóstolos: “Não vos inquieteis com o que haveis de dizer; as palavras vos serão inspiradas no momento.”

Um grupo de província, que podemos contar entre os mais sérios e melhor dirigidos, introduziu essa sistemática em suas reuniões, que igualmente se realizam duas vezes por semana. É exclusivamente composto de oficiais de um regimento. Mas aí não é uma opção deixada a cada membro; é uma obrigação que lhes é imposta pelo regulamento, de falar cada um por sua vez. Em cada sessão o orador designado para a próxima reunião deve preparar-se para desenvolver e comentar um capítulo ou um ponto da doutrina. Disso resulta para eles uma aptidão maior para fazer a propagação e defender a causa, se necessário.


Necrologia

Sr. Quinemant, de Sétif

Escrevem-nos de Sétif, Argélia:

“Venho comunicar-vos a morte de um fervoroso adepto do Espiritismo, o Sr. Quinemant, falecido no sábado santo de 20 de abril de 1867. Foi o primeiro em Sétif que se ocupou do Espiritismo ao meu lado. Defendeu-o constantemente contra os seus detratores, sem se preocupar com seus ataques, nem com o ridículo. Era, ao mesmo tempo, um bom magnetizador e, por sua dedicação completamente desinteressada, prestou numerosos serviços a pessoas sofredoras.

“Ele estava doente desde novembro; tinha febre de dois em dois dias, e quando não a tinha, salivava constantemente. Comia e digeria bem, achava bom tudo quanto tomava e, a despeito disso, emagrecia a olhos vistos; homem de corpulência muito forte, seus membros chegaram à grossura dos de um menino. Extinguia-se lentamente e compreendia muito bem sua posição; tinha dito que queria morrer no dia em que morreu o Cristo. Conservou toda a sua lucidez de espírito e conversava como se não tivesse estado doente. Morreu quase sem sofrimentos, com a tranquilidade e a resignação de um espírita, dizendo à sua mulher que se consolasse, que se reencontrariam no mundo dos Espíritos. Contudo, em seus últimos momentos, pediu o cura, embora gostasse pouco dos padres em geral e tinha tido com esse vivas altercações acerca do Espiritismo.

“Vós me fareis um grande favor se o evocardes, caso possível. Não duvido que ele não sinta prazer em vir ao vosso chamado, e como era um homem esclarecido e de bom senso, penso que nos poderá dar úteis conselhos. Era sua opinião que o Espiritismo cresceria, malgrado todos os entraves que lhe suscitam. Tende a bondade de lhe perguntar, também, a causa de sua doença, que ninguém conhecia.

“DUMAS.”

Evocado inicialmente em particular, o Sr. Quinemant deu a seguinte comunicação, e no dia seguinte deu espontaneamente, na Sociedade, a que publicamos separadamente, sob o título de O Magnetismo e o Espiritismo comparados.

(Paris, 16 de maio de 1867 ─ Médium, Sr. Desliens)

“Apresso-me em vir ao vosso apelo, e com muita facilidade, porquanto desde o enterro de meus restos mortais, vim a todas as vossas reuniões. Eu tinha um grande desejo de apreciar o desenvolvimento da Doutrina no seu centro natural, e se não o fiz em vida do corpo, a causa única foram os meus negócios materiais. Agradeço vivamente ao amigo Dumas o pensamento benévolo que o levou a comunicar-vos a minha partida e a vos pedir a minha evocação. Ele não me podia dar maior prazer.

“Embora minha volta ao mundo dos Espíritos seja recente, estou suficientemente desprendido para me comunicar com facilidade. As ideias que eu possuía sobre o mundo invisível, minha crença nas comunicações e a leitura das obras espíritas me haviam preparado para ver sem espanto, mas não sem uma felicidade infinita, o espetáculo que me esperava. Estou feliz pela confirmação de meus mais íntimos pensamentos. Eu estava convencido, pelo raciocínio, do desenvolvimento ulterior e da importância da Doutrina dos Espíritos sobre as gerações futuras. Mas, ah! eu percebia numerosos obstáculos e imaginava uma época indefinidamente afastada para a predominância de nossas ideias, efeito de minha vista curta e dos limites determinados pela matéria à minha concepção do futuro. Hoje tenho mais convicção, tenho certeza. Ainda há pouco eu não via senão efeitos muito lentos para o alcance dos meus desejos; hoje vejo, toco a causa desses efeitos, e meus sentimentos se modificaram. Sim, ainda é preciso muito tempo para que nossa Terra seja uma Terra espírita, em toda a acepção da palavra, mas será preciso um tempo relativamente muito curto para trazer uma considerável modificação na maneira de ser dos indivíduos e das nacionalidades.

“Os ensinamentos que colhi entre vós, o desenvolvimento importante de certas faculdades, os conciliábulos espirituais aos quais me foi permitido assistir desde minha chegada aqui, me persuadiram que grandes acontecimentos estavam próximos, e que dentro de pouco tempo, numerosas forças latentes seriam postas em atividade, para alavancar a renovação geral. Por toda parte o fogo está sob as cinzas; se uma faísca saltar, e ela saltará, a conflagração tornar-se-á universal.

“Elementos espirituais atuais, triturados na imensa fornalha dos cataclismos físicos e morais que se preparam, os mais depurados seguem o movimento ascensional, e os outros, lançados fora com as mais grosseiras escórias, deverão sofrer ainda várias destilações sucessivas, antes de se juntarem aos seus irmãos mais adiantados. Ah! Eu compreendo, ante os acontecimentos que o futuro nos prepara, estas palavras do filho de Maria: Haverá choro e ranger de dentes. Agi, pois, meus amigos, de maneira a serdes convidados ao banquete da inteligência e não fazerdes parte dos que serão lançados nas trevas exteriores.

“Antes de morrer cedi a uma última fraqueza e obedeci a um preconceito; não que minha crença tivesse fraquejado ante o medo do desconhecido, mas para não me singularizar. Ora! Depois de tudo, a palavra de um homem que vos fala do futuro é boa para ouvir no momento da grande viagem; essa palavra é cercada de ensinamentos envelhecidos, de práticas desgastadas, eu sei disso, mas não deixa de ser a palavra de esperança e de consolação.

“Ah! Vejo com os olhos do Espírito, vejo um tempo em que o espírita, ao partir, será também cercado de irmãos que lhe falarão do futuro, de esperança de felicidade! Meu Deus, obrigado por me terdes permitido ver o clarão da verdade nos meus últimos instantes; obrigado por esse abrandamento de minhas provas. Se fiz algum bem, é a esta crença abençoada que o devo, porque foi ela que me deu a fé, o vigor material e a força moral necessários para curar; foi ela que me permitiu a lucidez de espírito até os meus últimos momentos; queme permitiu suportar sem murmurar a cruel doença que me levou.

“Perguntais qual foi a afecção à qual sucumbi. Ó, meu Deus, é muito simples. Não mais tendo as vísceras, nas quais se opera a assimilação dos elementos novos, a força necessária para agir, as moléculas gastas pela ação vital eram eliminadas sem que outras viessem substituí-las. Mas que importa a doença de que se morre, quando a morte é uma libertação? Obrigado ainda, caro amigo, pelo bom pensamento que vos levou a pedir a minha evocação. Dizei à minha mulher que estou feliz, que ela me encontrará o amado de sempre e que, esperando a sua volta, não cessarei de cercá-la de minha afeição e de ajudá-la com meus conselhos.

“Agora, algumas palavras para vós pessoalmente, meu caro Dumas. Fostes dos primeiros chamados a plantar a bandeira da doutrina neste país, e muito naturalmente encontrastes obstáculos e dificuldades. Se o vosso zelo não foi recompensado por tanto sucesso quanto esperáveis, e que o início parecia prometer, é que é preciso tempo para desarraigar os preconceitos e a rotina num meio inteiramente dado à vida material. É preciso já estar adiantado para assimilar prontamente novas ideias que mudam os hábitos. Lembrai-vos que o primeiro pioneiro que semeia é muito raramente o que colhe. Ele prepara o terreno para os que vêm depois. Fostes esse pioneiro, pois era a vossa missão. Foi uma honra e uma felicidade que tive a ventura de partilhar um pouco, e que apreciareis um dia, como posso fazê-lo hoje, porque vossos esforços serão levados em conta. Mas não creiais que nos tenhamos dado a um trabalho inútil; não, nenhuma das sementes que espalhamos está perdida; elas germinarão e frutificarão quando chegar o momento de desabrochar. A ideia está lançada e fará o seu caminho. Felicitai-vos por ter sido um dos obreiros escolhidos para esta obra. Tivestes dissabores e enganos: era a prova de vossa fé e de vossa perseverança, sem o que, onde estaria o mérito por cumprir uma missão se encontrássemos apenas rosas pelo caminho?

“Assim, não vos deixeis abater pelas decepções; sobretudo não cedais ao desencorajamento, e lembrai-vos destas palavras do Cristo: “Bem-aventurados os que perseveram até o fim” e desta outra: “Bem-aventurados os que sofrerem por meu nome.” Perseverai, pois, caro amigo. Prossegui na vossa obra e pensai que os frutos que colhemos para o mundo onde estou agora valem mais do que aqueles que colhemos na Terra, onde os deixamos ao partir.

“Dizei, peço-vos, a todos os que me testemunharam afeição e me guardam um bom lugar em sua lembrança, que não os esqueço e que estou sempre em seu meio. Dizei aos que ainda repelem as nossas crenças que quando estiverem onde estou, eles reconhecerão que era a verdade, e que lamentarão amargamente tê-la desconhecido, porque lhes será preciso recomeçar penosas provações. Dizei aos que me fizeram mal que eu os perdoo e que peço a Deus que os perdoe.

“Aquele que vos será sempre devotado,

“E. QUINEMANT.”


O conde de Ourches

O Sr. Conde de Ourches foi um dos primeiros que em Paris se ocuparam das manifestações espíritas, desde o momento em que chegaram as notícias das que haviam ocorrido na América. Pelo crédito que lhe davam sua posição social, sua fortuna, suas relações de família e acima de tudo a lealdade e a honorabilidade de seu caráter, ele contribuiu poderosamente para a sua vulgarização. No tempo da voga das mesas girantes, seu nome tinha adquirido uma grande notoriedade e uma certa autoridade no mundo dos adeptos. Tem ele, pois, seu lugar nos anais do Espiritismo. Apaixonado pelas manifestações físicas, a elas dedicava uma confiança ingênua, um pouco enceguecida e da qual por vezes abusaram, pela facilidade com que elas se prestam à imitação. Exclusivamente dedicado a esse gênero de manifestações apenas do ponto de vista do fenômeno, não acompanhou o Espiritismo na sua nova fase científica e filosófica, pela qual tinha pouca simpatia, e ficou alheio ao grande movimento que se operou nos últimos dez anos.

Morreu a 5 de maio de 1867, aos 80 anos. O Indépendance Belge publicou sobre ele um longo e interessantíssimo artigo biográfico, assinado por Henry de Pène, que foi reproduzido na Gazette des Etrangers de Paris (Rua Seribe, 5) de quinta-feira, 23 de maio. Ali é feita plena justiça às suas eminentes qualidades, e a sua crença nos Espíritos aí é julgada com uma moderação à qual o primeiro destes jornais não nos havia habituado. O artigo termina assim:

“Tudo isto, bem sei, fará dar de ombros um certo número de espíritos positivos que dizem: ‘Ele é louco!’ com toda a inteligência que nalguns casos eles não têm. É fácil dizer que ele é louco.

O Conde de Ourches era um homem superior que se havia proposto o objetivo de ultrapassar os seus semelhantes, unindo as luzes positivas da Ciência aos lampejos e às visões do sobrenatural.”


Dissertações espíritas

O magnetismo e o Espiritismo comparados

(Sociedade de Paris, 12 de maio de 1867 - Médium, Sr. Desliens)

“Ocupei-me em vida da prática do magnetismo do ponto de vista exclusivamente material. Ao menos assim o cria. Hoje sei que a elevação voluntária ou involuntária da alma que faz desejar a cura do doente é uma verdadeira magnetização espiritual.

“A cura se deve a causas excessivamente variáveis: Tal moléstia, tratada de tal maneira, cede ante a força de ação material; tal outra, que é idêntica, mas menos acentuada, não experimenta qualquer melhora, embora os meios curativos empregados talvez sejam ainda mais poderosos. A que se devem, então, essas variações de influências? ─ A uma causa ignorada pela maioria dos magnetizadores, que não investem senão nos princípios mórbidos materiais; elas são consequência da situação moral do indivíduo.

“A doença material é um efeito. Para destruí-lo não basta atacá-lo, agarrá-lo corpo a corpo e o aniquilar. Persistindo a causa, ela produzirá novos efeitos mórbidos quando estiver afastada a ação curativa.

“O fluido transmissor da saúde no magnetismo é um intermediário entre a matéria e a parte espiritual do ser, e que poderia comparar-se ao perispírito. Ele une dois corpos um ao outro; é um ponto sobre o qual passam os elementos que devem trazer a cura nos órgãos doentes. Sendo um intermediário entre o Espírito e a matéria, em consequência de sua composição molecular, esse fluido pode transmitir tão bem uma influência espiritual quanto uma influência puramente animal.

“O que é, efetivamente, o Espiritismo, ou melhor, o que é a mediunidade, essa faculdade até aqui incompreendida, cuja extensão considerável estabeleceu sobre bases incontestáveis os princípios fundamentais da nova revelação? É pura e simplesmente uma variedade da ação magnética exercida por um ou vários magnetizadores desencarnados, sobre um paciente humano, agindo no estado de vigília ou no estado extático, consciente ou inconscientemente.

“Existe, enfim, uma terceira variedade do magnetismo ou do Espiritismo, conforme se toma como ponto de partida a ação dos encarnados sobre os encarnados, ou a dos Espíritos relativamente livres sobre Espíritos aprisionados num corpo; esta terceira variedade, que tem por princípio a ação dos encarnados sobre os Espíritos, revela-se no tratamento e na moralização dos Espíritos obsessores.

“O Espiritismo não é, pois, senão o magnetismo espiritual, e o magnetismo não é outra coisa senão o Espiritismo humano.

“Com efeito, como procede o magnetizador que quer submeter à sua influência um sensitivo sonambúlico? Ele envolve-o em seu fluido; ele o possui numa certa medida e, notai-o, sem jamais conseguir aniquilar seu livre-arbítrio, sem poder transformá-lo em coisa sua, um instrumento passivo. Muitas vezes o magnetizado resiste à influência do magnetizador, e age num sentido quando este desejaria que a ação fosse diametralmente oposta. Embora, geralmente, o sonâmbulo esteja adormecido, e que o seu próprio Espírito aja enquanto o seu corpo fica mais ou menos inerte, também acontece, embora mais raramente, que o sensitivo simplesmente fascinado, iluminado, fique em vigília, embora com maior tensão de espírito e uma inusitada exaltação de suas faculdades.

“E agora, como procede o Espírito que deseja comunicar-se? Envolve o médium com o seu fluido; possui-o em certa medida, sem jamais dele fazer uma coisa, um instrumento puramente passivo. Objetar-me-eis, talvez, que nos casos de obsessão, de possessão, o aniquilamento do livre-arbítrio parece ser completo. Haveria muito a dizer sobre esta questão, porque a ação aniquiladora se faz mais sobre as forças vitais materiais do que sobre o Espírito, que pode achar-se paralisado, dominado e impotente para resistir, mas cujo pensamento jamais é aniquilado, como foi possível constatar em muitas ocasiões. Mesmo no caso da obsessão, encontro uma confirmação, uma prova em apoio à minha teoria, lembrando que a obsessão se exerce também de encarnado a encarnado, e que temos visto magnetizadores aproveitando o domínio que exerciam, para levar seus sonâmbulos a cometerem ações censuráveis. Aqui, como sempre, a exceção confirma a regra.

Embora geralmente o sensitivo mediúnico esteja desperto, em certos casos, que se tornam cada vez mais frequentes, o sonambulismo espontâneo se declara no médium, e este fala por si mesmo, ou por sugestão, absolutamente como o sonâmbulo magnético se conduz nas mesmas circunstâncias.

“Enfim, como procedeis relativamente aos Espíritos obsessores ou simplesmente inferiores que desejais moralizar? Agis sobre eles por atração fluídica; vós os magnetizais, as mais das vezes inconscientemente, para retê-los em vosso círculo de ação, e algumas vezes conscientemente, quando estabeleceis em torno deles uma toalha fluídica que eles não podem penetrar sem vossa permissão, e agis sobre eles pela força moral, que não é outra coisa senão uma ação magnética quintessenciada.

“Como vos foi dito muitas vezes, não há lacunas na obra da Natureza, nem saltos bruscos, mas transições insensíveis que fazem com que passemos pouco a pouco de um para o outro estado, sem nos apercebermos da mudança, a não ser pela consciência de uma situação melhor.

“O magnetismo é, pois, um grau inferior do Espiritismo, e que insensivelmente se confunde com este último, por uma série de variedades, pouco diferentes uma da outra, como o animal é um estado superior da planta, etc. Num caso como no outro, são dois degraus da escada infinita que liga todas as criações, desde o ínfimo átomo até Deus criador! Acima de vós está a luz ofuscante, que vossos fracos olhos ainda não podem suportar; abaixo estão as trevas profundas que os vossos mais poderosos instrumentos de óptica ainda não puderam iluminar. Ontem nada sabíeis; hoje vedes o abismo profundo no qual se perde a vossa origem. Pressentis o objetivo infinitamente perfeito para o qual tendem todas as vossas aspirações. A quem deveis todos esses conhecimentos? Ao magnetismo! Ao Espiritismo! A todas as revelações que decorrem de uma lei de relação universal entre todos os seres e seu criador! A uma ciência surgida ontem por vossa concepção, mas cuja existência se perde na noite dos tempos porque é uma das bases fundamentais da criação.

“De tudo isto concluo que o magnetismo, desenvolvido pelo Espiritismo, é a chave mestra da saúde moral e material da Humanidade futura.

“E. QUINEMANT.”

OBSERVAÇÃO: A justeza das apreciações e a profundeza do novo ponto de vista que encerra esta comunicação, a ninguém escapam. Embora desencarnado há bem pouco tempo, o Sr. Quinemant se revela, logo de saída, e sem a menor hesitação, como um Espírito de incontestável superioridade. Tão logo desprendido da matéria, que não parece haver deixado sobre ele qualquer traço, ele desdobra suas faculdades com uma força notável que promete aos seus irmãos da Terra mais um bom conselheiro.

Os que pretendiam que o Espiritismo se arrastava a par dos lugares-comuns e das banalidades, podem ver, pelas questões que ele aborda há algum tempo, se ele fica estacionário; e o verão ainda melhor à medida que lhes for permitido desenvolver as suas consequências. Entretanto, a bem dizer, ele não ensina nada de novo. Se estudados cuidadosamente os seus princípios constitutivos fundamentais, veremos que eles encerram o germe de tudo. Mas esses germes só se podem desenvolver gradativamente; se nem todos florescem ao mesmo tempo, é que a extensão do círculo de suas atribuições não depende da vontade dos homens, mas da vontade dos Espíritos, que regulam o grau de seus ensinamentos de acordo com a oportunidade. É em vão que os homens gostariam de antecipar-se sobre o tempo, pois eles não podem constranger a vontade dos Espíritos que agem conforme as inspirações superiores, e não se deixam levar pela impaciência dos encarnados. Se necessário, eles sabem tornar estéril essa impaciência. Assim, deixai-os agir. Fortifiquemo-nos no que eles ensinam, e estejamos certos de que eles saberão, em tempo útil, fazer com que o Espiritismo dê o que ele tem a dar.




Bibliografia

União espírita de Bordeaux

O último número de l’Union, que agora nos chega, e que completa o seu segundo ano, traz o seguinte aviso:

“Absorvido pelo trabalho material que nos impõe a necessidade de prover as nossas exigências e às da família, que temos a tarefa de educar, não nos foi possível editar com regularidade os últimos números de l’Union Spirite. Não o ocultaremos, em face desta tarefa ao mesmo tempo tão penosa e tão ingrata que nos impusemos, que nos perguntamos a nós mesmos se não deveríamos parar no caminho e deixar a outros, mais favorecidos pela fortuna do que nós, o cuidado de continuar a obra que havíamos empreendido com tanto ardor quanta convicção e fé. Mas, cedendo às instâncias de muitos dos nossos leitores, que pensam que o Union Spirite não só tem sua razão de ser, mas já prestou, e está chamado a prestar, em futuro provavelmente muito próximo, grandes serviços ao Espiritismo, resolvemos continuar em frente e continuar enfrentando as dificuldades de toda sorte que se amontoam sob nossos passos. Apenas, a fim de nos tornar possível semelhante tarefa, e para evitar a irregularidade da qual infelizmente até aqui tantas vezes temos sido vítima, fomos obrigados a introduzir grandes modificações em nosso modo de publicação.

“A Union Spirite, que em junho próximo começará seu terceiro ano, aparecerá de agora em diante apenas uma vez por mês, em caderno de 32 páginas, grande in8º. O preço da assinatura será fixado em 10 francos por ano.

“Esperamos que os assinantes queiram aceitar estas condições, que são, aliás, as da Revista Espírita de Allan Kardec, e de quase todas as publicações ou revistas filosóficas de Paris e que, enviando o mais cedo possível a sua adesão, nos tornem tão fácil quanto possível a realização da obra, para a qual, há mais de quatro anos, temos feito tão grandes sacrifícios.

“A. BEZ.”

Somos dos que consideram esse jornal como tendo sua razão de ser e sua utilidade; pelo espírito no qual é regido, pode e deve prestar incontestáveis serviços à causa do Espiritismo. Felicitamos o Sr. Bez por sua perseverança, malgrado as dificuldades materiais que encontra em sua posição. Em nossa opinião, ele tomou uma decisão muito inteligente, fazendo-o aparecer apenas uma vez por mês, mas lhe dando a mesma quantidade de matéria. Não se pode imaginar o tempo e a despesa que acarretam publicações que aparecem várias vezes por mês, quando se é obrigado a bastar-se só, ou quase só. É absolutamente necessário não ter outra coisa a fazer, e renunciar a qualquer outra ocupação. Aparecendo a 15 de cada mês, por exemplo, alternará com a nossa Revista. Desta maneira, os que quisessem que esta aparecesse mais vezes, o que é impossível, aí encontrarão o complemento do que desejam e não ficarão privados tanto tempo da leitura de assuntos pelos quais se interessam. Fazemos um apelo ao seu concurso, para sustentar essa publicação.


Progresso Espiritualista

Novo jornal que aparece duas vezes por mês, desde 15 de abril, no formato do antigo Avenir, ao qual anuncia suceder. O Avenir se tinha feito o representante de ideias às quais não podemos dar a nossa adesão. Não é uma razão para que tais ideias não tenham o seu órgão, a fim de que cada um possa apreciá-las e que se possa avaliar seu valor pela simpatia que encontram na maioria dos espíritas e sua concordância com o ensinamento de generalidade dos Espíritos. Não adotando, o Espiritismo, senão os princípios consagrados pela universalidade do ensinamento, sancionado pela razão e pela lógica, sempre marchou e marchará sempre com a maioria. É o que constitui a sua força. Não há, pois, nada a temer das ideias divergentes. Se elas forem justas, prevalecerão e serão adotadas; se falsas, cairão.

Ainda não podemos apreciar a linha que seguirá, a esse respeito, o novo jornal. Em todo caso, julgamos um dever assinalar o seu aparecimento aos nossos leitores, para que possam julgá-lo por si mesmos. Ficaremos felizes por encontrar nele um novo campeão sério de sua doutrina e, neste caso, desejamos-lhe grande sucesso.

Redação: Rua de la Victorie, 34. ─ Preço: 10 francos por ano.


Pesquisas sobre a causa do ateísmo

Em resposta à brochura de Monsenhor Dupanloup, por uma Católica.

Brochura in-8º, nos Srs. Didier et Compagnie, Quai des Augustins, 35 e no escritório da Revista Espírita. ─ Preço: 1,25 francos; pelo correio: l,45 francos.

A autora deste notável escrito, embora sinceramente ligada às crenças católicas, propôs-se demonstrar a Monsenhor Dupanloup quais as verdadeiras causas da chaga do ateísmo e da incredulidade que invade a Sociedade; segundo ela, interpretações hoje inadmissíveis e inconciliáveis com os dados positivos da Ciência. Ela prova que em muitos pontos a Igreja afastou-se do sentido real das Escrituras e do pensamento dos escritores sacros; que a religião não pode senão ganhar com uma interpretação mais racional que, sem tocar nos princípios fundamentais dos dogmas, se conciliasse com a razão; que o Espiritismo, fundado sobre as próprias leis da Natureza, é a única chave possível para uma interpretação sadia, e, por isto mesmo, o mais poderoso remédio contra o ateísmo. Tudo isto é dito simplesmente, friamente, sem ênfase nem exaltação, e com uma lógica serrada. Este escrito é um complemento de La Foi et la Raison, de M. J. B., e dos Dogmes de l’Église du Christ expliqués d’après le Spiritisme, pelo Sr. Bottinn.

Conquanto mulher, a autora dá provas de grande erudição teológica; cita e comenta com notável justeza os escritores sacros de todos os tempos, e com quase tanta facilidade quanto o Sr. Flammarion cita os autores científicos. Vê-se que lhe são familiares, o que nos leva a dizer que provavelmente não está debutando nessas matérias, e que deve ter sido algum eminente teólogo em sua precedente existência. Sem partilhar de todas as suas ideias, dizemos que, do ponto de vista em que se colocou, ela não podia falar melhor nem de outro modo, e que fez uma coisa útil para a época em que estamos.


O romance do futuro (Por E. Bonnemère)

Um volume in-12. Livraria internacional, Boulevard Montmartre, 15. ─ Preço: 3 francos; pelo correio: 3,30 francos.

Por falta de espaço adiamos para o próximo número a apreciação desta importante obra, que recomendamos à atenção dos nossos leitores, como muito interessante para o Espiritismo.

ALLAN KARDEC


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