Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867

Allan Kardec

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Outubro

O Espiritismo em toda parte

A propósito das poesias do Sr. Marteau

É uma coisa realmente curiosa ver os mesmos que repelem o nome do Espiritismo com a maior obstinação, semearem suas ideias em profusão. Não há um dia em que, na imprensa, nas obras literárias, na poesia, nos discursos, até mesmo nos sermões, não se encontrem pensamentos pertinentes ao mais puro Espiritismo. Perguntai a esses escritores se eles são espíritas, e responderão com desdém que se guardam de ser; se disserdes que o que escreveram é Espiritismo, responderão que não pode ser, pois não é a apologia dos Davenport e das mesas girantes. Para eles, aí está todo o Espiritismo, e daí não saem, nem querem sair. Já se pronunciaram: seu julgamento é inapelável.

Contudo, ficariam muito surpresos se soubessem que a cada instante fazem Espiritismo sem o saber; que o acotovelam sem notar que estão perto! Mas, que importa o nome, se as ideias fundamentais são aceitas! Que vale a forma da charrua, se ela prepara o terreno? Em vez de chegar de uma vez, a ideia vem por fragmentos, eis toda a diferença. Ora, quando mais tarde virem que os fragmentos reunidos não são outra coisa senão o Espiritismo, forçosamente renegarão a opinião que dele haviam feito. Os espíritas não são tão pueris para ligar mais importância ao nome do que à coisa. É por isto que se felicitam por ver suas ideias se espalhando sob uma forma qualquer.

Os Espíritos que conduzem o movimento se dizem: Considerando-se que eles não querem a coisa com este nome, vamos fazê-los aceitá-la em detalhes sob outra forma; julgando-se inventores da ideia, eles próprios serão seus propagadores. Faremos como com os doentes que não querem certos remédios, e que os fazemos tomar sem que o suspeitem, mudando-lhes a cor. Os adversários em geral conhecem tão pouco o que constitui o Espiritismo, que temos por certo que o mais fervoroso espírita que não fosse conhecido como tal, poderia, com o auxílio de algumas precauções oratórias, e desde que se abstivesse de falar em Espíritos, desenvolver os mais essenciais princípios da doutrina e ser aplaudido pelos mesmos que não lhe teriam concedido a palavra se se tivesse apresentado como adepto.

Mas, de onde vêm essas ideias, porquanto aqueles que as emitem não as beberam na doutrina que desconhecem?

Já o dissemos várias vezes: quando uma verdade chega a termo e o espírito das massas está maduro para assimilá-la, a ideia germina em toda parte: ela está no ar, levada a todos os pontos pelas correntes fluídicas; cada um lhe aspira algumas parcelas e as emite como se tivessem brotado de seu cérebro. Se alguns se inspiram na ideia espírita sem o confessar, certamente é que em muitos ela é espontânea. Ora, o Espiritismo, achando-se na coletividade e na coordenação dessas ideias parciais, pela força das coisas um dia será o traço de união entre os que as professam. É questão de tempo.

É notório que quando uma ideia deve tomar lugar na Humanidade, tudo concorre para franquear-lhe caminho. É assim com o Espiritismo. Observando o que se passa no mundo neste momento, os grandes e pequenos acontecimentos que surgem ou se preparam, não há um espírita que não diga que tudo parece feito de propósito para aplainar as dificuldades e facilitar o seu estabelecimento. Seus próprios adversários parecem impelidos por uma força inconsciente a limpar o caminho e a cavar um abismo sob seus passos, para melhor fazer sentir a necessidade de enchê-lo.

E não se creia que os contrários sejam prejudiciais. Longe disto. Jamais a incredulidade, o ateísmo e o materialismo levantaram a cabeça mais atrevidamente e proclamaram suas pretensões. Não se trata mais de opiniões pessoais, respeitáveis como tudo quanto é da competência da consciência íntima, são doutrinas que querem impor e com o auxílio das quais pretendem governar os homens contra a vontade deles. O próprio exagero dessas doutrinas é o seu remédio, porque se pergunta o que seria a Sociedade se um dia elas viessem a prevalecer. Era necessário esse exagero para fazer melhor compreender o benefício das crenças que podem ser a salvaguarda da ordem social.

Mas, que cegueira estranha! ou melhor, que cegueira providencial! Aqueles que querem ocupar o lugar do que existe, como aqueles que querem opor-se às ideias novas, no momento em que surgem as mais graves questões, em vez de atrair para si, de angariar simpatias pela doçura, pela benevolência e pela persuasão, parece que se empenham em tudo fazer para inspirar a repulsa; não encontram nada de melhor do que impor-se pela violência, comprimir consciências, chocar as convicções, perseguir. Singular meio de se fazerem bem-vistos pelas populações!

No estado atual do nosso mundo, a perseguição é o batismo obrigatório de toda crença nova de algum valor. Recebendo o seu o Espiritismo, é a prova da importância que a ele atribuem.

Mas, repetimos, tudo isto tem sua razão de ser e sua utilidade: é preciso que assim seja, para preparar os caminhos. Os espíritas devem considerar-se como soldados num campo de batalha; eles se devem à causa e não podem esperar repouso senão quando a vitória for conquistada. Felizes os que tiverem contribuído para a vitória com o preço de alguns sacrifícios.

Para o observador que contempla a sangue-frio o trabalho de nascimento da ideia, é algo de maravilhoso ver como tudo, mesmo o que à primeira vista parece insignificante, ao contrário, converge em definitivo para o mesmo objetivo; ver a diversidade e a multiplicidade dos expedientes que as potências invisíveis põem em jogo para atingir esse objetivo; tudo lhes serve, tudo é utilizado, mesmo o que nos parece mau.

Não há, pois, que se inquietar com as flutuações que o Espiritismo pode experimentar no conflito das ideias que estão em fermentação; é um efeito da própria efervescência que ele produz na opinião geral, na qual ele não pode encontrar simpatias por toda parte; é preciso atentar para essas flutuações, até que seja restabelecido o equilíbrio. Enquanto esperamos, a ideia avança. É o essencial. Como dissemos no começo, ela surge por todos os poros; todos, amigos e inimigos, nela trabalham como que por prazer, e não podemos duvidar que sem a ativa colaboração involuntária dos adversários, os progressos da Doutrina, que jamais fez propaganda para se tornar conhecida, não teriam sido tão rápidos.

Creem abafar o Espiritismo proscrevendo-lhe o nome. No entanto, como ele não consiste em palavras, se lhe fecham a porta por causa de seu nome, ele penetra sob a forma impalpável da ideia. E o que há de curioso é que muitos daqueles que o repelem, não o conhecendo, não querendo conhecê-lo, ignorando, por consequência, o seu objetivo, suas tendências e seus mais sérios princípios, aclamam certas ideias que por vezes são as suas, sem suspeitar que muitas vezes elas fazem parte essencial e integrante da doutrina. Se eles soubessem disso, é provável que se absteriam.

O único meio de evitar o equívoco seria estudar a doutrina a fundo, para saber o que ela diz e o que não diz. Mas então surgiria outro embaraço: o Espiritismo toca em tantas questões, as ideias que se agrupam em torno dele são tão múltiplas, que se eles quisessem abster-se de falar de tudo quanto lhe diz respeito, encontrar-se-iam muitas vezes singularmente impedidos, e, muitas vezes mesmo, tolhidos nos impulsos das próprias inspirações; porque, por esse estudo, convencer-se-iam que o Espiritismo está em tudo e por toda parte e ficariam surpreendidos de encontrá-lo em escritores dos mais acreditados; mais ainda, surpreender-se-iam, eles próprios, a fazê-lo em muitas circunstâncias, involuntariamente. Ora, uma ideia que se torna patrimônio comum é imperecível.

Por várias vezes já reproduzimos pensamentos espíritas que encontramos em profusão na imprensa e nos escritos de todo gênero, e continuaremos a fazê-lo de vez em quando, sob o título de O Espiritismo em toda parte. O artigo seguinte, sobretudo, vem em apoio às reflexões acima. É extraído do Phare de la Manche, jornal de Cherbourg, de 18 de agosto de 1867.

O autor aí dá conta de uma coletânea de poesias do Sr. Amédée Marteau[1] e, a respeito, assim se exprime:

“Há dois mil anos, algum tempo antes do estabelecimento do Cristianismo, a casta sacerdotal dos druidas ensinava aos seus adeptos uma estranha doutrina. Ela dizia: Nenhum ser acabará jamais; mas todos os seres, exceto Deus, começaram. Todo ser é criado no mais baixo grau da existência. Inicialmente a alma não tem consciência de si mesma; submetida às leis invariáveis do mundo físico, espírito escravo da matéria, força latente e obscura, ela sobe fatalmente os degraus da natureza inorgânica, depois da natureza organizada. Então o relâmpago cai do céu, o ser se conhece, é homem.

“A alma humana começa numa alvorada as provas de seu livre-arbítrio; ela própria faz o seu destino, avança de existência em existência, de transmigração em transmigração, pela libertação que lhe dá a morte; ou, então, volta-se sobre si mesma, cai de degrau em degrau, se não tiver merecido elevar-se, sem que nenhuma queda, nada obstante, seja para sempre irreparável.

“Quando a alma tiver chegado ao mais alto ponto da ciência, da força, da virtude, de que é susceptível a condição humana, ela escapa ao círculo das provas e das transmigrações, atinge o termo da felicidade: o Céu. Uma vez chegado a esse termo, o homem não cai mais; sobe continuamente, eleva-se para Deus por um progresso eterno, sem contudo jamais confundir-se com ele. Bem longe de no Céu perder a sua atividade, a sua individualidade, é lá que cada alma adquire a sua plena posse, com a memória de todos os estados anteriores pelos quais passou. Sua personalidade e sua natureza própria aí se desenvolvem cada vez mais distintas, à medida que ela sobe na escada infinita, cujos degraus não passam de realizações de vida que não são mais separados pela morte.

“Tal era a concepção que o Druidismo tinha da alma e de seus destinos. Era a ideia pitagórica ampliada, transformada em dogma e aplicada ao infinito.

“Como esta opinião, depois de ter dormido tantos séculos nos limbos da inteligência humana, desperta hoje? Talvez ela tenha a sua razão de ser na revolução que, a partir de Galileu, se operou no sistema astronômico; talvez ela deva sua ressurreição às sedutoras perspectivas que apresenta aos devaneios dos filósofos e dos pensadores, ou, enfim, a essa curiosidade inata que incessantemente leva o homem para o desconhecido.

“Seja como for, Fontenelle foi o primeiro cuja pena espirituosa renovou estas questões na sua encantadora brincadeira sobre a pluralidade dos mundos.

“Da habitabilidade dos mundos à transmigração das almas, a rampa é escorregadia, e nosso século aí se deixou arrastar. Ele apoderou-se dessa ideia e, esteando-se na Astronomia, tenta elevá-la às alturas de uma ciência. Jean Reynaud a desenvolveu, sob forma magistral, em Ciel et Terre; Lamennais a adota e generaliza no Esquisse d’une Philosophie; Lamartine e Hugo a preconizam; Maxime Ducamp a popularizou num romance; Flammarion publicou um livro em seu favor; enfim, o Sr. Amédée Marteau, numa obra poética que lemos com o mais vivo interesse, reveste com as cores de sua palheta sedutora essa vasta e magnífica utopia.

“O Sr. Marteau é o poeta da ideia nova; é um crente entusiasta e devotado da transmigração das almas em corpos celestes, e é preciso convir que ele conseguiu tratar com mão de mestre este esplêndido assunto. Deus, o homem, o tempo, o espaço são os inspiradores de sua musa. Abismos vertiginosos, elevações incomensuráveis, nada o detém, nada o apavora. Ele se joga na imensidade, bordeja sem empalidecer as barrancas do infinito. Ele viaja nos astros, como uma águia sobre os altos cimos. Ele descreve numa linguagem harmoniosa, com uma precisão matemática, suas formas, sua marcha, sua cor, seus contornos.”

Depois de citar um fragmento de uma das odes dessa coletânea, acrescenta o autor do artigo:

“O Sr. Marteau não é apenas um poeta de alta distinção, ele é, ainda, um filósofo e um sábio. A Astronomia lhe é familiar; ele embeleza a sua poesia com o pó de ouro que faz cair das esferas siderais. Não saberíamos dizer o que mais nos cativou, se o interesse da dicção, se a originalidade do pensamento. Tudo isto se ajusta, se coordena de maneira tão límpida, tão clara, tão natural, que se fica como que fascinado sob o encanto.

“Não conhecemos o Sr. Marteau, mas pensamos que, se para compor um livro como este é preciso ser dotado de um grande talento, também é preciso ser dotado de um grande coração, porquanto nesse autor tudo respira o amor ao homem e o amor a Deus.

“Assim, não podemos deixar de recomendar a todos aqueles que não se consomem nas preocupações e nos interesses materiais, que lancem um olhar sobre a obra do Sr. Marteau. Eles aí encontrarão consolações e esperanças, sem contar os prazeres intelectuais que faz experimentar a leitura de uma poesia generosa, rica de concepções, ideal e destinada ─ disto não duvidamos ─ a um brilhante sucesso.

DIGARD.


A exposição da doutrina druídica sobre os destinos da alma, pela qual começa o artigo, é, como se vê, um resumo completo da Doutrina Espírita sobre o mesmo assunto. O autor sabe disso? Permitimo-nos duvidar, do contrário seria estranho que se tivesse abstido de citar o Espiritismo, a menos que tivesse temido fazê-lo participar dos elogios que prodigaliza às ideias do autor. Não lhe faremos a injúria de supor tal parcialidade pueril; preferimos julgar que até ignore a sua existência. Quando ele se pergunta: “Como esta opinião, depois de ter dormido tantos séculos nos limbos da inteligência humana, desperta hoje?” se tivesse estudado o Espiritismo, o Espiritismo lhe teria respondido, e ele teria visto que essas ideias são mais populares do que se pensa.

“O Sr. Marteau, dizia ele, é o poeta da ideia nova; é um crente entusiasta e devotado da transmigração das almas em corpos celestes e convenhamos que conseguiu tratar com mão de mestre este esplêndido assunto.” Mais adiante acrescenta: “Se para compor um livro como este é preciso ser dotado de um grande talento, também é preciso ser dotado de um grande coração, porque, neste autor, tudo respira o amor ao homem e o amor a Deus.” Então o Sr. Marteau não é um louco por professar semelhantes ideias? Jean Reynaud, Lamennais, Lamartine, Victor Hugo, Louis Jourdan, Maxime Ducamp, Flammarion, então não são loucos por tê-las preconizado? Fazer o elogio aos homens não é elogiar os seus princípios? Ademais, pode-se fazer um elogio maior a um livro do que dizer que os leitores aí beberão esperanças e consolações? Considerando-se que essas doutrinas são as do Espiritismo, não é avalizá-las perante a opinião? Assim, eis um artigo onde diríamos que o nome do Espiritismo é omitido de propósito, e onde são aclamadas as ideias que ele professa sobre os pontos mais essenciais: a pluralidade das existências e os destinos da alma.



[1] Espoirs et Souvenirs, Hachette, Boulevard Saint-Germain, 77.



Senhora Condessa de Clérambert - Médium médico

A Sra. Condessa de Clérambert morava em Saint-Symphorien-sur-Coise, Departamento de Loire; faleceu há alguns anos, em idade avançada. Dotada de inteligência superior, tinha mostrado, desde a juventude, um gosto particular pelos estudos médicos e se comprazia na leitura de obras que tratavam dessa ciência. Nos vinte últimos anos de sua vida havia-se consagrado inteiramente ao alívio do sofrimento com um devotamento inteiramente filantrópico e a mais completa abnegação. As numerosas curas que operava em criaturas consideradas incuráveis lhe tinham criado uma certa reputação, mas, tão modesta quanto caridosa, disto ela não tirava proveito nem se envaidecia.

Aos conhecimentos médicos adquiridos, de que ela certamente fazia uso em seus tratamentos, juntava uma faculdade de intuição que não passava de uma mediunidade inconsciente, porque muitas vezes tratava por correspondência e, sem ter visto os doentes, descrevia a doença perfeitamente; aliás, ela mesma dizia receber instruções, sem compreender a maneira pela qual lhe eram transmitidas. Muitas vezes tinha tido manifestações materiais, tais como transportes, deslocamento de objetos e outros fenômenos deste gênero, embora não conhecesse o Espiritismo. Um dia, um de seus doentes lhe escreveu que lhe tinham sobrevindo abscessos, e para lhe dar uma ideia, tinha traçado um desenho numa folha de papel, mas, tendo esquecido de juntá-lo à carta, a senhora respondeu pelo retorno do correio: Como o desenho que anunciais em vossa carta não veio com ela, imaginei que tivesse sido um esquecimento de vossa parte, mas acabo de encontrar um esta manhã em minha gaveta, que deve ser semelhante ao vosso e que vos remeto.” Com efeito, esse desenho reproduzia exatamente a forma e o tamanho dos abscessos.

Ela não tratava nem pelo magnetismo nem pela imposição das mãos nem pela intervenção ostensiva dos Espíritos, mas pelo emprego de medicamentos que, no mais das vezes, ela mesma preparava, conforme as indicações que lhe eram fornecidas. Sua medicação variava para a mesma doença, conforme os indivíduos; ela não tinha uma receita secreta de eficácia universal, mas se guiava pelas circunstâncias. Algumas vezes o resultado era quase instantâneo, e em certos casos não era obtido senão depois de um tratamento continuado, mas sempre curto, em relação à medicina ordinária. Ela curou radicalmente um grande número de epilépticos e doentes portadores de afecções agudas ou crônicas desenganados pelos médicos.

A senhora de Clérambert não era, portanto, médium curadora, no sentido ligado a essa expressão, mas médium médica. Ela gozava de uma clarividência que lhe fazia ver o mal e a guiava na aplicação dos remédios, que lhe eram inspirados, secundada, além disso, pelo conhecimento que ela tinha da matéria médica e sobretudo das propriedades das plantas. Por seu devotamento, por seu desinteresse moral e material jamais desmentidos, por sua inalterável benevolência para com aqueles que a ela se dirigiam, a senhora de Clérambert, assim como o abade Príncipe de Hohenlohe, deve ter conservado até o fim da vida a preciosa faculdade que lhe havia sido concedida, e que, sem dúvida ela teria visto enfraquecer-se e desaparecer, se não a tivesse preservado pelo nobre emprego que dela fazia.

Sua situação econômica, sem ser muito cômoda, era suficiente para tirar qualquer pretexto para uma remuneração qualquer. Assim, não pedia absolutamente nada, mas recebia dos ricos, reconhecidos por terem sido curados, aquilo que eles achavam que deveriam dar, e o empregava para suprir as necessidades daqueles a quem faltava o necessário.

Os documentos da nota acima foram fornecidos por uma pessoa que foi curada pela senhora de Clérambert, e foram confirmados por outras pessoas que a conheceram. Tendo sido esta notícia lida na Sociedade Espírita de Paris, a senhora de Clérambert deu a resposta abaixo.

(Sociedade Espírita de Paris, 5 de abril de 1867 - Médium, Sr. Desliens) Evocação. ─ O relato que acabamos de ler naturalmente nos dá o desejo de nos entretermos convosco, e de vos contar entre Espíritos que desejam concorrer para a nossa instrução. Esperamos tenhais a bondade de vir ao nosso apelo e, neste caso, tomamos a liberdade de vos dirigir as seguintes perguntas:

1º ─ Que pensais da notícia que acaba de ser lida e das reflexões que a acompanham?

2º ─ Qual a origem do vosso gosto nato pelos estudos médicos?

3º ─ Por qual via recebíeis as inspirações que vos eram dadas para o tratamento dos doentes?

4º ─ Como Espírito, podeis continuar a prestar os serviços que prestáveis como encarnada, quando fordes chamada por um doente, com o auxílio de um médium?

Resposta. ─ Agradeço-vos, senhor presidente, as palavras benevolentes que tivestes a bondade de pronunciar em minha intenção e aceito de boa vontade o elogio feito ao meu caráter. Acredito que ele é a expressão da verdade, e não terei o orgulho ou a falsa modéstia de recusá-lo. Instrumento escolhido pela Providência, sem dúvida por causa de minha boa vontade e da aptidão particular que favorecia o exercício da minha faculdade, não fiz senão o meu dever, consagrando-me ao alívio dos que reclamavam o meu socorro. Algumas vezes acolhida pelo reconhecimento, muitas vezes pelo esquecimento, meu coração não se orgulhou mais com os sufrágios de uns do que sofreu com a ingratidão de outros, porquanto eu sabia muito bem ser indigna de uns e colocar-me acima de outros.

Mas chega de ocupar-me da minha pessoa. Vamos à faculdade que me valeu a honra de ser chamada para a reunião desta Sociedade simpática, onde se gosta de repousar a vista, sobretudo quando se foi, como eu, vítima da calúnia e dos ataques malévolos daqueles cujas crenças foram feridas, ou cujos interesses foram prejudicados. Que Deus lhes perdoe, como eu mesma fiz!

Desde a minha mais tenra infância, e por uma espécie de atração natural, ocupei-me do estudo das plantas e de sua ação salutar sobre o corpo humano. De onde me vinha esse gosto ordinariamente pouco natural em meu sexo? Então eu o ignorava, mas hoje sei que não era a primeira vez que a saúde humana era objeto de minhas mais vivas preocupações: eu tinha sido médico. Quanto à faculdade particular que me permitia ver à distância o diagnóstico das afecções de certos doentes (porque eu não via em todos), e prescrever os medicamentos que deviam restituir a saúde, era muito semelhante à dos vossos atuais médiuns médicos. Como eles, eu estava em relação com um ser oculto que se dizia Espírito, e cuja influência salutar ajudou-me poderosamente a aliviar os infortunados que me procuravam. Ele me havia prescrito o mais completo desinteresse, sob pena de perder instantaneamente uma faculdade que constituía a minha felicidade. Não sei por que razão, talvez porque teria sido prematuro desvelar a origem de minhas prescrições, ele igualmente me havia recomendado, da maneira mais formal, que não dissesse de quem recebia as recomendações que dirigia aos meus doentes. Enfim, ele considerava o desinteresse moral, a humildade e a abnegação como uma das condições essenciais à perpetuação de minha faculdade. Segui seus conselhos e me saí bem.

Tendes razão, senhor, de dizer que os médicos serão chamados um dia a representar um papel da mesma natureza que o meu, quando o Espiritismo tiver conquistado a influência considerável que, no futuro, fá-lo-á o instrumento universal do progresso e da felicidade dos povos! Sim, certos médicos terão faculdades desta natureza e poderão prestar serviços muito maiores porque os seus conhecimentos adquiridos lhes permitirão mais facilmente assimilar espiritualmente as instruções que lhes forem dadas. Um fato que deveis ter notado é que as instruções que tratam de assuntos especiais são tanto mais facilmente e tanto mais largamente desenvolvidas quanto mais os conhecimentos pessoais do médium se aproximam da natureza daquelas que ele é chamado a transmitir. Assim, certamente eu poderia prescrever tratamentos aos doentes que a mim se dirigiam para obter a cura, mas não o faria com a mesma facilidade com todos os instrumentos, ao passo que se uns facilmente transmitiriam minhas indicações, outros só o fariam incorretamente ou incompletamente. Entretanto, se meu concurso vos pode ser útil, seja em que circunstância for, terei prazer em vos ajudar em vossos trabalhos, na medida de meus conhecimentos, ah! muito limitados fora de certas atribuições especiais.

ADÈLE DE CLÉRAMBERT


OBSERVAÇÃO: O Espírito assina Adèle, embora em vida fosse chamada Adélaïde. Tendo-lhe sido perguntada a razão, ela respondeu que Adèle era o seu verdadeiro nome, e que só por hábito da infância chamavam-na Adélaïde.


Médicos - médiuns

A Sra. Condessa de Clérambert, da qual falamos no artigo anterior, oferecia uma das variedades da faculdade de curar, que se apresenta sob uma infinidade de aspectos e nuanças apropriadas às aptidões especiais de cada indivíduo. Em nossa opinião, ela era o modelo do que poderiam ser muitos médicos; do que muitos poderão ser, sem dúvida, quando entrarem na via da espiritualidade que o Espiritismo que lhes abre, porque muitos verão desenvolver-se em si faculdades intuitivas que lhes serão um precioso auxílio na prática.

Dissemos e repetimos que seria um erro crer que a mediunidade curadora venha destronar a Medicina e os médicos. Ela vem lhes abrir um novo caminho, mostrarlhes, na Natureza, recursos e forças que eles ignoravam e com as quais podem beneficiar a ciência e seus doentes; numa palavra, provar-lhes que eles não sabem tudo, pois há pessoas que, fora da ciência oficial, conseguem o que eles mesmos não conseguem. Assim, não temos a menor dúvida de que um dia haja médicos-médiuns, como há médiuns-médicos que, à ciência adquirida, juntarão o dom de faculdades mediúnicas especiais.

Apenas, como essas faculdades só têm valor efetivo pela assistência dos Espíritos, que podem paralisar os seus efeitos pela retirada de seu concurso; que frustram à sua vontade os cálculos do orgulho e da cupidez, é evidente que não prestarão sua assistência aos que os renegarem e pretenderem servir-se deles secretamente, em proveito de sua própria reputação e de sua fortuna. Como os Espíritos trabalham para a Humanidade e não vêm para servir a interesses egoísticos individuais; como, em tudo o que fazem, agem com vistas à propagação das doutrinas novas, são-lhes necessários soldados corajosos e devotados, e eles nada têm a fazer com os poltrões que têm medo da sombra da verdade. Assim, eles secundarão aqueles que sem resistência e sem premeditação colocarem suas aptidões a serviço da causa que se esforçam por fazer prevalecer.

O desinteresse material, que é um dos atributos essenciais da mediunidade curadora, será, também ele, uma das condições da medicina mediúnica? Como, então, conciliar as exigências da profissão com uma abnegação absoluta?

Isto requer algumas explicações, porque a situação não é mais a mesma.

A faculdade do médium curador nada lhe custou; não lhe exigiu estudo, nem trabalho, nem despesas; ele recebeu-a gratuitamente, para o bem dos outros, e deve usá-la gratuitamente. Como antes de tudo é preciso viver, se ele não tem, por si mesmo, recursos que o tornem independente, deve buscar os seus meios no seu trabalho ordinário, como teria feito antes de conhecer a mediunidade; ele não dá ao exercício de sua faculdade senão o tempo que lhe pode consagrar materialmente. Se ele tira esse tempo de seu repouso e se emprega em trabalho útil aos seus semelhantes o tempo que teria consagrado a distrações mundanas, é um verdadeiro devotamento, e nisto só tem mais mérito. Os Espíritos não pedem mais e não exigem nenhum sacrifício desarrazoado. Não se poderia considerar devotamento e abnegação o abandono de sua condição para entregar-se a um trabalho menos penoso e mais lucrativo. Na proteção que eles concedem, os Espíritos, aos quais a gente não se pode impor, sabem perfeitamente distinguir os devotamentos reais dos devotamentos fictícios.

Muito diferente seria a posição dos médicos-médiuns. A Medicina é uma das carreiras sociais que se abraça para dela fazer uma profissão, e a ciência médica só se adquire a título oneroso, por um trabalho assíduo, por vezes penoso; o saber do médico é, pois, uma conquista pessoal, o que não é o caso da mediunidade. Se, ao saber humano, os Espíritos juntam seu concurso pelo dom de uma aptidão mediúnica, é para o médico um meio a mais para se esclarecer, para agir mais segura e eficazmente, pelo que ele deve ser reconhecido, mas ele não deixa de ser médico; é a sua profissão, que não deixa para fazer-se médium. Nada há, pois, de repreensível em que continue a dela viver, e isto com tanto mais razão quanto a assistência dos Espíritos por vezes é inconsciente, intuitiva, e sua intervenção se confunde, às vezes, com o emprego dos meios ordinários de cura.

Porque um médico tornou-se médium e é assistido por Espíritos no tratamento de seus doentes, não se segue que deva renunciar a toda remuneração, o que o obrigaria a procurar meios de subsistência fora da Medicina, e assim renunciar à sua profissão. Mas se for animado do sentimento das obrigações que lhe impõe o favor que lhe é concedido, ele saberá conciliar seus interesses com os deveres de humanidade.

Não se dá o mesmo com o desinteresse moral, que em todos os casos pode e deve ser absoluto. Aquele que em vez de ver na faculdade mediúnica um meio a mais de tornar-se útil aos seus semelhantes, nela só procurasse uma satisfação ao amor-próprio; que considerasse um mérito pessoal os sucessos obtidos por esse meio, dissimulando a causa verdadeira, faltaria ao seu primeiro dever. Aquele que, sem renegar os Espíritos, não visse em seu concurso direto ou indireto senão um meio de suplementar a deficiência de sua clientela produtiva, com qualquer aparência filantrópica que se cobrisse aos olhos dos homens, faria, por isso mesmo, ato de exploração. Num caso como no outro, tristes decepções seriam a sua consequência inevitável, porque os simulacros e os subterfúgios não podem enganar os Espíritos, que leem no fundo do pensamento.

Dissemos que a mediunidade curadora não matará nem a medicina nem os médicos, mas ela não pode deixar de modificar profundamente a ciência médica. Sem dúvida haverá sempre médiuns curadores, porque sempre os houve, e esta faculdade está na Natureza; mas eles serão menos numerosos e menos procurados, à medida que aumentar o número de médicos-médiuns, e quando a ciência e a mediunidade se prestarem mútuo apoio. Ter-se-á mais confiança nos médicos quando forem médiuns, e mais confiança nos médiuns quando forem médicos.

Não podem ser contestadas as virtudes curativas de certas plantas e de outras substâncias que a Providência pôs ao alcance do homem, colocando o remédio ao lado do mal. O estudo dessas propriedades é da alçada da medicina. Ora, como os médiuns curadores só agem por influência fluídica, sem o emprego de medicamentos, se um dia eles devessem suplantar a medicina, resultaria que, dotando as plantas de propriedades curativas, Deus teria feito uma coisa inútil, o que é inadmissível. É preciso, portanto, considerar a mediunidade curadora como um modo especial e não como meio absoluto de cura; o fluido, como um novo agente terapêutico aplicável em certos casos, e vindo somar um novo recurso à Medicina; em consequência, a mediunidade curadora e a Medicina como devendo de agora em diante caminhar lado a lado, destinadas a se auxiliarem mutuamente, a se suplementarem e a se completarem uma pela outra. Eis por que se pode ser médico sem ser médium curador, e médium curador sem ser médico.

Então, por que esta faculdade hoje se desenvolve quase que exclusivamente nos ignorantes, em vez de desenvolver-se nos homens de ciência? Pela razão muito simples que, até agora, os homens de ciência a repelem. Quando a aceitarem, vê-laão desenvolver-se entre eles, como entre os outros. Aquele que hoje a possuísse iria proclamá-la? Não. Ele a ocultaria com o maior cuidado. Considerando-se que ela seria inútil em suas mãos, por que dar-lha? Seria o mesmo que dar um violino a um homem que não sabe e não quer tocar.

A este estado de coisas junta-se outro motivo capital. Dando aos ignorantes o dom de curar males que os sábios não podem curar, é para provar a estes que eles não sabem tudo, e que há leis naturais além das que a Ciência reconhece. Quanto maior for a distância entre a ignorância e o saber, mais evidente será o fato. Quando ela se produz naquele que nada sabe, é uma prova certa de que ali em nada participou o saber humano.

Mas como a Ciência não pode ser um atributo da matéria, o conhecimento do mal e dos remédios por intuição, assim como a faculdade de vidência, só podem ser atributos do Espírito. Elas provam no homem a existência do ser espiritual, dotado de percepções independentes dos órgãos corporais e muitas vezes de conhecimentos adquiridos anteriormente, numa precedente existência. Esses fenômenos, consequentemente, têm o propósito de ser úteis à Humanidade e ao mesmo tempo de provar a existência do princípio espiritual.


O Caid Hassan, curador de tripolitano ou a benção do sangue

O fato que segue, publicado no Tour du monde, páginas 74 e seguintes, é tirado dos Promenades dans la Tripolitaine, pelo Sr. Barão de Krafft.

“Muitas vezes tenho como guia e companheiro de passeio nas excursões fora da cidade, o cavas-bachi (chefe dos janízaros) do consulado da França, que o cônsul geral tem a gentileza de pôr à minha disposição. É um magnífico negro de Ouadaï, de seis pés de altura e que, a despeito da barba grisalha, conservou toda a vitalidade e toda a energia da mocidade. O caïd Hassan não é homem comum: durante dezoito anos, ao tempo dos Caramanlys, ele governou a tribo dos Ouerchéfâna e ninguém melhor que ele soube manter no freio essa gentalha inquieta. Valente até a temeridade, sempre defendeu os interesses de seus administrados contra as tribos vizinhas e, se necessário, contra o próprio governo; mas, ao mesmo tempo, os seus não mais podiam entregar-se aos seus caprichos e não brincavam com a severidade do caïd Hassan. Para ele, a vida de um homem era pouco mais preciosa que a de um carneiro, e certamente ficaria muito embaraçado se lhe perguntassem o número exato de cabeças que ele tinha feito cair com sua mão, tanto a sua consciência está tranquila a esse respeito. Excelente homem, aliás, completamente dedicado ao consulado ao qual ele serve há dez anos.

“Numa de nossas primeiras saídas, vi um grupo de cinco ou seis mulheres aproximar-se dele com um ar súplice. Duas entre elas tinham nos braços pobres criancinhas de peito, cujo rosto, cabeça e pescoço estavam cobertos por uma placa dartrosa e de crostas purulentas. Era horrível e desagradável de ver.

“─ Nosso pai, disseram as mães desoladas ao caïd Hassan, é o profeta de Deus que te traz perto de nossa casa, porque nós queríamos ir à cidade para te encontrar e há bem dez dias que esperávamos a ocasião. O djardoun (pequeno lagarto branco muito inofensivo) passou sobre o nosso seio e envenenou o nosso leite; vê o estado de teus filhos e cura-os para que Deus te abençoe.

“─ Então és médico? perguntei ao meu companheiro.

“─ Não, respondeu ele, mas tenho a bênção do sangue nas mãos, e quem quer que a tenha como eu, pode curar essa doença. É um dom natural de todo homem cujo braço cortou algumas cabeças. ─ Vamos, mulheres, dai o que é preciso.

“E logo uma das mães apresenta ao doutor uma galinha branca, sete ovos e três moedas de vinte paras; depois se agacha aos seus pés, elevando o pequeno paciente acima da cabeça. Gravemente Hassan tira da cintura o isqueiro e sua pederneira, como se quisesse acender um cachimbo. Bismillah! (Em nome de Deus!) diz ele, e se põe a fazer saltar numerosas centelhas de sílex sobre a criança doente, enquanto recitava o sourat-el-fatéha, o primeiro capítulo do Alcorão.

“Terminada a operação, chegou a vez do outro menino, mediante a mesma oferenda, e as mulheres partiram, contentes por haver beijado respeitosamente a mão que acabava de dar a saúde aos seus filhos.

“Parece que o meu rosto traía a minha incredulidade, porque o caïd Hassan, reunindo os honorários de sua cura maravilhosa, gritou às clientes: “Não deixeis de vir em sete dias me apresentar vossos filhos na skifa do consulado.” (A skifa é o vestíbulo externo, a sala de espera nas grandes casas).

“Com efeito, uma semana depois, as criaturinhas me foram mostradas. Uma estava completamente curada, a outra tinha apenas algumas cicatrizes de aparência muito satisfatória, indicando uma cura muito próxima. Fiquei estupefato, mas não convencido. Contudo, depois de mais de vinte experiências semelhantes, fui forçado a crer na incrível virtude das mãos abençoadas pelo sangue.”

Há criaturas que nem os fatos mais patentes podem convencer. Todavia, é preciso convir que, neste caso, é permitido logicamente não acreditar na eficácia da bênção do sangue, obtida sobretudo em tais condições, nem na das faíscas do isqueiro. Entretanto não deixa de existir o fato material da cura. Se ela não tem esta causa, deve ter uma outra; se vinte experiências semelhantes, do conhecimento do narrador, vieram confirmá-lo, essa causa não pode ser fortuita e deve provir de uma lei. Ora, essa lei não é senão a faculdade curadora de que aquele homem é dotado. Na sua ignorância do princípio, atribuía a faculdade ao que chamava a bênção do sangue, crença em relação com os costumes do país onde a vida de um homem nada vale. O isqueiro e as outras fórmulas são acessórios que só têm valor em sua imaginação, e que servem, sem dúvida, pela importância a elas atribuída, para lhe dar mais confiança em si próprio e, em consequência, para aumentar o seu poder fluídico.

Este fato levanta naturalmente uma questão de princípio em relação ao dom da faculdade de curar, à qual responde a comunicação seguinte, dada a respeito.

(Sociedade de Paris, 23 de fevereiro de 1867 - Médium, Sr. Desliens) Por vezes se admiram, com razão aparente, de encontrar em indivíduos indignos, faculdades notavelmente desenvolvidas, que aparentemente deveriam ser, de preferência, apanágio de homens virtuosos e desprovidos de preconceitos. Contudo, a história dos séculos passados apresenta, quase que a cada página, exemplos de mediunidade notáveis possuídas por Espíritos inferiores e impuros ou por fanáticos sem raciocínio! Qual pode ser o motivo de tal anomalia?

Entretanto aí nada há que possa causar admiração, e um estudo suficientemente sério e refletido do problema dará a sua chave.

Quando fenômenos excepcionais pertencentes à ordem extracorpórea são produzidos, o que acontece de fato? ─ É que individualidades encarnadas servem de órgãos de transmissão da manifestação. Elas são instrumentos movidos por uma vontade exterior. Ora, perguntariam a um simples instrumento o que se exigiria do artista que o põe em vibração?... Se é evidente que um bom piano é preferível a um defeituoso, não é menos certo que, num como no outro, distinguir-se-á a execução do artista da execução de um aprendiz. ─ Se, pois, o Espírito que intervém na cura encontra um bom instrumento, dele se servirá com boa vontade; se não, utilizará o que tiver à mão, por mais defeituoso que seja.

É preciso considerar, também, que no exercício da faculdade mediúnica, e em particular no exercício da mediunidade curadora, podem apresentar-se dois casos distintos: ou o médium pode ser curador por sua vontade, ou pode não ser senão o agente mais ou menos passivo de uma força motriz extracorpórea.

No primeiro caso, só poderá agir se suas virtudes e sua força moral lho permitirem. Será um exemplo na sua conduta privada ou pública, um modelo, um missionário que veio para servir de guia e de sinal de ligação para os homens de boa vontade. O Cristo é a personificação suprema do curador.

Quanto àquele que é apenas médium, sendo instrumento, ele pode ser mais ou menos defeituoso, e os atos que se operam por seu intermédio de modo algum o impedem de ser imperfeito, egoísta, orgulhoso e fanático. Membro da grande família humana, tanto quanto a maioria, ele partilha de todas as suas fraquezas.

“Lembrai-vos destas palavras de Jesus: “Não são os que têm saúde que precisam de médico.” Então, é preciso ver um sinal de bondade da Providência nessas faculdades que se desenvolvem em meios e em pessoas imperfeitas. É um meio de lhes dar a fé que mais cedo ou mais tarde conduzirá ao bem; se não for hoje, será amanhã; são sementes que não estão perdidas, porque vós, espíritas, sabeis que nada se perde para o Espírito.

Se não é raro, em naturezas moral e fisicamente mais abruptas, encontrar faculdades transcendentes, isto se deve a que essas individualidades, tendo pouca ou nenhuma vontade pessoal, limitam-se a deixar agir a influência que as dirige. Poderse-ia dizer que agem por instinto, ao passo que uma inteligência mais desenvolvida, querendo entender a causa que a põe em movimento, por vezes colocar-se-ia em condições que não permitiriam uma realização tão fácil dos desígnios providenciais.

Por mais bizarros e inexplicáveis que sejam os efeitos que se produzem aos vossos olhos, estudai-os atentamente, antes de considerar um só como infração às leis eternas do Mestre Supremo! Não há um só que não ateste a sua existência, a sua justiça e a sua sabedoria eternas, e se a aparência disser o contrário, crede que será apenas uma aparência que desaparecerá para dar lugar à realidade, com um estudo mais aprofundado das leis conhecidas e o conhecimento daquelas cuja descoberta está reservada ao futuro.

CLÉLIE DUPLANTIER.


O zuavo Jacob

Estando na ordem do dia a faculdade curadora, não é de admirar que a ela tenhamos consagrado a maior parte deste número. Seguramente estamos longe de haver esgotado o assunto, por isto a ele voltaremos.

Para apaziguar, inicialmente, as ideias de muitas pessoas interessadas na questão relativa ao Sr. Jacob, as quais nos escreveram ou poderiam escrever-nos a respeito, dizemos:

1º - Que as sessões do Sr. Jacob foram suspensas. Assim, seria inútil ir ao lugar onde se realizavam: Rua de la Roquette, 80, e que, até o presente, ele não as reabriu em parte alguma. O motivo foi o excessivo ajuntamento de pessoas, que dificultava a circulação numa rua muito frequentada, e num beco sem saída ocupado por grande número de industriais que se viam prejudicados em seus negócios e não podiam nem receber os seus fregueses, nem expedir as suas mercadorias. Neste momento o Sr. Jacob não faz sessões públicas, nem particulares.

2º - Tendo em vista a afluência, e devendo cada um esperar muito tempo a sua vez, aos que nos perguntaram ou, no futuro, nos viessem a perguntar se, conhecendo pessoalmente o Sr. Jacob, com uma recomendação nossa não poderiam conseguir um atendimento preferencial, diremos que jamais pedimos e não o pediríamos nunca, pois sabemos que seria inútil. Se atendimentos preferenciais tivessem sido concedidos, teriam sido em prejuízo dos que esperam, e isto não teria deixado de provocar justas reclamações. O Sr. Jacob não fez exceções para ninguém; o rico devia esperar como o infeliz, porque, obviamente, o infeliz sofre tanto quanto o rico; ele não tem, como este, o conforto como compensação e, além disso, muitas vezes espera a saúde para ter de que viver. Por isso felicitamos o Sr. Jacob, e se ele não tivesse agido assim, solicitando uma preferência, apenas teríamos feito uma coisa que nele teríamos censurado.

3º - Aos doentes que nos perguntaram, ou poderiam perguntar-nos se lhes aconselhamos fazer a viagem a Paris, dizemos: O Sr. Jacob não cura todo mundo, como ele mesmo declara; ele nunca sabe por antecipação se curará ou não um doente; é somente quando o doente está em sua presença que ele julga da ação fluídica e vê o resultado. Por isto nunca promete nada e nada responde. Aconselhar alguém a fazer a viagem a Paris, seria assumir uma responsabilidade sem certeza de sucesso. É, pois, um risco a correr. Se a pessoa não obtém resultado, fica com as despesas de viagem, ao passo que se gasta, por vezes, somas enormes em consultas sem mais resultado, se não fica curado, não pode dizer que pagou por um atendimento que só deu prejuízo.

4º - Aos que nos perguntam se, indenizando o Sr. Jacob de suas despesas de viagem, já que ele não aceita honorários, ele concordaria em vir a tal ou qual localidade para cuidar de um doente, respondemos: O Sr. Jacob não atende convites dessa natureza, pelas razões desenvolvidas acima. Não podendo previamente responder pelos resultados, consideraria uma indelicadeza induzir em despesas sem certeza, e, em casos sem êxito, seria dar asas à crítica.

5º - Aos que escrevem ao Sr. Jacob, ou nos mandam cartas para lhes serem enviadas, dizemos: O Sr. Jacob tem em casa um armário cheio de cartas que não lê, e ele não responde a ninguém. Com efeito, o que poderia ele dizer? Aliás, ele não cura por correspondência. Fazer frases? Não é o seu gênero. Dizer que tal doença é curável por intermédio dele? Ele não sabe. Pelo fato de ter curado uma pessoa de tal doença, não se segue que cure a mesma doença em outras pessoas, porque as condições fluídicas não são mais as mesmas. Indicar um tratamento? Ele não é médico, e evitaria fornecer esta arma contra si.

Escrever a ele, portanto, é trabalho inútil. A única coisa a fazer, caso ele reabrisse as sessões, que erram classificando de consultas, pois não o consultam, é apresentar-se em primeiro lugar, entrar na fila, esperar pacientemente e arriscar a chance. Se não ficar curado, não pode queixar-se de ter sido enganado, porque ele nada promete.

Há fontes que têm a propriedade de curar certas moléstias. As pessoas vão lá. Uns se sentem bem, outros apenas são aliviados e outros, enfim, não melhoram absolutamente nada. É preciso considerar que o Sr. Jacob é como uma fonte de fluidos salutares a cuja influência vão submeter-se, mas que, não sendo uma panaceia universal, não cura todos os males e pode ser mais ou menos eficaz, conforme as condições do doente.

Mas, enfim, houve curas? Um fato responde a esta pergunta: Se ninguém tivesse sido curado, a multidão não teria ido para lá, como fez.

Mas uma multidão crédula não pode ter sido enganada por falsas aparências e ir até lá com fé numa reputação usurpada? Comparsas não podem ter simulado doenças para parecerem curados?

Isto sem dúvida já se viu e se vê todos os dias, quando comparsas têm interesse em representar uma comédia. Ora, aqui, que proveito teriam tirado? Quem os teria pago? Certamente não é o Sr. Jacob, com o seu soldo de músico zuavo; também não é lhes pagando tanto por consulta, porque ele nada recebia. Compreende-se que aquele que quer criar uma clientela a qualquer preço empregue semelhantes meios, mas o Sr. Jacob não tinha qualquer interesse em atrair a si a multidão; ele não a chamou; foi ela que veio a ele e, pode dizer-se, malgrado seu. Se não tivesse havido os fatos, ninguém teria vindo, pois ele não chamava ninguém. Sem dúvida os jornais contribuíram para aumentar o número de visitantes, mas eles só falaram porque já existia a multidão, sem o que nada teriam dito, pois o Sr. Jacob não lhes tinha pedido que falassem dele, nem pago para fazerem propaganda. É preciso, portanto, descartar toda ideia de subterfúgios, que não teriam nenhuma razão de ser, na circunstância de que se trata.

Para apreciar os atos de um indivíduo, há que procurar o interesse que pode movê-lo na sua maneira de agir. Ora, está constatado que não havia nenhum da parte do Sr. Jacob; que também não havia interesse para o Sr. Dufayet, que cedia seu local gratuitamente e punha seus operários ao serviço dos doentes, para subir os enfermos, e isto em prejuízo de seus próprios interesses; enfim, que comparsas nada tinham a ganhar.

Considerando-se que as curas operadas pelo Sr. Jacob nestes últimos tempos são do mesmo gênero das obtidas o ano passado, no campo de Châlons, e tendo os fatos sucedido mais ou menos da mesma maneira, apenas em maior escala, remetemos os leitores aos relatos e apreciações que demos na Revista de outubro e novembro de 1866. Quanto aos incidentes particulares deste ano, apenas poderíamos repetir o que todos souberam pelos jornais. Assim, quanto ao presente, restringirnos-emos a algumas considerações gerais sobre o fato em si mesmo.

Há cerca de dois anos os Espíritos nos haviam anunciado que a mediunidade curadora tomaria grandes desenvolvimentos e seria um poderoso meio de propagação para o Espiritismo. Até então não tinha havido senão curadores operando, por assim dizer, na intimidade e sem alarde. Dissemos aos Espíritos que, para que a propagação fosse mais rápida, era preciso que surgissem médiuns suficientemente poderosos para que as curas tivessem repercussão no público. ─ Isto acontecerá, foi a resposta, e haverá mais de um.

Essa previsão teve um começo de realização o ano passado, no campo de Châlons, e Deus sabe se este ano faltou repercussão às curas da Rua de la Roquette, não só na França, mas no estrangeiro.

A emoção geral que estes fatos causaram é justificada pela importância das perguntas que eles determinam. Não há por que se equivocar, porquanto aqui não está um desses acontecimentos de simples curiosidade, que por um momento apaixonam a multidão ávida de novidades e distrações. A gente não se distrai com o espetáculo das misérias humanas; a visão desses milhares de doentes correndo em busca da saúde que não podem encontrar nos recursos da Ciência, nada tem de prazenteiro e conduz a sérias reflexões.

Sim, há aqui algo além de um fenômeno vulgar. Sem dúvida admiram-se das curas obtidas em condições tão excepcionais que chegam às raias do prodígio, mas o que impressiona mais ainda que o fato material, é que aí pressentem a revelação de um princípio novo, cujas consequências são incalculáveis, de uma dessas leis por tanto tempo ocultas no santuário da Natureza, que, à sua aparição, mudam o curso das ideias e modificam profundamente as crenças.

Diz uma secreta intuição que se os fatos em questão são reais, é mais que uma mudança nos hábitos, mais que um deslocamento de indústria: é um elemento novo introduzido na Sociedade, uma nova ordem de ideias que se estabelece.

Embora os acontecimentos do campo de Châlons tenham preparado para o que acaba de se passar, em consequência da inatividade do Sr. Jacob durante um ano, eles quase tinham sido esquecidos; a emoção se havia acalmado, quando, de repente, os mesmos fatos explodem no seio da capital e de súbito tomam proporções incríveis. As pessoas, por assim dizer, despertaram, como no dia seguinte a uma revolução, e abordavam-se umas às outras perguntando: Sabeis o que está acontecendo na Rua de la Roquette? Tendes novidades? Passavam aos jornais, como se se tratasse de um grande acontecimento. Em quarenta e oito horas a França inteira ficou sabendo.

Há nesta instantaneidade algo de notável e de mais importante do que se pensa.

A impressão do primeiro momento foi de estupor: ninguém riu. A própria imprensa trocista simplesmente relatou os fatos e os boatos sem comentários. Diariamente ela dava o boletim, sem se pronunciar nem pró nem contra, e foi possível notar que a maioria dos artigos não tinham o tom de troças; eles exprimiam a dúvida, a incerteza quanto à realidade de fatos tão estranhos, mas inclinando-se mais para a afirmação do que para a negação. É que o assunto, por si mesmo, era sério; tratava-se do sofrimento, e o sofrimento tem algo de sagrado que impõe respeito; em semelhantes casos, a troça estaria deslocada e seria universalmente reprovada. Jamais se viu a veia trocista exercer-se na frente de um hospital, mesmo de loucos, ou de um comboio de feridos. Homens de coração e de senso não podiam deixar de compreender que, numa coisa que se refere uma questão de humanidade, a zombaria teria ficado deslocada, porque teria sido um insulto à dor. Também é com um sentimento penoso e uma espécie de desgosto que hoje se vê o espetáculo desses infelizes doentes reproduzido grotescamente nos palcos e traduzido em canções burlescas. Admitindo de sua parte uma credulidade pueril e uma esperança mal fundamentada, não é uma razão para faltar ao respeito que se deve ao sofrimento.

Em presença de tal repercussão, a denegação absoluta era difícil. A dúvida só é permitida àquele que não sabe ou que não viu. Entre os incrédulos de boa-fé e por ignorância, muitos compreenderam que seria imprudência prematuramente inscrever-se em falso contra fatos que um dia ou outro poderiam receber uma consagração e lhes dar um desmentido. Assim, pois, sem nada negar nem afirmar, a imprensa geralmente limitou-se a consignar o estado das coisas, deixando à experiência o cuidado de confirmá-las ou desmenti-las, e sobretudo explicá-las. Era a decisão mais prudente.

Passado o primeiro momento de surpresa, os adversários obstinados de toda coisa nova que contraria as suas ideias, por um instante atordoados pela violência da irrupção, tomaram coragem, sobretudo quando viram que o zuavo era paciente e de humor pacífico. Começaram o ataque e desfecharam contra ele uma carga de fundo, com as armas habituais dos que não têm boas razões para opor: a troça e a calúnia exacerbada. Mas a sua polêmica acrimoniosa desencadeia a cólera e um embaraço evidente, e seus argumentos, que na maior parte assentam em falso e sobre alegações notoriamente inexatas, não são daqueles que convencem, porque se refutam por si mesmos.

Seja como for, não se trata aqui de uma questão de pessoa. Que o Sr. Jacob sucumba na luta, ou não, é uma questão de princípios que está em jogo, que é colocada com uma imensa repercussão, e que seguirá o seu curso. Ela traz à memória inumeráveis fatos do mesmo gênero que a história menciona, e que se multiplicam em nossos dias. Se é uma verdade, ela não está encarnada num homem, e nada poderia asfixiá-la; a própria violência dos ataques prova que temem que seja uma verdade.

Nesta circunstância, os que testemunham menos surpresa e menos se emocionam são os espíritas, porque essa espécie de fatos nada têm de que eles não se deem conta perfeitamente. Conhecendo a causa, eles não se admiram dos efeitos.

Quanto àqueles que não conhecem nem a causa do fenômeno nem a lei que os rege, naturalmente se perguntam se é uma ilusão ou uma realidade; se o Sr. Jacob é um charlatão; se ele realmente cura todas as moléstias; se ele é dotado de um poder sobrenatural e de quem ele o haure; se voltamos aos tempos dos milagres. Vendo a multidão que o cerca e o segue, como outrora a que seguia Jesus na Galileia, alguns chegam a perguntar se ele são seria o Cristo reencarnado, ao passo que outros pretendem que sua faculdade seja um presente do diabo.

Há muito tempo todas estas questões estão resolvidas para os espíritas, que têm a sua solução nos princípios da Doutrina. Não obstante, como daí podem sair vários ensinamentos importantes, nós os examinaremos num próximo artigo, no qual igualmente destacaremos a inconsequência de certas críticas.




Dissertações espíritas

Conselhos sobre a mediunidade curadora

I

(Paris, 12 de março de 1867. Grupo Desliens - Médium: Sr. Desliens)

Como já vos foi dito muitas vezes nas diferentes instruções, a mediunidade curadora, conjuntamente com a faculdade de vidência, é chamada a desempenhar um grande papel no período atual da revelação. São os dois agentes que cooperam com a maior força na regeneração da Humanidade e para a fusão de todas as crenças numa crença única, tolerante, progressiva, universal.

Quando, recentemente, me comuniquei numa reunião da Sociedade, onde me haviam evocado, eu disse e repito que todo mundo possui em maior ou menor grau a faculdade curadora, e se cada um quisesse consagrar-se seriamente ao estudo dessa faculdade, muitos médiuns que se ignoram poderiam prestar úteis serviços a seus irmãos em humanidade. Nessa oportunidade o tempo não me permitiu desenvolver todo o meu pensamento a esse respeito. Aproveitarei o vosso apelo para fazê-lo hoje.

Em geral, aqueles que buscam a faculdade curadora têm como único desejo o restabelecimento da saúde material, de obter a liberdade de ação de tal órgão, impedido nas suas funções por uma causa material qualquer. Mas, sabei-o bem, é o menor dos serviços que esta faculdade está chamada a prestar, e só a conheceis em suas primícias e de maneira inteiramente rudimentar, se lhe conferis esse único papel... Não, a faculdade curadora tem missão mais nobre e mais extensa!... Se ela pode dar aos corpos o vigor da saúde, também deve dar às almas toda a pureza de que são susceptíveis, e é somente neste caso que poderá ser chamada curativa, no sentido absoluto da palavra.

Muitas vezes vos disseram, e vossos instrutores nunca se cansariam de repetir, que o efeito material aparente, o sofrimento, tem quase constantemente uma causa mórbida imaterial, residindo no estado moral do Espírito. Se, pois, o médium curador ataca os males do corpo, só ataca o efeito, e a causa primeira do mal continuando, o efeito pode reproduzir-se, quer sob a forma primordial, quer sob qualquer outra aparência. Muitas vezes aí está uma das razões pelas quais tal doença, subitamente curada pela influência de um médium, reaparece com todos os seus acidentes, desde que a influência benéfica se afaste, porque não resta nada, absolutamente nada para combater a causa mórbida.

Para evitar essas recidivas, é necessário que o remédio espiritual ataque o mal em sua base, como o fluido material o destrói em seus efeitos; numa palavra, é preciso tratar, ao mesmo tempo, o corpo e a alma.

Para ser bom médium curador, não só é preciso que o corpo esteja apto a servir de canal aos fluidos materiais reparadores, mas é preciso, ainda, que o Espírito possua uma força moral que ele não pode adquirir senão por seu próprio melhoramento. Para ser médium curador, portanto, é preciso preparar-se, não só pela prece, mas pela depuração de sua alma, a fim de tratar fisicamente do corpo pelos meios físicos e de influenciar a alma pela força moral.

Uma última reflexão. Aconselham-vos a procurar de preferência os pobres que não têm outros recursos além da caridade do hospital. Não estou inteiramente de acordo com este conselho. Jesus dizia que o médico tem por missão cuidar dos doentes e não dos que estão com saúde. Lembrai-vos que na questão de saúde moral há doentes por toda parte, e que o dever do médico é ir a todos os lugares onde o seu socorro é necessário.

Abade Príncipe DE HOHENLOHE.


Conselhos sobre a mediunidade curadora

II

(Sociedade de Paris, 15 de março de 1867 - Médium: Sr. Desliens)

Numa comunicação recente, eu falava da mediunidade curadora, de um ponto de vista mais amplo do que o que até aqui foi considerado, e a fazia consistir antes no tratamento moral que no tratamento físico dos doentes ou, pelo menos, reunia esses dois tratamentos em um só. Pedirei me permitais dizer algumas palavras a esse respeito.

O sofrimento, a doença, a própria morte, nas condições sob as quais as conheceis, não são mais especialmente o quinhão dos mundos habitados por Espíritos inferiores ou pouco adiantados? O desenvolvimento moral não tem por objetivo principal conduzir a Humanidade à felicidade, fazendo-a adquirir conhecimentos mais completos, desembaraçando-a das imperfeições de toda natureza, que retardam sua marcha ascensional para o infinito? Ora, melhorando o Espírito dos doentes, ele não os põe em melhores condições para suportar seus sofrimentos físicos? Combatendo os vícios, as más inclinações, que são a fonte de quase todas as desorganizações físicas, não se põem essas desorganizações na impossibilidade de se reproduzirem? Destruindo a causa, necessariamente se impede o efeito de manifestar-se novamente.

A mediunidade curadora pode, portanto, comportar duas formas, e essa faculdade não estará em seu apogeu, naqueles que a possuem, senão quando eles reunirem em si essas duas maneiras de ser. Ela pode compreender unicamente o alívio material dos doentes, e então se dirige aos encarnados; ela pode compreender a melhora moral dos indivíduos e, neste caso, se dirige tanto aos Espíritos quanto aos homens; ela pode compreender, enfim, tanto o melhoramento moral quanto o alívio material e, neste caso, tanto a causa quanto o efeito poderão ser combatidos vitoriosamente. O tratamento dos Espíritos obsessores é, com efeito, alguma coisa além de uma espécie de influência semelhante à mediunidade curadora exercida de comum acordo por médiuns e Espíritos sobre uma personalidade desencarnada?

A mediunidade curadora abarca, portanto, ao mesmo tempo, a saúde moral e a saúde física, o mundo dos encarnados e o mundo dos Espíritos.

Abade Príncipe DE HOHENLOHE.


Conselhos sobre a mediunidade curadora

III

(Paris, 24 de março de 1867 - Médium: Sr. Rul)

Venho continuar a instrução que dei a um médium da Sociedade. Por que duvidáveis que tivesse vindo ao vosso apelo? Não sabeis que um bom Espírito se sente sempre feliz por ajudar os seus irmãos da Terra na via do melhoramento e do progresso?

Hoje sabeis o que eu disse do vasto papel reservado à mediunidade curadora; sabeis que, conforme o estado de vossa alma e as aptidões do vosso organismo, podeis, se Deus vo-lo permitir, tanto curar as dores físicas quanto os sofrimentos morais, ou ambos. Duvidais de vossa capacidade de fazer uma ou outra coisa, porque conheceis as vossas imperfeições, mas Deus não pede a perfeição, a pureza absoluta dos homens da Terra. Sob esse ponto de vista, ninguém entre vós seria digno de ser médium curador. Deus pede que vos melhoreis, que façais esforços constantes para vos purificardes e leva em conta a vossa boa vontade.

Considerando-se que desejais seriamente aliviar os vossos irmãos que sofrem física e moralmente, tende confiança e esperai que o Senhor vos conceda esse favor. No entanto, repito, não sejais exclusivistas na escolha dos vossos doentes. Todos, sejam quem forem, ricos ou pobres, crentes ou incrédulos, bons ou maus, todos têm direito ao vosso socorro. Acaso o Senhor priva os maus do benéfico calor do sol que aquece, que reanima, que vivifica? Acaso a luz é recusada a quem quer que não se prosterne ante a bondade do Todo-Poderoso? Curai, pois, quem quer que sofra, e aproveitai o bem que proporcionastes ao corpo para purificar a alma ainda mais sofredora e para ensiná-la a orar. Não vos magoeis pelas negações que encontrardes; fazei sempre a vossa obra de caridade e de amor e não duvideis que o bem, embora adiado para uns, jamais ficará perdido. Melhorai-vos pela prece, pelo amor ao Senhor e aos vossos irmãos, e não duvideis que o Todo-Poderoso não vos dê ocasiões frequentes de exercer vossa faculdade mediúnica. Ficai felizes quando, após a cura, vossa mão apertar a do vosso irmão reconhecido e ambos, prosternados aos pés de vosso Pai celeste, orardes juntos para agradecer-lhe e adorá-lo. Ficai mais felizes ainda quando, acolhidos pela ingratidão, depois de haverdes curado o corpo, impotentes para curar a alma endurecida, elevardes o vosso pensamento ao Criador, porque vossa prece será a primeira centelha destinada a acender mais tarde o facho que brilhará aos olhos do vosso irmão curado de sua cegueira, e vós vos direis que quanto mais um doente sofre, mais cuidados lhe deve dar o médico.

Coragem, irmãos, esperai e aguardai que os bons Espíritos que vos dirigem, vos inspirem quando devereis começar, junto aos vossos irmãos que sofrem, a aplicação de vossa nova faculdade mediúnica. Até lá orai, progredi pela caridade moral, pela influência do exemplo, e não deixeis jamais fugir a menor ocasião de esclarecer os vossos irmãos. Deus vela sobre cada um de vós, e aquele que hoje é o mais incrédulo, poderá amanhã ser o mais fervoroso e o mais crente.

Abade Príncipe DE HOHENLOHE


Os adeuses

(Sociedade de Paris, 16 de agosto de 1867 - Médium: Sr. Morin, em sonambulismo espontâneo)

NOTA: Entre as comunicações obtidas na última sessão da Sociedade, antes das férias, esta apresenta um caráter particular, que foge da forma habitual. Vários Espíritos, daqueles que são assíduos às sessões e por vezes se manifestam, vieram sucessivamente dirigir algumas palavras aos membros da Sociedade antes de sua separação, por meio de Sr. Morin, em sonambulismo espontâneo. Era como um grupo de amigos vindo despedir-se e dar testemunho de simpatia, no momento da partida. A cada interlocutor que se apresentava, o intérprete mudava de tom, de atitude, de expressão, de fisionomia, e pela linguagem reconhecíamos o Espírito que falava, antes que fosse nomeado. Era bem ele que falava, servindo-se dos órgãos de um encarnado, e não o seu pensamento traduzido, mais ou menos fielmente, ao passar por um intermediário. Assim, a identidade era patente e, salvo a semelhança física, tínhamos diante de nós o Espírito, como em sua vida. Depois de cada alocução, o médium ficava absorto durante alguns minutos; era o tempo de substituição de um Espírito por outro; depois, voltando a si pouco a pouco, ele retomava a palavra num outro tom. O primeiro que se apresentou foi o nosso antigo colega Leclerc, falecido em dezembro do ano passado.

.....................................

Alguns de vossos irmãos que partiram vêm aproveitar a ocasião para vos manifestar sua simpatia, no momento de vossa separação.

A morte nada é, quando tem como resultado fazer nascer uma vida muito maior, muito mais larga, muito mais útil que a vida humana!... O atordoamento sobrevém, segue-se um esgotamento (alusão à maneira pela qual ele morreu) e ergome mais livre e feliz ao entrar neste mundo invisível que minha alma havia pressentido, que todo o meu ser desejava!... Livre!... planar no espaço!... Eu vi, eu observei, e minha alegria delirante só era limitada pelo exagerado pesar dos meus pela ausência de minha personalidade material. Mas hoje, que lhes pude provar a minha existência, que lhes demonstrei que se meu corpo não mais estava lá, meu Espírito lá estava mais presente ainda, e que hoje eu sou feliz, muito feliz, porque o que não pude fazer como encarnado, pude obter no estado de espiritualidade. Hoje sou útil, muito útil, e graças à simpática afeição daqueles que me conheceram, minha utilidade é mais eficaz.

Como é bom poder servir aos irmãos e assim ser útil à Humanidade inteira! Como é bom, como é doce para a alma poder fazer participar a Humanidade do pouco saber que se adquiriu pelo sofrimento! Eu que, outrora aprisionado neste corpo obtuso, hoje sou grande, e se não fosse o medo do vosso ridículo, eu me admiraria; porque, vede, ser bom é fazer parte de Deus; e esta bondade, eu a possuía? Oh! Respondei-me; vosso testemunho será uma felicidade a mais, acrescentada à felicidade de que desfruto. Mas, por que necessito de vossas palavras? Não posso ler nos vossos corações e ver os vossos sentimentos mais íntimos? Hoje, graças à minha desmaterialização, não posso ver os vossos mais secretos pensamentos?

Oh! Deus é grande, e sua bondade é sublime! Meus amigos, inclinai-vos, como eu, diante de sua majestade; trabalhai pela realização de seus desígnios, fazendo mais e melhor do que eu mesmo pude fazer.

LECLERC.

Para a alma que aspira à liberdade, como é longo o tempo na Terra, e como se faz esperar o momento tão sonhado! Mas, também, uma vez rompido o laço, com que rapidez o Espírito corre e voa para o reino celeste, que em vida via em sonhos e ao qual aspirava sem cessar! O belo, o infinito, o impalpável, todos os mais puros sentimentos, eis o apanágio dos que desprezam os tesouros humanos, querendo avançar no caminho reto do bem, da caridade e do dever. Tenho minha recompensa e sou muito feliz, porque agora não mais espero visitas daqueles que me são caros; agora não há mais limites para a minha visão, e esse sofrimento, esse longo emagrecimento do corpo terminou; sou alegre, contente, cheia de vivacidade. Não espero mais visitantes, eu vou visitá-los.

ERNESTINE DOZON.

São muito felizes os que hoje podem vir sem acanhamento ao vosso meio, comunicar-vos a sua alegria, o seu prazer ao entrar aqui! Mas eu, que tomei o caminho dos covardes, para evitar caminho batido; eu, que entrei de surpresa num mundo que não me era desconhecido; eu, que quebrei a porta da prisão, em vez de esperar que ela me fosse largamente aberta, é em razão dessa mesma vergonha que me cobre o rosto que venho a esta mesa, porque aqui encontro o meio de vos dizer: Obrigado por vosso perdão sincero, obrigado por vossas preces, pelo interesse que me prodigalizastes e que abreviaram os meus sofrimentos! Obrigado, também, pelos vossos pensamentos em relação ao futuro que vejo germinarem em vossos corações, pela coletividade fraterna de vossas simpatias de que me beneficiarei!

Hoje, o clarão apenas entrevisto tornou-se um luminoso farol, com os raios largos e brilhantes; de agora em diante vejo a estrada, e se vossas preces me sustentarem, como o pressinto, se minha humildade e meu arrependimento não se desmentirem, podeis contar com um viajante a mais na larga estrada que se chama o bem.

D.

Eu fali... Eu pequei... Pequei muito!... Entretanto, se Deus coloca no cérebro de um homem uma inteligência, e ao lado põe desejos a saciar, inclinações impossíveis de superar, por que ele faria o Espírito suportar as consequências desses obstáculos que não pôde vencer?... Mas eu me perco, blasfemo!... porque se ele me havia dado uma inteligência, era o instrumento com a ajuda do qual eu podia vencer os obstáculos... Quanto maior era essa inteligência, menos escusável sou...

Minha própria inteligência, sobretudo minha presunção, me levaram a perderme... Sofri moralmente todas as minhas decepções, muito mais que fisicamente, o que não diz pouco!... Fazendo-vos estas confissões, sofro o passado e todos os sofrimentos dos meus, que vêm aumentar a bagagem dos males que já me esmagam... Oh! Orai por mim! Hoje é um dia de indulgência. Então! Eu reclamo a vossa. Que me perdoem aqueles a quem ofendi e desconheci!

X.

Espectador invisível, há algum tempo assisto aos vossos estudos com uma felicidade muito grande! Vossos trabalhos absorvem ainda mais as minhas faculdades do que quando eu era vivo. Eu vejo, observo, estudo, e hoje que minhas fibras cerebrais não são mais obstruídas pela matéria, abri os meus olhos espirituais e posso ver os fluidos que em vão tinha procurado perceber em vida.

Pois bem! Se pudésseis ver esse imenso feixe, esse emaranhado fluídico, vossos raios visuais de tal modo seriam aniquilados que só perceberíeis trevas. Eu vejo, sinto, ressinto!... e nessas moléculas fluídicas, átomos impalpáveis, distingo as diferentes forças propulsoras; analiso-as, delas formo um todo que emprego ainda em benefício dos pobres corpos sofredores; reúno, aglomero os fluidos simpáticos, e vou simplesmente, gratuitamente, despejá-los sobre aqueles que deles necessitam.

Ah! O estudo dos fluidos é uma bela coisa! E vós compreenderíeis quanto todos esses mistérios são preciosos para mim se, como eu, em vão tivésseis consagrado toda a existência para compreendê-los. Graças ao Espiritismo, o aparente caos desses conhecimentos foi posto em ordem. O Espiritismo distinguiu o que é do domínio físico do que pertence ao mundo espiritual; ele reconheceu duas partes bem distintas no magnetismo; ele tornou seus efeitos fáceis de reconhecer, e Deus sabe o que o futuro lhe reserva!

Mas eu me apercebo que absorvo todo o vosso tempo em meu beneficio, ao passo que outros Espíritos também vos desejam falar. Voltarei pela escrita, para continuar a vos desenvolver minhas ideias sobre estes estudos com os quais, em vida, tanto gostava de me ocupar.

E. QUINEMANT.

Meus caros filhos, o ano social espírita foi fecundo para os vossos estudos, e com prazer venho testemunhar toda a minha satisfação. Muitos fatos foram analisados, muitos coisas incompreendidas foram elucidadas e tocastes em certas questões que não tardarão a ser admitidas em princípio. Eu estou, ou melhor, nós estamos satisfeitos.

A despeito de todo o ardor até aqui empregado, em vosso meio e por vossos inimigos, contra as vossas boas intenções, vossa falange foi a mais forte, e se o mal fez algumas vítimas, é que a lepra já existia nelas, entretanto, a chaga já cicatriza; entram os bons, e os maus se vão, e para os maus que ficam em vosso meio, mais tarde o remorso será terrível, porque eles juntam aos seus defeitos os da hipocrisia. Mas aqueles que são sinceros, aqueles que hoje se juntam a vós, aqueles que trazem o seu devotamento à verdade e o desejo de transmiti-la a todos, esses, eu vos digo, meus filhos, serão bem-aventurados, porque levarão a felicidade não só para si, mas para todos aqueles que os escutam. Olhai em vossas fileiras e vereis que os vazios criados pelas defecções são bem depressa cobertos com vantagem por novas individualidades, e essas desfrutarão dos benefícios que serão o apanágio da geração futura.

Ide, meus filhos! Vossos estudos são ainda muito elementares; mas cada dia traz os meios de aprofundar mais, e para isto, novos instrumentos virão juntar-se aos que já tendes. Tereis instruções mais extensas, e isto para maior glória de Deus e para maior bem-estar da Humanidade.

Há entre vós vários desses instrumentos que tomarão lugar à vossa mesa, na reabertura. Eles ainda não ousam declarar-se, mas encorajai-os, trazei para o vosso lado os tímidos e os orgulhosos que julgam fazer melhor que os outros, e então veremos se os tímidos têm medo e se os orgulhosos não terão que reprimir as suas pretensões.

SÃO LUÍS.

A epidemia que vem dizimar o mundo em certos momentos, e que convencionastes chamar de cólera, fere de novo e por redobrados golpes a Humanidade. Seus efeitos são prontos e sua ação rápida. Sem nenhum aviso, o homem passa da vida à morte, e aqueles que são mais privilegiados, poupados por sua mão fulminante, ficam estupefatos, trêmulos, ante as espantosas consequências de um mal desconhecido em suas causas, e cujo remédio se ignora completamente.

Nesses tristes momentos, o medo se apodera dos que não veem senão a ação da morte, sem pensar no além, e que, só por este fato, mais facilmente oferecem o flanco ao mal. Mas como a hora de cada um de nós está marcada, é preciso partir, apesar de tudo, se ela tiver soado. A hora está marcada para bom número de habitantes do universo terrestre, que dele partem todos os dias; pouco a pouco o flagelo se espalha e vai estender-se sobre toda a superfície do globo.

Este mal é desconhecido, e talvez o seja mais ainda hoje, porque, à sua constituição própria, juntam-se diariamente outros elementos que confundem o saber humano e impedem de achar o remédio necessário para deter a sua marcha. Então os homens, malgrado a sua ciência, devem sofrer as suas consequências, e esse flagelo destruidor é muito simplesmente um dos meios para ativar a renovação da Humanidade, que deve realizar-se.

Mas não vos inquieteis; para vós, espíritas, que sabeis que morrer é renascer, se fordes atingidos e partirdes, não ireis à felicidade? Se, ao contrário, fordes poupados, agradecei a Deus, que assim vos permitirá aumentar a soma dos vossos sofrimentos e pagar mais pela prova.

De um lado como de outro, quer a morte vos fira, quer vos poupe, só tendes a ganhar, ou então não vos digais espíritas.

Doutor DEMEURE.

Isto é para ele (o médium fala de si mesmo na terceira pessoa). ─ Vede, disseram-vos que viria um momento em que ele poderia ver, ouvir e repousar, por sua vez. Ora! Esse momento chegou, para vós e não para os outros; na reabertura ele não adormecerá mais, salvo nalguns casos excepcionais, nos quais a sua utilidade se fizer sentir; neste momento ele lamenta, mas, daqui a pouco, quando ele despertar e souber disso, ficará muito contente... o egoísta!... Entretanto, ele ainda tem muito a fazer. Daqui até lá, ele dormirá. Raramente felicitará e fustigará muitas vezes: é a sua tarefa. Orai para que ela lhe seja fácil; para que sua palavra leve a paz, a consolação e a conciliação onde elas forem necessárias. Ajudai-o com o vosso pensamento. Quando voltar, ele colocará toda a sua boa vontade em vos ajudar e o fará de todo o coração. Mas sustentai-o, pois ele necessita muito. Aliás, as circunstâncias excepcionais em que irá dormir, talvez e infelizmente não serão muitas vezes motivadas. Enfim, dizei como ele: Que a vontade de Deus seja feita!

MORIN.

ALLAN KARDEC.



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