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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867 > Março > Dissertações espíritas
Dissertações espíritas
Comunicação coletiva.
(Sociedade de Paris, 1 de novembro de 1866 — Médium: Sr. Bertrand.)
(Sociedade de Paris, 1 de novembro de 1866 — Médium: Sr. Bertrand.)
A 1.º de novembro último, estando reunida, como de hábito, para a comemoração dos mortos, a Sociedade recebeu muitas comunicações, entre as quais uma sobretudo se distinguia por sua feitura inteiramente nova, e que consiste numa série de pensamentos soltos, cada um assinado por um nome diferente, que se encadeiam e se completam uns pelos outros. Eis essa comunicação:
Meus amigos, quantos Espíritos em torno de vós, que queriam comunicar-se e dizer quanto vos amam! E como seríeis felizes se o nome de todos os que vos são caros fosse pronunciado à mesa dos médiuns! Que felicidade! Que alegria para cada um de vós, se vosso pai, vossa mãe, vosso irmão, vossa irmã, vossos filhos e vossos amigos vos viessem falar! Mas compreendeis que é impossível sejais todos satisfeitos, pois o número de médiuns não seria suficiente. Mas o que não é impossível é que um Espírito, em nome de todos os vossos parentes, venha dizer-vos: Obrigado por vossa boa lembrança e vossas fervorosas preces. Coragem! Tende esperança de que um dia, depois da vossa libertação, viremos todos estender-vos a mão. Ficai persuadidos de que o que vos ensina o Espiritismo é o eco das leis do Onipotente; pelo amor, tornai-vos todos irmãos, e aliviareis o fardo pesado que carregais.
Agora, caros amigos, todos os vossos Espíritos protetores virão trazer-vos o seu pensamento. Tu, médium, escuta e deixa o lápis correr seguindo a ideia deles.
A medicina faz o que fazem os caranguejos espantados.
Dr. Demeure.
Porque o magnetismo progride, e progredindo esmaga a medicina atual, para substituí-la em futuro próximo.
Mesmer.
A guerra é um duelo que só cessará quando os combatentes tiverem forças iguais.
Napoleão.
Forças iguais material e moralmente.
General Bertrand.
A igualdade moral reinará quando o orgulho for destituído.
General Brune.
As revoluções são abusos que destroem outros abusos.
Luís XVI.
Mas esses abusos fazem nascer a liberdade.
(Sem nome.)
Para serem iguais é preciso ser irmãos; sem fraternidade, nenhuma igualdade e nenhuma liberdade.
Lafayette.
A ciência é o progresso da inteligência.
Newton.
Mas, o que lhe é preferível, é o progresso moral.
Jean Reynaud.
A ciência ficará estacionária até que a moral a tenha atingido.
François Arago.
Para desenvolver a moral é antes preciso erradicar o vício.
Béranger.
Para erradicar o vício é preciso desmascará-lo.
Eugène Sue.
É isto o que todos os Espíritos fortes e superiores procuram fazer.
Jacques Arago.
Três coisas devem progredir: a música, a poesia e a pintura. A música transporta a alma ferindo o ouvido.
Meyerbeer.
A poesia transporta a alma abrindo o coração.
Casimir Delavigne.
A pintura transporta a alma acariciando os olhos.
Flandrin.
Então a poesia, a música e a pintura são irmãs e se dão as mãos; uma para abrandar o coração, outra para suavizar os costumes e a última, para abrir a alma; as três para vos elevar ao Criador.
Alfred de Musset.
Mas nada, nada deve progredir mais, no momento, do que a Filosofia; ela deve dar um passo imenso, deixando estacionar a Ciência e as Artes, mas para elevá-las tão alto, quando chegar o momento, pois essa elevação seria muito súbita para vós hoje.
Em nome de todos,
São Luís.
São Luís.
A 6 de dezembro, o Sr. Bertrand recebeu, no grupo do Sr. Desliens, uma comunicação do mesmo gênero, que de certo modo é continuação da precedente:
O amor é uma lira cujas vibrações são acordes divinos.
O amor é uma lira cujas vibrações são acordes divinos.
Heloísa.
O amor tem três cordas em sua lira: a emanação divina, a poesia e o canto; se uma delas falta, os acordes são imperfeitos.
Abelardo.
O amor verdadeiro é harmonioso; suas harmonias embriagam o coração, elevando a alma. A paixão afoga os acordes, rebaixando a alma.
Bernardin de Saint-Pierre.
Era o amor que Diógenes procurava, procurando um homem. . . que veio séculos depois, e que o ódio, o orgulho e a hipocrisia crucificaram.
Sócrates.
Os sábios da Grécia por vezes o foram mais nos escritos e nas palavras que em sua pessoa.
Platão.
Ser sábio é amar; procuremos então o amor pela senda da sabedoria.
Fénelon.
Não podeis ser sábios se não vos souberdes elevar acima da maldade dos homens.
Voltaire.
Sábio é aquele que não acredita sê-lo.
Corneille.
Quem se julga pequeno é grande; quem se julga grande é pequeno.
Lafontaine.
O sábio julga-se ignorante, e quem se julga sábio é ignorante.
Esopo.
A humildade ainda se crê orgulhosa e quem se crê humilde não o é.
Racine.
Não confundais com os humildes os que dizem, por falsa modéstia, ou por interesse, o contrário do que são, pois laboraríeis em erro. Nesse caso, a verdade se cala.
Bonnefond.
O gênio se possui por inspiração e não se adquire; Deus quer que as maiores coisas sejam descobertas ou inventadas por seres sem instrução, a fim de paralisar o orgulho, tornando o homem solidário do homem.
François Arago.
Tratam de loucos apenas aqueles cujas ideias não são sancionadas pela autoridade da Ciência; é assim que aqueles que julgam tudo saber, rejeitam os pensamentos geniais daqueles que nada sabem.
Béranger.
A crítica é o estimulante do estudo, mas ela é a paralisação do gênio.
Molière.
A ciência aprendida é apenas um esboço da ciência inata; ela não se torna inteligência senão na nova encarnação.
J.-J. Rousseau.
A encarnação é o sono da alma; as peripécias da vida são os seus sonhos.
Balzac.
Às vezes a vida é um horroroso pesadelo para o Espírito, e muitas vezes custa a terminar.
La Rochefoucault.
Aí está a sua prova: se ele resiste, dá um passo para o progresso; se não, entrava a rota que deve conduzi-lo ao porto.
Martin.
No despertar da alma que saiu vitoriosa das lutas terrenas, o Espírito está maior e mais elevado; se sucumbir, encontra-se tal qual ele era.
Pascal.
É renegar o progresso querer que a língua seja emblema da imutabilidade de uma doutrina religiosa; além disto, é forçar o homem a orar mais com os lábios do que com o coração.
Descartes.
A imutabilidade não reside na forma das palavras, mas no verbo do pensamento.
Lamennais.
Jesus dizia aos seus apóstolos que fossem pregar o Evangelho em sua língua, e que todos os povos os compreenderiam.
Lacordaire.
A fé desinteressada faz milagres.
Boileau.
A doutrina de Jesus não é sentida nem compreendida senão pelo coração; então, seja qual for a maneira pela qual a expressem, ela será sempre o amor e a caridade.
Bossuet.
As preces ditas ou escritas e que não são compreendidas, deixam vagar o pensamento, permitindo que os olhos se distraiam pelo fausto das cerimônias.
Massilon.
Tudo mudará, sem contudo voltar à simplicidade de outrora, o que seria a negação do progresso. As coisas serão feitas sem fausto e sem orgulho.
Sibour.
O amor triunfará, e virão com ele a sabedoria, a caridade, a prudência, a força, o conhecimento, a humildade, a calma, a justiça, o gênio, a tolerância, o entusiasmo, e a glória majestosa e divina esmagará, por seu esplendor, o orgulho, a inveja, a hipocrisia, a maldade e o ciúme, que arrastam no seu séquito a preguiça, a gula e a luxúria.
Eugène Sue.
O amor reinará, e para que ele não tarde, é preciso, corajoso Diógenes, tomar nas mãos o estandarte do Espiritismo e mostrar aos humanos os vermes roedores que formam feridas em sua alma.
São Luís.
Observação. Este gênero de comunicação levanta uma questão importante. Como os fluidos de tão grande número de Espíritos podem assimilar-se quase que instantaneamente com o fluido do médium, para lhe transmitir seu pensamento, quando tal assimilação por vezes é difícil da parte de um só Espírito, e geralmente só se estabelece com vagar?
O guia espiritual do médium parece tê-lo previsto, porque dois dias depois deu a seguinte explicação:
“A comunicação que obtiveste no dia de Todos os Santos, bem como a última, que é o seu complemento, embora nesta haja nomes repetidos, foram obtidas da maneira seguinte: Como sou teu Espírito protetor, meu fluído é similar ao teu. Coloquei-me acima de ti, transmitindo-te o mais exatamente possível os pensamentos e os nomes dos Espíritos que desejavam manifestar-se. Eles formaram ao meu redor uma assembleia cujos membros, cada um por sua vez, ditava os seus pensamentos que eu te transmiti. Isto foi espontâneo, e o que naquele dia tornava as comunicações mais fáceis é que os Espíritos presentes tinham saturado a sala com seus fluidos.
“Quando um Espírito se comunica com um médium, ele o faz com tanto mais facilidade quanto melhor estabelecidas entre si as relações fluídicas, sem o que o Espírito, para transmitir seu fluido ao médium, é obrigado a estabelecer uma espécie de corrente magnética que atinge o cérebro deste, e se o Espírito, em razão de sua inferioridade, ou de outra causa qualquer, não pode, ele próprio, estabelecer essa corrente, recorre à assistência do guia do médium, e as relações se estabelecem como acabo de demonstrar.”
O guia espiritual do médium parece tê-lo previsto, porque dois dias depois deu a seguinte explicação:
“A comunicação que obtiveste no dia de Todos os Santos, bem como a última, que é o seu complemento, embora nesta haja nomes repetidos, foram obtidas da maneira seguinte: Como sou teu Espírito protetor, meu fluído é similar ao teu. Coloquei-me acima de ti, transmitindo-te o mais exatamente possível os pensamentos e os nomes dos Espíritos que desejavam manifestar-se. Eles formaram ao meu redor uma assembleia cujos membros, cada um por sua vez, ditava os seus pensamentos que eu te transmiti. Isto foi espontâneo, e o que naquele dia tornava as comunicações mais fáceis é que os Espíritos presentes tinham saturado a sala com seus fluidos.
“Quando um Espírito se comunica com um médium, ele o faz com tanto mais facilidade quanto melhor estabelecidas entre si as relações fluídicas, sem o que o Espírito, para transmitir seu fluido ao médium, é obrigado a estabelecer uma espécie de corrente magnética que atinge o cérebro deste, e se o Espírito, em razão de sua inferioridade, ou de outra causa qualquer, não pode, ele próprio, estabelecer essa corrente, recorre à assistência do guia do médium, e as relações se estabelecem como acabo de demonstrar.”
Slener.
Uma outra pergunta é esta: Entre esses Espíritos, não há nenhum que esteja encarnado neste ou em outro mundo e, neste caso, como podem eles comunicar-se? Eis a resposta que foi dada:
“Os Espíritos de um certo grau de adiantamento têm uma radiação que lhes permite comunicar-se simultaneamente em vários pontos. Em alguns, o estado de encarnação não diminui essa radiação de maneira tão completa a ponto de impedi-los de se manifestarem, mesmo em estado de vigília. Quanto mais avançado o Espírito, mais fracos os laços que o unem à matéria do corpo; ele está num estado de quase constante desprendimento, e pode-se dizer que está onde está seu pensamento.
“Os Espíritos de um certo grau de adiantamento têm uma radiação que lhes permite comunicar-se simultaneamente em vários pontos. Em alguns, o estado de encarnação não diminui essa radiação de maneira tão completa a ponto de impedi-los de se manifestarem, mesmo em estado de vigília. Quanto mais avançado o Espírito, mais fracos os laços que o unem à matéria do corpo; ele está num estado de quase constante desprendimento, e pode-se dizer que está onde está seu pensamento.
Um Espírito.
Mangin, o charlatão
Todo mundo conheceu esse vendedor de lápis que, num carro ricamente ornado, com um capacete brilhante e uma roupa estranha, por muitos anos foi uma das celebridades das ruas de Paris. Não era um charlatão vulgar, e os que o conheceram pessoalmente eram unânimes em lhe reconhecer uma inteligência pouco comum, uma certa elevação do pensamento e qualidades morais acima de sua profissão nômade. Ele morreu no ano passado, e desde então várias vezes comunicou-se espontaneamente com um dos nossos médiuns. Segundo o caráter que lhe reconheciam, não será de admirar o verniz filosófico que se encontra em suas comunicações.
O lápis(Paris, 20 de dezembro de 1866 - Grupo do Sr. Desliens - Médium, Sr. Bertrand)
O lápis é a palavra do pensamento. Sem o lápis o pensamento fica mudo e incompreendido para os vossos sentidos grosseiros. O lápis é a alma ofensiva e defensiva do pensamento; é a mão que fala e se defende.
O lápis!... e sobretudo o lápis Mangin!... Oh! perdão... eis que me torno egoísta!... Mas por que não poderia eu, como outrora, fazer o elogio dos meus lápis? Eles não são bons?... Tendes algo a reclamar deles? Ah! Se eu ainda estivesse em meu veículo francês, com meu costume romano... acreditaríeis em mim... Eu sabia fazer tão bem minha propaganda e o pobre bobo julgava ser branco o que era preto, apenas porque Mangin, o célebre charlatão, o havia dito!... Eu disse charlatão... Não, é preciso dizer propagandista... Vamos, charlatães! Desatai os cordões de vossa bolsa; comprai esses soberbos lápis, mais negros que a tinta e duros como pedra... Acorrei, acorrei, a venda vai terminar!... Ah! O que digo, então?... Eu creio, palavra, que me engano de papel e que acabo muito mal, depois de ter começado bem...
Vós todos, armados de lápis, sentados ao redor dessa mesa, ide dizer e provai aos jornalistas orgulhosos que Mangin não está morto. Ide dizer aos que esqueceram minha mercadoria, porque eu não estava mais lá para fazê-los acreditar em suas admiráveis qualidades. Ide dizer a todo mundo que ainda vivo e que se estou morto, é para viver melhor...
Ah! senhores jornalistas, zombaríeis de mim, contudo, se em vez de me considerardes como um charlatão a escamotear o dinheiro do povo, me tivésseis estudado mais atentamente e filosoficamente, teríeis reconhecido um ser com reminiscências de seu passado. Teríeis compreendido o porquê de meu gosto por este costume de guerreiro romano, o porquê desse amor pelas arengas em praça pública. Então sem dúvida teríeis dito que eu tinha sido soldado ou general romano, e não vos teríeis enganado.
Vamos! Vamos! Então, comprai lápis e usai-os. Mas servi-vos deles utilmente, não como eu para perorar sem motivo, mas para propagar essa bela doutrina que muitos dentre vós não seguis senão de muito longe.
Armai-vos, pois, de vossos lápis, e abri uma larga estrada neste mundo de incredulidade. Fazei tocar com o dedo, a todos estes São Tomé incrédulos, as sublimes verdades do Espiritismo, que um dia farão que todos os homens sejam irmãos.
MANGIN.
O lápis!... e sobretudo o lápis Mangin!... Oh! perdão... eis que me torno egoísta!... Mas por que não poderia eu, como outrora, fazer o elogio dos meus lápis? Eles não são bons?... Tendes algo a reclamar deles? Ah! Se eu ainda estivesse em meu veículo francês, com meu costume romano... acreditaríeis em mim... Eu sabia fazer tão bem minha propaganda e o pobre bobo julgava ser branco o que era preto, apenas porque Mangin, o célebre charlatão, o havia dito!... Eu disse charlatão... Não, é preciso dizer propagandista... Vamos, charlatães! Desatai os cordões de vossa bolsa; comprai esses soberbos lápis, mais negros que a tinta e duros como pedra... Acorrei, acorrei, a venda vai terminar!... Ah! O que digo, então?... Eu creio, palavra, que me engano de papel e que acabo muito mal, depois de ter começado bem...
Vós todos, armados de lápis, sentados ao redor dessa mesa, ide dizer e provai aos jornalistas orgulhosos que Mangin não está morto. Ide dizer aos que esqueceram minha mercadoria, porque eu não estava mais lá para fazê-los acreditar em suas admiráveis qualidades. Ide dizer a todo mundo que ainda vivo e que se estou morto, é para viver melhor...
Ah! senhores jornalistas, zombaríeis de mim, contudo, se em vez de me considerardes como um charlatão a escamotear o dinheiro do povo, me tivésseis estudado mais atentamente e filosoficamente, teríeis reconhecido um ser com reminiscências de seu passado. Teríeis compreendido o porquê de meu gosto por este costume de guerreiro romano, o porquê desse amor pelas arengas em praça pública. Então sem dúvida teríeis dito que eu tinha sido soldado ou general romano, e não vos teríeis enganado.
Vamos! Vamos! Então, comprai lápis e usai-os. Mas servi-vos deles utilmente, não como eu para perorar sem motivo, mas para propagar essa bela doutrina que muitos dentre vós não seguis senão de muito longe.
Armai-vos, pois, de vossos lápis, e abri uma larga estrada neste mundo de incredulidade. Fazei tocar com o dedo, a todos estes São Tomé incrédulos, as sublimes verdades do Espiritismo, que um dia farão que todos os homens sejam irmãos.
MANGIN.
O papel
(Grupo do Sr. Delanne, 14 de janeiro de 1867 - Médium, Sr. Bertrand)
Falei de lápis e de charlatanismo, mas ainda não falei do papel. É que sem dúvida eu reservava esse assunto para esta noite.
Ah! Como eu queria ser papel; não quando ele se avilta a fazer o mal, mas, ao contrário, quando preenche seu verdadeiro papel, que é o de fazer o bem! Com efeito, o papel é o instrumento que, em concerto com o lápis, aqui e ali semeia os nobres pensamentos do espírito. O papel é o livro aberto onde cada um pode colher com o olhar os conselhos úteis à sua viagem terrena!...
Ah! Como eu gostaria de ser papel, a fim de desenvolver, como ele, a função de moralizador e de instrutor, dando a cada um o encorajamento necessário para suportar com bravura os males que tantas vezes são causa de vergonhosas fraquezas!...
Ah! Se eu fosse papel, aboliria todas as leis egoísticas e tirânicas, para não deixar brilharem senão as que proclamam a igualdade. Só queria falar de amor e de caridade. Queria que todos fossem humildes e bons; que o mau se tornasse melhor; que o orgulhoso se tornasse humilde; que o pobre se tornasse rico; que a igualdade enfim surgisse e que ela fosse, em todas as bocas, a expressão da verdade, e não a esperança de ocultar o egoísmo e a tirania que todos possuem no coração.
Se eu fosse papel, eu queria ser branco para a inocência e verde para aquele que não tem esperança de alívio para os seus males. Eu queria ser ouro nas mãos do pobre, felicidade nas mãos do aflito, bálsamo nas do doente. Eu queria ser o perdão de todas as ofensas. Eu não condenaria, não maldiria, não lançaria anátemas; eu não criticaria com malevolência; eu nada diria que pudesse prejudicar alguém. Enfim, eu faria o que fazeis: queria apenas ensinar o bem e falar dessa bela doutrina que vos reúne a todos e sob todas as formas. Eu professaria sempre esta sublime máxima: Amai-vos uns aos outros.
Aquele que gostaria de voltar à Terra, não charlatão, não para vender apenas lápis, mas para a isso acrescentar a venda de papel, e que diria a todos: O lápis não pode ser útil sem o papel e o papel não pode dispensar o lápis.
MANGIN.
Ah! Como eu queria ser papel; não quando ele se avilta a fazer o mal, mas, ao contrário, quando preenche seu verdadeiro papel, que é o de fazer o bem! Com efeito, o papel é o instrumento que, em concerto com o lápis, aqui e ali semeia os nobres pensamentos do espírito. O papel é o livro aberto onde cada um pode colher com o olhar os conselhos úteis à sua viagem terrena!...
Ah! Como eu gostaria de ser papel, a fim de desenvolver, como ele, a função de moralizador e de instrutor, dando a cada um o encorajamento necessário para suportar com bravura os males que tantas vezes são causa de vergonhosas fraquezas!...
Ah! Se eu fosse papel, aboliria todas as leis egoísticas e tirânicas, para não deixar brilharem senão as que proclamam a igualdade. Só queria falar de amor e de caridade. Queria que todos fossem humildes e bons; que o mau se tornasse melhor; que o orgulhoso se tornasse humilde; que o pobre se tornasse rico; que a igualdade enfim surgisse e que ela fosse, em todas as bocas, a expressão da verdade, e não a esperança de ocultar o egoísmo e a tirania que todos possuem no coração.
Se eu fosse papel, eu queria ser branco para a inocência e verde para aquele que não tem esperança de alívio para os seus males. Eu queria ser ouro nas mãos do pobre, felicidade nas mãos do aflito, bálsamo nas do doente. Eu queria ser o perdão de todas as ofensas. Eu não condenaria, não maldiria, não lançaria anátemas; eu não criticaria com malevolência; eu nada diria que pudesse prejudicar alguém. Enfim, eu faria o que fazeis: queria apenas ensinar o bem e falar dessa bela doutrina que vos reúne a todos e sob todas as formas. Eu professaria sempre esta sublime máxima: Amai-vos uns aos outros.
Aquele que gostaria de voltar à Terra, não charlatão, não para vender apenas lápis, mas para a isso acrescentar a venda de papel, e que diria a todos: O lápis não pode ser útil sem o papel e o papel não pode dispensar o lápis.
MANGIN.
A solidaridade
(Paris, 26 de novembro de 1866 - Médium: Sr. Sabb...)
Glória a Deus e paz aos homens de boa vontade!
O estudo do Espiritismo não deve ser vão. Para certos homens levianos, é uma diversão; para os homens sérios, deve ser sério.
Antes de tudo refleti numa coisa. Não estais na Terra para aí viver à maneira de animais, para aí vegetar à maneira de gramíneas ou de árvores. As gramíneas e as árvores têm a vida orgânica e não têm vida inteligente, como os animais não têm a vida moral. Tudo vive, tudo respira na Natureza, mas só o homem sente e se sente.
Como são insensatos e lamentáveis aqueles que se desprezam a ponto de comparar-se a um talo de erva ou a um elefante! Não confundamos os gêneros nem as espécies. Não são grandes filósofos nem grandes naturalistas que veem no Espiritismo, por exemplo, uma nova edição da metempsicose, e sobretudo de uma metempsicose absurda. A metempsicose é o sonho de um homem criativo, nada mais que isto. Um animal, um vegetal produz o seu congênere, nem mais nem menos. Diga-se isto para impedir que velhas ideias falsas sejam propaladas à sombra do Espiritismo.
Homem, sede homem; sabei de onde vindes e para onde ides. Sois o filho amado daquele que tudo fez e vos deu uma meta, um destino que deveis cumprir sem conhecê-lo absolutamente. Éreis necessário aos seus desígnios, à sua glória, à sua própria felicidade? Questões ociosas, porque insolúveis. Vós sois; sede reconhecidos por isto, mas ser não é tudo; é preciso ser segundo as leis do Criador, que são as vossas próprias leis. Lançado na existência, sois ao mesmo tempo causa e efeito. Nem como causa, nem como efeito, podeis, ao menos quanto ao presente, determinar o vosso papel, mas podeis seguir as vossas leis. Ora, a principal é esta: O homem não é um ser isolado; é um ser coletivo. O homem é solidário ao homem. É em vão que ele procura o complemento de seu ser, isto é, a felicidade em si mesmo ou naquilo que o cerca isoladamente, porque ele não pode encontrá-la senão no homem ou na Humanidade. Então, nada fazeis para ser pessoalmente feliz, tanto que a infelicidade de um membro da Humanidade, de uma parte de vós mesmo, poderá vos afligir.
Isto que vos ensino é moral, direis vós. Ora, a moral é um velho lugar-comum. Olhai em torno de vós. O que há de mais ordinário, de mais comum que a sucessão periódica do dia e da noite; que a necessidade de vos alimentardes e de vos vestirdes? É para isso que tendem todos os vossos cuidados, todos os vossos esforços. Isso é necessário, pois a parte material do vosso ser o exige. Mas a vossa natureza não é dupla? Não sois mais espírito do que corpo? Então, como pode ser mais difícil para vós ouvir lembrar as leis morais do que, a todo instante, aplicar as leis físicas? Se fosseis menos preocupados e menos distraídos, essa repetição não seria tão necessária.
Não nos afastemos de nosso assunto: O Espiritismo bem compreendido é para a vida da alma o que o trabalho material é para a vida do corpo. Ocupai-vos dele com esse objetivo, e ficai certos de que quando tiverdes feito, para o vosso melhoramento moral, a metade do que fazeis para melhorar a vossa existência material, terás dado um grande passo para a humanidade.
Um Espírito.
O estudo do Espiritismo não deve ser vão. Para certos homens levianos, é uma diversão; para os homens sérios, deve ser sério.
Antes de tudo refleti numa coisa. Não estais na Terra para aí viver à maneira de animais, para aí vegetar à maneira de gramíneas ou de árvores. As gramíneas e as árvores têm a vida orgânica e não têm vida inteligente, como os animais não têm a vida moral. Tudo vive, tudo respira na Natureza, mas só o homem sente e se sente.
Como são insensatos e lamentáveis aqueles que se desprezam a ponto de comparar-se a um talo de erva ou a um elefante! Não confundamos os gêneros nem as espécies. Não são grandes filósofos nem grandes naturalistas que veem no Espiritismo, por exemplo, uma nova edição da metempsicose, e sobretudo de uma metempsicose absurda. A metempsicose é o sonho de um homem criativo, nada mais que isto. Um animal, um vegetal produz o seu congênere, nem mais nem menos. Diga-se isto para impedir que velhas ideias falsas sejam propaladas à sombra do Espiritismo.
Homem, sede homem; sabei de onde vindes e para onde ides. Sois o filho amado daquele que tudo fez e vos deu uma meta, um destino que deveis cumprir sem conhecê-lo absolutamente. Éreis necessário aos seus desígnios, à sua glória, à sua própria felicidade? Questões ociosas, porque insolúveis. Vós sois; sede reconhecidos por isto, mas ser não é tudo; é preciso ser segundo as leis do Criador, que são as vossas próprias leis. Lançado na existência, sois ao mesmo tempo causa e efeito. Nem como causa, nem como efeito, podeis, ao menos quanto ao presente, determinar o vosso papel, mas podeis seguir as vossas leis. Ora, a principal é esta: O homem não é um ser isolado; é um ser coletivo. O homem é solidário ao homem. É em vão que ele procura o complemento de seu ser, isto é, a felicidade em si mesmo ou naquilo que o cerca isoladamente, porque ele não pode encontrá-la senão no homem ou na Humanidade. Então, nada fazeis para ser pessoalmente feliz, tanto que a infelicidade de um membro da Humanidade, de uma parte de vós mesmo, poderá vos afligir.
Isto que vos ensino é moral, direis vós. Ora, a moral é um velho lugar-comum. Olhai em torno de vós. O que há de mais ordinário, de mais comum que a sucessão periódica do dia e da noite; que a necessidade de vos alimentardes e de vos vestirdes? É para isso que tendem todos os vossos cuidados, todos os vossos esforços. Isso é necessário, pois a parte material do vosso ser o exige. Mas a vossa natureza não é dupla? Não sois mais espírito do que corpo? Então, como pode ser mais difícil para vós ouvir lembrar as leis morais do que, a todo instante, aplicar as leis físicas? Se fosseis menos preocupados e menos distraídos, essa repetição não seria tão necessária.
Não nos afastemos de nosso assunto: O Espiritismo bem compreendido é para a vida da alma o que o trabalho material é para a vida do corpo. Ocupai-vos dele com esse objetivo, e ficai certos de que quando tiverdes feito, para o vosso melhoramento moral, a metade do que fazeis para melhorar a vossa existência material, terás dado um grande passo para a humanidade.
Um Espírito.
Tudo vem a seu tempo
Odessa, grupo familiar, 1866. Médium, senhorita M...
Pergunta. ─ Lendo, na Vérité de 1866, as experiências magnéticas, eu estava maravilhado e pensava intimamente que essa força admirável talvez pudesse ser a causa de todas as maravilhas, de todas as belezas, incompreensíveis para nós, dos planetas superiores, e cuja descrição nos dão os Espíritos. Peço aos bons Espíritos me esclareçam a respeito.
Resposta. ─ Pobres homens! A avidez de saber, a devoradora impaciência de ler no livro da criação, tudo vos vira a cabeça e deslumbra os vossos olhos habituados à escuridão, quando caem sobre algumas passagens que vosso espírito, ainda escravo da matéria, não pode compreender. Mas tende paciência, porquanto os tempos são chegados. Já o grande arquiteto começa a desenrolar ante os vossos olhos o plano do edifício do Universo; ele já levanta uma ponta do véu que vos oculta a verdade, e um raio de luz vos ilumina. Contentai-vos com essas premissas; habituai os vossos olhos à doce claridade da aurora, até que possam suportar o esplendor do sol em todo o seu brilho.
Agradecei ao Todo-Poderoso, cuja bondade infinita poupa a vossa vista fraca, erguendo gradualmente o véu que a cobre. Se ele o levantasse de uma vez, ficaríeis deslumbrados e nada veríeis; recairíeis na dúvida, na confusão, na ignorância da qual apenas saís. Já vos foi dito que tudo vem ao seu tempo: não o precipiteis pela vossa grande avidez por tudo saber. Deixai ao Senhor a escolha do método que julgue mais conveniente para vos instruir. Tendes ante vós uma obra sublime: “a Natureza, sua essência, suas forças”. Ela começa pelo á-bê-cê. Para começar, aprendei a soletrar, a compreender essas primeiras páginas; progredi com paciência e perseverança, e chegareis ao fim, ao passo que saltando páginas e capítulos, o conjunto vos parece incompreensível. Ademais, não está nos desígnios do TodoPoderoso que o homem tudo saiba. Conformai-vos, pois, com a sua vontade, que tem por objetivo o vosso bem.
Lede no grande livro da Natureza; instruí-vos, esclarecei o vosso espírito, contentai-vos em saber o que Deus julga a propósito vos ensinar durante a vossa passagem pela Terra; não tereis tempo de chegar à última página, e só a lereis quando estiverdes desligados da matéria, quando vossos sentidos espiritualizados vos permitirem compreendê-la.
Sim, meus amigos, estudai e instruí-vos, e, antes de tudo, progredi em moralidade pelo amor ao próximo, pela caridade, pela fé: é o essencial, é o passaporte à vista do qual as portas do santuário infinito vos são abertas.
HUMBOLDT.
Resposta. ─ Pobres homens! A avidez de saber, a devoradora impaciência de ler no livro da criação, tudo vos vira a cabeça e deslumbra os vossos olhos habituados à escuridão, quando caem sobre algumas passagens que vosso espírito, ainda escravo da matéria, não pode compreender. Mas tende paciência, porquanto os tempos são chegados. Já o grande arquiteto começa a desenrolar ante os vossos olhos o plano do edifício do Universo; ele já levanta uma ponta do véu que vos oculta a verdade, e um raio de luz vos ilumina. Contentai-vos com essas premissas; habituai os vossos olhos à doce claridade da aurora, até que possam suportar o esplendor do sol em todo o seu brilho.
Agradecei ao Todo-Poderoso, cuja bondade infinita poupa a vossa vista fraca, erguendo gradualmente o véu que a cobre. Se ele o levantasse de uma vez, ficaríeis deslumbrados e nada veríeis; recairíeis na dúvida, na confusão, na ignorância da qual apenas saís. Já vos foi dito que tudo vem ao seu tempo: não o precipiteis pela vossa grande avidez por tudo saber. Deixai ao Senhor a escolha do método que julgue mais conveniente para vos instruir. Tendes ante vós uma obra sublime: “a Natureza, sua essência, suas forças”. Ela começa pelo á-bê-cê. Para começar, aprendei a soletrar, a compreender essas primeiras páginas; progredi com paciência e perseverança, e chegareis ao fim, ao passo que saltando páginas e capítulos, o conjunto vos parece incompreensível. Ademais, não está nos desígnios do TodoPoderoso que o homem tudo saiba. Conformai-vos, pois, com a sua vontade, que tem por objetivo o vosso bem.
Lede no grande livro da Natureza; instruí-vos, esclarecei o vosso espírito, contentai-vos em saber o que Deus julga a propósito vos ensinar durante a vossa passagem pela Terra; não tereis tempo de chegar à última página, e só a lereis quando estiverdes desligados da matéria, quando vossos sentidos espiritualizados vos permitirem compreendê-la.
Sim, meus amigos, estudai e instruí-vos, e, antes de tudo, progredi em moralidade pelo amor ao próximo, pela caridade, pela fé: é o essencial, é o passaporte à vista do qual as portas do santuário infinito vos são abertas.
HUMBOLDT.
Respeito devido às crenças passadas
(Paris, grupo Delanne, 4 de fevereiro de 1867 - Médium: Sr. Morin)
A fé cega é o pior de todos os princípios! Crer com fervor num dogma qualquer, quando a sã razão se recusa a aceitá-lo como uma verdade, é fazer ato de nulidade e privar-se voluntariamente do mais belo de todos os dons que nos concedeu o Criador; é renunciar à liberdade de julgar, ao livre-arbítrio que deve presidir a todas as coisas na medida da justiça e da razão.
Geralmente os homens são despreocupados e não creem numa religião senão por desencargo de consciência e para não rejeitar completamente suas boas e suaves preces que lhe embalaram a juventude, e que sua mãe lhes ensinou ao pé do fogo, quando a noite trazia consigo a hora do sono. Mas se esta lembrança por vezes se apresenta ao seu espírito, é, na maioria das vezes, com um sentimento de pesar que eles fazem um retorno a esse passado, onde as preocupações da idade madura ainda estavam enterradas na noite do futuro.
Sim, todo homem lamenta esta idade despreocupada, e bem poucos podem pensar em seus jovens anos!... Mas, o que deles resta, um instante depois?... ─ Nada!...
Comecei dizendo que a fé cega era perniciosa; mas nem sempre se deve rejeitar como fundamentalmente mau tudo quanto parece conspurcado pelos abusos, composto de erros e sobretudo inventado à vontade, para a glória dos orgulhosos e para o beneficio dos interesseiros.
Espíritas, deveis saber melhor que ninguém que nada se realiza sem a vontade do Mestre supremo; a vós cabe refletir muito, antes de formular o vosso julgamento. Os homens são vossos irmãos encarnados e é possível que numerosos trabalhos dos tempos antigos sejam obras vossas, realizadas numa existência anterior. Os espíritas, antes de tudo, devem ser lógicos com seu ensino e não atirar pedras às instituições e às crenças de outras épocas, apenas porque são de outra época. A Sociedade atual necessitou, para ser o que é, que Deus lhe concedesse, pouco a pouco, a luz e o saber.
Não vos cabe, pois, julgar se os meios por ele empregados eram bons ou maus. Não aceiteis senão o que vos parece racional e lógico, mas não esqueçais que as coisas velhas tiveram a sua mocidade e que aquilo que ensinais hoje tornar-se-á velho por sua vez. Respeito, pois, à velhice! Os velhos são vossos pais, como as coisas velhas foram precursoras das coisas novas. Nada envelhece, e se faltais a esse princípio em relação a tudo o que é venerável, faltais ao vosso dever, mentis à doutrina que professais.
As velhas crenças elaboraram a renovação que começa a se realizar!... Todas, desde que não fossem exclusivamente materialistas, possuíam uma centelha da verdade. Lamentai os abusos que são introduzidos no ensino filosófico, mas perdoai os erros de outra época, se quiserdes, por vossa vez, ser desculpados pelos vossos, ulteriormente. Não deis vossa fé ao que vos parece mau, mas não creiais também que tudo quanto hoje vos é ensinado seja expressão da verdade absoluta. Crede que em cada época Deus alarga o horizonte dos conhecimentos, em razão do desenvolvimento intelectual da Humanidade.
LACORDAIRE.
Geralmente os homens são despreocupados e não creem numa religião senão por desencargo de consciência e para não rejeitar completamente suas boas e suaves preces que lhe embalaram a juventude, e que sua mãe lhes ensinou ao pé do fogo, quando a noite trazia consigo a hora do sono. Mas se esta lembrança por vezes se apresenta ao seu espírito, é, na maioria das vezes, com um sentimento de pesar que eles fazem um retorno a esse passado, onde as preocupações da idade madura ainda estavam enterradas na noite do futuro.
Sim, todo homem lamenta esta idade despreocupada, e bem poucos podem pensar em seus jovens anos!... Mas, o que deles resta, um instante depois?... ─ Nada!...
Comecei dizendo que a fé cega era perniciosa; mas nem sempre se deve rejeitar como fundamentalmente mau tudo quanto parece conspurcado pelos abusos, composto de erros e sobretudo inventado à vontade, para a glória dos orgulhosos e para o beneficio dos interesseiros.
Espíritas, deveis saber melhor que ninguém que nada se realiza sem a vontade do Mestre supremo; a vós cabe refletir muito, antes de formular o vosso julgamento. Os homens são vossos irmãos encarnados e é possível que numerosos trabalhos dos tempos antigos sejam obras vossas, realizadas numa existência anterior. Os espíritas, antes de tudo, devem ser lógicos com seu ensino e não atirar pedras às instituições e às crenças de outras épocas, apenas porque são de outra época. A Sociedade atual necessitou, para ser o que é, que Deus lhe concedesse, pouco a pouco, a luz e o saber.
Não vos cabe, pois, julgar se os meios por ele empregados eram bons ou maus. Não aceiteis senão o que vos parece racional e lógico, mas não esqueçais que as coisas velhas tiveram a sua mocidade e que aquilo que ensinais hoje tornar-se-á velho por sua vez. Respeito, pois, à velhice! Os velhos são vossos pais, como as coisas velhas foram precursoras das coisas novas. Nada envelhece, e se faltais a esse princípio em relação a tudo o que é venerável, faltais ao vosso dever, mentis à doutrina que professais.
As velhas crenças elaboraram a renovação que começa a se realizar!... Todas, desde que não fossem exclusivamente materialistas, possuíam uma centelha da verdade. Lamentai os abusos que são introduzidos no ensino filosófico, mas perdoai os erros de outra época, se quiserdes, por vossa vez, ser desculpados pelos vossos, ulteriormente. Não deis vossa fé ao que vos parece mau, mas não creiais também que tudo quanto hoje vos é ensinado seja expressão da verdade absoluta. Crede que em cada época Deus alarga o horizonte dos conhecimentos, em razão do desenvolvimento intelectual da Humanidade.
LACORDAIRE.
A comédia humana
(Paris, grupo Desliens, 29 de novembro de 1866 - Médium: Sr. Deslinens)
A vida do Espírito encarnado é como um romance, ou antes, como uma peça de teatro, da qual cada dia se percorre uma folha contendo uma cena. O autor é o homem; os personagens são as paixões, os vícios, as virtudes, a matéria e a inteligência, disputando a posse do herói, que é o Espírito. O público é o mundo em geral durante a encarnação e os Espíritos na erraticidade, e o censor que examina a peça para julgá-la em última instância e proferir uma censura ou um louvor ao autor é Deus.
Fazei de modo que sejais aplaudido o maior número de vezes possível e que só raramente cheguem aos vossos ouvidos o barulho desagradável dos assovios. Que o enredo seja sempre simples, e não busqueis interesse senão nas situações naturais, que possam servir para fazer triunfar a virtude, desenvolver a inteligência e moralizar o público.
Durante a execução da peça, a intriga posta em movimento pela inveja pode tentar criticar as melhores passagens e só incensar as que são medíocres ou más. Fechai os ouvidos a essas adulações, e lembrai-vos que a posteridade vos apreciará no vosso justo valor! Deixareis um nome obscuro ou ilustre, manchado de vergonha ou coberto de glórias segundo o mundo. Mas quando a peça estiver terminada e a cortina, caída sobre a última cena, vos puser em presença do regente universal, do diretor infinitamente poderoso do teatro onde se passa a comédia humana, não haverá nem aduladores, nem cortesãos, nem invejosos, nem ciumentos: estareis sós com o juiz supremo, imparcial, equitativo e justo.
Que a vossa obra seja séria e moralizadora, porque é a única que tem algum peso na balança do Todo-Poderoso.
É preciso que cada um dê à Sociedade pelo menos o que dela recebe. Aquele que, tendo recebido a assistência corporal e espiritual que lhe permite viver, se vai sem ao menos restituir o que gastou, é um ladrão, porque malbaratou uma parte do capital inteligente e nada produziu.
Nem todo mundo pode ser homem de gênio, mas todos podem e devem ser honestos, bons cidadãos, e devolver à Sociedade aquilo que a Sociedade lhes emprestou.
Para que o mundo esteja em progresso, é preciso que cada um deixe uma lembrança útil de sua personalidade, uma cena a mais nesse número infinito de cenas úteis que os membros da Humanidade deixaram, desde quando a vossa Terra serve de lugar de habitação aos Espíritos.
Fazei, pois, que leiam com interesse cada página do vosso romance, e que não o percorram apenas com o olhar para fechá-lo com tédio antes de ter lido pela metade.
EUGÈNE SUE.
Fazei de modo que sejais aplaudido o maior número de vezes possível e que só raramente cheguem aos vossos ouvidos o barulho desagradável dos assovios. Que o enredo seja sempre simples, e não busqueis interesse senão nas situações naturais, que possam servir para fazer triunfar a virtude, desenvolver a inteligência e moralizar o público.
Durante a execução da peça, a intriga posta em movimento pela inveja pode tentar criticar as melhores passagens e só incensar as que são medíocres ou más. Fechai os ouvidos a essas adulações, e lembrai-vos que a posteridade vos apreciará no vosso justo valor! Deixareis um nome obscuro ou ilustre, manchado de vergonha ou coberto de glórias segundo o mundo. Mas quando a peça estiver terminada e a cortina, caída sobre a última cena, vos puser em presença do regente universal, do diretor infinitamente poderoso do teatro onde se passa a comédia humana, não haverá nem aduladores, nem cortesãos, nem invejosos, nem ciumentos: estareis sós com o juiz supremo, imparcial, equitativo e justo.
Que a vossa obra seja séria e moralizadora, porque é a única que tem algum peso na balança do Todo-Poderoso.
É preciso que cada um dê à Sociedade pelo menos o que dela recebe. Aquele que, tendo recebido a assistência corporal e espiritual que lhe permite viver, se vai sem ao menos restituir o que gastou, é um ladrão, porque malbaratou uma parte do capital inteligente e nada produziu.
Nem todo mundo pode ser homem de gênio, mas todos podem e devem ser honestos, bons cidadãos, e devolver à Sociedade aquilo que a Sociedade lhes emprestou.
Para que o mundo esteja em progresso, é preciso que cada um deixe uma lembrança útil de sua personalidade, uma cena a mais nesse número infinito de cenas úteis que os membros da Humanidade deixaram, desde quando a vossa Terra serve de lugar de habitação aos Espíritos.
Fazei, pois, que leiam com interesse cada página do vosso romance, e que não o percorram apenas com o olhar para fechá-lo com tédio antes de ter lido pela metade.
EUGÈNE SUE.