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Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1864 > Fevereiro
Fevereiro
Vários jornais reproduziram o artigo seguinte:
“O incidente da semana, escrevem de Roma ao Times, é a ordem dada ao Sr. Home, o célebre médium, de deixar a cidade pontifical em três dias.
“Convidado a apresentar-se à polícia romana, o Sr. Home passou por um interrogatório formal. Perguntaram-lhe quanto tempo pretendia passar em Roma; se se tinha dado às práticas espíritas depois de sua conversão ao Catolicismo, etc., etc.
Eis algumas das palavras trocadas na ocasião, tais quais o próprio Sr. Home registrou em suas notas particulares, que fornece muito facilmente, ao que parece.
“─ Depois de vossa conversão ao Catolicismo, exercestes o poder de médium?
“─ Nem depois, nem antes exerci tal poder, porque, como não depende de minha vontade, não posso dizer que o exerço.
“─ Considerais esse poder como um dom da Natureza?
“─ Eu o considero como um dom de Deus.
“─ Que religião ensinam os espíritas?
“─ Isto depende.
“─ Que fazeis para que eles venham?
“Respondi que nada fazia. Mas no mesmo instante batidas repetidas e distintas foram ouvidas na mesa onde escrevia o meu investigador.
“─ Mas também fazeis as mesas se moverem? perguntou ele.
“No mesmo instante a mesa se pôs em movimento.
“─ Nem depois, nem antes exerci tal poder, porque, como não depende de minha vontade, não posso dizer que o exerço.
“─ Considerais esse poder como um dom da Natureza?
“─ Eu o considero como um dom de Deus.
“─ Que religião ensinam os espíritas?
“─ Isto depende.
“─ Que fazeis para que eles venham?
“Respondi que nada fazia. Mas no mesmo instante batidas repetidas e distintas foram ouvidas na mesa onde escrevia o meu investigador.
“─ Mas também fazeis as mesas se moverem? perguntou ele.
“No mesmo instante a mesa se pôs em movimento.
“Pouco tocado por esses prodígios, o chefe de polícia convidou o mágico a deixar Roma em três dias. Abrigando-se, como era seu direito, sob a proteção das leis internacionais, o Sr. Home relatou a coisa ao cônsul da Inglaterra, que obteve do Sr. Mateucci que o célebre médium não fosse incomodado e pudesse continuar sua estada em Roma, tendo em vista que ele pensava abster-se, durante esse tempo, de qualquer comunicação com o mundo espiritual. Coisa espantosa! O Sr. Home acedeu a esta condição e assinou o compromisso que lhe exigiam. Como pôde ele comprometer-se a não usar um poder, cujo exercício independe de sua vontade? É o que não procuraremos penetrar”.
Não sabemos até que ponto esta história é exata, em todos os seus detalhes, mas uma carta escrita há pouco tempo pelo Sr. Home a uma senhora nossa conhecida parece confirmar o fato principal. Quanto aos golpes vibrados na ocasião, julgamos que se pode, sem receio, contá-los entre as facécias a que nos habituaram os jornais pouco preocupados em aprofundar as coisas do outro mundo.
Com efeito, o Sr. Home neste momento está em Roma, e o motivo é muito honroso para ele para que não o digamos, levando em consideração que os jornais julgaram que deveriam aproveitar a ocasião para ridicularizá-lo.
O Sr. Home não é rico e não teme dizer que precisa buscar no trabalho uma suplementação dos recursos de que necessita para suprir suas necessidades. Ele pensou encontrar a solução no talento natural para a escultura, e foi para se aperfeiçoar nessa arte que ele foi a Roma.
O Sr. Home não é rico e não teme dizer que precisa buscar no trabalho uma suplementação dos recursos de que necessita para suprir suas necessidades. Ele pensou encontrar a solução no talento natural para a escultura, e foi para se aperfeiçoar nessa arte que ele foi a Roma.
Com a notável faculdade mediúnica que possui, ele poderia ser rico, muito rico mesmo, se tivesse querido explorá-la. A mediocridade de sua posição é a melhor resposta ao epíteto de hábil charlatão que lhe lançaram ao rosto. Mas ele sabe que essa faculdade lhe foi dada com um fim providencial, no interesse de uma causa santa, e julgaria cometer um sacrilégio se a convertesse em profissão. Ele tem, no mais alto grau, o sentimento dos deveres que ela lhe impõe para não compreender que os Espíritos se manifestam pela vontade de Deus para reconduzir os homens à fé na vida futura, e não para exibir num espetáculo de curiosidades, em concorrência com os escamoteadores, nem para servir à cupidez dos que pretendessem explorá-la.
Aliás ele também sabe que os Espíritos não estão às ordens nem aos caprichos de ninguém, e menos ainda de quem quer que quisesse exibir seus atos e gestos a tanto por sessão. Não há um só médium no mundo que possa garantir a produção de um fenômeno espírita num dado momento, de onde é forçoso concluir-se que a pretensão contrária é prova de absoluta ignorância dos mais elementares princípios da ciência. Então, toda suposição é permitida, porque se os Espíritos não respondem ao chamado, ou não fazem coisas suficientemente admiráveis para satisfazer os curiosos e sustentar a reputação do médium, é mesmo necessário achar um meio de dá-las aos espectadores em troca de seu dinheiro, se não quiser devolvê-lo.
Nunca nos cansamos de repetir que a melhor garantia de sinceridade é o desinteresse absoluto. Um médium é sempre forte quando pode responder aos que suspeitassem de sua boa-fé: “Quanto pagastes para vir aqui?”
Ainda uma vez: A mediunidade séria não pode ser e jamais será uma profissão, não só porque seria moralmente desacreditada, mas porque repousa sobre uma faculdade essencialmente móvel, fugidia e variável, que nenhum dos que a possuem hoje está certo de possuí-la amanhã. Só os charlatões estão sempre seguros de si mesmos.
Outra coisa é um talento adquirido pelo estudo e pelo trabalho que, por isto mesmo, é uma propriedade, da qual, naturalmente, é permitido tirar partido. A mediunidade não está neste caso. Explorá-la é dispor de uma coisa da qual realmente não se é dono; é desviá-la de seu objetivo providencial. E tem mais: Não é de si próprio que se dispõe, é dos Espíritos, das almas dos mortos, cujo concurso é posto a prêmio. Este pensamento repugna instintivamente. Eis por que em todos os centros sérios, onde se ocupam do Espiritismo santamente, religiosamente, como em Lyon, em Bordeaux e em tantos outros lugares, os médiuns exploradores seriam completamente desconsiderados.
Assim, que aquele que não tem de que viver procure alhures os recursos e, se preciso, só consagre à mediunidade o tempo que materialmente puder dar. Os Espíritos levarão em conta o seu devotamento e os seus sacrifícios, ao passo que punem, mais cedo ou mais tarde, os que esperam dela fazer uma escada, seja pela retirada da faculdade, pelo afastamento dos bons Espíritos, pelas mistificações comprometedoras, ou por meios ainda mais desagradáveis, como o prova a experiência.
O Sr. Home sabe muito bem que perderia a assistência de seus Espíritos protetores se abusasse de sua faculdade. Sua primeira punição seria a perda da estima e da consideração de famílias honradas onde é recebido como amigo e onde não mais seria chamado senão na mesma condição das pessoas que vão fazer representações a domicílio. Quando de sua primeira estada em Paris, sabemos que certos círculos lhe fizeram ofertas muito vantajosas para dar sessões e que ele sempre recusou. Todos os que o conhecem e compreendem os verdadeiros interesses do Espiritismo aplaudirão a resolução que hoje toma. De nossa parte, somos gratos pelo bom exemplo que ele dá.
Se insistimos de novo na questão do desinteresse dos médiuns, é que temos razões para crer que a mediunidade fictícia e abusiva é um dos meios que os inimigos do Espiritismo pretendem empregar visando desacreditá-lo e apresentá-lo como obra do charlatanismo. É necessário, pois, que todos os que levam a peito a causa da doutrina se mantenham atentos, a fim de desmascarar as manobras fraudulentas, quando as houver, e mostrar que o Espiritismo verdadeiro nada tem de comum com as paródias que dele poderiam fazer, e que ele repudia tudo quanto se afaste do princípio moralizador que é a sua essência.
O artigo acima transcrito oferece vários outros aspectos à observação. O autor acredita que deve qualificar o Sr. Home de mágico. Tudo aí é muito inocente, no entanto, um pouco adiante ele diz: “O mui célebre médium”, expressão usada em relação a indivíduos que adquiriram uma triste celebridade.
Onde estão, pois, as falhas e os crimes do Sr. Home? É uma injúria gratuita, não só a ele, mas também a todas as pessoas respeitáveis e altamente colocadas que o recebem e que assim parecem patrocinar um homem mal-afamado.
A última frase do artigo é mais curiosa, porque encerra uma dessas contradições flagrantes com que, aliás, os nossos adversários pouco se inquietam. O autor admira-se de que o Sr. Home tenha consentido no compromisso que lhe impunham e pergunta como pôde ele prometer não usar de um poder independente de sua vontade. Se ele quisesse sabê-lo, nós o remeteríamos ao estudo dos fenômenos espíritas, de suas causas e de seu modo de produção, e ele saberia como o Sr. Home pôde assumir um compromisso que, aliás, nada tem a ver com as manifestações que ele obtém na intimidade, ainda que sob os ferrolhos da inquisição. Mas parece que o autor não liga tanto, pois acrescenta: “É o que não procuraremos penetrar”. Por estas palavras ele insidiosamente dá a entender que tais fenômenos não passam de charlatanice.
Contudo, a medida tomada pelo governo pontifício prova que este teme as manifestações ostensivas. Ora, não se temem prestidigitações. Esse mesmo governo interditaria os que se dizem físicos e que imitam essas manifestações? Certamente não, porque em Roma permitem muitas outras coisas menos evangélicas. Por que, então, interditá-las ao Sr. Home? Por que querer expulsá-lo do país se não passa de um mágico? Dirão que é no interesse da religião. Seja. Mas, então, é ela tão frágil que pode ser tão facilmente comprometida? Em Roma, como alhures, os escamoteadores executam, com mais ou menos habilidade, o golpe da garrafa encantada, na qual a água se transforma em todas as espécies de vinhos, e o do chapéu mágico, no qual se multiplicam pães e outros objetos. Entretanto não receiam que isto desacredite os milagres de Jesus Cristo, pois se sabe que não passam de imitações. Se temem o Sr. Home, é que há de sua parte algo de sério, e não de passes de mágica.
Tal é a consequência que disso tirará qualquer pessoa que refletir um pouco.
Não entrará na cabeça de ninguém sensato que um governo, que uma corte soberana composta de homens que, a bem da verdade, não passam por tolos, se apavore diante de um mito. Certamente não seremos o único a fazer esta reflexão, e os jornais que se apressaram em divulgar o incidente, visando ridicularizá-lo, muito naturalmente vão provocá-la, de sorte que o resultado, como o de tudo o que já foi feito para matar o Espiritismo, será o de popularizar a ideia. Assim um fato aparentemente insignificante terá, inevitavelmente, consequências mais sérias do que tinham pensado. Não duvidamos que ele tenha sido suscitado para apressar a eclosão do Espiritismo na Itália, onde já conta com numerosos representantes, mesmo entre o clero. Também não duvidamos que a cúria de Roma não se torne, mais cedo ou mais tarde, e sem o querer, um dos principais instrumentos de propagação da doutrina nesse país, porque está determinado que seus próprios adversários deverão servir à sua propagação, por todos os meios de que se utilização para destruí-la. Cego, portanto, é aquele que não vê nisto o dedo da Providência. Sem contradita, este será um dos mais consideráveis fatos da história do Espiritismo; um dos que melhor atestam seu poder e sua origem.
De todas as chagas morais da Sociedade, parece que o egoísmo é a mais difícil de desarraigar. Com efeito, ela o é tanto mais quanto mais é alimentada pelos próprios hábitos da educação. Parece que se toma a tarefa de excitar, desde o berço, certas paixões que mais tarde tornam-se uma segunda natureza. E admiram-se dos vícios da Sociedade, quando as crianças o sugam com o leite. Eis um exemplo que, como cada um pode julgar, pertence mais à regra do que à exceção.
Numa família de nosso conhecimento há uma menina de quatro a cinco anos, de uma inteligência rara, mas que tem os pequenos defeitos das crianças mimadas, isto é, é um pouco caprichosa, chorona, teimosa, e nem sempre agradece quando lhe dão qualquer coisa, o que os pais cuidam bem de corrigir, porque fora esses defeitos,segundo eles, ela tem um coração de ouro, expressão consagrada. Vejamos como eles se conduzem para lhe tirar essas pequenas manchas e conservar o ouro em sua pureza.
Um dia trouxeram um doce à criança e, como de costume, lhe disseram: “Tu ocomerás se fores boazinha”. Primeira lição de gulodice. Quantas vezes, à mesa, não dizem a uma criança que não comerá tal petisco se chorar. “Faze isto, ou faze aquilo”, dizem, “e terás creme” ou qualquer outra coisa que lhe apeteça, e a criança se constrange, não pela razão, mas em vista de satisfazer a um desejo sensual que aguilhoam.
É ainda muito pior quando lhe dizem, o que não é menos frequente, que darão oseu pedaço a uma outra. Aqui já não é só a gulodice que está em jogo, é a inveja. A criança fará o que lhe dizem, não só para ter, mas para que a outra não tenha. Querem dar-lhe uma lição de generosidade? Então lhe dizem: “Dá esta fruta ou este brinquedo a fulaninho”. Se ela recusa, não deixam de acrescentar, para nela estimular um bom sentimento: “Eu te darei um outro”, de modo que a criança não se decide a ser generosa senão quando está certa de nada perder.
Certo dia testemunhamos um fato bem característico neste gênero. Era uma criança de cerca de dois anos e meio, a quem tinham feito semelhante ameaça, acrescentando: “Nós o daremos ao teu irmãozinho, e tu ficarás sem nada.” Para tornar a lição mais sensível, puseram o pedaço no prato do irmãozinho, que levou a coisa a sério e comeu a porção. À vista disso, o outro ficou vermelho e não era preciso ser nem o pai nem a mãe para ver o relâmpago de cólera e de ódio que partiu de seus olhos. A semente estava lançada: poderia produzir bom grão?
Voltemos à menina, da qual falamos. Como ela não se deu conta da ameaça, sabendo por experiência que raramente a cumpriam, desta vez foram mais firmes, pois compreenderam que era necessário dominar esse pequeno caráter, e não esperar que com a idade ela adquirisse um mau hábito. Diziam que é preciso formar cedo as crianças, máxima muito sábia e, para a pôr em prática, eis o que fizeram: “Eu te prometo, disse a mãe, que se não obedeceres, amanhã cedo darei o teu bolo à primeira menina pobre que passar.” Dito e feito.
Desta vez queriam manter a promessa e dar-lhe uma boa lição. Assim, no dia seguinte, de manhã, tendo visto uma pequena mendiga na rua, fizeram-na entrar e obrigaram a filha a tomá-la pela mão e ela mesma lhe dar o seu bolo. Então elogiaram a sua docilidade. Moral da história: A filha disse: “Se eu soubesse disto teria me apressado em comer o bolo ontem.” E todos aplaudiram esta resposta espirituosa. Com efeito, a criança tinha recebido uma forte lição, mas de puro egoísmo, da qual não deixará de aproveitar-se uma outra vez, pois agora sabe quanto custa a generosidade forçada. Resta saber que frutos dará mais tarde esta semente quando, com mais idade, a criança fizer a aplicação dessa moral em coisas mais sérias que um bolo.
Sabe-se todos os pensamentos que este único fato pode ter feito germinar nessa cabecinha? Depois disto, como querem que uma criança não seja egoísta quando, em vez de nela despertar o prazer de dar e de lhe representar a felicidade de quem recebe, impõem-lhe um sacrifício como punição? Não é inspirar aversão ao ato de dar e àqueles que necessitam?
Outro hábito, igualmente frequente, é o de castigar a criança mandando-a comer na cozinha com os criados. A punição está menos na exclusão da mesa do que na humilhação de ir para a mesa dos serviçais. Assim se acha inoculado, desde a mais tenra idade, o vírus da sensualidade, do egoísmo, do orgulho, do desprezo aos inferiores, das paixões, numa palavra, que com razão são consideradas como as chagas da Humanidade.
É preciso ser dotado de uma natureza excepcionalmente boa para resistir a tais influências, produzidas na idade mais impressionável, na qual não podem encontrar o contrapeso nem da vontade, nem da experiência. Assim, por pouco que aí se ache o germe das más paixões, o que é o caso mais ordinário, dada a natureza da maioria dos Espíritos que se encarnam na Terra, ele não pode deixar de desenvolver-se sob tais influências, ao passo que seria preciso observar-lhe os menores traços para reprimi-los.
A falta, sem dúvida, é dos pais, mas é preciso dizer que muitas vezes estes pecam mais por ignorância do que por má vontade. Em muitos há, incontestavelmente, uma culposa despreocupação, mas em muitos outros a intenção é boa, no entanto, é o remédio que nada vale, ou que é mal aplicado.
Sendo os primeiros médicos da alma de seus filhos, os pais deveriam ser instruídos, não só de seus deveres, mas dos meios de cumpri-los. Não basta ao médico saber que deve procurar curar, é preciso saber como agir. Ora, para os pais, onde estão os meios de instruir-se nesta parte tão importante de sua tarefa? Hoje dá-se muita instrução à mulher; fazem-na passar por exames rigorosos, mas algum dia foi exigido da mãe que soubesse como fazer para formar o moral de seu filho?
Ensinam-lhe receitas caseiras, mas foi iniciada aos mil e um segredos de governar os jovens corações?
Os pais, portanto, são abandonados sem guia à sua iniciativa. É por isto que tantas vezes seguem caminhos errados. Assim recolhem, nos erros dos filhos já crescidos, o fruto amargo de sua inexperiência ou de uma ternura mal compreendida, e a Sociedade inteira lhes recebe o contragolpe.
Considerando-se que o egoísmo e o orgulho são reconhecidamente a fonte da maioria das misérias humanas; que enquanto eles reinarem na Terra não se pode esperar nem paz, nem caridade, nem fraternidade, então é preciso atacá-los no estado de embrião, sem esperar que fiquem vivazes.
Pode o Espiritismo remediar esse mal? Sem dúvida nenhuma, e não hesitamos em dizer que ele é o único suficientemente poderoso para fazê-lo cessar, pelo novo ponto de vista com o qual ele permite perceber a missão e a responsabilidade dos pais; dando a conhecer a fonte das qualidades inatas, boas ou más; mostrando a ação que se pode exercer sobre os Espíritos encarnados e desencarnados; dando a fé inquebrantável que sanciona os deveres; enfim, moralizando os próprios pais. Ele já prova sua eficácia pela maneira mais racional empregada na educação das crianças nas famílias verdadeiramente espíritas. Os novos horizontes que abre o Espiritismo fazem ver as coisas de outra maneira. Sendo o seu objetivo o progresso moral da Humanidade, ele forçosamente deverá iluminar o grave problema da educação moral, primeira fonte da moralização das massas. Um dia compreender-se-á que este ramo da educação tem seus princípios, suas regras, como a educação intelectual, numa palavra, que é uma verdadeira ciência. Talvez um dia, também, será imposta a toda mãe de família a obrigação de possuir esses conhecimentos, como se impõe ao advogado a de conhecer o Direito.
Numa família de nosso conhecimento há uma menina de quatro a cinco anos, de uma inteligência rara, mas que tem os pequenos defeitos das crianças mimadas, isto é, é um pouco caprichosa, chorona, teimosa, e nem sempre agradece quando lhe dão qualquer coisa, o que os pais cuidam bem de corrigir, porque fora esses defeitos,segundo eles, ela tem um coração de ouro, expressão consagrada. Vejamos como eles se conduzem para lhe tirar essas pequenas manchas e conservar o ouro em sua pureza.
Um dia trouxeram um doce à criança e, como de costume, lhe disseram: “Tu ocomerás se fores boazinha”. Primeira lição de gulodice. Quantas vezes, à mesa, não dizem a uma criança que não comerá tal petisco se chorar. “Faze isto, ou faze aquilo”, dizem, “e terás creme” ou qualquer outra coisa que lhe apeteça, e a criança se constrange, não pela razão, mas em vista de satisfazer a um desejo sensual que aguilhoam.
É ainda muito pior quando lhe dizem, o que não é menos frequente, que darão oseu pedaço a uma outra. Aqui já não é só a gulodice que está em jogo, é a inveja. A criança fará o que lhe dizem, não só para ter, mas para que a outra não tenha. Querem dar-lhe uma lição de generosidade? Então lhe dizem: “Dá esta fruta ou este brinquedo a fulaninho”. Se ela recusa, não deixam de acrescentar, para nela estimular um bom sentimento: “Eu te darei um outro”, de modo que a criança não se decide a ser generosa senão quando está certa de nada perder.
Certo dia testemunhamos um fato bem característico neste gênero. Era uma criança de cerca de dois anos e meio, a quem tinham feito semelhante ameaça, acrescentando: “Nós o daremos ao teu irmãozinho, e tu ficarás sem nada.” Para tornar a lição mais sensível, puseram o pedaço no prato do irmãozinho, que levou a coisa a sério e comeu a porção. À vista disso, o outro ficou vermelho e não era preciso ser nem o pai nem a mãe para ver o relâmpago de cólera e de ódio que partiu de seus olhos. A semente estava lançada: poderia produzir bom grão?
Voltemos à menina, da qual falamos. Como ela não se deu conta da ameaça, sabendo por experiência que raramente a cumpriam, desta vez foram mais firmes, pois compreenderam que era necessário dominar esse pequeno caráter, e não esperar que com a idade ela adquirisse um mau hábito. Diziam que é preciso formar cedo as crianças, máxima muito sábia e, para a pôr em prática, eis o que fizeram: “Eu te prometo, disse a mãe, que se não obedeceres, amanhã cedo darei o teu bolo à primeira menina pobre que passar.” Dito e feito.
Desta vez queriam manter a promessa e dar-lhe uma boa lição. Assim, no dia seguinte, de manhã, tendo visto uma pequena mendiga na rua, fizeram-na entrar e obrigaram a filha a tomá-la pela mão e ela mesma lhe dar o seu bolo. Então elogiaram a sua docilidade. Moral da história: A filha disse: “Se eu soubesse disto teria me apressado em comer o bolo ontem.” E todos aplaudiram esta resposta espirituosa. Com efeito, a criança tinha recebido uma forte lição, mas de puro egoísmo, da qual não deixará de aproveitar-se uma outra vez, pois agora sabe quanto custa a generosidade forçada. Resta saber que frutos dará mais tarde esta semente quando, com mais idade, a criança fizer a aplicação dessa moral em coisas mais sérias que um bolo.
Sabe-se todos os pensamentos que este único fato pode ter feito germinar nessa cabecinha? Depois disto, como querem que uma criança não seja egoísta quando, em vez de nela despertar o prazer de dar e de lhe representar a felicidade de quem recebe, impõem-lhe um sacrifício como punição? Não é inspirar aversão ao ato de dar e àqueles que necessitam?
Outro hábito, igualmente frequente, é o de castigar a criança mandando-a comer na cozinha com os criados. A punição está menos na exclusão da mesa do que na humilhação de ir para a mesa dos serviçais. Assim se acha inoculado, desde a mais tenra idade, o vírus da sensualidade, do egoísmo, do orgulho, do desprezo aos inferiores, das paixões, numa palavra, que com razão são consideradas como as chagas da Humanidade.
É preciso ser dotado de uma natureza excepcionalmente boa para resistir a tais influências, produzidas na idade mais impressionável, na qual não podem encontrar o contrapeso nem da vontade, nem da experiência. Assim, por pouco que aí se ache o germe das más paixões, o que é o caso mais ordinário, dada a natureza da maioria dos Espíritos que se encarnam na Terra, ele não pode deixar de desenvolver-se sob tais influências, ao passo que seria preciso observar-lhe os menores traços para reprimi-los.
A falta, sem dúvida, é dos pais, mas é preciso dizer que muitas vezes estes pecam mais por ignorância do que por má vontade. Em muitos há, incontestavelmente, uma culposa despreocupação, mas em muitos outros a intenção é boa, no entanto, é o remédio que nada vale, ou que é mal aplicado.
Sendo os primeiros médicos da alma de seus filhos, os pais deveriam ser instruídos, não só de seus deveres, mas dos meios de cumpri-los. Não basta ao médico saber que deve procurar curar, é preciso saber como agir. Ora, para os pais, onde estão os meios de instruir-se nesta parte tão importante de sua tarefa? Hoje dá-se muita instrução à mulher; fazem-na passar por exames rigorosos, mas algum dia foi exigido da mãe que soubesse como fazer para formar o moral de seu filho?
Ensinam-lhe receitas caseiras, mas foi iniciada aos mil e um segredos de governar os jovens corações?
Os pais, portanto, são abandonados sem guia à sua iniciativa. É por isto que tantas vezes seguem caminhos errados. Assim recolhem, nos erros dos filhos já crescidos, o fruto amargo de sua inexperiência ou de uma ternura mal compreendida, e a Sociedade inteira lhes recebe o contragolpe.
Considerando-se que o egoísmo e o orgulho são reconhecidamente a fonte da maioria das misérias humanas; que enquanto eles reinarem na Terra não se pode esperar nem paz, nem caridade, nem fraternidade, então é preciso atacá-los no estado de embrião, sem esperar que fiquem vivazes.
Pode o Espiritismo remediar esse mal? Sem dúvida nenhuma, e não hesitamos em dizer que ele é o único suficientemente poderoso para fazê-lo cessar, pelo novo ponto de vista com o qual ele permite perceber a missão e a responsabilidade dos pais; dando a conhecer a fonte das qualidades inatas, boas ou más; mostrando a ação que se pode exercer sobre os Espíritos encarnados e desencarnados; dando a fé inquebrantável que sanciona os deveres; enfim, moralizando os próprios pais. Ele já prova sua eficácia pela maneira mais racional empregada na educação das crianças nas famílias verdadeiramente espíritas. Os novos horizontes que abre o Espiritismo fazem ver as coisas de outra maneira. Sendo o seu objetivo o progresso moral da Humanidade, ele forçosamente deverá iluminar o grave problema da educação moral, primeira fonte da moralização das massas. Um dia compreender-se-á que este ramo da educação tem seus princípios, suas regras, como a educação intelectual, numa palavra, que é uma verdadeira ciência. Talvez um dia, também, será imposta a toda mãe de família a obrigação de possuir esses conhecimentos, como se impõe ao advogado a de conhecer o Direito.
O Monde Illustré de 7 de fevereiro de 1863 conta o drama de família seguinte, que comoveu, a justo título, a sociedade de Florença. O autor assim começa a sua narração:
“Eis a história. Ele era um velho de setenta e dois anos; ela, uma jovem de vinte. Ele a havia esposado há três anos... Não vos revolteis! O velho conde, originário de Viterbo, era absolutamente sem família, o que é muito estranho para um milionário! Amália não era sem família, mas era sem milhões! Para compensar as coisas, quase a tendo visto nascer, sabendo-a de bom coração e de um espírito encantador, ele tinha dito à mãe: ‘Deixa-me paternalmente casar com Amália.
Durante alguns anos ela cuidará de mim e depois...’
“Fez-se o casamento. Amália compreende os seus deveres; cerca o velho dos mais assíduos cuidados e lhe sacrifica todos os prazeres de sua idade. Tendo o conde ficado cego e semiparalítico, ela passava as mais longas horas do dia a lhe fazer companhia, a fazer leitura, a lhe contar tudo o que podia distraí-lo e encantá-lo.
‘Como sois boa, minha cara filha!’ exclamava ele muitas vezes, tomando-lhe as mãos e atraindo-a para depor sobre sua fronte o casto e doce beijo do enternecimento e do reconhecimento.
“Um dia, entretanto, ele percebe que Amália se afasta de sua pessoa; que, posto sempre assídua e cheia de solicitude, ela parece temer sentar-se a seus pés. Uma suspeita atravessa seu espírito. Uma noite, quando ela fazia leitura, ele lhe toma o braço, a atrai, enlaça-lhe a cintura e então, soltando um grito terrível, cai esgotado de emoção e de cólera aos pés da jovem! Amália perde a cabeça; lança-se para a escada, atinge o andar superior, precipita-se pela janela e cai estatelada. O velho sobreviveu apenas seis horas a essa catástrofe!”
“Eis a história. Ele era um velho de setenta e dois anos; ela, uma jovem de vinte. Ele a havia esposado há três anos... Não vos revolteis! O velho conde, originário de Viterbo, era absolutamente sem família, o que é muito estranho para um milionário! Amália não era sem família, mas era sem milhões! Para compensar as coisas, quase a tendo visto nascer, sabendo-a de bom coração e de um espírito encantador, ele tinha dito à mãe: ‘Deixa-me paternalmente casar com Amália.
Durante alguns anos ela cuidará de mim e depois...’
“Fez-se o casamento. Amália compreende os seus deveres; cerca o velho dos mais assíduos cuidados e lhe sacrifica todos os prazeres de sua idade. Tendo o conde ficado cego e semiparalítico, ela passava as mais longas horas do dia a lhe fazer companhia, a fazer leitura, a lhe contar tudo o que podia distraí-lo e encantá-lo.
‘Como sois boa, minha cara filha!’ exclamava ele muitas vezes, tomando-lhe as mãos e atraindo-a para depor sobre sua fronte o casto e doce beijo do enternecimento e do reconhecimento.
“Um dia, entretanto, ele percebe que Amália se afasta de sua pessoa; que, posto sempre assídua e cheia de solicitude, ela parece temer sentar-se a seus pés. Uma suspeita atravessa seu espírito. Uma noite, quando ela fazia leitura, ele lhe toma o braço, a atrai, enlaça-lhe a cintura e então, soltando um grito terrível, cai esgotado de emoção e de cólera aos pés da jovem! Amália perde a cabeça; lança-se para a escada, atinge o andar superior, precipita-se pela janela e cai estatelada. O velho sobreviveu apenas seis horas a essa catástrofe!”
Perguntarão que relação pode ter esta história com o Espiritismo? Vê-se aí a intervenção de alguns espíritos brincalhões? ─ Essas relações estão nas deduções que o Espiritismo ensina a tirar das coisas aparentemente mais vulgares da vida.
Quando o céptico ou o indiferente não vê num fato senão um motivo para a ironia, ou passa ao lado sem notar, o espírita o observa e dele tira uma instrução, remontando às causas providenciais, sondando-lhes as consequências para a vida porvindoura, conforme os exemplos que as relações de além-túmulo lhe oferecem, da justiça de Deus.
No fato acima relatado, em vez de simples e agradável anedota entre ele, o velho, e ela, a jovem, o Espiritismo vê duas vítimas. Ora, como o interesse pelos infelizes não termina no sólio da vida presente, mas os segue na vida futura, na qual acredita, ele pergunta se aí não há um duplo castigo para uma dupla falta, e se ambos não foram punidos por onde pecaram. Ele vê um suicídio, e como sabe que esse crime é sempre punido, ele se pergunta qual o grau de responsabilidade em que incorre o que o cometeu.
Vós que pensais que o Espiritismo só se ocupa de duendes, de aparições fantásticas, de mesas girantes e de Espíritos batedores, se vos désseis ao trabalho de estudá-lo, saberíeis que ele toca em todas as questões morais. Esses Espíritos que vos parecem tão risíveis, e que, entretanto, não passam de almas dos homens, dão a quem observa as suas manifestações a prova de que ele próprio é Espírito, momentaneamente ligado a um corpo. Ele vê na morte não o fim da vida, mas a porta da prisão que se abre ao prisioneiro para restituí-lo à liberdade. Aprende que as vicissitudes da vida corpórea são as consequências de suas próprias imperfeições, isto é, das expiações pelo passado e pelo presente, e provações para o futuro. Daí ele é naturalmente conduzido a não ver o cego acaso nos acontecimentos, mas a mão da Providência. Para ele a justa sentença: A cada um segundo as suas obras não só acha a sua aplicação apenas no além-túmulo, mas também na Terra. Eis por que tudo o que se passa em redor de si tem seu valor, sua razão de ser. Ele tudo estuda para disso tirar proveito e regular sua conduta com vistas ao futuro, que para ele é uma realidade demonstrada. Remontando às causas das desgraças que o afligem, aprende a não mais acusar a sorte ou a fatalidade, mas a si mesmo.
Não tendo esta digressão outro objetivo senão mostrar que o Espiritismo se ocupa de algo mais que de Espíritos batedores, voltemos ao nosso assunto.
Considerando-se que o fato foi tornado público, é permitido apreciá-lo, tanto mais quanto não designamos ninguém nominalmente.
Se se examinar a coisa do ponto de vista puramente mundano, a maior parte das pessoas não verá nele senão a consequência muito natural de uma união desproporcional, e atirarão no velho a pedra do ridículo como oração fúnebre.
Outros acusarão de ingratidão a jovem senhora que traiu a confiança do homem generoso que queria enriquecê-la. No entanto, ela tem para o espírita um lado mais sério, porque o espírita aí busca um ensinamento.
Perguntar-nos-emos, então, se na ação do velho não havia mais egoísmo que generosidade ao vincular uma moça quase criança à sua caducidade, pelos laços indissolúveis que podiam conduzi-la à idade em que se deve antes pensar no descanso do que em gozar do mundo; se impondo-lhe esse duro sacrifício, não era fazê-la pagar bem caro a fortuna que lhe prometera. Não há verdadeira generosidade sem desinteresse. Quanto à jovem, ela não podia aceitar esses laços senão com a perspectiva de vê-los quebrados em breve, pois nenhum motivo de afeição a ligava ao velho. Havia, pois, cálculo de ambos os lados, e esse cálculo foi frustrado. Deus não permitiu que nem um nem o outro o aproveitassem. A um infringiu a desilusão, ao outro a vergonha, que os mataram a ambos.
Resta a responsabilidade do suicídio, que jamais fica impune, mas que muitas vezes encontra circunstâncias atenuantes. A mãe da jovem, para encorajá-la a aceitá-lo, havia dito: “Com esta grande fortuna farás a felicidade do homem pobre que amares. Enquanto esperas, honra e respeita, durante o que lhe resta de vida, esse grande coração que quis fazer-te sua herdeira.” Era tomá-la pelo lado sensível, mas, para gozar dos benefícios desse grande coração, que teria sido muito maior se a tivesse dotado sem interesse, seria preciso especular sobre a duração de sua vida. A moça errou ao ceder, mas a mãe errou mais em excitá-la, e é ela que incorrerá na maior parte da responsabilidade do suicídio da filha.
Quando o céptico ou o indiferente não vê num fato senão um motivo para a ironia, ou passa ao lado sem notar, o espírita o observa e dele tira uma instrução, remontando às causas providenciais, sondando-lhes as consequências para a vida porvindoura, conforme os exemplos que as relações de além-túmulo lhe oferecem, da justiça de Deus.
No fato acima relatado, em vez de simples e agradável anedota entre ele, o velho, e ela, a jovem, o Espiritismo vê duas vítimas. Ora, como o interesse pelos infelizes não termina no sólio da vida presente, mas os segue na vida futura, na qual acredita, ele pergunta se aí não há um duplo castigo para uma dupla falta, e se ambos não foram punidos por onde pecaram. Ele vê um suicídio, e como sabe que esse crime é sempre punido, ele se pergunta qual o grau de responsabilidade em que incorre o que o cometeu.
Vós que pensais que o Espiritismo só se ocupa de duendes, de aparições fantásticas, de mesas girantes e de Espíritos batedores, se vos désseis ao trabalho de estudá-lo, saberíeis que ele toca em todas as questões morais. Esses Espíritos que vos parecem tão risíveis, e que, entretanto, não passam de almas dos homens, dão a quem observa as suas manifestações a prova de que ele próprio é Espírito, momentaneamente ligado a um corpo. Ele vê na morte não o fim da vida, mas a porta da prisão que se abre ao prisioneiro para restituí-lo à liberdade. Aprende que as vicissitudes da vida corpórea são as consequências de suas próprias imperfeições, isto é, das expiações pelo passado e pelo presente, e provações para o futuro. Daí ele é naturalmente conduzido a não ver o cego acaso nos acontecimentos, mas a mão da Providência. Para ele a justa sentença: A cada um segundo as suas obras não só acha a sua aplicação apenas no além-túmulo, mas também na Terra. Eis por que tudo o que se passa em redor de si tem seu valor, sua razão de ser. Ele tudo estuda para disso tirar proveito e regular sua conduta com vistas ao futuro, que para ele é uma realidade demonstrada. Remontando às causas das desgraças que o afligem, aprende a não mais acusar a sorte ou a fatalidade, mas a si mesmo.
Não tendo esta digressão outro objetivo senão mostrar que o Espiritismo se ocupa de algo mais que de Espíritos batedores, voltemos ao nosso assunto.
Considerando-se que o fato foi tornado público, é permitido apreciá-lo, tanto mais quanto não designamos ninguém nominalmente.
Se se examinar a coisa do ponto de vista puramente mundano, a maior parte das pessoas não verá nele senão a consequência muito natural de uma união desproporcional, e atirarão no velho a pedra do ridículo como oração fúnebre.
Outros acusarão de ingratidão a jovem senhora que traiu a confiança do homem generoso que queria enriquecê-la. No entanto, ela tem para o espírita um lado mais sério, porque o espírita aí busca um ensinamento.
Perguntar-nos-emos, então, se na ação do velho não havia mais egoísmo que generosidade ao vincular uma moça quase criança à sua caducidade, pelos laços indissolúveis que podiam conduzi-la à idade em que se deve antes pensar no descanso do que em gozar do mundo; se impondo-lhe esse duro sacrifício, não era fazê-la pagar bem caro a fortuna que lhe prometera. Não há verdadeira generosidade sem desinteresse. Quanto à jovem, ela não podia aceitar esses laços senão com a perspectiva de vê-los quebrados em breve, pois nenhum motivo de afeição a ligava ao velho. Havia, pois, cálculo de ambos os lados, e esse cálculo foi frustrado. Deus não permitiu que nem um nem o outro o aproveitassem. A um infringiu a desilusão, ao outro a vergonha, que os mataram a ambos.
Resta a responsabilidade do suicídio, que jamais fica impune, mas que muitas vezes encontra circunstâncias atenuantes. A mãe da jovem, para encorajá-la a aceitá-lo, havia dito: “Com esta grande fortuna farás a felicidade do homem pobre que amares. Enquanto esperas, honra e respeita, durante o que lhe resta de vida, esse grande coração que quis fazer-te sua herdeira.” Era tomá-la pelo lado sensível, mas, para gozar dos benefícios desse grande coração, que teria sido muito maior se a tivesse dotado sem interesse, seria preciso especular sobre a duração de sua vida. A moça errou ao ceder, mas a mãe errou mais em excitá-la, e é ela que incorrerá na maior parte da responsabilidade do suicídio da filha.
É assim que aquele que se mata para escapar à miséria é culpado pela falta de coragem e de resignação, mas muito mais culpado ainda é aquele que é a causa primeira desse ato de desespero. Eis o que o Espiritismo ensina, pelos exemplos que põe sob os olhos daqueles que estudam o mundo invisível.
Quanto à mãe, sua punição começa nesta vida, a princípio pela morte horrível da filha, cuja imagem talvez venha persegui-la e enchê-la de remorsos, depois pela inutilidade, para ela, do sacrifício que ela provocou, porque tendo falecido o marido seis horas depois de sua mulher, toda a sua fortuna vai para os colaterais afastados, e ela nenhum proveito terá.
Os jornais estão cheios de casos de todo gênero, louváveis ou censuráveis, que podem oferecer, como este que acabamos de relatar, assunto para estudos morais sérios. É para os espíritas uma mina inesgotável de observações e instruções. O Espiritismo lhes dá os meios de aí descobrirem o que se passa desapercebido para os indiferentes e ainda mais para o céptico, que geralmente aí não vê senão o fato mais ou menos picante, sem lhe procurar nem as causas nem as consequências. Para os grupos, é um elemento fecundo de trabalho, no qual os Espíritos protetores não deixarão de ajudar, dando a sua apreciação.
Quanto à mãe, sua punição começa nesta vida, a princípio pela morte horrível da filha, cuja imagem talvez venha persegui-la e enchê-la de remorsos, depois pela inutilidade, para ela, do sacrifício que ela provocou, porque tendo falecido o marido seis horas depois de sua mulher, toda a sua fortuna vai para os colaterais afastados, e ela nenhum proveito terá.
Os jornais estão cheios de casos de todo gênero, louváveis ou censuráveis, que podem oferecer, como este que acabamos de relatar, assunto para estudos morais sérios. É para os espíritas uma mina inesgotável de observações e instruções. O Espiritismo lhes dá os meios de aí descobrirem o que se passa desapercebido para os indiferentes e ainda mais para o céptico, que geralmente aí não vê senão o fato mais ou menos picante, sem lhe procurar nem as causas nem as consequências. Para os grupos, é um elemento fecundo de trabalho, no qual os Espíritos protetores não deixarão de ajudar, dando a sua apreciação.
Na Revista de novembro de 1863, publicamos uma carta de um condenado detido numa penitenciária, como prova da influência moralizadora do Espiritismo. A carta abaixo transcrita, de um condenado em outra prisão, é um exemplo dessa poderosa influência. É de 27 de dezembro de 1863. Transcrevemo-la textualmente, quanto ao estilo. Corrigimos apenas os erros ortográficos.
“Senhor,
“Há poucos dias, quando me falaram pela primeira vez de Espiritismo e de revelação de além-túmulo, eu ri e disse que isto não era possível. Eu falava como um ignorante, que sou. Alguns dias depois tiveram a bondade de me confiar, em minha horrível posição em que me acho agora, vosso bom e excelente Livro dos Espíritos. A princípio li algumas páginas com incredulidade, não querendo, ou melhor, não crendo nessa ciência. Enfim, pouco a pouco e sem me aperceber, por ele tomei gosto; depois levei a coisa a sério; depois li pela segunda vez o vosso livro, mas então com um outro espírito, isto é, com calma e com toda a pouca inteligência que Deus me deu.
“Senti então despertar essa velha fé que minha mãe me tinha posto no coração e que dormitava há longo tempo. Senti o desejo de me esclarecer sobre o Espiritismo.
A partir desse momento tive um pensamento muito decidido, o de tomar conhecimento, aprender, ver e depois julgar. Pus-me à obra com toda a crença que se pode ter e que é preciso ter em Deus e em seu poder. Eu desejava ver a verdade.
“Senhor,
“Há poucos dias, quando me falaram pela primeira vez de Espiritismo e de revelação de além-túmulo, eu ri e disse que isto não era possível. Eu falava como um ignorante, que sou. Alguns dias depois tiveram a bondade de me confiar, em minha horrível posição em que me acho agora, vosso bom e excelente Livro dos Espíritos. A princípio li algumas páginas com incredulidade, não querendo, ou melhor, não crendo nessa ciência. Enfim, pouco a pouco e sem me aperceber, por ele tomei gosto; depois levei a coisa a sério; depois li pela segunda vez o vosso livro, mas então com um outro espírito, isto é, com calma e com toda a pouca inteligência que Deus me deu.
“Senti então despertar essa velha fé que minha mãe me tinha posto no coração e que dormitava há longo tempo. Senti o desejo de me esclarecer sobre o Espiritismo.
A partir desse momento tive um pensamento muito decidido, o de tomar conhecimento, aprender, ver e depois julgar. Pus-me à obra com toda a crença que se pode ter e que é preciso ter em Deus e em seu poder. Eu desejava ver a verdade.
Orei com fervor e comecei as experiências.
“As primeiras foram nulas, sem resultado algum, mas não me desencorajei. Perseverei em minhas experiências e, palavra, redobrei minhas preces, que talvez não fossem bastante fervorosas e mergulhei no trabalho com toda a convicção de uma alma crente e que espera.
“As primeiras foram nulas, sem resultado algum, mas não me desencorajei. Perseverei em minhas experiências e, palavra, redobrei minhas preces, que talvez não fossem bastante fervorosas e mergulhei no trabalho com toda a convicção de uma alma crente e que espera.
“Ao cabo de algumas noites, pois só posso fazer as experiências à noite, senti, por cerca de dez minutos, frêmitos nas pontas dos dedos e uma leve sensação no braço, como se tivesse sentido correr um riachinho de água morna, que parava no punho. Eu estava então bem recolhido, todo atenção e cheio de fé. Meu lápis traçou algumas linhas perfeitamente legíveis, mas não bastante corretas para não crer que estivesse sob o peso de uma alucinação. Esperei então com paciência a noite seguinte para recomeçar as experiências, e dessa vez agradeci a Deus, de todo o coração, pois tinha obtido mais do que ousava esperar.
“Desde então, de duas em duas noites, entretenho-me com os Espíritos que são bastante bons para responder ao meu apelo e, em menos de dez minutos, respondem sempre com caridade. Escrevo meia página ou páginas inteiras que minha inteligência não poderia fazer sozinha, porque, às vezes, são tratados filosófico religiosos em que jamais pensei nem pus em prática; porque dizia-me, aos primeiros resultados: Não serás joguete de uma alucinação ou da tua vontade? E a reflexão e o exame me provavam que eu estava bem longe dessa inteligência que havia traçado aquelas linhas. Eu baixava a cabeça, cria e não podia ir contra a evidência, a menos que estivesse inteiramente louco.
“Remeti duas ou três dessas comunicações à pessoa que tinha feito a caridade de me confiar o vosso bom livro, para que ela sancione se estou certo. Venho pedirvos, senhor, vós que sois a alma do Espiritismo, que tenhais a bondade de me permitir vos envie o que obtiver de sério em minhas conversas de além-túmulo, se, todavia, achardes bom. Se isto for de vosso agrado, vos enviarei as conversas mantidas com Verger, aquele que feriu o arcebispo de Paris. Para bem me assegurar de que o manifestante era ele mesmo, evoquei São Luís, que me respondeu afirmativamente, bem como outro Espírito no qual tenho muita confiança, etc...............”
As consequências morais deste fato se deduzem por si mesmas. Eis um homem que tinha abjurado toda crença e que, ferido pela lei, se acha confundido com o rebotalho da Sociedade. Esse homem, no meio do pântano moral, voltou à fé. Ele vê o abismo em que caiu; ele se arrepende; ele ora e, digamo-lo, ah! Ele ora com mais fervor que muita gente que exibe devoção. Para isto bastou a leitura de um livro onde encontrou elementos de fé que a sua razão pôde admitir, que reanimaram as suas esperanças e lhe fizeram compreender o futuro. Além disso, o que é digno de nota, é que a princípio leu com prevenção e sua incredulidade só foi vencida pelo ascendente da lógica. Se tais resultados são produzidos por uma simples leitura, feita, por assim dizer, às ocultas, o que seria se a ela se pudesse juntar a influência das exortações verbais!
É bem certo que, na disposição de espírito em que hoje se encontram, esses dois homens (ver o fato relatado no número de novembro último), não apenas não terão, durante sua detenção, qualquer conduta reprovável, mas entrarão no mundo com a resolução de aí viverem honestamente.
Considerando-se que estes dois culpados puderam ser reconduzidos ao bem pela fé que acharam no Espiritismo, é evidente que se eles tivessem tido essa fé previamente, não teriam cometido o mal. A Sociedade é, pois, interessada na propagação de uma doutrina de tão grande poder moralizador. É o que se começa a compreender.
Uma outra consequência a tirar do fato relatado é que os Espíritos não são detidos pelos ferrolhos, e que vão até o fundo das prisões levar suas consolações.
Assim, não está no poder de ninguém impedir que eles se manifestem de uma ou de outra maneira. Se não for pela escrita, será pela audição. Eles enfrentam todas as proibições, riem-se de todas as interdições, transpõem todos os cordões sanitários. Que barreira podem, então, lhes opor os inimigos do Espiritismo?
“Desde então, de duas em duas noites, entretenho-me com os Espíritos que são bastante bons para responder ao meu apelo e, em menos de dez minutos, respondem sempre com caridade. Escrevo meia página ou páginas inteiras que minha inteligência não poderia fazer sozinha, porque, às vezes, são tratados filosófico religiosos em que jamais pensei nem pus em prática; porque dizia-me, aos primeiros resultados: Não serás joguete de uma alucinação ou da tua vontade? E a reflexão e o exame me provavam que eu estava bem longe dessa inteligência que havia traçado aquelas linhas. Eu baixava a cabeça, cria e não podia ir contra a evidência, a menos que estivesse inteiramente louco.
“Remeti duas ou três dessas comunicações à pessoa que tinha feito a caridade de me confiar o vosso bom livro, para que ela sancione se estou certo. Venho pedirvos, senhor, vós que sois a alma do Espiritismo, que tenhais a bondade de me permitir vos envie o que obtiver de sério em minhas conversas de além-túmulo, se, todavia, achardes bom. Se isto for de vosso agrado, vos enviarei as conversas mantidas com Verger, aquele que feriu o arcebispo de Paris. Para bem me assegurar de que o manifestante era ele mesmo, evoquei São Luís, que me respondeu afirmativamente, bem como outro Espírito no qual tenho muita confiança, etc...............”
As consequências morais deste fato se deduzem por si mesmas. Eis um homem que tinha abjurado toda crença e que, ferido pela lei, se acha confundido com o rebotalho da Sociedade. Esse homem, no meio do pântano moral, voltou à fé. Ele vê o abismo em que caiu; ele se arrepende; ele ora e, digamo-lo, ah! Ele ora com mais fervor que muita gente que exibe devoção. Para isto bastou a leitura de um livro onde encontrou elementos de fé que a sua razão pôde admitir, que reanimaram as suas esperanças e lhe fizeram compreender o futuro. Além disso, o que é digno de nota, é que a princípio leu com prevenção e sua incredulidade só foi vencida pelo ascendente da lógica. Se tais resultados são produzidos por uma simples leitura, feita, por assim dizer, às ocultas, o que seria se a ela se pudesse juntar a influência das exortações verbais!
É bem certo que, na disposição de espírito em que hoje se encontram, esses dois homens (ver o fato relatado no número de novembro último), não apenas não terão, durante sua detenção, qualquer conduta reprovável, mas entrarão no mundo com a resolução de aí viverem honestamente.
Considerando-se que estes dois culpados puderam ser reconduzidos ao bem pela fé que acharam no Espiritismo, é evidente que se eles tivessem tido essa fé previamente, não teriam cometido o mal. A Sociedade é, pois, interessada na propagação de uma doutrina de tão grande poder moralizador. É o que se começa a compreender.
Uma outra consequência a tirar do fato relatado é que os Espíritos não são detidos pelos ferrolhos, e que vão até o fundo das prisões levar suas consolações.
Assim, não está no poder de ninguém impedir que eles se manifestem de uma ou de outra maneira. Se não for pela escrita, será pela audição. Eles enfrentam todas as proibições, riem-se de todas as interdições, transpõem todos os cordões sanitários. Que barreira podem, então, lhes opor os inimigos do Espiritismo?
Variedades
O Sr. Dombre, presidente da Sociedade Espírita de Marmande, manda-nos o seguinte:
“Com o auxílio dos bons Espíritos, em cinco dias livramos de uma obsessão muito violenta e muito perigosa, uma jovem de treze anos, do poder de um mau Espírito, desde 8 de maio último. Diariamente, às cinco da tarde, sem faltar um só dia, ela tinha crises terríveis, de causar piedade. Essa menina mora em bairro distante, e os parentes, que consideravam a doença como epilepsia, não falavam mais nisso. Entretanto um dos nossos, que mora na vizinhança, foi disso informado, e uma observação mais atenta dos fatos permitiu-lhe facilmente reconhecer a verdadeira causa. Seguindo o conselho dos nossos guias espirituais, imediatamente nos pusemos à obra. A 11 deste mês, às 8 horas da noite, em nossas reuniões, começamos por evocar o Espírito, moralizá-lo, orar pelo obsessor e pela vítima e a exercitar sobre ela uma magnetização mental. As reuniões eram feitas todas as noites, e na sexta-feira, dia 15, a menina sofreu a última crise. Só lhe resta a fraqueza da convalescença, consequência de tão longos e tão violentos abalos, e que se manifesta pela tristeza, pela languidez e pelas lágrimas, como nos havia sido anunciado. Pelas comunicações dos bons Espíritos, diariamente éramos informados das várias fases da moléstia.
“Essa cura, que noutros tempos uns teriam considerado como um milagre, e outros como um caso de feitiçaria, pelo que, de acordo com a opinião, teríamos sido santificados ou queimados, produziu uma certa sensação na cidade.”
Felicitamos os nossos irmãos de Marmande pelo resultado que obtiveram no caso e somos felizes de ver que aproveitaram os conselhos contidos na Revista, por ocasião de casos análogos relatados ultimamente. Assim, eles puderam convencer-se da força da ação coletiva, quando dirigida por uma fé sincera e uma ardente caridade.
“Com o auxílio dos bons Espíritos, em cinco dias livramos de uma obsessão muito violenta e muito perigosa, uma jovem de treze anos, do poder de um mau Espírito, desde 8 de maio último. Diariamente, às cinco da tarde, sem faltar um só dia, ela tinha crises terríveis, de causar piedade. Essa menina mora em bairro distante, e os parentes, que consideravam a doença como epilepsia, não falavam mais nisso. Entretanto um dos nossos, que mora na vizinhança, foi disso informado, e uma observação mais atenta dos fatos permitiu-lhe facilmente reconhecer a verdadeira causa. Seguindo o conselho dos nossos guias espirituais, imediatamente nos pusemos à obra. A 11 deste mês, às 8 horas da noite, em nossas reuniões, começamos por evocar o Espírito, moralizá-lo, orar pelo obsessor e pela vítima e a exercitar sobre ela uma magnetização mental. As reuniões eram feitas todas as noites, e na sexta-feira, dia 15, a menina sofreu a última crise. Só lhe resta a fraqueza da convalescença, consequência de tão longos e tão violentos abalos, e que se manifesta pela tristeza, pela languidez e pelas lágrimas, como nos havia sido anunciado. Pelas comunicações dos bons Espíritos, diariamente éramos informados das várias fases da moléstia.
“Essa cura, que noutros tempos uns teriam considerado como um milagre, e outros como um caso de feitiçaria, pelo que, de acordo com a opinião, teríamos sido santificados ou queimados, produziu uma certa sensação na cidade.”
Felicitamos os nossos irmãos de Marmande pelo resultado que obtiveram no caso e somos felizes de ver que aproveitaram os conselhos contidos na Revista, por ocasião de casos análogos relatados ultimamente. Assim, eles puderam convencer-se da força da ação coletiva, quando dirigida por uma fé sincera e uma ardente caridade.
O Journal de la Vienne de 21 de janeiro conta o fato seguinte, que outros jornais reproduziram:
“Há cinco ou seis dias, na cidade de Poitiers, se passa um fato de tal modo extraordinário, que se tornou tema de conversas e dos mais estranhos comentários. Todas as noites, a partir das seis horas, ruídos singulares são ouvidos numa casa da Rue Neuve-Saint-Paul, habitada pela senhorita de O..., irmã do Sr. Conde de O... Segundo nos informaram, estes ruídos fazem o efeito de disparos de artilharia. Violentos golpes parecem ser dados nas portas e nos postigos. A princípio pensaram que fossem causados por brincadeiras de garotos e de vizinhos mal-intencionados.
Foi organizada uma vigilância das mais ativas. Ante a queixa da senhorita de O..., a polícia tomou as mais minuciosas medidas. Agentes foram postos no interior e no exterior da casa. Nada obstante, produziram-se as explosões e sabemos, de boa fonte, que o Sr. M..., brigadeiro, durante a penúltima noite, foi tomado por uma tal comoção da qual ainda hoje não se dá conta.
“Nossa cidade inteira se preocupa com esse inexplicável mistério. Até o presente os inquéritos feitos pela polícia não conduziram a nenhum resultado. Cada um procura a chave do enigma. Algumas pessoas iniciadas no estudo do Espiritismo pretendem que Espíritos batedores são os autores dessas manifestações, às quais não seria estranho um famoso médium, que no entanto não mora no bairro. Outros lembram que outrora existia um cemitério na Rua Neuve-Saint-Paul, e é desnecessário dizer a que conjecturas se entregam a esse respeito.
“De todas essas explicações não sabemos qual é a mais razoável. Resta que a opinião está muito abalada com o caso, e ontem à noite considerável multidão se havia reunido sob as janelas da casa de O..., pelo que a autoridade teve que requerer um piquete do 10º regimento de caçadores, para evacuar a rua. No momento em que escrevemos, a polícia e a guarda ocupam a casa.”
O relato desses fatos nos foi enviado por vários correspondentes particulares. Posto nada tenham de mais estranho que os fatos constatados de manifestações ocorridas em diversas épocas e estejam nos limites do possível, convém suspender o julgamento até mais ampla constatação, não do fato, mas da causa, pois é necessário guardar-se de levar à conta dos Espíritos tudo aquilo que se não compreende.
Também é preciso desconfiar das manobras dos inimigos do Espiritismo, e das armadilhas que podem lançar para tentar levá-lo ao ridículo pela grande credulidade de seus adeptos.
Vemos com satisfação que os espíritas de Poitiers, nisto seguindo os conselhos contidos no Livro dos médiuns e as advertências que fizemos na Revista, até segunda ordem se mantém numa prudente reserva. Se for uma manifestação, ela será provada pela total ausência de causa material; se for uma palhaçada, os autores, sem querer, terão contribuído, como já o fizeram tantas vezes, para despertar a atenção dos indiferentes e provocar o estudo do Espiritismo. Quando fatos análogos se multiplicarem por todos os lados, como é anunciado, e quando inutilmente procurarem a causa neste mundo, terão que convir que está no outro. Em todo caso, os espíritas provam sua sabedoria e sua moderação. É a melhor resposta a dar aos adversários.
“Há cinco ou seis dias, na cidade de Poitiers, se passa um fato de tal modo extraordinário, que se tornou tema de conversas e dos mais estranhos comentários. Todas as noites, a partir das seis horas, ruídos singulares são ouvidos numa casa da Rue Neuve-Saint-Paul, habitada pela senhorita de O..., irmã do Sr. Conde de O... Segundo nos informaram, estes ruídos fazem o efeito de disparos de artilharia. Violentos golpes parecem ser dados nas portas e nos postigos. A princípio pensaram que fossem causados por brincadeiras de garotos e de vizinhos mal-intencionados.
Foi organizada uma vigilância das mais ativas. Ante a queixa da senhorita de O..., a polícia tomou as mais minuciosas medidas. Agentes foram postos no interior e no exterior da casa. Nada obstante, produziram-se as explosões e sabemos, de boa fonte, que o Sr. M..., brigadeiro, durante a penúltima noite, foi tomado por uma tal comoção da qual ainda hoje não se dá conta.
“Nossa cidade inteira se preocupa com esse inexplicável mistério. Até o presente os inquéritos feitos pela polícia não conduziram a nenhum resultado. Cada um procura a chave do enigma. Algumas pessoas iniciadas no estudo do Espiritismo pretendem que Espíritos batedores são os autores dessas manifestações, às quais não seria estranho um famoso médium, que no entanto não mora no bairro. Outros lembram que outrora existia um cemitério na Rua Neuve-Saint-Paul, e é desnecessário dizer a que conjecturas se entregam a esse respeito.
“De todas essas explicações não sabemos qual é a mais razoável. Resta que a opinião está muito abalada com o caso, e ontem à noite considerável multidão se havia reunido sob as janelas da casa de O..., pelo que a autoridade teve que requerer um piquete do 10º regimento de caçadores, para evacuar a rua. No momento em que escrevemos, a polícia e a guarda ocupam a casa.”
O relato desses fatos nos foi enviado por vários correspondentes particulares. Posto nada tenham de mais estranho que os fatos constatados de manifestações ocorridas em diversas épocas e estejam nos limites do possível, convém suspender o julgamento até mais ampla constatação, não do fato, mas da causa, pois é necessário guardar-se de levar à conta dos Espíritos tudo aquilo que se não compreende.
Também é preciso desconfiar das manobras dos inimigos do Espiritismo, e das armadilhas que podem lançar para tentar levá-lo ao ridículo pela grande credulidade de seus adeptos.
Vemos com satisfação que os espíritas de Poitiers, nisto seguindo os conselhos contidos no Livro dos médiuns e as advertências que fizemos na Revista, até segunda ordem se mantém numa prudente reserva. Se for uma manifestação, ela será provada pela total ausência de causa material; se for uma palhaçada, os autores, sem querer, terão contribuído, como já o fizeram tantas vezes, para despertar a atenção dos indiferentes e provocar o estudo do Espiritismo. Quando fatos análogos se multiplicarem por todos os lados, como é anunciado, e quando inutilmente procurarem a causa neste mundo, terão que convir que está no outro. Em todo caso, os espíritas provam sua sabedoria e sua moderação. É a melhor resposta a dar aos adversários.
Dissertações espíritas
(Sociedade Espírita de sens - Médium: Sr. Percheron)
Deus quis que o Espírito do homem fosse ligado à matéria para sofrer as vicissitudes do corpo com o qual se identifica a ponto de ter a ilusão e de tomá-lo por si mesmo, quando não passa de sua prisão passageira. É como se um prisioneiro se confundisse com as paredes de sua cela.
Os materialistas são muito cegos por não se aperceberem de seu erro, pois se quisessem refletir um pouco seriamente, veriam que não é pela matéria de seu corpo que se podem manifestar; veriam que, considerando-se que a matéria desse corpo se renova continuamente, como a água de um rio, não é senão pelo Espírito que podem saber que são sempre eles próprios.
Suponhamos que o corpo de um homem que pesasse sessenta quilos assimile, para a reparação de suas forças, um quilo de nova substância por dia, para substituir a mesma quantidade de antigas moléculas de que se separa e que realizaram o papel que lhes tocava na composição de seus órgãos. Ao cabo de sessenta dias a matéria desse corpo achar-se-ia, então, renovada. Nesta suposição, cujos números podem ser contestados, mas verdadeira em princípio, a matéria do corpo renovar-se-ia seis vezes por ano. O corpo de um homem de vinte anos, assim, já se teria renovado cem vezes; aos quarenta, duzentas e quarenta vezes; aos oitenta, quatrocentas e oitenta vezes. Mas o vosso Espírito ter-se-á renovado? Não, pois tendes consciência de que sois sempre vós mesmos. É, pois, o vosso Espírito que constitui o vosso eu, e por intermédio do qual vós vos afirmais, e não o vosso corpo, que não passa de matéria efêmera e mutável.
“Os materialistas e panteístas dizem que as moléculas desagregadas depois da morte do corpo retornam todas à massa comum de seus elementos primitivos, e o mesmo se dá com a alma, isto é, com o ser que pensa em vós. Mas que sabem eles disso? Há uma massa comum de substância que pensa? Eles jamais o demonstraram, e é o que deveriam ter feito antes de afirmar. Da parte deles, portanto, não passa de uma hipótese. Ora, considerando-se que durante a vida do corpo as moléculas se desagreguem várias centenas de vezes, ficando o Espírito sempre o mesmo, conservando a consciência de sua individualidade, não é mais lógico admitir que a natureza do Espírito não é de se desagregar? Por que então se dissolveria após a morte do corpo e não antes?
“Após esta digressão dirigida aos materialistas, volto ao meu assunto. Se Deus quis que as criaturas espíritas fossem momentaneamente unidas à matéria é, repito, para fazê-las sentir e, por assim dizer, sofrer as necessidades que a matéria exige de seus corpos para sua conservação. Dessas necessidades nascem as vicissitudes que vos fazem sentir o sofrimento e compreender a comiseração que deveis ter por vossos irmãos na mesma posição. Esse estado transitório é, pois, necessário à progressão do vosso Espírito, que sem isto ficaria estagnado.
As necessidades que o corpo vos faz experimentar estimulam o vosso Espírito e o forçam a procurar os meios de provê-las, e desse trabalho forçado nasce o desenvolvimento do pensamento. Constrangido a presidir os movimentos do corpo para dirigi-los visando a sua conservação, o Espírito é conduzido ao trabalho material e daí ao trabalho intelectual, necessários um ao outro e um pelo outro, pois a realização das concepções do Espírito exige o trabalho do corpo, e este não pode ser feito senão sob a direção e o impulso do Espírito. Tendo assim o Espírito adquirido o hábito de trabalhar, constrangido pelas necessidades do corpo, o trabalho, por sua vez, se lhe torna uma necessidade, e, quando desprendido de seus laços, ele não precisa pensar na matéria, mas pensa em trabalhar-se a si mesmo, para o seu adiantamento.
Agora compreendeis a necessidade para o vosso Espírito de ser ligado à matéria durante uma parte de sua existência, para não ficar estacionário.
Teu pai, PERCHERON
assistido pelo Espírito de PASCAL
OBSERVAÇÃO: A estas observações, perfeitamente justas, acrescentaremos que, trabalhando para si mesmo, o Espírito encarnado trabalha para o melhoramento do mundo em que ele habita. Assim, ele ajuda em sua transformação e no seu progresso material, que estão nos desígnios de Deus, de que ele é o instrumento inteligente. Na sua sabedoria previdente, quis a Providência que tudo se encadeasse na Natureza; que todos, homens e coisas, fossem solidários. Depois, quando o Espírito tiver realizado a sua tarefa, quando estiver suficientemente adiantado, gozará dos frutos de suas obras.
Os materialistas são muito cegos por não se aperceberem de seu erro, pois se quisessem refletir um pouco seriamente, veriam que não é pela matéria de seu corpo que se podem manifestar; veriam que, considerando-se que a matéria desse corpo se renova continuamente, como a água de um rio, não é senão pelo Espírito que podem saber que são sempre eles próprios.
Suponhamos que o corpo de um homem que pesasse sessenta quilos assimile, para a reparação de suas forças, um quilo de nova substância por dia, para substituir a mesma quantidade de antigas moléculas de que se separa e que realizaram o papel que lhes tocava na composição de seus órgãos. Ao cabo de sessenta dias a matéria desse corpo achar-se-ia, então, renovada. Nesta suposição, cujos números podem ser contestados, mas verdadeira em princípio, a matéria do corpo renovar-se-ia seis vezes por ano. O corpo de um homem de vinte anos, assim, já se teria renovado cem vezes; aos quarenta, duzentas e quarenta vezes; aos oitenta, quatrocentas e oitenta vezes. Mas o vosso Espírito ter-se-á renovado? Não, pois tendes consciência de que sois sempre vós mesmos. É, pois, o vosso Espírito que constitui o vosso eu, e por intermédio do qual vós vos afirmais, e não o vosso corpo, que não passa de matéria efêmera e mutável.
“Os materialistas e panteístas dizem que as moléculas desagregadas depois da morte do corpo retornam todas à massa comum de seus elementos primitivos, e o mesmo se dá com a alma, isto é, com o ser que pensa em vós. Mas que sabem eles disso? Há uma massa comum de substância que pensa? Eles jamais o demonstraram, e é o que deveriam ter feito antes de afirmar. Da parte deles, portanto, não passa de uma hipótese. Ora, considerando-se que durante a vida do corpo as moléculas se desagreguem várias centenas de vezes, ficando o Espírito sempre o mesmo, conservando a consciência de sua individualidade, não é mais lógico admitir que a natureza do Espírito não é de se desagregar? Por que então se dissolveria após a morte do corpo e não antes?
“Após esta digressão dirigida aos materialistas, volto ao meu assunto. Se Deus quis que as criaturas espíritas fossem momentaneamente unidas à matéria é, repito, para fazê-las sentir e, por assim dizer, sofrer as necessidades que a matéria exige de seus corpos para sua conservação. Dessas necessidades nascem as vicissitudes que vos fazem sentir o sofrimento e compreender a comiseração que deveis ter por vossos irmãos na mesma posição. Esse estado transitório é, pois, necessário à progressão do vosso Espírito, que sem isto ficaria estagnado.
As necessidades que o corpo vos faz experimentar estimulam o vosso Espírito e o forçam a procurar os meios de provê-las, e desse trabalho forçado nasce o desenvolvimento do pensamento. Constrangido a presidir os movimentos do corpo para dirigi-los visando a sua conservação, o Espírito é conduzido ao trabalho material e daí ao trabalho intelectual, necessários um ao outro e um pelo outro, pois a realização das concepções do Espírito exige o trabalho do corpo, e este não pode ser feito senão sob a direção e o impulso do Espírito. Tendo assim o Espírito adquirido o hábito de trabalhar, constrangido pelas necessidades do corpo, o trabalho, por sua vez, se lhe torna uma necessidade, e, quando desprendido de seus laços, ele não precisa pensar na matéria, mas pensa em trabalhar-se a si mesmo, para o seu adiantamento.
Agora compreendeis a necessidade para o vosso Espírito de ser ligado à matéria durante uma parte de sua existência, para não ficar estacionário.
Teu pai, PERCHERON
assistido pelo Espírito de PASCAL
OBSERVAÇÃO: A estas observações, perfeitamente justas, acrescentaremos que, trabalhando para si mesmo, o Espírito encarnado trabalha para o melhoramento do mundo em que ele habita. Assim, ele ajuda em sua transformação e no seu progresso material, que estão nos desígnios de Deus, de que ele é o instrumento inteligente. Na sua sabedoria previdente, quis a Providência que tudo se encadeasse na Natureza; que todos, homens e coisas, fossem solidários. Depois, quando o Espírito tiver realizado a sua tarefa, quando estiver suficientemente adiantado, gozará dos frutos de suas obras.
(Sociedade de Paris - Médium: Srta. A. C.)
I
Limites da reencarnação.
A reencarnação é necessária enquanto a matéria domina o Espírito. Mas, a partir do momento em que o Espírito encarnado chegou a dominar a matéria e a anular os efeitos de sua reação sobre o moral, a reencarnação não tem mais nenhuma utilidade nem razão de ser. Com efeito, o corpo é necessário ao Espírito para o trabalho progressivo até que, tendo chegado a manejar esse instrumento à vontade, a lhe imprimir a sua vontade, o trabalho está concluído. Então lhe é necessário outro campo para a sua marcha, para o seu adiantamento no rumo do infinito. É-lhe necessário outro círculo de estudos, onde a matéria grosseira das esferas inferiores seja desconhecida. Tendo depurado e experimentado suas sensações na Terra ou em globos análogos, ele está maduro para a vida espiritual e seus estudos. Tendo-se elevado acima de todas as sensações corporais, não mais tem nenhum desses desejos ou necessidades inerentes à corporeidade: é Espírito e vive pelas sensações espirituais, que são infinitamente mais deliciosas do que as mais agradáveis sensações corporais.
A reencarnação é necessária enquanto a matéria domina o Espírito. Mas, a partir do momento em que o Espírito encarnado chegou a dominar a matéria e a anular os efeitos de sua reação sobre o moral, a reencarnação não tem mais nenhuma utilidade nem razão de ser. Com efeito, o corpo é necessário ao Espírito para o trabalho progressivo até que, tendo chegado a manejar esse instrumento à vontade, a lhe imprimir a sua vontade, o trabalho está concluído. Então lhe é necessário outro campo para a sua marcha, para o seu adiantamento no rumo do infinito. É-lhe necessário outro círculo de estudos, onde a matéria grosseira das esferas inferiores seja desconhecida. Tendo depurado e experimentado suas sensações na Terra ou em globos análogos, ele está maduro para a vida espiritual e seus estudos. Tendo-se elevado acima de todas as sensações corporais, não mais tem nenhum desses desejos ou necessidades inerentes à corporeidade: é Espírito e vive pelas sensações espirituais, que são infinitamente mais deliciosas do que as mais agradáveis sensações corporais.
II
A reencarnação e as aspirações do homem.
As aspirações da alma arrastam à sua realização, e essa realização é conseguida na reencarnação, enquanto o Espírito está no trabalho material. Explico-me. Tomemos o Espírito em seu início na carreira humana. Estúpido e bruto, ele sente, contudo, a centelha divina em si, pois adora um Deus que ele materializa conforme a sua materialidade. Nesse ser ainda vizinho do animal há uma aspiração instintiva, quase inconsciente, para um estado menos inferior. Ele começa por desejar satisfazer seus apetites materiais e inveja os que vê num estado melhor que o seu. Assim, numa encarnação seguinte, escolhe ele mesmo, ou antes, é arrastado a um corpo mais aperfeiçoado, e sempre, em cada uma de suas existências, deseja um melhoramento material. Jamais se sentindo satisfeito, quer subir sempre, porque a aspiração à felicidade é a grande alavanca do progresso.
À medida que suas sensações corporais se tornam maiores, mais requintadas, suas sensações espirituais também despertam e crescem. Então começa o trabalho moral, e a depuração da alma se une à aspiração do corpo para chegar ao estado superior.
Esse estado de igualdade de aspirações materiais e espirituais não é de longa duração, porque em breve o Espírito eleva-se acima da matéria, e suas sensações não mais podem ser por ela satisfeitas. Ele necessita mais; precisa de coisa melhor; mas aí, tendo o corpo sido levado à sua perfeição sensitiva, não pode acompanhar o Espírito, que agora o domina e dele se destaca cada vez mais, como de um instrumento inútil. Ele direciona todos os seus desejos, todas as suas aspirações para um estado superior; sente que as aspirações materiais que lhe eram um motivo de felicidade em suas satisfações, não são mais que um aborrecimento, uma degradação, uma triste necessidade da qual ele aspira libertar-se para gozar, sem entraves, de todas as venturas espirituais que pressente.
As aspirações da alma arrastam à sua realização, e essa realização é conseguida na reencarnação, enquanto o Espírito está no trabalho material. Explico-me. Tomemos o Espírito em seu início na carreira humana. Estúpido e bruto, ele sente, contudo, a centelha divina em si, pois adora um Deus que ele materializa conforme a sua materialidade. Nesse ser ainda vizinho do animal há uma aspiração instintiva, quase inconsciente, para um estado menos inferior. Ele começa por desejar satisfazer seus apetites materiais e inveja os que vê num estado melhor que o seu. Assim, numa encarnação seguinte, escolhe ele mesmo, ou antes, é arrastado a um corpo mais aperfeiçoado, e sempre, em cada uma de suas existências, deseja um melhoramento material. Jamais se sentindo satisfeito, quer subir sempre, porque a aspiração à felicidade é a grande alavanca do progresso.
À medida que suas sensações corporais se tornam maiores, mais requintadas, suas sensações espirituais também despertam e crescem. Então começa o trabalho moral, e a depuração da alma se une à aspiração do corpo para chegar ao estado superior.
Esse estado de igualdade de aspirações materiais e espirituais não é de longa duração, porque em breve o Espírito eleva-se acima da matéria, e suas sensações não mais podem ser por ela satisfeitas. Ele necessita mais; precisa de coisa melhor; mas aí, tendo o corpo sido levado à sua perfeição sensitiva, não pode acompanhar o Espírito, que agora o domina e dele se destaca cada vez mais, como de um instrumento inútil. Ele direciona todos os seus desejos, todas as suas aspirações para um estado superior; sente que as aspirações materiais que lhe eram um motivo de felicidade em suas satisfações, não são mais que um aborrecimento, uma degradação, uma triste necessidade da qual ele aspira libertar-se para gozar, sem entraves, de todas as venturas espirituais que pressente.
III
Ação dos fluidos na reencarnação.
Sendo os fluidos os agentes que põem em movimento o nosso aparelho corporal, também são eles os elementos de nossas aspirações, pois há fluidos corpóreos e fluidos espirituais, tendendo todos a elevar-se e unir-se a fluidos da mesma natureza. Esses fluidos compõem o corpo espiritual do Espírito que, no estado de encarnado, age por meio deles sobre a máquina humana que ele é encarregado de aperfeiçoar, pois tudo é trabalho na Criação, e tudo concorre para o avanço geral.
O Espírito tem o seu livre-arbítrio e procura sempre o que lhe é agradável e o satisfaz. Se for um Espírito inferior e material, ele busca suas satisfações na materialidade, e então dará um impulso aos fluidos materiais, que dominarão, mas tenderão sempre a crescer e elevar-se materialmente. Assim, as aspirações desse encarnado serão materiais e, depois de voltar ao estado de Espírito, buscará nova encarnação, em que satisfará suas necessidades e desejos materiais, porque, notai que a aspiração corporal não pode pedir, como realização, senão nova corporeidade, ao passo que a aspiração espiritual só se liga às sensações do Espírito. Isto ser-lhe-á solicitado por seus fluidos, que ele deixou que se materializassem, e como no ato da reencarnação os fluidos agem para atrair o Espírito ao corpo que foi formado, havendo, assim, atração e união dos fluidos, a reencarnação se opera em condições que darão satisfação às aspirações de sua existência precedente.
Há fluidos espirituais como fluidos materiais, se estes dominarem. Entretanto, quando o espiritual conquistou a ascendência sobre o material, o Espírito, que julga de modo diferente, escolhe ou é atraído por simpatias diferentes. Como ele necessita de depuração, e esta só é alcançada pelo trabalho, as encarnações escolhidas lhe são mais penosas porque, depois de haver dado supremacia à matéria e a seus fluidos, ele deve constrangê-la, lutar com ela e dominá-la. Daí essas existências tão dolorosas que muitas vezes parecem tão injustamente infringidas a Espíritos bons e inteligentes. Esses fazem sua última etapa corporal e entram, ao sair deste mundo, nas esferas superiores, onde suas aspirações superiores encontrarão a sua realização.
Sendo os fluidos os agentes que põem em movimento o nosso aparelho corporal, também são eles os elementos de nossas aspirações, pois há fluidos corpóreos e fluidos espirituais, tendendo todos a elevar-se e unir-se a fluidos da mesma natureza. Esses fluidos compõem o corpo espiritual do Espírito que, no estado de encarnado, age por meio deles sobre a máquina humana que ele é encarregado de aperfeiçoar, pois tudo é trabalho na Criação, e tudo concorre para o avanço geral.
O Espírito tem o seu livre-arbítrio e procura sempre o que lhe é agradável e o satisfaz. Se for um Espírito inferior e material, ele busca suas satisfações na materialidade, e então dará um impulso aos fluidos materiais, que dominarão, mas tenderão sempre a crescer e elevar-se materialmente. Assim, as aspirações desse encarnado serão materiais e, depois de voltar ao estado de Espírito, buscará nova encarnação, em que satisfará suas necessidades e desejos materiais, porque, notai que a aspiração corporal não pode pedir, como realização, senão nova corporeidade, ao passo que a aspiração espiritual só se liga às sensações do Espírito. Isto ser-lhe-á solicitado por seus fluidos, que ele deixou que se materializassem, e como no ato da reencarnação os fluidos agem para atrair o Espírito ao corpo que foi formado, havendo, assim, atração e união dos fluidos, a reencarnação se opera em condições que darão satisfação às aspirações de sua existência precedente.
Há fluidos espirituais como fluidos materiais, se estes dominarem. Entretanto, quando o espiritual conquistou a ascendência sobre o material, o Espírito, que julga de modo diferente, escolhe ou é atraído por simpatias diferentes. Como ele necessita de depuração, e esta só é alcançada pelo trabalho, as encarnações escolhidas lhe são mais penosas porque, depois de haver dado supremacia à matéria e a seus fluidos, ele deve constrangê-la, lutar com ela e dominá-la. Daí essas existências tão dolorosas que muitas vezes parecem tão injustamente infringidas a Espíritos bons e inteligentes. Esses fazem sua última etapa corporal e entram, ao sair deste mundo, nas esferas superiores, onde suas aspirações superiores encontrarão a sua realização.
IV
As afeições terrenas e a reencarnação.
O dogma da reencarnação indefinida encontra oposições no coração do encarnado que ama, porque, em presença dessa infinidade de existências, produzindo laços em cada uma delas, ele se pergunta com espanto em que se tornam as afeições particulares, e se elas não se fundem num único amor geral, o que destruiria a persistência da afeição individual. Ele se pergunta se essa afeição individual não é apenas um meio de adiantamento, e então o desânimo desliza em sua alma, porque a verdadeira afeição experimenta a necessidade de um amor eterno, sentindo que ela não se cansará jamais de amar. O pensamento desses milhares de afeições idênticas lhe parece uma impossibilidade, mesmo admitindo faculdades maiores para o amor.
O encarnado que estuda seriamente o Espiritismo, sem ideia preconcebida por um sistema em detrimento de outro, sente-se arrastado para a reencarnação pela justiça que decorre do progresso e do avanço do Espírito a cada nova existência. No entanto, quando o estuda do ponto de vista de suas afeições do coração, ele duvida e se espanta, malgrado seu. Não podendo pôr de acordo esses dois sentimentos, ele se diz que aí ainda há um véu a levantar, e seu pensamento em trabalho atrai as luzes dos Espíritos para pôr em concordância seu coração e sua razão.
Eu já disse que a encarnação cessa quando é anulada a materialidade. Mostrei como o progresso material a princípio tinha requintado as sensações corporais do Espírito encarnado; como o progresso espiritual, vindo a seguir, havia contrabalançado a influência da matéria e depois a tinha subordinado à sua vontade e que, chegado a esse grau de domínio espiritual, a corporeidade não tinha mais razão de ser, pois o trabalho estava realizado.
Examinemos agora a questão da afeição sob os aspectos material e espiritual.
Para começar, o que é a afeição, o amor? Ainda a atração fluídica, atraindo dois seres, um para outro, unindo-os no mesmo sentimento. Essa atração pode ser de duas naturezas diferentes, pois os fluidos são de duas naturezas. Mas para que a afeição persista eternamente, é preciso que ela seja espiritual e desinteressada; são precisos a abnegação, o devotamento, e que nenhum sentimento pessoal seja o móvel desse arrastamento simpático. Desde que nesse sentimento haja personalidade, há materialidade. Ora, nenhuma afeição material persiste no domínio do Espírito. Assim, toda afeição apenas resultante do instinto animal ou do egoísmo, se destrói com a morte terrestre. Assim, quantos seres que se dizem amados são esquecidos após pouco tempo de separação! Vós os amastes por vós e não por eles, que não vivem mais, pois os esquecestes e substituístes. Procurastes consolo no esquecimento, eles se vos tornaram indiferentes, porque não tendes mais amor.
Contemplai a Humanidade e vede quão poucas afeições verdadeiras existem na Terra! Assim, não se deve admirar tanto a multiplicidade das afeições aí contraídas. As afeições verdadeiras são em minoria relativas, mas elas existem, e as que são reais persistem e se perpetuam sob todas as formas, primeiro na Terra, persistindo depois, no estado de Espírito, numa amizade ou num amor inalterável que cresce continuamente, elevando-se mais e mais.
Vamos estudar esta verdadeira afeição: a afeição espiritual.
A afeição espiritual tem por base a afinidade fluídica espiritual que, atuando só, determina a simpatia. Quando assim é, é a alma que ama a alma, e essa afeição só toma força pela manifestação dos sentimentos da alma. Dois Espíritos unidos espiritualmente se buscam e tendem sempre a aproximar-se. Seus fluidos são atrativos. Se eles estiverem num mesmo globo, serão impelidos um para o outro. Se forem separados pela morte terrena, seus pensamentos unir-se-ão na lembrança, e a reunião far-se-á na liberdade do sono, e quando soar a hora da reencarnação para um deles, ele procurará aproximar-se de seu amigo, entrando no que constitui a sua filiação material, e o fará com tanto mais facilidade quanto seus fluidos perispirituais materiais encontrarem afinidades na matéria corporal dos encarnados que deram à luz o novo ser. Daí um novo acréscimo de afeição, uma nova manifestação do amor. Tal Espírito amigo que vos amou como pai vos amará como filho, como irmão ou como amigo, e cada um desses laços aumentará de encarnação em encarnação, e se perpetuará de maneira inalterável quando, realizado o vosso trabalho, viverdes a vida de Espírito.
Mas esta verdadeira afeição não é comum na Terra, e a matéria vem retardá-la, anular-lhe os efeitos, conforme ela domine o Espírito. A verdadeira amizade, o verdadeiro amor sendo espiritual, tudo quanto se refere à matéria não é de sua natureza e em nada concorre para a identificação espiritual. A afinidade persiste, mas fica em estado latente até que, com o predomínio do fluido espiritual, de novo se efetue o progresso simpático.
Resumindo, a afeição espiritual é a única resistente no domínio do Espírito. Na Terra e nas esferas do trabalho corporal, ela concorre para o avanço moral do Espírito encarnado que, sob a influência simpática, realiza milagres de abnegação e de devotamento pelos seres amados. Aqui, nas moradas celestes, ela é a satisfação completa de todas as aspirações e a maior felicidade que o Espírito pode desfrutar.
O dogma da reencarnação indefinida encontra oposições no coração do encarnado que ama, porque, em presença dessa infinidade de existências, produzindo laços em cada uma delas, ele se pergunta com espanto em que se tornam as afeições particulares, e se elas não se fundem num único amor geral, o que destruiria a persistência da afeição individual. Ele se pergunta se essa afeição individual não é apenas um meio de adiantamento, e então o desânimo desliza em sua alma, porque a verdadeira afeição experimenta a necessidade de um amor eterno, sentindo que ela não se cansará jamais de amar. O pensamento desses milhares de afeições idênticas lhe parece uma impossibilidade, mesmo admitindo faculdades maiores para o amor.
O encarnado que estuda seriamente o Espiritismo, sem ideia preconcebida por um sistema em detrimento de outro, sente-se arrastado para a reencarnação pela justiça que decorre do progresso e do avanço do Espírito a cada nova existência. No entanto, quando o estuda do ponto de vista de suas afeições do coração, ele duvida e se espanta, malgrado seu. Não podendo pôr de acordo esses dois sentimentos, ele se diz que aí ainda há um véu a levantar, e seu pensamento em trabalho atrai as luzes dos Espíritos para pôr em concordância seu coração e sua razão.
Eu já disse que a encarnação cessa quando é anulada a materialidade. Mostrei como o progresso material a princípio tinha requintado as sensações corporais do Espírito encarnado; como o progresso espiritual, vindo a seguir, havia contrabalançado a influência da matéria e depois a tinha subordinado à sua vontade e que, chegado a esse grau de domínio espiritual, a corporeidade não tinha mais razão de ser, pois o trabalho estava realizado.
Examinemos agora a questão da afeição sob os aspectos material e espiritual.
Para começar, o que é a afeição, o amor? Ainda a atração fluídica, atraindo dois seres, um para outro, unindo-os no mesmo sentimento. Essa atração pode ser de duas naturezas diferentes, pois os fluidos são de duas naturezas. Mas para que a afeição persista eternamente, é preciso que ela seja espiritual e desinteressada; são precisos a abnegação, o devotamento, e que nenhum sentimento pessoal seja o móvel desse arrastamento simpático. Desde que nesse sentimento haja personalidade, há materialidade. Ora, nenhuma afeição material persiste no domínio do Espírito. Assim, toda afeição apenas resultante do instinto animal ou do egoísmo, se destrói com a morte terrestre. Assim, quantos seres que se dizem amados são esquecidos após pouco tempo de separação! Vós os amastes por vós e não por eles, que não vivem mais, pois os esquecestes e substituístes. Procurastes consolo no esquecimento, eles se vos tornaram indiferentes, porque não tendes mais amor.
Contemplai a Humanidade e vede quão poucas afeições verdadeiras existem na Terra! Assim, não se deve admirar tanto a multiplicidade das afeições aí contraídas. As afeições verdadeiras são em minoria relativas, mas elas existem, e as que são reais persistem e se perpetuam sob todas as formas, primeiro na Terra, persistindo depois, no estado de Espírito, numa amizade ou num amor inalterável que cresce continuamente, elevando-se mais e mais.
Vamos estudar esta verdadeira afeição: a afeição espiritual.
A afeição espiritual tem por base a afinidade fluídica espiritual que, atuando só, determina a simpatia. Quando assim é, é a alma que ama a alma, e essa afeição só toma força pela manifestação dos sentimentos da alma. Dois Espíritos unidos espiritualmente se buscam e tendem sempre a aproximar-se. Seus fluidos são atrativos. Se eles estiverem num mesmo globo, serão impelidos um para o outro. Se forem separados pela morte terrena, seus pensamentos unir-se-ão na lembrança, e a reunião far-se-á na liberdade do sono, e quando soar a hora da reencarnação para um deles, ele procurará aproximar-se de seu amigo, entrando no que constitui a sua filiação material, e o fará com tanto mais facilidade quanto seus fluidos perispirituais materiais encontrarem afinidades na matéria corporal dos encarnados que deram à luz o novo ser. Daí um novo acréscimo de afeição, uma nova manifestação do amor. Tal Espírito amigo que vos amou como pai vos amará como filho, como irmão ou como amigo, e cada um desses laços aumentará de encarnação em encarnação, e se perpetuará de maneira inalterável quando, realizado o vosso trabalho, viverdes a vida de Espírito.
Mas esta verdadeira afeição não é comum na Terra, e a matéria vem retardá-la, anular-lhe os efeitos, conforme ela domine o Espírito. A verdadeira amizade, o verdadeiro amor sendo espiritual, tudo quanto se refere à matéria não é de sua natureza e em nada concorre para a identificação espiritual. A afinidade persiste, mas fica em estado latente até que, com o predomínio do fluido espiritual, de novo se efetue o progresso simpático.
Resumindo, a afeição espiritual é a única resistente no domínio do Espírito. Na Terra e nas esferas do trabalho corporal, ela concorre para o avanço moral do Espírito encarnado que, sob a influência simpática, realiza milagres de abnegação e de devotamento pelos seres amados. Aqui, nas moradas celestes, ela é a satisfação completa de todas as aspirações e a maior felicidade que o Espírito pode desfrutar.
V
O progresso entravado pela reencarnação indefinida.
Até aqui a reencarnação tem sido considerada muito prolongada. Não se pensou que esse prolongamento da corporeidade, ainda que cada vez menos material, acarretava, entretanto, necessidades que deveriam entravar o avanço do Espírito. Com efeito, admitindo-se a persistência da geração nos mundos superiores, atribuem-se ao Espírito encarnado necessidades corporais; dão-se-lhe deveres e ocupações ainda materiais que o prendem e detêm o impulso dos estudos espirituais. Qual a necessidade desses entraves? Não pode o Espírito desfrutar das felicidades do amor sem sofrer as enfermidades corporais? Mesmo na Terra, esse sentimento existe por si mesmo, independente da parte material do nosso ser. Por mais raros que sejam, há exemplos suficientes para provar que ele deve ser sentido com mais frequência entre os seres mais espiritualizados.
A reencarnação determina a união dos corpos. O amor puro determina apenas a união das almas. Os Espíritos se unem segundo suas afeições iniciadas em mundos inferiores, e trabalham juntos por seu progresso espiritual. Eles têm uma organização fluídica completamente diferente da que era consequência de seu aparelho corporal, e seus trabalhos se exercem sobre os fluidos e não sobre os objetos materiais. Eles vão às esferas que, elas sim, já completaram seu período material; às esferas nas quais o trabalho humano determinou a desmaterialização e que, chegadas ao apogeu de seu aperfeiçoamento, também passaram por uma transformação superior que as coloca em condições de experimentar outras modificações, mas num sentido inteiramente fluídico.
Agora compreendeis a imensa força do fluido, força que não podeis senão constatar, mas que não vedes nem apalpais. Num estado menos pesado que aquele em que estais, tereis outros meios de ver, de tocar, de trabalhar esse fluido, que é o grande agente da vida universal.
Por que, então, ainda teria o Espírito necessidade de entrar num corpo para um trabalho que está fora das apreciações corporais? Dir-me-eis que esse corpo estará em relação com os novos trabalhos que o Espírito deverá realizar, mas, considerando-se que esses trabalhos serão inteiramente fluídicos e espirituais nas esferas superiores, por que lhe dar o embaraço das necessidades corporais? Portanto, como eu disse, a reencarnação sempre determina geração e alimentação, isto é, necessidades da matéria a satisfazer e, por outro lado, entraves para o Espírito.
Compreendei que o Espírito deve ser livre em seu voo rumo ao Infinito; compreendei que, tendo saído dos cueiros da matéria, ele deseja, como a criança, caminhar e correr sem ser detido pelas andadeiras infantis, e que essas primeiras necessidades da primeira educação da criança são supérfluas para a criança crescida e insuportáveis para o adolescente.
Não desejeis, pois, ficar na infância. Olhai-vos como alunos que fazem os últimos estudos e se dispõem a entrar no mundo, a nele ter o seu status e a começar trabalhos de outro gênero, que seus estudos preliminares terão facilitado.
O Espiritismo é a alavanca que elevará de um salto ao estado espiritual todo o encarnado que, querendo bem compreendê-lo e colocá-lo em prática, tratará de dominar a matéria, de tornar-se seu senhor, de aniquilá-la. Todo Espírito de boa vontade pode conquistar o estado de passar, ao deixar este mundo, para o estado espiritual sem retorno terrestre. Apenas é preciso fé ou vontade ativa. O Espiritismo a dá a todos os que o quiserem compreender em seu sentido moralizador.
Até aqui a reencarnação tem sido considerada muito prolongada. Não se pensou que esse prolongamento da corporeidade, ainda que cada vez menos material, acarretava, entretanto, necessidades que deveriam entravar o avanço do Espírito. Com efeito, admitindo-se a persistência da geração nos mundos superiores, atribuem-se ao Espírito encarnado necessidades corporais; dão-se-lhe deveres e ocupações ainda materiais que o prendem e detêm o impulso dos estudos espirituais. Qual a necessidade desses entraves? Não pode o Espírito desfrutar das felicidades do amor sem sofrer as enfermidades corporais? Mesmo na Terra, esse sentimento existe por si mesmo, independente da parte material do nosso ser. Por mais raros que sejam, há exemplos suficientes para provar que ele deve ser sentido com mais frequência entre os seres mais espiritualizados.
A reencarnação determina a união dos corpos. O amor puro determina apenas a união das almas. Os Espíritos se unem segundo suas afeições iniciadas em mundos inferiores, e trabalham juntos por seu progresso espiritual. Eles têm uma organização fluídica completamente diferente da que era consequência de seu aparelho corporal, e seus trabalhos se exercem sobre os fluidos e não sobre os objetos materiais. Eles vão às esferas que, elas sim, já completaram seu período material; às esferas nas quais o trabalho humano determinou a desmaterialização e que, chegadas ao apogeu de seu aperfeiçoamento, também passaram por uma transformação superior que as coloca em condições de experimentar outras modificações, mas num sentido inteiramente fluídico.
Agora compreendeis a imensa força do fluido, força que não podeis senão constatar, mas que não vedes nem apalpais. Num estado menos pesado que aquele em que estais, tereis outros meios de ver, de tocar, de trabalhar esse fluido, que é o grande agente da vida universal.
Por que, então, ainda teria o Espírito necessidade de entrar num corpo para um trabalho que está fora das apreciações corporais? Dir-me-eis que esse corpo estará em relação com os novos trabalhos que o Espírito deverá realizar, mas, considerando-se que esses trabalhos serão inteiramente fluídicos e espirituais nas esferas superiores, por que lhe dar o embaraço das necessidades corporais? Portanto, como eu disse, a reencarnação sempre determina geração e alimentação, isto é, necessidades da matéria a satisfazer e, por outro lado, entraves para o Espírito.
Compreendei que o Espírito deve ser livre em seu voo rumo ao Infinito; compreendei que, tendo saído dos cueiros da matéria, ele deseja, como a criança, caminhar e correr sem ser detido pelas andadeiras infantis, e que essas primeiras necessidades da primeira educação da criança são supérfluas para a criança crescida e insuportáveis para o adolescente.
Não desejeis, pois, ficar na infância. Olhai-vos como alunos que fazem os últimos estudos e se dispõem a entrar no mundo, a nele ter o seu status e a começar trabalhos de outro gênero, que seus estudos preliminares terão facilitado.
O Espiritismo é a alavanca que elevará de um salto ao estado espiritual todo o encarnado que, querendo bem compreendê-lo e colocá-lo em prática, tratará de dominar a matéria, de tornar-se seu senhor, de aniquilá-la. Todo Espírito de boa vontade pode conquistar o estado de passar, ao deixar este mundo, para o estado espiritual sem retorno terrestre. Apenas é preciso fé ou vontade ativa. O Espiritismo a dá a todos os que o quiserem compreender em seu sentido moralizador.
Um Espírito protetor do médium.
OBSERVAÇÃO: Esta comunicação não tem outra assinatura além daquela consignada acima, o que prova que não é necessário ter tido um nome célebre na Terra para ditar boas coisas.
Pode-se notar a analogia entre a comunicação de Sens, dada acima, e a primeira parte desta; esta última é, certamente, mais desenvolvida, mas a ideia fundamental sobre a necessidade da reencarnação é a mesma. Citamos ambas para mostrar que os grandes princípios da doutrina são ensinados de diversos lados e que é assim que se constituirá e se consolidará a unidade do Espiritismo. Essa concordância é o melhor critério da verdade. Ora, é de notar que as teorias excêntricas e sistemáticas ditadas por Espíritos pseudossábios são sempre circunscritas a um círculo estreito e individual, razão pela qual nenhuma prevaleceu. É também por isso que não há por que temê-las, pois só têm uma existência efêmera, que se apaga como uma fraca lâmpada ante a clara luz do dia.
Quanto à última comunicação, seria supérfluo ressaltar seu alto alcance, como fundo e como forma. Ela pode ser assim resumida:
Considerada do ponto de vista do progresso, a vida do Espírito apresenta três períodos principais, a saber:
1.º ─ O período material, no qual a influência da matéria domina a do Espírito. É o estado dos homens dados às paixões brutais e carnais, à sensualidade; cujas aspirações são exclusivamente terrenas, ligadas aos bens temporais, ou refratárias às ideias espirituais.
2.º ─ O período de equilíbrio, no qual as influências da matéria e do Espírito se exercem simultaneamente; no qual, posto submetido às necessidades materiais, o homem pressente e compreende o estado espiritual; em que trabalha para sair do estado corporal.
Nesses dois períodos o Espírito está sujeito à reencarnação, que se realiza nos mundos inferiores e médios.
3.º ─ O período espiritual, no qual, tendo dominado completamente a matéria, o Espírito não mais necessita da encarnação, nem do trabalho material. Seu trabalho é inteiramente espiritual. É o estado dos Espíritos nos mundos superiores.
A facilidade com que certas pessoas aceitam as ideias espíritas, das quais parece que elas têm a intuição, indica que elas pertencem ao segundo período; mas entre este e os outros há muitos graus, que o Espírito transpõe tanto mais rapidamente quanto mais próximo estiver do período espiritual. É assim que, de um mundo material como a Terra, pode ir habitar um mundo superior, como Júpiter, se seu avanço moral e espiritual for suficiente para dispensá-lo da passagem pelos graus intermediários. Depende, pois, do homem deixar a Terra sem retorno, como mundo de expiação e prova para ele, ou de aí só voltar em missão.
Quanto à última comunicação, seria supérfluo ressaltar seu alto alcance, como fundo e como forma. Ela pode ser assim resumida:
Considerada do ponto de vista do progresso, a vida do Espírito apresenta três períodos principais, a saber:
1.º ─ O período material, no qual a influência da matéria domina a do Espírito. É o estado dos homens dados às paixões brutais e carnais, à sensualidade; cujas aspirações são exclusivamente terrenas, ligadas aos bens temporais, ou refratárias às ideias espirituais.
2.º ─ O período de equilíbrio, no qual as influências da matéria e do Espírito se exercem simultaneamente; no qual, posto submetido às necessidades materiais, o homem pressente e compreende o estado espiritual; em que trabalha para sair do estado corporal.
Nesses dois períodos o Espírito está sujeito à reencarnação, que se realiza nos mundos inferiores e médios.
3.º ─ O período espiritual, no qual, tendo dominado completamente a matéria, o Espírito não mais necessita da encarnação, nem do trabalho material. Seu trabalho é inteiramente espiritual. É o estado dos Espíritos nos mundos superiores.
A facilidade com que certas pessoas aceitam as ideias espíritas, das quais parece que elas têm a intuição, indica que elas pertencem ao segundo período; mas entre este e os outros há muitos graus, que o Espírito transpõe tanto mais rapidamente quanto mais próximo estiver do período espiritual. É assim que, de um mundo material como a Terra, pode ir habitar um mundo superior, como Júpiter, se seu avanço moral e espiritual for suficiente para dispensá-lo da passagem pelos graus intermediários. Depende, pois, do homem deixar a Terra sem retorno, como mundo de expiação e prova para ele, ou de aí só voltar em missão.
Notícias bibliográficas
Sob este título, novo órgão do Espiritismo acaba de surgir em Antuérpia, a partir de 1º de janeiro de 1864. Sabe-se que a Doutrina Espírita fez rápidos progressos nessa cidade, onde se formaram numerosas reuniões, compostas de homens eminentes pelo saber e pela posição social. Em Bruxelas, por mais tempo refratária, a ideia nova também ganha terreno, como noutras cidades da Bélgica. Uma sociedade espírita formada recentemente, pediu-nos aceitássemos a presidência de honra. Vê-se qual o caminho que pretende seguir.
O primeiro número da nova Revista contém um apelo aos espíritas de Antuérpia; dois artigos de fundo, um sobre os adversários do Espiritismo, outro sobre o Espiritismo e a loucura e um certo número de comunicações mediúnicas, algumas das quais na língua flamenga, tudo, temos a satisfação de dizer, em perfeita conformidade com os pontos de vista e os princípios da Sociedade de Paris. Essa publicação não pode deixar de ser acolhida favoravelmente num país onde as ideias novas têm uma tendência manifesta a se propagarem, se, como esperamos, se mantiver à altura da ciência, condição essencial do sucesso.
O Espiritismo cresce e vê, diariamente, novos horizontes se abrirem à sua frente. Ele aprofunda as questões que apenas tinha feito aflorar, em sua origem. Conformando-se com o desenvolvimento das ideias, por toda parte, em suas instruções, os Espíritos têm seguido esse movimento ascensional. Ao lado das produções mediúnicas de hoje, as de outrora são pálidas e quase pueris, posto então fossem julgadas magníficas. Há entre elas a diferença do ensino dado a estudantes e a adultos. É que, à medida que o homem cresce, sua inteligência, como o seu corpo, requer alimento mais substancial. Toda publicação espírita, periódica ou não, que ficasse para trás do movimento, necessariamente encontraria pouca simpatia, e seria ilusão supor agora os leitores se interessarem por coisas elementares ou medíocres. Por melhor que seja a intenção, toda recomendação seria impotente para lhes dar vida, se não a têm por si mesmas.
Há para publicações deste gênero outra condição de sucesso, ainda mais importante, a de marchar com a opinião da maioria. Na origem das manifestações espíritas, as ideias, ainda não fixadas pela experiência, deram lugar a muitas opiniões divergentes que caíram ante observações mais completas, ou que só contam com raros representantes.
Sabe-se a que bandeira e a que princípios está hoje ligada a imensa maioria dos espíritas do mundo inteiro. Tornar-se eco de opiniões retardatárias ou seguir um caminho errado, é condenar-se previamente ao isolamento e ao abandono. Os que o fizerem de boa-fé são lamentáveis; os que agirem premeditadamente, com a intenção de pôr travas nas rodas e semear a divisão, só colherão vergonha. Nem uns nem outros podem ser encorajados pelos que sabem de cor os verdadeiros interesses do Espiritismo. Quanto a nós, pessoalmente, e à Sociedade de Paris, nossas simpatias e nosso apoio moral são conquistados por antecipação, como se sabe, por todas as publicações, como por todas as reuniões úteis à causa que defendemos.
O primeiro número da nova Revista contém um apelo aos espíritas de Antuérpia; dois artigos de fundo, um sobre os adversários do Espiritismo, outro sobre o Espiritismo e a loucura e um certo número de comunicações mediúnicas, algumas das quais na língua flamenga, tudo, temos a satisfação de dizer, em perfeita conformidade com os pontos de vista e os princípios da Sociedade de Paris. Essa publicação não pode deixar de ser acolhida favoravelmente num país onde as ideias novas têm uma tendência manifesta a se propagarem, se, como esperamos, se mantiver à altura da ciência, condição essencial do sucesso.
O Espiritismo cresce e vê, diariamente, novos horizontes se abrirem à sua frente. Ele aprofunda as questões que apenas tinha feito aflorar, em sua origem. Conformando-se com o desenvolvimento das ideias, por toda parte, em suas instruções, os Espíritos têm seguido esse movimento ascensional. Ao lado das produções mediúnicas de hoje, as de outrora são pálidas e quase pueris, posto então fossem julgadas magníficas. Há entre elas a diferença do ensino dado a estudantes e a adultos. É que, à medida que o homem cresce, sua inteligência, como o seu corpo, requer alimento mais substancial. Toda publicação espírita, periódica ou não, que ficasse para trás do movimento, necessariamente encontraria pouca simpatia, e seria ilusão supor agora os leitores se interessarem por coisas elementares ou medíocres. Por melhor que seja a intenção, toda recomendação seria impotente para lhes dar vida, se não a têm por si mesmas.
Há para publicações deste gênero outra condição de sucesso, ainda mais importante, a de marchar com a opinião da maioria. Na origem das manifestações espíritas, as ideias, ainda não fixadas pela experiência, deram lugar a muitas opiniões divergentes que caíram ante observações mais completas, ou que só contam com raros representantes.
Sabe-se a que bandeira e a que princípios está hoje ligada a imensa maioria dos espíritas do mundo inteiro. Tornar-se eco de opiniões retardatárias ou seguir um caminho errado, é condenar-se previamente ao isolamento e ao abandono. Os que o fizerem de boa-fé são lamentáveis; os que agirem premeditadamente, com a intenção de pôr travas nas rodas e semear a divisão, só colherão vergonha. Nem uns nem outros podem ser encorajados pelos que sabem de cor os verdadeiros interesses do Espiritismo. Quanto a nós, pessoalmente, e à Sociedade de Paris, nossas simpatias e nosso apoio moral são conquistados por antecipação, como se sabe, por todas as publicações, como por todas as reuniões úteis à causa que defendemos.
(Pelo Rev. Pe. Blot da companhia de Jesus)
Um dos nossos correspondentes, o Dr. C..., assinala-nos este livrinho, e escreve o seguinte:
“Desde algum tempo, palavras que me abstenho de qualificar, como cristão e espírita, têm sido pronunciadas muitas vezes por homens que têm a missão de falar às criaturas sobre caridade e misericórdia. Para vos aliviar das penosas impressões que elas vos devem ter causado, como a todo verdadeiro cristão, permiti-me que vos fale de um volumezinho do Rev. Pe. Blot. Não acredito que ele seja espírita, mas encontrei em sua obra o que, no Espiritismo, leva a amar a Deus e esperar em sua misericórdia, bem como diversas passagens que muito se aproximam do que ensinam os Espíritos.”
Nele destacamos as passagens seguintes, que confirmam a opinião do nosso correspondente:
“No Século VII, o Papa São Gregório, o Grande, depois de haver contado que um religioso, ao morrer, vira os profetas aparecerem diante dele, e os designou pelos nomes, acrescentava: “Este exemplo nos faz compreender claramente como será grande o conhecimento que teremos uns dos outros na vida incorruptível do Céu, pois esse religioso, ainda numa carne corruptível, reconheceu os santos profetas que jamais tinha visto.”
“Os santos se veem uns aos outros, como o exigem a unidade do reino e a unidade da cidade onde vivem, em companhia do próprio Deus. Eles revelam espontaneamente uns aos outros os seus pensamentos e afeições, como as pessoas da mesma casa que são unidas por um sincero amor. Entre os seus concidadãos do Céu, conhecem até os que não conheceram aqui em baixo, e o conhecimento das belas ações os leva a um conhecimento mais completo dos que as realizaram. (Berti, De theologicis disciplinis).
“Perdestes um filho ou uma filha? Recebei as consolações que um Patriarca de Constantinopla dirigia a um pai desolado. Esse patriarca não pode mais ser contado entre os grandes homens, nem entre os santos: É Fócio, o autor do cisma cruel que separa o Oriente e o Ocidente, mas suas palavras apenas provam que, sobre este ponto, os gregos pensam como os latinos. Ei-las: ‘Se vossa filha vos aparecesse; se, pondo as suas mãos nas vossas e sua fronte feliz em vossa fronte ela vos falasse, não seria a descrição do Céu que ela vos faria?’ Depois ela acrescentaria: ‘Por que vos afligir, ó meu pai? Eu estou no paraíso, onde a felicidade não tem limites. Vireis um dia com minha querida mãe, e então constatareis que eu não disse demais deste lugar de delícias, pois a realidade ultrapassa as minhas palavras.’”
Os bons Espíritos podem, assim, manifestar-se, ser vistos, tocar os vivos, falarlhes, descrever sua própria situação, vir consolar e fortalecer os que eles amaram. Se podem falar e tomar a mão, por que não poderiam fazer escrever? Diz o Pe. Blot: “Sobre este ponto, os gregos pensam como os latinos.” Por que, então, hoje os latinos dizem que esse poder só é dado aos demônios para enganar os homens?
A passagem seguinte é ainda mais explícita:
“Numa de suas homilias sobre São Mateus, dizia São João Crisóstomo a cada um de seus ouvintes: ‘Desejais ver aquele que a morte levou? Levai a mesma vida que ele no caminho da virtude, e em breve fruireis essa santa visão. Mas quereis vêlo aqui mesmo? Ora! O que vo-lo impede? Isto vos é permitido e é fácil vê-lo, se fordes prudentes, porque a esperança dos bens futuros é mais clara que a própria vista.’”
O homem carnal não pode ver o que é puramente espiritual. Se, pois, pode ver os Espíritos, é que eles têm uma parte material acessível aos nossos sentidos. É o envoltório fluídico, que o Espiritismo designa sob o nome de perispírito.
Após uma citação de Dante sobre o estado dos bem-aventurados, acrescenta o Pe. Blot:
“Eis pois o princípio de solução para as objeções: No céu, que é menos um lugar do que um estado, tudo é luz, tudo é amor.”
Assim, o Céu não é um lugar circunscrito. É o estado das almas felizes. Em toda parte onde elas forem felizes, elas estarão no Céu, isto é, para elas tudo é luz, amor e inteligência. É o que dizem os Espíritos.
Fénelon, por ocasião da morte do Duque de Beauvilliers, seu amigo, escreveu à duquesa: “Não, só os sentidos e a imaginação perderam seu objetivo. Aquele que não mais podemos ver está conosco mais do que nunca. Encontramo-lo sem cessar em nosso centro comum. Ele aí nos vê e nos proporciona verdadeiro socorro. Aí conhece melhor que nós as nossas enfermidades, ele que não mais tem as suas; e pede os remédios necessários à nossa cura. Para mim, que estava privado de vê-lo há tantos anos, eu lhe falo e lhe abro o meu coração.”
Fénelon escrevia também à viúva do Duque de Chevreuse: “Unamo-nos de coração àquele a quem lamentamos. Ele não se afastou de nós ao tornar-se invisível. Ele nos vê, ele nos ama, ele é tocado por nossas necessidades. Chegado felizmente ao porto, ele ora por nós que ainda estamos expostos ao naufrágio. Diz-nos com uma voz secreta: ‘Apressai-vos para virdes ao nosso encontro.’ Os puros Espíritos veem, entendem, amam sempre os verdadeiros amigos no seu centro comum. Sua amizade é imortal como sua fonte. Os incrédulos só amam a si mesmos. Eles deveriam desesperar-se por perderem os amigos para sempre. No entanto, a amizade divina transforma a sociedade visível numa sociedade de pura fé. Ela chora, mas chorando, consola-se pela esperança de juntar-se a seus amigos no país da verdade e no seio do próprio amor.”
Para justificar o título de seu livro: Reconhecemo-nos no Céu, o Pe. Blot cita grande número de passagens de escritores sacros, de aparições e de manifestações diversas que provam a reunião, após a morte, daqueles que se amaram; as relações existentes entre os mortos e os vivos; o auxílio que se prestam mutuamente pela prece e pela inspiração. Em nenhuma parte fala da separação eterna, consequência da danação eterna, nem de diabos, nem do inferno. Ele mostra, ao contrário, as almas mais sofredoras libertadas pela força do arrependimento e da prece, e pela misericórdia de Deus.
Se o Pe. Blot lançasse anátema contra o Espiritismo, seria lançá-lo contra o seu próprio livro e contra todos os santos cujo testemunho ele invoca. Seja qual for sua opinião a esse respeito, nos dirão que se houvessem pregado sempre nesse sentido, haveria menos incrédulos.
“Desde algum tempo, palavras que me abstenho de qualificar, como cristão e espírita, têm sido pronunciadas muitas vezes por homens que têm a missão de falar às criaturas sobre caridade e misericórdia. Para vos aliviar das penosas impressões que elas vos devem ter causado, como a todo verdadeiro cristão, permiti-me que vos fale de um volumezinho do Rev. Pe. Blot. Não acredito que ele seja espírita, mas encontrei em sua obra o que, no Espiritismo, leva a amar a Deus e esperar em sua misericórdia, bem como diversas passagens que muito se aproximam do que ensinam os Espíritos.”
Nele destacamos as passagens seguintes, que confirmam a opinião do nosso correspondente:
“No Século VII, o Papa São Gregório, o Grande, depois de haver contado que um religioso, ao morrer, vira os profetas aparecerem diante dele, e os designou pelos nomes, acrescentava: “Este exemplo nos faz compreender claramente como será grande o conhecimento que teremos uns dos outros na vida incorruptível do Céu, pois esse religioso, ainda numa carne corruptível, reconheceu os santos profetas que jamais tinha visto.”
“Os santos se veem uns aos outros, como o exigem a unidade do reino e a unidade da cidade onde vivem, em companhia do próprio Deus. Eles revelam espontaneamente uns aos outros os seus pensamentos e afeições, como as pessoas da mesma casa que são unidas por um sincero amor. Entre os seus concidadãos do Céu, conhecem até os que não conheceram aqui em baixo, e o conhecimento das belas ações os leva a um conhecimento mais completo dos que as realizaram. (Berti, De theologicis disciplinis).
“Perdestes um filho ou uma filha? Recebei as consolações que um Patriarca de Constantinopla dirigia a um pai desolado. Esse patriarca não pode mais ser contado entre os grandes homens, nem entre os santos: É Fócio, o autor do cisma cruel que separa o Oriente e o Ocidente, mas suas palavras apenas provam que, sobre este ponto, os gregos pensam como os latinos. Ei-las: ‘Se vossa filha vos aparecesse; se, pondo as suas mãos nas vossas e sua fronte feliz em vossa fronte ela vos falasse, não seria a descrição do Céu que ela vos faria?’ Depois ela acrescentaria: ‘Por que vos afligir, ó meu pai? Eu estou no paraíso, onde a felicidade não tem limites. Vireis um dia com minha querida mãe, e então constatareis que eu não disse demais deste lugar de delícias, pois a realidade ultrapassa as minhas palavras.’”
Os bons Espíritos podem, assim, manifestar-se, ser vistos, tocar os vivos, falarlhes, descrever sua própria situação, vir consolar e fortalecer os que eles amaram. Se podem falar e tomar a mão, por que não poderiam fazer escrever? Diz o Pe. Blot: “Sobre este ponto, os gregos pensam como os latinos.” Por que, então, hoje os latinos dizem que esse poder só é dado aos demônios para enganar os homens?
A passagem seguinte é ainda mais explícita:
“Numa de suas homilias sobre São Mateus, dizia São João Crisóstomo a cada um de seus ouvintes: ‘Desejais ver aquele que a morte levou? Levai a mesma vida que ele no caminho da virtude, e em breve fruireis essa santa visão. Mas quereis vêlo aqui mesmo? Ora! O que vo-lo impede? Isto vos é permitido e é fácil vê-lo, se fordes prudentes, porque a esperança dos bens futuros é mais clara que a própria vista.’”
O homem carnal não pode ver o que é puramente espiritual. Se, pois, pode ver os Espíritos, é que eles têm uma parte material acessível aos nossos sentidos. É o envoltório fluídico, que o Espiritismo designa sob o nome de perispírito.
Após uma citação de Dante sobre o estado dos bem-aventurados, acrescenta o Pe. Blot:
“Eis pois o princípio de solução para as objeções: No céu, que é menos um lugar do que um estado, tudo é luz, tudo é amor.”
Assim, o Céu não é um lugar circunscrito. É o estado das almas felizes. Em toda parte onde elas forem felizes, elas estarão no Céu, isto é, para elas tudo é luz, amor e inteligência. É o que dizem os Espíritos.
Fénelon, por ocasião da morte do Duque de Beauvilliers, seu amigo, escreveu à duquesa: “Não, só os sentidos e a imaginação perderam seu objetivo. Aquele que não mais podemos ver está conosco mais do que nunca. Encontramo-lo sem cessar em nosso centro comum. Ele aí nos vê e nos proporciona verdadeiro socorro. Aí conhece melhor que nós as nossas enfermidades, ele que não mais tem as suas; e pede os remédios necessários à nossa cura. Para mim, que estava privado de vê-lo há tantos anos, eu lhe falo e lhe abro o meu coração.”
Fénelon escrevia também à viúva do Duque de Chevreuse: “Unamo-nos de coração àquele a quem lamentamos. Ele não se afastou de nós ao tornar-se invisível. Ele nos vê, ele nos ama, ele é tocado por nossas necessidades. Chegado felizmente ao porto, ele ora por nós que ainda estamos expostos ao naufrágio. Diz-nos com uma voz secreta: ‘Apressai-vos para virdes ao nosso encontro.’ Os puros Espíritos veem, entendem, amam sempre os verdadeiros amigos no seu centro comum. Sua amizade é imortal como sua fonte. Os incrédulos só amam a si mesmos. Eles deveriam desesperar-se por perderem os amigos para sempre. No entanto, a amizade divina transforma a sociedade visível numa sociedade de pura fé. Ela chora, mas chorando, consola-se pela esperança de juntar-se a seus amigos no país da verdade e no seio do próprio amor.”
Para justificar o título de seu livro: Reconhecemo-nos no Céu, o Pe. Blot cita grande número de passagens de escritores sacros, de aparições e de manifestações diversas que provam a reunião, após a morte, daqueles que se amaram; as relações existentes entre os mortos e os vivos; o auxílio que se prestam mutuamente pela prece e pela inspiração. Em nenhuma parte fala da separação eterna, consequência da danação eterna, nem de diabos, nem do inferno. Ele mostra, ao contrário, as almas mais sofredoras libertadas pela força do arrependimento e da prece, e pela misericórdia de Deus.
Se o Pe. Blot lançasse anátema contra o Espiritismo, seria lançá-lo contra o seu próprio livro e contra todos os santos cujo testemunho ele invoca. Seja qual for sua opinião a esse respeito, nos dirão que se houvessem pregado sempre nesse sentido, haveria menos incrédulos.
(Pelo Sr. Armand Durant)
O Espiritismo conquistou seu status entre as crenças. Se para alguns escritores ele ainda é motivo de pilhérias, nota-se que entre aqueles que outrora o punham a ridículo, a pilhéria baixou de tom, ante o ascendente da opinião das massas, e se limita a citar, sem comentários, ou com restrições mais cuidadas, os fatos que a ele se referem.
Outros, sem nele crer positivamente, e mesmo sem conhecê-lo a fundo, julgam a ideia muito importante para nela buscar assunto para trabalhos de imaginação, ou de fantasia. Tal é, ao que nos parece, o caso da obra de que falamos. É um simples romance, baseado na crença espírita apresentada do ponto de vista sério, mas do qual podemos reprochar alguns erros, sem dúvida provindos de um estudo incompleto da matéria.
O autor, que quer bordar uma ação de fantasia sobre um assunto histórico, deve, antes de tudo, bem penetrar-se da verdade do fato, a fim de não margear a história.
Assim deverão fazer todos os escritores que quiserem tirar proveito da ideia espírita, seja para não serem acusados de ignorância daquilo de que falam, seja para conquistar a simpatia dos adeptos, hoje bastante numerosos para pesar na balança da opinião e concorrer para o sucesso de toda obra que, direta ou indiretamente, diz respeito às suas crenças.
Feita esta reserva do ponto de vista da perfeita ortodoxia, a obra em apreço não será menos lida com muito interesse pelos partidários, como pelos adversários do Espiritismo e agradecemos ao autor a graciosa homenagem que nos fez de seu livro, chamado a popularizar a ideia nova. Citaremos as passagens seguintes, que tratam mais especialmente da doutrina.
“À época em que o Sr. Boursonne (um dos principais personagens do romance) tinha perdido a esposa, uma doutrina mística se espalhava surdamente, lentamente e se propagava na sombra. Ela contava ainda com poucos adeptos, mas não aspirava nada menos que substituir os vários cultos cristãos. Falta-lhe ainda, para tornar-se uma religião poderosa, apenas a perseguição.
“Essa religião é a do Espiritismo, tão eloquentemente exposta pelo Sr. Allan Kardec, em sua notável obra O Livro dos Espíritos. Um de seus mais convictos adeptos era o Conde de Boursonne.
“Não acrescentarei senão algumas palavras sobre essa doutrina, para dar aos incrédulos a compreender que o poder misterioso do conde era inteiramente natural.
“Os espíritas reconhecem Deus e a imortalidade da alma. Eles creem que a Terra é para eles um lugar de transição e de provação. Segundo eles, a alma é inicialmente colocada por Deus num planeta de ordem inferior. Aí ela fica encerrada num corpo mais ou menos grosseiro, até ficar bastante depurada para emigrar para um mundo superior. É assim que, após longas migrações e numerosas provações, as almas chegam, enfim, à perfeição, sendo então admitidas no seio de Deus. Depende, pois, do homem, abreviar suas peregrinações e chegar mais rapidamente junto ao Senhor, melhorando-se rapidamente.
“É uma crença do Espiritismo, crença tocante, que as almas mais perfeitas podem comunicar-se com os Espíritos. Assim, segundo os espíritas, podemos conversar com os seres amados que perdemos, se nossa alma for bastante aperfeiçoada para ouvi-los e saber fazer-se escutar.
“São, pois, as almas melhoradas, os homens mais perfeitos entre nós, que podem servir de intermediários entre o vulgo e os Espíritos. Esses agentes, tão ridicularizados pelo cepticismo quanto admirados e invejados pelos crentes, chamam-se, em linguagem espírita, médiuns.
“Explicado isto, uma vez por todas, notemos de passagem que a Doutrina Espírita, a esta hora, conta seus adeptos por milhares, sobretudo nas grandes cidades, e que o Conde de Boursonne era um dos médiuns mais potentes.”
Aqui há um primeiro erro grave. Se fosse preciso ser perfeito para comunicarse com os Espíritos, muito poucos teriam esse privilégio. Os Espíritos se manifestam mesmo àqueles que muito deixam a desejar, precisamente para motivá-los, por seus conselhos, a melhorar-se, conforme estas palavras do Cristo: “Não são os que têm saúde que precisam do médico.” A mediunidade é uma faculdade que depende do organismo mais ou menos desenvolvido, conforme os indivíduos, mas que pode ser dada ao mais indigno como ao mais digno, sujeitando-se, o primeiro, a ser punido, se dela não tira proveito ou se dela abusa.
A superioridade moral do médium lhe assegura a simpatia dos bons Espíritos e o torna apto a receber instruções de ordem mais elevada, mas a facilidade de comunicar-se com os seres do mundo invisível, quer diretamente, quer por terceiros, é dada a cada um, visando o seu avanço. Eis o que o autor teria sabido se tivesse feito um estudo mais profundo da ciência espírita.
“A Ciência moderna provou que tudo se encadeia. Assim, na ordem material, entre o infusório, último dos animais, e o homem, que é a sua expressão mais elevada, existe uma cadeia de criaturas, melhoradas sucessivamente, como o provam superabundantemente as descobertas dos geólogos. Ora, os espíritas se perguntaram por que não existiria a mesma harmonia no mundo espiritual; se perguntaram por que uma lacuna entre Deus e o homem, como o Sr. Le Verrier se perguntou como podia faltar um planeta em dado lugar no céu, em vista das leis harmoniosas que regem o nosso mundo incompreensível e ainda desconhecido.
“Guiado pelo mesmo raciocínio que conduziu o eminente diretor do Observatório de Paris à sua maravilhosa dedução, foi que os espíritas chegaram a reconhecer seres imateriais entre o homem e Deus, antes de haverem tido a prova palpável, adquirida mais tarde.”
Há aqui, igualmente, outro erro capital. O Espiritismo foi conduzido às suas teorias pela observação dos fatos e não por um sistema preconcebido. O raciocínio de que fala o autor era racional, sem dúvida, mas não foi assim que as coisas se passaram.
Os espíritas concluíram pela existência dos Espíritos porque os Espíritos se manifestaram espontaneamente. Eles indicaram a lei que rege as relações entre o mundo visível e o mundo invisível, porque observaram essas relações. Eles admitiram a hierarquia progressiva dos Espíritos porque os Espíritos se lhes mostraram em todos os graus de adiantamento. Eles adotaram o princípio da pluralidade das existências não só porque os Espíritos lho ensinaram, mas porque esse princípio resulta, como lei da Natureza, da observação dos fatos que temos sob os olhos.
Em resumo, o Espiritismo nada admitiu a título de hipótese prévia. Tudo na sua doutrina é resultado da experiência. Eis tudo o que temos repetido muitas vezes em nossas obras.
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Outros, sem nele crer positivamente, e mesmo sem conhecê-lo a fundo, julgam a ideia muito importante para nela buscar assunto para trabalhos de imaginação, ou de fantasia. Tal é, ao que nos parece, o caso da obra de que falamos. É um simples romance, baseado na crença espírita apresentada do ponto de vista sério, mas do qual podemos reprochar alguns erros, sem dúvida provindos de um estudo incompleto da matéria.
O autor, que quer bordar uma ação de fantasia sobre um assunto histórico, deve, antes de tudo, bem penetrar-se da verdade do fato, a fim de não margear a história.
Assim deverão fazer todos os escritores que quiserem tirar proveito da ideia espírita, seja para não serem acusados de ignorância daquilo de que falam, seja para conquistar a simpatia dos adeptos, hoje bastante numerosos para pesar na balança da opinião e concorrer para o sucesso de toda obra que, direta ou indiretamente, diz respeito às suas crenças.
Feita esta reserva do ponto de vista da perfeita ortodoxia, a obra em apreço não será menos lida com muito interesse pelos partidários, como pelos adversários do Espiritismo e agradecemos ao autor a graciosa homenagem que nos fez de seu livro, chamado a popularizar a ideia nova. Citaremos as passagens seguintes, que tratam mais especialmente da doutrina.
“À época em que o Sr. Boursonne (um dos principais personagens do romance) tinha perdido a esposa, uma doutrina mística se espalhava surdamente, lentamente e se propagava na sombra. Ela contava ainda com poucos adeptos, mas não aspirava nada menos que substituir os vários cultos cristãos. Falta-lhe ainda, para tornar-se uma religião poderosa, apenas a perseguição.
“Essa religião é a do Espiritismo, tão eloquentemente exposta pelo Sr. Allan Kardec, em sua notável obra O Livro dos Espíritos. Um de seus mais convictos adeptos era o Conde de Boursonne.
“Não acrescentarei senão algumas palavras sobre essa doutrina, para dar aos incrédulos a compreender que o poder misterioso do conde era inteiramente natural.
“Os espíritas reconhecem Deus e a imortalidade da alma. Eles creem que a Terra é para eles um lugar de transição e de provação. Segundo eles, a alma é inicialmente colocada por Deus num planeta de ordem inferior. Aí ela fica encerrada num corpo mais ou menos grosseiro, até ficar bastante depurada para emigrar para um mundo superior. É assim que, após longas migrações e numerosas provações, as almas chegam, enfim, à perfeição, sendo então admitidas no seio de Deus. Depende, pois, do homem, abreviar suas peregrinações e chegar mais rapidamente junto ao Senhor, melhorando-se rapidamente.
“É uma crença do Espiritismo, crença tocante, que as almas mais perfeitas podem comunicar-se com os Espíritos. Assim, segundo os espíritas, podemos conversar com os seres amados que perdemos, se nossa alma for bastante aperfeiçoada para ouvi-los e saber fazer-se escutar.
“São, pois, as almas melhoradas, os homens mais perfeitos entre nós, que podem servir de intermediários entre o vulgo e os Espíritos. Esses agentes, tão ridicularizados pelo cepticismo quanto admirados e invejados pelos crentes, chamam-se, em linguagem espírita, médiuns.
“Explicado isto, uma vez por todas, notemos de passagem que a Doutrina Espírita, a esta hora, conta seus adeptos por milhares, sobretudo nas grandes cidades, e que o Conde de Boursonne era um dos médiuns mais potentes.”
Aqui há um primeiro erro grave. Se fosse preciso ser perfeito para comunicarse com os Espíritos, muito poucos teriam esse privilégio. Os Espíritos se manifestam mesmo àqueles que muito deixam a desejar, precisamente para motivá-los, por seus conselhos, a melhorar-se, conforme estas palavras do Cristo: “Não são os que têm saúde que precisam do médico.” A mediunidade é uma faculdade que depende do organismo mais ou menos desenvolvido, conforme os indivíduos, mas que pode ser dada ao mais indigno como ao mais digno, sujeitando-se, o primeiro, a ser punido, se dela não tira proveito ou se dela abusa.
A superioridade moral do médium lhe assegura a simpatia dos bons Espíritos e o torna apto a receber instruções de ordem mais elevada, mas a facilidade de comunicar-se com os seres do mundo invisível, quer diretamente, quer por terceiros, é dada a cada um, visando o seu avanço. Eis o que o autor teria sabido se tivesse feito um estudo mais profundo da ciência espírita.
“A Ciência moderna provou que tudo se encadeia. Assim, na ordem material, entre o infusório, último dos animais, e o homem, que é a sua expressão mais elevada, existe uma cadeia de criaturas, melhoradas sucessivamente, como o provam superabundantemente as descobertas dos geólogos. Ora, os espíritas se perguntaram por que não existiria a mesma harmonia no mundo espiritual; se perguntaram por que uma lacuna entre Deus e o homem, como o Sr. Le Verrier se perguntou como podia faltar um planeta em dado lugar no céu, em vista das leis harmoniosas que regem o nosso mundo incompreensível e ainda desconhecido.
“Guiado pelo mesmo raciocínio que conduziu o eminente diretor do Observatório de Paris à sua maravilhosa dedução, foi que os espíritas chegaram a reconhecer seres imateriais entre o homem e Deus, antes de haverem tido a prova palpável, adquirida mais tarde.”
Há aqui, igualmente, outro erro capital. O Espiritismo foi conduzido às suas teorias pela observação dos fatos e não por um sistema preconcebido. O raciocínio de que fala o autor era racional, sem dúvida, mas não foi assim que as coisas se passaram.
Os espíritas concluíram pela existência dos Espíritos porque os Espíritos se manifestaram espontaneamente. Eles indicaram a lei que rege as relações entre o mundo visível e o mundo invisível, porque observaram essas relações. Eles admitiram a hierarquia progressiva dos Espíritos porque os Espíritos se lhes mostraram em todos os graus de adiantamento. Eles adotaram o princípio da pluralidade das existências não só porque os Espíritos lho ensinaram, mas porque esse princípio resulta, como lei da Natureza, da observação dos fatos que temos sob os olhos.
Em resumo, o Espiritismo nada admitiu a título de hipótese prévia. Tudo na sua doutrina é resultado da experiência. Eis tudo o que temos repetido muitas vezes em nossas obras.
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Julgamos útil publicar o seguinte aviso, para conhecimento das pessoas a quem possa interessar:
Ao receber qualquer carta, o primeiro cuidado é ver a assinatura. Na ausência de assinatura ou de designação suficiente, a carta vai para a cesta, sem ser lida, mesmo que traga a menção: Um dos vossos assinantes; Um espírita, etc. Estes últimos, tendo menos razões que quaisquer outros para se manterem incógnitos em relação a nós, por isso mesmo tornam suspeita a origem de suas cartas, razão pela qual nem mesmo delas tomamos conhecimento, já que a correspondência autêntica é muito numerosa e suficiente para absorver a atenção. A pessoa encarregada de fazer a sua triagem tem instrução formal de rejeitar sem exame toda carta nas condições a que nos referimos.
ALLAN KARDEC
Ao receber qualquer carta, o primeiro cuidado é ver a assinatura. Na ausência de assinatura ou de designação suficiente, a carta vai para a cesta, sem ser lida, mesmo que traga a menção: Um dos vossos assinantes; Um espírita, etc. Estes últimos, tendo menos razões que quaisquer outros para se manterem incógnitos em relação a nós, por isso mesmo tornam suspeita a origem de suas cartas, razão pela qual nem mesmo delas tomamos conhecimento, já que a correspondência autêntica é muito numerosa e suficiente para absorver a atenção. A pessoa encarregada de fazer a sua triagem tem instrução formal de rejeitar sem exame toda carta nas condições a que nos referimos.
ALLAN KARDEC